– Como posso ser feliz?
– Sorrindo.
– E se o sorriso for falso?
– Mantenha, por exercício.
– Estou cansado de me exercitar.
– Persista.
– Para que tudo isso?
– Uma vida de felicidade.
– Mas a morte vem e leva tudo?!
– Calma, você tem muita vida pela frente.
– Como você sabe?
– Apenas sei.
– Quem é você?
– A Consciência.
– Sai daqui, vivo melhor sem você.
E assim, na amargura da vida, ele se foi, sem sorriso, sem persistência, sem dor. Ao final, só lhe restou a escolha.
a partir* (nossa, repeti isso mil vezes no coments, desculpe).
a partir*
Gostei. Faz a gente pensar!
Que bom que gostou e te fez pensar, era essa a intenção (reflexão sempre). Obrigada pela leitura Marco Aurélio, e pelo comentário, sempre bem vindo.
Abraço
O gênero narrativo conto é caracterizado por atomizar a ação, se comparado ao romance e à novela, de modo que a ação fica circunscrita ao essencial, ao “momento privilegiado”, como já dito por um teórico da área. Uma interpretação açodada desse princípio considera, equivocadamente, que a presença de personagens e ações secundárias descaracteriza o conto e lhe tira a qualidade.
Por ser um micro ou mini conto, esta narrativa evidentemente radicaliza a atomização, a ponto de eliminar elementos considerados fundamentais, como a ambientação, o que pode fazer supor de má qualidade o texto. No entanto, há uma narrativa efetivamente “visível” ao leitor em sua essência, e nela a ambientação e o espaço ficcional, elementos que não se confundem, não são indispensáveis.
Mas uma narrativa é uma estória ficcional? Num sentido amplo, sim, trata-se de termos sinônimos; num sentido mais estrito talvez não, pela ausência de certos elementos-base. E se de fato considerarmos válida essa dissensão, em que medida isso é importante no fazer e na recepção textual?
Tomando agora outro caminho.
O diálogo entre a Consciência, cuja inicial maiúscula a indica como personagem, e outro identificado apenas como “ele”, é marcado por um discurso similar à autoajuda e ao senso comum que põe o otimismo num pedestal, como se apenas ele impedisse a infelicidade. Tais aspectos fazem o conto dialogar com a fábula, até mesmo pela presença de uma “verdade moral”. Não há o elemento mais característico dela, o animal que fala, mas sugere-se que a consciência esteja antropomorfizada, seja pela inicial maiúscula, seja por travar um diálogo por meio do discurso direto (os travessões marcadores de “fala”).
Obrigada Selga, não preciso nem falar da honra em receber teu comentário (vou parar porque me empolgo e exagero na rasgação de seda, mas é a mais pura verdade).Quando li fiquei na dúvida de ter entendido, já que a tua linguagem é de alto nível e muito bem embasada, mas para uma leiga fica difícil de pegar, às vezes, numa primeira leitura. Li novamente porque eu tinha torcido o nariz para o que você falou sobre Fábula. Sou verde em literatura e então fui para o Google buscar entender o que é Fábula na literatura e na pesquisa dizia que o maior Fabulista do Brasil foi Monteiro Lobato. Aí tive um pitii, primeiro porque sempre amei Monteiro Lobato, tive a coleção completa dele na minha infância e me arrependo muito de ter doado a mesma para uma biblioteca. Segundo porque amei mais o teu comentário e fiquei bem entusiasmada com ele.
Li novamente meu próprio texto com o olhar de “Fábula” e enxerguei o que você quis dizer. Fiquei surpresa com o novo entendimento, você tem razão, a cara é de Fábula e quando escrevi não tive a menor intenção.
Fiz o texto usando a reflexão como sinônimo de qualidade de vida mesmo, já que penso que quanto mais refletimos melhores podem ser as nossas escolhas e os nossos caminhos. O personagem homem no meu conto fez uma escolha e seguiu por um caminho, foi livre para escolher. Nao sei onde foi parar, mas pelo raciocínio do início do texto presumo ter ido pelo caminho mais difícil, dolorido e solitário.
Escolhas que fazemos na vida, às vezes boas, às vezes nem tanto (quantas vezes não segui a minha intuição e pensei: putz, e se eu tivesse feito daquele outro jeito, não teria sido melhor?)
Enfim, fiquei eu aqui refletindo muito em cima do teu brilhante comentário e te agradeço por isso. Maravilhoso! (Desculpe, não resisti)
Super abraço.
Em poucas palavras, descreve uma vida intensa. Parabéns.
Obrigada Marcelo, também acho que a vida dele foi intensa a partir das escolhas que ele fez. Consciência ele tinha, considerei um momento de lucidez, como temos ao longo da vida, e as escolhas muitas vezes nos pregam peças (não sei no caso dele, estou refletindo ainda…).
Abraço
Gostei, curto e conta uma história inteira.
Obrigada Neusa, bom que você viu como uma história inteira, penso que a partir do momento em que nos abrimos para reflexões, a vida começa a tomar rumos a partir do livre arbítrio, consequentemente, nos levam a fazer escolhas e apartir daí traçamos os nossos caminhos (destino).
Abraço.