Dor. Essa pequena palavra, aparentemente inofensiva é capaz de transformar as pessoas. Fazê-las prometer coisas que jamais cumprirão. Pessoas agonizantes são capazes de oferecer tudo o que possuem por uma promessa de melhora, porém ao estarem curadas pode ter certeza que não o farão.
Sei disso porque trabalho como enfermeiro em um hospital.
Todos os dias alguém promete algo, todos os dias finjo que acredito no que dizem e sigo minha vida indiferentemente.
A rotina é comum para gente que trabalha nessa profissão, tanto para médicos, quanto para as recepcionistas, todos fazem o que tem que fazer de forma automática. Sem pensar muito no que estão fazendo.
Nesse momento aplico uma injeção em uma senhora gorda, com algum tipo de alergia. A velha não para um minuto de falar, finjo que estou escutando e concordo com tudo o que ela fala. Retiro a agulha, insiro o algodão e digo para ela se encaminhar para a recepção.
Uma ambulância estaciona, som ensurdecedor da sirene ecoando nos corredores, gritos de desespero do acompanhante, correria de médicos e outros enfermeiros empurrando a maca para a mesa de cirurgia.
Por instantes vejo-me deitado na maca com o crânio rachado, sangue escorrendo sem parar, respiração forçada pelo sangue saindo do nariz. Instantes que parecem horas, gostaria de estar no lugar desse garoto.
Bato meu ponto e vou para casa, hora de ir embora.
Seis e meia da manhã, três noites de plantão no hospital sem dormir. O tempo parece distorcido, os carros passam com as luzes ainda acesas e lembro-me de quanto eu tomava ácido. Os flashes de luzes, as cores vibrantes, a distorção do tempo. O cérebro realmente prega peças, principalmente quando ainda está dentro do nosso crânio.
Compro pão e vou pra casa, abro a porta e vejo minha mulher saindo do banheiro, provavelmente foi evacuar sua sonda. Está pálida, fraca, sorri para mim dizendo que sentiu minha falta. Lentamente arruma a mesa e fico parado somente a observando.
Há um dois anos e meio Sônia descobriu que tinha câncer no intestino, começou com uma pequena dor ao ir ao banheiro e foi progredindo até não poder mais caminhar devido à dor.
Tratamento: Remoção dos intestinos e adaptação de uma sonda.
Condenada a passar a vida toda vendo suas fezes e urina encaminhar-se para um saco ao lado do seu corpo.
No início foi complicado, minha mulher não aceitava o novo modo de evacuação, passou alguns meses em depressão, mas aos poucos se adaptou e a vida voltou ao normal.
Algumas enfermeiras prestaram-me apoio durante esse período em que minha mulher não podia satisfazer minhas necessidades e devo admitir que foi uma experiência extremamente prazerosa.
O hospital foi meu playground durante esses meses em que minha mulher estava se recuperando. Tornei-me um viciado em sexo hospitalar, acredito que existem enfermeiras que somente exercem a profissão para satisfazer seus desejos.
Kelly era minha preferida, geralmente íamos à sala de cirurgias, enquanto transávamos, ela inseria instrumentos cirúrgicos em seu ânus. Costumava dizer que adorava a sensação do metal gelado enquanto eu a penetrava. Tentamos utilizar o bisturi, porém geralmente nos cortávamos fundo demais e os cortes demoravam muito para cicatrizar.
Aos poucos Sônia melhorou e reativamos nossa vida sexual.
Mas o tempo passa e as coisas que antes eram novidades logo começam a aborrecer. Parei com as orgias. Voltei a transar somente com minha mulher.
Ao contrário do que pensei, minhas taras tornaram-se diferentes. Enquanto comia minha mulher de quatro olhando aquele pequeno cano saindo de suas entranhas e alimentando aquela bolsa com sua merda, comecei a imaginar como seria comer o seu “terceiro buraco”.
Minha esposa sempre fora uma pessoa gentil, sempre fez de tudo para me agradar, mas quando sugeri penetrar em seu novo buraco a reação foi uma mistura de medo com espanto e ódio.
Por alguns dias fingi que esqueci o assunto, transamos mais algumas vezes até o dia em que a peguei pelo pescoço, imobilizei-a, arranquei seu caninho e introduzi meu pênis no seu orifício abdominal. Ela gritava, contorcia-se, chorava, e o prazer que eu sentia era algo indescritível. É mais ou menos como pegar um pedaço de carne aquecido e ficar esfregando no seu pau.
A última vez que fizemos isso foi há três dias.
Enquanto ela arruma a mesa e eu fico em pé observando, percebo que ela está mais pálida do que o normal, mais magra do que o normal, pergunto se está bem e trêmula me responde que sim.
Ao terminar de arrumar a mesa ela cai, o som seco de carne batendo ao chão. Passo ao seu lado e sento-me para tomar o café e comer alguma coisa. Percebo que seu abdome está inchado e encharcado de sangue negro.
Ligo para o hospital onde trabalho, digo para a recepcionista encaminhar uma ambulância com urgência, digo que tem algo errado com Sônia, que ela está desmaiada.
Em instantes a ambulância chega e a levam para o hospital.
Assim eu matei minha esposa, sei que ela não falou nada a ninguém, porém fiquei com essa vontade de quero mais.
Achei mais ou menos:
Uma mistura entre Alexis St. Martin e seu Médico William Beaumont, só que com a falo em vez da cordinha e a carne.
Chocante! Parece que você tem a mesma capacidade de ser cru e chocante que o Nélson Rodrigues, mas com uma gota de perversão. Gostei. Diferente e audacioso.
É um texto forte. Acredito que daria para enxugar mais e eliminar o que foge do tema central: o desenvolvimento de um maníaco sexual. Gostaria de ver mais o aprofundamento dos personagens para poder sentir melhor o que está acontecendo. O conto choca o leitor e isso não é algo ruim.
☬ Terceiro Buraco
☫ Dheikson
ஒ Físico: O texto se encontra num estado medíocre. Os parágrafos curtos não existem motivos para existirem. Não há um apelo poético tão grande. Algumas frases não fluem muito bem e são estranhas. Como um cérebro pode pregar peças fora do crânio? O estilo pessimista cumpre muito bem com seu papel, isso é certo, mas não impressiona. Não existe inovação.
ண Intelecto: Muitas vezes, a estória do texto revela o que o autor tem em mente. Um verdadeiro psicopata? Talvez. A personalidade do protagonista não é tão complexa assim. Ele joga limpo. Vale ressaltar que ele não inova. É o mais do mesmo, quando se trata de um personagem assim. Sem falar que a ideia é vulgar. A construção do texto também não é tão sólida. Acredito que o conto poderia ficar melhor com uma narrativa no passado, em forma de relato.
ஜ Alma: A alma do autor me pareceu um tanto feia. Não impressionou, porém. Não chocou, pois a situação foi bem forçada. No decorrer da análise, vemos que o escritor continua sendo uma incógnita.
௰ Egocentrismo: O texto é tão cruel, tão vulgar, tão superficial, que foi impossível apreciá-lo como ele é. Com certeza irá agradar algumas pessoas, que gostam de alimentar esse lado, mas apenas o amor e a paz conquistam meu coração por completo.
Ω Final: A habilidade medíocre do autor e a criatividade sádica não impressionam um leitor mais exigente. De fato, poderá atrair e até ganhar certa admiração daqueles que gostam da escuridão. No mais, o autor precisa ter foco no que ele quer fazer e na mensagem que quer passar. Se isso não existe, o conto se torna mero entretenimento. O que o torna descartável.
௫ Nota: 6.
kkkk. ficou foda. lembra um pouco os contos do rubem fonseca. abs
Muito foda, doentio demais!!! Parabéns \,,/
Oi, tudo bem? Eu queria gostar mais desse conto. Não é o tipo de narrativa que me atrai, porque gosto de uma linguagem menos escrachada. Achei o conto é curto para repassar algo com maior clareza. Se a proposta era falar das taras humanas, nossos comportamentos (egoísmo e busca de satisfação só pra si, sem pensar no próximo), o texto não alcançou –de todo– o objetivo COMIGO. Mas se o autor desejou oferecer entretenimento e cutucar um pouco o leitor, então, pode se dizer que isso aconteceu quando li o texto.
O que foi oferecido me causou certo nojo e pena, mas com um pouco mais da mente do personagem (sobretudo algumas divagações), teríamos uma maior ligação com ele.
Você permite uma dica? Esqueca o lance de chocar o leitor, preocupe-se mais em construir os personagens. Gosto desses lances mais sujos e cínicos, mas o conto ficou meio a meio, beleza?
Abraço.
Ops: esqueça*
Que doente esse enfermeiro. bem interessante a sua história …. parabéns…