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“O Leitor” – Resenha (Bia Machado)

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Publicado pela primeira vez em 1995, O Leitor (Der Vorleser, no original alemão) foi escrito por Bernhard Schlink (O Outro, A Menina com a Lagartixa), sendo traduzido para 39 idiomas. O livro foi adaptado para o cinema em 2008.

Na história acompanhamos as lembranças de Michael Berg, que narra em primeira pessoa seu relacionamento com uma mulher bem mais velha. São capítulos curtos, divididos em três partes, bem distintas, que não caracterizarei aqui para evitar spoilers. Cada uma das partes, porém, diz respeito a uma fase da vida de Michael, e cada uma destas fases será marcada por seu relacionamento com Hanna. O que já sabemos, desde a sinopse, é que o narrador conhece esta mulher quando ele ainda era adolescente, mantendo um caso com ela, com quem passa a se encontrar para fazerem amor, sendo que antes do ato Hanna sempre pede que ele leia para ela, depois de se banharem, como um ritual. Apesar desse contato, o passado da amante é um mistério para o rapaz.

Um dia ela desaparece, e os dois irão se reencontrar apenas quando Michael já é um estudante de Direito e ela uma prisioneira, acusada de crimes de guerra, enfrentando um tribunal junto com outras mulheres também rés do mesmo crime. Ao assistir ao julgamento, Michael começa a desvendar um pouco o mistério que havia em torno da amante, enfim estabelecendo ligações e finalmente compreendendo o porquê de algumas atitudes da mulher no passado.

Não tive medo de ler o livro depois de assistir ao filme. Na maioria dos casos em que isso aconteceu, tive ótimas surpresas, constatando que a adaptação cinematográfica não se igualava à obra escrita. No caso de O Leitor, livro e filme, confesso que, apesar de ter gostado muito, muito mesmo do segundo, ainda prefiro o primeiro. Melhor explicando: até a parte em que Hanna desaparece sem deixar vestígios, em minha opinião o filme me agradou mais. Por quê? Bem, no filme entramos em contato com a história deles de forma a não ter o narrador a nos contar, é como se eu estivesse conhecendo a história dos dois amantes por mim mesma, não pelas palavras do rapaz. E na tela esse relacionamento fica mais envolvente.

Quando vi o filme, pude tirar minhas conclusões a respeito da relação entre eles, não o que o narrador, no livro, me impunha como “foi assim que aconteceu e pronto”. Agora, com relação à segunda e terceira parte do livro, houve no filme uma espécie de suavização da personagem Hanna, tornando-a mais simpática aos olhos do espectador. Não uma suavização gritante, escancarada, mas houve. Há momentos no filme que não existem no livro, que só foram colocados com esse intuito, de amenizar, talvez, a carga difícil que a personagem carrega. No livro, pelo menos até o julgamento, Hanna é uma mulher endurecida pela vida, capaz de se segurar até o último instante para continuar sustentando a mentira que carrega consigo. Uma mentira que pretende manter até as últimas consequências, ainda que para isso o pagamento tenha sido alto demais. Esse é, talvez, um dos grandes questionamentos do livro: haveria algo mais vergonhoso para Hanna do que ser acusada de homicídio? Sim, havia. E no filme, talvez tenha sido a ótima atuação de Kate Winslet a nos fazer querer que ela se livrasse da condenação, de alguma forma.

Quanto à terceira parte do livro, posso dizer que o diferencial na película foi que também pude conhecer o cotidiano de Hanna sem a intervenção de um narrador, e isso se perde um pouco no livro, porque na trama escrita só vamos descobrir alguns poucos fatos relacionados à vida dela por meio do que o narrador ficou sabendo por terceiros. Foi impossível ler o livro e não sentir saudades de Kate dando vida a uma Hanna que consegue vencer sua maior dificuldade, sua maior vergonha, por si só, aproveitando-se para isso das leituras de Michael. No livro, nessa terceira parte, porém, senti que ao vencer finalmente essa dificuldade foi que a mulher deu-se conta de que havia coisas piores, muito piores do que o segredo que lutara tanto para esconder. Como homicídio, por exemplo, e homicídios que tinham sido justificados por uma parcela da sociedade. Ainda me emociono ao lembrar de livro e filme, enquanto escrevo essa resenha um tanto confusa, emocional.

Gosto do texto do Schlink, já tinha lido dele A Menina com a Lagartixa, um livro não muito extenso. Ele tem um estilo bem enxuto de narrar, não é de “florear” muito. Uma curiosidade é que o autor é formado em Direito e Filosofia e em O Leitor temos Michael que se forma em Direito e o pai dele, formado em Filosofia. Michael chega a consultá-lo (sem expor-lhe a verdade, contudo) a respeito do que deveria fazer, quando percebe que enfim compreendeu o que afligia Hanna e fica indeciso a respeito de envolver-se no julgamento ou não. O pai então conversa com ele das duas formas: como pai e como filósofo, oferecendo-lhe duas possibilidades de ver a questão. Apesar da conversa, Michael acaba fazendo sua própria escolha, escolha essa, ao que me pareceu, da qual ele sempre duvidaria de ter feito a coisa certa. Eu também tive minhas dúvidas quanto a isso, ao ler a história.

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Outras resenhas de Bia Machado em http://noparaisodeborges.blogspot.com.br/

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Publicado às 9 de janeiro de 2014 por em Resenhas e marcado , , .
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