Em verdade, o cemitério não trazia grande apreensão à Natália. Nova como era, a morte ainda lhe soava como um país distante; uma nação perdida de um continente remoto. Um reino soturno orlado por enseadas de nostalgia para onde, vez ou outra, ocasionalmente o avô de alguém partia para não voltar. Algo geograficamente inegável, mas de influência prática nula. Poderia ser que as tais praias não existissem. Poderia ser que a morte fosse apenas um vulto a assombrar os mais velhos. Poderia ser até que, de fato, ninguém morresse. Ou então já estivessem todos mortos e, não sabendo, encenassem a vida. No fim, nada disto mudaria o dia de Natália, visto que não há sentido em sugerir a acidez a quem nunca deu com a língua na polpa do limão. Ela seguia a lógica dos recém-chegados. Em seus seis anos, a vida era uma novidade, e de tão ampla, era apenas horizontes.
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Este conto faz parte da coletânea “Devaneios Improváveis“, Primeira Antologia EntreContos, cujo download gratuito pode ser feito AQUI.
Agora que já tiramos as máscaras, gostaria de agradecer a todos que se dispuseram a ler meu texto, e um agradecimento ainda maior aos que comentaram. Suas críticas e sugestões serão de grande valia.
Apenas justificando (se é que isso merece justificativa) a falta de revisão. Fui o último enviar, tendo a petulância de atormentar o Gustavo via facebook para não perder este trem. Já havia escrito os dois primeiros parágrafos no dia anterior, e a estes dei uma atenção especial. O restante, precisei escrever em uma paulada, sem parar para olhar para atrás. Não quero ficar de lenga lenga, mas é que dá até vergonha de ver algumas coisas que me escaparam. Em tempo, pelo menos não sucumbi às abreviações de internet: o “n é?” era pra ser um “né?”, não um “não é?”. Enfim, mea culpa. 🙂
Parabéns, meu amigo! Seu conto é mesmo sensacional. E… da próxima vez, vê se não deixa tudo para o último minuto, n é?
Rá! Parece até que não me conhece.
É lógico que vou deixar! 😀
Excelente! Não há muito o que dizer mais.,assino embaixo dos elogios tecidos nos outros comentários. Um dos melhores textos deste concurso, sem dúvida!
Li duas vezes o texto. Não há muito o que falar, a não ser que está muito, mas muito bom mesmo. Me sinto até mal de apenas elencar coisas, análises nunca foram o meu forte. Mas existem os personagens bem construídos (os diálogos parecem realmente de pessoas negras), o cenário que faz um misto da tristeza do cemitério com a esperança que envolve a garota e o elemento fantástico, incluindo as luzes azuis que “bruxuleiam” (que verbo bonito) pelo céu e o ser de face abstrata. Já li todos os textos e esse está entre os meus dois preferidos.
É um texto longo, com muitas descrições, mas a história é muito boa.
Forte e cru. Um dos mais bem escritos e maduros. Naturalmente não se vê imune aos erros, alguns dos quais seriam eliminados se a revisão do autor dispusesse de mais um decantador. Ao contrário de José Geraldo, não enxerguei subsídios que os qualificassem como uma manobra consciente. Tais errinhos, por outro lado, não diminuem o valor da obra.
… Previsível de certo ponto em diante, ok. Mas saber que lhe darão uma paulada nas costas não diminui o estrago do impacto. Parabéns ao autor, que deixou suas digitais por todo lado, hahaha!
Um conto muito bem escrito. Pela forma como o texto foi apresentado suponho que o autor tenha uma boa bagagem.
Pelos cuidados nas descrições pensei que o autor seria o J.G.G., mas parece que me enganei.
Os diálogos estão invejáveis, bem como as já mencionadas descrições.
Boa sorte no desafio.
Parabéns.
Meu conto é um que NÃO parece meu… hehe. Mas quem quiser descobrir, descobrirá.
Conto muito bom, bem escrito e enredo ótimo! Meio aterrorizantem talvez, mas de uma realidade crua. Gostei
O autor escreve muito bem, gosto da forma que lida com as palavras. A narrativa esta deliciosa e acabei por criar um caso de amor e ódio com este conto. não me sinto confortável com a angustia quando ela deixa os muros do fantástico e vem passear aqui na realidade. Isso remete ao um desconforto desnecessário, mas pode ser esta a intenção do autor. Também achei muito previsível. Não apenas o final mas toda a história.
Gostei muito do conto; bons diálogos, personagens críveis, belas descrições. O final horrível caiu feito uma lápide pesada.
Enfim: muito bom.
Eu não costumo ler esse tipo de conto. Por ser mulher e nova ( tenho vinte anos), eles me incomodam – quem sabe por falta de um pouco mais de maturidade. Mas o modo como foi escrito amortizou todo impacto que causaria em mim. Excelente!
Eu estava chutando que VOCÊ fosse a autora deste conto, Thais. Droga, perdi o bolão. =(
Eu nunca conseguiria escrever nessa linha! (rs’) talvez, algo que eu precise amadurecer. Mas é um excelente conto, fico até honrada de ter pensado que eu escrevi. ^^
Com excepção de uma ou outra falha (“n é?”), a escrita é boa, tem excelentes descrições, e, junto com o ritmo, contextualiza muito bem as personagens e o ambiente.
Ao longo da leitura, fui gostando mais da realidade utilizada a favor do texto do que do cariz fantástico – embora a ideia da “campa” dos ídolos religiosos seja excelente, e algo que sem dúvida merece ser aprofundado -, o que levou a que, apesar de o ter adivinhado com bastante antecedência, tenha também apreciado o final.
Até agora, o melhor que li. Descrições primorosas, puxa! Como mencionou o Feliper: uma aula. O final forte, impactante, é suavizado pela escrita muito bem conduzida.
Caramba, perfeito. Só posso dizer isso. Obrigada pelos momentos de ótima leitura. Parece que a gente espera pelo final que foi dado, ainda assim… Perfeito!
Tema espinhoso, mas escrito de maneira corajosa e responsável. gostei!
Acho que já encontrei um dos meus candidatos… heheh.
Este é um conto do jeito que eu gosto: não recorre ao sobrenatural como mecanismo fácil para compensar a falta de imaginação do autor (sim, tem gente que acha que é criativo usar um cenário fantástico). A história não nos transporta a um universo diferente, a um mundo de fantasia, mas a uma fantasia dentro do mundo, dentro da cabeça de um personagem. O narrador não onisciente em terceira pessoa reflete muito bem as limitações da percepção da narradora menina.
Há várias palavras no conto que são escritas em desacordo com a norma culta (como “perca” em vez de “perda” e “chego” em vez de “chegado”). Algumas destas ocorrências não estão na fala do personagem, mas na intervenção do narrador. Pelo domínio que o autor demonstra em relação à língua, fica evidente que estes não são deslizes, mas recursos calculados para aproximar o narrador do nível cultural (baixíssimo) dos próprios personagens. E isso é um recurso competentíssimo.
Enfim, um conto maduro, seguro, bem construído e cujos defeitos são fáceis de ignorar. Com certeza vai ficar entre os cinco, e acredito, inclusive, que terá mais pontos que o meu.
Ótimo conto. Uma aula de descrições e paciência para situar os personagens em um ambiente de beleza e decadência. A fragilidade da garota em meio à necrópole contraposta à brutalidade do tio torna este conto uma crítica atemporal. Lerei novamente.
Uma história bem triste contada de forma magistral. Muito bom!
Triste, porém cativante. Envolvente ao ponto de se sentir tristeza pela doce menina. parabéns !
História cativante narrada de forma quase poética mesmo tratando de assunto tão difícil e duro. Muito bem escrito com os diálogos agilizando a narrativa. Parabéns.
Cruento. Esse é o resumo deste conto.
No inicio achei que seria mais uma narrativa de fantasma, mas à medida que evolui percebi ser algo mais. E é muito mais.
Impactante e inesperado.
Tecnicamente precisa de alguns ajustes e talvez pequenas concisões aqui e ali, mas a história é excelente.
Há certos parágrafos neste conto, certas descrições, que se situam em um nível próximo da perfeição – pelo menos para o meu gosto. A história é cativante – não há como não se afeiçoar a Natália, torcer por ela. E não há como não sentir uma repugnância tremenda ao ler o desfecho. Triste, porém verossímil. É lírico, belo e desconfortável. Fruto de uma mente magnificamente perturbada – no melhor sentido da expressão.
bem escrito, envolvente, uma triste realidade. gostei muito! parabens.
Um conto corajoso, eu diria. Um tema desconfortável mas… não dizem muitos autores que um conto tem que causar desconforto mesmo?
A escrita é excelente. Consegui avistar apenas alguns erros menores, mas nada de pesado. Só achei os parágrafos um pouco extensos.
Parabéns!