EntreContos

Detox Literário.

Nossos Sapatos Não Combinam (Claudia Roberta Angst)

O vestido pende no cabide equilibrado na porta do armário. Lindo, sensual, quase indecente. Como minha mãe chamava essa cor? Verde-musgo, uma tonalidade úmida e sombreada.

Em contraste, a gravata escolhida é vermelha, seda salpicada de neve. A camisa branca, o terno cinza. Austera elegância, chumbo para ombros fortes. Sempre tive uma queda por homens em trajes formais. Um clichê, eu sei.  

Nós dois.

Casados há pouco mais de três anos, sem filhos, coletando acasos para preencher lembranças futuras. Não temos grandes planos para expandir conquistas ou velar derrotas. A vida apenas nos empurra para um desconhecido destino.  

Sei que Elias quis me agradar aceitando o convite recebido há mais de um mês. Não é o seu perfil. Está cedendo ao meu desejo, ao meu capricho de exibir nossa invejável performance. Jovens, belos, bem-sucedidos.

Perfeitos?

Devido a uma recente torção de tornozelo, não farei uso dos saltos 15 que me põem nas alturas. Tenho de me contentar com sapatos mais baixos que, embora de qualidade inquestionável, não são do meu gosto. Isso me aborrece mais do que tenciono revelar.   

Mal nos falamos durante o trajeto até o local do evento. Seguimos concentrados em nossas atuações, perfeitamente sincronizados, trocando expectativas.     

Nossa chegada ao salão causa a impressão já esperada. Uma cascata de interjeições vai deixando rastros atrás de nós. Mesmo sem meus saltos, é inevitável ceder à vaidade ao constatar o misto de inveja e cobiça.

Somos uma dupla e tanto, temos consciência disso. Sentimos orgulho da impressão que causamos, mas fingimos não ligar para tal frivolidade. Não falamos sobre isso. É o nosso segredo.

 — Marina, querida, como sempre, você é a mulher mais deslumbrante por aqui.

O elogio vem de Ronaldo, meu chefe, que ignora Elias. Pega minha mão e a beija com uma lentidão descabida.  

— E como sempre, sou eu o mais deslumbrado.

Liberto minha pele daqueles lábios. Solto um gracejo, cortando a possibilidade de qualquer mal-estar instalado entre os dois homens que me ladeiam. Meu marido não demonstra se incomodar com a provocação e simula um sorriso descontraído. É um lorde.

Ou será apenas indiferente?   

Não. A mão desliza das costas à cintura, e sinto o puxão ao encontro do corpo de Elias. Uma tentativa de determinar sua posição na rixa recém-criada. Contenho o riso, pois essa disputa entre machos, de tão ridícula, acaba por me divertir.

Ter a oportunidade de me exibir junto ao meu belo marido é sempre agradável. O que me incomoda são as diferenças. Os corpos, de alturas e formas desiguais, parecem divergir de opinião. Não se encaixam. Surpreendo-me com o desalinho de nossos perfis.  

Inquieta, me afasto com a desculpa de cumprimentar uma amiga que se aproxima. Trocamos elogios e comentários sobre a decoração do salão. Faço as apresentações devidas e volto a me sentir razoavelmente segura.

Encontramos nossos lugares na mesa próxima ao corredor onde se estende uma tapeçaria de tonalidade acinzentada. Pelo menos se esforçaram e fugiram do clichê do tapete vermelho. Ao sentar, percebo a visão privilegiada, tanto da entrada quanto do palco.

Então, ele surge.

Todos se voltam para recepcionar um homem não muito alto, não muito forte, não muito bonito. Aparência despretensiosa, o rosto liso, sem barba ou cavanhaque, o maxilar desprovido de características marcantes.  

Um homem comum.

 — Esse aí é o tal do Mário Dornelles, presidente do grupo M.D. Ltda.

A informação vinda de Ronaldo me surpreende mais pelo tom de reverência do que pela suposta notoriedade da presença. Afinal, é comum encontrar, em tais eventos sociais, figuras de destaque no meio empresarial.

Se não fossem os dois guarda-costas de avantajada estatura, não teríamos reparado naquele cavalheiro. Muito bem vestido como exige a ocasião, elegante e discreto, mas sem nada que o destaque da multidão.  

Assim que seus passos repercutem no salão, o homem apossa-se de uma aura que o torna único entre as demais pessoas. Todos se julgam tão diferentes uns dos outros, mas se revelam apenas hipocrisia e banalidade.  

Não aquele homem.

Elias comenta alguma coisa, mas eu não ouço. Se ouço, não entendo. Se entendo, ignoro.

Mário Dornelles aproxima-se da nossa mesa, a caminho para o palco improvisado. Por um momento, pressinto a colisão de energias. O braço de Elias envolve meus ombros como se pretendesse me cobrir com um manto de invisibilidade. Um arrepio percorre minha coluna, a princípio de forma suave e se expande em repentinas ramificações.

Reconheço a sensação e procuro me manter em alerta. M.D. avança tal qual um personagem mitológico, espalhando uma luz que não consigo definir.

O caos acontece.  

Ele esbarra em uma cadeira próxima e baixa os olhos, contrariado. Não posso evitar e sorrio. Elias censura-me pousando uma mão sobre a minha. Mas meus sentidos já pertencem a outro cenário. M.D. sorri também e me desvenda com um olhar de nuances profundas.  

Tudo ocorre em um só momento, uma troca de gestos, em silêncio, desencadeando uma engrenagem de mecanismo preciso. A contagem regressiva dispara, preparando-me para uma espécie de clímax.

O homem sobe os poucos degraus e se volta à plateia que silencia, hipnotizada pela sua figura de poder. Talvez um sujeito mesmo sem atrativos óbvios possa deter o domínio sobre uma multidão. O poder pode ser muito intimidador.

Ou afrodisíaco.

Depois de um discurso breve, M.D. passa a palavra a um mestre de cerimônias. Nomes são citados, prêmios distribuídos, equipes contempladas com um troféu de gosto duvidoso. Aplaudo com grande entusiasmo.

A festa segue com mais bebida, comida e música. Elias dedilha em meu braço, escorrega beijos pelo meu rosto e pescoço. Cão perdigueiro, fareja perigos, marcando território. Leva-me ao meio da pista de dança e cola o corpo trabalhado em músculos no meu, desfeito em desculpas. Os saltos altíssimos fazem falta, com eles sou capaz de pousar minhas mãos nos ombros do meu marido, sem qualquer desconforto. Dou-me conta mais uma vez das nossas diferenças.

Mas não é justamente isso o que nos torna tão interessantes?

Um vão forma-se de repente entre os pares e M.D. surge junto a uma senhora que bem poderia ser sua mãe.

— Me permite?

Elias leva alguns segundos para entender o pedido. O olhar revela a contrariedade que por um triz não alcança sua boca. Solta minha cintura e faz uma espécie de reverência, tomando a outra dama como par.

M.D. avança dois compassos junto a mim, segura minha mão, mesclando nossos calores. A outra mão instala-se perfeitamente na linha da cintura, com a pressão desejada. Somos praticamente da mesma altura, eu sem meus saltos, me encaixo ao corpo que me recepciona de forma quase censurável.  

Trocamos algumas palavras, nomes, suspiros… e um gemido inaudível. Tudo arde. Sou atingida por uma força que descontrola minha respiração e me atira a águas desconhecidas.

Então, eu percebo.

Ele também reconhece a inusitada sintonia. O tempo ralenta, compassos aquietam-se em pausas, nossas mãos abraçam-se cúmplices.

Convergentes, combinamos exatidões que nem desconfiávamos existir. Côncavo e convexo, relevos de encaixe tênue. Nosso ritmo reverbera pelos corpos, somos dois, mas a melodia é uma só. Os sinais estão todos ali. Pupilas dilatadas, mãos suadas, saliva e outros fluxos corpóreos seguem extraviando rotas.

Sinapses criam novas conexões, embora tudo pareça tão familiar. O tempo não para, o mundo não gira em sentido contrário. Não acontece mágica alguma. É outra coisa.

Tesão.

Mário dispensa qualquer tratamento formal, sussurra meia palavra ao meu ouvido… algo como “gos”, então afasta o rosto e o direciona para que nossos olhares também se encaixem.

A música cessa de repente, alguém anuncia um aviso qualquer, um carro mal estacionado, a perda de um documento, não sei. Não decifro aquelas palavras. Não estou mais ali.

A ruptura da harmonia desfaz o contato. Nossas mãos se despedem, descolando promessas não cumpridas. O verde do vestido, musgo escorregadio, reflete nossos olhos desviando-se.

Somos de novo dois. Subitamente infelizes.

Elias surge ao meu lado, alto, forte, belo como um personagem de terras distantes. É o reencontro da realidade. E eu só quero me isolar, ser ilha.

M.D. se afasta, já despido da aura de herói mitológico. A cabeça erguida, sustentando aparente tranquilidade, os ombros alinhados no traje caro. Os seguranças o abordam, acompanhando-o à sua mesa. Tudo retoma a ordem estabelecida.

Simulo uma repentina indisposição, e Elias aceita minha sugestão de irmos embora. Despeço-me dos amigos e conhecidos mais próximos, com um aceno breve. Olho mais uma vez em direção à mesa onde está M.D. Ele hesita e faz um movimento contido com a cabeça. Assim deixamos de reconhecer quem gostaríamos de ser, anulamos juras, desfazendo fantasias inapropriadas.

É o fim. Do quê, ainda não sei.

Ao chegar em casa, não acendo as luzes. Vou direto para o quarto, guiada pelo meu solidário marido. Desfaço-me primeiro dos sapatos, deixando-os rentes ao rodapé. Elias imita meu gesto. Não me importuna com perguntas ou reclamações. Ajuda-me a tirar o vestido e desfaz meu penteado, alisando os cabelos com mãos cheias de cuidado. Sabe que isso alivia minhas dores de cabeça.

Já com o dorso liberto de qualquer resquício de formalidade, Elias sai do quarto. Volta trazendo um copo de água e um comprimido.

Engulo.

Meu corpo parece se desfazer, invadido por uma sensação de perda. Deito-me de bruços, os ombros massageados por aquelas mãos que sabem percorrer tão bem a minha pele.

Mas será que reconhecem que não mais lhes pertenço?

De olhos fechados, eu aceito tudo. As mãos, os beijos, o deslizar do desejo. Prenúncio de uma noite sem pesadelos. O toque, às cegas, imagino ser do outro. No entanto, o passado tem as marcas de Elias. Já o futuro não pertence a ninguém, nem mesmo a mim.

Deixo-me seduzir pela tranquilidade da madrugada. Uma luminosidade trêmula espreita nossas silhuetas e lentamente inunda os cantos do quarto. Quando me estiro com a cabeça aos pés da cama, levo meu olhar a um ponto determinado no chão. Cutuco o ombro de Elias. Ele resmunga algo, mas volta sua atenção para mim.

Ele também precisa saber. Então eu mostro.

— Reparou?

— No quê?

Aponto para os pares descalçados.   

Os sapatos…

— O que que tem?

Suspiro desapontada com a minha descoberta tardia.

— Nada a ver.

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19 comentários em “Nossos Sapatos Não Combinam (Claudia Roberta Angst)

  1. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Oi, Claudia! Li seu conto faz um tempo e vou comentar o que ele me fez sentir. Então, o conto é muito bom de ler, por causa da técnica apurada, é bem imersivo e toca em pontos sensíveis de todo relacionamento. Como já te disse, preferiria que a história fosse diferente, com o relacionamento conjugal se fortalecendo, mas talvez essa história só tenha terminado ante que isso acontecesse, afinal. De qualquer forma, é indiscutivelmente um ótimo conto!

  2. leandrobarreiros
    13 de setembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Gostei muito do conto.

    Muita coisa condensada em poucas palavras, com metáforas que realmente adicionam algo a trama. Aqui é um exemplo de uma boa técnica literária servindo ao enredo, não sendo assim técnica apenas pela forma.

    A narrativa é bem construída e fluida. Há um toque de realidade da protagonista, na angústia do relacionamento que sabe que não é o certo para ela e no desejo irracional por MD.

    Alias eessa é uma parte que gostei bastante da trama. Geralmente vemos o objeto de desejo como alguém que é esteticamente desejável. A forma como a protagonista abertamente relaciona o desejo ao poder soma a sua personalidade. Me deu um toque de raiva, por algum motivo, ao mesmo tempo que uma certa concordância com ela, no que diz respeito ao desejo ser mais do que é esperado que seja. Ela já tinha, afinal, todos os cliches do homem desejado no marido.

    Mas mais do que a história eu reforço que a condução foi muito boa. O ritmo, certeiro. É um dos contos que sinto não poder dar uma crítica construtiva, pq acho que o autor acertou em tudo.

    Enfim, esse conto encerra a minha lista de dez.

  3. Mauro Dillmann
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    “Nada a ver”, os sapatos não combinam, logo, o casal não combina, já não tem nada a ver. É o tempo corroendo o amor e desgastando os desejos, embora os afetos sejam reforçados, garantindo permanência. O conto é bem escrito, apela para palavras cuidadosamente escolhidas. O título não chega a ser um complemento ou algo que fica subentendido. Está dado e explícito. O pseudônimo da autoria (Marina) é o mesmo da personagem-narradora, o que não é um problema, mas também é (na minha leitura e avaliação) pouco criativo. 

    Gostei de ler ! Parabéns!

  4. Rodrigo Ortiz Vinholo
    12 de setembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Gostei muito! Acho muito interessante que a história consegue trabalhar sensualidade e outros aspectos justamente através da não-ação. Boa escrita, personagens interessantes, e boa construção de cena.

  5. Thaís Henriques
    10 de setembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Uma palavra define este conto, para mim: brilhante.

  6. Fabiano Dexter
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Texto leve e agradável, narrando um casal, pela perspectiva da mulher, que parecem perfeitos em tudo, mas não são.

    São narrados os eventos de uma noite, desde a escolha das roupas até a manhã seguinte, mas que serve como fim de um ciclo para a protagonista. O casal vai a uma festa, ela encontra e dança com um homem que, embora rico e poderoso, é fisicamente inferior ao seu marido. Mas ela entende que o “encaixe” entre seus corpos é melhor assim. Parece combinar mais.

    Mas isso é a conclusão do que ela deixa claro ser a consequência de sua vida e que o relacionamento dos dois já não é ideal a algum tempo (se é que um dia foi) e isso está nas entrelinhas. Total mérito do(a) autor(a).

    Tema

    Fiquei na dúvida em Sabrinesco, pela dança e sedução entre a narradora e MD, ou Alta Literatura, por tratar um tema pessoal e questionar as aparências e realidade do que vemos ao nosso redor.

    Construção

    Texto com história simples, onde o ponto alto está justamente na narrativa e escrita, além do desenvolvimento e conclusões da protagonista.

    Consegue nos transportar para dentro da cabeça da protagonista, de modo que conseguimos entender as suas dúvidas e sentimentos.

    Impacto

    Baixo, mas esperado dentro em um texto mais linear e pessoal. A conclusão ficou muito bem pensada, ao comparar a vida do casal aos sapatos usados por eles. Poderia inclusive terminar com a frase igual à do título.

  7. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Como diria um professor que tive quando adolescente, qualquer pessoa com o QI maior do que uma laranja é capaz de perceber que este conto está um nível acima dos demais – pelo menos dos que li até agora. Escrita segura, cheia de subtexto, conta a história de um casal talvez cansado demais e como ela, a esposa, se deixa envolver e excitar por uma possibilidade, por algo que jamais irá acontecer mas que, por um instante, parece até natural.

    É o que se passa na mente dela que conduz a narração. Percebemos seus medos, suas decepções, seus desejos. Hipóteses que surgem e que, sabe ela, não têm a menor chance de se tornar realidade, mas, de repente, quem sabe, vai que… Marina é tantas mulheres em uma só, complexa, ora frustrada, ora esperançosa, ora conformada. Estoica até.

    Há certo gosto amargo nessa noite em que tudo era (im)possível. Torcemos por ela, afinal estamos no campo da ficção e, ora bolas, queremos que ela seja feliz. Mas, ainda que ficcional, a história finca os dois pés na realidade. A história de Marina é a história de tanta gente, de tantas mulheres. De tantos homens também, por que não… Tanta gente que se aferra à mesmice, vivendo de migalhas, de “e se”s (plural) que nunca vão acontecer porque, afinal, o que importa é a estabilidade e o pragmatismo. A saída é refugiar-se no dia a dia, no passar das horas, a despeito das diferenças? Felizes aquelas (ou aqueles) que rompem com essa condenação. Espero que Marina tenha a coragem de se libertar.

  8. Jorge Santos
    4 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Marina. Li duas vezes o seu conto, que é cheio de segundos sentidos e vive do retrato psicológico de uma jovem esposa com o espírito atormentado. Devo reconhecer não ter encontrado razão para a insistência sobre os sapatos, que se tornaram tema recorrente dos últimos desafios. Creio até que se devia propor um desafio só sobre “sapatos”, no qual tenho a certeza de não estar minimamente interessado em participar.

    Adiante. Estamos aqui perante uma história passada numa festa, na qual a dúvida existencial da personagem feminina se revela. Em termos de linguagem, é excelente, demonstrando que o texto se adequa tanto ao tema do sabrinesco, como à alta literatura. No entanto, não basta a utilização de construções frásicas bonitas para dar conteúdo ao texto. Falta desenvolvimento e a conclusão levanta sérias dúvidas.

  9. toniluismc
    4 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Marina!

    Seguem as minhas combinações sobre o seu conto:

    A escrita é elegante e bem construída, com descrições visuais ricas — o vestido verde-musgo, a gravata vermelha, o terno cinza — que evocam atmosfera e classe.

    A narrativa é coesa, com fluxo linear e narração em primeira pessoa que mantém a proximidade emocional sem perder o controle da linguagem.

    O texto demonstra revisão consciente e cuidado com o ritmo, mesmo em trechos mais extensos.

    A transição entre cenas e emoções é fluida e a voz da narradora permanece autêntica e consistente.

    O mote do título (“sapatos que não combinam”) funciona como metáfora eficaz para desalinhamentos emocionais e físicos entre o casal, criando tensão simbólica.

    A ambientação do evento — luxo, comentário social, sensualidade contida — sustenta o contraste com a figura hipnótica de Mário Dornelles, que brilha pela presença mais do que por atributos físicos.

    A “química silenciosa” e a coreografia emocional de olhares e gestos entre a narradora e Mário são criativos e sutis, evitando o lugar-comum de erotismo explícito.

    A cena da dança é evocativa e simbolicamente rica, marcando diferença e desejo sem frases óbvias.

    O impacto é sutil e psicológico — é tipo uma faísca interna, mais do que um clímax explosivo. A tensão está no desejo contido e no contraste entre pertencimento (ao marido) e atração disruptiva (por M.D.).

    O conto deixa uma sensação de melancolia e descompasso, reforçada pelo retorno ao lar e o ritual íntimo — descalçar os sapatos, o cuidado do marido — carregados de resignação afetiva.

    O desfecho é delicado e potente: o olhar de dúvida diante dos sapatos, a dissociação emocional, e a aceitação da nova realidade emocional — tudo evocando um eco que permanece depois da leitura.

    Parabéns pelo texto!

  10. sarah
    31 de agosto de 2025
    Avatar de sarah

    Seu conto está muito bem escrito, acho fantástico quando consigo sentir os mesmos sentimentos da personagem sabe? O casamento não tão recente mas de certa forma feliz. Pelo menos à primeira vista, a atração inesperada por aquele homem tão comum na festa de premiação na empresa, todas as partes do conto são muito bem desenvolvidas.

    Acho que o Mário prova que carisma, charme e ser uma pessoa magnética não depende só de beleza.

    Fiquei até meio triste com esse final, sei lá, meio decepcionada igual a protagonista. Acho que estou mau acostumada, com o tema sabrinesco fico esperando que todos os casais que aparecem e se gostam vão ficar juntos. Mas nesse caso seria uma traição! risos.

    Mas ficou muito bom da forma que foi, a descrição da proximidade e atração dela com o Mário Dornelles,gostei também do trecho em que diz que não era mágica, era tesão. E no fim acho que a moça gostou de não estar com os saltos altos! Muito bom conto! Eu acho que não tenho nada de melhoria pra apontar, ou pontos negativos.

  11. Mariana
    31 de agosto de 2025
    Avatar de Mariana

    História: Um casal participa de uma festa da empresa que a personagem Marina trabalha. Ela dança com o presidente da empresa, fantasiando uma atração entre os dois. No final, ela vai embora com o seu marido, frustrada e insinunando uma separação do homem com o qual começa o conto. É uma história sensual, me lembrou de “Olhos bem fechados”. 1,5/2

    Escrita: O conto possui uma escrita firme, o autor sabe onde quer chegar. Deixa muitos aspectos nas insinuações. Não sabemos o que passa na cabeça dos outros, exceto na de Marina. Provavelmente Mario nem sentiu nada por ela, no final só dançou com a funcionária bonitona e foi isso… Não é um conto romântico, a conclusão é bastante amarga. 1,5/2

    Impacto: É um bom conto, escrito com firmeza. Admito que não tive muito apreço pelos personagens, há uma aura amarga de distanciamento e frustração 0,4/1

  12. marco.saraiva
    29 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Um excelente conto, cheio de metáforas sutis, que explora as frustrações veladas de um relacionamento aos frangalhos. As nuances são muitas. Desde a crítica às aparências – sorrisos não querem dizer felicidade – até o discurso sobre a perfeição incorreta: ser perfeito em corpo, em gestos e até em rotinas, não quer dizer que o relacionamento é perfeito. O amor não tem razão nem lógica, é emoção pura, e a perfeição nunca será alcançada.

    O conto diz muito em pouco tempo, mas a mensagem principal – o afastamento do casal, mentalmente, mascarado pelos movimentos robóticos dos seus corpos – é muito bem colocado. E a metáfora com os sapatos é perfeita: desde o início, Marina quer usar o seu melhor sapato, o alto, que a permite andar no nível do marido, descansar as mãos sobre o seu ombro. Em outras palavras: ela quer ser a esposa que caminha ao seu lado, a mulher que o ama. Mas ela não consegue mais vestir aquele sapato – agora, após anos, é uma pessoa diferente, e o casal já não se encaixa. Com os seus “novos sapatos” ela vê a vida de outro ângulo e encontra novos amores e novas atrações. A percepção dela no final é um fechamento excelente: até ela mesma vê que a convivência tornou-se impossível.

    Conto muito bem escrito, excelente leitura! Parabéns!

  13. Pedro Paulo
    25 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    O bom de comentar fora da obrigação regulamentar é a dispensa de atribuir nota. O texto é bem escrito, havendo perfeito equilíbrio entre descrição, caracterização e ação. Os personagens ficam bem delineados, com natural destaque para a protagonista, e o ambiente de alta sociedade corporativa também é apreensível, parece real. Aborda o sabrinesco pela sedução e tesão, escolhendo a via daquilo que se quer e não se realiza. Não é a melhor das abordagens, mas está no gênero. Entretanto, posso cometer a grosseria entrecontista de categoricamente afirmar que não gostei. Além da técnica, o conto está bem estruturado, o enredo se desenrola bem em torno de um conflito claro que, apesar de um final um pouquinho abrupto e sem muito impacto, ainda se comunica bem com tudo o que vem antes. Talvez, o que me afasta do conto é a futilidade dupla, seja pela ênfase nas aparências, seja pelo glamour empresarial que faz plano de fundo aos eventos do texto. Escolhas que fazem sentido com a personagem e o seu mundo, aliás, e que, portanto, não me parecem deslocadas. Ainda assim, li a uma certa distância. É uma história bem organizada, mas que não me cativou.

    Mas e daí? Eu não atribuo nota, afinal!

  14. Luis Guilherme Banzi Florido
    22 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto.

    Eu cheguei nesse conto bastante curioso, dada a hype dele no grupo. Para ser totalmente sincero, não gostei tanto quanto a maioria parece ter gostado. Claro que é um bom conto e ta muito bem escrito, voce escreve daquele jeito que só os melhores fazem, do tipo que faz a leitura ser facil e natural. Do tipo que faz parecer que escrever bem é facil.

    Dito isso, nao sei. Achei a protagonista superficial demais pra ser cativante de alguma forma. Tudo na vida dela parece falso, plastico. Eu sei que o conto é sobre isso, e voce fez de proposito, mas a protagonista me causou bastante antagonismo, o que impediu minha imersao, eu li o conto com um desagrado causado por ela. Isso tambem é proposital, o que me leva de volta pro começo do meu comentario: você escreve bem, e sabia oq tava faznedo, entao o problema aqui nao é a tecnica, que foi perfeita, é o conteudo. Voce entregou exatamente o que pretendia: um casal de plastico, numa relação q é quebrada mas deseja de todo modo ser vista como perfeita, e dentro disso, uma protagonista que é tambem superficial, e que vê essa superficialidade revelada quando vê um cara que só a atrai por ser poderoso e ricão. Não tem outros atributos. Por outro lado, sei que isso é bastante sabrinesco, entao funciona no contexto. Só sei que fico feliz por nao ter que avaliar esse conto, pq eu teria dificuldades pra dar nota. Por um lado, nao foi uma leitura que me engajou, e eu fiquei bem desconectado da protagonista e senti bastante antipatia por ela, mas por outro, o conto é otimo tecnicamente e se encaixa perfeitamente no sabrinesco. Seria uma nota dificil.

    Nao me entenda mal, nao odiei o conto e nao to aqui pra detonar voce huahuahuahu. O conto é realmente bom. E voce é realmente bom. Mas acho que voce voluntariamente criou uma historia que nao me agradou tanto, nao foi um erro, foi só um acerto que não é do tipo de leitura que eu gosto, sabe?

    Mas falando de outra coisa muito positiva, o conto conta muito com pouco. Desde o titulo, que diz muito e acrescenta muito às entrelinhas. E isso, essas entrelinhas poderosas, tornam o conto reflexivo e bastante profundo. Personagem superficial, conto profundo. Tá vendo, que conflito interno eu to vivendo? ahuahuahuaua

    De todo modo, conforme escrevia esse comentario, fui organizando minha mente, e acho que gostei mais do conto do que o primeiro paragrafo do comentario sugeriria.

    Enfim, termino esse comentario em conflito interno, e acho que vou continuar pensando nele. Acho que ja sei o motivo da hype e o motivo de esse conto provavelmente ficar no podio, apesar de nao ter vontade de rele-lo. Literatura é uma coisa doida, né?

    Espero nao ter te chateado com meu comentario cricri e dividido, mas voce é (sem duvida) um(a) dos colossos do EC, entao vai entender minhas divagações. Parabens e boa sorte!

  15. Kelly Hatanaka
    19 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Eu não avalio esta série, então, me permito avaliar como leitora, de forma mais livre e bem pelo meu gosto pessoal. Desculpe alguma coisa.

    Tema

    Alta literatura sobre o final de um romance. Podemos dizer que é 90% alta literatura e 10% romance?

    Considerações

    Marina e Elias são um casal perfeito. Vão a uma festa da empresa de Marina, ela se sente atraída pelo big boss e percebe que não combina tanto assim com o marido.

    Achei interessante como o conto foi bem conduzido. No começo, tudo parece perfeito, Marina e Elias são perfeitos um para o outro e toca para a festa. No caminho, os pensamentos de Marina começam a apontar para outras direções. A diferença de altura de repente vira um desencontro, um desencaixe, algo fora do lugar. Aparece MD e, com ele, tudo parece se encaixar. No final do conto, a observação de Marina sobre os sapatos é uma conclusão. Ela e o marido não combinam.

    Este conto poderia facilmente ficar esquisito. Uma mulher que, uma hora está num relacionamento perfeito, na outra prefere o chefe. Mas, graças à habilidade do autor, torna-se um ótimo fluxo de pensamentos que revela o interessante mundo interno de Marina. Elias tem pouco espaço, sabemos pouco sobre ele, mas o pouco que sabemos revela um homem atencioso e carinhoso. O foco está mesmo em Marina, seus pensamentos e desejos.

    Há um romance terminando, talvez haja outro começando, mas o foco, o centro da narrativa é Marina e o que passa por sua cabeça. Achei corajoso.

    Gostei muito.

  16. Anderson Prado
    16 de agosto de 2025
    Avatar de Anderson Prado

    Olá, autor.

    Gostei do seu conto.

    Correto, coeso, fluido.

    Abordou bem o tema sabrinesco pelo viés da atração física.

    Sabrinesco e superficialidade combinam, mas você imprimiu profundidade ao trazer  o tema do desarranjo conjugal como pano de fundo. Seu texto é tão ou mais profundo do que algumas das altas literaturas.

    Parabéns.

    Nota 5.

  17. cyro eduardo fernandes
    13 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Ótima narrativa. Personagens e cenas ricas em detalhes tridimensionais. Apesar de ser escrito por uma autora (Marina), tem uns toques do Nélson Rodrigues, mas bem mais delicados.

  18. Antonio Stegues Batista
    10 de agosto de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Casal sai para ir a uma festa, a mulher se encanta por outro homem, apesar de seu belo marido. Isso acontece com muitos casais e no fim não da em nada, como no conto que tem um final de aparência cômica, mas que caracteriza um drama conjugal. O conto é bem escrito, limpo, narrativa, clara de leitura fluida. Não sei a que tema está propondo. Para Sabrinesco está bem fraco, para Alta Literatura faltou elaboração, erudição na narrativa. Considero Alta Literatura Simples. Não há muito o que analisar, é uma história simples, mas bem escrita.

  19. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    10 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura.Enquadrei seu conto nesse tema, porque ele fala sobre: a frivolidade de uma vida a dois onde não existe mais amor, também sobre a descoberta da possibilidade de um novo amor, feita pela mulher do casal em uma festa. Ainda sobre a frivolidade de uma vida de aparências. Achei genial a metáfora dos sapatos que não combinam para simbolizar a vida dos dois que não mais combina, nesse sentido também considero o título extremamente bem escolhido e criativo. Um dos problemas que percebi foi que as situações na narrativa acontecem com muita velocidade. Acredito que a veria espaço dentro das 3.000 palavras para desenvolver melhor cada situação com maior detalhamento.

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Liga 2025 - 3A, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .