EntreContos

Detox Literário.

Cabeça de Palha (Gustavo Araujo)

A primeira coisa que notei no novo professor de filosofia foram os sapatos. Brilhavam tanto que qualquer pessoa mais vaidosa ficaria contente de utilizá-los como espelho. O restante da sala, contudo, estava hipnotizado por outra coisa: o rosto do professor. Era feito de palha. Não só o rosto, mas a cabeça toda era de palha. Não, não se trata de metáfora. Fios amarelados se entrelaçavam da testa levemente calva até o queixo. Alguns eram sobrepostos, outros poucos se desprendiam, esvoaçando com o vento quente que soprava pelas janelas abertas.

“Sou o professor Julián”, disse num tom firme. Tinha os olhos brilhantes, um tanto ladinos, protegidos por óculos arredondados. Por certo já se acostumara ao desconforto alheio. “Em breve estaremos familiarizados uns com os outros.”

À exceção de alguns cochichos, apenas o ranger das carteiras do pessoal do fundo, provavelmente querendo observar melhor aquele homem incomum, rompia o silêncio. Indiferente, ele sentou-se sobre o tampo da mesa de madeira, cruzou os braços e encarou os 47 alunos do terceiro ano do científico, lançando a pergunta:

“Alguém aqui acredita em livre arbítrio?”

Olhei ao redor, todos incrédulos. Quem era aquele sujeito? Tudo o que se podia dizer é que se tratava de alguém já não tão jovem, pretensamente sofisticado apesar de tudo. Além dos sapatos impecáveis, vestia um terno azul marinho bem cortado, o paletó aberto deixando à mostra a camisa branca com colarinho alto, ornada por uma gravata borboleta verde, um estilo que poucos professores ousavam exibir, ainda mais perante uma classe formada por indivíduos pouco experientes nas lides da existência humana.

“Estão com medo de se manifestar? Ou querem uma ordem para tanto?”

O ar parecia engessado, ninguém se atrevendo a romper a quietude. Então ele prosseguiu na mesma linha provocativa:

“Será verdade a máxima que diz que a obediência é o refúgio dos covardes? Vamos lá, para facilitar: eu, professor Julián Bastos, não acredito em livre arbítrio, não acredito que somos donos das nossas próprias vontades. Alguém pensa diferente?”

Ninguém ergueria a mão para responder. Não ali. Não naquele momento. Como se lesse meus pensamentos, ele continuou:

“Na escola há uma regra não escrita que paira onipresente: é melhor ficar quieto do que arriscar-se a passar vergonha em público, ainda mais se a pergunta requer uma opinião pessoal. Não é algo que favorece a popularidade.”

Ouviram-se risos abafados ao fundo. Impassível, ele prosseguiu:

“Mas, será que essa aversão ao risco não acaba privilegiando a mediocridade? Sim, há um tipo de aliança pelo silêncio, entendo, mas isso não termina por tolher a criatividade e a livre circulação de ideias que, no fim das contas, nos fazem progredir como seres humanos? O preço que pagamos pela popularidade não termina por ser alto demais?”

Aguardou alguns segundos até que as palavras decantassem. Em seguida cofiou o rosto, o som da palha de sua epiderme ecoando discretamente entre as carteiras.

“Quando estamos na condição de alunos, preferimos desaparecer entre o rebanho. Alguns acham que é prudência, mas na verdade estamos é sucumbindo à tirania da coletividade. Reparem: nossa sede por pertencimento e proteção é tão grande que preferimos debelar qualquer centelha de coragem para não parecermos tão esquisitos ou pretensiosos quanto o professor.”

Outros risos, agora mais à vontade.

“Coragem. Essa é a palavra”, disse ele, acendendo um cigarro. Todos se espantaram, mesmerizados pela expressão impassível de seu rosto, a despeito da ponta incandescente a ameaçá-lo. Em seguida deu uma tragada e soltou a fumaça pelas narinas.

“Agora mesmo, neste preciso instante, boa parte de vocês está pensando: para que serve essa conversa? Para que serve uma aula de filosofia quando o vestibular está batendo à porta? Quem é esse velho metido a esperto, jogando insinuações a esmo? Tenho certeza de que muita gente está com isso em mente, mas sei, também, que existem aqueles que no fundo têm ideias ousadas, pensamentos próprios, que estão se sentindo estimulados pela insolência. É a esse grupo que eu me dirijo, já que para os outros, para os que aderiram ao pacto pela derrota e pela pequenez, a salvação já não é possível.”

Mais uma tragada. Semicerrou os olhos analisando a classe. Ao exalar a fumaça, disse:

“É aí que eu pergunto de novo: existe livre arbítrio?”

***

Não demorou para que o professor Julián se tornasse uma figura polêmica na escola. Mesmo eu, um aluno de poucos amigos, ouvia conversas pelos corredores que ora enalteciam suas provocações, ora demonstravam indignação. De minha parte, estava de certa maneira me identificando com ele. Peculiar como era, deveria ter sido alguém introvertido, um estranho, alguém que não se encaixava mas que, ainda assim, não se acovardou. Que venceu.

“Quem aí pode me dizer se a liberdade é o bem mais valioso a que devemos almejar?” perguntou ele algumas semanas depois.

Por algum motivo, ergui o braço. Instinto ou estupidez, não sei. Provavelmente ambos, mas acima de tudo, necessidade de chamar dele a atenção.

“Ah, habemus fortem”, disse sorrindo. “Desculpe o latim. Meu pedantismo se torna incontrolável quando me entusiasmo, senhor…”

“Victor.”

“Muito bem, Sr. Victor. Levante-se e compartilhe seu pensamento sobre liberdade com a classe.”

Naquele instante, travei. Milhões de olhos apontavam na minha direção. Alguns dos alunos tentavam esconder o riso. Senti a boca secar, como se tivesse engolido uma colherada de areia.

“Eu… Eu acho que sim, professor, que a liberdade é o nosso maior… Nosso maior…”

Não me lembrava mais da palavra que tinha utilizado. Maior qualidade? Maior bem? Maior ativo?

“Nosso maior bem” disse ele, sacando a cigarro sem desviar os olhos de mim.

Como se o mundo comportasse um parêntese, me vi pensando no que aconteceria se o cigarro lhe escapasse dos dedos e atingisse sua pele.

“Sim, nosso maior bem”, continuei, recuperando o raciocínio. “Sem ela, não podemos fazer nada. Não podemos pensar, não podemos falar, não podemos ir de um lugar ao outro, dar nossas opiniões, não…”

“É um pensamento ordinário, Sr. Victor”, interrompeu ele.

“Ordinário? Como assim, ord…”

“Não me entenda mal. Quando digo ordinário quero dizer comum, ou seja, que é o pensamento que a maioria das pessoas cultiva e, na realidade, se orgulha de ter.”

“Ah… Eu…”

“Pode se sentar.”

Um tanto constrangido, obedeci.

“Pois saiba, Sr. Victor, saibam, caros alunos, que para Sartre a liberdade aproxima-se do conceito de escravidão. Para ele, o ser humano, ao nascer é condenado a ser livre. Não opta por nascer, não cria a si mesmo e uma vez que vem ao mundo passa a ser responsável por suas escolhas. Um fardo que, convenhamos, pode ser pesado demais.”

“É como no Pequeno Príncipe, professor?”, perguntou uma garota que se sentava na primeira fileira. “Ele diz que somos responsáveis por aquilo que cativamos.”

“Você é corajosa ao comparar Exupéry com Sartre, senhorita…”

“Clara. Clara Diana”.

“Sim, senhorita Clara Diana. Há coerência nesse pensamento. De fato, a ideia do escritor francês não deixa de ser um prolongamento do conceito sartriano. Nisso estou de acordo.”

A menina sorriu, a boca mal podendo acomodar a quantidade de dentes que ela tinha. Naquele momento achei-a estúpida, mas provavelmente era só despeito meu, reflexo da raiva que sentia por ter sido chamado de ordinário diante de toda a classe. Quem aquele professor pensava que era? Se achando o máximo com aqueles ternos caros quando, na verdade, era só um homem com a cabeça de palha… Como podia ter se referido a mim dessa maneira?

Ao fim daquele dia fui até a sala dos professores. Queria confrontá-lo, mostrar a ele que eu era tudo menos prosaico, que podia ser especial. Ele, no entanto, já tinha ido embora e, sem escolha, tomei o rumo de casa também, ruminando minha frustração.

Ordinário.

A certa altura, ao virar uma esquina, notei-o a algumas dezenas de metros à minha frente. De costas, seguia no mesmo sentido que eu, tendo ao lado uma mulher de longos cabelos negros. Estavam de braços dados. Achei estranha a cena, até porque não conseguia conceber que alguém pudesse se interessar afetivamente por uma pessoa como ele. De todo modo, segurei o passo e acompanhei-os de longe, até que ele deixou a garota em frente a uma casa em estilo neoclássico. Ela deu-lhe um beijo e ele, em seguida, sem qualquer aviso, olhou na minha direção. Senti um calafrio, julgando ter sido flagrado, mas ele não pareceu me reconhecer. Voltou-se para a moça, disse alguma coisa a ela e retomou seu caminho rua abaixo.

Com o passar das semanas, a ânsia por me destacar junto a ele só fez crescer. Suas aulas haviam se tornado quase uma obsessão para mim. Eu lia, estudava, me empenhava ao máximo nas provas e nos trabalhos, evitando, contudo, dar respostas verbais às indagações que ele fazia em sala. Aderia, covarde, ao pacto pela mediocridade.

Talvez por isso voltei a segui-lo rotineiramente. Queria entendê-lo melhor, saber onde vivia, que lugares frequentava, seus restaurantes, bares e lojas de preferência.

Não raro essa fixação me obrigava a retornar a minha casa em horas avançadas, já à noite, pelo que me desculpava com minha mãe, dizendo ter passado a tarde na biblioteca, estudando. Não que ela ou meu pai se preocupassem. Na verdade, não se preocupavam com nada que me dissesse respeito, passando os dias brigando entre si, sem realmente se falar, esquecendo-se da minha existência.

Certa vez, creio que era uma quinta-feira, o professor Julián caminhava sozinho quando entrou na casa de estilo neoclássico. Era por volta de 19h. Até então, eu não sabia exatamente o que funcionava ali, mas tinha o palpite de que era um lugar especial, um tipo de clube ou confraria exclusiva, dada a presença de um sujeito grande no portão de entrada. Naquele dia, por ter me aproximado demais, o tal sujeito se dirigiu a mim, confirmando minhas impressões.

“Dê o fora, guri. Não é um lugar para crianças.”

“Que criança, cara? Já tenho dezoito anos”, menti.

O sujeito riu. Mesmo à distância, senti seu hálito que misturava menta e fumo barato.

“Sabe quantos como você vêm aqui todos os dias? Não me aborreça. Vá embora antes que o negócio fique complicado.”

Eu estava tentando entender o que ele queria dizer com antes que o negócio fique complicado quando uma voz grave surgiu de algum lugar:

“Pode liberar o garoto.”

Alguns degraus além do portão, próximo à porta da casa, havia um homem. Trajava smoking, jaqueta branca e calças escuras. Era alguém acostumado a ser obedecido. Sem cerimônia, fez sinal para que eu entrasse, o que fiz sem pensar, esquecendo instantaneamente do sujeito do portão.

Por dentro, a casa era muito maior do que se podia conceber. O ambiente era ricamente decorado, com tapeçarias, grossas cortinas, quadros, peças e enfeites caros. Diversos salões se comunicavam lembrando um labirinto, cada qual com mesas repletas de gente, homens e mulheres bem vestidos, falando alto, rindo, comendo e erguendo taças. Havia música em algum lugar, o que encorajava alguns a cantar e a dançar, abraçando-se aparentemente felizes.

Logo chegamos a uma das mesas. O homem de smoking fez uma mesura e desapareceu. Como esperado, ali estava o professor Julián, completamente à vontade, fumando, claro, tendo um copo de bebida como companhia. Abrindo um sorriso, ele me cumprimentou:

“Boa noite, Sr. Victor. Sente-se. Fico feliz que tenha vindo. Hoje é uma noite muito especial para mim.”

Ele sabia quem eu era. Tinha me reconhecido.

“Toma alguma coisa?”

“Vou tomar o mesmo que o senhor”, respondi, talvez rápido demais.

Ele fez um sinal a um dos garçons que passavam. Quando estávamos a sós, ele disse:

“O que acha de todo esse teatro?”

“É minha primeira vez. Ainda preciso me acostumar.”

Ele sorriu. Um sorriso autêntico. Sem demora, a bebida chegou. Ele me incentivou a tomar o primeiro gole. Era agridoce, nada do que eu esperava, mas consegui disfarçar o desconforto. Satisfeito, prosseguiu:

“Um teatro, meu jovem. É onde vivemos, não só aqui, mas…”

Nesse momento uma mulher chegou à mesa e sentou-se ao lado dele, interrompendo-o com um beijo no rosto. Era ela, a garota com quem eu o vira algumas vezes. Observei-a por um instante. Tinha o rosto redondo, olhos negros e a boca vermelha. Os cabelos compridos estavam amarrados em um rabo-de-cavalo. Usava uma blusa de cor preta, rendada, colada ao corpo, permitindo um vislumbre dos seios por entre as tramas, além de uma saia longa, com uma generosa fenda lateral por onde se entreviam as pernas e os pés em saltos stiletto.

“Este é Victor, querida. Meu melhor aluno.”

Prendi os lábios, como acontece quando queremos refrear uma onda de alegria repentina.

“Esta é Rebeca. Sou apaixonado por ela. De verdade. Não só porque é linda, mas porque é mais inteligente do que qualquer pessoa que conheço”.

“Muito prazer”, disse eu, encabulado. Jamais estivera na presença de uma mulher tão atraente.

“Falávamos sobre teatro, não é? Pois então, Sr. Victor, somos parte de um grande espetáculo. Não é uma lição minha, mas de Hamlet, creio que já ouviu falar. Atores em cena é o que somos, criamos papéis, etiquetas e máscaras para esquecer nossas vidas medíocres e predeterminadas.”

“Porque livre arbítrio é algo que não existe”, disse eu, tomando outro gole daquela bebida estranha.

“Eu não disse que ele é meu melhor aluno?”

Rebeca riu, evidentemente acostumada àquele tipo de jogo.

Com ímpeto inesperado me vi indagando:

“Mas, professor, se tudo é um teatro, se as cartas já estão marcadas, qual o propósito disso? Não deste lugar exatamente, mas… De tudo, da vida… Qual o sentido…”

“Ah, a rainha de todas as perguntas. Querida, por favor, tenha a bondade de explicar a esse jovem angustiado o que entendemos a respeito.”

Ela sorriu novamente, deitou os olhos em mim e disse:

“Não há sentido, Victor, não do jeito que gostaríamos que houvesse. Não há livre arbítrio, logo somos marionetes. Às vezes enxergamos os fios que nos prendem mas isso é tudo que nos é dado saber.”

“Estamos condenados, então?”

“Na verdade, não”, interveio o professor. “Há quem ouse, há quem crie o seu próprio sentido. Não se deixe manipular, rapaz, tome as rédeas do seu destino, rompa com as convenções, com esse pacto civilizatório que nos resume a burocratas. Seja um herói de sua existência, não um mero funcionário.”

“Como Rimbaud”, disse Rebeca.

“Exato: Rimbaud, o poeta maldito, talvez a pessoa mais corajosa que já existiu.”

Ele colocou outro cigarro na boca, os músculos de palha de seu rosto se contorcendo com os lábios. Rebeca apanhou um isqueiro sobre a mesa e acendeu-o, a chama morrendo lentamente entre seus dedos.

“Eros e Thanatos. Amor e Morte, Sr. Victor”, disse o professor. “Arrisque-se. Faça como Espinosa, outro homem de coragem, transmute seu Deus em Natureza. Ou mesmo renegue o divino, como Nietzsche, que completa essa tríade de bravos.”

Rebeca cochichou-lhe alguma coisa no ouvido. Ele balançou a cabeça em afirmação. Depois de um instante, ela se virou para mim e perguntou:

“Já esteve com uma mulher, Victor?”

Senti o rubor no mesmo instante. Não queria parecer o que evidentemente era. A demora em responder, porém, não deixava dúvidas.

“Vida!”, chamou ela. “Aqui.”

Uma garota, talvez pouco mais velha do que eu, sentou-se à mesa conosco. Tinha longos cabelos ruivos e a boca igualmente vermelha, combinando com o vestido decotado que lhe acentuava as curvas.

“Este é Victor. Queremos que ele tenha uma noite inesquecível”, ordenou Rebeca.

“Claro”, disse a garota, os olhos faiscantes. “Gostei dele.”

“Vida é uma ótima companhia, Victor… Fique tranquilo. Ela vai mostrar a você o nosso teatro mágico.”

***

Vida me puxa pelo braço. Seguimos por corredores confusos, ora à esquerda, ora à direita, subimos escadarias e passamos por salões repletos de gente. Até que chegamos a um quarto imerso em uma névoa avermelhada, as paredes dominadas por espelhos. No centro, uma cama redonda. Ao lado, uma cadeira. No ar, onipresente, a música.

Seu perfume é inebriante, a centelha perfeita. Observando-a sinto meu coração acelerar. Em minha imaginação, antecipo o que está para ocorrer. Uma metamorfose. A mulher me despindo enquanto faz cair o próprio vestido. Vejo seu corpo perfeito, os seios pequenos, as pernas longas e convidativas, a boca me beijando, sugando minha língua, os braços delgados me envolvendo. A voz em meu ouvido sussurrando …fellatio.

Os movimentos, a saliva, os dedos das mãos e os pés. Num átimo é tudo real. Ela deitando-se sobre mim. O toque, o beijo, os lábios vermelhos, o pescoço, os ombros… Os espelhos giram em fractais múltiplos, criando imagens em caleidoscópio. O ar é denso, molhado. Nossos quadris se movem na cadência da música. Tudo é calor, tudo é infinito.

Nossos reflexos transformam-se em silhuetas diversas. Outras pessoas, outros casais, todos transportados magicamente para aquele quarto. Dezenas de homens e mulheres. Alguns em pé, outros deitados em coreografias sinuosas, compassadas, beijando-se, braços e pernas entrelaçados. A visão excitante, proibida, onírica talvez, irresistível.

“Vida…”

Vejo o professor Julián e Rebeca. Nus, acham-se entregues a seus instintos, indiferentes aos demais. Rebeca está por cima dele, os braços retesados em apoio, os seios oscilando em um vai-e-vem frenético enquanto a pélvis se contrai sobre o sexo do homem. Sem aviso, ela desacelera e apanha em algum lugar uma vela acesa. Ele segura-lhe as mãos, aproximando a chama amarelada de seu rosto em êxtase.

Eros e Thanatos. Amor e Morte.

Volto-me para Vida. Ela desliza em mim, a respiração entrecortada, sôfrega. Imagens e sons se misturam a seus cabelos rubros. Arrebatado, deixo-me levar.

***

Ninguém se importou em informar o destino de Julián Bastos quando da apresentação do novo professor de filosofia. Boatos sugeriam que o homem da cabeça de palha tinha morrido, vítima de um incêndio que lhe consumira por completo, um acidente terrível.

Sabia eu, porém, que não. Que jamais houve acidente, mas propósito deliberado em domar a própria história, evitando um ocaso sereno e banal, para ele inconcebível.

Ao deixar a escola, passando em frente a uma janela de vidro, percebi o legado de Julián refletido nos traços cinzelados e repletos de nós de meu rosto de cedro. Era hora de tomar meu destino.

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19 comentários em “Cabeça de Palha (Gustavo Araujo)

  1. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Oi, Gustavo! Li seu conto faz um tempo e vou comentar baseado no que ele me fez sentir. Então, achei uma discussão filosófica bem interessante sobre o livre arbítrio, e de como o professor pode moldar o aluno mais impressionável, e isso, na minha visão, é perigoso demais… o final ficou ambíguo pra mim… não sei se o menino já era um “Cara de pau” antes e por isso se ligou tanto ao professor, ou se a influência do professor o tornou cara de pau. É realmente um conto muito interessante!

  2. Mauro Dillmann
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um narrador em primeira pessoa, aluno, um professor de filosofia e uma lição.

    O ponto de vista é do aluno (personagem narrador), mas tem vozes do professor e, de repente, da amante Rebeca.

    Bem escrito, estruturado e pensado, o conto apresenta uma moral.

    A história talvez se passe num tempo passado: o professor fuma em sala. Lembrei da profa. Conceição Tavares, cujos vídeos viralizavam pelas redes sociais em 2024, ano de sua morte. 

    Os recursos fantasiosos, mágicos e metafóricos estão bem colocados. E com o apelo à filosofia quer demonstrar não apenas a ‘erudição’ dos personagens, mas do próprio autor/a.

    A promoção da dúvida e do questionamento filosófico como relativização das certezas pode ser bem relevante, mas também ocupa um lugar no mundo, uma postura, uma posição que pode ser definida e delimitada por outro. O rompimento também pode ser um novo enquadramento. Às vezes, a tônica do conto pareceu querer ocupar a posição de meio termo, de suposto ‘equilíbrio’, de centralidade política (a vida e as escolhas são políticas).

    Bom de ler, esse conto conseguiu prender minha atenção, me fez querer continuar lendo. Uma ou outra expressão soam como lugar comum, a exemplo de “perfume inebriante”, mas nada que comprometa o ritmo e a intensidade da narrativa. Os sapatos, ressaltados na primeira frase, não são retomados no final (não que seja obrigatório, mas à primeira vista me pareceu que fosse algo mais significativo).

    Se é Sabrinesco eu não sei. A cena sexual ao final não me parece dentro desse escopo. Prefiro encaixar como ‘alta literatura’.

    Parabéns!

  3. leandrobarreiros
    12 de setembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Uma alta literatura com elementos eróticos. Em parte, me lembrou o “Pop Art”, do Joe Hill. 

    O texto entra um pouco na seara do realismo fantástico, embora o narrador demonstre surpresa com a cabeça de palha, o que não é tão comum no gênero. 

    Para além disso, achei o estilo um pouco objetivo, diferente do lirismo que costuma acompanhar esse tipo de narrativa. Acho que por isso que me lembrou “Pop Art”, salvo engano, o texto também tinha essa pegada. 

    De todo modo, é uma narrativa bem escrita e, conforme avançamos, vamos sendo presos pelos eventos. De início, achei toda a parte filosófica meio direta demais. E, como professor, achei tosquinho o senhor cabeça de palha, aparentemente, ficar tentando impressionar os adolescentes. 

    Eventualmente a história acaba encaixando e as lições do professor mudam das palavras para as ações. Demora um pouco, mas nesse momento o peso da narrativa aumenta, como uma avalanche formada por uma pedrinha jogada há um tempo atrás. 

    Não acho que consigo sugerir qualquer melhora ao texto. Talvez a remoção do personagem deixando claro que se tratava de uma cabeça de palha, deixando o realismo mágico seguir seu curso mais natural. 

    Ademais, um bom conto que, pro meu gosto, demora um pouco para engatar até finalmente ter bastante força.

    Acho que vale um 8.5 nos meus critérios.

  4. Rodrigo Ortiz Vinholo
    10 de setembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Peculiar, mas muito interessante! Boa escrita, boas referências, e sinto que mais leituras vão extrair mais significados do aluno do cabeça de palha que se tornou cabeça de cedro… ou seria “cara de pau”? Parabéns! Ótimo conto!

  5. Thaís Henriques
    9 de setembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Apreciei muito a discussão filosófica entre mestre e aluno. Confesso que me perdi em compreender a cena do bordel e o final.

  6. claudiaangst
    9 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), como vai?

    Temos aqui um conto que, a princípio, pareceu-me abordar o tema alta literatura. No entanto, o desenvolvimento trouxe uma passagem de tom bastante erótico, o que para alguns significa o tal do sabrinesco. Para mim, sabrinesco pe algo diferente, mas não vem ao caso minha opinião.

    O texto está muito bem escrito e não percebi falhas de revisão. Foi uma leitura fluida, sem entraves, bastante agradável.

    O desfecho traz um toque melancólico, até triste, devido à morte do personagem tão peculiar. O professor tinha cabeça de palha e o estudante ostentava uma cara de pau (cedro). É inevitável pensar em “fogo de palha”, ou seja, algo que se inicia de forma intensa e se extingue rapidamente, sem deixar nada de duradouro. Mesmo sendo uma pessoa de passagem na vida de Victor, o professor deixou a sua marca, o seu exemplo, queime, mas queime com intensidade até o fim. Já o cedro traz forte simbolismo cultural e religioso, representando força e estabilidade, madeira fácil de serrar, aplainar e lixar. Ou seja, Victor, ainda muito jovem, pode se adaptar, evoluir, por isso era considerado o melhor aluno de Julián Bastos.

    Enfirm, um ótimo conto que me fez lembrar de uma série espanhola Merli e também do livro O Mundo de Sofia.

    Parabéns pela participação e boa sorte na classificação.

  7. Fabiano Dexter
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Novo Professor de filosofia chega para dar aula, mas possui cabeça de palha, literalmente, mas o narrador, o jovem Victor, presta atenção primeiro nos sapatos (certamente é um Entrecontista). A partir daquele momento ele traz questões sobre a liberdade e libre arbítrio, instigando os alunos e atingindo Victor que passa a buscar uma maior profundidade no tema e a seguir o professor.

    Ele então encontra as respostas parte nas palavras do professor e parte nos braços de Vida, em um bordel onde o professor Julián tem seu fim. E a cabeça de Victor passa a ser de cedro, por algum motivo que depois o autor vai precisar me explicar.

    Tema

    Alta Literatura. 100%.

    Construção

    Uma história complexa e profunda, mas com uma leitura acessível e agradável. Traz a profundidade no tema e na história com um vocabulário acessível, o que torna o texto ainda melhor.

    E ficou mais interessante na segunda leitura, inclusive.

    Impacto

    Alto. Um texto que fica na cabeça depois da leitura, com a gente repassando o que foi dito e, principalmente, tentando entender o que está implícito.

  8. toniluismc
    6 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Sr. Victor Lobo!

    Parabéns pelo excelente texto!

    O conto abre com uma imagem visual e surreal marcante — a cabeça de palha do professor — que imediatamente fixa a atenção do leitor. A prosa está bem trabalhada, com descrição rica e precisa.

    A narrativa flui com clareza, os diálogos são pontuais e conduzem a reflexão de forma envolvente.

    O texto está coeso e o ritmo mantém-se consistente do primeiro ao último parágrafo.

    A metáfora literal de uma “cabeça de palha” foge do lugar-comum e cria uma atmosfera de encantamento e mistério. O professor funciona como catalisador das inquietações juvenis.

    A articulação entre filosofia (livre arbítrio, Sartre), performance acadêmica e teatro da existência é bem construída e inusitada.

    A imagem final — do narrador vendo seu rosto como “cedro cheio de nós” — fecha o arco simbólico com elegância e conexão temática.

    O conto provoca uma sensação de estranhamento inteligente, ao mesmo tempo em que encoraja o despertar intelectual. A figura do professor de palha é perturbadora e inspiradora.

    A progressão emocional do narrador — da vergonha ao fascínio, da inação à determinação de romper convenções — é bem delineada e eficaz.

    O desfecho gera um efeito duradouro: o leitor sente o eco da lição e a potência de uma revolução silenciosa interior.

  9. Jorge Santos
    4 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Victor. Estamos aqui perante um conto que se relaciona com os dois temas propostos, Alta Literatura e Sabrinesco. O primeiro é justificado pelas discussões filosóficas que percorrem o texto. Achei interessante, mas preferi a forma contida como abordou o Sabrinesco, a perda de virgindade de um adolescente. A contenção e a elegância que demonstrou ao longo do texto mostram experiência literária e prendem o leitor, porque o excesso prejudica, em todos os sentidos. Lembrei-me do saudoso Robin Williams no Clube dos Poetas Mortos, um dos meus filmes favoritos, que conta a história de um professor que tenta mostrar novos horizontes intelectuais aos seus alunos.

  10. sarah
    31 de agosto de 2025
    Avatar de sarah

    Olá! Aulas de filosofia sempre são uma caixinha de surpresas. Lembro quando um professor substituto fez a minha classe inteira surtar com esse pensamento sobre não escolhermos ter nascido, como se isso tivesse sido imposto a nós. Depois ele falou que a escola era como uma prisão e disse pra olharmos as janelas, com grades, o horário das aulas onde não podíamos sair da escola, enfim, tudo isso aí. A galera de catorze anos ficou realmente surtada. risos. Mas filosofia é uma boa aula pra fazer a gente pensar, refletir, avaliar, questionar, criticar.

    Acho que a essência do seu conto é isso, ele é feito pra pensar, pra chocar, pra questionar. Muito bem escrito, detalhado nas aparências das personagens, principalmente na do Julián.

    Sinto que seu conto tem uns aspectos abstratos e enigmáticos, como por exemplo o rapaz com a moça chamada Vida ali no quarto, ele vendo os espelhos e neles vendo todos os outros casais, inclusive o próprio Julián e a parceira. Então, ao mesmo tempo que ele tem situações e lugares cotidianos, tem essas pitadas meio surreais no meio. Gostei da moça se chamar Vida, fiquei esperando alguém perguntar para o Vitor algo assim: “com quem aprendeu isso?”, e ele respondendo: “aprendi com a Vida”. Kkkk, e nesse caso seria uma pessoa de verdade, uma ruiva gata! kkkkk.

    Mas teve aspectos que não ficaram claros pra mim. Essa casa onde Vitor conhece a Vida, era tipo  um clube? O que aconteceu com o Julián? Ele sofreu um acidente? Se matou? Foi embora? Não entendi. No geral achei um conto bastante inteligente.

  11. Pedro Paulo
    27 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Neste, todos os elementos estão bem trabalhados: os personagens estão caracterizados a partir da tensão entre eles, o ambiente escolar é verossímil e colabora para estabelecer a relação entre os protagonistas. Os diálogos têm personalidade e, mesmo regurgitando os clichês das assertivas filosóficas, são bem calculados e encaixam bem com a narrativa, acentuando a obsessão do protagonista e a aura misteriosa em torno do deutarogonista. O clímax remete aos temas das aulas, questionando o que é realmente ser livre, questão resolvida em um despertar sexual que serve como um ponto de amadurecimento. É quando o conto se consolidada como um texto de formação, focado no crescimento do personagem. O desfecho ainda esconde uma reviravolta: o personagem tem o rosto de cedro. É sutil, mas aprofunda o sentido da narrativa. Aluno e professor tinham de semelhante terem um diferencial que os apartava de todos os demais. Mas não significava que, por isso, deveriam se curvar a um sentido, podendo tomar a narrativa em suas mãos. Palha e cedro metaforam as diferenças que a princípio podem nos rebaixar, mas justamente nos tornam únicos. Um bom conto intimista.

  12. marco.saraiva
    22 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Este é um daqueles que exige releitura para fisgar as nuances, as referências e os detalhes escondidos atrás das camadas de significado. O professor Julián é um personagem e tanto, com a sua cabeça de palha e o hábito de fumar: duas coisas que não vão muito bem juntas. Mas ele vive exatamente da forma que prega: se não arriscasse o fumo, jamais sentiria aquele prazer.

    Julián passa uma parte significante do conto discorrendo sobre filosofia, o que atiça a mente de Victor, e traz uma leve barriga ao conto, onde a trama não se desenvolve mas o significado é encorpado. A questão da liberdade é vital na narrativa, e Victor, inicialmente intimidado pelo professor, encontra a sua ousadia ao decidir espioná-lo.

    O conto tem tantas formas de ser interpretado que não sei se cabe aqui tentar destrinchar todos os caminhos que o entendimento pode seguir. Para mim, Victor está aprendendo a viver, está no auge da sua adolescência, aprendendo sobre morte, vida e significado, e o fogo da vida ainda arde em seu peito. Ele aprende sobre todos os paradoxos da existência: onde liberdade é uma prisão, onde a vida sem significado pede para que um seja criado, e onde assumir o controle é deixar que a vida guie o caminho. Aproveitar do fogo da existência é deixar-se queimar até deixar de existir.

    Uma leitura interessante, escrita de forma muito bonita e bem pensada. Parabéns!

    NOTA: A única coisa que, pessoalmente, não me agradou muito na leitura foi o tom pretensioso da narrativa. Julián me parece quase uma auto inserção do autor no texto, e metade da leitura me soa mais como os devaneios filosóficos do autor do que, de fato, um conto interessante. Mas isto é uma questão um tanto pessoal e, por isso, relego apenas às minhas notas de rodapé!

  13. Mariana Carolo
    21 de agosto de 2025
    Avatar de Mariana Carolo

    História: Um professor de filosofia deixa a sua marca na vida de um estudante não muito especial. Dá para o garoto alguns ensinamentos sobre a vida, uma mistura de Sociedade dos Poetas Mortos e existencialismo, e também a primeira experiência do rapaz com uma mulher. Se fosse uns 5 anos atrás, eu iria gostar bem mais da história. Não sei, os meus 13 anos de magistério me deixaram muito amarga sobre o poder de um professor de mudar vidas. Uma questão, a parte no prostíbulo foi para encaixar o sabrinesco? Pergunto pelo texto parecer se encaixar em alta literatura 1,25/2

    Escrita: Ainda bem que o Cabeça de Palha assumiu o pedantismo dele em uma das aulas… Se essa foi a ideia, foi bem boa. Assim, o texto soa como um cara de meia idade tentando convencer um jovem sobre o quanto ele é esperto e especial. O que possibilitaria pensar sobre o quanto a ideia que temos dos outros passa pela comunicação e o que queremos transmitir (citar um Wittgenstein, fiquei com inveja das citações). Eu entendi a continuidade, mas a divisão da história em atos não funcionou muito bem. A morte do Julian soa quase anticlimática. 1,25/2

    Impacto: Eu impliquei com o texto, não nego. Me deu vontade de estudar mais ainda para concurso e sair do magistério. Autor, não me entenda mal, o conto mexeu com algumas frustrações minhas 0,5/1

  14. Kelly Hatanaka
    19 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Eu não avalio esta série, então, me permito avaliar como leitora, de forma mais livre e bem pelo meu gosto pessoal. Desculpe alguma coisa.

    Tema

    Alta literatura.

    Considerações

    Victor fica fascinado por Julián, seu professor de filosofia, que tem a cabeça de palha. O rapaz o segue, adentra um estranho grupo que me lembrou “De olhos bem fechados” e tem sua iniciação sexual com uma moça chamada Vida. Depois, o professor some da escola e Victor percebe que agora sua cabeça era de cedro.

    É um conto cheio de símbolos e significados. Não há livre arbítrio, somos marionetes que podem ou não ter consciência de sua condição. A pulsão de vida e a pulsão de morte. A morte como libertação final.

    A cabeça de palha, na minha opinião, é uma alegoria da fragilidade de quem resolve viver fora do rebanho. Após se envolver com o professor e ter sua noite com Vida, Victor também se torna uma criatura marginal e isso é simbolizado por sua cabeça de cedro.

    Essa é uma interpretação muito superficial. Penso que há muito mais sob este conto, que se revela a cada nova leitura.

  15. Anderson Prado
    16 de agosto de 2025
    Avatar de Anderson Prado

    Olá, autor.

    Gostei do seu conto.

    Correto, coeso, fluido.

    No contexto do desafio (tão somente!), julguei que faltou criatividade: julguei um tanto óbvio escolher um professor de filosofia, uma aula de filosofia, um tema filosófico para imprimir profundidade ao texto e, assim, encaixá-lo como alta literatura.

    Ainda no contexto do desafio (tão somente!), me desagradou a inserção do tema sexo no texto, já que esse foi um caminho quase unanimemente seguido pelos autores de alta literatura.

    Não me agradou o uso de “semicerrou os olhos”, “sem cerimônia”, “sorriso autêntico” e a descrição de personagem “rosto redondo, olhos negros e a boca vermelha”. Pareceram todos lugares comuns.

    Parabéns.

    Nota 4.

  16. cyro eduardo fernandes
    13 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Conto complexo e instigante. Demandou a busca de referências para o homem de palha. Encontrei a falácia do espantalho. Creio que seja a fonte de inspiração. O autor cita Rimbaud, Shakespeare, Nitzche, Sartre, entre outros. Usa o ambiente do Lobo da Estepe (Herman Hesse) no teatro mágico. Tantas referências terminam no aluno Victor transformado em face de cedro!

  17. Antonio Stegues Batista
    7 de agosto de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Cabeça de Palha é um conto que mistura gênero Fantástico e de certa forma, o Horror, quando pensamos em pessoas transformando parte do corpo em outra coisa não humana. É a história de uma boate, um lugar mágico onde as pessoas liberam suas fantasias sexuais e transformam parte do corpo, a cabeça, numa mistura de tecido biológico e vegetal, ou outra coisa. É incluído na narrativa, filosofia questões fundamentais sobre a existência, o conhecimento e a realidade, que se inclui no tema Alta Literatura embora o conto tenha uma escrita simples e não rebuscada. Parece que a magia da boate inclui conhecimento. Para Victor a mesma sabedoria do professor Julián. É meio bizarro a ideia praticar (trocar) sexo por conhecimento.

  18. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    7 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura. Enquadrei seu conto nessa categoria porque ele fala sobre liberdade, livre arbítrio, o sentido da vida, etc. A escolha do narrador em 1ª pessoa contribui para estabelecer proximidade entre o leitor e o personagem principal da história. Achei interessante a semelhança entre seu texto e o livro o lobo da estepe. Também gostei tanto do nome do personagem principal, Victor, (vencedor) quanto Vida, que aparece ao final do conto.Talvez o maior problema que encontrei em sua história sejam as falas do professor, me soam artificiais, sem coloquialidade, porque ninguém fala daquele jeito, por mais erudito que seja.

  19. Luis Guilherme Banzi Florido
    3 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto.

    Um conto profundo e cheio de camadas, que mistura realismo e surrealismo, provoicação, filosofia, metamorfose, descobertas, etc, para provocar o leitor na jornada de dewscoberta do protagonista, que, preso num casulo de conformismo, se vê diante de uma figura que o leva para um universo de prazer e vewrdadeira liberdade, rompendo seu mundo e levando-o a uma metamorfose. Por algum motivo me lembrou bastante de alice no pais das maravilhas, inclusive, acho que por razoes obvias… tem ate um espantalho ahahahha.

    É um contaço! muito profundo, deixa muitas reflexões.
    Muito provocador, causa desconforto e questionamentos.

    O menino, herdeiro espiritual e filosofico do professor, se metamorfoseia no tutor, e o leitor, ao longo da historia, questiona suas proprias certezas. A cena de sexo é bela e metaforica.

    Tem muita coisa que eu fiquei pensando nesse conto, mas é dificil organizar tudo aqui ahjahhaha. Dá pra ver que voce manja muito de filosofia, e talvez tenha passado pelo seu proprio processo de metamorfose. Acho que a ultima coisa que queria destacar é que a questão da cabeça de palha do professor causa muito interesse no leitor (pelo menos em mim). É algo inesperado, que me causou o mesmo desconforto e transtorno iniciais que causou nos alunos. A imagem do conto demonstra que a palha é figurativa, são ideias estranhas àquelas pessoas. A namorada do professor nao parece estranhar o rosto dele, por exemplo. A palha e o fogo, na historia, tambem mostram o modo atrevido, arriscado, perigoso, provocante que o professor vive, e que causa tanto fascínio em Victor, que no final, passa por sua propria metamorfose, com seu rosto se tornando estranho às pessoas “normais” à volta.

    Parabens pelo otimo trabalho.

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Liga 2025 - 3A, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .