EntreContos

Detox Literário.

Coelho Branco (Fabio Baptista)

Os cheiros da madeira e do uísque lutavam para emprestar à sala uma atmosfera bucólica e acolhedora. Os demais sentidos, no entanto, eram bombardeados em uma linha diametralmente oposta. Os quadros, dispostos nas paredes com precisão simétrica de uma fileira de soldados ingleses, exibiam rostos de cada patriarca e matriarca da família, olhares gélidos imortalizados em traços e tintas de fazer gênios renascentistas afigurarem-se como meros aprendizes. Dispensava-se ábaco para notar que aquela linhagem rememorava tempos impossíveis dentro dos calendários oficiais. O silêncio, quebrado apenas pelo crepitar da lareira, por um ou outro pigarrear apreensivo e por copos pousando na mesa após umedecer lábios inquietos. Os mordomos que quase não se podia afirmar se eram homens ou estátuas. A luz tremeluzente das velas, queimando sem pressa em castiçais de prata, perdendo-se na amplitude do aposento onde as sombras se deitavam sem dificuldade ou cerimônia. A mesa, de proporções mais adequadas para gigantes moverem exércitos de madeira e discutirem planos de guerra do que para reuniões intimistas. E, acima de todas as coisas que competiam para que os ali presentes consultassem seus relógios a cada dez segundos, reinava a dúvida sobre como estaria o humor da senhorita K quando ela decidisse que era o momento oportuno de contemplar com a graça de sua presença os emissários ali convocados.

Os sete homens e as cinco mulheres mal se entreolhavam. Tinham em comum a ambição por poder e a vontade de tomar mais daquele uísque envelhecido por séculos (não seria exagero supor milênios) nos porões da propriedade. Apesar da bebida estar disponível em quantidades capazes de suprir gerações, sorviam apenas o suficiente para deleitar o paladar e impelir coragem nas veias. As lendas a respeito do último emissário que ousara dirigir-se embriagado à senhorita K ajudava a mantê-los bem postados dentro da faixa de segurança da sobriedade.

Algumas horas depois, ela chegou. Irrompeu porta adentro, falando como se concluísse uma conversa animada com alguém, embora estivesse sozinha e sem telefone. Era muito alta e muita magra, braços e pernas projetando-se do corpo como galhos desproporcionais em uma árvore sem folhas. Suas roupas causariam perplexidade às plateias de desfiles de moda contemporâneos. Puxou as pontas das luvas, deixando-as folgadas nas mãos, então puxou de uma vez exibindo dedos longos e sulcados que acentuavam ainda mais seu aspecto arbóreo. Sorrisos, sinceros como discursos de vice-campeões, surgiram nos rostos dos emissários feito pus brotando em uma infecção. Então, abriu-se a temporada de bajulações. Dentre todos os elogios, apenas um despertou satisfação genuína:

— Belos sapatos, senhorita K.

— Gostou, querido? — ela sorriu, colocando os pés sobre a mesa para que todos pudessem apreciar. — Couro holandês, de primeira qualidade.

“De muito bom gosto, senhorita K”, “realmente fantásticos”, os demais emissários tentaram não ficar para trás, mas sabiam que eram investidores comprando ações na alta.

— Tá, chega, chega. Vou falar rapidinho porque estou atrasada para outro compromisso. Resumindo, o senhor L ponderou que a linha “pink money” já está saturada e quer uma “cara nova” para uma nova tendência de resistência controlada. Quem trouxer a melhor, vai ganhar uns pontinhos. Quem trouxer a pior… bom, não queiram trazer a pior. A senhora S vai dar os detalhes — a senhorita K terminou o recado com tédio já transparecendo na voz. Levantou-se e foi em direção à porta por onde entrara havia alguns minutos. Antes de sair, virou-se e disse aos emissários, em um tom quase indistinguível entre a generosidade e o deboche: — Ah… podem beber meu uísque até o cu fazer bico agora.

***

“Eu sou muito foda sou muito engajado que orgulho mãe você não pariu um alienado / eu estudei as propostas pesquisei em quem votar parabéns mamãe tá orgulhosa agora vai nanar / escuta aqui filha da puta deixa eu te falar nada nessa porra nunca vai mudar / tira o cu desse sofá levanta dessa sala tem coisa que só se resolve na bala / você já nasce condenado a ser escravo até morrer diz pra mim então o que você tem a perder / não escuta a TV escuta o coelho: o sangue deles… também é vermelho / o sangue deles… também é vermelho”.

A plateia compensava o contingente reduzido com uma animação admirável. Hormônios e álcool jorrando nas veias, batida ensurdecedora e ritmada, a fúria com que o menino branco cuspia ao microfone refrões de rebeldia visceral beirando a ingenuidade, sensação de pertencimento, de fazer parte de um grupo seleto de revolucionários, ou de somente fazer parte de um grupo e ser aceito e estar em sintonia com outras pessoas em meio à solidão dessa vida desgraçada, tudo contribuía para que uma catarse coletiva tomasse conta do recinto esfumaçado e tornasse aquela noite memorável. Em meio aos adolescentes, o emissário sorria. Havia encontrado o que procurava.

— Gostei das músicas, letras fortes, refrões pegajosos — o emissário interpelou o cantor após o show. — “O sangue deles… também é vermelho” — arriscou cantar.

— Ah, valeu! — o garoto ficou um pouco sem jeito, mas a vaidade o impeliu a mostrar todos os dentes e todo o aço inoxidável do aparelho corretivo em um largo sorriso. — E você, quem é? Não leva a mal, mas tu não tem muita cara do tipo de público daqui.

— Eu sou o Senhor White.

— Ah, qual é!? — o garoto explodiu numa gargalhada. — Tá achando que tá naquele filme do Tarantino, cachorro?

— Ah, falou o “Coelho Branco” — o emissário não se deixou abater pela troça. Afeiçoara-se ao garoto, identificara nele uma característica intrínseca dos grandes artistas, a dupla persona: no palco, uma besta acuada e furiosa; na vida, um garoto brincalhão e algo introvertido.

— Isso aí é nome artístico, tá ligado?

— O meu também. Eu sou empresário e, indo direto ao ponto, vi muito potencial em você e acho que a gente tem tudo para arrebentar a boca do balão, tá ligado? Coelho Branco, Senhor White… coincidência? Acho que não, cachorro.

— Tu pega rápido as gírias, hein — o garoto tentou se controlar, mas, aos dezenove anos, ouvindo tudo que queria ouvir de um desconhecido misterioso, essa tarefa era praticamente impossível. — Mas é papo sério isso aí?

— Seríssimo. Tenho certeza de que posso te ajudar a ser famoso como jamais imaginou. Praticamente um Eminem branco.

— Mas o Eminem é branco…

— É essa a piada, moleque.

— Ah, tu não é Ave Maria, mas é cheio de graça, hein, paizão?

— E aí, bora conversar melhor qualquer dia desses? — o emissário ofereceu um cartão de visitas onde lia-se apenas “Mr. White” e um número de telefone.

— Vou pensar no teu caso… — o jovem respondeu, enfiando o cartão no bolso da calça jeans e virando as costas despretensiosamente, tentando, sem muito sucesso, aplicar a técnica da indiferença que costumava usar para conquistar as garotas.

Dois dias depois, encontraram-se em uma cafeteria e assinaram um contrato.

***

Diego relutou, mas acabou cedendo a incorporar o famigerado “Mc” e americanizar seu nome artístico. Iria ajudar muito no marketing, valorizar a marca e estabelecer claramente o nicho de mercado a ser conquistado, o Senhor White garantiu. E o Senhor White sabia o que estava fazendo, a ascensão ocorrendo de maneira absolutamente meteórica desde que começaram a trabalhar juntos falava por si. Alguns dilemas, porém, perpassavam a mente do jovem e lhe traziam a incômoda sensação de que avançava cada vez mais em um caminho sem volta, que não era exatamente o que sonhara percorrer quando escreveu suas primeiras letras em uma tarde chuvosa de janeiro. Ele queria combater as hipocrisias do mundo, despertar as pessoas, trazê-las para fora do País das Maravilhas, expor a face do verdadeiro inimigo. Como eles não percebiam que estavam a todo momento sendo cada vez mais divididos para serem conquistados cada vez mais fácil. Fascismo, comunismo, direita, esquerda, apenas distrações, paguem seus impostos e aguardem as próximas eleições. Seus pensamentos ainda rimavam, mas as ideias já não pareciam fluir de modo tão natural quanto antes. Já não sentia tanta pureza em sua arte, não depois da edição nas letras, dos palavrões sutilmente substituídos para “se tornarem mais palatáveis ao mercado”, não depois das roupas que lhe instigaram a vestir para “estabelecer uma identidade visual marcante” e, definitivamente, não depois daquele maldito “Mc”.

Esses questionamentos contrastavam com o inevitável deslumbre decorrente da fama repentina. “Mc White Rabbit” até que não ficava tão mau assim quando exibido no telão de um estádio. As letras suavizadas teriam um alcance maior, a mensagem chegaria a mais ouvidos e era esse o objetivo, não era? Quando as dúvidas existenciais se convertiam em muitos questionamentos e os questionamentos se convertiam em gravações paralisadas por divergências artísticas entre cantor e empresário, 500ml de silicone batiam à porta do hotel e o garoto ponderava que talvez não valesse a pena ser assim tão teimoso, que era melhor um disco editado do que um disco não gravado e que vez ou outra era preciso fazer alguns sacrifícios pelo bem maior.

Até que chegou o dia da grande apresentação que, segundo o Senhor White, seria um divisor de águas na carreira do pupilo. Diego acompanhou, com o encanto da criança que observa o pai montando um autorama no Natal, a equipe de suporte instalando as luzes, caixas de som e demais aparatos que transformariam aquele espaço em um palco digno dos maiores astros. Alguns elementos da decoração, no entanto, chamaram a atenção de Diego e regaram as sementes de dúvida que ainda germinavam em seu âmago.

— Aí, Seu White, que porra de pentagrama é esse?

— Você é cantor ou decorador de palco? — o emissário tentou trazer a conversa para um lado mais descontraído.

— Tô de palhaçada hoje não, pô. Essa decoração tá meio sinistra, olha aí. Porra, tem nada a ver com as minhas músicas isso aí, cachorro. E essa roupa aqui que me deram pra usar, vou ficar parecendo um Backstreet Boy com essa porra. Tudo preto e vermelho, meio bizarro não acha não? Meu estilo é calça jeans, bombeta e moleton. “Din din don, o rap é o som”, tá ligado?

— Sim, eu tô ligado, Diego. Se me perguntar eu também prefiro seu estilo original. Mas, cara… cada um no seu quadrado. A gente paga, e não é pouco, pra uma equipe especializada cuidar disso pra gente. Vai por mim, eles estudaram muito pra isso, os caras são pica, eles sabem o que estão fazendo. Tudo isso é pro show viralizar, pro povo ficar criando teoria da conspiração e gerar engajamento.

— Sei não, cachorro. Sei não.

A despeito dos dilemas, o show foi um sucesso e Mc White Rabbit se tornou o artista do momento, figura carimbada em programas dominicais e talk shows madrugadas afora. A fama, no entanto, parecia ocupar o mesmo espaço da satisfação pessoal, de modo que se um entrasse o outro obrigatoriamente teria que sair. As letras chegaram a muitos ouvidos, mas nada mudou. As pessoas cantavam sem prestar atenção, apenas mais uma válvula de escape como os insidiosos funks e sertanejos da vida. Ou, pior, entendiam a mensagem, mas nada faziam a respeito. O que haveria de se fazer, afinal?

O próximo grande passo da carreira, disse o Senhor White, seria alçar voos internacionais. Haveria uma festa na mansão da senhorita K e essa era a oportunidade de uma vida para qualquer artista. Era pegar ou largar. Em seu coração, Diego queria largar. Mas as promessas de ter, no bolso fortunas infinitas e, na cama mulheres que só se vê em filmes e sonhos, acabaram por seduzi-lo. Já quase nem se esforçava para convencer a própria consciência de que fazia aquilo para libertar o mundo ou outra causa nobre utópica qualquer. Então ele pegou.

E não tardou a se arrepender.

***

Era quase impossível conceber que um lugar como aquele pudesse sequer existir. Tendo uma floresta como jardim da frente, a mansão brilhava entre árvores e rochedos, feito galáxia cintilante nos confins do universo. Uma galáxia repleta de estrelas. Não era preciso dar muitos passos para se deparar com rostos conhecidos dos palcos, palanques, campos e telas, todos sempre sorrindo, todos sempre simpáticos e receptivos, como funcionários bem treinados de uma loja de departamentos. Havia malabaristas, palhaços e cuspidores de fogo. Havia bebida, canapés e “ínas” para todos os gostos e narizes. Havia piscinas e bustos perfeitos expostos em topless à beira das piscinas, música alta, risadas altas, sexo, cocaína, só mais um teco, só mais um gole, música alta, risadas, música, só mais um teco, só mais um gole, só mais uma chupada, havia de tudo, só mais um…

— Seu White, que porra é aquela? — Diego perguntou, o rosto branco emergindo entre seios negros depois de ver de relance algo capaz de se destacar mesmo em meio àquele circo de depravação. — São anões? Porra, velho… me fala que são anões.

— Sim, são anões — o emissário, que de dentro d’água vigiava as peripécias sexuais de seu protegido, deu pouca atenção.

Diego fingiu que acreditou, mas perdeu todo o ímpeto para sexo, drogas ou qualquer outra coisa. A adrenalina anulou os efeitos entorpecentes, trazendo um surto de consciência que lhe fez perceber que era a sardinha convidada para uma festa de tubarões. Pouco mais tarde, descobriria que tudo ainda era pior do que poderia imaginar.

Sob aplausos efusivos, a senhorita K foi recebida na sala de jantar. Trazia consigo um séquito peculiar: cerca de dez crianças, vestidas com pijamas e segurando ursos de pelúcia, olhando para baixo, amedrontadas. “Ai daquele que tocar em um dos meus pequeninos!”, ela disse com escárnio, despertando reações efusivas dos convidados.

— Não eram anões, cara — Diego sussurrou para o Senhor White.

— Pois é, me enganei…

— E que manchas são aquelas nos olhos deles? Que porra tá acontecendo aqui?

— Deve ser alguma maquiagem, sei lá…

— Porra, para de palhaçada. Me leva embora. AGORA!

— Tá pensando que eu sou seu chofer, moleque? — o emissário subiu o tom e, pela primeira vez desde o fatídico dia em que se conheceram, Diego viu sua verdadeira face, despida de máscaras. E sentiu medo. — Já tô de saco cheio dessa sua choradeira — o Senhor White continuou —, ai, não quero mudar minha letrinha, ai, não quero mudar meu nominho, ai, não quero vestir essa roupinha. Olha onde eu te trouxe, moleque! Imagina quantos queriam estar no seu lugar? Isso nunca foi sobre talento, qualquer merda que tocar 24 horas por dia vai fazer sucesso. Isso nunca foi sobre mensagem, ninguém tá nem aí pra porra de mensagem nenhuma. E você quer enganar quem, dizendo que isso era por um propósito? Vira homem e admita que isso sempre foi por vaidade. Não tem nada de errado nisso, moleque. No fundo, todo mundo é assim.

— Com essas sábias palavras — a senhorita K disse, aplaudindo o discurso de seu emissário —, apresento-lhes nosso mais novo candidato ao estrelato mundial: senhoras e senhores, o primeiro e único White Rabbit!

Seguiu-se uma profusão de felicitações, comemorações e algazarras e então, de súbito, silêncio sepulcral quebrado apenas pelo soluçar das crianças aninhadas ao redor da anfitriã, aferradas instintivamente à ideia de que é preferível o mal que você conhece. A senhorita K alisou os cabelos loiros de uma menininha que segurava seu vestido e, em tom maternal, garantiu-lhe que estava tudo bem. Nesse mesmo tom, dirigiu-se a Diego:

— Tão novinho, tão bonito. Para de chorar, querido. Hoje é um dia especial, hoje é o dia do seu batismo. Hoje é o dia de você provar que está do nosso lado para o que der e vier. Depois a gente vai cuidar de você… pra sempre. Eu prometo. É só você comer do pão e tomar do sangue que lhe oferecermos. E vai ficar tudo bem.

Antes que Diego pudesse tentar entender como palavras proferidas em uma língua não materna podiam entrar tanto em sua mente, os convidados avançaram sobre as crianças, como uma horda de bárbaros avança sobre uma aldeia desprotegida.

— Que… que porra é essa, cara? — Diego, o que lhe restava de sanidade escapando por entre os dedos, perguntou ao seu “protetor”.

— Você gosta de filmes, né? Sabe aquele desenho Monstros S/A? A gente esqueceu de colocar o aviso “baseado em fatos reais” no começo — uma gargalhada diabólica sucedeu a resposta.

Quando cessaram os acontecimentos que fizeram o velho diabo regozijar-se orgulhoso em seu trono de sombras nos recônditos abissais da Terra, uma equipe de médicos, pelo menos assim pareciam, entrou na sala. Foram até as crianças, agora pouco mais do que pedaços de carne ensanguentados que mal conseguiam respirar, e de suas hipófises extraíram o precioso líquido. O elixir da juventude, a adrenalina produzida na tenra idade quando a alma inocente é submetida a todos os tipos de terrores, vilipêndios, sofrimentos, abusos e lacerações. Os presentes observavam com admiração reverencial, viciados afoitos para encerrar a abstinência.

A primeira dose foi oferecida ao convidado de honra.

***

Os seis homens e as cinco mulheres resistiram o quanto puderam, mas o ímpeto para comemorar a desgraça alheia acabou falando mais alto do que o protocolo da sala de reuniões.

— A seringa virou um punhal na mão do rapaz.

— Entrou pelo olho e foi tão fundo no crânio do White que acharam melhor deixar lá mesmo. Pior que nem conseguiram salvar o líquido da seringa. Que desperdício.

— Teve o que mereceu aquele arrogante de merda.

— E o garoto, que fim levou?

— Deixaram ele extravasar. “Também é vermelho”, ele gritava enquanto transformava a cara do White em purê. Depois disso, bom… acho que todo mundo aqui faz ideia do que aconteceu.

As conversas cessaram de imediato quando a porta de entrada rangeu. A senhorita K entrou sem dizer palavra. Sentou-se e, após alguns minutos de silêncio desconfortável, deu as ordens do mês:

— Vamos precisar de um novo emissário. E de algum menino parecido com aquele rapper branco que esteve na minha última festa. Deu certo com o Paul, deu certo com a menina canadense, vai dar certo de novo. A senhora S trará os detalhes.

Já virando-se para sair, deteve-se ao receber o elogio de uma emissária que não resistiu ao ímpeto da bajulação:

— Gostei do casaco, senhorita K.

— Gostou, querida? — deixou escapar um sorriso. — É pele de coelho branco…

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

12 comentários em “Coelho Branco (Fabio Baptista)

  1. Luis Guilherme Banzi Florido
    29 de março de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Falaaaa entrecontista. Blz?

    Cara, que conto pesado. Gostei muito, é provavelmente o melhor terror que li dentre todos da serie B e C. Parabens. Existe uma clara inspiração nos eventos recentes do P. Diddy, e funciona. De forma metafórico, o conto mostra como pessoas com poder usam tudo e todos e cometem atrocidades para manter o poder, o dinheiro, e a juventude. Achei acertado você nao explicitar o que aconteceu com as crianças por dois motivos: primeiro que o choque pelo choque costuma mais afastar o leitor medio do que aproximar, e segundo porque nada que voce escrevesse seria pior do que nossa mente cria quando voce sugestiona a situação. Sacada de mestre. Enfim, nem tenho nada pra falar mais, terminei o conto com o estomago revirado. Ah, por acaso, no final, voce se referia ao Paul Mcartney e à Avril Lavigne? Parabens e boa sorte.

  2. claudiaangst
    29 de março de 2025
    Avatar de claudiaangst

    É conto de terror, sim! Pelo menos, fique aterrorizada com a leitura. E que desfecho! Cruzes! Não poupo as criancinhas, que maldade. Nem sei o que comentar, viu?

    O texto está bem escrito, mas achei pelo menos uma falha:

    • não ficava tão mau > não ficava tão mal . Dica: quando puder substituir por BEM, use MAL. Se puder trocar por BOM, use MAU.

    Parabéns pelo conto. Deve receber uma boa classificação.

  3. Bruno de Andrade
    29 de março de 2025
    Avatar de Bruno de Andrade

    Escrita: Confesso que o primeiro parágrafo me desanimou bastante. É um excesso de metáforas e hipérboles desnecessárias que tornam o texto cansativo. Exemplos:

    Os quadros, dispostos nas paredes com precisão simétrica de uma fileira de soldados ingleses

    Precisão simétrica já comunica perfeitamente a ideia. A analogia é apenas um floreio.

    de fazer gênios renascentistas afigurarem-se como meros aprendizes

    Uma hipérbole difícil de engolir. Se fosse a percepção de um dos personagens, vá lá, mas vindo do narrador, fica pouco convincente.

    Dispensava-se ábaco para notar que aquela linhagem rememorava tempos impossíveis dentro dos calendários oficiais

    Dispensava-se o ábaco? E alguém usa um ábaco pra isso? pra usar um ábaco pra isso? É das frase mais estranhas que já li.

    Os mordomos que quase não se podia afirmar se eram homens ou estátuas

    Difícil também.

    A mesa, de proporções mais adequadas para gigantes moverem exércitos de madeira e discutirem planos de guerra do que para reuniões intimistas

    Já nem sei se é metáfora, hipérbole, ou ambos.

    Tudo isso no primeiro parágrafo. E já no segundo vem uma bebida envelhecida por séculos, que não seria exagero supor milênios e que estava disponível em quantidades capazes de suprir gerações. É tudo muito, muuuuuito exagerado. Acaba tirando a credibilidade da trama.

    Entendo que esses exageros sirvam para estabelecer um certo ar de “terrir” – ao menos foi o que me pareceu -, mas eles não vêm num tom humorístico, não compõem uma cena engraçada. Então parecem apenas exageros gratuitos.

    E o texto segue nessa toada até o final, com muitas comparações, analogias e hipérboles. Ficou bem cansativo.

    Passaram também alguns erros de revisão meio bobos: vírgulas faltando ou fora de lugar, um “mau” onde deveria ser “mal”, coisas assim. Além disso, a própria condução do texto parece de um autor ou autora num estágio ainda inicial. O que pode ser bom: os desafios são uma boa escola para desenvolver a escrita.

    Os diálogos são um bocado artificiais, soando até juvenis em alguns momentos. Sobretudo nas falas do garoto, que é um personagem pra lá de estereotipado. Outra vez, talvez a intenção fosse abraçar uma comicidade em meio ao horror, mas o texto, ao menos pra mim, não foi engraçado. Então ficou só artificial mesmo.

    Enredo: O enredo é interessante. Muita coisa acontece de forma algo artificial, como o primeiro contato entre o agente e o rapper, por exemplo. Já a escalada de sucesso é descrita de forma quase apressada. Mas entendo que o texto esbarrou também no limite de palavras. Mas creio que havia espaço para enxugar em outros trechos e trabalhar um pouco melhor essas questões.

    Ainda assim, a narrativa funciona. E o final abraça um grotesco meio caricato que trouxe um efeito interessante.

    O conto ganha pontos pela criatividade e pela coragem de abraçar um espírito meio trash no final. A escrita tem muitos pontos a melhoras. No fim da contas, o resultado foi razoável, mas com uma boa última impressão.

  4. Priscila Pereira
    28 de março de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Sr Autor! Tudo bem?

    Seu conto é terrível 😞 no bom sentido, é claro, como um bom conto de terror deve ser!

    Eu não gosto de terror e foi horrível ler seu conto, pq tenho certeza que esse tipo de coisa acontece mesmo e ainda piores. E esse é o verdadeiro terror, coisa reais, nada é mais aterrorizante do que a maldade humana em sua forma bruta.

    Então, eu achei muito impactante e se fosse dar nota, seria muito boa, com certeza.

    Parabéns pelo conto!

    Desejo sorte!

    Até mais!

  5. Felipe Lomar
    28 de março de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    olá,

    bem, você escreve bem. Tem um texto muito coeso e bem amarrado. O problema é que acho que aborda o terror de uma forma muito tangencial. É grotesco, horroroso, mas não dá medo, não impacta psicologicamente da maneira que o terror manda (apesar de impactar psicologicamente pra caralho, mas de outro jeito). Acho que essa ideia das elites como uma seita de pedófilos também é um pouco batida e beira a teoria da conspiração. Não estou dizendo que não existe, e realmente tem muita coisa nojenta no mundo do entretenimento, mas não é assim de forma tão ritualizada também. Isso gera um afastamento do leitor ao texto, já que ninguém quer simpatizar com malucos conspiracionistas.

    boa sorte.

  6. Alexandre Parisi
    27 de março de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    Esse conto é uma jornada provocante, mergulhando em temas como ambição, rapeana modernidade e a busca por aceitação dentro de um sistema pervertido. A descrição inicial da mansão e o contraste sutil entre os cheiros e a aparência do espaço criam uma atmosfera confortável e sombria ao mesmo tempo. Você realmente sente a opressão emanando das paredes.

    Ao apresentar a senhorita K, temos uma figura cheia de dualidade: glamour e violência por trás da superficialidade — uma verdadeira dominadora no palco em que a fama é a moeda de troca. A transição de Diego, do artista sonhador para peça em um jogo doentio, simboliza a deformação da arte sob a pressão do mercado, um reflexo pertinente da indústria cultural.

    A sátira em relação ao show business é aguda, refletindo perfeitamente a transformação da música em produto vazio. O texto segue com uma construção narrativa envolvente, embora algumas partes poderiam ser condensadas para manter o ritmo dinâmico. O desfecho é de tirar o fôlego! As últimas linhas levam o que parecia diversão a um profundo abismo, trazendo uma crítica à desumanização na busca desesperada pelo sucesso.

  7. Alexandre Costa Moraes
    25 de março de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    A história é ousada e bem executada. O conto combina uma análise mordaz da sociedade, um olhar crítico sobre o mundo do entretenimento,com toques de teorias da conspiração e uma escalada de suspense que explode num desfecho surpreendente. A trajetória do personagem principal, Diego, mostra sua escalada e declínio, sua ambição gradual até se render à indústria cultural e perder a essência de seus valores. Os personagens de apoio, como o Senhor White e a misteriosa Senhorita K, são cativantes e cínicos, representando forças simbólicas. A forma como a narrativa é construída mistura momentos que lembram filmes com sequências repletas de ironia e apreensão, prendendo a atenção mesmo com a história sendo um pouco longa. Apesar de algumas passagens serem apressadas, o conto se sobressai pela inventividade, organização precisa, mensagens implícitas sobre a sociedade, diálogos cheios de ironia e com impacto crítico. É o conto mais criativo da série C do desafio. Também escolhi como melhor conto. Gostei bastante! Boa sorte no desafio.

  8. André Lima
    24 de março de 2025
    Avatar de André Lima

    O primeiro parágrafo desde conto é um show de descrição, de técnica e boa execução. Ótimo cartão de visitas. O estilo altamente descritivo me faz perguntar se “Senhorita K” foi uma homenagem ao Senhor K de Kafka, em O Processo.

    A partir do segundo parágrafo, as comparações e descrições soam mais exageradas e forçadas. Algumas comparações, ao meu ver, não encaixam com o modelo proposto pelo parágrafo anterior.

    “Suas roupas causariam perplexidade às plateias de desfiles de moda contemporâneos.”

    e

    “Sorrisos, sinceros como discursos de vice-campeões, surgiram nos rostos dos emissários feito pus brotando em uma infecção.”

    Parece que há uma mudança de tom e de abordagem do estilo descritivo, não mantendo a coerência poética do primeiro parágrafo, mas mergulhando num exagero com um flerte com a escatologia.

    Os diálogos são informais demais e contrastam com o tom imprimido no primeiro parágrafo. É certo que, essa diluição do estilo, pouco a pouco, a medida em que o conto avança, na verdade ajuda a combinar mais com a informalidade. Pergunto-me se não era melhor apostar no tom mais debochado, informal e escatológico desde a primeira linha.

    A chegada do Sr. White é um clichê de gênero. O homem misterioso que faz uma proposta e deixa um cartão telefônico. O enredo se mostra rico o suficiente para cobrar do autor que desviasse dessa facilitação narrativa.

    O conto evolui muito bem e descobrimos se tratar de uma das teorias da conspiração mais interessantes. É bem legal como tudo foi abordado aqui. O final é arrebatador.

    A obra, por fim, é recheada de contrastes. É terror, mas tem humor, é rebuscada, mas é simples, é num tom poético, mas também escatológico e forçado. Tudo isso acaba por dar um ótimo resultado, embora eu sinta que alguns contrastes sejam pouco acertados.

    A escrita é excelente, criativa e impactante.

  9. José Leonardo
    24 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Mr. L.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Diego, um rapper antissistema que tenta despertar atitudes revolucionárias nos seus ouvintes, é cooptado (contratado) por Mr. White (o seu coelho branco na história) e se torna o MC White Rabbit. Após ceder em vários pontos e apesar do sucesso, Diego questiona o sentido de sua carreira agora impulsionada sem saber que é o joguete do planos de seus manipuladores – e acaba participando de uma festa-cerimônia assustadora.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: É um conto curioso, Mr. L. Se formos comparar as descrições (narração) com os diálogos proferidos pelos personagens, a linguagem é meio que assíncrona (o que pode ter sido proposital, sim, dando efeito para as – que eu acredito serem – finalidades do seu texto). A narração é bonita, comparações superlativas que às vezes ofuscam os olhos do leitor – que não é exatamente um Espírito pairando sobre as águas (seu texto), mas que lê com atenção redobrada. O alto número de conjunções coordenativas ao longo da narrativa reforça as imagens/situações em derredor dos personagens ao passo que, para mim, reiteram esse descompasso (ao meu ver) entre as falas (bastante coloquiais) e o desenvolvimento narrativo (empolado, rebuscado). Isso é demérito? Não! Mas pode “ofuscar” a leitura a depender do leitor (meu caso).

    Por outro lado, o conto surpreende no sentido de que parecia guiar o leitor para o conflito interno do artista (cujas letras revolucionárias – e por vezes ingênuas – foram cedendo para motes mais mercadológicos, sem falar do “Mc” que antecede seu nome artístico, que detesta – por ser americanizado), mas que descamba para um banho de sangue (envolvendo crianças).

    Histórias com crianças que servem como sacrifício ritual são bem divisivas, posto que o autor, ao meu ver, deve criar o ambiente e o pretexto de forma que não pareça apenas uma inclusão para o puro choque gratuito, mas bem conduzida/justificada pelo enredo. Embora eu tenha mergulhado na história após essa mudança de expectativa (do imaginado conflito intimista para os desdobramentos da festinha), o que acontece com as crianças… 

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Adequado ao terror pelos elementos do final do conto (motivo narrativo da Senhorita K na história).

    Gostei também do anel benzênico da imagem.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: A cena das crianças é bem visual, e creio que permitirá o choque/repulsa/calafrio em alguns leitores, sim.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto?

    R.: Ainda dividido sobre o que concluir do seu conto, Mr. L. Os diálogos refletem seus personagens (exceto quando Mr. White força para querer parecer mais coloquial nas interações com Diego), mesmo assim, deu-me a impressão de uma ambientação cotidiana narrada por alguém de terno e gravata (comparação infeliz para acentuar os tons distintos de narração e diálogos). Curioso.

    Por fim, ainda que carregue nas tintas nos adjetivos e em algumas comparações, sua prosa é muito bela, Mr. L.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  10. Rangel
    21 de março de 2025
    Avatar de Rangel

    Olá, Mr L.,Seu texto traz uma fortíssima crítica à Indústria Cultural. No início me incomodou um pouco o excessonde estilo semelhante a tradução de romances americanos, mas depois me peguei me perguntando se isso não era algo intencional. Então gostei cada vez mais conforme o texto foi avançando, pois o tom de crítica vai crescendo e a massificação da cultura vai sendo ironizada até a revelação de que o jovem rebelde sonhador sempre fora um produto dessa mesma Indústria. Mesmo o recente modo como as empresas tem descartado as causas LGBTQIAPN foram criticados no seu texto, o que o aproxima de uma crônica, embora, por óbvio, seja conto.Com tudo isso, o ritual de canibalismo no final ganha outro significado, pois representa tanto o ato em si quanto esses próprios poderosos que se alimentam de nossa carne, ali literalmente. Miss K é uma vilã interessante, uma espécie de Miranda satânica, inatingível pelos meros mortais. O protagonista é chato, mas aquele chato bem construído e que serve para mostrar bem como até nossa revolta está colonizada por algo além de nós.Tem alguns pontos que queria deixar como dica na escrita. Na tentativa de deixar tudo que envolve Senhorita K hipérbole algumas imprecisões são feitas. Exemplo: diz que ñ é absurdo supor que o Uísque estaria envelhecido por milênios, mas o próprio processo de destilação de bebidas só chegou na Europa no século XII. Há também a presença de frases soltas que parecem desencaixadas, faltando algo para ligá-las ao que está sendo dito: “Os mordomos que quase não se podia afirmar se eram homens ou estátuas”. Outro ponto é que as falas da vilã por vezes são chulas demais e destoam do ar aristocrático que ela vinha sendo construída: “vou falar rapidinho porque estou atrasada”… “podem beber até o cu fazer bico”. Por fim, não sei se o conto é exatamente terror. Claro, o capitalismo é um horror e ali sua crítica personificou esses monstros de forma grotesca, mas isso só na parte final, a maior parte é mesmo um conto com forte carga de crítica, muito bem construída, aliás.É isso, gostei da história, da sua metáfora e da crítica, só registro os detalhes acima por exigência do desafio. Muito boa sorte

  11. Augusto Quenard
    21 de março de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Acho que daria pra cortar bastante coisa, tem muitos trechos que parecem mais críticas sociais do que elementos que contribuem com o conto.

    A ideia pro enredo eu achei legal, acho que, embora já exista esse leitmotiv (o artista que ganha fama e sucesso pelo trabalho sub-reptício de uma seita) não é tão explorado e nunca vi acontecendo num ambiente genuinamente brasileiro. E acho que eu gostaria mais do enredo se ele focasse mais na festa e no sacrifício do que na ascensão da carreira do rapper, pois isso a gente já supõe como acontece.

  12. Kelly Hatanaka
    20 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Um conto interessante mas que, para mim, ficou meio confuso. Não entendi para que precisavam do White Rabbit, qual seria sua finalidade naquela organização/seita? Pra que precisavam que ele tomasse o elixir? Também tive a impressão de que resvalou no tema, que só apareceu na cena das crianças.

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Publicado às 16 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1C, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .