EntreContos

Detox Literário.

A Cidadela dos Robinsons (Antonio Stegues Batista)

Ao retornar de uma de suas expedições exploratórias, o pai trouxe um antigo binóculo militar para o filho. A primeira coisa que o menino fez, naturalmente, foi observar a paisagem pela janela do quarto. Devido a duas paredes externas, sua visão do horizonte era reduzida, mas podia ver no topo de uma colina, uma árvore seca, desprovida de folhas. Árido e estéril também era o solo ao seu redor. Havia algumas lápides antigas com o nome das pessoas ali sepultadas. Agora ele podia ver detalhes que antes não eram possíveis, como a cor e a textura do tronco da árvore, a forma dos galhos e as cicatrizes de onde as folhas haviam caído. Podia distinguir com mais clareza o nome das pessoas nas lápides. Um deles era o da avó, Vânia, falecida pouco antes de seu nascimento, e do tio, Breno, além de outras pessoas que ele não chegou a conhecer.

Olhar pelo binóculo era divertido e interessante, mas Vânio ainda não estava satisfeito, queria mesmo era liberdade, livre arbítrio. Passou dias amuado e para agradá-lo, Helena, sua mãe deu ordens para Isaac levá-lo a visitar os outros cômodos do prédio que ele ainda não conhecia. Saíram ambos pelo corredor até que, longe da mãe, o menino parou e estendeu a mão para o androide.

— Dê-me as chaves. Não precisa me acompanhar, posso ir sozinho.

— Recebi ordens para acompanhá-lo. É meu trabalho instruí-lo e protegê-lo de acidentes.

—  Não sou mais criança que precise de proteção. Já tenho 10 anos, sei cuidar de mim mesmo.

— Recebi ordens para cuidar de você desde que nasceu e cuidarei quando for necessário.

— Não dá pra ignorar essa ordem que mamãe lhe deu? De ficar grudado em mim?

— Não posso ignorar as ordens que seus pais registraram na minha memória, tampouco as 3 leis da robótica. Vamos continuar nossa visita. As ordens de seu pai são para manter tudo organizado e limpo. O primeiro cômodo que iremos será aquela porta que abre para o depósito de ferramentas. Recomendo não mexer em nada.

Isaac abriu a porta com uma chave que tirou de um compartimento do cinto de couro sintético, revelando uma sala espaçosa com ferramentas penduradas nas paredes, espalhadas sobre uma mesa comprida e organizadas em prateleiras de armários.

— Isso é um museu?

— Não exatamente. Seu pai coletou esses objetos pelas ruínas das cidades. Ele guarda tudo que pode para gerações futuras.

Eles seguiram para a sala das artes. Vânio já conhecia algumas pinturas em livros e pouco se interessou por elas, passou uma vista de olhos pelas estatuetas e esculturas, indagando-se por que o pai fazia tanto esforço para possuir aquelas velharias. Em seguida, entraram na sala de documentos, que o pai considerava preciosos, mas para ele eram só papeis velhos. Depois de visitar a sala de equipamentos eletrônicos coletados ao longo de 19 anos, desde a construção do prédio, explicou Isaac, chegaram ao complexo de captação de água, fabricação de vitaminas, sais minerais e aminoácidos e medicamentos. Vânio assistiu com interesse todo o processo. De uma plataforma, observou a enorme caverna, com túneis, de onde todo o minério era extraído. As salas vetadas a sua entrada, foram a sala do gerador de energia elétrica, o laboratório da mãe e a oficina do pai. O final do passeio terminou no pátio interno.

— Eu queria sair, mas mamãe disse que tem monstros lá fora. É verdade ou é mentira dela? — perguntou Vânio, sentado num banco. Isaac sentou-se ao lado dele apenas para fingir que era humano.

— Estou incapacitado de opinar sobre questões que possam afetar suas virtudes e trazer consequências danosas para o seu equilíbrio psicológico.

Às vezes o menino não entendia as palavras do robô, mas sempre tinha outra pergunta pronta.

— Você já viu algum monstro?

— Seus pais acreditam que a radiação nuclear possa ter criado pessoas degeneradas, desumanas, por isso eles proíbem que você saia do prédio. Na sala de recreio, há muitos filmes e brinquedos para você se distrair. Tem livros interessantes na biblioteca. Não precisa ir lá fora.

— Mas papai sempre sai para buscar alguma coisa.

— Positivo, mas ele usa roupa protetora e sai armado. Seu pai é adulto, sabe se defender.

Vânio chegou à conclusão de que Isaac não o ajudaria a desobedecer às ordens dos pais. Mesmo na adolescência, ele foi proibido de sair da cidadela.

Assim, o mundo de Vânio se restringia àquele prédio abarrotado de tudo que uma pessoa precisava para viver em conforto e segurança. Claro que ele ansiava por escapar daquela prisão imposta pela mãe, que se achava no direito de criar o filho como bem-quisesse, mesmo negando-lhe a liberdade, que era para o bem dele.

Não podia ultrapassar os muros; sempre havia um guarda-robô no portão para impedi-lo de sair. Nas suas andanças pelo edifício, era acompanhado por Isaac. No entanto, aquelas caminhadas pelo interior da cidadela se tornaram aborrecidas, e ele voltou a passar seus dias na biblioteca, lendo, assistindo a vídeos e filmes de um mundo que não existia mais.

Vânio tinha 17 anos quando o pai faleceu. Morreu durante o sono. A esposa, percebendo que o marido não acordava, sacudiu-o pelo ombro e descobriu que estava morto. Abalada, chorou muito. Depois, controlando-se, precisava ser forte, dirigiu-se ao quarto do filho. Abraçou-o e explicou o que havia ocorrido. Vânio recebeu a notícia com tranquilidade. Confortou a mãe dizendo que cuidaria dela.

Após se acalmar, Helena iniciou os preparativos para o velório e posterior sepultamento. O rapaz, no entanto, tinha outros planos. Fingiu um desconforto súbito e queixou-se de enxaqueca. A mãe, solícita, pegou remédio na farmácia para ele tomar, mas Vânio se meteu debaixo das cobertas e disse querer silêncio e escuridão. Ali ele ficou, até a hora em que o velório terminou.

Quando olhou pela janela e viu o cortejo fúnebre com a mãe e os robôs dirigindo-se para o cemitério, saiu do quarto e desceu para o vestíbulo. Não encontrou ninguém pelos corredores. Chegando diante da porta que dava para o pátio, descobriu que estava trancada a sete chaves. Frustrado, retornou ao piso superior. Encontrou Isaac no topo da escada, vigilante.

— O que foste fazer diante da porta?

— Sair. Quero conhecer o mundo. Tens a chave?

— Não tenho e mesmo que tivesse não daria a ti, pois recebi ordens para não o deixar sair. Lá fora não existe nada que possa lhe interessar.

— Como, nada? E aquelas coisas que vi nos livros e nos vídeos? As cidades, as pessoas, os veículos terrestres e os aparelhos voadores?

— Teus pais já te contaram. Foi tudo destruído por uma guerra. Encontrarás a história na Enciclopédia Telúrica do Fim dos Tempos.

— Li todos os livros da biblioteca e não conheço nenhuma enciclopédia do fim dos tempos.

— Sua mãe deve ter escondido para preservar sua inocência.

— E onde ela escondeu, pode me dizer?

— Não posso responder porque não sei. Aconselho voltar para o quarto.

E foi o que Vânio fez. Chegou à conclusão de que não podia mudar as ordens daquele robô antiquado, mas eficiente. Deitou-se na cama, pensativo, chateado. Decidiu procurar o tal livro. Começaria pelo lugar mais óbvio, a biblioteca.

— Vou à biblioteca estudar. Não precisa me acompanhar — disse para Isaac, quando passou por ele. Chegando na biblioteca, olhou as prateleiras. Já tinha lido os 3 mil livros que existiam ali, portanto, sabia que não estava nas estantes. Olhou em todas as prateleiras e nos cantos, para certificar-se que não estava escondido. Não encontrando, decidiu procurar na oficina do pai, já que agora ele não estaria mais lá. Ouvindo barulho de vozes, percebeu que a mãe havia voltado e estava dando ordens para os criados de lata.

Ele retornou ao quarto, debruçou-se na janela. Dali podia ver o portão do pátio sempre fechado. Fazia tempos que não observava a paisagem. Pegou o binóculo e olhou para o morro. A árvore continuava com os galhos sem folhas, o solo seco, embora tivesse chovido na noite passada. A última coisa que olhou foi a nova lápide com o nome do pai. Terminada a exploração do morro, voltou a olhar o portão do pátio. A madeira era de carvalho, tábuas grossas unidas com cintas de ferro e pregos. Um cadeado metido em argolas, trancava ambas as folhas. O muro era alto com setas de ferro e cacos de vidro no topo. Para sair, somente com a chave.

Vânio sentia-se triste, melancólico, nostálgico por algo que apenas imaginava, os rios, as florestas, os carros, as grandes cidades, as avenidas e os anúncios luminosos. Diziam que nada daquilo existia mais, mas ele não acreditava que o mundo fosse apenas um deserto hostil. Tinha vontade de sair e ver tudo ao vivo e não apenas nos livros. Precisava encontrar as chaves que abriam as portas. Talvez o pai guardasse uma cópia na oficina. Antes precisava encontrar a chave da oficina. Esperou que a mãe se ausentasse do quarto dela para procurar. Encontrou um molho de chaves no fundo, de uma gaveta de uma cômoda, cada uma com uma etiqueta de identificação, nem uma era da porta do prédio ou do portão, mas uma delas era a da oficina. Estava seguindo pelo corredor, quando ouviu a voz de Helena chamando-o. Respirou fundo para acalmar-se.

— Aonde você vai?

— Ao jardim.

— Não se esqueça de usar protetor solar. Tome o seu almoço.

Ela deu a ele um comprimido com suplemento vitamínico e um copo de água, depois se afastou. O menino respirou aliviado e seguiu caminho.

Conseguindo entrar no estúdio, acendeu a luz e procurou nos armários, nas prateleiras e caixas, mas não encontrou nenhum livro. Olhou para a porta vermelha ao fundo. O vermelho sinalizava perigo. Era a sala secreta do pai e a chave estava no bolso no avental pendurado num gancho alto que ele agora podia alcançar. Pegou e abriu a porta proibida. Entrou devagarinho, receoso de estar profanando um recinto sagrado. A sala não era tão diferente da outra, só que ali havia aparelhos e instrumentos que ele conhecia apenas por imagens de livros e filmes. Um aparelho em particular chamou atenção, um monitor de vídeo diferente daquele que ele tinha em seu quarto. Por curiosidade, ligou-o.

Uma imagem surgiu lentamente na tela verde. O rosto de uma mulher. Uma boca de dentes alvos e perfeitos, lábios cheios cor carmim. A boca de alguém que fazia vários movimentos, fechando, abrindo, repuxando os cantos, esboçando um sorriso, expressando sentimentos, tristeza, raiva, alegria, gozo. A imagem deslizava para todos os lados num fundo escuro, como se flutuasse no ar com a força de uma brisa. Vânio ficou hipnotizado pela sensualidade que se destacava em todos os movimentos que a mulher fazia com a boca. Por alguns segundos, ele foi levado em espírito a um mundo lúbrico desconhecido.

Uma legenda em letras brancas, dizia; “O beijo é a porta de entrada para desvendar os mistérios de uma mulher”.

Conseguindo desvencilhar-se do encanto, do feitiço que aquela imagem causava, o rapaz voltou à realidade. O que é isso? Perguntou-se e imaginou que devia ser um tipo de arte muito estranha que o pai recolheu em suas explorações pelo exterior. Desligou o aparelho, sacudiu a cabeça para clarear as ideias.

Outra coisa misteriosa estava encoberta junto a parede. Aproximou-se, cutucou com o dedo, depois pegou uma ponta do pano e puxou. Um retângulo de metal, como um monólito cinza-escuro de 2 metros de altura por 1 de largura. Atraído pela textura, colocou a mão e ao tocar, abriu-se uma porta para um corredor de cor esverdeada.

A curiosidade, a busca por conhecimento era a qualidade da sua índole destemida. A vontade em saber o impelia a descobrir o oculto, seja lá o que fosse. Avançou alguns passos e viu-se numa rua iluminada pelo sol, surgiram prédios, pessoas, carros. Era como caminhar pela calçada de uma cidade colorida e alegre. Podia ouvir o som das vozes, o barulho dos carros. Ficou maravilhado olhando de um lado para outro. Um dia comum numa metrópole. Algo que sempre desejou ver. O ambiente mudou e ele seguiu agora por um caminho lajeado, um parque gramado, com árvores copadas, arbustos e plantas ornamentais. E pessoas passeando, sentadas nos bancos, adultos e crianças desfrutando uma tarde tranquila. Podia ouvir as risadas das crianças, as vozes dos adultos.

De repente tudo se aquietou, como se os sons tivessem sido sugados pelo vácuo.

Em seguida um estrondo rompeu o silêncio repentino, seguido de uma luz intensa. Uma nuvem de plasma varreu a cidade, pessoas e árvores. Carros voaram com seu metal distorcido, as pessoas se desintegraram, edifícios foram rasgados, se desfazendo em pedaços de concreto, ferro e vidro. Logo um silêncio pesado foi entrecortado por lamentos e gritos de socorro. Espectros vermelhos surgiram em meio a poeira, corpos em carne viva, as artérias latejando ansiando pela vida. Uma coreografia macabra no meio de detritos. Alguns escavavam a terra com as mãos em busca de um bálsamo no lodo, na lama, mas encontraram apenas cinzas e terra calcinada. A imagem desapareceu e Vânio se viu diante do monólito.

****

Alguma coisa o acordou. Abriu os olhos e deparou-se com uma mulher sobre ele. Era a mesma da televisão, a boca com o mesmo formato, os mesmos dentes brilhantes, os mesmos contornos dos lábios, a mesma língua que o seduzira, que o deixou obcecado, viciado. Tentou se levantar, mas não conseguiu. Estava paralisado. Ela colou a boca na dele numa simbiose erótica. Provou a saliva afrodisíaca como uma poção mágica, fórmula química do gozo. Ela sugou sua razão, deixando um deserto de ideias nos seus neurônios vazios. Levou-o à beira de um colapso mental, na absorção das suas entranhas ele sentiu o corpo dela como uma mortalha, sufocando-o, aprisionando sua alma. Exausto, inerte, entregou-se totalmente sendo engolido pela dona daquela boca, portal de entrada do submundo da volúpia.

 Acordou em sobressalto, molhado de suor. O coração batia como louco. Respirou fundo, acalmando-se. Não tinha nenhuma mulher em seu quarto. Foi apenas um sonho, afirmou para si. Ficou na cama recostado por alguns minutos e percebendo o membro duro, decidiu aliviar-se. Depois tomou um banho demorado.

****

A mãe ficou doente, de cama e Vânio cuidou dela dando os remédios que ela mesma prescrevia. Quando seus sinais vitais sumiram, ele a considerou morta e que precisava sepultá-la. A ideia de ficar sem a mãe, não o assustava, sentiu-se até aliviado por ficar livre do controle dela. Ele avisou Isaac e o robô verificou o fato, auscultando com seus sensores. Tinha na memória ordens para levar o corpo ao cemitério. Foi a única vez que os robôs deixaram as portas e o portão externo abertos. Em vez de seguir o cortejo, Vânio esperou que eles sumissem na curva da estrada e depois enveredou para outro lado.

Seguiu por uma estrada antiga, seca e dura. Em ambos os lados moitas de capim tentavam viver empurrando suas raízes para o fundo em busca de água. As chuvas eram escassas. Depois de 2 horas chegou a uma cidade em ruínas. A rua estava deserta, envolta em silêncio que só era quebrado pelo som ocasional de destroços caindo dos prédios outrora imponentes, agora cobertos de fuligem e rachaduras, como cicatrizes de uma civilização morta. Parou em frente a uma loja para olhar os manequins com suas roupas em frangalhos, cobertos de pó. Carros abandonados, enferrujados formavam uma fila desordenada ao longo da avenida, testemunhas mudas de um êxodo apressado. O asfalto estava esburacado, com ervas daninhas raquíticas crescendo entre as rachaduras, avançando lentamente, retomando o terreno. Pedaços de vidro quebrado refletiam a luz pálida do sol, criando um brilho fantasmagórico que contrastava com a escuridão das sombras projetadas pelos edifícios em pedaços.

O que ele tanto temia, aconteceu. Era verdade o que a mãe dizia, não há nada lá fora. Mas e se houvesse outro mundo, um mundo paralelo? Os livros contam histórias. Teorias e lendas que poderiam ser verdade.

 Por muitos dias não encontrou ninguém, nenhum animal, nenhum monstro que sua mãe tanto temia. Achava que se continuasse em frente, poderia chegar ao Rio de Janeiro e subir na Pedra da Gávea. Ele se lembrava das palavras do livro. Uma lenda dizia que lá em cima havia um portal para outra dimensão, para um mundo novo. Sabia que ficava distante, mas acreditava que poderia chegar lá.

Vânio esqueceu-se dele mesmo, seu propósito agora era mais importante. Continuou caminhando dia e noite, rumo ao sul, até que os músculos das suas pernas não obedeceram mais à sua vontade. Ele não entendia por que isso acontecia, porque o corpo sucumbia à sede, fome e cansaço. Chegando a uma clareira, não aguentou dar mais nenhum passo, nem ficar de pé, caiu e se arrastou até uma árvore seca, morta há muito tempo por um raio. Recostou-se no tronco, empurrou os cabelos da frente dos olhos, secou o suor com a manga da camisa.

Sua vitalidade desaparecera. Os pensamentos começaram a se desfazer como fiapos de fumaça ao vento. As pálpebras pesavam e antes que se fechassem para sempre, ele olhou para o alto e viu entre as nuvens, o que parecia ser uma porta aberta. O coração parou logo em seguida, o sangue deixou de carregar oxigênio para o cérebro. Com o sistema imunológico em colapso, as células do corpo começaram a digerir a si mesmas, devorando proteínas e DNA e com a morte do hospedeiro, os micróbios da flora intestinal começaram a se multiplicar e abandonar o ambiente junto com fluidos corporais, emanando vapores de mau odor. Reduzindo os tecidos e fluídos, os próprios vermes pereceram, integrando-se aos elementos químicos, ferro, zinco, enxofre, cálcio e fósforo.

O vento lançou sementes, esporos, pólen, naquele lugar rico em nutrientes e uma vegetação vistosa, irrigada pela umidade do orvalho da noite, nasceu. A própria árvore moribunda, onde Vânio se recostara para descansar, absorveu com as raízes a sua essência. Renasceu, espalhando pelos seus galhos a clorofila para as folhas que deram abrigo e sombra aos pássaros que foram surgindo com o passar dos anos, e os restos mortais de Vânio foram cobertos pelo mato, tornando-se parte da natureza que ele tanto desejou conhecer.

Sobre Fabio Baptista

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27 comentários em “A Cidadela dos Robinsons (Antonio Stegues Batista)

  1. Rangel
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Rangel

    Fico sempre curioso com contos que exploram mundos ou universos apocalípticos. É preciso alto grau de inventividade, mas é necessário ainda mais atenção para amarrar todas as pontas e respeitar a lógica interna.Acho que o autor conseguiu contornar essa dificuldade, criando uma ambientação fechada, em que mais se ouve sobre os perigos externos do que o mostra essencialmente, exceto na parte final.

    Em geral, o conto é bem escrito e a narrativa progride de modo satisfatório. Deixaria apenas alguns detalhes para atenção, por exemplo: “queria mesmo era liberdade, livre arbítrio”. Sei que filosoficamente costumam traçar diferenças entre esses dois termos, mas para a narrativa não vejo diferença entre liberdade e livre arbítrio. Na verdade, livre-arbítrio nem se encaixa muito no que a personagem busca. De qualquer modo, acho a escrita regular, algumas imagens bonitas como a de pensamentos “se desfazendo como fiapos de fumaça ao vento’.

    O grande problema do conto para mim está na construção do protagonista. Imagino que o autor quisesse dar a ele, um ar de jovem curioso, e de “índole destemida”. Mas veja, isso é o que o texto diz sobre o rapaz, não o que mostra. Pelo que se fala dele, parece mais um menino mimado, macambúzio, cheio de vontades e totalmente indiferente, mesmo aos pais. Ok, ele é curioso, o texto até apresenta isso, mas fica difícil enxergar isso nele, quanto mais torcer por ele, quando o narrador, veja o narrador e não os pais, deixa claro que a mãe negava-lhe a liberdade “para o bem dele”. Ora, quando o narrador deixa claro que todas as restrições são para o bem dele, fica claro que o perigo externo é real. Isso, evidentemente, não o impedia de querer descobrir o mundo exterior, mas faz com que a gente não o exergue mais como um herói destermido.

    O desinteresse pelo protagonista se acentua ainda mais quando ele se mostra totalmente incapaz de sentir a perda dos próprios pais. Tudo bem, não há um problema em construir um protagonista anti-heroi, na verdade, isso pode ser bastante interessante. A questão é que essa não parece ter sido a intenção, já que o texto diz que ele era destemido, curioso e “melancólico e nostálgico”. E aqui chega-se em outro ponto, do que ele sentia nostalgia? Pois parece que ele nunca vivera no mundo que ele sentia falta. Parece que essa palavra foi inserida ali para remeter ao tema do desafio.

    E aí chega para mim em outra questão: parece que a história ou foi reaproveitada e adaptada para o desafio ou pensada para apenas revelar no tema. Mas já não estaria adequado pelo tema porta? Tudo bem que portas ali novamente parecem também estar colocado artificialmente para encaixar no tema, mas acho que estava dentro da proposta. Dito isso, Vânio, para mim, é mais curioso do que exatamente nostálgico.

    Quanto ao final, há uma beleza poética li, esse rapaz, mimado, percebe-se incapaz de sobreviver ao perigos do mundo. As descrições dos poros, as referências a sucumbimento do sistema imunológico são bem feitas. Gostei muito de verdade.

    Se eu fosse dar uma nota ao conto seria um 7. Não me surpreendeu, mas não me desagradou de tudo. Acho que o autor tem as manhas.

  2. Victor Viegas
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Cipriano!

    Rapaz, gostei bastante do seu conto. O fato de se passar em um mundo diferente, com o ar atmosférico prejudicial à saúde humana, permite espaço para muitas explicações, o que deixa a história expositiva demais. Logo nas primeiras cenas, nós percebemos esse involuntário isolamento “A primeira coisa que o menino fez, naturalmente, foi observar a paisagem pela janela do quarto. Devido a duas paredes externas, sua visão do horizonte era reduzida, mas podia ver no topo de uma colina, uma árvore seca, desprovida de folhas”. Cuidado com partes com muitos detalhes como em “Olhar pelo binóculo era divertido e interessante, mas Vânio ainda não estava satisfeito, queria mesmo era liberdade, livre arbítrio”, os três últimos elementos passam a mesma ideia e, se não usado de forma poética, pode transmitir uma ideia um pouco redundante.

    “chegaram ao complexo de captação de água, fabricação de vitaminas, sais minerais e aminoácidos e medicamentos”, procure focar em elementos que possam contribuir para o andamento da história, sem tantos desvios com uso excessivo de palavras “acessórias”.

    “Chegou à conclusão de que não podia mudar as ordens daquele robô antiquado, mas eficiente”, a dinâmica com o robô acaba sendo interessante e poderia se aprofundar ainda mais na interação entre eles. Acredito que a grande quantidade de personagens, como a justificativa de colocar os pais do menino na história, acaba desviando um pouco da essência da mensagem, que seria a curiosidade dele de descobrir o mundo que ele não pode ter contato, apenas ver de longe em um “binóculo militar… pela janela do quarto”.

    Peço desculpas pelo tamanho do comentário. De modo geral, você escreve bem. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!

  3. Pedro Paulo
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: É necessária certa habilidade para encerrar uma história com ironia. Por exemplo, a engenhosidade de Ícaro ser o que o levou à ruína por chegar tão próximo do sol. Aqui, eu não sei se era o pretendido, com Vânio tornando-se parte do renascimento do mundo que ansiava conhecer, mas se foi o intuito ou não, careceu do impacto necessário. Acredito que o motivo foi a maneira como o conto foi estruturado, com as idas e vindas do menino na fortaleza de memória construída pelos pais, sempre curioso, insatisfeito e ansiando por liberdade, mas preso ao mesmo lugar. Quem lê, acaba partilhando do seu tédio, mas não ansiando como ele. Afinal, conhecemos o mundo e o vimos ser destruído em várias obras ficcionais, o garoto era mesmo o único ignorante da situação, então não inspirou tanta empatia para querer sua liberdade. Em verdade, simpatizei mais com a paciência do robô diante da petulância do rapaz. Acredito que o conto teria se desenvolvido melhor se tivéssemos passado menos tempo na cidadela (o que talvez implicasse a mudança do título) e o acompanhássemos logo em sua viagem, conhecendo-o mais, acessando seus pais e sua casa cheia de portas mais pela memória do que realmente percorrendo as tentativas fracassadas de liberdade de Vânio. Os temas são abordados, mas em uma história sem brilho, contada em uma escrita igualmente econômica, mas eficiente. Como um robô.

  4. MARIANA CAROLO SENANDES
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de MARIANA CAROLO SENANDES

    História: Isaac, o robô, temos um fã de Asimov. A história de um menino, no meio de um pós-apocalipse, que quer conhecer a natureza. Escapa do seu bunker e, em sua extinção, se torna o que tanto queria conhecer. 3/4

    Escrita: Boa, a história transcorre sem percursos. Admito que eu demorei para ler, não sou a maior fã de ficção cientítica, mas gostei 3,8/5

    Imagem e título: adequados 1/1

  5. leandrobarreiros
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    Achei um dos contos mais criativos do desafio e, no que diz respeito a misturar várias ideias, um dos mais bem executados.

    Não ficou entre meus favoritos por algumas escolhas narrativas. No geral eu achei o texto… explícito demais. Como se o autor estivesse constantemente preocupando de informar o leitor o que estava acontecendo, o que acabou roubando o brilho da coisa toda. Isso se deu especialmente através dos diálogos entre o menino e o robô. Sim, eu entendo que é um robô e, certamente, haveria uma razão dentro da história para ele falar assim, mas continuou sendo muito expositivo e meio artificial. E, sim, de novo, eu sei, robô.

    Mas o final do conto, por exemplo, demonstra essa pegada um pouco… pedagógica demais “… aos pássaros que foram surgindo com o passar dos anos, e os restos mortais de Vânio foram cobertos pelo mato, tornando-se parte da natureza que ele tanto desejou conhecer.”

    Eu não acho que seja necessário aqui enfatizar o desejo pretérito do Vânio, acaba tirando um pouco a força da ironia.

    Tirando essas partes que são muito expositivas, o texto está muito bem escrita e a descrição das cenas funciona muito bem

    Gostei também do conflito da história, a proteção parental exagerada que acaba tendo o efeito contrátio do pretendido.

    Um conto bem competente.

  6. Fabio Baptista
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    Minha impressão foi que faltou foco narrativo aqui. Há alguns eventos que não são necessariamente uma reviravolta, mas meio que vão jogando a história de um lado para outro, sem muito tempo de nos firmarmos em lugar nenhum.

    Logo no começo tem um desses eventos, ali foi uma quebra de expectativa que achei legal: o primeiro parágrafo me induziu a imaginar um tipo de cenário e daqui a pouco chegaram robôs, indicando uma ambientação futurista.

    A transição de tempo não ficou boa, tive que reler para captar que o pai só morreu depois (ok, depois que entendi notei que eu realmente tinha vacilado, mas cabia uma separação ali para facilitar).

    Então temos o garoto impedido pela mãe de conhecer o mundo, por causa dos “monstros” e dá umas voltas nisso. Conhecemos a tal mulher da TV e parece que vai para um lado, mas logo depois o conto segue como se aquilo não tivesse qualquer relevância (pelo menos foi esse meu sentimento).

    O protagonista finalmente sai e se torna adubo para uma possível retomada da natureza.

    O tema segue um um pouco na nostalgia do que se não se conhece e o tal portão como a barreira entre o refúgio seguro e o desconhecido lá fora.

    Entre “idas e vindas” foi uma leitura agradável.

    BOM

  7. André Lima
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de André Lima

    Ah, faltou acrescentar que o conto possui muitos problemas de revisão (Uma porção de vírgulas mal colocadas) e de coerência. 3 mil livros lidos? Numa média de 100 livros por ano, o que daria cerca de 3,6 dias por livro, levaria-se 30 anos para completar 3 mil… E, ao que tudo indica, o protagonista se trata de um adolescente.

  8. André Lima
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de André Lima

    É um conto original, embora seja possível ver as influências de Asimov e Orwell.

    Eu li este conto 3 vezes e persisto com a sensação de que não o compreendi por inteiro. Faltou, para mim, clareza e sutileza do autor para nos passar a mensagem adequada do final da história, além de passagens como a da mulher sedutora que, ao meu ver, não encontra local na estrutura narrativa do conto.

    O final, para mim, é ambíguo. Mas não de um jeito bom. Muitas perguntas são feitas, poucas são respondidas no texto em si.

    O texto me parece pouco coeso. Inclusive, há uma mudança de tom que não me agradou. A leveza poética do primeiro parágrafo é praticamente esquecida e dá lugar a um excesso de adjetivações e descrições gigantes.

    O conto tem profundidade e explora bons temas, mas gostaria de ter visto mais da pegada poética do início. O autor escreve bem, tem boa técnica…

    A construção do cenário e o tom reflexivo da trama são o ponto alto, para mim.

    Não fossem os problemas de coesão e a falta de clareza (Ou minha pouca capacidade de entendimento), este conto seria, certamente, um dos meus favoritos do certame.

  9. Priscila Pereira
    11 de dezembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    Seu conto aborda o tema porta, portão, sempre trancados, impedindo Vânio de explorar o mundo pós apocalíptico.

    Achei bem interessante a ideia. Mais como um alerta de que os pais de Vânio não o prepararam para sobreviver naquele mundo, tudo que fizeram foi lança-lo a morte por querer escapar sem ao menos levar previsões.

    Será que os pais de hoje em dia não estão fazendo exatamente isso? Lançando os filhos no mundo sem prepara-los para isso? Deixam que vivam em uma bolha onde são satisfeitas todas as vontades e desejos e quando percebem que a vida não é assim, se perdem totalmente.

    Deixando as divagações de lado, seu conto podia ser melhor se mostrasse mais ao invés de só contar. O tom é até meio jornalístico. Mas o desejo de saber por si mesmo o que havia naquele mundo desconhecido foi muito bem construído.

    Achei criativa a abordagem do tema, meio metafórica e até metafísica. No final, a cena da morte de Vânio, foi muito boa, gostei bastante!

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  10. Thais Lemes Pereira
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Thais Lemes Pereira

    Nossa… vou precisar escrever um pouquinho. Vamos lá!
    Eu adorei o universo da história. Todo esse cenário, a presença dos robôs, do cemitério, de uma criança, cria um universo fantástico. A passagem do tempo marcada pela morte dos pais, a presença de uma grande biblioteca que já foi toda lida…
    A insistência para que o filho não fugisse e explorasse o mundo me fez pensar que existia algo muito perigoso lá fora. Fiquei um pouco decepcionada quando percebi que tudo o que havia era um mundo devastado. Então os pais não podiam levar o menino para ver o mundo lá fora um pouquinho e voltar?
    A morte dele até me fez pensar que algo “lá fora” pudesse destruir a nossa matéria, mas fiquei pensando se era isso ou se a morte dele foi uma morte comum e descrita de uma forma mais poética.
    E aqui encontrei o ponto mais forte do conto. Quando fala que seus restos mortais se misturaram a natureza que Vânio queria conhecer. Mas passou rápido demais, como um suspiro.
    Para finalizar, qual o sentido do título?
    Gostei muito do conto, só esses detalhes que ficaram pendentes para mim.

  11. Jorge Santos
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá Cipriano. Gostei deste seu conto, de um tema que me diz muito e que é a ficção científica. Nele, encontramos ambos os temas do desafio. A porta figura com lugar de destaque. É a separação entre a vida que o rapaz sempre conheceu, dentro de portas, e o exterior que deseja conhecer. Já a nostalgia surge, quanto a mim, de forma mais discreta, com as memórias de um passado distante. O clima quase claustrofóbico é mantido de forma elegante. A narrativa prende o leitor e instiga a leitura, travada por alguns problemas menores de pontuação. A construção das personagens e lugares está bem feita. O desfecho é descrito de uma forma elaborada.

    Conclusão: conto quase perfeito, não fossem os problemas com a pontuação e alguma falta de ritmo.

  12. danielreis1973
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de danielreis1973

    A Cidadela dos Robinsons (Cipriano)

    Prezado(a) autor(a):

    Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
    Obrigado e boa sorte no desafio!

    DR

    A) PREMISSA: A história da formação do jovem Vânio, num mundo pós-apocalíptico onde a realidade só pode por ele ser experimentada por meio de livros da biblioteca da família. Perde o pai, perde a mãe, e finalmente parte para o mundo. O tema do desafio aparece no monólito, onde ele experimenta, como metáfora, a vida que poderia ter sido.

    B) TÉCNICA: a história, contada com um sotaque Arthur C. Clarke, é essencialmente uma fábula sobre o fim da inocência e a transição para a vida adulta, com as ameaças e liberdades que isso implica. O autor tem domínio da técnica, ainda que não se destaquem diálogos, mas sim comentários e explicações sobre o mundo proposto pelo autor.

    C) EFEITO: o efeito final foi bom, ainda que não tenha grande destaque ao longo da narrativa. Acho que o “efeito sonho” para explicar a realidade extraordinário é um clichê bastante usado, não só em ficção científica, mas em geral, mas que aqui até que funcional. Sucesso no desafio!

  13. Elisa Ribeiro
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Me desconectei um pouco durante a leitura do seu conto. Talvez por causa de um excesso de gordura: descrições desnecessárias ao enredo, muito tempo na procura infrutífera de Vânio por uma saída do abrigo, enfim, acho que vale rever isso. O texto me pareceu bem revisado e dentro do tema. Gostei do epílogo que você deu ao seu conto. Me surpreendeu. Há quem não goste desse tipo de reabertura após o clímax em contos, mas não é o meu caso.

  14. claudiaangst
    6 de dezembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.

    Título = A CIDADELA DOS ROBINSONS – Os Robinsons têm uma cidadela?  

    Adequação ao Tema = Tema proposto abordado com sucesso. Há uma porta/portão/portal com significado especial na trama.

    Desenvolvimento = A narração apresenta um cenário distópico, onde Vânio vive uma nostalgia por um mundo que nem chegou a conhecer. A trama se desenvolve de forma linear, o que facilita o entendimento do enredo. O desfecho é triste, melancólico, talvez até cause uma certa nostalgia.

    Índice de Coerência = Pode ser que haja algum elemento que destoe e quebre a coerência da trama, mas por ser uma distopia FC, sei lá (não sei mesmo), talvez eu não tenha percebido alguma falha de sentido.

    Técnica e Revisão = A linguagem empregada é simples, direta e condizente com a história narrada. Os diálogos facilitam o entendimento e trazem agilidade à leitura.

    Há alguns pontos falhos quanto ao quesito revisão:

    livre arbítrio > livre-arbítrio

    10 anos > dez anos

    as 3 leis da robótica > as três leis da robótica

    papeis velhos > papéis velhos

    como bem-quisesse > como bem quisesse

    os 3 mil livros > os três mil livros

    junto a parede > junto à parede

    A mãe ficou doente, de cama e Vânio cuidou > A mãe ficou doente, de cama, e Vânio cuidou

    O que ficou = Dó do Vânio, que mal experimentou a vida e já se despedia dela. Oh, mundo cruel! Mas pelo menos ele teve um final ecológico, servindo de fertilizante, parte da natureza que tanto quis conhecer.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  15. Mauro Dillmann
    1 de dezembro de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Narrado em terceira pessoa, o conto inicia com um binóculo poderoso, até então, “real”. Logo passa para um “androide”, ganhando ares futuristas. Depois, surgem túneis, caverna.

    O personagem principal, uma criança de 10 anos, não pode ultrapassar os limites da comunidade (cidadela) e deseja muito ‘conhecer o mundo’. Isso se arrasta, tornando o conto cansativo.

    Texto tem muitas palavras sobrando. Excesso de explicação, de dizeres desnecessários. Em uma passagem diz: “Vânio sentia-se triste, melancólico, nostálgico…”.

    Faltou uma vírgula depois de ‘mãe’: “e para agradá-lo, Helena, sua mãe deu ordens para Isaac levá-lo”.

    “bem-quisesse”: como não é, no texto, o pretérito subjuntivo do verbo bem-querer, deveria estar sem hífen, não?

    Aqui uma imagem bastante batida: “A esposa, percebendo que o marido não acordava, sacudiu-o pelo ombro e descobriu que estava morto.”

    A seguinte passagem destoa do texto, quebra o ritmo e me parece totalmente desnecessária: “Ficou na cama recostado por alguns minutos e percebendo o membro duro, decidiu aliviar-se.”. O menino não tinha apenas 10 anos?

    Na sequência, o pensamento infantil retorna: “Mas e se houvesse outro mundo, um mundo paralelo? Os livros contam histórias. Teorias e lendas que poderiam ser verdade”.

    Parabéns pelo conto !

  16. Thiago Amaral Oliveira
    27 de novembro de 2024
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Olá Cipriano, tudo bem?

    Gostei do conto. Ele traz uma premissa interessante, do garoto preso na própria casa por imposição da mãe, sendo obrigado a se divertir com filmes, livros e outras coisas do passado. Fiquei me perguntando se é conectada a experiências do próprio autor. A minha infância com certeza tem similaridades, apesar da solidão ter sido auto-imposta.

    Toda a atmosfera é bem construída e nos tornamos interessados no que está acontecendo. Deve ser porque você de fato imaginou detalhes o suficiente para tornar aquele mundo verossímil. Quando vi que havia robôs na história, senti uma quebra positiva, pois esperava algo mais gótico. Gosto da mistura de elementos.

    A exploração da casa, e principalmente do material erótico, são outro ponto positivo do conto. Principalmente o erotismo, que está conectado à maturidade do protagonista, e que é algo raro de se ver no EntreContos.

    Por fim, o final dá a entender que há um significado maior à história, uma poeticidade quando a natureza que o garoto queria conhecer estava dentro dele o tempo todo. Seria um comentário à nostalgia? Será que você intencionava ter alguma mensagem, ou foi apenas escrevendo? Fico pensando nisso. Se sua intenção era passar alguma reflexão, acredito que deveria ter feito algo para que ficasse mais claro. Podemos tirar várias reflexões do texto, mas fico em dúvida se seriam inserções do próprio leitor, ao invés do planejamento da autoria.

    Agora, talvez o problema maior seja com os temas. Entendo que o garoto estava fechado ali e o portão da casa seja mencionado vez ou outra, e que ele vive de absorver fragmentos do passado. No entanto, acho que mesmo assim fugiu dos temas um pouco. Apesar de um dos centros da trama ser o enclausuramento, a porta não é centro da narrativa. E, apesar do passado ser um tanto importante para a história, não identifico muito um sentimento de nostalgia. Só se for por parte do pai, mas ele nem aparece muito. No caso do menino, ele nunca viveu aquele passado e, ao invés de nostalgia, ele parece sofrer de curiosidade, mesmo.

    Assim, ainda tenho tempo para pensar, mas talvez tire alguns pontos do conto.

    De qualquer forma, é um ótimo texto, que foge do comumente publicado aqui no site. Obrigado pela contribuição e boa sorte no desafio.

  17. Givago Thimoti
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    A CIDADELA DOS ROBINSONS (Cipriano)

    Resumo + Comentários gerais:

    “A Cidadela dos Robinsons” é um conto de ficção científica que narra a história de Vânio, filho de cientistas (suponho eu???), e sua busca constante por saber o que restou do mundo fora da redoma que a família construiu no pós apocalipse nuclear. Essa busca leva o protagonista a se afastar da mãe, que bloqueia o acesso do filho ao mundo exterior.

    Com todo o respeito, pessoalmente, eu achei esse conto superficial e um tanto artificial. Superficial porque essa história parece muito maior, especialmente quando consideramos as nuances não abordadas ou mal abordadas do conto. Artificial porque alguns trechos não dialogam entre si, como por exemplo, o garoto que bate umazinha e, logo depois, a mãe fica doente e morre. Não é aquele choque de plot twist, tá mais aquele choque “sério que tá escrito isso?” É muito abrupto, pouco desenvolvido e deixa o leitor com aquela sensação péssima de que o leitor perdeu algum trecho.

    Frase/Trecho de impacto:

    “Parou em frente a uma loja para olhar os manequins com suas roupas em frangalhos, cobertos de pó. Carros abandonados, enferrujados formavam uma fila desordenada ao longo da avenida, testemunhas mudas de um êxodo apressado. O asfalto estava esburacado, com ervas daninhas raquíticas crescendo entre as rachaduras, avançando lentamente, retomando o terreno. Pedaços de vidro quebrado refletiam a luz pálida do sol, criando um brilho fantasmagórico que contrastava com a escuridão das sombras projetadas pelos edifícios em pedaços.”

    Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 1,5

    Eu, pessoalmente, não consegui perceber completamente os temas deste desafio. Bom, pela minha leitura, o que eu percebi foi que o conto busca retratar, principalmente, a “nostalgia” de Vânio. Nostalgia entre aspas porque eu não diria que o protagonista sente, de fato, seja nostalgia. Afinal, pelo que percebi, ele nunca viveu de fato no Rio de Janeiro pré desastre nuclear. Mal comparando, é igual quando eu era jovem, ávido para estar com um amorzinho, mas nunca ter experimentado aquilo. É uma idealização de algo que nunca vivi e que desejo imensamente conhecer. E eu não sei se isso é nostalgia; afinal, pressupõe-se que se uma pessoa está nostálgica, ela idealiza algo do passado que ela já viveu.

    Quanto à porta (e afins), eu diria que foi esse o fator que deu alguns pontos para esse conto nesse aspecto. Em alguma parte do conto, a porta aparece. Na verdade, ela aparece várias vezes, quase como num checklist que o conto precisava riscar para preencher o requisito do tema. Ela tem alguma relevância para a história, sem, contudo, ser estar no foco da história. Acho que 1,5 nesse aspecto é o justo.

    Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 0,75

    Eu diria que, de positivo nesse aspecto, é que o autor conseguiu construir um cenário de pós apocalipse nuclear. Tanto que ressaltei ali na frase/trecho de impacto. Parabéns!

    Para além disso, acho que esse conto tem muitos elementos para apenas 3000 palavras. A apresentação do universo da narrativa através de diálogos do garoto com o robô foi uma escolha errada, pelo menos a meu ver. Tomou muito espaço de narrativa. E no final, criou uma lacuna não preenchida depois pelo autor.

    Seguindo, eu diria que o conto, assim como o Vânio, se perde a partir da morte de Helena. Na verdade, já um pouquinho antes, quando o garoto bate uma para a mulher da tela. Totalmente aleatória parte, meu Deus. Mas enfim, a morte de Helena é muito mal trabalhada. Assim, num primeiro momento, é de supetão; do banho demorado pós masturbação, somos jogados para a doença de Helena. Não temos, sequer, uma interação mãe e filho. É uma coisa completamente artificial e que afasta o leitor da história. Nesse mundo tinham apenas ela e o filho. E não tivemos uma interação significativa sobre isso. Nem mesmo um flashback sobre os tempos antes da bomba nuclear.

    Um furo que percebi na narrativa: os robôs haviam sido programados por Helena ou pelo pai para cuidarem do garoto, não o deixando sair daquela cidadela. Principalmente o Isaac. E aí, Helena morre, eles vão fazer um cortejo e aí esquecem dessa principal missão??? Sério?? Tipo, nenhum robô percebeu que o filho não estava ali para enterrar a própria mãe. Aí ele vai, some no mundo e nenhum foi atrás? Tá bom…

    Acho que essa história precisava ser resumida. Escolher um fio da meada e seguir de uma forma mais fiel.

    Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos:  1

    Embora a escrita beira o irretocável, gramaticalmente falando (acho que encontrei apenas algumas vírgulas que deveriam ser pontos finais que vou me dispensar o trabalho de pontuar), eu não gostei do estilo de escrita.

    No geral, a escrita tem um quê de rebuscado em determinados momentos, especialmente no que tange os diálogos do protagonista com os robôs (por se tratar de máquinas, faz sentido. Ainda assim, esses diálogos foram tenebrosos, enfadonhos que só). Contudo, essa escrita mais rebuscada se estende por todo o conto, tornando-o frio e desconectado do aspecto emocional que algumas partes do conto deveriam ter.

    Acho que ficaria melhor uma escrita mais equilibrada; mais descritiva e formal quando o momento era de sintetizar e descrever o ambiente, menos formal quando o momento era de abordar os sentimentos dos personagens.

    Para demonstrar como essa escrita prejudicou o conto, vou citar como exemplo o seguinte trecho:

    ·      “Ela colou a boca na dele numa simbiose erótica. Provou a saliva afrodisíaca como uma poção mágica, fórmula química do gozo. Ela sugou sua razão, deixando um deserto de ideias nos seus neurônios vazios. Levou-o à beira de um colapso mental, na absorção das suas entranhas ele sentiu o corpo dela como uma mortalha, sufocando-o, aprisionando sua alma. Exausto, inerte, entregou-se totalmente sendo engolido pela dona daquela boca, portal de entrada do submundo da volúpia.” = Bom, aqui temos um sonho erótico, mas do jeito que tá escrito, não tá nenhum pouco erótico. Sexo é um momento quase instintivo, extremamente carnal (ou pelo menos deveria ser), que gera vida (Pelo menos idealmente). Quanto menos científico, penso eu, melhor. Então, perceba como esses trechos que destaquei não combinam com o tesão que o protagonista tá sentindo. Saliva afrodisíaca, fórmula química do gozo (???). Depois, ele sente o corpo dela como uma mortalha, que segundo a definição da Oxford: pano ou vestimenta com que se envolve o cadáver de pessoa que será sepultada. Uma das primeiras experiências sexuais dele, e você compara à morte (sufocando-o, aprisionando sua alma)? Quando na verdade, é justamente o contrário, o gozar mais nos aproxima da vida…. Logo depois disso tudo, ele vai lá e se masturba??? Me desculpa, isso aqui, embora seja rebuscada, não está bom. Focou-se muito mais em adornar gramaticalmente do que realmente ser fiel à sensação de um sonho erótico.

    Pelo menos para mim, esse erro se repetiu por diversas vezes durante o conto.

    Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 0,75

    Eu imagino a dificuldade que o autor/ a autora passou para comprimir essa história dentro do desafio. É uma história muito longa, com muitas nuances. (Criticando isso com o teto de vidro pronto para explodir em n pedaços pontiagudos sobre a minha cabeça porque fiz a mesma coisa no meu conto).

    Por isso, senti que a estrutura do conto está para lá de problemática. Embora a história vá do ponto a até o ponto b linearmente, o conto não flui. Diálogos grandes entre o menino e o robô tomaram uma boa parte do conto, feitos para apresentar o leitor ao universo do conto. Depois, muitos parágrafos grandes, detalhamos que ornam o conto, mas não narram muita coisa.

    Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 0

    Naturalmente, eu tenho dificuldade com histórias de ficção científica. Nesse específico, o impacto emocional foi nulo, somando todos os fatores apresentados acima. A impressão que ficou desse conto é que mais parece um resumo corrido de uma história maior. Isso foi forte demais. Como eu citei anteriormente, a leitura não flui, algumas construções não dialogam entre si, enquanto outras são um tanto artificiais. Não gostei.

    NOTA FINAL: 4

  18. Gustavo Araujo
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Dentre todos os contos que li até agora no desafio (20), este teve a premissa que mais instigante Não que seja inédita — lembra bastante a ideia do seriado “Silo” — mas de toda forma, levanta questões muito interessantes.

    Nosso protagonista vive em uma cidadela murada, protegida do mundo exterior por altos muros. Não pode sair, não pode sequer perguntar o que há lá fora. Seus próprios pais o impedem se saber mais. É só com a juventude e a idade adulta — quando os pais já não existem mais — que ele consegue sair e finalmente descobre o que há de tão assustador assim. Termina (re)integrado à natureza. Um final poético até.

    Se pararmos para pensar, essa cidadela é um reflexo de nossa sociedade, da maneira como educamos nossos filhos, com proteção tão exacerbada que lhes impede de ganhar autonomia. Para tanto inventamos perigos, lendas, vontades divinas e explicações sobrenaturais, tudo para os desencorajar. Felizmente há os rebeldes, aqueles que não se contentam com justificativas de papelão, não é?

    Acho que o conto vai muito para esse lado, de rebeldia, de reconexão com o que verdadeiramente importa. E o faz utilizando uma espécie de fábula com pitadas de sci-fi. A escrita um tanto plana colabora para que esses aspectos de forte índole filosófica se decantem na mente do leitor. Sim, nada há de rebuscado ou encantador na urdidura das palavras, mas o recado, o fazer pensar, está aí. Algo que poucos contos conseguem.

    Parabéns ao autor e boa sorte no desafio.

  19. Kelly Hatanaka
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá Cipriano.

    Uma família sobrevive a um cataclismo nuclear. Os pais decidem superproteger seu filho que, sem conhecer nada do mundo exterior, sai destrambelhado depois da morte da mãe e termina por morrer também.

    A ambientação está muito bem feita, o clima futurista, com os robôs, é muito interessante e prende a atenção. O tema está ali, parcialmente, na minha opinião, no portão que o separa do mundo. O portão só está ali, mencionado, descrito. Tem também aquele vídeo estranho, sobre o beijo ser a porta de entrada, cujo propósito eu realmente não entendi. Ok.  

    Achei estranha a reação fria dele à morte de seus pais. Além de serem seus pais, são as únicas pessoas que ele conheceu. Sim, ele queria ser livre e seus pais o tolhiam. Mas não é sempre assim?

    Minha pitada de achismo: a relação entre Vânio e seus pais poderia ter sido mais bem desenvolvida. Os robôs também eram um bom elemento que ficou para trás. Com a morte da mãe, Vânio não estaria no controle da casa?

    Gostei ou não gostei: Mais ou menos. É uma história boa, mas com alguns elementos que ficaram soltos.

  20. Thales Soares
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: Decepcionante.

    O início da leitura deste conto foi incrível! Acho que um dos melhores inícios do desafio. A história é muito bem narrada, e o autor escreve com esmero. Esse contraste de ficção científica com um ambiente que remete mais a um castelo medieval, num mundo pós-apoliptico, torna esse universo rico e interessante. Até a metade da história, tudo corre de forma bem empolgante, mas……… então, pouco a pouco, o autor vai se perdendo. Senti como se quem escreveu essa história não sabia como ela ia acabar, e então foi improvisando, e escrevendo qualquer coisa que deu na telha. E realmente, tem muitas informações jogadas, e muitos mistérios mal trabalhados….

    Mas vamos falar de uma coisa de cada vez. Essa história narra a vida de Vânio (que nome estranho!), um jovem que vive isolado numa fortaleza junto com seus pais e com uns empregados robôs. A interação de Vânio com o seu robô babá é muito pobre… e isso poderia ser um caminho bastante divertido para a história, pois ao meu ver, ela sofre às vezes devido ao isolamento extremo de Vânio. Ele não tem contato nenhum com o mundo, e também não tem interações sociais. Seus pais são mencionados em alguns pontos na história, mas eles não interagem nem com o protagonista e nem com o leitor. Só sabemos que os pais são rígidos, e mantém Vânio como se ele estivesse em um cativeiro. Mas é para o próprio bem de Vânio, certo? Bom… acredita-se que sim… mas eles nada dizem sobre isso. Mas eles não falam sobre esse assunto porque Vânio é muito novo para entender, né? Errado… depois que Vânio cresce, e até vira adulto, o motivo de ele viver isolado continua sem segredo. Ele acaba meio que por descobrir sozinho algumas coisas… mas vamos com calma… quero comentar de parte por parte desta história.

    Logo no início do conto, Vânio está maravilhado observando as coisas com seu binóculo. Essa ferramenta parece não ter muita função no enredo, além de mostrar ao leitor que Vânio está numa cidadela cercada por muralhas. Mais tarde na história, o protagonista se lembra do binóculo, mas ele não tem nenhum tipo de função importante para o andamento da trama. Nesse isolamento absoluto, Vânio cresce lendo livros e assistindo filmes sobre o passado. Aliás, o pai de Vânio é um explorador, e ele tem uma oficina também, onde guarda seus equipamentos, mas isso também é outra coisa meio mal explorada.

    Vânio vai crescendo, até que chega naquela fase rebelde, aos seus 17 anos, e ele tá doido pra sair daquele lugar e explorar o mundo. Todo mundo morreu, mas seus pais não se comunicam direito com ele, e ele quer ver com seus próprios olhos. A unica coisa que sua mãe diz, é que tem uns monstros lá fora. Que monstros? Nem ela sabe, e logo o protagonista deduz que isso é história pra boi dormir.

    Nesse momento, o pai morre. Vânio está cagando e andando pra isso… na verdade, ele até fica feliz, pois vê ali uma oportunidade de fugir. Aí ele pega um punhado de chaves, vai na oficina do pai, e lá encontra um video estranho. No início, pensei que Vânio havia encontrado a salinha da putaria de seu pai. Mas depois fiquei na dúvida. Vânio até deu uma descabelada no palhaço com as imagens do video. Enfim… que relevância tudo isso tem pra história? Aparentemente nenhuma. Aliás… aqui temos também a revelação de que o mundo foi destruido com umas bombas, naquele esquema Fallout. E essa informação, que já estava mais do que evidente, é apresentada para o leitor como se fosse uma baaaaaita revelação… mas não era nada demais!

    Outro fato jogado na história é um tal de Livro do Fim do Mundo. Ao ver esse nome, o leitor pensa “Caralho, que da hora!!”. O robô que revela sobre a existência disso, e então Vânio vai correndo atrás desse livro. Ele procura na biblioteca. Nada. Quarto da mãe. Nada. Oficina do pai. Nada. E então ele deixa quieto… e esse livro nunca mais é mencionado na história. Que relevância isso teve para a trama? Então… aparentemente nenhuma.

    Aí, de repente, a mãe morre. Vânio, que jurou protegê-la, tá cagando e andando pra isso. Ele até fica aliviado, como se pensasse “Finalmente aquela vadia que só me prendia morreu! Vou vazar dessa porra!”. E a propósito… eu pensei que nesta parte a história ia me surpreender com uma baita revelação. Afinal, como os pais de Vânio não o instruíram durante a vida, pensei que na morte eles deixariam algum tipo de mensagem secreta no robô, no estilo Princesa Leia e R2D2, passando coordenadas para Vânio, ou simplesmente lhe dando respostas, para ensiná-lo a sobreviver nesse novo mundo. Mas não…. me enganei. Nada acontece. Isso me faz pensar que os pais de Vânio foram um LIXO de pessoas… porque eles nunca ensinaram nada a ele, e caso eles morressem, eles estava pouco se fodendo se o filho deles ia sobreviver ou não. Não houve uma herança de conhecimento, não houve um legado, não houve nada. Me pareceu uma família de animais, que estão apenas lutando pela sobrevivência, sem pensar num futuro.

    Nessa parte, Vânio decide pegar as chaves e sair da cidadela. Aí ele descobre que o mundo acabou mesmo, não era meme. E então ele morre. Porra…………………. que final mais broxante, cara!!!!! A história foi pouco a pouco esfriando, até que ela consegue perder completamente a atenção do leitor. Vemos que há muitas promessas, mas nenhuma é cumprida. O autor não trabalha bem com o elemento surpresa, e também não investe no suspense que uma história como essa poderia proporcionar, afinal, tudo é um mistério para o leitor nesse universo tão interessante e único. Mas o leitor é privado de respostas, e o narrador não mostra direito toda a riqueza que ele próprio criou e imaginou para sua história. Uma pena, viu…… eu realmente queria gostar deste conto, pois a ideia dele é MUITO legal!

    Uma coisa que me pareceu prejudicar bastante o andamento da história é a total falta de propósito de Vânio. Ele não tem objetivo algum, a não ser ficar andando pra lá e pra cá pela cidadela, com vontade de ver o mundo. E isso vai perdendo o gás muito rápido, pois a história não apresenta novos elementos para continuar instigando o leitor. Quando os pais morrem, a gente até pensa “Poxa… finalmente algo vai acontecer agora!”, mas não… nada acontece. Aí o Vânio, que está tão entediado quanto o leitor, pensa “Vou dar o fora dessa porra de lugar!”

    Enfim……….. boa sorte no desafio.

  21. Marco Saraiva
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    Um conto melancólico sobre Vânio, que infelizmente nasceu após um apocalipse de escala mundial. A terra agora está se recuperando, e ele e a sua família vivem sozinhos com um exército de serventes-robôs para ajudá-los. Uma coisa que me saltou aos olhos neste conto foi que ele é como uma fotografia do fim da humanidade. Há algum tempo dizemos que existe a possibilidade de sermos substituídos pela IA – não apenas em atividades corriqueiras, mas como espécie. Neste conto, Vânio perde o pai e a mãe, então caminha pela terra e morre sob uma árvore, tornando-se um com a natureza, como ele queria. Mas e os robôs que ficaram para trás, na sua casa? E os outros robôs que provavelmente existiam em outros prédios como aquele? Agora, sem ninguém para servir, serviriam a eles próprios? Proliferariam?
    É como se o conto fosse este retrato dos últimos momentos do último ser humano.

    Apesar do conceito interessante, a leitura é um pouco entediante. Nada acontece de verdade. O grande momento que o conto tanto construiu – o momento em que ele descobriria o que realmente havia do lado de fora – não foi nada. Houve até um momento no conto onde há a descrição da “terra seca lá fora, mesmo quando havia acabado de chover”, o que, para mim, era uma dica de que as coisas não eram bem como pareciam ser. Mas não, tudo era aquilo mesmo, terra morta, pais mortos, e Vânio morto no final.

    O texto apresenta uma série de problemas com o uso de vírgulas, que as vezes atrapalhavam a leitura. Exemplos:

    “As salas vetadas a sua entrada, foram a sala do gerador de energia elétrica, o laboratório…”
    “Passou dias amuado e para agradá-lo, Helena, sua mãe deu ordens para Isaac levá-lo a visitar os outros cômodos…”

    Notei também alguns erros de digitação e concordância verbal, numerosos o suficiente para afetar um pouco a leitura.

    Enfim, uma ideia muito interessante, mas um texto monótono e pedindo uma revisão mais atenciosa.

  22. Felipe Lomar
    17 de novembro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    Olá,

    Bem, eu não fiquei muito empolgado com o conto. A ideia de fortaleza pós-apocalíptica é meio batida, talvez. Mas o conto tem seus pontos positivos. A escrita é bem refinada e os personagens bem construídos. A nostalgia eu acho que não acertou muito, é o protagonista vivendo lembranças de outras pessoas, um “saudades do que a gente não viveu”, e isso pra mim não é nostalgia. Lembra um pouco o filme Wall-e. Mas o portal estava presente. Não ou purista a ponto de achar que precisa ser uma porta literal. No mais, cuidado com a escrita de algumas palavras que estavam erradas.

    Boa sorte!

  23. JP Felix da Costa
    14 de novembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    Apesar de ser amante de FC, não me agradou muito este conto. Pareceu-me ter uma ideia que não foi muito bem explorada, o que deixou com alguma desilusão no final. Não é que estivesse com expetativas de algum resultado, mas, mesmo assim, não me convenceu.

    O desenvolvimento do texto e a abordagem da escrita parece-me mudar ao longo da leitura, culminando com uma descrição de elementos (por exemplo) que não me parece enquadrada no resto do texto.

    Relativamente aos temas, apenas vi duas situações onde os mesmos me pareceram ser forçados no texto para justificar o enquadramento. Apenas num sentido muito lato se poderá considerar que algum dos temas foi aqui usado.

  24. Fabiano Dexter
    11 de novembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Primeiramente queria parabenizar ao autor(a) do Conto, foi uma viagem muito interessante a um mundo pós apocalíptico pela percepção de um sobrevivente que não viu nada do mundo antes, tendo o conhecido apenas através de livros e filmes. Uma criança que nasceu e cresceu dentro de um ambiente protegido e controlado e que tudo o que desejava era poder sair.
    Leitura:
    Achei o conto bem escrito e a leitura fluiu bem, mas em alguns momentos (mais na primeira leitura do que na segunda) fiquei com a impressão de que ele poderia passar a mensagem de forma ainda mais clara se fosse um pouco mais curto.
    História:
    A história em si é bem simples, e o seu desenrolar é o mais importante, e ainda que o conto nos consiga colocar dentro do que seria esse ambiente, essa cidadela, eu senti falta de mais explicações, sobre o que teria sido aquela experiência à la Matrix com a mulher do beijo e como Vânio saiu da sala onde viu o fim do mundo e retornou para o seu quarto (ou teria sido tudo um sonho)? Reli o Conto e mesmo assim essa parte ficou um pouco confusa para mim.
    Os detalhes de como os robôs apareceram ou como a infraestrutura do prédio funcionam não foram e nem deveriam ser explicadas, na minha opinião. Elas compõem o que é a ambientação da história e isso basta.
    Construção/Impacto
    O conto segue uma estrutura constante de texto que, ainda que seja interessante de ler, não chega a empolgar nem mesmo no final. (Ainda que o final em si seja interessante)
    O conto gira em torno da tentativa de libertação de Vânio e acaba com uma mensagem de que talvez seu sacrifício (ainda que involuntário) não tenha sido em vão.
    Eu gosto da temática e gostei do conto, como um todo.

  25. vlaferrari
    11 de novembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Você tem um robô que se chama Isaac? Uma mãe que se chama Helena? Quem foi o desalmado que lhe deu o nome de “Vânio”? Algum autor/autora do EC, só pode!
    Brincadeiras à parte, o conto é muito interessante, mas a sensação que ficou no final, foi de que Annie Wilkes estava vigiando. A narrativa é bem estruturada e a citação às portas proliferam. Mas, pareceu como radiação. Aquela regra de que “é preciso citar” e tá ótimo. A porta vermelha secreta, com a chave no bolso do avental, parecia ser o grande arremate: “agora o negócio vai feder”. Mas foi uma ventarola em um dia muito quente. Acabou rapidamente. Há de se destacar um estilo de escrita claro, com fluxo narrativo bem dosado às necessidades de tricotar em dupla com a imaginação do leitor. No meu modesto entendimento, no entanto, faltou um “punch”. A porta vermelha, na minha opinião, poderia representar o objeto de desejo de “Vânio” (eu sei, Vladimir também é horroroso), mas senti o conto girando sobre a vontade de conhecer o mundo. Boa sorte.

  26. Luis Guilherme Banzi Florido
    9 de novembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos, tudo bem?

    Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:

    Tema escolhido: porta, portão, portal e todas as outras variantes.

    Abordagem do tema: 100%. Os diversos tipos de porta e portal aparecem ao longo do conto, representando aspectos essenciais para o personagem e o enredo como um todo.

    Comentários gerais: olha, esse conto me deixa com sensações mistas. Pra começar, a escrita é muito boa. Possui alguns erros gramaticais e de pontuação, mas não vou entrar em detalhes sobre isso pois sei que outras pessoas, como a Clau, vão explorar esses pontos muito melhor que eu. O que importa é que mesmo com esses erros, a leitura do texto é sensacional. Uma linguagem fluida, imagética, gostosa, fácil. Você usa muito bem as palavras, escreve muito bem. Parabéns.

    Meus poréns, no entanto, aparecem ao falar sobre o enredo. Se, por um lado, você conseguiu propor mistérios muito interessantes, construindo um mundo pós apocalíptico (ou não – os pais falavam a verdade ou mentiam?), onde existem robôs, também construiu um microverso (da fortaleza onde a familia morava) muito interessante, com uma espécie de museu da antiga humanidade, agora extinta, uma colina misteriosa e um pouco bizarra, com a árvore seca e as lápidas, etc… por outro lado, e pra mim é aqui que a coisa desanda um pouco, o terço final do conto não corresponde às expectativas criadas, infelizmente. Não sabemos muito mais sobre nada do que vinha sendo construído, o pai do menino morre, ele consegue entrar na oficina, acontecem coisas curiosas e muito legais com ele, mas nada disso é tampouco explorado na sequência. Então, a mãe dele também morre, ele decide ir ao RJ encontrar um portal, e acaba morrendo no caminho, e seu corpo volta à natureza e retorna ao ciclo natural de nascimento e morte.

    Quer dizer, o conto é repleto de ótimas ideias, mas elas parecem bastante desperdiçadas e isso me deixou bastante frustrado, pois sinto que, caso atingisse todo seu potencial, esse conto seria um nota 10 com estrela. Do jeito que está, infelizmente, fica longe disso. Sinto que ou você naõ teve tempo pra trabalhar melhor e teve que mandar como dava, devido ao prazo e/ou a história não coube no limite e você precisava de mais umas 2 mil palavras pra terminar o trabalho. Um pena. De todo modo, seria incrível se você continuasse esse conto no futuro e chegasse ao 100% dele.

    Sensação final: me convidaram pra um funeral bizarro numa colina com uma árvore seca onde o judas perdeu as botas num mundo pós apocalíptico. Eu tava curtindo demais e curiosíssimo sobre o que ia rolar. Infelizmente, o enterro aconteceu depressa e eu saí de lá sentindo que cochilei e perdi a melhor parte. Ainda assim, gostei da viagem. Parabéns e boa sorte no desafio.

  27. andersondopradosilva
    9 de novembro de 2024
    Avatar de andersondopradosilva

    Resumo:

    Garoto auspicia conquistar a liberdade e conhecer o mundo.

    Comentários:

    “Passou dias amuado e para agradá-lo, Helena, sua mãe deu ordens para Isaac levá-lo a visitar os outros cômodos do prédio que ele ainda não conhecia.” – Falta de vírgulas entre as palavras destacadas.

    “O primeiro cômodo que iremos será aquela porta que abre para o depósito de ferramentas.” – Faltou um “a” antes do “que”.

    “Às vezes o menino não entendia as palavras do robô” – Falta de vírgulas entre as palavras destacadas.

    “descobriu que estava trancada a sete chaves.” – Expressão lugar-comum, a ser evitada.

    “Um cadeado metido em argolas, trancava ambas as folhas.” – Não se separa sujeito de predicado com vírgula.

    “O menino respirou aliviado e seguiu caminho.” – Seja econômico nas palavras, evite redundâncias. “Caminho” poderia ser eliminado sem prejuízo do sentido.

    “Outra coisa misteriosa estava encoberta junto a parede.” – Faltou crase.

    “colocou a mão e ao tocar, abriu-se uma porta para um corredor de cor esverdeada.” – Faltou vírgula entre as palavras destacadas.

    “A mãe ficou doente, de cama e Vânio cuidou dela dando os remédios que ela mesma prescrevia.” Faltou vírgula entre as palavras destacadas.

    “A ideia de ficar sem a mãe, não o assustava” – Não se separa sujeito de predicado com vírgula.

    “Achava que se continuasse em frente, poderia chegar ao Rio de Janeiro e subir na Pedra da Gávea.” – Inserção anticlimática de elemento realista em texto de fantasia.

    “ele olhou para o alto e viu entre as nuvens, o que parecia ser uma porta aberta.” – Ou elimina a vírgula ou insere uma segunda depois de “viu”.

    O conto poderia estar melhor revisado.

    O tema é abordado de maneira insuficiente. A mera inserção de uma ou mais portas/portões/portais não é suficiente. É necessário que a porta/portão/portal ocupe algum protagonismo.

    É um texto de fantasia, literatura de entretenimento. Há quem, mesmo adulto, aprecie, mas considero uma leitura de formação, a ser consumida por adolescentes e jovens em processo de consolidação do hábito de leitura. É uma leitura fácil, superficial, focada na ação e, não, na linguagem ou no conteúdo. Há que se evoluir, seguir em frente, aprofundar-se entre os cânones da literatura, aprender com eles.

    O texto não se aprofunda, não mergulha, não convida a pensar, a refletir, não tem camadas. Não critica e não constrói, nem destrói.

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Publicado às 9 de novembro de 2024 por em Nostalgia e marcado .