
Prólogo
Quando Raquel nasceu, a Segregação já era uma realidade há duas décadas. No passado, a humanidade tinha separado as pessoas pela raça ou pelo credo, mas agora a separação era feita com o suposto objetivo de poupar recursos. Os Alfas tinham todos os benefícios e regalias. Viviam nas partes mais ricas das cidades, tinham acesso aos melhores trabalhos e a uma saúde de primeira categoria. Os Betas viviam nas zonas mais pobres, assoladas pela criminalidade. À nascença recebiam a marca, uma tatuagem no meio da testa com a respetiva letra grega. Um Alfa poderia passar à categoria de Beta como punição por um crime especialmente severo. Os filhos herdavam a categoria dos pais.
Nenhum Beta passara à categoria de Alfa. Esta é a história da primeira pessoa que o conseguiu fazer.
1
– Força! – Berrou a parteira, mas por mais força que fizesse, Raquel não conseguia expulsar o seu primeiro filho. Diziam que era por isso mesmo, por ser o primeiro, mas a contar pelas dores que sentia, seria o primeiro e o último. O hospital ficava nos subúrbios, estava atolado de gente. A pequena sala onde decorria o parto era imunda e fedia a sangue, urina e excrementos.
Foram necessárias 3 horas de um longo e extenuante trabalho para que, finalmente, Júlio viesse ao mundo. Quando o teve nos braços, Raquel rapidamente esqueceu o cansaço e as dores.
– Parabéns. É um menino perfeito. – Disse a parteira, lavando as mãos. A Raquel foi levada para uma sala a arder de calor, onde outras quatro mães recuperavam dos partos. Todas elas tinham o β tatuado nas testas. Dentro de uma semana, seriam obrigadas a marcar os filhos com a mesma letra. Comentavam isso de uma forma ligeira, em tom de brincadeira, habituadas como estavam à sua sorte. Já Raquel tinha um segredo: o pai do seu filho era um Alfa. Se ao menos conseguisse que marcassem o filho como Alfa, mesmo que ela nunca mais o visse na vida. Havia sacrifícios que valiam a pena. Mas era um grande “Se”. Raquel sabia que tinha apenas uma semana para o fazer. A pena para um Beta não marcado era a morte.
A mãe, Ivone, veio vê-la poucas horas depois do nascimento do neto. Ostentava no meio da testa a sua letra Beta com um orgulho desmedido. Enviuvara há poucos anos. O pai da Raquel, Jaime, nascera Alfa. Tinha sido um dos primeiros. Depois cometera um crime. Na altura já tinha casado com Ivone, o que não era bem visto pela sociedade. A família virou-lhe as costas, ele foi despedido e Jaime foi viver com Ivone para os subúrbios, numa zona controlada pelo crime organizado. Assim que o chefe da família Zarreta se apercebeu de que tinham um Alfa a viver no bairro, tratou de o aliciar. Sem trabalho, a começar uma família, Jaime não viu outra alternativa. Foi o seu maior erro.
2
– Temos de falar.
Não tinha sido simples falar com Aurélio. Raquel cobrira como pudera a sua marca, de forma a parecer um descuido. Levava o filho nos braços. Felizmente que era um bebé calmo, que dormia facilmente. Por fim, Aurélio consentira encontrar-se com ela num parque da zona mais rica. As roupas de Raquel contrastavam com a ostentação de quem passava por ela, mas Raquel não sentia o mínimo de vergonha. Estava a lutar pelos direitos do seu filho, e lutaria até à morte se isso fosse necessário.
– É ele? – perguntou.
Raquel riu.
– Quem é que querias que fosse? Olha bem para ele, Aurélio. Tem os teus olhos, o teu nariz.
Aurélio tirou gentilmente o bebé dos braços de Raquel. Por momentos ela teve medo. O seu coração de mãe entrou num sobressalto.
– Sempre quiseste ter um filho, Aurélio. É teu, todo teu, se o quiseres.
Aurélio passou-lhe o filho novamente para os braços.
– Abdicarias dele, se o tornasse um Alfa?
Raquel confirmou, com todas as forças. Por dentro, tremia. Esperava que ele aceitasse mas, ao mesmo tempo, queria que rejeitasse. Eram tempos terríveis para quem amava um filho.
– Não vai acontecer. – Sentenciou Aurélio.
Raquel explodiu. O filho começou a chorar.
– Vais condenar o Júlio a uma existência miserável? Pulha!
– Não tomo essa decisão de ânimo leve, Raquel. Estou de casamento marcado. Peço-te para que nunca mais me procures. Toma.
Aurélio estendeu-lhe um maço de notas, que ela espalhou pelo ar com uma pancada forte. Depois, afastou-se rapidamente, esgueirando-se pelas ruas opulentas da zona nobre da cidade. Apanhou um autocarro com a letra Beta, o único onde poderia entrar. Sentou-se ao lado de uma senhora idosa, apertou o filho contra o peito e começou a chorar.
3
Ao sétimo dia, Raquel foi ao registo com o filho. O funcionário que a atendeu, um Alfa excessivamente novo e pretensioso, perguntou-lhe o nome do pai da criança. Ela afirmou não saber. O funcionário riu-se. Raquel chamou-o de porco em pensamento, porque sabia que se o fizesse em voz alta passaria a noite na cadeia.
Depois de registado, o filho seria marcado. Foi colocado numa cadeira especial, que lhe imobilizava o corpo enquanto o tatuador lhe fazia o Beta na testa. A criança berrava, e Raquel sentia as dores do filho como facas que lhe espetavam no corpo. Sabia que os Alfas tinham procedimentos que evitavam a dor nas crianças, mas o seu filho era um Beta, pelo que se tinha de habituar, desde cedo, à dor.
Raquel combinou com a mãe criarem juntas o filho. Ficou com alguns dos trabalhos dela, de limpeza na zona nobre da cidade. Sempre que limpava a merda de uma retrete onde um Alfa tinha cagado, lembrava-se do pai do filho e a sua raiva aumentava.
4
– Quero fazer xixi, mamã. – Disse o Júlio. Tinha cinco anos. Era, tal como a parteira tinha afirmado, uma criança perfeita. Bonito, forte, inteligente e esperto. Seria o que quisesse na vida, não tivesse a vida escolhido por ele um destino menor. Um Beta não podia seguir para além do ensino médio. Não podia ir para a Universidade. Não podia sonhar. O destino do Beta era servir os patrões a vida toda, sem direitos praticamente nenhuns. O menino interrogava-se sobre tudo o que via. “Porque havia diferenças entre as pessoas, mamã?”, perguntou, e ela respondeu que era assim desde sempre.
Olhou em volta. Estava num jardim de uma zona de Alfas. Havia apenas um WC. Ainda chegou a entrar, mas um segurança pô-los fora.
– O meu filho precisa de usar a casa de banho. – Disse Raquel, se bem que já soubesse que era como falar com uma parede. Uma parede talvez fosse mais compreensiva.
Tentou arranjar um sítio discreto para o filho se aliviar mas já não foi a tempo e o Júlio ostentava uma grande mancha de urina na frente das calças. Tirou o seu casaco e, ignorando o frio do forte vento que se fazia sentir, ordenou que o segurasse à frente das calças. Depois, regressaram a casa a pé, pelo caminho mais longo e sob reclamações constantes do filho. Chegou enregelada a casa e durante uma semana foi trabalhar com gripe.
5
Raquel jazia deitada na cama, a respiração pesada e irregular. A doença que a consumia há anos finalmente a deixava fraca demais para se levantar. Júlio, agora um jovem, estava ao seu lado, segurando sua mão. Ele tinha crescido forte e determinado, mas a marca Beta em sua testa sempre o lembrava das limitações impostas pela sociedade.
– Mãe, você precisa descansar – disse, com a voz embargada.
Raquel sorriu, um sorriso fraco, mas com amor.
– Tão lindo, meu filho. Bonito igual o pai…
– Pai?! Mãe, como assim? Você nunca falou do meu pai
– Júlio, meu filho – ela estava de olhos fechados, sentindo dor ao falar –, acho que preciso te contar uma coisa.
– O que é, mãe?
Ela respirou fundo, reunindo forças.
– Seu pai… seu pai… ele é um Alfa. Eu nunca te contei porque queria te proteger, mas você precisa saber a verdade.
Os olhos de Júlio se arregalaram.
– Um Alfa? Mas… como assim! Por quê? Caramba, mãe, quem é ele!?
Raquel fechou os olhos por um momento, a lembrar-se dos distantes momentos doces que tivera com ele.
– O nome dele é Aurélio. Ele não aceitou assumir você, não quis desafiar o sistema. Eu tentei, Júlio, essa marca maldita na minha testa sabe que eu tentei, mas ele escolheu o caminho mais fácil.
A raiva e a determinação brilharam nos olhos de Júlio.
– Eu vou procurá-lo, mãe. Vou fazer ele reconhecer a gente. Vou mudar essa situação!
Ela apertou a mão dele com a pouca força que lhe restava.
– Não, meu filho. Você precisa aceitar que o mundo é assim. Não é justo, mas é a realidade. Lutar contra isso pode te destruir.
Júlio balançou a cabeça, lágrimas escorrendo pelo rosto.
– Eu não posso aceitar isso, mãe.
Ela sorriu novamente, com tristeza.
– Eu sei que você é forte, Júlio. Mas às vezes, a maior força está em aceitar as coisas que não podemos mudar e encontrar uma maneira de viver apesar delas. Prometa que vai cuidar de si mesmo e não vai se deixar consumir pelo ódio.
Júlio assentiu, embora seu coração estivesse em conflito.
– Eu prometo, mãe. Vou cuidar de mim e vou lembrar de tudo que você me ensinou.
Raquel fechou os olhos, satisfeita.
– Eu te amo, meu filho. Sempre lembra disso.
– Eu também te amo, mãe – respondeu Júlio.
6
Raquel estava cada vez pior e Júlio sabia que seu tempo escorria rapidamente.
Desesperado, ele decidiu procurar o pai. Apenas um hospital Alfa seria capaz de curar sua mãe.
Com o endereço em mãos, ele se dirigiu à casa de Aurélio, uma linda residência no subúrbio, com quintal, balanço, escorrega e casinha na árvore – tudo o que Júlio sempre sonhou.
Ele esperou pacientemente até ver Aurélio sair de casa e entrar no carro. Júlio aproveitou o momento e entrou rapidamente no banco do carona.
– Quem é você? – olhou ao redor, assustado. – Vou chamar a polícia!
– Cama, não vou te fazer mal. Sou o Júlio, seu filho – disse ele, com firmeza. – Sou filho da Raquel.
Aurélio ficou em silêncio, a surpresa indisfarçável em seu rosto.
– O que você quer? – perguntou depois de assimilar melhor a situação.
– Minha mãe está doente. Apenas um hospital Alfa pode salvá-la. Preciso da sua ajuda – respondeu Júlio, a voz carregada de urgência.
Aurélio suspirou, desviando o olhar.
– Não posso fazer nada. Tenho uma família agora, uma vida. Não vou arriscar tudo isso.
A semente de raiva que brotava dentro de Júlio expandiu suas raízes, tornando-se cada vez maior.
– Vou entrar na justiça, pedir um exame de DNA. Vou fazer o que for preciso para que você assuma a responsabilidade.
Aurélio balançou a cabeça, triste.
– Ninguém vai levar você a sério, rapaz. A justiça nunca me obrigaria a fazer o exame. O sistema está contra você, Júlio – mexeu no bolso e sacou umas notas. – Tome, leve isso.
Júlio tremia, a raiva transbordando pelos olhos vermelhos e molhados. Ouviu um movimento na rua, alguém surgia na esquina. Desesperado, agarrou o maço de notas que Aurélio lhe ofereceu, embora soubesse que era muito pouco para custear o tratamento.
Saiu do carro, desesperançoso, sentindo o peso da injustiça sobre seus ombros.
7
O velório de Raquel foi simples e triste, com apenas alguns amigos Betas presentes. Júlio estava ao lado do caixão, sentindo-se vazio e desamparado. A mãe foi sepultada na ala mais pobre e simples do cemitério, sem nem uma lápide decente para marcar seu descanso final. Júlio observava enquanto a terra cobria o caixão, a sentir uma mistura de tristeza, impotência e raiva.
Após a cerimônia, enquanto os poucos presentes se dispersavam, um homem se aproximou de Júlio. Ele um Beta era alto, com uma expressão séria e determinada. Vestia roupas simples, mas havia algo em seu olhar que transmitia autoridade e propósito. Sem dizer uma palavra, entregou a Júlio um cartão, com uma letra grega desenhada: um ômega, e um endereço.
Júlio olhou para ele, confuso.
– O que é isso?
O homem manteve o olhar fixo em Júlio, sua voz baixa e firme.
– Vá até lá. Eles podem te ajudar.
Antes que Júlio pudesse fazer mais perguntas, o homem se afastou, desaparecendo entre as sombras do cemitério. Júlio olhou para o cartão em suas mãos, sentindo uma nova pequena chama de esperança acender. Talvez, finalmente, ele tivesse encontrado uma maneira de lutar contra a injustiça que o cercava.
8
Era o lugar certo?
Estava no meio de uma das maiores favelas da cidade, diante um boteco imundo, caindo aos pedaços. Júlio balançou a cabeça, tentando afastar a insegurança.
— Boa tarde… — aproximou-se do balcão. — Ganhei esse convite, mas, sinceramente, não sei se estou no lugar certo.
Mostrou o cartão para o senhorzinho que servia um salgado para um dos clientes. A resposta veio em forma de um murmúrio. Em seguida, o homem, em passos lentos, contornou o balcão, foi até os fundos e gritou algo indecifrável. Não demorou e um garoto apareceu.
— Me dá — pediu ele, estendendo a mão, de forma rude.
— O quê? Isso?
Júlio teve o cartão arrancado da mão. Aquilo o irritou, mas manteve a calma. O rapazinho avaliou, guardou no bolso e disse:
— Venha.
E os dois mergulharam nas profundezas da favela.
9
Por um momento, Júlio pensou que tinha caído em alguma emboscada. Tráfico de órgãos? Indústria da morte? Era uma possibilidade. Mas, assim que entrou naquela casinha e viu aquelas pessoas, todas iguais a ele, Betas com olhares cansados, mas revoltados, entendeu onde estava.
Era seu lugar.
O menino sequer entrou, sumindo pelos becos em questão de segundos.
— O chefe vai te encontrar — foi recebido por uma Beta tão jovem quanto ele, mas manca e uma cicatriz no rosto na altura do queixo.
Guiou-o até um quarto vazio nos fundos. E esperou. Por horas. A noite chegou, devagarinho, e, junto com ela, o som das festas. Ouvia as pessoas indo e vindo nas ruelas, risadas, gritos e choros.
— Desculpe a demora.
Era o Beta do cemitério.
— Fico feliz que tenha aceitado o convite — sorriu ele, sentando numa cadeira próxima, limpando o suor da testa.
— Você… — Júlio não conseguia esconder o incômodo.
— Eu sei, eu sei — mantinha a postura cordial. — Por que ter todo o trabalho de mandar o convidado para um lugar tão escondido quando, na verdade, poderiam se encontrar num cafézinho, não é? Mas sabe de uma coisa? É assim que medimos a determinação de uma pessoa. Eu escolho pelo sofrimento, mas ela precisa tomar a decisão por conta própria e caminhar com seus próprios pés.
Júlio ficou quieto, pensativo.
— Júlio, não é? Filho bastardo de um Alfa. Filho de mulher guerreira, Raquel, Você sabe o que está fazendo aqui?
— Para lutar.
— Como?
— Não sei. Mas sei que é para lutar. E é tudo o que quero.
— Você conhece a origem da Segregação?
Júlio confirmou com a cabeça.
— Quem não conhece?
— É incrível como uma brincadeira, um pequeno movimento, minúsculo, pode se tornar gigante e moldar o mundo, não acha? — o homem retirou outro cartão do bolso, idêntico àquele que havia entregue para o Júlio dois dias atrás, e apontou para a letra. — O ômega é a última letra do alfabeto grego. E o alfa é a primeira letra, seguida pelo beta.
— Qual o ponto? Esperei esse tempo todo para uma aula de História da Segregação?
O homem riu alto.
— Impaciência, raiva. Gosto disso. Vou direto ao ponto, Júlio. Se o alfa é o começo, o que você acha que será seu fim?
10
O sacolejo do carro era tranquilizador. Estava há quanto tempo naquela estrada de terra? Era apenas Júlio e o Beta do cemitério, que ainda não tinha revelado seu nome. Começava a amanhecer, finalmente.
— Nossa sociedade é uma revolução à moda antiga — começou a falar, assim que uma casinha apareceu ao longe, no meio da floresta. — Olho por olho, dente por dente.
Saltaram do carro e caminharam até a frente da casa, que era guardada por dois Betas enormes.
— Você sabe o que quero dizer, Júlio? — o olhar era profundo, incisivo, e não tinha mais cordialidade nas palavras. — Assim que atravessar essa porta, não vai ter mais retorno.
— Vamos acabar com isso logo.
Havia apenas um cômodo. Todo coberto de plástico. No centro, uma mesa, manchada de vermelho, com vários itens. Facas, martelos, armas, ganchos. No lado oposto da porta, uma mulher e duas crianças estavam presas, uma menina e um menino. Loira, bonita, com um grande A marcado na testa. Havia a visto uma vez, enquanto esperava Aurélio sair de casa, no dia que foi atrás de ajuda. A menina chorava baixinho, aninhado ao peito da mãe. O menino, mais parecido com o pai, mantinha-se na frente dela, como se pudesse a proteger.
— Sabe quem são?
— A família do meu pai.
— Não. Aquilo que você poderia ter sido. Se não fosse pela maldita Segregação.
Júlio não respondeu. Num dos cantos do cômodo, uma câmera filmava tudo.
— Proteção. Precisamos disso, você entende, né? — comentou o homem, antecipando a resposta para um pergunta que, com certeza, viria.
— Preciso fazer isso mesmo?
— Como acha que as coisas vão mudar? Com passeatas? Elas acontecem todo dia. E Betas são mortos por outros Betas, vestidos de autoridade. Através de política? Já tivemos algum presidente Beta?
Ele estava certo. A mudança não viria através da paz. Baixou a cabeça, aproximou-se da mesinha e pegou um dos martelos. Encarou o menino, que mantinha a postura de proteção, com os braços abertos, mas tremendo sem parar. Aquele olhar. Reconhecia-o nele. Já foi uma criança assim, que queria proteger a mãe, vê-la feliz.
Mas o mundo era injusto.
11
Chovia.
Todos já tinham ido embora.
Não choraria, era orgulhoso demais para isso. Mas sentia o coração pesado. Por que aquilo havia acontecido? Ele era um Alfa. Importante. Esse tipo de coisa não acontecia com os Alfas.
Foi então que viu, um pouco afastado de tudo, uma silhueta. Conhecia aquele rosto. Contorcido de pesar e ódio. Não trocaram uma palavra, mas, através do olhar, ele soube o que Júlio falaria.
“Agora você conhece minha dor.”
12
A Revolução Ômega foi uma das mais violentas da história da humanidade.
Com o jargão “se o alfa é o começo, o ômega é seu fim”, destruíram todas as estruturas da sociedade Alfa.
E o que sobrou no final? Apenas estilhaçados de uma civilização. Desculpe enganá-lo, leitor, mas essa não é uma história sobre o primeiro homem que se tornou um Alfa. Mas, sim, sobre como a humanidade é frágil.
Buenas, pessoal!
Um comentário sobre minha péssima participação, HAHAHAHA: admito que, quando escolhi continuar esse conto, já estava desanimado com o desafio. Estou numa fase onde estou trabalhando muito e com pouco tempo para a minha escrita. Estou com um projeto em andamento que está tomando muito do meu tempo. E consumindo minha força criativa. Então eu realmente fiz o melhor que pude aqui e deu uma revoltada. Mas acreditem quando digo que foi um trabalho mais desmotivado do que preguiçoso. Quando falamos de preguiçoso, pensamos que a pessoa estava fazendo algo de má vontade. E isso não é verdade, no meu caso. Eu apenas fiz algo ruim, dessa vez. Acontece.
Começou parecendo um “Admirável mundo novo”, onde o protagonista morava num gueto de uma grande cidade dos EUA. Depois o cenário passou para Portugal e, por fim, terminou em uma favela, no Rio de Janeiro.
Eu estava torcendo pelo protagonista, mas tirar a vida de uma mulher indefesa e duas crianças, seus meio-irmãos, foi algo inaceitável pra mim.
Além disso, o final foi decepcionante. Por outro lado, essa coisa de antecipar o futuro com frases do tipo “Essa é a história de como Fulaninho conseguiu isso e aquilo” também já deu. Começou capenga e terminou ainda mais capenga.
O texto cumpriu o esperado, porém, a história desenvolveu-se sem cativar a audiência. O argumento não tem nada de original e a trama é insuficiente. Embora não haja exatamente um problema de coesão, os três autores não conseguiram empolgar, criar um entretenimento de qualidade.
Há alguns probleminhas no emprego dos artigos, no emprego da partícula reflexiva. Frases que deveriam ser reelaboradas, esmeriladas, para que se buscasse a sua melhor forma.
No final, o terceiro autor prefere confessar que enganou o leitor (foi a escolha ao invés de tentar ser fiel à intenção inicial?) Quem sou eu para julgar?
Parabéns pela participação no desafio. Desejo sorte!
Olá, Frankensteiners!
✨ Destaque: “Eu vou procurá-lo, mãe. Vou fazer ele reconhecer a gente. Vou mudar essa situação!”
📚 Resumo: A humanidade é dividida em Alfas, que são os donos da coisa toda; e Betas, que são, basicamente, os pobres de marré. Raquel, uma cidadã Beta, dá a luz a uma criança de pai Alfa, Aurélio, que não assume o filho. Ela, já doente, deixa Júlio procurar o pai que, novamente, o rejeita. No enterro recebe um cartão para ir atrás de alguém no miolo de uma favela, onde colocam umas engenhocas na cabeça do Júlio para tacar o dane-se e dar um bug no sistema para base do tiro, porrada e bomba. Em um determinado momento encara a nova família de Aurélio trancafiada em um quarto, borrando as calças e com um furico tão unido que não passa nem senha de wi-fi. Júlio, agora um temido revolucionário, decide agir contra os Alfas e, depois de muita desgraceira, o pirralho se torna um deles.
🗣️ Comentário: Eu preciso parabenizar os três autores. A estória está muito bem escrita, faz sentido e tem uma filosofia no final que encaixa perfeitamente com as primeiras linhas do conto. O texto, embora o tema já tenha sido explorado, manteve uma certa linearidade que não destoa muito do que, imagino, era previsto.
O primeiro autor, acredito que seja português por causa de alguns termos como “autocarro”, “pulha” e “casa de banho”, foi o que mais me prendeu à leitura. As descrições foram muito bem colocadas, sem exageros, e eu consegui entender essa segregação que assolava aquela sociedade. O conflito inicial, com a dúvida se Júlio seria um Alfa ou um Beta e com o pai rejeitando o filho, foi o suficiente para me deixar curioso em querer saber o que ia acontecer. Confesso que estava torcendo para Júlio ser um Alfa, mas o destino de ser um Beta parece que já tinha sido traçado.
Embora eu não possa dizer exatamente onde foi a mudança do autor, a alteração na escrita foi perceptiva, com ações mais rápidas e sem muita explicação e uma narrativa que, por vezes, pareceu inverossímil. Vou explicar o meu ponto de vista:
No final do quarto capítulo temos “Chegou enregelada a casa e durante uma semana foi trabalhar com gripe” e no próximo temos “Raquel jazia deitada na cama, a respiração pesada e irregular. A doença que a consumia há anos finalmente a deixava fraca demais para se levantar”. Confesso que precisei voltar alguns parágrafos para entender sobre essa doença incapacitante, algo que teria importância na trama, mas não encontrei nada referente. Seria gripe? Se fosse gripe, não teria tratamento no hospital Beta? A doença simplesmente apareceu sem qualquer explicação.
“Mas a marca Beta em sua testa SEMPRE o lembrava das limitações impostas pela sociedade”, gostaria de destacar este “sempre” porque deixa a frase muito artificial. Não é toda vez que presenciamos o mesmo sentimento e, mesmo sendo uma limitação, existem processos como uma dúvida, rebeldia, mudança, aceitação e, assim, a limitação; e esse “sempre” acaba generalizando demais as alterações de humor que o ser humano, seja alfa ou beta, normalmente presencia. Ontem mesmo eu gostava dos passarinhos que cantavam na minha janela, hoje um deles cagou no meu ombro e eu estou gostando, digamos, 1% a menos, mas amanhã volta e quero cantar junto igual aos desenhos da Disney.
“– Tão lindo, meu filho. Bonito igual o pai…
– Pai?! Mãe, como assim? Você nunca falou do meu pai”
Eu colocaria mais cuidado ao acrescentar informações novas no conto, pois estas estão aparecendo de forma muito abrupta. Eu, particularmente, levei um susto. Como, do nada, a mãe menciona o pai se esse não era o comportamento dela? E por que ela faz isso de uma maneira tão sutil, como um elogio, em vez de ter uma conversa mais aprofundada com o filho sobre as origens?
“– Seu pai… seu pai… ele é um Alfa. Eu nunca te contei porque queria te proteger, mas você precisa saber a verdade”
Essa frase ficou muito curta para uma cena tão importante. A fala não demonstra a fraqueza da doença, relatada em parágrafos anteriores, e “queria te proteger, mas você precisa saber a verdade”, principalmente por causa do jeito informal que a conversa foi estabelecida, ficou muito desconexo com esses clichês. É uma cena forte para uma fala superficial.
“A lembrar-se dos distantes momentos doces que tivera com ele”, esse doce está fazendo hora extra na frase. Devolva para a confeitaria.
“– Eu vou procurá-lo, mãe. Vou fazer ele reconhecer a gente. Vou mudar essa situação!” Não, meu filho, você tem pouca informação. De onde surgiu essa motivação toda? Ir atrás de alguém que você acabou de saber a história? Por quê? Júlio quer conquistar o mundo e não sabe o que fazer. Nessas horas, minha vó ia falar “Júlio, acorda pra cuspir, menino” e depois ia dar um chá de camomila e bolo de cenoura. Aqui em casa, a conversa não acaba em pizza, acaba em bolo.
Os parágrafos curtos e com uma sequência rápida de ação estão contrastando demais com o início do conto.
“Apenas um hospital Alfa seria capaz de curar sua mãe” Não sei se isso é preconceito, realidade ou falta de desenvolvimento. Julgo que são os três. Para ter novas informações, procure explicar para o leitor, não estou falando para ser prolixo, mas não deixe pontas soltas. O primeiro autor é um bom exemplo da escrita que estou falando.
Ainda tem muitas ações rápidas, superficiais e bastante clichês. Mas eu não vou me estender muito porque o comentário já está ficando grande. Espero que eu tenha passado a minha ideia de uma forma clara.
O terceiro autor praticamente esqueceu a rejeição do pai de Júlio e colocou uma nova informação no texto (nova informação no final? Sim, eu também achei estranho). Um senhor, que não sei como, encontrou Júlio e entregou um cartão para o menino, não sei o porquê, o fez ir a um lugar onde nunca tinha ido antes. As passagens ficaram mais densas e lentas, com foco no desenvolvimento de apenas uma cena. O que eu agradeço muito. “É incrível como uma brincadeira, um pequeno movimento, minúsculo, pode se tornar gigante e moldar o mundo”, te juro que não entendi essa frase. Eu sei o que ela significa, mas não entendi o contexto. Pra mim ficou solta.
“A menina chorava baixinho, aninhado ao peito da mãe. O menino, mais parecido com o pai, mantinha-se na frente dela, como se pudesse a proteger.
— Sabe quem são?
— A família do meu pai.”
Deixa ver se eu entendi. Júlio é rejeitado pelo pai, que cobra exame de DNA. No funeral da mãe, um senhor entrega um cartão que leva um menino para uma palestra revolucionária. E depois descobre a família do pai Alfa em uma espécie de cativeiro. Entre tantas pessoas, tiveram a conveniência de pesquisar a fundo a vida de Júlio, a família que há pouco tempo nem ele sabia que tinha.
Gostei muito sobre a ideia de falar sobre segregação, pois até hoje vivenciamos isso com casos de racismo, xenofobia e há tempos atrás tivemos um passado horroroso com os regimes do Apartheid e Antissemitismo. O texto é bom mas, partindo do segundo autor, acaba tendo muita informação, pouca explicação e passagens muito rápidas.
💬Considerações finais: Não sei. Ninguém é perfeito, sabe. Não vou conseguir abraçar o mundo e fiz o que pude com meu comentário. O que adianta falar de alfas e betas, se eu sou um gama. É isso. Parabéns pelo Frankenstein! Boa sorte!
Distopia a três mãos. Já é uma construção bem difícil, na minha opinião, para um autor/autora, imaginemos para três. Mas, até que não foi mal, apesar dos clichês. Quando Júlio foi arrastado para o meio do mato, pensei seriamente que seria convencido a integrar uma tribo de bicho-grilo, os Ômegas. Ao optar pela revolta, o/a terceiro/a pareceu “lavar as mãos” e entregar um final quase óbvio: a revolução.
Distopias, na minha opinião, parecem como jogar futebol em um dia de chuva num campo enlameado entre amigos e comemoração. O álcool faz a coisa toda virar brincadeira e muitos sorrisos e estórias alegram o pensamento, mas na hora do banho, chega-se ao desespero para tirar a lama dos contornos das orelhas. Sempre se aponta para uma revolta, penso eu. Pode ser uma ideia errada, pois foram poucas (ainda) as que li.
Bem, voltando ao conto, ficou dentro do proposto no desenrolar da premissa, na minha opinião.
Quesitos avaliados: Entretenimento, Originalidade, Pontos Fracos
Entretenimento Essa história podia facilmente virar uma filme ou romance tipo Divergente, Hunger Games, etc. Me lembrou esse tipo de história. Achei razoavelmente entretivo.
Originalidade Uma saladinha de clichês bacaninha, que no final ficou com algo de original.
Pontos Fracos Vou confessar que a hora que vi esse final “hey, leitor.. etc”, e havia uma suspeita de que alguns autores usaram IA, eu logo imaginei que este conto seria um deles. É simplesmente algo que o Gepeto faria rs. O autor 1 deixou definido já qual seria o final do conto, e isso não foi respeitado. Portanto, acabou ficando incoerente no todo. Além disso, alguns diálogos simplesmente não convencem, tais como: – Eu sei que você é forte, Júlio. Mas às vezes, a maior força está em aceitar as coisas que não podemos mudar e encontrar uma maneira de viver apesar delas. Prometa que vai cuidar de si mesmo e não vai se deixar consumir pelo ódio.” Não consigo imaginar alguém falando naturalmente assim, seilá, ficou forçado. Outros diálogos foram usados pra explicar motivações e a história pro leitor, tais como “– Ninguém vai levar você a sério, rapaz. A justiça nunca me obrigaria a fazer o exame. O sistema está contra você, Júlio” . Não é que tá ruim, mas…. ficou pouco natural. Vou confessar que nem sei que nota dar. A princípio tinha gostado do conto, era um dos q eu estava acompanhando, mas agora não sei.
Olá, autores! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pela participação num desafio tão dificil e maluco quanto esse!
Início: o conto começa interessante, apesar de não ser inovador. Uma história distópica sobre segregação, onde os alfas subjugam os betas os condenam a uma vida de miséria, cuja marca da inferioridade social está sempre explícita, na testa. É uma premissa sempre interessante, apesar de já ter sido abordada inúmeras vezes. O autor inicial é ousado e estabelece que um beta vai se tornar alfa. Isso fica na minha cabeça, e permeia minha leitura ao longo do conto todo. Como será que chegaremos lá?
Meio: para mim, o segundo autor tem tanta responsabilidade quanto o terceiro no desfecho que trai as expectativas do leitor e contraria a ideia do autor 1. Vou explicar. O meio não é de modo algum ruim, é bem escrito e desenvolve mais a narrativa inicial. Porém, para mim, o autor do meio deveria ter direcionado melhor a história e utilizado suas 1500 palavras para construir as bases sobre as quais o autor final mostraria como o protagonista se transformaria em alfa. Do jeito que está, o autor 3 fica com uma batata quente na mão, tendo que resolver a situação toda em um espaço onde isso é impossível. É por isso que eu considero que o autor 2 também tem responsabilidade, já que ele, sem intenção, deixou o autor 3 numa enrascada.
Fim: bom, já falei muito sobre essa parte no comentário da parte 2, né? O autor 3 fez um trabalho bem bom dentro das possibilidades. A escrita é firme e muito boa, o autor ousa e apresenta ideias densas e pesadas, a cena da pré tortura é angustiante. Infelizmente, por pouca culpa do autor 3, ele se vê com pouquíssimas palavras para chegar ao ponto onde um beta vira alfa, precisa correr com o desfecho, expor rapidamente os acontecimentos em um parágrafo, e subverte nossas expectativas com o último parágrafo. Não funcionou tão bem, mas considero que a parte 3 ainda é a melhor do conto, pois trabalhou muito bem com o que tinha e nos entregou momentos de tensão e reflexões pessimistas sobre a sociedade. Tudo isso em pouco espaço e sem chance de resolver o problema inicialmente proposto.
Coesão entre os autores: o autor 1, um alfa, reclamou que uma onça estava comendo as vacas da fazenda. O autor 2, outro alfa, desenvolveu um plano para pegar a onça: “vamos colocar um sino no pescoço da onça, assim, quando ela se aproximar, vamos ouvir o barulho e saber”. O autor 3, um beta, perguntou ingenuamente: “ok, mas quem vai colocar o sino na onça?”. Pobre beta. Em outras palavras: o autor 1 propõe uma ideia muito boa, mas não me parece uma ideia que cabe muito bem em tão poucas palavras. O autor 2 continua desenvolvendo essa ideia (vale destacar que autores 1 e 2 escreveram muito bem). O autor 3 se vê com uma bomba nas mãos, manda muito bem no pouco espaço que tem, mas acaba contradizendo o autor 1 e tudo fica com um retrogosto ruim.
Nota final: bom
Olá, trio.
Estamos aqui perante (mais uma) distopia. Neste caso, a sociedade é separada entre duas classes, à maneira das castas na Índia. O autor usa um estranho prólogo para situar o leitor, o que poderia ter sido feito de outra forma menos antiquada. Pareceu o prólogo do Star Wars, mas sem as letras amarelas a rolar no ecrã. Para além disto, o autor faz a sacanice-mor de indicar o objetivo do texto, mostrar a história do primeiro Beta a tornar-se Alfa. No meu entender, isto significaria que, por seu mérito e de alguma forma, ele deveria ascender. O segundo autor limitou-se a reforçar os pontos do primeiro autor, sem adicionar nada de novo ao texto, e deixando o terceiro autor sem espaço de manobra para fechar a narrativa. Recorreu à violência, primeiro transformando o conto numa vingança pessoal, num irrelevante momento gore, e depois em guerra. Quando se pretendia uma mudança de mentalidades, o terceiro autor resolveu mostrar que só existe o caminho da violência.
A história mostra o contrário. A segregação racial nos Estados Unidos da América terminou com alterações no quadro legal e com profundas mudanças de mentalidade. Também na África do Sul o famigerado Apartheid foi terminado com mudanças políticas. Na Índia, Ghandi usou uma forma de luta pacifica para conseguir mudar o regime. Creio que poderia ter sido este o caminho escolhido para este conto, se bem que duvido que o limite de palavras chegasse.
Meus cumprimentos e vamos ao que interessa.
Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ FEITO ◊ para avaliação de cada conto.
◊ Título = ALFAS E BETAS – O título me fez pensar em algo relacionado ao universo da FC.
◊ Amálgama = Nota-se um leve sotaque lusitano na primeira parte do conto, o que a diferencia das demais. No entanto, não houve uma quebra brusca no fluxo da narrativa.
◊ Fim = Os fins justificam os meios? Talvez… E a ordem dos fatores altera o produto? Permita-me começar pelo fim, observando o impacto causado na leitura.
O(A) finalizador(a) do conto optou por “desiludir” o leitor quanto à possibilidade de ascensão de um Beta à posição Alfa. Ou seja, desmentiu o(a) primeiro(a) autor(a). Fiquei com a impressão que o(a) autor(a) 3 chegou à exaustão e não quis criar outro desfecho para o conto. Não ficou ruim, mas foi um pouco frustrante, confesso.
◊ Entremeio = O(A) autor(a) 2 poderia ter ao menos tentado imprimir ao texto o mesmo sotaque do trecho anterior. Isso disfarçaria a troca de autoria. Pelo menos, desenvolveu o enredo trazendo novos elementos à narrativa, talvez esperando que o(a) autor(a) 3 tomasse como clímax e finalizasse o conto com grande impacto. Ilusão, só ilusão.
◊ Início = O(A) primeiro(a) autor(a) apresentou os personagens tendo como cenário uma distopia. Conseguiu prender a atenção desta leitora, acenando com a possibilidade de um enredo cheio de reviravoltas e um final feliz. Afinal houve a promessa de contar a história de um Beta que ultrapassou as barreiras e ascendeu socialmente.
◊ Técnica e revisão = A história é contada em terceira pessoa, linguagem clara e objetiva. O texto é permeado por diálogos, o que torna a leitura bastante fluida. Há pequenos lapsos no quesito revisão (espero não ter tomado alguma característica lusitana como erro):
– […] já era uma realidade há duas décadas >[…] já era uma realidade havia duas décadas – Devemos usar “HAVIA” em vez de “HÁ”, quando o verbo que acompanha está no pretérito (no caso, ERA).
– Repetição muito próxima de palavras como: Força/força, primeiro/primeiro/primeiro – embora, a repetição possa ter sido utilizada como recurso para reforçar uma ideia.
– Foram necessárias 3 horas > Foram necessárias três horas (embora eu até considero o período curto para um parto)
– […] até à morte > […] até a morte
– Porque havia diferenças entre as pessoas, mamã? > Por que havia diferenças entre as pessoas, mamã?
– […] a consumia há anos > […] a consumia havia anos
– Cama, não vou > Calma, não vou
– cafézinho > cafezinho
– Filho de mulher guerreira, Raquel, Você sabe o que […] > Filho de mulher guerreira, Raquel. Você sabe o que […]
– A menina chorava baixinho, aninhado ao peito da mãe. > A menina chorava baixinho, aninhadA ao peito da mãe.
– um pergunta > uma pergunta
– Apenas estilhaçados de uma civilização > Apenas estilhaços de uma civilização.
◊ O que ficou = Um gosto amargo de frustração, como se tirassem o brinquedo de uma criança e a isolassem em um quarto. Estilhaços de expectativas. Triste, viu? Apesar disso, a leitura me agradou.
Parabéns pela participação e boa sorte!
Acredito que uma das maiores dificuldades para quem lê os contos deste desafio é recordar, durante a leitura, que a obra final é resultado da mente de três pessoas. Quer dizer, sabemos disso, claro, mas é difícil aceitar certas quebras de paradigma, mudanças no tom da narração, caminhos diversos daqueles que (supomos) foi estabelecido pelo autor original. Às vezes — no sentido de raramente — acontece de os três autores se entenderem perfeitamente, mas no geral, o que se vê é uma quebra de ritmo enervante. Justificável, claro, mas enervante.
Digo isso tudo porque experimentei essa alteração narrativa neste conto de modo mais sensível do que nos demais que até agora li. Temos uma premissa bem interessante, ainda que não criativa: num mundo distópico, a sociedade é dividida em castas, de modo que é impossível a migração da mais baixa para a mais alta.
Parêntese: é um mundo distópico mas nem tanto, já que se trocarmos alfas X betas por elite branca X negros favelados, é possível visualizar os mesmos problemas com as mesmas impossibilidades de ascensão. Mas isso não é conversa para agora. Sigamos.
Avisa o primeiro autor, estamos prestes a conhecer a história de alguém que conseguiu furar o bloqueio. Excelente! Fui fisgado. Curiosidade estimulada. Quero saber mais!
Júlio, o protagonista, quer encontrar o pai, um homem branco que engravidou uma mulher preta e pobre, ops, quer dizer, um alfa que engravidou uma beta e pulou fora, protegido que é pelo sistema.
Ah, o sistema… Como diria o Cap Nascimento, o sistema é foda, parceiro. Júlio encontra o cara e dá com os burros n’água. O pai não quer saber dele e, sem escolha, nosso herói se rende à luta armada, juntando-se à massa proletária enegrecida pela miséria que decide partir para o ataque contra a elite dominante.
Isto é, sem muita sutileza, o conto adquire ares de revolta popular em que os oprimidos voltam-se contra os opressores — afinal, sem educação, como dizia Paulo Freire, é esse o sonho de quem se vê dominado. Bem, essa é essa a parte escrita pelo segundo autor. No mérito, confesso, até aprecio esse tipo de instigação — não é essa, afinal a história da fantástica revolução mexicana? Bem, o problema é que, a despeito da boa ideia, a execução deixou um tanto a desejar pela velocidade dos acontecimentos, pelos diálogos um tanto teatrais e pela superficialidade dos personagens.
Mas foi o fim que realmente me deixou frustrado. O terceiro autor parece ter escrito às pressas, sem ler direito o que os demais criaram. Utilizou, sem muito pudor, períodos genéricos que arremataram a história em poucas palavras.
(lembrei de um amigo de infância que, na primeira série, teve que escrever uma redação sobre um menino que queria ser rei. Com seus garranchos de criança ele lançou no papel: “Era uma vez um menino que queria ser rei. E ele conseguiu.”)
O mesmo aconteceu aqui… No fim, os ômegas venceram. Ponto. Não interessa como, nem por quê. Tudo o que foi escrito antes parece não importar muito, afinal de contas. “Era uma vez um mundo dividido em castas. Insatisfeitos, os oprimidos se revoltaram e venceram.”
Mas, ei, espere, a premissa lançada pelo primeiro autor dizia que essa seria uma história de alguém que havia conseguido furar o sistema de castas. Ao se lembrar disso, o terceiro autor se desculpa por enganar todo mundo – pegadinha do Malandro – glu, glu… –, dizendo que essa era uma história sobre a miséria da humanidade.
Balde de água fria… Coesão foi para o espaço — já deve estar lá em Io…
Enfim, não curti. Espero que outros possam gostar. De todo modo, parabenizo a todos na medida de seus esforços e desejo boa sorte no desafio.
Olá, amigos e/ou amigas de desafio. Cá estou eu a caminhar pelos espaços pobres e largados dos Betas e, de vez em quando, visitando os lugares bem cuidados, ajardinados e ricos dos Alfas. A história que vocês me trouxeram me trouxe reflexões e isto considero como ponto para vocês, eis que fizeram uma literatura engajada. Gostei da metáfora do tipo “ovo da serpente” e que estamos, por mais absurdo que possa parecer, vivendo novamente nesses novos tempos. Grupos ultra-radicais de direita vem me mostrar diariamente que o nazismo continua a ser um perigo, eis que a humanidade é frágil. O conto está bem escrito e o amor entre um Alfa privilegiado e uma Beta oprimida contado pelo primeiro autor com esmero. Depois, os dois autores seguintes vêm nos mostrar primeiramente a indignação e depois a luta (à moda antiga, vão enfatizar) pela libertação. E a revolução Ômega acontece e, melhor ainda, é vitoriosa. Mas aí me vem o entendimento de que os Betas, vencedores, haviam se tornado Alfa. Foi isto mesmo? Se foi, acho que a revolução foi em vão, sabem? Bem, mas a história está legal, bem escrita. Vocês possuem um bom domínio do nosso idioma. O primeiro autor, ou autora e acho isto bem legal, vem do outro lado do Atlântico e me trouxe esse sotaque gostoso lusitano que o terceiro me pareceu até querer imitar. Ou viajo na maionese? Uma história bacana. Um tema que não é original, mas que vocês souberam tratar de um jeito legal. Fiquem com o meu abraço e com os meus votos de muito sucesso no desafio.
*Todo e qualquer crítica refletem mais um ponto subjetivo meu do que qualquer outra coisa. Outro leitor pode achar o oposto.
Acho que é a primeira vez que vejo um conto com um prólogo e, particularmente, não gostei desta opção. De início, o prólogo sugere que o autor pensou em uma história grande demais para o formato de conto. Ele apressa a história do mundo e nos diz que vamos conhecer a primeira pessoa que o superou… em 4500 palavras. É uma tarefa possível, mas definitivamente difícil.
Além disso, o prólogo ficou muito expositivo. Seria melhor descobrir toda essa história ao longo da narrativa. É uma lore interessante, mas apresentá-la assim, me parece, é um erro. É muito enciclopédico.
O restante do início tem um problema parecido: muita informação. Pelo quarto parágrafo já temos muita coisa, muitos nomes… Raquel, Jaime, Ivone, família Zarreta… e tudo em uma comunicação direta com o leitor. Eu não sou um grande advogado do “show don’t tell”, mas acho que a ideia, normalmente, funciona melhor.
Eu chuto que o segundo autor começou a escrever por volta do capítulo 5. É onde temos um salto temporal e o diálogo se torna… ainda mais direto e um pouco mais teatral. Eu, de certa forma, entendo. Como mencionei antes, há muita coisa para acontecer e o autor precisa, de alguma forma, mover o plot. Precisamos ver acontecimento único e temos, apenas, 3000 palavras para fazê-lo.
Achei o conflito da necessidade do uso de um hospital alfa uma sacada interessante. Estamos construindo a os elementos de pressão que vão forçar Julio à revolução. Mas, de novo, sinto que o diálogo é expositivo demais. Não precisamos que Aurélio nos diga que o sistema está contra o Júlio. Já sabemos disso. Inclusive isso já foi dito antes, de maneira expositiva, pelo menos duas ou três vezes. Sinto que os autores precisam confiar um pouco mais no leitor.
Gostei da introdução dos “ômega”, mantendo a temática de letras gregas. Temos, contudo, pouco tempo para o desenrolar da história toda a essa altura.
A revolução começa a ganhar contornos mais sombrios e extremistas com Julio se tornando um revolucionário sanguináreo e… a história acaba. Com uma lição de moral e um diálogo direto com o leitor, emulando o início. Como disse, não gostei dessa abordagem no início e também não curti muito no fim.
Como um todo, não gostei muito da história. Me pareceram ideias boas, mas com execução frágil, especialmente, creio, por conta da limitação do espaço e escolhas de inclusão de elementos desnecessários. Tudo isso forçou a narrativa a ser rápida demais, direta demais e, consequentemente, teatral demais.
Algo interessante é que, apesar de ser uma distopia, a intenção inicial do primeiro autor não pode ser necessariamente vista como intencional de uma história revolucionária, mas conformista. Julio, não foi o primeiro homem a acabar ou lutar contra os alfas, mas o primeiro a se transformar, ele mesmo, em um alfa. Nesse sentido, ele não teria exatamente combatido o sistema, mas sim tido êxito em obter sucesso dentro desse sistema opressor.
Enfim, ideias boas (de todos os autores), arco interessante, mas a execução não me agradou muito.
X Sensação após a leitura: Ah, o autor me enganou, né? kkkkk Rimos muito, tiramos nota baixa.
X Citações pro bem e pro mal:
x Porque havia diferenças entre as pessoas, mamã?
Por que
x Você nunca falou do meu pai
Ponto final?
x Cama, não vou te fazer mal
Calma
x Ele um Beta era alto
Ficou estranho
x Guiou-o até um quarto vazio nos fundos. E esperou.
Quem guiou foi a Beta manca e quem esperou foi o Júlio, correto? Mesmo que ela tenha esperado junto, era melhor deixar isso mais claro.
x Baixou a cabeça, aproximou-se da mesinha e pegou um dos martelos.
Essa “cena” ficou muito boa. Brutal, sem necessidade de descrições “gore”.
X Conclusões:
Assim como no conto “o caso das duas loiras”, aqui uma segunda leitura jogou bastante a favor do conto. As três partes estão bem escritas e há coesão entre os autores. Porém, esse é o tipo de história que não se adequa muito bem ao formato (sobretudo às limitações de espaço) de conto. Para “caber” é necessário usar artifícios como o infodump que o primeiro autor fez para contextualizar, ou então resumir mesmo, como fez o terceiro autor nos últimos parágrafos. A imersão se perde nesses momentos.
Apesar disso, a leitura é boa. Um cenário distópico com suas regras próprias, como já vimos em tantos filmes, focado em Júlio, o Beta que supostamente deveria se tornar alfa. A ideia de torná-lo ômega não foi ruim, o problema é que caiu em contradição com o começo. Em uma revisão do conto como um todo, eu sinceramente mudaria a promessa do início, deixando em aberto “essa é a história do primeiro beta que conseguiu mudar de classe”, ou algo assim. Deduziríamos que ele se tornou alfa e seríamos surpreendidos no final, sem a necessidade da mentira e da quebra de quarta parede.
BOM
COMENTÁRIO: A premissa não é criativa, apresentando mais um contexto de segregação que remete a tantos outros cenários infelizes de nossa História. A escolha desnecessária de dividir em prólogo e capítulos dá em um desenvolvimento que também não é destaque, o personagem é trabalhado sem nenhuma caracterização mais complexa do que a sua motivação inicial e os acontecimentos também são desenrolados dentro do esperado que a trama sugere desde o início. Entretanto, a conclusão foi o mais negativo do conto. Pois existe citada, não narrada, quase como uma nota de rodapé que nos conta da Revolução Ômega que vinha sendo mencionada e indicava que nos viria por através do personagem Júlio. Ainda há uma sutil contradição com o início que não funciona bem quando a maior parte do conto foi escrita sem haver o diálogo entre autor e leitor. Enfim, um conto ao qual qualquer uma das autorias deveria ter investido mais tempo e elaboração para despontar no certame.
De certa forma, estou dividido por este conto. O início não é original, mas não deixa de ser interessante e prometedor. A escrita de todos os autores é boa e a história mantém um bom ritmo do inicio ao fim. O meu problema está no conflito entre o fim da primeira parte e o da terceira. O primeiro autor deixou uma pequena ancora para o fim do conto, o beta deveria conseguir ascender a alfa, mas, no fim, o 3 diz-nos que é mentira e a história não é nada do que foi prometido. Para mim, e pelos requisitos deste certame, a coerência é rainha e tem de ser mantida. E aqui o conto falha espetacularmente. Apesar de tudo o resto de bom que tem, este detalhe deita tudo por terra.
O primeiro autor criou a premissa e definiu o objetivo. Estava lançado um desafio para os autores seguintes. Conduzir a história até ao final predeterminado. Como?, estava à descrição de quem viesse a seguir. O que me parece é que o/a segundo/a autor/a enterrou a história. Pouco ou nada contribuiu para o seu desenvolvimento no sentido pré-determinado nem deixou linhas que o terceiro pudesse explorar para cumprir com a premissa original, e este nem tão pouco se preocupou em fazê-lo. Seria, na minha opinião, preferível sacrificar alguma coerência para respeitar o fim proposto pelo primeiro autor, do que chegar ao fim e fechar como fechou. Não me pareceu nada difícil construir uma trama que cumprisse com a premissa do beta passar a alfa. Se não estivem tão focados em segregar bons e maus, como estavam segregados os alfas e os betas, talvez a história tivesse corrido melhor.
Em conclusão, não me pareceu justo que o primeiro autor tenha sido penalizado por uma opção que colocou em cima da mesa e que não obrigou ninguém a aceitar. A primeira parte merecia uma continuação que a respeitasse e lhe desse a conclusão prevista, com mais ou menos clichés. Para mim, o importante era ter coerência, de inicio a fim, estar bem escrita e que oferecesse um bom nível de entretenimento. Falhou redondamente no primeiro, que é o mais importante.
Que pena que quem continuou tem um ímpeto de revolta, assim como os Ômegas, e não aceitou a determinação do primeiro autor. Justiça é uma coisa esquisita, ainda mais diante algo de natureza artística.
Restam as lágrimas ou a aceitação.
E VIVA OS ÔMEGAS!
Boa tarde, autores! Um comentário de quem está do lado de fora do desafio!
Um conto que aborda segregação, ricos x pobres, preconceito, vingança e justiça. A primeira parte/ autor (que acredito ser entre os capítulos 1 e 4) começa forte, com um primeiro parágrafo onde já apresenta como essa sociedade funciona a partir dos alfas e dos betas. Estamos habituados a histórias assim envolvendo “castas”, então entendo que não precisava de muitos detalhes e o autor entrega o necessário, com um Prólogo muito bom.
Porém, no decorrer dessa parte (e do conto num todo), senti a falta de alguns porquês do tipo como que chegou nesse ponto. Passou de raça e religião para uma segregação a partir da ideia de poupar recursos, mas quais recursos seriam esses? Naturais, econômicos?
O conto também se apoia num conceito bastante popular: o do filho de castas diferentes; o “escolhido”.
A segunda parte/ autor (acredito que entre os capítulos 5 e 7) traz uma agilidade maior ao texto, com um ritmo mais rápido e gostoso de ler. Alguns errinhos de digitação acabaram saltando um pouco à vista.
Nessa parte temos um protagonista mais adulto, buscando por vingança ou por justiça, dependendo da perspectiva. Gostei que a mudança no tom da narrativa acompanha esse crescimento do personagem. Tira o foco da mãe e retorna à questão da segregação.
Porém acaba caindo em alguns clichês. A mãe falando que existe um pai, Julio indo atrás dele, o pai dizendo que possui uma nova família e que ele precisa sair dali… são situações que já vimos muitas vezes. Isso deu um tom meio novelesco à trama. Como tudo é muito rápido, fiquei pensando em coisas do tipo: a mãe acompanhava o pai? Ele mora no mesmo endereço desde sempre? Coisas assim.
A terceira parte/ autor (acredito que a partir do capítulo 8) fecha o conto com uma reviravolta. Em matéria de narrativa, gostei mais desse trecho, senti que a escrita flui melhor, temos diálogos e descrições um pouco mais detalhados.
Temos o desenvolvimento da terceira via: os Ômegas. A alegoria que fez em torno do alfabeto, situando e lembrando o leitor sobre o que significa Alfa e Beta, foi bastante acertado, dando uma nova camada ao texto. Foi como o prólogo: num trecho curto conseguiu apresentar e contextualizar esse grupo.
Mas senti que a prisão da família do pai e o discurso de que não há paz sem guerra destoaram um pouco. Talvez devido ao espaço curto pra desenvolver. Até porque o pai saiu vivo dessa, aparentemente.
A mudança de narrador e o final, criando uma reviravolta com o que foi dito lá no início, pra mim, também acabou meio deslocado.
No geral, um conto tranquilo de ler, que aborda questões interessantes (e bastante atuais!), partindo de uma história universal que é a de conhecer suas origens, vingar sua família e buscar por justiça, mas que abraça demais alguns clichês do gênero.
Gostei da História do Conto. Uma mistura de drama e revolução, mas que acaba se perdendo um pouco na alta velocidade em que a história é contada e nas visões muito diferentes dos três autores, que é perceptível na troca da narrativa e no caminha que a história toma.
O primeiro autor é “responsável” pela alta velocidade do texto. Como precisa apresentar não apenas os personagens e a trama, mas toda uma sociedade, acaba ficando um pouco corrido, ainda que a separação em pequenas partes ajude bastante nessas quebras. Ele fala da ruptura da sociedade, deixa a continuação da história em aberto e dá um caminho a ser seguido: o primeiro Beta a virar Alfa.
O segundo autor consegue até manter o ritmo acelerado da história, mas se perde um pouco no caminho, deixando a impressão de que não sabe ao cero para onde ir e não cita, em nenhum momento, a busca ou possibilidade de Júlio se tornar um Alfa. Ao invés de receber a bola e avançar na direção do gol deu um chutão pra frente e falou para o terceiro autor se virar.
Então o último autor pareceu perdido na história, sem saber muito bem como dar continuidade, e acabou escrevendo um conto próprio, uma história sua, ao invés de concluir o que os outros dois havia iniciado. Ele inclusive parece ter a plena noção disso quando diz que essa não é a história do primeiro Beta que virou Alfa, contradizendo o inicio do Conto.
Resumindo: um clichê que teria potencial de se tornar uma boa história, mas acabou se perdendo na mão três autores que parecem não ter se entendido sobre que história contar.
Conto bastante interessante e bem escritor, mas com um gravíssimo problema de não caber num curto limite de palavras! Dividir a história em capítulos foi uma boa sacada, pois assim não ficou cansativo de ler (eu mesmo li ele ao longo de várias sessões de leituras, mas sem me perder na história). Mas vamos falar sobre ele aos poucos:
A história começa mostrando um mundo distópico, semelhante ao nosso, mas que existe uma desigualdade social um pouco mais organizada. Ao invés da sociedade ser separada em ricos e pobres, aqui há os Alfas e Betas (sem nenhum classe média ou qualquer categoria intermediária). De início, fiquei com medo de a história focar demais nessas críticas sociais e perder o foco da diversão, tentando dar uma lição de moral no leitor. Mas, felizmente… isso não aconteceu.
Em seguida conhecemos Raquel, que está parindo o seu filho, Julio. Raquel é pobre, quer dizer, Beta… mas o pai da criança é rico, quer dizer, Alfa. Então ela decide ir conversar com o macho alfa, para que ele assuma a criança, e assim ela tenha uma vida boa e cheia de riquezas. O pai, Aurélio, se recusa, pois ele já está dormindo com outra, e não está mais nem aí para a mulher que sentou nele anteriormente. Nisso, a Raquel fica meio chateada, e leva seu filho pra receber uma tatuagem Beta bem dolorosa no meio da testa.
Ao longo dos capítulos vemos Júlio crescendo, e observando a vida dura que eles levam. Mais uma vez, fiquei com medo que a história focasse muito no vitimismo, e não apresentasse conceitos interessantes ao leitor. Mas felizmente o segundo autor deu uma levantada boa na linha narrativa. Julio cresce, e sua mãe fica doente. Então ela revela que o pai dele é fodão e rico, pois é um dos machos alfas da sociedade, sendo privilegiado em todos os sentidos. Júlio decidi tentar encontrá-lo, e quando o encontra, diz “Poxa pai… quebra essa aí pra mim. Ajuda minha mãe”, mas ele responde “Não”, e taca um dinheiro na cara dele, mas em pouca quantidade, tipo o “aviãozinho” do Silvio Santos. Então Júlio volta pra casa, com pouco dinheiro em mãos, e sua mãe morre.
No funeral, ele conhece uma cara que diz que, além dos Alfa e Beta, também há uns tal de Gamas. Fiquei empolgado nessa parte, mas fiquei triste ao ver que eles não tem tatuagem… me pareceu que eles usam a tatuagem dos Beta mesmo, mas só se auto denominam por um nome diferente.
O terceiro autor entra em ação e nos mostra que os Gama são um grupo revolucionário que querem fazer a maior anarquia e destruir esse sistema estagnado das classes sociais. Então o cara que o Júlio conheceu no funeral de sua mãe mostra que ele sequestrou a esposa e os filhos de Aurélio, e dá uma caixa de ferramentas pro Júlio, pedindo para ele botar pra foder. Essa parte… apesar de o autor escrever de forma extremamente habilidosa, é um momento em que o leitor não sente nada. Tudo é mostrado de forma muito rápida, e não chega a empolgar. Talvez, se houvesse tido ousadia suficiente para descrever a tortura de forma mais visceral, dando um choque de realidade no leitor, colocando Júlio diante de um grande dilema, recebendo pressão dos Gamas, para que ele cumprisse o serviço… isso poderia ter tornado as coisas mais interessantes. Porém, acho que não foi feito isso não por preguiça, mas por conta do limite de palavras que já estava no final. Tenho essa suspeita pois, logo em seguida, vem uma pá bem forte que bate na cara do leitor, deixando ele atordoado e, literalmente, pedindo DESCULPAS, e jogando um punhado de terra por cima do conto, bem neste trecho:
“(…) Desculpe enganá-lo, leitor, mas essa não é uma história sobre o primeiro homem que se tornou um Alfa. Mas, sim, sobre como a humanidade é frágil.”
Ou seja… o terceiro autor não conseguiu dar conta de cumprir as promessas feitas pelo primeiro autor, e ainda pede desculpas ao leitor. Sei que a culpa, em partes, é do primeiro autor, por ter feito algo ambicioso demais, e ainda realizado uma promessa tão difícil de ser executada. Mas, por serem uma equipe, os três autores acabam tendo sua dose de culpa… até o segundo, por não ter direcionado a história para um final, e não ir colocando mais lenha nela, como se ela fosse ter ainda uma quarta, e talvez até uma quinta parte.
Em resumo, essa história possuía uma escopo grande demais para ser desenvolvida em três partes, com mil e quinhentas palavras no máximo para cada parte. Apesar disso, os três autores mandaram muito bem na questão da coesão, e todos escreveram de forma quase uníssona, mantendo o estilo e a qualidade de escrita. Pena que houve um final corrido, e uma quebra de expectativa muito negativa para o leitor, entrando até num furo de roteiro.
Mesmo assim, me divertir ao longo da leitura, e principalmente o fato de o conto ser separado em capítulos, me prendeu bastante.
O mundo está dividido em duas castas, Alfas e Betas, pobres e ricos. Achei o mote simples e meio frágil. Não é uma história complexa como a do Senhor das Moscas, A Rainha Vermelha, O Homem do Castelo Alto, ou a série Divergente. Alfas e Betas é um conto fácil de ler e compreender, pois é simples não que isso seja um erro, só faltou aquela pegada de um Phillip K. Dick. As escritas são boas, porém, algumas ideias e ações careceram de uma melhor elaboração na arte literária, como no caso do menino urinando nas calças. A elaboração adequada ao mundo diatópico, além, é claro, do sofrimento da mãe, e isso ressalta as emoções que o conto exige. A narrativa seguia morna e tranquila e para dar uma sacudida na leitura, o autor resolveu criar aquela emoção mencionada, levou Júlio a matar seu meio-irmão. Cena apenas sugerida com ele segurando o martelo. É o lado selvagem do personagem, mostrando que em todos os tempos, o Homem é o lobo do Homem. No mundo real isso não é novidade. A Segregação no conto é simples e comum, acontece muito hoje em dia, mas isso é besteira, o conto é bom mesmo com seus defeitos.
Olá, autores! Tudo bem com vocês?
Começo: Uma premissa já muito usada a da separação de alguma forma entre pessoas mais privilegiadas e menos privilegiadas, mas com o toque de novidade na tatuagem na testa. Achei que o autor deixar o final já pré determinado não foi uma boa jogada para esse desafio, já que a ideia é ser escrito por três pessoas que tecnicamente deveriam ser livres para dar o rumo que quisessem para a história.
Meio: Deu seguimento a história de forma ágil e acrescentou um elemento importante que levaria o final para uma direção diferente da pretendida pelo autor 1.
Final: Pegou o gancho do autor 2 e decidiu quebrar a expectativa do autor 1 sobre o final do conto. O que eu acho que está totalmente no seu direito. E inclusive deixou o conto mais interessante para mim que gosto de ver quando os padrões injustos da sociedade são quebrados.
Coesão: Apesar de claramente o autor 1 usar o português de Portugal e os outros dois o português brasileiro, achei bem coeso e homogêneo no estilo.
Visão geral: Então, esse conto mais parece uma escaleta para um romance do que um conto em si. Tudo só brevemente apresentado sem realmente nenhum aprofundamento. É claramente uma premissa muito maior do que o limite de palavras. E como resumo dos capítulos, achei bem interessante, eu leria esse livro.
Parabéns aos autores!
Boa sorte no desafio!
Até mais!
Olá, caros colegas entrecontistas!
Primeiramente, parabéns pela participação corajosa e desapegada.
Vou avaliar e comentar de acordo com meu gosto, não tem muito jeito, afinal não tenho conhecimento nem competência para avaliar de forma mais “técnica”. Ou seja, vou avaliar como leitora mesmo. Primeiro, cada parte separadamente, valendo 1 ponto cada. Depois, a integridade do resultado, valendo 3 e, por último, o impacto da leitura, valendo 4.
Começo
É apresentado um mundo distópico em que há uma casta favorecida da população e outra desfavorecida. Exatamente como o mundo real. É uma boa premissa, mas senti falta de explicação. O que determina quem é alfa e quem é beta? Ok, os filhos herdam o status dos pais. Mas inicialmente, o que definiu essa separação? Foi no par ou ímpar, foi geográfico, foi socioeconômico, foi como? No mais, vemos Raquel, beta, que tem um filho, Julio, com um alfa, Aurelio. Ela está disposta a abrir mão do filho para que ele viva como um alfa junto do pai mas o pai se recusa.
Meio
Julio recorre ao pai para tentar salvar a mãe mas ele se recusa. Raquel morre e é só. Senti que faltou desenvolvimento nesta parte. No fim, sobrou tudo para o autor 3.
Fim
Julio vai ao locar indicado pelo desconhecido e descobre um grupo de rebeldes que se propõe a derrubar o sistema. Ele mata a família de seu pai, entra no movimento e a guerra que se segue destrói a civilização.
Coesão
Em termos de estilo o texto inteiro está bem coeso, mas em termos de narrativa, infelizmente, não.
O autor 1 disse logo de cara, num início com cara de infodump, que aquela seria a história do primeiro beta a conseguir se tornar alfa. Isso aí. Mais claro impossível. O autor 3 termina história pedindo desculpas por enganar o leitor, mas a história na verdade era sobre como a humanidade é frágil. Bom, não desculpo, não. Em termos de coesão, achei isso grave. Tudo bem que o primeiro autor também podia ter dado um pouco mais de liberdade pra quem ia seguir o texto, né. Mas, quem resolveu continuar sabia qual era a ideia a seguir. Bom, quebra feia de coesão.
Sem falar que um bom elemento que o autor 1 havia disponibilizado foi solenemente ignorado: o pai de Raquel era um alfa que se envolveu com o crime organizado. Isso é bom… não dava pra ter sido usado?
Impacto
Coesão a parte, a ideia de que a humanidade é frágil deveria ser mais bem desenvolvida. Julio se encontra com os rebeldes, mandam ele matar a família do pai e ele mata. Tudo tão rápido que nem deu tempo da gente se agoniar com a ideia. A cena nem é mostrada. Não que eu goste de gore, aliás, não gosto. Mas, se a violência e a crueza servem à narrativa, elas devem ser usadas, acho. Em seguida o narrador conta que teve uma guerra e que ela foi horrível. E fim. Como leitora, vi tudo de longe, como uma história velha narrada de ouvi dizer.
A premissa do conto é bastante clichê, trata-se de um futuro distópico onde a humanidade é separada por um sistema de castas, embora esse mesmo sistema não tenha sido muito bem explicado.
Acho que a grande falta do conto é essa: o formato não me pareceu adequado. Era história para mais palavras, talvez para uma novela ou um romance.
Senti falta de maior ambientação. Como era essa sociedade? Como ela se parecia? O que de fato ocorria de distinção entre a sociedade Alfa e a Beta? Como era a aparência das pessoas, a tecnologia etc?
Acho que a limitação do formato fez com que a história parecesse pouco elaborada, pouco desenvolvida. E isso foi uma escolha arriscada.
Os diálogos, por vezes, parecem um pouco novelescos demais. Tive certo incômodo em alguns pontos, mas nada que prejudicasse a imersão.
Mas essa mesma imersão é bem limitada pelo motivo que dei acima. O conto é apressado, focado em diálogos que movimentam a narrativa com saltos absurdos.
A força da história está em seu enredo, na temática, na boa escrita dos autores. Mas é uma força pouco explorada em minha opinião…
Há alguns errinhos de digitação e um erro específico no uso dos “porquês”, nada que comprometa.
Por fim, acho que este conto é uma boa ideia, mesmo que com uma premissa clichê, que não pôde ser adequadamente desenvolvida por conta da limitação de palavras. Mas os 3 autores escrevem muito bem, tem um bom nível técnico e fizeram um bom trabalho, no fim das contas. Mas é um trabalho que poderia ser ótimo…