Sol, que no batismo foi chamado Marcelo, caminha só pela pantanosa região do que já foi o planalto ao redor do monte Roraima, seus passos firmes demonstram a musculatura de alguém que sobreviveu aos quatro anos da invasão. Nesta noite, o percurso tem vinte quilômetros de encharcados salobros e lagos que fedem à morte, entre esqueletos de árvores, animais e pessoas. Vinte para buscar quatro, quatro refugiados para levar à Cren.
Assinou o nome Solange, por vontade própria aos doze, e hoje se esgueira por caminhos novos numa terra que já foi sua conhecida de infância, caminhos que trilhou quando criança, numa época em que já tinha certeza de quem era. Sombras, mortes, um grito ou outro de algum pássaro deformado e agourento que, como Sol, quer viver a todo custo.
Sol, que aos vinte e cinco, dois anos depois da invasão, raspou o cabelo por uma questão de higiene, já que os invasores contaminaram a água das cidades, precisa vagar pelos mortiços alagados durante as noites escuras para trazer algumas poucas almas ao refúgio. Ela é como Caronte, como Estrela d’Alva e é um pouco da vaidosa Oxum que guarda uma das antigas tranças para lembrar o motivo da luta e a beleza dos shows onde se apresentava.
A máscara é incomoda, o ar não é confiável, a geografia mudou drasticamente com as explosões que trouxeram o mar para dentro do continente e que consumiram muito da vida e das almas. Poucos acreditam na esperança, por isso Solange se tornou Sol, a guia. Sua forma de lutar contra o regime imposto pelos invasores é sobreviver, sobreviver e ajudar quem quiser trilhar o caminho até a comunidade que ajudou a fundar nas profundas cavernas.
Pensativa, taciturna, cuidadosa, como cobra do mato a espreitar ou como mutum que se camufla na noite. Chega ao ponto de encontro e volta. Mortos há horas. Não pode ficar e enterrar os que foram, assim como não pôde enterrar a própria família. “Malditos invasores e seus dentes que queimam como urtigas! ”. A volta para Cren é regada com amargura e lágrimas. Sabe que a esperança, como o sol em seu nome, irá voltar, mas nessa noite a alma perdeu mais um pedaço, eram crianças, crianças como a da adoção que teria ocorrido se não fosse a invasão.
Sol que me guia
Qualquer texto que fala de um tema pós apocalíptico aterroriza. E “Sol que me guia” não é diferente. Bem escrito, esse como alguns outros textos desse grupo mereciam mais palavras porque têm muito a nos contar.
Isso das crianças mortas e da alma sangrando é tão humano, tão próximo de nossas dores e desassossego que desequilibra, tira a paz e rouba um pouco da esperança.
Sucesso no Desafio.
Oiiii. Um miniconto ambientado em um mundo pòs apocalíptico em que uma invasão, pelo que entendi extraterrestre, mudou as sociedades e colocou a humanidade em perigo. Nesse cenário Sol tenta levar quatro pessoas para um local seguro, mas quando chega lá as encontra mortas. Um final impactante que reforça a ideia de perigo sempre à espreita nesse mundo pòs apocalíptico . Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
Resumo: O texto fala de uma mulher brasileira que sobreviveu nas planícies de Roraima depois de uma invasão alienígena, agora serve como guia de emigrantes, sobreviventes e que luta contra o regime imposto pelos invasores.
Coisas que gostei: Gostei muito do universo criado, pela criatividade e pelo cenário brasileiro em uma ficção científica.
Coisas que não gostei: Eu não gosto muito desse estilo de conto, achei super criativo, porém eu tenho uma resistência muito grande com ficção cientifica por pura pirraça.
MINI – A escrita é rápida e correta. Mas a técnica emprega, ricamente descritiva, remete a uma história maior. Como mini conto não funcionou.
CONTO – Então. Faltou espaço para desenvolver a trama e o clímax. Sugiro considerar como primeira parte de um conto e continuar escrevendo, afinal a personagem, premissa e cenário são ótimos. Não desperdice a ideia.
DESTAQUE – “Ela é como Caronte, como Estrela d’Alva e é um pouco da vaidosa Oxum que guarda uma das antigas tranças para lembrar o motivo da luta e a beleza dos shows onde se apresentava.” – Personagem interessantíssima.
O texto é bom, mas me pareceu muito em aberto, como se fosse uma introdução ou primeiro capítulo de algo maior. O personagem é interessante, o cenário é excelente, mas ficou faltando alguma coisa.
De qualquer forma, espero que desenvolva o cenário, curti! Sucesso!!!
Sol que me guia (Salsinha)
Comentário:
“Sol, a guia”…
Que texto bonito! A trama gira em torno de Sol, o Marcelo que se tornou Solange.
Ela abraçou, como lema de vida, o resgate dos irmãos que sobreviveram à invasão. Tornou-se Caronte, o barqueiro do submundo, aquele que separava os homens vivos dos mortos.
Texto bem escrito, apenas algumas virgulações bailarinas, nada que atrapalhe a leitura prazerosa. A temática é bem elaborada, criativa, mitológica.
Gostei muito desta descrição: “Pensativa, taciturna, cuidadosa, como cobra do mato a espreitar ou como mutum que se camufla na noite”.
Parabéns, Salsinha!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Olá, Salsinha, sua história é boa, criativa, mas precisa ser lapidada. Na minha opinião, algumas pequenas alterações o tornariam mais fluido.
Gostei do título, da escolha do nome Sol como guia.
São muitas informações num texto curto e, ao final, a questão da adoção é mais um conflito que se cria sem que ele fosse justificado anteriormente. Nada no texto me mostra a tristeza pela falta da criança.
O último parágrafo ficou muito confuso.
“Oxum que guarda uma das antigas tranças para lembrar o motivo da luta e a beleza dos shows onde se apresentava” – deu a entender que Oxum se apresentava em shows…
Em três momentos vc usa a palavra alma e, em dois deles, esta escolha me pareceu equivocada…No primeiro caso, “precisa vagar pelos mortiços alagados durante as noites escuras para trazer algumas poucas almas ao refúgio” – almas dá a impressão de que morreram, neste caso seriam corpos. No segundo momento: “consumiram muito da vida e das almas”- achei estranha a colocação de que explosões consumiram das almas.
Cuidado com construções comparativas com a palavra como “como cobra do mato”, pode soar estranho. Uma sugestão: feito cobra do mato a espreitar ou (tirar o como) mutum que se camufla na noite
levar à (a) Cren
fedem à (a) morte
por vontade própria (vírgula) aos doze,
Incomoda – incômoda
se tornou – tornou-se
regada com (a) amargura e lágrimas
Olá, Salsinha!
Conto com uma pegada distópica, que consegue passar uma ideia de ambientação muito vívida e interessante, mesmo com o limite pequeno do desafio. Acho que isso é um mérito muito grande e deve ser valorizado.
Fiquei com a impressão de que esse conto é parte integrante de algo maior, talvez outro conto, ou até mesmo um romance. Posso estar enganado, mas ele me pareceu um esforço de condensação de algo muito maior. Se for realmente isso, parabéns, pois acredito que a concisão não afetou a capacidade descritiva.
Tenho certeza de que a ideia seria descrever Sol com mais detalhes, o que não ocorre por causa do nosso limite de palavras. Mesmo assim, achei que ela ficou muito bem caracterizada. Comportamento, crenças, preocupações, muitos detalhes em pouco espaço.
O enredo é interessante, mas acho que é o que mais sofreu com a concisão. Acho que por isso fiquei com a impressão de que se trata de algo maior, pois a ambientação, a personagem, tudo é mais desenvolvido que a história de fato. Não é exatamente um problema, mas criei uma expectativa que acabou não sendo correspondida.
No geral é um bom conto. Muito bem escrito e com potencial para muito mais, acredito.
É isso. Boa sorte no desafio!
Resumo: Uma mulher trans em um cenário de fantasia luta para manter sua identidade.
Gramática: Uma narrativa fluída sem percalços gramaticais
Comentário: Um conto entre a fantasia e o fantástico; uma mulher trans em um cenário de fantasia lutando por sua causa. Um enredo que envolve uma causa concreta da temática transexuais e de transgênicos. Existem muitos preconceitos enraizados em nossa sociedade, sobre os quais devemos debater a fim de não os reproduzir. É o que este conto procura trazer: uma luz. Embora num enredo um tanto rebuscado para um entendimento melhor da causa. Mas, um trabalho muito bem resolvido.
Olá Salsinha.
Este é um conto que cria um monte de perguntas e não responde nenhuma. Mas, mesmo assim, a história é contada. É como ler uma história composta apenas por perguntas e, através das perguntas, obter um entendimento do que se passa.
Eu poderia dizer que há muita informação despejada de uma vez. E temos mesmo. Temos Sol, uma mulher trans. Temos um refúgio chamado Cren. Temos uma invasão. Temos um cenário pós apocalíptico. Temos uma distopia. Temos uma perda. Temos um trauma. Porém, eu, que costumo não gostar de um monte de informação de uma vez, fiquei com muita vontade de ver as perguntas respondidas. Quem é Sol? Por que ela é uma guia? Quem são os invasores? Qual o regime imposto?
Este foi, em minha opinião, o grande mérito de seu conto: ele é instigante e, em poucas, linhas, desenhou um personagem por quem é fácil torcer.
Muito bom!
A história é mais pretensiosa que interessante. Apesar de diferente e de apresentar um mundo paralelo com uma invasão no Norte do nosso país, os eventos narrados ficaram pouco claros, o que comprometeu o entendimento da história.
Talvez numa narrativa mais longa, ainda como conto, pudesse ser mais bem contextualizados fatos, deixando a história mais completa.
Um bom trabalho de linguagem, ainda mais quando era se tratando da invasão e de certa forma certos espólios que são essenciais para que se construa uma narrativa brasileira em sua essência, com seus traumas e nuances. A personagem LGBT é sempre um agrado a mais, e a bela forma como foi introduzida (exceto pela frase “saber quem era”, mas isso é mais uma implicância minha por conta de pensamentos e filosofias próprias, então foda-se o que acho, não é mesmo?), junto de como você conduziu as experiências sensoriais dela: um arraso, este foi um bom miniconto apocalíptico! Parabéns!
Fico contente quando encontro um texto de ficção científica ou, no caso, uma distopia com o uso de cenários brasileiros e personagens com nomes comuns.
Gostei muito de como a narrativa foi construída. A busca da Sol, aqui ressalto a escolha de usar um personagem trans foi muito bem feita, uma pequena menção ao início e pronto, não existe necessidade de explicar mais nada, Sol simplesmente é assim.
Outro ponto que gosto é o clima caótico e sombrio, criado como um quase quebra-cabeças para o leitor montar com algumas revelações do que teria acontecido anteriormente e o momento atual.
Assim, encerro o meu comentário com aplausos para sua obra.
Bom dia, Sol!
(hehe, tive que aproveitar a piada)
Uma distopia, afinal. O conto envolve basicamente descrições e alguma coisa sobre a vida da protagonista e o que aconteceu com o planeta. Não é um conto inteiro, até porque não deu tempo ( leia-se espaço), e o texto acaba sendo o trecho inicial de algo maior.
Sempre digo que é difícil encontrar alguém que consiga escrever distopias sem te que recorrer a longas e cansativas descrições da nova realidade, dos alienígenas, dos demônios, dos mutantes, dos zumbis ( o que o autor escolher para fazer este desenho), e, justamente num texto de 500 palavras vc decide seguir este caminho.
A vida é feita de escolhas, afinal. A sua não foi a mais acertada em minha singela opinião.
Parabéns pela participação e sorte no desafio.
BOI (Base, Ortografia, Interesse)
B: Um mini com ar de macro. Tem muitas entrelinhas. Tenho certo preconceito com a escrita no presente e narrativas diretas, mas o trabalho aqui foi muito bem feito. Acho que sei quem é o autor. Diz muito sobre o(a) protagonista, mas o mundo se perde um pouco em meio às digressões. É um texto bastante seguro, mas parece que foi exprimido como um limão. Ainda é um limão. Mas só vemos a casca.
O: A escrita quase poética cativa e traz uma sensação de melancolia embutida – o ponto alto.
I: É um texto que agrada pela sua forma, mas pela história, nem tanto. Gostei, mas preferia que o autor se focasse em apenas uma passagem, como, por exemplo, do lamento pelas crianças, ou então somente da parte da busca.
Nota: 8
Um miniconto denso, com significados além do que sou capaz de decifrar em um primeiro momento.
Cenário distópico, após uma invasão. Solange (que recebeu como nome de batismo Marcelo) torna-se a guia Sol. Sendo que Sol o nome do astro solar e também o apelido para Solange. O nome que escolheu assinar aos doze anos significa Solange: Significa “solene”, “majestosa”, “digna” ou “pessoa importante”, a partir do latim solemnia, sollemnis, palavras que deram origem ao português “solene”.
A máscara é incomoda > A máscara é incômoda .
Conto bem escrito, enredo linear apresenta uma distopia e um final frustrante para a protagonista. Não foi uma leitura fluída para mim, mas talvez por não me identificar com a temática.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
Olá, Salsinha!
Seu conto é bem maior do que o limite permite, não o corpo, mas a alma. Você devia reescrever sem nenhum limite.
Eu gostei da premissa da história, mas não ficou bom em um mini conto, ficaria ótimo em um conto grande. Ficou muitas perguntas sem resposta: quem são os invasores? Por que invadiram? O que é a Cren? Como funciona a caverna?
Eu gostei da personagem Sol, ela merece um conto grande só pra ela, pense nisso!
No mais, está bem escrito, tem uma boa ambientação, só o enredo que foi feito pra um conto bem maior.
Parabéns!
Boa sorte! Até mais!
Tenho muitos problemas com esse texto.
Muita informação, mesmo muita por um lado, e muito pouca por outro.
Isto é uma estória curta, então não se fala naquilo que não se usa. Não interessa que ela tenha nascido Marcelo nem que tenha assinado Solange. Se a estória é sobre uma mulher que salva pessoas, tens que focar nas características dela pertinentes a salvar pessoas.
Com isso, não falaste nada sobre invasão. Não compreendo porque é que os dentes dos invasores queimam com urtigas, nem faço ideia do que seja a Cren.
Isso parece-me mais a primeira parte de um primeiro capítulo de um conto do que uma estória fechada em si mesmo.
Entidade mítica que habita os entornos do Monte Roraima lamenta a devastação da Amazônia.
É um excelente… capítulo de uma obra maior,… que provavelmente eu não leria. É fantasioso, não obstante a crítica muitíssimo justificável da devastação do meio natural natural. Está bem escrito, sem erros vistantes.