EntreContos

Detox Literário.

Peixes Dourados (Andre Brizola)

– Não farei isso! Não assim. Não é hora, ela é muito nova!

– Não existe idade certa para isso, tem que aprender logo. Você devia ter pensado nisso quando cedeu à vontade dela. Peixe é um bicho que morre rápido.

– Não quero que minha filha seja exposta à morte assim, tão cedo!

– Não é cedo. E quanto mais rápido ela aprender, melhor.

– Pai… se ela souber que o peixinho dela morreu, vai passar o sábado chorando!

– Mas terá aprendido uma importante lição. Uma que valerá para o resto da vida!

O homem saiu da cozinha e pescou com a mão o cadáver que boiava. Subiu as escadas decidido. A filha foi incapaz de frear o ímpeto do pai. Talvez ele estivesse certo.

Diante da porta, o homem estacou e repensou o que estava fazendo. Então entrou, devagar. A menina já estava acordada, e a luz do celular em suas mãos iluminava o quarto ainda escuro. Ele abriu as cortinas, e ambos sorriram, um para o outro.

– Dormiu bem?

– Tive um pesadelo, vô. Sonhei que tava me afogando. Queria ver na internet o que isso quer dizer, mas acabei ouvindo as mensagens das minhas amigas. Sabia que a baleia não é um peixe? É um mamáfero.

– É um mamífero, bobinha. – Ele sentou-se na cama.

– Mamífero!

– Então, gosta de peixes, né?

– Gosto, sim! Mamãe disse que logo vou poder colocar outro no meu aquário!

– Olha, filhinha, tenho uma coisa muito ruim para te contar. E não quero que você fique chateada, porque não é sua culpa. Mas as coisas são assim. Quero que você aprenda logo.

A menina arregalou os olhos, que já começavam a marejar.

– Seu peixinho dourado morreu. Deus levou ele para o céu.

A menininha agarrou o cobertor puxando-o para junto do rosto. O homem abriu a mão e mostrou o peixe morto.

– Todo bichinho que você tiver, vai morrer. E você sempre vai ficar triste. É assim que as coisas são, e eu gostaria que você descobrisse isso cedo.

– Vô, o que ele fez para morrer? Deus não gostava dele?

– Ele não fez nada de errado. Mas ele é pequenininho, então tem uma vida pequenininha. Ele nasceu, cresceu e morreu na hora certa. Quero que você saiba que é assim para todo mundo, entendeu? Todo mundo.

Ela acenou que sim, chorando. Horas depois, assistindo à televisão na sala, parecia já conformada. A mãe estava surpresa e o avô feliz, por estar no caminho certo.

– Você sabia como ela iria reagir?

– Não sabia. Mas achei que ela precisaria desse choque. Na verdade, esse foi um primeiro passo para um muito mais dolorido.

Ele pegou seu paletó e tirou do bolso interno um envelope. Estendeu-o para a filha.

– Me desculpe por contar dessa forma. Mas não consigo pensar em uma melhor. Já não há mais o que fazer.

No envelope o nome do pai e o logotipo de uma clínica oncológica.

33 comentários em “Peixes Dourados (Andre Brizola)

  1. Anderson Prado
    24 de julho de 2021

    Velho à beira da morte encontra um jeito bem exótico de revelar seu estado terminal.

    Há méritos…, mas não me conquistou. Achei uma estratagema extremamente fácil colocar o peixe para morrer justamente quando o velho precisava tratar de sua própria morte. Inverossímil. Sinto muito. Está bem escrito coisa e tal, mas, no geral, não engoli.

  2. Dayanne Lima
    24 de julho de 2021

    Bastante emocionante seu conto. A morte não é um assunto fácil, e nunca será. Nunca seremos suficientemente maduros para lidar com a partida de um ente querido. Conto emocionante, parabéns e boa sorte.

  3. Priscila Pereira
    24 de julho de 2021

    Olá, Autor!
    Seu mini é bem sentimental, daqueles feitos pra ganhar o leitor. Eu gostei, mas achei que poderia ter sido mais sutil.
    Todos os personagens são o que deveriam ser, reagem como deveriam reagir, o mini é muito linear e previsível.
    Parabéns!
    Boa sorte! Até mais!

  4. Fernanda Caleffi Barbetta
    22 de julho de 2021

    Olá, El Seudónimo, gostei bastante do seu texto. Bem escrito, bonita mensagem, final surpreendente.
    Gosto de contos que trazem conversas entre avós e netos, explorando a comunicação entre duas gerações distintas. O diálogo está muito bem escrito, só achei um pouquinho forçada a história do sonho com o afogamento e a baleia mamífero logo em seguida como uma deixa para que ele introduzisse o peixe na história.
    Muito boa a ideia do avô de usar a morte do peixinho para começar a preparar a neta para o que aconteceria em breve. Gostei desta revelação inesperada, mas não tanto da frase final, achei muito clara… na minha opinião, deu um toque meio amador ao texto, como se o autor não soubesse outra forma mais sutil de passar a informação sem falar exatamente que no envelope tinha o nome do pai e o logotipo de uma clínica oncológica.

    A mãe estava surpresa e o avô (vírgula) feliz

    Parabéns pelo belo texto.

  5. Regina Ruth Rincon Caires
    21 de julho de 2021

    Peixes Dourados (El Seudónimo)

    Comentário:

    Jesus! Quanta emoção! Espanhol é assim, arrasa! (nada pessoal, viu?! kkkkkkkk)

    Não há como não se impressionar com o cuidado que o autor descreve esse dualismo sobre a qual o ser humano se debate: vida/morte. A estratégia mostra infinita criatividade.

    Texto muito bem estruturado, real, doce, de linguagem simples e fluente. A leitura é deliciosa, e o final é surpreendente. Desfecho que cala o leitor. Quando digo “cala”, quero dizer que, terminada a leitura, é necessário um respiro bem fundo para voltar à realidade. O leitor leva um baque.

    Uma narrativa que fala o necessário, toca a sensibilidade de maneira certeira e encantadora. Escrita excelente, serena, real.

    Parabéns, El Seudónimo! Seu texto é uma lindeza das grandes!!!!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

  6. Kelly Hatanaka
    21 de julho de 2021

    El Seudónimo,

    muito bom! O avô preparando a neta para lidar com a morte dele. Coisa da idade, ficar mais íntimo do fim, ainda mais quando se vê o fim logo ali, que é o caso do avô. Seu texto comove e faz pensar no quanto a morte é tratada como tabu, muito embora seja algo corriqueiro e certo.

    Parabéns!

  7. Catarina Cunha
    21 de julho de 2021

    MINI – Os diálogos são rápidos sem comprometer a intensidade dos sentimentos envolvidos. Achei o final explicativo, mas sutil.

    CONTO – O drama fofo sempre funciona por aqui, principalmente quando escrito com a suavidade de quem faz isso com o teclado nas costas.

    DESTAQUE – “– Vô, o que ele fez para morrer? Deus não gostava dele?” – Quando bota Deus no meio de explicação para crianças fica complicado.

  8. claudiaangst
    20 de julho de 2021

    Trama bem conduzida que apresenta um avô preocupado em preparar a netinha para uma notícia muito mais terrível do que a morte de um peixinho. O micro e o macro no universo das perdas. O(A) autor(a) engana o leitor com uma aparente frieza desse avô para depois no finalzinho dar o golpe certeiro.
    Muito bem escrito com uma linguagem trabalhada com habilidade, enredo construído com maestria e final da narrativa impactante. Parabéns.

  9. Victor O. de Faria
    19 de julho de 2021

    BOI (Base, Ortografia, Interesse)
    B: Outro que partiu para os diálogos. Só que nesse a construção é intercalada com uma bem-vinda narração. Gostei do conteúdo, do final já esperado (um pouquinho), e das reações da família. Tem uma bela construção melancólica, apesar de bater naquela tecla errônea de que é Deus quem causa sofrimento.
    O: A escrita é competente e transmite muito bem as ideias. Simples, mas eficiente.
    I: Tem um texto parecido por aqui, mas esse é bem suave nas entrelinhas. Apesar de achar que a filha não reagiria de forma tão contida assim, o texto convence.
    Nota: 8

  10. Amarelo Carmesim
    18 de julho de 2021

    Teu texto movimentou mecanismos internos em minha mente. Acho isso fantástico na literatura. Parabéns! A forma como o avô usa a morte do peixe da neta como mecanismo para suavizar sua própria má notícia para a filha é fantástica.

    O final marca, choca e é, sem dúvida, o ponto alto.

    Talvez o parágrafo onde o avô chega no quarto e “ele abre as cortinas” precise de uma sutil revisão e a remoção do ELE. Talvez reescrever o parágrafo, que fique claro, não há algo ruim ali que afete o texto, só algo que incomodou durante a leitura.

    Assim que terminar a fase, quero saber de quem é o texto para usar com meus alunos. Gostei mesmo e acho que usá-lo é uma forma de valorizar tua arte.

  11. Fabiano Sorbara
    18 de julho de 2021

    Vou começar pelo fim, ele é muito impactante e surpreendente. Deixa um gosto amargo no para o leitor diluir depois que termina.
    A ideia foi ótima de usar o peixe e traçar o caminho para a revelação, só acho que alguns diálogos ficaram artificiais, principalmente a cena com a neta. Fora isso, gostei bastante.

  12. Elisabeth Lorena
    18 de julho de 2021

    Olá.
    Seu conto é dolorido. Lindo, sutil e triste.
    Do comunicado da morte do peixinho para a neta até o anúncio da doença fatal do pai para a filha a viagem de possibilidades se avolumam. O final é uma surpresa amarga. A beleza e sutileza que vejo estão postas no enfrentamento lúdico dado pelo senhor ao abrir a porta do luto para a neta.
    Em nossa sociedade o luto foi deixando de ser familiar e muitas pessoas escondem seus mortos das crianças. Imaginar um velório na sala da casa é um desrespeito aos familiares e vizinhos. Algumas pessoas chegam a inventar viagens eternas para justificar a ausência de um ente querido. E talvez por isso alguns jovens e até trintões acreditam que a dor da perda de um velho não faz sentido. Ao mostrar a neta a morte e minimizar a ausência e o sentido brusco da perda, o avô encaminha a criança para uma maturidade segura, sem pular etapas.
    Sua própria morte adiante a fará encarar com menor desespero a dor que virá e ali ele já diminui a revolta quando ressignifica o morrer do peixe.
    Com a filha já não mais como ser sutil. “Já não há mais nada a fazer.
    Parabéns pelo conto.
    Sucesso no Desafio.

  13. Raquel
    18 de julho de 2021

    Ótimo!!!
    Leitura leve fuida. Diálogos precisos e adequados caracterizando bem cada personagem.
    Conseguiu prender a atenção destacando a personalidade pragmática e forte do avô/protagonista sem adjetivar, apenas com os diálogos e a narrativa. Texto consciso, lógico, enxuto sem repetições. Temática atual e muito bem abordada.

  14. Rafael Carvalho
    17 de julho de 2021

    A mais incrível capacidade da arte, seja ela através da pintura, música, escultura ou escrita é a do toque. Não a do toque físico, com dedos que por mais delicados que sejam ainda são densos, mas a do toque sutil das emoções. E foi isso que seu texto despertou em mim quando li. Talvez por possuir uma amiga com o pai em tratamento de câncer, esse texto encontrou um espaço vago em algum lugar enquanto eu o lia, e ficou por ali, flutuando por um bom tempo.

    Sabendo que esse desafio propõe minicontos, onde em poucas palavras é importante trazer uma base rápida e uma conclusão impactante, presumi que a garota do conto estaria doente ao final, logo, fui pego de surpresa, uma surpresa satisfatória diga-se de passagem, ao ver que a função era com avô e não com a menina.

    Achei um conto recheado de boas escolhas no seu desenvolvimento, desde a forma de iniciar com a negação da mãe, até a forma do avô conversando com a criança como se tentasse convencer a ele mesmo como ver as coisas de uma forma mais branda, e fechado excepcionalmente bem com o plot twist fechando o arco aberto nas primeiras linhas de dialogo.

    Gostei muito do seu texto, parabéns. Com certeza será um dos que levarei na lembrança do desafio.

  15. Welington
    16 de julho de 2021

    Uma bela e triste história! O conto começa despretensioso, com uma história com ares infantis sobre o tema da morte. O leitor se embala numa ambientação que parece doce, embora o tempo todo fiquemos com a ansiedade de saber como a criança reagiria. Então o leitor sofre junto com a surpresa da criança e depois “supera” também junto com a criança, só para no final o autor chegar justamente onde ele queria: na verdade mais aterradora sobre a morte, momento este em que não há nada de infantil e despretensioso. Parabéns! Poucas palavras para algo tão pesado e possível. Desenvolvimento da narrativa muito bom.

  16. Jowilton Amaral da Costa
    15 de julho de 2021

    O conto narra o receio de uma mãe se a filha deve ou não saber sobre a morte dos peixinhos dourados. O caso é resolvido pelo avô da criança. que no fim da história dá uma outra notícia triste. A narrativa é bem feita, e bem conduzida para o desfecho. Mais eu fiquei com um pé atrás com esse final, me pareceu um pouco forçado. Se o conto tivesse terminado só com a lição sobre a morte que o avô deu, acho que gostaria mais do conto. O impacto não foi grande. Boa sorte no desafio. .

  17. Natália Koren
    12 de julho de 2021

    Ai que facada!! Por que fazer isso com a gente em tão poucas palavras??

    Só tenho a comentar que achei uma história rápida, simples e crua, muito bem escrita. Assim como o vovô, não se demorou em nenhum preâmbulo e mesmo assim conseguiu ser bem certeiro: acho que é um cenário com o qual todo mundo consegue se relacionar.
    Talvez tenha algumas linhas de diálogos desnecessárias, mas não acho que tenha prejudicada em nada o resultado geral! Parabéns pelo trabalho!!

  18. acapelli
    12 de julho de 2021

    Seu conto me fez lembrar de um episódio horrível da minha infância que também envolve peixinhos dourados & morte. É uma história bem forte, com duas mortes e bastante impacto, mas a forma que você elegeu para contá-la tornou-a, eu diria na falta de uma palavra melhor, um pouco artificial. De qualquer maneira está bem escrita, com destaque para os três momentos de diálogo.

    Desejo sorte no desafio. Um abraço.

  19. Felipe Lomar
    12 de julho de 2021

    Boa noite
    Bom, você optou por usar usou muitos diálogosno texto. Eu gostaria de fazer um comentário mais sólido nesse quesito, mas como não sou especialista no assunto, me basto a dizer que eles funcionaram bem para mim.
    O desfecho, ainda que triste e macabro, com toques de humor negro, pega o leitor de surpresa. Estava pronto pra dizer que o título e o começo deixam muito óbvio a morte do peixe, para só na última linha perceber que o texto não é sobre peixes morrendo
    Boa sorte

  20. Ronaldo
    12 de julho de 2021

    Bom, bem legal.

  21. mariasantino1
    12 de julho de 2021

    Olá!

    Como fórmula de avaliação utilizo os quesitos: G -gramática, F-forma e C-conteúdo, onde a nota é distribuída respectivamente em 4, 3 e 3, e ainda, há que se levar em conta minhas referências, gostos e conhecimentos adquiridos como variável para tanto (o que é sempre um puta risco para o avaliado. KKK).

    G = 4. Então, conto bem escrito, pontuado, claro. Sem falhas gramaticais quanto à grafia, misturas de tempos verbais, pontuação e uso de palavras (dentro do meu limitado conhecimento). Nota máxima para este quesito.

    F= 2. Então, por mais que o texto esteja fortemente estruturado nos diálogos, ainda há um narrador para situar melhor as coisas. Neste sentido, sinto que caberia mais algum repasse de sentimentos por parte do vovô, para que houvesse maior empatia do leitor e, com isso, maior impacto com a revelação final. Em todo caso, o texto consegue a façanha de demarcar os personagens (cada um em seu quadrado) e isso é muito bom. Quanto aos diálogos, não achei grandes percalços pois a menina tem fala de menina e o vovô, fala de pessoa mais velha. Então, pelo menos pra mim está crível.

    Agora, só pra mostrar o quanto é foda ser avaliado por mim, não pude resistir em assimilar a fala aqui abaixo, com essa passagem do filme “Todo Mundo em Pânico 3”.
    – Todo bichinho que você tiver, vai morrer.

    Brikns 😀

    Voltando, não há perdas devido a escolha de palavras, que fazem o fluxo narrativo ser retilíneo e crescente. Com sugestão ao final para o leitor completar na mente as sensações e sentimentos não explicitados. Muito bom mesmo.

    C = 2. Pois bem, o uso simbólico da morte do peixe e a revelação disso, abrindo trilha para outra maior, é uma boa sacada para repassar a fragilidade da vida. A morte, o reconhecimento do seu papel na vida de alguém, nosso legado… Tudo isso é factível de assimilação aqui no seu texto. Chamo ainda atenção para o título, que se utiliza do plural para também nos incluir e equiparar em nossas urgências e tempo de vida. Só não dou nota maior por achar que o texto pede mais espaço.

    Parabéns e boa sorte neste desafio

    Média final: 8

  22. Fabio D'Oliveira
    9 de julho de 2021

    Olá, El Seudónimo!

    Serei bem sucinto nesse desafio, avaliando com as impressões imediatas que tive do miniconto.

    BELEZA

    É um texto bem lapidado. Gosto quando as palavras parecem se encaixar perfeitamente em cada situação. É um bom trabalho, mesmo que seja subconsciente.

    IMPACTO

    Falar sobre a morte não é fácil. Parece que existe uma naturalidade, aqui no Brasil, em retratá-la quase que unilateralmente como algo triste. Por causa disso, textos que se aventuram nesse tema acabam caindo facilmente em situações apelativas e previsíveis.

    ALMA

    Mesmo não tendo harmonia na forma e conteúdo, o conto possui seus méritos. É um trabalho bem feito. E parece ter sido feito com amor. Acho que isso é algo muito importante.

  23. Elisa Ribeiro
    9 de julho de 2021

    Olá autor, como vai?

    A brutalidade da doença e da morte. Seu conto rima com esse sentimento. Tanto no enredo como na forma de conta-lo. Nesse sentido, seu texto é interessante e me soou bem. O avô impõe à neta e ao filho/nora o mesmo confrontamento com a dureza da morte experimentado por ele. Gostaria de ver esse argumento explorado
    em um texto mais longo.

    Um conto interessante. Parabéns pela participação.

  24. alicemariazocchio
    8 de julho de 2021

    O conto trata com muita delicadeza o assunto morte. A cena, que no início parece agressiva, vai aos poucos se desfazendo até chegar ao final emocionante. A história é muito boa. Eu faria apenas alguns ajustes nas frases tirando alguns adjetivos. O final emocionante já se fez no penúltimo parágrafo e, por isso, vejo a última frase como desnecessária. Parabéns pela escolha do tema difícil e a forma delicada como o tratou. Parabéns!

  25. Ana Maria Monteiro
    8 de julho de 2021

    Olá, El Seudónimo.

    Começo com uma introdução comum a todos os participantes: primeiro li os dois conjuntos completos de contos, um por um e rapidamente, para colher uma primeira impressão geral e já mais ou menos gradativa e agora regresso a cada um deles e releio com mais calma, para comentar.

    Seu conto tem algumas abordagens possíveis, até a questão da fé, mas nesse aspeto passo ao largo, pois não foi sua intenção, mas a expressão da vontade de deus e a forma como está escrita, diz-me de caras que o autor é crente (e, no meu caso, a menos que o texto seja na primeira pessoa, prefiro nunca encontrar as ideias do autor escancaradas. Mas isso é uma questão pessoal e o facto de eu ser ateia convicta não vai alterar a nota, mas também não vou ignorar o autor deixar-se passar através da narrativa – não se preocupe, acontece com quase todos e ninguém parece importar-se muito com isso.

    Vamos a outra abordagem: e lá vou aos pormenores, não leve a mal, mas, no final, só levamos deste exercício duas coisas valiosas: as críticas que nos ajudam e as notas. E então, aqui, “A mãe estava surpresa e o avô feliz, por estar no caminho certo.”, duas coisas me soam mal (uma delas só depois de chegar ao fim e perceber a intenção e agora ao ler a segunda vez) um avô feliz nesta situação; não consigo imaginar feliz um homem canceroso, em estado terminal e a ter que dizer à filha, quando muito satisfeito. E “estar no caminho certo”, também é um caminho onde ele não está, quando muito, tomou a opção correta.

    Por fim, a forma que ele encontrou de contar à filha é extremamente egoísta, mas igualmente verosímil – aí não há problema, só achei muito egoísta em alguém que, antes, revelou sensibilidade. Mas sim, tem razão a mesma pessoa pode ser sensível e empática e também egoísta.

    Mas este é mais um texto escrito com uma ideia anterior em relação ao final e fica um bocado preso pela necessidade de o construir nessa direção. Isso é muito natural, só me espantou encontrar tão poucos autores preparados para contar histórias em poucas palavras (incluo-me também a mim nessa categoria), pensava que para a maioria fosse muito mais simples e natural do que se revelou. Assim, penso que deveríamos ter mais desafios nesse formato, pode ajudar-nos a ser melhores. Vou propor no grupo.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  26. Angelo Rodrigues
    8 de julho de 2021

    03 – Peixes Dourados (El Seudónimo)

    Fiquei surpreso com o desfecho. Houve realmente uma virada e tanto.
    O conto, pareceu-me, construiu-se do senso menor em direção ao senso maior. Do peixinho morto ao futuro morto, o avô. Uma espécie de conto-trauma-para-toda-a-vida. Interessante.
    O velho fez valer o seu princípio, embora, como lição, tenha ficado deslocado, dado que a filha, desde o princípio, não concordasse com aquela relação traumática, e teve de a aprender a despeito de não concordar com ela.
    Também ela, a mãe da criança, não concordava com o que o avô fazia.
    Sob uma análise moral – moral das histórias –, achei bem estranha a construção desenvolvida pelo autor.
    Digo isso porque penso, sempre que leio um texto, no objetivo que tinha o autor ao desenvolver a sua escrita, e me pareceu, no caso presente, que houve uma construção que menos trabalhou a história e mais se ateve a chocar o leitor.
    Foi isso.
    Boa sorte no Desafio.

  27. antoniosbatista
    6 de julho de 2021

    Gostei. Bom conto. Lições do pai para os filhos. Texto bem escrito. Bons diálogos. Não há muito o que falar de uma história curta. Posso até escrever uma boa história em poucas palavras, mas comentar, é um horror.

  28. Luciana Merley
    6 de julho de 2021

    Peixes dourados

    Olá, tudo bem?

    Como é difícil lidar com certas situações, não é mesmo? Seu texto é muito bonito, cheio de significados e bastante didático também.

    Coesão – A expectativa acerca da reação da menina permeia nossos sentidos até as últimas linhas, quando o enredo vira para algo maior, com um significado muito além da morte do animalzinho. Gostei dessa construção e da forma como planejou nos surpreender.

    Impacto – Muito bom. Raramente as construções feitas para gerar efeito didático, que propositalmente dramatizam o enredo, resultam em bons textos. Contudo, e estou sendo bem sincera, você conseguiu nos entregar um texto bastante lúcido, com as chamadas emocionais eficientes para a construção do sentimento no leitor, mas sem pesar a mão no drama e na sentimentalização exagerada.

    Parabéns.

  29. gisellefiorinibohn
    6 de julho de 2021

    Ô, El Seudónimo, que maldade, hein?! Por que quer fazer a gente chorar? Muito triste, issaê! 😦

    O conto é muito bom. Diálogos bem construídos, história bem costurada, leitura fluida. Bom final, que deixa um nozinho na garganta.

    Na parte técnica, apenas uma vírgula mal posicionada separando sujeito e verbo
    (Todo bichinho que você tiver, vai morrer). De resto, muitíssimo bem escrito.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  30. simone lopes mattos
    6 de julho de 2021

    Um avô faz a opção de permitir que a neta experimente e enfrente a dor da morte do seu peixe. A perda do peixinho representará todas as perdas. É bonito o diálogo porque ele apresenta a morte como algo natural. No final descobrimos que a criança perderá o avô. O ensinamento dele irá ajudá-la a enfrentar a nova perda, infinitamente maior.
    Acho que a notícia do estado dele poderia ficar mais suspensa, nas entrelinhas. Sem a explicação dada na frase final.
    O texto faz refletir sobre a finitude. As partidas que não estão sob o nosso controle.
    Gostei da fala da criança sobre o pesadelo. Foi como se ela estivesse pressentindo a má notícia. Acho que poderia desenvolver mais esse ponto.
    Um texto bom e cheio de verdade.

  31. Emanuel Maurin
    5 de julho de 2021

    Olá, El Seudónimo.

    Resumo: O avô debate com a filha se ele deve ou não contar que o peixe da neta havia morrido. E o velho resolve contar com jeitinho. Logo a neta esquece do ocorrido, mas a pior notícia vem quando o pai conta a filha que esta com câncer.

    Parecer: O cenário tá legal e a movimentação dos personagens estão bons, mas tem alguns trechos de diálogos que são longos e cansativos. “– Olha, filhinha, tenho uma coisa muito ruim para te contar. E não quero que você fique chateada, porque não é sua culpa. Mas as coisas são assim. Quero que você aprenda logo.” – Esse por exemplo – as pessoas não falam assim, na minha opinião faltou verossimilhança com a realidade nesse e em outros trechos de diálogo. O conto é mediano e não me surpreendeu o final, achei comum.

  32. thiagocastrosouza
    5 de julho de 2021

    El Seudónimo, gostei do conto. Há um começo, meio e fim bem enredado para tratar da morte. A figura do avô a dar a notícia e ensinar sobre o luto é boa também. No entanto, creio que como leitor já estava preparado para receber a notícia desse avô, com câncer, pelo que sugeriu, mas o diálogo veio muito direto, na lata. Um pouco mais de sutileza nesse fechamento, estaria perfeito!

    Não deixa de ser um excelente conto, e que, de minha parte, será bem avaliado!

    Grande abraço!

  33. Eduardo Fernandes
    5 de julho de 2021

    Diálogos são muito complicados. Já é a terceira vez que uso esta frase nos comentários. È muito difícil fazê-los parecerem plausíveis para o leitor. Não é o pior que já li até agora, mas também estão meio forçados. Não consigo encaixá-los nas personagens.

    Outra coisa, já que tu meteste contexto no meio do texto, devias ter metido logo no início. Demorei muito tempo a perceber que eé que fala o quê, e que há um avô, um pai e uma filha. Muito facilmente se perde num texto só com diálogos e, uma vez que usaste contexto, podias ter facilitado a vida aos leitores.

    Em relação ao texto, adoro a ideia do twist, mas achei a transição muito abrupta. Percebo a problemática do pai, mas acho que ele vai do “não quero expor” ao “peixe morto na mão” muito rapidamente. Poderias ter trabalhado melhor isso, porque soa um pouco falso.

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