— Mãe, tá me ouvindo? Tô aqui com a senhora agora, pelo menos uma horinha por dia. Tenho certeza que pode me ouvir. Aperta a minha mão, vai. Tenta, pelo menos.
— (respirador)
— As crianças estão com saudades. Deixei elas com a vizinha. Vim de ônibus. Peguei um táxi na rodoviária. Pra voltar agora só de noite. Vou aproveitar e procurar roupa pras crianças. Tudo é mais barato por aqui. Não vai acreditar em como o Lucas cresceu nesse mês… Ele começou a andar… Queria muito que você estivesse lá pra ver… Ah, mãe, o que vou fazer sem a senhora? Tenta melhorar! Por favor!
— (respirador) (bip)
— O pingo fica o dia todo deitado no tapete da sala esperando a senhora voltar. Nem está comendo direito.
— (respirador)
— Sua mão tá quentinha, se não fosse esse tubo na garganta até ia parecer que você tá dormindo. Eu devia ter te obrigado a ir pro hospital antes, eu não paro de pensar nisso. Talvez a senhora não tivesse ficado tão mal … Eu fiz tudo que podia pra te proteger, tudo! Mas a senhora escondeu os primeiros sintomas de mim! Por quê? Mãe, você não pode morrer agora!
— (bip) (respirador)
— A senhora quer se encontrar com o pai, eu sei… Mas eu ainda preciso de você! As crianças precisam da avó. Promete que vai fazer um esforço pra melhorar?
— (respirador) (bip)
— Suas unhas estão compridas. Vou perguntar pra enfermeira se posso cortar. Peraí.
— (bip) (respirador)
— Ela deixou! É tão bom poder cuidar de você! Foi horrível ficar um mês sem te ver, só recebendo os boletins médicos e as chamadas de vídeo da psicóloga. A senhora parecia muito pior no vídeo. As crianças sempre mandavam beijos e diziam que te amavam. A senhora ouviu, né.
— (respirador) (bip) (bip)
— Não vou poder vir todos os dias, tem o dinheiro do ônibus e não posso deixar as crianças com a Vilma todo dia. E o pior é que aqui não tem as chamadas de vídeo, nem os boletins por telefone. O que vou fazer, mãe? Eu queria te visitar todos os dias, mas como? Venho dia sim e dia não. Vou pegar mais unha pra fazer, até de noite, se precisar.
— (respirador)
— Tô sendo muito egoísta, né. A senhora ouviu o médico, se conseguir sobreviver, vai ficar com sequelas. Presa numa cama. Dependendo de mim pra tudo. Sei que ia preferir morrer! Eu sei disso. Então… o pai tá te esperando lá no céu. Faz anos, já. A saudade deve estar forte, né. Se a senhora quiser ir, pode ir. Eu vou sobreviver. A vida sempre continua. Dá um beijo bem grande no pai por mim.
— (bip) (respirador) (bip)
— A hora de visita acabou. Se eu não te ver mais, lembra que eu te amo muito. Obrigada por tudo e me perdoa por qualquer coisa. Vai com Deus! Bença, mãe.
— (respirador) (bip)
Chorei.
Muito… Mas, muito bom o seu conto. Você pensou fora da caixinha. Significa que foi muito original. Diálogo… Diálogo… Conflito… Parabéns, porque voce me encantou. Sua bênção.
Deus te abençoe, Luiz! Muito obrigada! Feliz por ter gostado! 😘
Oi Priscila.
Que conto mais lindo e triste. Comovente demais esse momento de adeus, muito bem retratado!
Parabéns!
Muito obrigada, Kelly! Feliz por você ter gostado! 😘
Olá, Priscila, boa tarde
Achei seu conto muito tocante, bem ritmado e quase como um lugar-eterno, como se o fim não fosse o fim, mas que ia de novo e de novo. O jeito como os estágios do luto foram se desenvolvendo também foi bem interessante.
Senti falta de mais detalhes “inúteis” da relação das duas em alguns momentos, acho que assim a exposição não ficaria tão afiada.
Parabéns pelo conto!
Muito obrigada, Júlio! Fiz esse conto como um exercício, tinha que caber em 500 palavras então ficou bem apertado mesmo. 😁
Nossa, Pri, seu texto é lindo, apesar de muito triste. É realmente difícil aceitar o adeus… Bjs
Verdade, Fer! Mas faz parte da vida né. Obrigada 🥰
Só me ocorre uma palavra: tocante.
O coração querendo uma coisa, a razão apontando para a direção inversa.
A vida é isso mesmo. Chorar não resolve, mas é inevitável.
Parabéns.
Muito obrigada, Zulmira! Exatamente isso, razão versus emoção. 😘
Que triste história! Muito bom seu conto. Parabéns.
Muito obrigada, André! 😘
Eu também te abençoo… parabéns!!!
Muito obrigada, Cilas!😘
Tocante. Parabéns, Priscila!
Muito obrigada, Anderson! 😘
Bom conto, é a triste realidade. Lembrei-me de minha mãe no hospital. Ficou em minha memória, o nosso último olhar, quando eu ia saindo. No dia seguinte ela partiu.
Obrigada por compartilhar essa lembrança especial, Antônio! 😘
Conto emocionante escrito com a sensibilidade de quem vive tudo no verso e reverso. Leitura agilizada pelo diálogo/monólogo. Parabéns, Pri. Você é vencedora! ❤
Muito obrigada, Cláudia, querida! Muito feliz que você tenha gostado! 😘
Lindo conto Pri. Bom uso dos diálogos e silêncios para ritmar a despedida dessa filha. A protagonista conversa com a mãe, mas também consigo mesmo, se preparando para o luto e o remorso de certas decisões.
A vida não é fácil.
Parabéns.
*mesma.
Obrigada, Thiago! Sim, não é fácil, mas ainda vale a pena! Feliz que tenha gostado!😘
Lindo, minha querida, escrito com coração e com o lugar de afeto de qeum passou por isso. Amo você.
Obrigada, Paula, querida! Também amo você! 🥰😘
Como não chorar?
Muito tocante.
Muito obrigada! Fico feliz com seu retorno! 😘