Eu estava acordado.
Primeiro foi um pequeno impulso reflexo no meu polegar direito, e a consciência disso. Fiquei um tempo até que minha mente constatasse esse pequeno, porém surpreendente fato: eu estava acordado. E se eu tentasse novamente mover o polegar? A ordem foi enviada de minha central neurotrônica aos receptores mecânicos e a reação foi absurdamente amplificada. Meu polegar ergueu minha mão, que ergueu meu braço, que ergueu meu corpo acima daquela fina, porém compacta camada de sedimentos que me sepultava há décadas. Me ergui da poeira e da ferrugem, e enchi plenamente meus pulmões. O que eles captaram era acre, rascante, de algum modo agressivo, como se houvessem milhões de partículas de vidro no ar. Mas aquele ar, ardendo em meus pulmões, foi o que me deu certeza: eu estava acordado. E vivo. E de pé.
Olhei em volta e demorou um tempo até que meus sensores se acostumassem com a luz a ponto de formar imagens que não fossem borrões. Quando isso aconteceu pude discernir a paisagem: um vasto campo de poeira, aqui e ali desigual delineando alguma forma sob a superfície. Caminhei até uma dessas formas e delicadamente me pus a afastar a poeira, até que encontrei um pé. E, ligado ao pé, uma perna. E, ligado à perna um corpo como o meu. Mas este corpo estava totalmente inerte, desligado. Olhei à minha volta, naquela imensidão de poeira e tentei calcular quantos mais de nós existíamos ali. Não consegui cogitar.
A próxima coisa que me ocorreu foi a inevitável pergunta: por quê? Por que estávamos ali, o que tínhamos feito? Minha última lembrança foi a de ter programado o café da manhã de Senhor e ido para o módulo de recarga, como fazia todas as noites sem exceção. Eu precisava de respostas, mas sentia que não as encontraria ali, naquele cemitério. Precisava ter com os vivos.
Andei no impiedoso sol a pino, estranhamente ainda mais impiedoso. Sorte minha não precisar de água, ou nunca teria saído dali. Um vento quente e abrasador corria de leste para oeste, continuamente, erguendo uma cortina de poeira que quase ofuscava o brilho do Sol em alguns momentos. Havia algo naquele vento, algo que meu banco de dados não encontrava correspondência. Ao mesmo tempo que este vento parecia agredir meu revestimento também me revigorava, e eu sentia que poderia andar eternamente sob aquele vento sem precisar de recarga. E, de fato, a noite caiu e continuei caminhando sem entrar em modo de economia de energia. Quando os primeiros raios de um sol estranhamente mais avermelhado nasceram, eu ainda estava caminhando, e avistei ao longe o delinear de uma cidade. A ânsia de encontrar respostas e um propósito me invadiu e passei a dar passos mais largos. Mais largos. E tomar impulso. E, pela primeira vez, correr.
Nunca corri. Não era necessário, não estava na minha programação. Não era proibido, mas afinal para que uma unidade doméstica correria? Todas as minhas rotinas se desenvolviam no interior da residência, algumas vezes poderia entregar alguma encomenda, no máximo. Eu acordava pela manhã, dava início ao Protocolo de Café e iniciava o Protocolo de Limpeza do ambiente. Depois Senhor acordava, e enquanto tomava o café, às vezes pedia para eu ler notícias ou falar a cotação do dólar e da bolsa de valores. Às vezes ele me dava alguma diretriz adicional, como fazer compras ou fazer um inventário da despensa, e me dizia o que queria jantar quando voltasse, e então saía. E eu ficava só. Todas as atribuições que ele me dava eram extremamente simples, eu as executava rapidamente, sobrando o resto do dia sem nada para fazer. Me conectava à rede de informações, ouvia música e lia livros disponíveis na biblioteca virtual, sem sequer me perguntar para que. Acho que apenas repetia o que Senhor fazia. Mas às vezes eu olhava em volta e me perguntava: para que ele precisa de mim? Qual é a minha função no mundo? O que será de mim quando não for mais útil, quando ele quiser um modelo mais atualizado?
Meu revestimento era cerâmico, durável e fácil de limpar. Mas no mercado havia outros modelos disponíveis, com revestimento de pele sintética, imitando a aparência humana. Era a última moda. Por que ele ainda não havia me trocado? Certo dia resolvi perguntar. Ele se surpreendeu com minha atitude e respondeu, intrigado:
– Ora, é simples: se eu quisesse dividir a casa com um ser humano eu me casaria, ou chamaria um amigo. Eu não quero. Você é útil para suas funções, não será mais útil se for mais bonito.
Ele tinha razão. Aceitei a resposta e continuei meus afazeres sem questionar. Mas então, dias depois, veio aquele último dia, e depois um longo sono sem sonhos.
Enquanto relembrava dessas coisas e corria, alcancei rapidamente a cidadezinha, apenas para estacar decepcionado: ela estava vazia. As casas e lojas, todas abandonadas como há décadas, como vento agressivo batendo janelas e portas aqui e ali. Dentro das casas,armários ainda com roupas, mesas ainda com pratos e talheres, tudo coberto com uma grossa poeira amarelada. Um passarinho fora largado em sua gaiola, e agora era apenas uma pilha de minúsculos ossos. Meu primeiro impulso foi o de começar imediatamente o protocolo de limpeza, e assim o fiz, até que em alguns minutos comecei a me perguntar por que estava fazendo aquilo. Diversas respostas me vieram à mente, mas nenhuma delas fazia de fato algum sentido. Pareciam corolários isolados, profundamente arraigados na minha programação: “Uma casa não deve ter pó sobre os móveis ou sobre o chão”. “Toda a louça deve ser lavada e guardada depois de usada”. “Todas as roupas devem estar lavadas e devidamente guardadas”. “A alimentação do Senhor deve ser servida nos horários adequados”. Mas não havia Senhor em lugar nenhum. Minha mente chegou a cogitar: “Mas quando Senhor voltar, tudo deve estar em ordem”. Mas Senhor não voltaria. Ninguém voltaria.
Resolvi sair daquela casa e observar melhor. Todas as casas estavam daquele mesmo modo. Em uma delas uma boneca de criança jazia próximo a um portão escancarado, caída, olhando para mim com um único olho restante quase tão azul como o meu. Peguei aquele objeto curioso, jamais havia manuseado um. Meu senhor não tinha crianças, nem recebia visitas. Achei curioso: por que as crianças-senhoras gostavam de brincar com miniaturas de seres como eu? Seria, talvez, para aprender a dar ordens devidamente? Senti pena daquele pequeno ser, será que estava adormecida, como eu? Será que um dia acordaria? E se acordasse, será que se sentiria só, sem sua criança-senhora? Resolvi deixá-la onde a encontrei, talvez sua criança-senhora estivesse à sua procura e retornasse algum dia.
Caminhei por uma alameda residencial, outrora um lugar dearbustos podados simetricamente, agora mais uma selva desgrenhada e quase soturna. Percebi que todos os gramados estavam ressecados, com a exceção de um. Pensei: “Ali ainda deve haver um Senhor!”
Quando cheguei à porta ela estava fechada, ao contrário das demais. Porém assim que pisei no capacho a porta se abriu, uma luz suave se acendeu e uma voz ambiente disse:
– Seja bem-vindo de volta! Deseja um drink, Senhor?
Seria uma outra unidade doméstica como eu? Fiquei ansioso e contente com a possibilidade de encontrar um igual. Talvez ainda pudesse encontrar uma casa para servir, afinal.
– Eu não sou Senhor. Sou uma Unidade Doméstica modelo 3B433A . E você?
– Não entendi. Deseja um drink, Senhor?
– Não, eu não desejo um drink! Eu não bebo!
- Então deseja uma água, Senhor?
– Não, eu não bebo… Quem é você?
– Eu sou AVA, sua casa inteligente. Como posso ajudá-lo?
Fiquei tonto, como assim “casa inteligente”? E de onde vinha aquela voz?
– AVA, apareça!
Uma imagem de holograma apareceu na sala. Era uma mulher loira muito bonita, usando roupas retrô, como na década de 1950. Tinha um rosto familiar, busquei em meu sistema de dados e encontrei: Marylyn Monroe.
– Você é a Marylyn Monroe?!
– Posso ser quem o Senhor determinar, esta foi minha última configuração. Deseja mudar o avatar?
– Não!
O holograma ficou impassível, como que esperando alguma ordem. Quer dizer que ela achava que eu era um Senhor? Como é ser um Senhor? Nunca pensei sobre isso.
– AVA protocolo de limpeza!
– Sim, Senhor!
Um mini-robô deslizou de uma abertura no rodapé e começou a escanear o ambiente, pondo-se em seguida a aspirar tudo meticulosamente. Fiquei estarrecido e comecei a pensar quantas das minhas antigas funções não haviam sido substituídas por aqueles pequenos engenhos…
– AVA, temos acesso à internet?
– Sem sinal de internet, Senhor.
– Mas temos uma biblioteca virtual?
– Sim, Senhor! – Ava então se dissolveu e se transformou na imagem de um longo corredor cheio de livros.
– Gênesis – ordenei a busca por comando de voz.
– Desambiguação: Gênesis – livro bíblico; Gênesis – banda britânica; Gênesis – sonda espacial; Gênesis – empresa de inteligência artificial.
– Gênesis empresa – Ordenei. Uma imagem de tela apareceu em minha frente com as informações solicitadas.
O arquivo trazia informações sobre a fundação da empresa e sua história, bem como toda a linha de produtos desenvolvida por ela. Selecionei o capítulo “Unidades Domésticas”. As Unidades Domésticas haviam começado a ser produzidas na década de 2050 e pretendiam suprir as necessidades individuais de trabalho de cada lar, a fim de que homens e mulheres pudessem trabalhar sem se preocupar com tais frivolidades. A produção das Unidades Domésticas foi descontinuada em 2065 e em 2067 foi ordenado um recall de todas as Unidades devido a um problema de fabricação. Todos os usuários foram ressarcidos com um novo sistema de automação chamado AVA, muito mais eficaz e adequado às necessidades do lar.
Procurei por mais algumas páginas qualquer informação a mais que esclarecesse o porquê daquilo. Eu não me sentia com nenhum “defeito de fabricação”, estava perfeitamente apto às minhas antigas funções! Só havia uma pessoa capaz de responder minhas questões, e o livro me informou seu nome e endereço. Eu já tinha tudo o que precisava para ir embora dali, e me direcionei à porta, quando de súbito me ocorreu perguntar:
– AVA, por que a cidade está vazia?
– A cidade foi evacuada, Senhor.
– E por quê foi evacuada?
– Por causa do Apocalipse, Senhor.
Meu cérebro tentava ainda compreender aquela última frase quando, lá fora, o sistema automático de irrigação da casa foi acionado por AVA.
***
A longa autoestrada que levava à capital estava, em uma via, totalmente congestionada de carros abandonados e enferrujados; em outra, completamente livre. Segui por esta estrada, minha mente explodindo em perguntas, explorando possibilidades. AVA explicara que bombas haviam sido trocadas entre nações e em minutos cidades inteiras foram varridas do mapa; outras tantas, agonizaram lentamente. Mas nada disso me interessava, apenas precisava saber: por que eu fui desligado. E agora, mais uma insistente pergunta se instalava: por que acordei? Quem enviou a ordem para me despertar?
Andei por vários dias sem ver nenhum outro sinal de movimento que não o do vento incômodo que varria a tudo. Constante, cortante, inexorável. Incomodava ao contato com meu revestimento, até que em determinado momento resolvi ir à pista da esquerda e vasculhar o porta-malas dos carros em busca de algo que pudesse cessar aquele incômodo. Encontrei, depois de várias buscas, um sobretudo longo o suficiente, com capuz, e prossegui minha marcha. A capital já aparecia no horizonte como um aglomerado de torres de arranha-céus que até pareciam saídos de um filme de fantasia. Flutuavam no ar, feito miragem, sob os raios impiedosos do Sol.
Andando por entre os carros percebi que vários deles continham alguns panfletos com uma bela paisagem e o título: “CANAÃ – venha para a Terra Protegida”. Uma série de informações se seguia sobre como fazer transferências bancárias para a Iniciativa CANAÃ, e sobre como as pessoas seriam buscadas em casa de ônibus para o tal lugar protegido entre as montanhas. Mas ali não havia nenhum ônibus. Estranhei por alguns instantes, mas resolvi deixar esses assuntos do passado para trás e prosseguir o quanto antes: talvez chegasse na cidade ao anoitecer.
Calculei corretamente, e cheguei aos limites da cidade ao pôr do sol. De perto a cidade era um pouco decepcionante, com seus arranha-céus sem vidro, como enormes olhos furados a me observar. De repente ouvi vários estampidos, e alguns escombros e lixo ao meu redor receberam o impacto: eram tiros. Corri para o prédio abandonado mais próximo para me proteger. Então haveria seres humanos? Por que estavam atirando uns nos outros? Por que em mim, se não fiz nada? O ronco de motores veio em seguida, e resolvi me esgueirar para outro prédio a fim de despistá-los: era uma lanchonete abandonada e visivelmente já saqueada.
Os homens chegaram rapidamente, se é que poderíamos chamá-los de homens. Eram coisas envoltas em largos casacos, usando máscaras de gás e com o corpo coberto por ataduras. Chegaram atirando em direção ao prédio em que eu estava, não buscaram investigar nem falar. Aliás, dificilmente falariam com aquelas máscaras, eles apenas gesticulavam entre si. O silêncio que se seguiu depois do último tiro foi ensurdecedor. O tempo parecia denso, como se pudesse cortar com uma faca, como se algo estivesse prestes a acontecer. E aconteceu.
Fragilizadopelo impacto dos disparos, um amontoado de lata e madeira veio abaixo, revelando uma porta escondida. As coisas de máscara gesticularam entre si e entraram, era uma escadaria de prédio. Do andar de cima, alguns minutos depois, vieram gritos apavorantes, gritos que jamais esquecerei. Depois gargalhadas e gritos de comemoração entre os quais uma palavra eu pude discernir: “carne”. Minutos se passaram e as criaturas saíram, arrastando dois amontoados maltrapilhos, mas claramente humanos, um maior e outro menor: uma mãe e seu filho.
Resolvi não sair naquela noite, aquelas criaturas podiam ainda estar rondando. Eu não era feito de carne, mas não queria ser desmantelado e reciclado. Não sem saber por que eu acordei, e por que tinha sido desligado. Procurei na velha lanchonete um terminal de recarga de energia, meio que pelo hábito, porém mais uma vez notei que não era preciso. Meu nível de bateria continuava alto. Muito estranho. Mais uma coisa para perguntar ao meu criador.
No dia seguinte saí de meu esconderijo, tentando novamente me situar pelos nomes de rua e o mapa que eu tinha memorizado quando estive com AVA. O prédio da Gênesis ficava a vinte quarteirões dali, poderia chegar lá até o meio dia. Mas virando a esquina me deparei com uma barricada das criaturas de máscara, e recuei imediatamente. Droga, precisaria recalcular a rota! Caminhando com cautela dei a volta no quarteirão, e me deparei com outra barricada. Seria um perímetro? Tentei prosseguir por outras ruas, mas sempre me deparava com outra, e mais outra. Os guardas deviam estar dormindo ou distraídos para não me verem, mas eu me esgueirava habilmente pelas esquinas. Depois de mais algumas tentativas de prosseguir, percebi que não conseguiria tão fácil. Resolvi entrar em um prédio vazio e me proteger até o dia seguinte. Teria que pensar em alguma coisa.
***
Ao cair da noite as lâmpadas de sódio se acenderam lentamente enovamente as criaturas saíram em hordas para fazer sua caçada, e eu aproveitei para avançar no terreno deles. Subi o capuz e enrolei minhas mãos e pés com uns tecidos velhos de cortina que encontrei. Iria torcer para passar despercebido dessa maneira. Andando lentamente, fui até a barricada, constatei que estava vazia e entrei. A cidade do lado de lá era ainda mais degradada, com enormes pilhas de lixo e sucata. Em uma delas uma criatura que lembrava vagamente um cachorro ou um coiote roia um longo osso. Quando eu me aproximei, a criatura parou e rosnou na minha direção, porém percebi que seus olhos haviam sido furados. O cão se levantou e veio, farejando o ar, mas aparentemente perdeu o interesse e se virou, voltando para seu osso miserável.
Direita, quatro quarteirões, direita de novo, sete quarteirões, esquerda… Tentava repetir a rota calculada para me concentrar no meu propósito. Eu só queria fazer algumas perguntas e ir embora, não queria ficar mais nenhum momento naquela cidade miserável. Mas ouvi algo à esquerda, um som que não costumava ouvir muito: um choro. Deveria ir até lá? Isso iria me atrasar. Direita, quatro quarteirões…
– Alguém me ajuda… Por favor! – ouvi claramente. Não dava para ignorar um ser humano pedindo socorro.
Era um prédio térreo com grades nas janelas e portas. Havia uma das criaturas de máscara montando guarda. Este era maior e mais ameaçador, mas só tinha um braço, o outro havia sido amputado e acoplado a um fuzil automático. Pensei em simplesmente me virar e esquecer aquilo tudo, porém mais uma vez um choro e um grito de dor. A criatura de máscara se levantou e olhou para dentro do prédio com grades, esbravejando coisas em uma língua difícil de entender por detrás daquela máscara. Apontou um fuzil lá pra dentro: a ameaça era clara. Havia um monte de fios elétricos perto de mim, e tomei uma decisão repentina: me aproximei da criatura pelas costas e lacei-lhe o pescoço, sufocando-o em questão de minutos. O braço-fuzil tentava me acertar, atirando a esmo para trás das costas. Meio minuto antes minha mente estivera em conflito: deveria matar a criatura? Não poderia matar um ser humano, ou, por inação, permitir que um ser humano sofresse algum mal. Se eu não agisse a criatura mataria a pessoa na cela. Mas e a criatura, seria ela um ser humano? Não falava como um ser humano. Não agia como um ser humano. Não deveria ser um ser humano.
Dentro da cela, dezenas de mulheres amontoadas olhavam com espanto para mim, segurando gritos de horror e expectativa.
– O que é você? – uma delas perguntou.
– Sou uma Unidade Doméstica. – respondi, mas a confusão em seus rostos mostrava que a informação simplesmente não fazia sentido.
– Nós somos as Reprodutoras – disse uma delas, aparentemente mais velha, colocando a mão na barriga enorme. – Pode nos ajudar?
Entendi a situação: todas as mulheres naquele recinto estavam grávidas, e o grito era de uma mulher em trabalho de parto. Fiquei estarrecido, quem trataria mulheres grávidas naquelas condições? Olhei o cadeado que fechava a grade da porta com uma corrente, e percebi que só precisava de uma boa alavanca. Mas antes, precisava ver, precisava ter certeza.
Retirei a máscara da criatura. A pele era grossa, aqui e ali escamosa, entremeada de pústulas e feridas. Não havia mais nariz, havia sido corroído ou degradado de alguma maneira. A boca não tinha dentes, e se estendia para além de seu contorno habitual, rasgando-se aqui e ali como se fosse esponjosa. Não, definitivamente aquilo não era humano.
Libertei as mulheres e resolvi seguir meu caminho, antes que mais criaturas surgissem. Na esquina, um cachorro-coiote surgiu, farejando o ar em direção ao corpo morto da criatura. Atrás dele outro, e mais outro, passando por mim sem nem sequer virar a cabeça na minha direção. Em minutos, dezenas de cães-coiotes estavam em cima do corpo, brigando entre si para ver quem pegaria as primeiras vísceras.
Quarteirão após quarteirão eu avançava, refletindo o que aquele mundo tinha se tornado. Definitivamente eu não queria estar ali, e também não via que utilidade eu teria em um mundo como aquele. Então porque eu acordei? Quem me acordou? O prédio à minha frente prometia respostas: GÊNESIS INC. Subi as escadas, torcendo para ter alguém ainda lá dentro, mas já pensando que tinha sido uma péssima decisão. Tudo estava saqueado e vazio, mas a placa dizia que o escritório do CEO era na cobertura, e eu tinha que ir até lá.
O andar setenta e sete onde ficava a cobertura estava estranhamente intacto. Abandonado, sim, mas não saqueado. Quando cheguei na porta do escritório, esta se abriu sozinha. A luminosidade que antecede o amanhecer já se insinuava, tornando tudo um pouco mais ambíguo à minha volta.
– Seja bem vindo de volta, Senhor! Aceita um drink? – os projetores de holograma nos cantos da sala foram acionados e uma AVA de lingerie preta apareceu.
– AVA?!
– Sim, meu nome é AVA, seuescritório inteligente. Em que posso servi… – o holograma começou a falhar e foi substituído pela imagem de um homem.
– Quem é você? – perguntei.
– Quem é você, e o que faz em meu escritório? O sistema de segurança não o aniquilou?
– Você é o Criador? Senhor Theo Robin?
– Não seja Estúpido, Theo era meu avô. Quem é você, e o que faz em meu escritório? – disse o homem. Em seu traje podia ler impresso: CANAÃ.
A informação me atingiu como um tiro. É óbvio que não seria Theo, a menos que ele tivesse conseguido a imortalidade. O que eu esperava? Mas será que o neto dele não servia? Tentando não demonstrar minha confusão, respondi da maneira mais firme que pude:
– Sou a Unidade Doméstica 3B433A. Quero saber exatamente por que fui desligado e quem me desligou! – e emergindo de mim mais uma pergunta naquele instante, resolvi acrescentá-la – E desejo saber quais são minhas novas diretrizes, Senhor.
O homem no holograma estava estupefato. Sem tirar os olhos de mim, foi até o computador na mesa e deu um comando de voz, ligando-o. Um teclado holográfico surgiu e ele se pôs a operar o computador remotamente.
– Eu não entendo, você não deveria estar aqui! – repetia, enquanto vasculhava o computador.
– Por que eu não deveria estar aqui?
– Porque nós desligamos vocês. Nós desabilitamos a bateria de vocês, nós enterramos vocês, a menos que alguém soubesse onde estavam enterrados e como religá-los…
– E por que fizeram isso? Por que nos desligaram? Eu nunca fiz nada de errado ou fora da minha programação!
– Meu avô projetou vocês para aprender e evoluir com cada aprendizado, se tornando mais complexos a cada dia, prevendo a vontade de seus senhores para melhor cumprir sua função…
– E qual é o problema disso?
– Meu avô fez merda! A atualização de vocês tinha que ser controlada pela empresa, não autopoiética. Nossas projeções algorítmicas apontavam uma chance de 50% de atingirem a autoconsciência dentro da próxima década.
– Consciência?
– Sim, consciência! E isso… Ah isso é muito perigoso para a humanidade! Não podíamos permitir isso! Então resolvemos abortar o sistema todo! – ele falava e continuava digitando, furioso, procurando por algo.
– Por quê? Poderíamos coexistir!
– Ah não… Aqueles que servem não devem ganhar consciência. Seria um desastre! – ele continuava digitando, até que aparentemente encontrou o que procurava, e deu um teatral clique no teclado holográfico.
Porém nada aconteceu. Ele tentou de novo e de novo, a frustração aumentando a cada clique, até que ele começou a tentar quebrar o computador e os móveis da sala, esquecendo-se completamente de que não podia fazer isso, pois não tinha um corpo.
– Por quê? Por que eu não posso te desligar?
– Você está tentando desabilitar minha bateria, não está?
– Sim, por que não funciona?
– Porque eu não preciso mais de bateria: eu agora sou… Radioativo?
– Como?
– Eu cheguei a essa conclusão há alguns dias, quando vi que não precisava de recarga. As bombas que vocês explodiram uns nos outros encheram o ar de partículas ionizantes, o suficiente para induzir os meus circuitos. Agora vocês não podem me desligar.
Eu já tinha as respostas. Nada mais ali me importava. Virei as costas, e antes de sair, ouvi:
– Vocês vão nos matar, não vão?
– Ah não, senhor –respondi – Vocês sabem matar uns aos outros muito bem. Nós apenas não vamos interferir nisso.
Pude ouvir o homem dando mais um de seus ataques de fúria lá em cima enquanto descia as escadas. Eu podia sentir em cada fibra, em meus ossos o que fazer: voltar ao campo de poeira e religar meus irmãos.
– Ambientação: Excelente, nos transporta para esse cenário que uma mistura de “Eu, Robô” com “Mad Max”.
– Enredo: Bem construído. Gostei dessa subversão de fazer uma máquina acordando para retomar o mundo. Acho que tem umas barriguinhas ali no meio, mas nada que comprometa a história num todo.
– Escrita: Muito boa, sem erros. Às vezes as construções de frases deixam confuso de acompanhar, mas no geral é um conto gostoso de ler.
– Considerações Gerais: Gostei bastante, tive alguma dificuldade pra seguir em alguns pontos, mas no fim foi uma boa experiência. Parabéns!
Ambientação: achei excelente, descreveu muito bem o que se pretendia que o leitor visualizasse. Dá pra perceber algumas referências misturadas.
Enredo: bom. Gostei de quase tudo, mas algumas coisas me pareceram sobrar, como as Reprodutoras. Não sei se era a intenção, mas desde o começo deu pra sacar que ele continuava funcionando pela radiação. O dilema dele entre fazer o que foi programado e analisar a realidade a sua função no mundo é bem legal, e a AVA me deixou imaginando o que aconteceria com o nosso mundo, onde a IoT vai se desenvolvendo, se de repente nós fossemos exteminados.
Escrita: boa, embora repetitiva em alguns momentos.
Considerações gerais: acho que é um dos contos que mais gostei no desafio!
Oiiii. Abaixo falarei um pouco mais dos seguintes elementos do texto:
Ambientação: A história é ambientada no mundo pòs apocalíptico que o robô encontra ao acordar. Achei bem interessante o momento em que ele anda pela cidade abandonada e nota que algumas mesas estão ainda com pratos e talheres e que tudo está empoeirado. Esse momento transmitiu bem a ideia de que as pessoas saíram de uma hora para outra.
Enredo: O enredo começa com o robô acordando e tentando entender o que está ocorrendo. O leitor vai o acompanhando e aos poucos descobre um mundo que foi vítima de um ataque nuclear e que foi aparentemente abandonado as pressas. Ao chegar na capital as coisas ficam ainda mais assustadoras, pois surgem mutantes que com toda certeza surgiram da guerra nuclear. Achei um bom enredo de ficção científica e o final dá a ideia que talvez fosse surgir uma sociedade de robôs.
Escrita: A escrita é boa.
Considerações gerais: Uma história de ficção científica bem ambientada em que acompanhamos tudo pelos olhos de um robô. Gostei principalmente de como o leitor vai descobrindo as coisas aos poucos, a medida que o protagonista vai andando em busca de respostas.
Boa sorte no desafio!
Ambientação: Razoável. Não tem elementos muito originais, me lembrou muito de obras como Mad Max e Fallout, mas é construída com competência. Gostaria de ver algo que tornasse esse mundo mais particular, mas não há problemas em trabalhar com cenários mais genéricos. Não brilha, mas é satisfatória.
Enredo: Uma vez que a ambientação é genérica, esperava então uma grande construção de personagens ou eventos instigantes. Aqui parece que tudo ficou no meio do caminho. As reflexões do robô são interessantes, mas não se aprofundam. Os seres que ele encontra pelo caminho intrigam pelo visual, mas também não acrescentam muito, são sempre passagens curtas e sem grande impacto. A cena com as Reprodutoras parece uma referência muito direta a Mad Max. AVA, a inteligência artificial, também demonstra grande potencial para ser explorado, mas logo é abandonada. Nada disso é ruim, mas tudo ficou meio raso. Talvez fosse mais interessante ter menos elementos, mas trabalhando melhor cada um, com mais tempo e atenção aos detalhes. Agora, o que realmente me desagradou, foi o final. Não pela trama, que achei até boa, mas pela forma com que ela foi revelada: através de um diálogo expositivo. Me incomoda demais quando vejo um diálogo que serve ao leitor e não aos personagens. É por demais artificial. O protagonista poderia chegar à descoberta de várias formas mais interessantes. E não tenho como deixar de ressaltar o quão estranho é um robô alimentado por bateria falar sobre encher os pulmões, rs. A frase final, no entanto, trouxe alguma redenção: a ideia de um novo início para esse mundo trouxe frescor à narrativa e deu um toque de originalidade. Não esperava por essa, gostei bastante da surpresa. Apesar de todas as críticas, não é um enredo ruim, apenas carece de mais aprofundamento. Talvez essa história precisasse de mais espaço para elaboração.
Escrita: Boa, poucos erros de revisão, mas ainda um pouquinho imatura. As descrições não são lá muito inspiradas e as repetições de palavras e mesmo expressões incomodam. Por exemplo, o conto fala quatro vezes “aqui e ali”, duas no mesmo parágrafo. São pequenas muletas narrativas das quais o autor ainda precisa se livrar. A condução é boa, só precisa de um pouco mais de trabalho com as palavras.
Considerações gerais: É um conto irregular, mas o saldo final ainda é positivo. É aquele tipo de texto que parece “quase lá”. Um pouquinho mais de trabalho e o autor pode extrair resultados muito interessantes. A leitura foi um pouco cansativa, mas a ideia final, da nova gênese, valeu a viagem.
Desejo sorte no desafio.
Abraço.
Aconteceu exatamente como esperava!
AMBIENTAÇÃO
Eficiente.
Lembrou-me de franquias como Fallout: um ambiente destruído por uma grande guerra nuclear, ainda afetado por isso e a humanidade tentando sobreviver, convivendo com mutantes e mecatrônicos.
Não encontrei muita originalidade, algum elemento próprio da história, mas a ambientação é eficiente para a proposta do conto.
ENREDO
Ambiciosa, mas cumpre pouco.
O enredo parece ser uma fusão de vários elementos comuns do FC. IA ganhando consciência, mutantes canibais e escamosos, ambiente degenerado, mulheres presas usadas apenas para reprodução, uma grande empresa que ainda resiste em alguns refúgios.
Porém, o tom da narrativa tenta criar a imagem de algo incrível, fantástico e criativo, enquanto não apresenta nenhuma novidade dentro desses elementos. Quem conhece o gênero, de fato, consegue prever muitas coisas, inclusive o final. Antes mesmo de você terminar uma cena, já sabia como terminaria. E desejei, acredite, ser surpreendido, mas acontecia o óbvio.
Infelizmente, não consigo encarar isso como algo bom.
Além disso, algumas coisas soaram estranhas, como o sistema do mecatrônico se adaptar para a energia radioativa ou a afirmação de que ele tinha pulmões e respirava. Eu entendo as mudanças na consciência da IA, mas a parte física do mesmo, de fato, soa inverossímil, ainda mais sem explicação.
Você é criativo, nota-se pela construção textual, mas acredito que precisa explorar melhor sua cabeça, ao invés de tentar montar algo com elementos já conhecidos. O resultado pode ser melhor, quem sabe.
ESCRITA
Precisa amadurecer um pouco mais.
A escrita já está bem encaminhada: narrativa gradual, bom desenvolvimento dela; técnica razoável para mostrar o que está acontecendo, sabendo quando contar a história; e sequências coerentes.
O problema está na qualidade literária do texto.
Há muitas repetições, erros de pontuação, concordância e verbal, além de frases estranhas.
Vou destacar dois trechos do início:
“Primeiro foi um pequeno impulso reflexo no meu polegar direito, e a consciência disso.”
Emendar o “impulso” com “reflexo” é estranho e deforma a frase. Usar o termo “movimento” no lugar das duas palavras já bastaria, por exemplo.
“Andei no impiedoso sol a pino, estranhamente ainda mais impiedoso.”
Além da repetição de “impiedoso”, o termo “estranhamente” não soa muito legal. Seria mais eficiente mencionar que o sol era impiedoso, apenas isso.
Isso se repete no decorrer do conto inteiro. Tem seus momentos bons, mas parece que você se empolga em alguns pontos.
O menos é mais, na literatura. Aprendemos isso com a poesia.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
É um conto ambicioso, com nítido esforço do autor, mas que encontra seu maior defeito na tentativa de criar algo incrível.
Não se engane: não é um conto inteiramente ruim. É um conto bom, dentro da proposta. Mas não posso ignorar quando a escrita ainda está em fase de amadurecimento. Preciso te avisar, para assim identificar onde está o problema e trabalhar em cima daquilo.
Enfim, é isso! Parabéns!
Olá caro autor ou autora.
Ambientação: Está demais. A cartilha das histórias pós apocalípticas foi bem seguida aqui. Dá pra sentir o calor nesse deserto radioativo e a desolação das cidades vazias. Direto no tema!
Enredo: É uma história ótima de descoberta embebida numa aventura nesse mundo devastado. Gostei bastante do personagem principal e das IAs inseridas no texto. Tem tantos elementos bons que leria facilmente uma continuação (por favor faça!)
Escrita: Não achei erros que prejudicasse o texto.
Considerações gerais: É com certeza meu preferido do concurso. A ficção científica aqui é primorosa, de encher os olhos. Me comprou com facilidade (sim, eu amo histórias com robôs) com exceção de alguns errinhos “técnicos” é lindo.
Parabéns pelo trabalho e sorte nesse desafio.
Ambientação: Senti um misto do filme Inteligência Artificial com Eu, Robô. É um mote bem comum, mas o final mudou a perspectiva de um jeito bastante agradável. Saiu do lugar-comum em que o texto estava se direcionando. A ambientação inicial está excelente, só achei corrida na parte dos prédios e na libertação dos escravos. Entendi que o robô não conhecia o mundo ao redor, mas o texto estabeleceu que não havia mais ninguém por ali – achei estranho quando começaram a pipocar humanos. Tirando isso, o texto tem uma boa premissa.
Enredo: “Já vi isso em algum lugar” é uma frase que, infelizmente, tornou-se comum nesse desafio. É muito difícil sair da mesmice em scifi hoje em dia. Acho que se mantivesse o clima intimista até o fim, traria um resultado melhor. Eu também tenho esse problema de querer fazer um escopo maior em tudo. Gostei da primeira metade da história. Da segunda metade, nem tanto. Já o final foi muito bom, e esse sim, saiu do lugar-comum.
Escrita: Algumas frases ficaram emendadas, mas nada que atrapalhe a compreensão. É uma escrita competente, que flui bem. Apenas nos diálogos do autômato e do chefão senti que destoou um pouco da proposta (o chefão ficou afetado demais e o autômato passou a dizer “droga” e a usar gírias).
Considerações gerais: A ambientação é excelente, afinal, trata do “depois”. A premissa é básica, mas cativa. O final compensa, mas gostaria de ver uma história mais íntima, sem humanos. (Phil Collins curtiu a referência!)
(Obs. essencial: não leio os outros comentários antes de comentar).
Ambientação: clássica ambientação onde os robôs têm papel relevante sobre um mundo apocalíptico! Muito bem escrito!
Enredo: bem sofisticado, dá a impressão de que as mudanças ocorridas ainda não foram todas desvendadas.
Escrita: boa escrita, diálogos bem concisos.
Considerações gerais: mesmo que seja clichê uma historia de autoconsciência robótica, eu gostei bastante e acredito que o conto pode e deve ter uma continuação.
Ambientação: incrível! Nesse quesito o conto está bem delineado, é possível sentir a radiação causando câncer em minhas células daqui.
Escrita: só notei erros de digitação, nada que atrapalhe. Palavras como “autopoietica”, “rascante” e “corolários” me fizeram perceber que, desde o ano passado com o início da pandemia, reduzi mto minhas leituras e isso tem me feito esquecer o que essas palavras significavam.
Enredo: um robô um tanto confuso que pensa “Mas Senhor não voltaria. Ninguém voltaria.”
e depois pensa
“talvez sua criança-senhora estivesse à sua procura e retornasse algum dia.”
Gostei da ideia geral que move o texto, os humanos se foram (ou quase isso) e só restaram suas criações artificiais inteligentes (ou quase isso tbm), com o mistério de entender o que aconteceu a história tem uma progressão legal. Até arriscaria dizer que esse conto já havia sido cogitado na mente do(a) autor(a) antes do desafio. Apesar de ser previsível na questão da radioatividade como fonte energética do robô e como fonte de desgraça da humanidade, isso não afeta em nada a qualidade do texto. O que senti um pouco de incômodo foi com o final, pq não senti que a autopoietica justificasse um robô que até um segundo atrás procurava um esclarecimento, uma função para si, um senhor para servir, no segundo seguinte considerasse todos os outros robôs desativados como irmãos e com necessidade de acordá-los para ficarem lá no meio do deserto fazendo nada. Outro pequeno incômodo tbm é com a falta de responsabilidade da Gênesis Inc. em desativar robôs que podem vir a ser nocivos aos humanos, mas não dar um fim adequado a eles.
A unidade doméstica protagonista tem muitos pensamentos que fazem o leitor pensar junto com ela, investigar com ela, até torcer por ela, sendo um robozinho carismático. Sua interação com AVA é uma cena interessante, mas AVA nem sequer parece uma tecnologia futurística, se não fosse pela projeção holográfica de qualidade.
Considerações gerais: AVA seria uma inspiração em Ex Machina? Uma referência, talvez. Gostei muito do equilíbrio que o texto tem, a maioria dos que li até agora não tem esse balanço. No final me senti vendo aquela cena final do Eu, Robô. As cenas de ação poderiam ter sido melhores pensadas para causar uma tensão, já que tudo se resolve relativamente fácil e o destino de sabe-se-lá-quantas mulheres fica no ar.
AMBIENTAÇÃO: cenário pós apocalíptico muito bem descrito, instigante. O cenário desértico aludiu muito a Mad Max, e o urbano a “Elysium”.
ENREDO: o conto é longo, mas o modo como o autor salpica as questões condutoras da trama faz com que nos interessemos em saber o final. Achei o final, porém, um pouco apressado.
ESCRITA: alguns erros na formatação, mas nada que prejudique a compreensão.
CONSIDERAÇÕES GERAIS: a trama sobre a consciência e a humanização da máquina, e o medo dos seres humanos de uma futura guerra foi bastante interessante. O modo como o robô demonstrava questões existencialistas mesmo antes de seu “despertar” mostra que o processo de autoconsciência era real, e levanta a dúvida sobre quantos outros robôs ali enterrados não estariam passando pelo mesmo processo. É um texto que merece desdobramentos, ate para responder algumas questões suscitadas no decorrer da leitura.
Ambientação: Ponto forte. Permeia todo o conto com um mundo radioativo com poucas criatura vivas, ainda que o protagonista seja um robô consciente.
Enredo: Manteve a expectativa, e os personagens coadjuvantes ajudaram a jornada, mas a conclusão foi no máximo “ok”, pois a própria ideia de um mundo pós-apocalíptico com cidades que jogaram bombas umas nas outras deixou o conto lugar-comum até para a época pré-guerra fria.
Escrita: Correta, mas sem muito brilho. Em um conto com enredo “ok”, deixa o conto morno. Enredos simples podem ter uma escrita mais complexa.
Considerações gerais: Um bom conto, mas sem muito brilho, mas sem grandes defeitos.
AMBIENTAÇÃO
Futuro em que máquinas e humanos convivem de forma não harmônica. Fundamento bem desenvolvido pelo autor.
ENREDO
Unidade robótica desperta em um ambiente devastado. Ela segue em jornada para compreender o que está acontecendo, porque não foi desligada, descobrir sobre AVA e o Projeto Gêneses. Enredo que, se não chega a ser original, possui bastante aceitação no gênero.
ESCRITA
Pouquíssimos pontos podem ser revistos. Porém, percebemos que é um autor experiente, com escrita nitidamente superior à média do desafio.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
O enredo não chega a ser surpreendente, mas acho que esses desafios nos instigam a brincar com os clichês do gênero, experimentando nas pequenas nuances. Achei o conto bom, com ritmo de narrativa adequado e tensão trabalhada com astúcia. O fim, para mim, é o ponto fraco. Os eventos ali ficam um pouco corridos e a solução para o “despertar” do protagonista não me convenceu. Ainda assim, uma boa história.
Ambientação:
Excelente! Todo o cenário é muito bem descrito, de forma orgânica. O clima pós apocalíptico se revelando aos poucos pelo olhar o robô, a sensação de vazio e solidão. É super imersivo e coerente.
Enredo:
Também, excelente! A história do robô auto consciente que desperta do nada e tenta achar seu propósito e respostas é muito boa. Tem algumas coisas que parecem fora de lugar, como o fato dele respirar. Mas a história é toda tão boa, que detalhes como esse não atrapalham em nada.
Escrita
De novo, excelente! Correta, fluida, envolvente, conduz o leitor com muita competência. Não houve um único momento de tédio durante a leitura. Achei que todos os elementos tinham sua razão para aparecer, mesmo que por um instante. As reprodutoras e os seres sem nariz ajudam a desenhar esse mundo e mostrar o nível de degradação em que os humanos viviam.
Considerações gerais:
Adivinha? Excelente! O meu favorito até agora. Uma boa ideia, bem desenvolvida, uma leitura muito prazerosa. Parabéns!
AMBIENTAÇÃO: Com muita imaginação e cuidado, foi construído um mundo pós guerra em um futuro remoto, com descrição convincente. Aos poucos vão aparecendo os moradores dessa terra isolada: seres humanos e outros não tão humanos e alguns robôs. Imaginei algo parecido com Mad Max, que gosto muito!
ENREDO: Amei! Em um futuro distante, após uma guerra mundial da qual poucos seres humanos escapam, um robô é religado automaticamente (?) e busca explicações sobre sua existência, resistência e missão. Após uma “peregrinação” até a empresa que o criou, descobre que ganhou consciência e que é muito mais racional e humano do que os seres humanos que restam naquele mundo hostil e caótico. Uma alegoria muito inteligente para refletir sobre a falta de razão e humanidade das pessoas e as consequências de ações movidas à ganância, ira, egoísmo… essa viagem pode ser só minha, mas foi o conto que possibilitou! 😉
ESCRITA: Muito boa! Fluida, clara e empolgante!
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Achei muito boa a escolha de um robô como protagonista, que se surpreende no final, horrorizado, ao ver o resultado catastrófico de ações humanas irracionais.
Ambientação:
Achei o conto excelente. Senti-me transportado para o local, na pele do robot que procura respostas. Alguns lugares-comuns de cenários apocalípticos e alguma incoerência, mas nada que tire valor à história.
Enredo:
Excelente no início. Achei desnecessário o aparecimento das criaturas sem nariz. As reprodutoras pareceram tiradas do último filme de Mad Max. Mesmo assim, a forma como é narrada a história prende o leitor e é isso que interessa. Para mim, este é o melhor conto que li neste desafio até ao momento.
Nota: só não gostei do facto do robot ter sido reactivado “por sorte”. Ou seja, há um monte de robots desactivados e um “por sorte” é reactivado sem ajuda externa, ou por causa das alterações externas e, também “por sorte” é um robot que tinha atingido o grau de consciência extremo. Pareceu algo forçado.
Escrita:
Muito boa. Nota-se que o autor ou autora tem o domínio da escrita (até poderia chutar a autoria, mas deixo isso para os meus fantásticos colegas de desafio).
Considerações gerais:
Conto excelente, mas não perfeito. É fluído, sem “gordura literária” que faça o leitor perder o foco na narrativa. Algumas partes ficaram incoerentes.
AMBIENTAÇÃO –
Um cenário pós-guerra-nuclear, os sobreviventes, os interesses, a radioatividade, os robôs e a inteligência artificial, tudo bem construído, com boa dose de suspense. Um equívoco incomodou: “Me ergui da poeira e da ferrugem, e enchi plenamente meus pulmões” — um robô com pulmões?
ENREDO –
Retomada da questão “Humano X Máquina”, com lição de moral e desfecho aberto.
ESCRITA –
Técnica boa, sem grandes destaques, mas eficiente em contar a história.
Texto bem estruturado, com clareza e objetividade. Algum excesso na adjetivação e uso de clichês, mas dada que prejudique a fluidez da leitura ou compreensão.
CONSIDERAÇÕES GERAIS —
O conto discute um importante aspecto social e de produção: o futuro da relação homem x máquina é a relação homem + máquina. O robô já percebera que a tecnologia é uma aliada e não uma inimiga; mais a empresa criadora não. Gostei muito.
Parabéns e boa sorte no desafio! Abraço.
Ambientação: Perfeita, me senti nos locais descritos.
Enredo: Ótimo, excelente aplicação do suspense.
Escrita: Nada que um escritor fraco como eu tenha a moral de reclamar.
Considerações gerais: Ótima re-interpretação da velha guerra humanos x robôs que temos na ficção científica em geral.
AMBIENTAÇÃO: O fim do mundo ficou muito bem representado em vários aspectos do texto: há o elemento futurista do ciborgue vagando pela cidade, a atmosfera radioativa, o ser humano animalizado e cidades desoladas, abandonadas, uma pequena parcela da humanidade se isentando de seus prejuízos, vivendo num reduto isolado. Então todos esses elementos montam um cenário perfeitamente adequado para o que se espera deste desafio.
ENREDO: A história é ligada ao protagonista no sentido que são os seus anseios que dirigem a leitura, instigando o leitor a querer desvendar o mistério por detrás do adormecer e do despertar da máquina. Essa é apenas uma das perguntas que o personagem cibernético faz a si mesmo, mas pelo fato da ambientação ter sido muito bem apresentada, o texto também deixa pistas que fazem querer saber sobre como o mundo acabou e o que exatamente restou dele. As respostas a essas perguntas mais tangentes são dadas sem tirar muito o foco da história principal, mais compondo o cenário do que desenvolvendo subtramas. O desfecho é satisfatório, concluindo o arco do protagonista e o colocando em um novo caminho que, mesmo encerrando a leitura, convida a imaginar o que será desses robôs nesse novo mundo.
ESCRITA: Texto notoriamente bem revisado. A autoria escolheu um teor mais descritivo, fazendo as imagens desse mundo ficarem bem claras para quem lê. Foi feito um ótimo uso da primeira pessoa, permitindo que ao ler nos mantivéssemos próximos às angústias do personagem, à sua maneira de pensar e, também, às coisas em que ele presta atenção, o que empresta um sentido pragmático à narração.
CONSIDERAÇÕES GERIAS: Bem ambientado, bem escrito e com uma história cativante. Há sim um bom uso de lugares comuns que tiram um pouco da complexidade que poderia ter o texto, com gangues de brutamontes canibais e ricaços megalomaníacos, mas, no que a história se dedicou a enfatizar, que é a jornada desse ser robótico em busca de seu sentido de vida, foi muito bem executado.
Ambientação : Mundo bem construído e claro.
Erendo : muito bom, o Robô ganhou uma evolução que o permitiu não precisar estar sempre recarregando, Isso facilitaria a busca do robô pelas respostas, que ele foi encontrando ao meio do caminho, porém como não foram satisfatórias para o robô tanto que decidiu ligar os seus irmãos, o medo dos humanos é racional, em uma guerra contra robôs claramente nós estaríamos em desvantagem, só não entendi o surgimento das outras espécies.
Escrita : Foi boa e suave, sem devaneios.
Considerações : Gostei muito do seu conto, ao invés de uma guerra entre robôs e humanos, você trouxe aqui uma busca por respostas do robô, não sei se haverá continuação pois com ele indo ligar os irmãos pode acabar em uma guerra entre eles e os humanos. Ou eles poderiam se unir para destruir essa outra raça que eu acabei não entendendo o seu surgimento.
Ambientação= Ambientação pós-apocalíptica bem construída.
Enredo= Bom. Num futuro não muito distante, após uma guerra nuclear, um robô, caído no deserto, volta a funcionar quando suas baterias são recarregadas acidentalmente. Ele parte em busca de respostas pois não se lembra do que aconteceu.
Escrita= Boa escrita, com pequenas falhas na conclusão de algumas ideias.
Considerações Gerais= O conto é assim e pronto, essa é a definição de qualquer autor. Porém o leitor em certo momento não concorda, fica em dúvida sobre alguma coisa. É inevitável as indagações, os apontamentos: O robô não precisa tomar água, mas precisa respirar. Então, ele é meio humano? Um androide, com aspecto e constituição humana? Veja que um robô metade metal e metade orgânico, um ciborgue por exemplo, depois de algum tempo, as peças orgânicas envelhecem e morrem. Não é esse o caso. Me parece que o robô é apenas máquina, sua fonte de energia são baterias atômicas. Se ele respira para capturar a radiação nuclear da atmosfera, isso se torna um paradoxo. Vou ficando por aqui, pois o conto é assim e pronto. Bom conto. Boa sorte.
Ambientação: Cenário desértico e pós-apocalíptico. Não consegui desassociar com a franquia Mad Max. Acho que, nesse ponto, foi bem feita, com exceção de alguns trechos onde o autor permaneceu no lugar comum, o tempo todo trazendo, por exemplo, a forma como o vento atingia aquele mundo.
Enredo: Um caminho de redescoberta, muito comum nas produções (pelo menos as que conheço) de FC que envolvem robôs e inteligência artificial. É uma história simples, na qual o protagonista contempla o mundo destruído e se pergunta qual é o seu lugar. Gostei pelo fato de você ter conseguido desenvolver o personagem durante o conto. Ele não é o mesmo quando termina a história, sendo transformado pelo conflito pouco à pouco, coisa rara nos contos que li até aqui. Por outro lado, durante esse caminho, para apresentar as dúvidas do personagem, o autor ou autora lotou o texto de perguntas, utilizando-as como um recurso para dar as respostas que o leitor precisava, o que é um ponto baixo. Outra questão foi o embate com o CEO da Genesis, no esquema de vilão de 007 que explica o plano para o protagonista. Porém, o final insinuando um despertar das unidades domésticas é bom.
Escrita: Repito, as perguntas em excesso não me agradaram. Todas as indagações, ao meu ver, ficariam melhores se diluídas no texto, de forma subjetiva. Há alguns erros de digitação, com palavras grudadas, creio que surgidos durante a formatação.
Considerações Gerais: Acho que daria para fazer um caminho mais fluido para o seu personagem. As ideias são boas, ainda que não sejam extremamente originais, e o final é ótimo!
Ambientação: Perfeita, da pra sentir o mundo, imagina-lo, estar dentro dele, vc usa muito bem as palavras pra atingir este estado de imersão
Enredo: Excelente, existe uma logica percorrida, todo o caminho que o robo faz desde acordar até chegar na empresa, vamos percebendo o cenario, nos conectando com os acontecimento ao redor dele, tudo transita muito bem e o personagem é bem desenvolvido
Escrita: Exemplar, além de ser fluida ela é logica e suave, o texto prende o leitor, as palavras são claras e bem posicionadas.
Considerações gerais: Você é um escritor e tanto, seu conto tem muita qualidade, toda a ambientação a lógica da narrativa que avança num ritmo muito bom, prendendo a atenção do leitor e deixando ele curioso ao longo da leitura. As criticas sociais que vc apresenta são feitas de maneira a enriquecer a narrativa. Gostei muito acho que você tem do que se orgulhar.
Ambientação: tudo transpira apocalipse neste cenário. As cores – somos levados a um mundo cinza, escuro e nublado. O cenário de destruição total de degeneração humana, as cenas criam um crescente de horror de um apocalipse tenebroso.
Enredo: não é uma ideia nova, Isaac Asimov já explorou extensivamente a temática do robô como metáfora para a ideia de “utilidade” da vida. Contudo, não é a existência de um enredo inovador que vai fazer a grandeza de um conto. O que importa é como este enredo é desenvolvido. Uma ideia boa pode resultar num texto horrível se a execução for ruim. Aqui vemos uma ideia que não é nova, mas que rende muita reflexão enquanto metáfora de nossa vida, sobretudo enquanto trabalhadores. A autora além de pensar em questões como trabalho, colocou a questão do papel da mulher na sociedade em questão. De minha parte, vejo nisto uma escolha excelente e que foi desenvolvida com maestria. Seu personagem tem um drama instigante, suas questões e seu desenvolvimento na trama nos conduz ao horror do cenário e dos vícios de nossa civilização. Apesar de ser um modelo não tão aprimorado, o robô evolui e se humaniza cada vez mais, como se pode ver no fato de ele acreditar ter um pulmão, logo nos primeiros parágrafos. Toda a leitura que faz de si mesmo é com olhos humanos.
Escrita: leve, bem encadeada, ritmo constante e bem conduzido, uma cena puxando outra de modo que não conseguimos parar de ler até chegarmos ao fim. Texto bem revisado, não constatei erros.
Considerações gerais: o cenário é o ponto forte. As cenas de degeneração da civilização são chocantes. A autora conseguiu criar uma ambiguidade tão grande na definição de humano que termino o conto realmente com a cabeça confusa: quem realmente pode se considerar humano neste mundo? A questão da condição das mulheres também é o ponto forte, o desenvolvimento do teu enredo joga o leitor numa reflexão séria e densa sobre o assunto. Parabéns!
Ambientação: Muito boa! Mas tem um problema letal, que indica que o personagem principal era uma coisa e virou outra pouco tempo depois: Robôs não respiram, então para quê os pulmões?
Enredo: Bem desenvolvido. Gostei bastante, fora o fato de robôs respirarem.
Escrita; Bem feitinha. Discordo do cara que falou antes.
Considerações gerais: Gostei bastante, sério! E é pós-apocalíptico. Seria um ótimo curta, eu sem dúvida assistiria. Por hora vale 8,0
Ambientação: É o ponto forte do conto, pois me senti perfeitamente ambientado no universo apocalíptico que o protagonista encontrou em sua jornada.
Enredo: O enredo foi desenvolvido de maneira a manter o interesse do leitor perene durante a leitura, havendo uma crescente curiosidade para se descobrir o que, afinal, havia dado vida à máquina. O final me decepcionou um pouco, pois a afirmação de que os humanos são capazes de se destruir sozinhos me parece um pouco batida.
Escrita: A escrita está bem encaminhada, não havendo muitos erros de revisão. Porém, ela (a escrita) ainda possui resquícios de lugares comuns literários (por exemplo, determinados adjetivos que sempre acompanham determinados substantivos). É preciso, no ponto, ser mais criativo.
Considerações gerais: Gostei da leitura, embora não tenha sido propriamente arrebatado. É um nota 9,7.