Cinco horas.
Acordar. Tomar banho de água fria. Na casa, de três banheiros e quatro chuveiros, nenhum é elétrico e ela não sente saudades, mas hoje é um dia especial. Dobra roupa de cama. Faz suas orações matinais. Pensa nos amigos distantes três mil e quinhentos quilômetros e uma hora adiante, assim, chama-os pelo aplicativo de mensagens. Sabe que não vai acordar ninguém. Conversa vai e vem, quase tão rápido quanto a luz, quando o sinal não oscila. Beijos e abraços virtuais. Tchau, amigos agora virtuais. A nova vida real, chama.
Seis horas.
Chove lá fora. Dentro as janelas estão esfumadas com a mistura de respiração da família e o calor das panelas. Café, cuscuz, Pacovã, batata-doce e macaxeira cozinham, dando a casa aquele cheiro matinal.
Ela lera que hoje começa o Inverno aqui. Já não era sem tempo. O calor insuportável estava incomodando muito. Quinze dias atrás a nova família tinha lavado todas as cobertas que na verdade são edredons. Pijamas e agasalhos também receberam o mesmo tratamento e descansam em gavetas cheirando a lavanda.
Nas compras para os próximos dias os alimentos escolhidos são mais calóricos e todos estão ansiosos para darem um passeio no interior.
É 2012. E tudo é festa com a nova oportunidade de viver novos “primeiros momentos”.
E agora, o primeiro Inverno.
A expectativa para dias frios e felizes é imensa. Claro que ela sabe que a experiência é nova e diferente porque mesmo o Brasil sendo considerado tropical, tem manifestações climáticas desiguais. Porém, inverno é sinônimo de frio em quase todos os lugares do mundo.
Assim, mesmo não esperando uma noite gelada, com seis graus e um clima seco, espera um tempo bom, sem águas e com a vantagem de ser menor a poluição – se ela viesse com o novo tempo. Imagine! Ver esse céu que Ajuricaba viu, azul e sem nuvens! Ver essas águas que Gonçalves Dias conheceu, correrem soltas e limpas por esses belos e enormes rios!
Sete horas.
Todos sentados à mesa. Conversam animados. O jogo de xadrez está limpo? Sim. Está. Tem livros novos também. Ela sente que esse Inverno especial vai ser quase uma hibernação cultural com novos aprendizados.
Começa a chuva e todos brindam felizes o início real da estação.
Chuva? Sim. E a temperatura? Os termômetros marcam exatos 22 graus Celsius. Sensação térmica? De quase trinta, claro.
Ela sorri sem graça. Acostumada com o frio do Sudeste, esse tempo de chuva que os locais chamam de Inverno a desanima um pouco. Entretanto, continua comemorando, afinal, é seu primeiro e único Inverno Amazônico. Sem frio, sem agasalho, sem festas típicas conhecidas, mas com viagem relâmpago à Presidente Figueiredo. Afinal, uma cachoeira cai bem nesses dias tão atípicos para ela.
Hahaha aqui em São Luís chamamos inverno o período de Janeiro a Maio, quando chove, e o resto é Verão, no período seco. No entanto, o calor é o mesmo. Todo mundo vive à base do ar-condicionado ou ventilador. Claro, às vezes as nuvens escondem o sol e o calor diminui.
São fatos interessantes da vida. Muito legal escrever sobre isso.
Mas o negócio é ir à praia. Lá nunca é inverno ou verão, é só alegria.
Oi, Wilson Barros.
Não conheço São Luís, mas tenho curiosidade. No Amazonas é assim mesmo. Ouvi essa história de uma amiga e acabei criando todo um universo imaginário na minha cabeça. Escrevi, lhe mostrei e ela disse que foi quase isso, sem a parte que dei uma arrumadinha para criar o drama que o povo não viu.
E fui a Presidente Figueiredo anos depois de conversar com a colega. Muito bonito por lá.
Que bom ler sobre o inverno amazônico.
Que bom ler seu texto, que creio ser uma crônica.
Parabéns!
Agradeço a leitura
Gostei do texto, mas enquanto crônica! Parabéns!
Agradeço a leitura.
História de alguém que se mudou para o Amazonas. Ela compara o inverno amazonense com o inverno do sudeste, onde é mais frio. Se comparasse com o sul, a diferença seria grande. Não deu para saber o local que ela está, mas como vai fazer uma viagem rápida a Presidente Figueiredo, deve ser algum sitio, ali perto. Faltou algumas informações para situar a personagem no tempo e no espaço, por que, como, quando. História simples, boa escrita, mas faltou alguns detalhes necessário para a compreensão completa da história. Presidente Figueiredo é um município do Amazonas. para alguns, o “fim do mundo”. Visto de cima, a BR 174 atravessa a cidade como uma flecha e saindo do outro lado faz um desvio para o leste, ou ao contrário, do leste para o norte. Mas isso já é uma outra história.
Oi, Antonio.
Não sei em que cidade isso aconteceu. Só sei que depois fui ao amazonas e gostei do clima. Diferente da pessoa que me contou o causo que eu só redesenhei para tentar um conto. Fui infeliz segundo alguns dos leitores.
Infeliz, não. Foi um bom exercício. Assim vc já sabe o que esperar e se dedica a evoluir na escrita e na escolha de um bom argumento para o próximo. Não desista.
Inverno insípido…
É, o inverno nada frio das regiões quentes do Planeta nos dão uma ideia de insipidez.
Agradeço a Leitura.
Desculpem, mas não consegui identificar uma unidade dramática permeando os três atos narrativos aristotélicos.
Heth Selva, você esperava ser comparada ao Mestre Aristóteles justo na sua estreia?
E ainda, em um comentário hater?
Sucesso no site, linda.
Gostei dessa sua visão. É interessante. É o típico pensamento otimista: melhor um copo meio cheio.
E agradeço as boas vindas.
Agradeço a leitura.
Mais com sabor e estilo de Crônica. Gostei, bem escrito e narrado. Um momento de uma nova experiência de vida, em observações de chegada, de constatação do diverso.
Agradeço a leitura.