—O doutor Libério quer falar contigo.
—Agora?
—Falou assim que o senhor chegasse.
No elevador mil coisas passavam pela minha cabeça, mas eu já sabia o que estava prestes a acontecer. Eu seria sumariamente demitido da redação.
Tudo porque, a mais ou menos uns dois meses, fui entregar um pacote na casa do patrão, ele não estava e enquanto aguardava acabei me envolvendo com sua mulher. Fizemos sexo no mesmo dia em que nos conhecemos, no tapete da sala. O corno chegou meia hora depois e nem reparou no ar de satisfação do casal. Mas a Lorena, o nome da senhora, não sabe ser discreta e não sai da minha cabeça que essa indiscrição é o que vai causar a minha demissão.
A culpa nem é minha. Homem velho que se envolve com mulher nova quer o quê? Gemer sem sentir dor? Na vida real levam é chifre e eu não fui batizado Ricardo por acaso. É o destino de todo homem, ser amante ou ser traído.
Fato é que após anos trabalhando na redação de uma merda de revista que ninguém lia, nem isso eu ia ter mais, a demissão era certa.
Até poderia negar tudo, implorar pelo emprego. Ou dizer que comi mesmo, que ela deu porque quis e encerrar logo esta discussão. Demitido sim, mas sairia dali com a cabeça erguida.
— O doutor Roberto está me esperando.
—Um momento.
A secretária apertou um botão de um interfone tão antigo quanto aqueles móveis velhos e comunicou que eu estava esperando. As duas únicas palavras ditas pelo velho estavam prestes a selar meu destino:
—Manda entrar.
Na sala sem ar condicionado senti um calafrio. Meu corpo começou a tremer e como ele só mexia em papeis e não falava nada, decidi iniciar a comunicação:
—A Suzana avisou que o senhor queria falar comigo.
—Quero sim. Um momentinho.
O tempo parecia ter dado a ré. Dava para ouvir minha respiração e quando eu já estava suando frio, ele respondeu:
—Ricardo. Você é a pessoa em quem eu mais confio aqui na empresa. É um dos repórteres mais antigos e vou precisar muito de você para um projeto novo.
Para minha surpresa parecia que o corno não sabia da traição. Bastante aliviado, mas ainda ressabiado, respondi:
—O senhor sabe que pode contar comigo. Nunca deixei a empresa na mão e não será agora. Do que se trata?
—O que vou lhe contar precisa ser mantido em segredo. Você sabe que a revista não está vendendo bem. Tudo se acha na internet, mas tem uma festa na Amazônia que ninguém conseguiu fazer a cobertura. Preciso que você vá lá e consiga fotos e tudo o mais que conseguir levantar. Você já ouviu falar da festa do Peru Carnudo?
Na verdade, nunca ouvira falar e a vontade foi de soltar uma boa de uma gargalhada. Quer dizer que o corno estava interessado em peru carnudo? E logo na Amazônia que nem peru tem? Com um esforço sobre-humano segurei o riso e limitei-me a responder:
—Nunca ouvi falar. Isso existe mesmo?
—Existe Ricardo e a editora está passando por um momento financeiro muito delicado. Precisamos dessa reportagem para salvar a empresa e o seu emprego também. Trata-se de uma tradição antiga, mas até hoje ninguém conseguiu fazer o registro. Para essa empreitada eu só confio em você. Posso contar contigo?
Eu não teria como recusar porque a editora poderia fechar as portas se eu não fosse. Dos onze que éramos sobraram cinco e sempre havia a suspeita de que a próxima demissão seria um de nós. Além disso, se esta festa existisse mesmo eu poderia vender parte do material para a National Geograpic e fazer um bom dinheiro. Respondi o que era para responder:
—Quando viajo?
…
Duas semanas depois daquela conversa lá estava eu em uma pista de pouso clandestina perto de São José da Bostagrande. Em minha breve passagem pela capital fiz contato com alguns índios que trabalhavam como guia turístico e após muita conversa, bebida, maconha e algum dinheiro por fora, descobri o caminho que me levaria até a aldeia dos Mamaxó, a tribo que uma vez por ano realizava a festa do Peru Carnudo.
Apesar de termos chegado cedo passamos o dia aguardando o contato. Conforme disse o piloto, ao nos verem sobrevoando a aldeia os índios viriam ao nosso encontro.
Quando não havia mais o que fumar e nem o que beber, vejo sair do mato um índio negro, alto, segurando uma cunheta grande. O piloto entrou no monoplano, ligou os motores e antes mesmo que eu fizesse contato ele já estava decolando, deixando-me a mercê da própria sorte. Só voltaria de ali a dois dias para me buscar.
O índio surpreendentemente maior do que eu esperava, limitou-se a acompanhar o avião sumir entre as nuvens e depois retomou seu caminho pela mata. Eu o segui. Algumas horas depois, quase anoitecendo, chegamos a aldeia e tive meu primeiro contato com os índios. Nenhum falava em português.
Mal adentrei a taba e várias índias completamente nuas foram me rodeando e me conduzindo até um rio próximo, onde tiraram as minhas roupas e nos banhamos completamente nus, como viemos ao mundo.
Um assovio pareceu ser o sinal para sairmos da água. As índias continuaram me conduzindo até entrarmos em uma oca onde deram uma bebida adocicada que parecia mistura de cauim, leite de perseguita, jabiroba e jebamole.
Levaram-me para fora da oca onde já havia no chão uma forração com folhas de bananeira, formando uma espécie de mesa com frutas, peixes e carnes de caça assadas e cozidas.
Havia apenas uma grande cadeira na cabeceira, que eu supunha ser o trono onde sentaria o cacique, mas foi para lá que me levaram, o que fazia sentir um rei no meio daquela escuridão.
Ao redor da forração os índios se agachavam entoando cânticos e assim foi até que da maior oca da aldeia sai e vem em minha direção uma índia mais madura, negra, com seios enormes, rodeada de cunhãs segurando cabaças cortadas ao meio de onde se podia ver que escorria algum tipo de óleo.
A mulher do cacique, eu supunha, besuntou meu corpo com esse óleo de benga e sob o efeito do cauim batizado só me restava apreciar o momento e sentir o corpo das índias nuas se esfregando em mim como se fossem lagartixas no cio.
Foi quando senti a primeira mordida, seguida de outra, de outra e de mais outra. Até o prazer se transformar em dor e eu ver meus pedaços sendo comidos por toda a tribo.
No Rio de Janeiro, degustando uma enorme taça de vinho ao lado da esposa, doutor Libério já podia dormir em paz. Estava vingado.
O autor optou por uma linguagem escrachada e pelo tom humorístico. O resultado, entretanto, mais se aproxima da anedota que do conto. Conteúdo sexual explícito pode ser muito bem explorado, como está demonstrado por Bukowski e Henry Miller. Dos brasileiros, Jorge Amado e Nelson Rodrigues consagram narrativas com palavrões e carga sexual intensa, sem banalizá-las. Neste caso, creio que o tom de piada prevaleceu. O uso de trocadilhos quase adolescentes ao longo de toda a narrativa também não me agradou. Um pouco mais de criatividade e sutileza teriam tornado este conto bastante interessante. A narrativa em terceira pessoa teria sido mais adequada para justificar o parágrafo final.
Abraços e boa sorte.
Esqueci o resumo de novo:
Repórter tem uma relação com a esposa do chefe e é enviado para uma tribo indígena a fim de cobrir uma festa secreta. É uma armadilha preparada pelo marido traído.
Resumo:
Casanova tem uma relação com a companheira do chefe e, sem saber, acaba caindo em uma armadilha efetuada pelo mesmo.
Impressões:
O conto é voltado para o humor escrachado. Infidelidade, índios canibais e um narrador garanhão fazem parte do balaio. É um trabalho que não ousa tanto em suas construções – coisa que particularmente me agrada quando leio algo – e não proporciona nenhuma reflexão profunda. No mais, valorizo sim o tom cômico e penso que nisso o(a) autor(a) tenha acertado.
Oi, Yuri Nando,
Tudo bem?
Então….hahahahahahaha muerta estoy kkk
Pronto.
Resumo: repórter metido a garanhão não perde tempo com a mulher do próprio chefe. Depois recebe deste a nobre missão de viajar até a Amazônia para fazer a cobertura de uma festa, onde é comido rsrs pelos canibais.
Piada, piada pura…e eu morri de rir, confesso.
Não vou entrar nos méritos de tempo, uma vez que a história é contada pelo pobre eunuco, ou morto, mas de qualquer forma, adorei, achei divertida a forma e estilo rs.
Boa sorte no Desafio!
Resumo: repórter que pegou a mulher do chefe é enviado até uma tribo indígena para cobrir um evento que acaba sendo a vingança do chefe.
Olá, Autor!
Seu texto pretendeu ser de humor bem escrachado, tipo, não sei nada sobre o tema então vou inventar um monte de baboseira e jogar em um texto de humor. Bem, comigo não funcionou… Achei muito apelativo.
Não está totalmente ruim, tem as coisa boas, claro, o enredo vai se desenrolando aos poucos o que mantém o interesse do leitor, a escrita é descontraída e fluída, não tem erros. Se o autor tivesse apostado em uma história mais séria, ou até mesmo essa história contada de maneira mais séria, o conto seria ótimo.
Desculpe a sinceridade.
Boa sorte!
Até mais!
Oiiiii. Um conto sobre um repórter de uma revista que quase ninguém ler . Ele se envolveu com a mulher do patrão e fica com medo de ser demitido quando o patrão o chama na sala dele. Mas para surpresa dele o patrão parece não saber da traição e o manda cobrir uma festa na Amazônia. Mas mal sabe ele que a viagem era uma armadilha disfarçada. Ele no fim o traído rir por último enquanto o repórter é devorado pela tribo.
Um conto leve e divertido e com uma reviravolta no final, pois não esperava que ele fosse ser devorado. No fim fica a reflexão que as vezes o silêncio é mais perigoso que palavras, pois o patrão arquitetou toda vingança em silêncio e sem o repórter nem notar rs. E acho que talvez o piloto soubesse de algo e por isso saiu tão rápido do lugar.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
*E no fim o traído ri por último, enquanto o repórter é devorado pela tribo.
Desculpe o erro de digitação.
RICARDÃO VIRA PAPINHA DE ÍNDIO. Depois de fazer travessura com a esposa do chefe, repórter é enviado à ritual de canibalismo.
Conto irônico, sádico, com certa dose de raiva na palavra do protagonista e não por menos, já que o cara é comido vivo ao final. Gosto de contos assim, narrados de uma forma seca, meio cínica e com finais abruptos e trágicos. Um tipo de história simples, sem grandes reviravoltas, com tipos bem desenhados e característicos da realidade. Todos aqui são péssimos, a esposa, o chefe, os índios, o repórter, não sobra pra ninguém, o que torna o texto ainda mais próximo das relações que vemos no dia a dia: cheias de interesse e falcatrua por sexo, drogas, comida e dinheiro. Gostei. E no fim o besta é que era o Peru Vermelho e carnudo. kkkk
Resumo
Um repórter tem um encontro amoroso com a esposa de seu chefe e, quando este o chama para uma reunião algum tempo depois, acha que vai ser despedido. Contudo, ele embarca numa viagem para a amazônia sob o pretexto de cobrir uma história junto a uma tribo indígena, mas se vê sendo devorado vivo enquanto o chefe sente o sabor da vingança a muitos quilômetros dali.
Análise
É um conto curto e bem divertido. Foi bom para quebrar um pouco a série de textos mais melancólicos que eu vinha lendo neste desafio. Esse texto foi uma lufada de ar puro. Gostei da história, apesar de esta ser, de fato, bastante simples e direta. Não há muito desenvolvimento de personagens nem grandes revelações. O final é bom e me pegou de surpresa. Eu também comprei a ideia de que o diretor da revista não sabia de nada. (e acho que eu também teria morrido sendo devorado).
Bom trabalho. Boa sorte no desafio.
Um abraço!
Conto humorístico no qual um homem se vinga do empregado que o estava a encornar enviando-o para uma festa canibal no meio da selva.
Gostei da criatividade, do bom humor e do facto do final ser bem guardado, revelado aos poucos como se de um novelo se tratasse. É um conto leve, com uma linguagem muito acessível e correcta. Fornece um bom momento de diversão que alguns considerariam macabra, mas a vida também é feita de excessos e os que vejo neste conto são perfeitamente perdoáveis. Creio até que poderia ir mais longe, descrevendo a intimidade com a amante para acentuar os contrastes da narrativa: humor, sensualidade e terror – uma mistura vencedora.
Resumo: repórter que era amante da esposa de seu patrão é destacado para uma reportagem na Amazônia, com índios isolados que fazem um tipo de festa. Lá chegando passa por momentos de êxtase, até perceber que ele será o prato principal da cerimônia.
Impressões: achei o conto fraco. Está bem escrito, bem narrado, com boas imagens e descrições, mas a pesar da narrativa ágil, apela a clichês que tornam a experiência um tanto previsível. Os personagens são planos e os índios, estereotipados. O tema do desafio é enxertado só para cumprir tabela, já que a história poderia se passar em qualquer lugar onde houvesse canibais ou algo do tipo. Gosto de narrativas descompromissadas e de linguagem direta quando me fazem rir, mas aqui receio que o autor, embora habilidoso, sucumbiu à previsibilidade. De qualquer forma, tudo pode ser mera impressão minha, do alto de minha rabugice congênita; outros leitores podem apreciar a história. Boa sorte no desafio.
Resumo:
Um fantasma (?) nos conta que transou com a mulher do patrão. Chamado às pressas, ao seu escritório do chefe, imagina que será demitido. Na verdade é uma missão para cobrir – um ritual na Amazônia. De convidado ele passa a protagonista da manifestação e é comido pelo índios que se revelam canibais. tudo não passava de uma vingança do seu chefe.
Comentários:
Seu conto, tem que ser lido com olhos mais relaxados, sem preocupações críticas ou estéticas e sem mais todo esse blá, blá blá. E uma anedota, um “causo” a ser contado em volta da fogueira e é delicioso.
Boa sorte no desafio.
Conta-se a história de um repórter que trabalha em uma revista e precisa ir à casa do patrão, onde acaba ficando com a esposa dele. O patrão chama o protagonista ao seu escritório e ele tem certeza que é para demiti-lo, em função da traição. Mas é surpreendido quando o patrão lhe diz que confia muito nele e precisa que execute uma tarefa que pode salvar a vida da empresa, que passa por problemas financeiros: cobrir uma festa extremamente secreta na Amazônia – a Festa do Peru Carnudo. O protagonista ironiza a situação mentalmente e aceita a missão. Na festa, ninguém se comunica com ele. As índias o conduzem para banharem-se nus no rio. Em seguida, lhe dão uma bebida, em que provavelmente havia algo com propriedades anestésicas e entorpecentes, e o conduzem a uma cadeira em frente a um banquete. Uma anciã então o bezunta em óleo e, ao final, ele é (provavelmente parcialmente) comido vivo, entendendo que na verdade o patrão havia armado sorrateiramente uma foram de se vingar. O conto prende a atenção e está muito bem estruturado e escrito. É envolvente.
Resumo: Repórter acredita quando seu chefe o manda fazer uma reportagem no Amazonas, devido à situação precária do jornal. Porém, ao chegar lá, se vê vítima de uma emboscada e morre canibalizado.
Estarei analisando os aspectos que EU considero mais importante, baseado nas minhas participações anteriores no certame. Sinta-se a vontade para descartar minha singela opinião se não concordar.
ENTRETENIMENTO (foi um conto chato de ler? Maçante? Legal?) : Adorei seu texto. Ele foi interessante e divertido de ler. Definitivamente o mais entretível até então. A história nos leva pela curiosidade,não se tornando um fardo.
Porém, confesso que esperava um pouco mais. O final foi abrupto e apressado. Acabou funcionando como “piada”, mas como um conto eu preferia que tivesse sido mais interessante a história, com mais elementos, e não terminando como uma piada rápida e simples. Prometia mais.
COMPREENSIBILIDADE (levando em consideração a formulação de orações e a história em si. Há diálogos confusos e etc?): Boa.
CRIATIVIDADE/ORIGINALIDADE (eu gosto de ler histórias de coisas que não vi ou não pensei antes. Ideias óbvias não se sairão bem neste quesito.): Bastante original. Sempre pode haver alguns “chatos” *sic* para problematizar seu enredo. Mas eu particularmente achei muito legal. O oposto do que eu esperava encontrar (dramas sobre incêndios e exploração, etc).
O chefe traído manda o funcionário repórter para uma armadilha no meio de uma tribo canibal na Amazônia.
Achei bem feito o desfecho do rapaz, muito cara de pau. Todavia, o chefe sentiu-se traído apenas pelo repórter? Por que não enviou junto a esposa? O trecho final, na minha opinião, não foi narrado pelo personagem já morto, mas por um narrador em terceira pessoa, todavia não ficou claro. O enredo é um pouco previsível, mas é fácil de ler e envolvente.
Abraços ❤
Repórter de uma revista semifalida é nomeado pelo chefe para cobrir uma festa em aldeia indígena, o que o repórter não sabia é que a missão determinada por seu patrão o levaria direto ao encontro de uma tribo de canibais.
Bacana o conto. Enredo simples, mas conduzido com competência e na medida certa. Uso de um vocabulário descomplicado, o texto inteiro exala um tom de humor leve e que ajuda a prender a nossa atenção. A localização da festa se restringe a citar genericamente a Amazônia, mas isso de forma algum prejudica a leitura ou a ideia da narrativa.
O autor foi bem e demonstrou o quanto a simplicidade da linguagem e da estrutura fazem diferença na hora de escrever uma história. Boa sorte!
Olá, autor
Um repórter é enviado para cobrir uma festa numa tribo indígena na Amazônia. Da pior maneira possível ele descobre que tratava-se de uma armadilha mortal montada pelo seu chefe após descobrir que o repórter tinha se envolvido sexualmente com a esposa dele.
A minha avaliação do seu conto seguirá os seguintes critérios: Técnica + CRI (Coesão, ritmo e impacto).
Técnica – Linguagem bastante descolada e escrachada e que funcionou muito bem com esse tema. Uma pegada de humor interessante num texto bastante fluido. Senti que pecou um pouco na finalização ao tornar o texto pouco verossímil. A narrativa de estar sendo canibalizado enquanto relatava o bem estar do chefe em outro lugar ficou muito superficial. Deu um tranco no texto. Além disso, não sei até que ponto o tema proposto (Amazônia) esteve no foco da narrativa, mas não levarei isso em consideração para a minha nota.
CRI- Coeso, com ritmo acelerado, bastante direto ao ponto. O impacto foi muito bom e poderia ter sido melhor se não fosse o que já relatei acerca da verossimilhança. Mas dei boas risadas assim mesmo. Concordo que seria preciso trabalhar um pouco mais pra que o relato do morto acerca de si mesmo ficasse mais natural.
Gostei muito do texto e espero ter contribuído. Parabéns.
Repórter faz sexo com a mulher do chefe. Pensa que será demitido, mas acaba é caindo em armadilha: enviado para matéria na Amazônia, é devorado por índios canibais.
Terrir? O absurdo e exagero nas cenas, o vocabulário escrachado, o título, o pseudônimo e a condição de narrador-fantasma (no desfecho), que foge à lógica, dão ao texto um tom cômico.
Outro ponto é a dificuldade em ligar a trama à Amazônia: os fatos apresentados poderiam acontecer em qualquer lugar onde houvesse canibais.
A escrita é simples, despretensiosa e atrai a atenção do leitor para ver no que vai dar.
Parabéns pela criatividade. Sorte e abraços.
A Festa do Peru Carnudo (Yuri Nando)
Resumo:
A história de Ricardo(ão), repórter de uma revista em decadência, que tendo traído o chefe através de relacionamento com a esposa dele, teve uma tarefa a ser desenvolvida numa tribo indígena no Amazonas. Para finalizar, foi devorado pelos integrantes da tribo.
Comentário:
Texto que brinca entre o cômico e trágico. Muito bem escrito, se não provoca riso no leitor, provoca sorriso. A leitura é fluente, o leitor fica ligado do começo ao fim, o autor sabe como prender a atenção. Trabalho feito de maneira tão natural, o contar discorre tão livremente que, sem saber de quem se trata, sinto que o autor tem, genuinamente, “desprendimento verborrágico” sem qualquer trava. Nada soa forçado, tudo é narrado de modo corriqueiro, simples.
Alguns deslizes de “virgulação”, mas não atrapalhou o entendimento do enredo. A leitura foi prazerosa, engraçada. O texto possui estrutura muito boa.
O título é hilário, não há como não rir. O pseudônimo foi o mais criativo de todos, neste desafio. E a cidade em que o avião pousou, tem o nome mais engraçado que já vi. Deve ter ligação interna com Boston e Chicago.
Parabéns, Yuri Nando, você é muito criativo!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
RESUMO: Ricardo recorda da ocasião em que dormiu com a mulher do chefe quando é chamado pelo mesmo, temendo ser demitido por esse exato motivo. Na reunião, descobre que na verdade se trata de uma reportagem cujos dados devem ser colhidos em uma tribo indígena da Amazônia. No final das contas, percebe-se numa armadilha que serve como a vingança do chefe.
COMENTÁRIO: É, desde o título, passando pelo pseudônimo e depois pelo próprio conto, um texto bem-humorado. A personagem é debochada e dificilmente leva algo a sério, desdenhando do chefe, do escritório e de si mesmo, indeciso se será confrontador ou se implorará pelo emprego na ocasião de ser uma demissão. Sua visão de mundo é fatalista, como no dualismo de amantes e cornos que ele diz ditar a vida dos homens. Portanto, a narrativa flui e é um conto que se lê sem ver o tempo passar, deixando-se levar pela conversa fácil do narrador até percebermos que não se trata de uma mera reportagem. É uma estória de uma vingança empregada num desavisado. Numa avaliação crítica, do lado técnico tem alguns erros, com um verbo conjugado no presente quando deveria ser no passado e um “a” que deveria ser “há”. A narrativa poderia ter sido maior desenvolvida, mas segue com início, meio e fim, com essa brevidade favorecendo a reviravolta do final, já que não dá tempo de repararmos no caminho que a personagem vai tomando. O maior problema é que a Amazônia, embora presente, apenas cede espaço a estória, dessa forma sendo a maneira menos criativa de abordar o tema, ainda que não tenha tido um desvio completo. Apesar da leitura ser agradável, no certame o conto sai enfraquecido.
Boa sorte.
Entre Contos – Avaliação – A Festa do Peru Carnudo
Resumo: Repórter mantém relacionamento amoroso com a esposa do editor chefe e, como punição, é enviado para cobrir uma cerimônia canibal na Amazônia.
Abertura:
( x ) surpreende: o autor faz com que o leitor sinta curiosidade de saber qual será a sorte do empregado que é chamado à sala do patrão.
( ) não surpreende
Desenvolvimento (fluidez narrativa):
( x ) texto fluido: o texto possui início, meio e fim bem concatenados.
( ) poderia ser melhor
Encerramento:
( x ) surpreende: é surpreendente descobrir que o editor chefe armou uma bela duma vingança.
( ) não surpreende
Gramática:
( ) não identifiquei erros dignos de nota
( x ) possíveis erros gramaticais: o uso da vírgula é bastante deficiente.
Enredo:
( x ) surpreende: primeiro, surpreende que o repórter tenha mantido um relacionamento com a esposa do editor chefe; depois, surpreende descobrir a vingança exemplar que o corneado pregou ao amante da esposa.
( ) não surpreende
Linguagem:
( x ) surpreende: o autor não possui inibição de usar termos que, aos meus ouvidos, soaram vulgares.
( ) não surpreende
Estrutura:
( ) surpreende
( x ) não surpreende: o autor não empreendeu qualquer aventura na estruturação de seu texto
Estilo:
( ) surpreende
( x ) não surpreende: nada no estilo surpreende.
Excertos dignos de nota:
( ) sim
( x ) não: nenhum trecho do conto me chamou particular atenção.
Inteligência:
( ) desafia a inteligência
( x ) não desafia a inteligência: o autor não exige de seu leitor qualquer intelecção mais aprofundada.
Avaliação final: O texto é bem humorado e bem estruturado (ressalva que faço apenas para a falta que algumas vírgulas fizeram). O enredo é interessante, bem construído. O autor me parece uma pessoa muito criativa (o que se nota na escolha do título, do pseudônimo e do enredo). Yuri Nando, você está no caminho certo! Continue escrevendo, participando de desafios e concursos, e leia o máximo que você puder autores consagrados.
Anderson do Prado Silva
A Festa do Peru Carnudo (Yuri Nando)
Resumo:
Repórter passa perrengue indo até a Amazônia fazer uma reportagem. Por lá, depois de algumas peripécias, ele é comido pela tribo que encontra e ainda assim continua narrando a história que acontecia após a sua morte.
Comentários:
Conto, como tantos, que busca a pilhéria através de um causo.
A história poderia acontecer em qualquer parte do mundo onde houvesse canibais. Deu-se na Amazônia.
O conto buscou acertar com o processo de inversão, quando pega o leitor dando uma virada ao final. No caso, a vingança do patrão que mandou o sujeito que fez sexo com a sua mulher para morrer nas mãos de índios que comem gente.
O conto tem um problema. Contado em primeira pessoa, fez com que o autor ultrapassasse o limite da verossimilhança quando o morto continua contando uma história sobre o patrão, que toma uma taça de vinho em homenagem à vingança que cometeu.
Não está incorreto, mas inusual. Morto continuar contando histórias precisa de algum tipo de arrumação textual, o que não acontece no texto. O morto, comido por canibais, continua impunemente narrando um fato que acontecia com seu patrão a milhares de quilômetros de distância.
Um jeito, se me permite, de arrumar a história, é o comido apenas imaginar que o patrão degusta com a esposa, em um restaurante, uma taça de vinho. Como ficou, ficou estranho.
Boa sorte no desafio.
Sobre mortos narrando estórias vale destacar o sucesso estrondoso que a republicação das Memórias Póstumas de Brás Cubas fez em terras estadunidenses, Angelo.
Mas estou brincando, entendi o que quis dizer.
Pois é, Pedro, pensei até em levantar a história das Memórias…, mas iria me estender demais. Preferi falar apenas que morto continuar narrando histórias requer alguma arrumação nesse sentido. Isso, no caso do texto acima, não aconteceu. Não fica ruim quando o conto é meio piada, meio pilhéria, como é o caso. Mas resolvi dar um toque no autor. Vai que ele aceita.
Abraços, Pedro!!