635 d.c
O rugido, gutural e cavernoso, emerge do fundo lodoso da tenebrosa gruta ecoando nas falésias à beira rio. Pascásio de Dume retira a lança de caçar javalis da água benta empunhando-a atabalhoadamente, eu acalmo-lhe o nervoso pulso relaxando-o:
– Tenha calma Frei, ela não vai sair da toca, tenho que ir lá eu. – ele engole em seco coçando a tonsura.
– Deixe lá, é para isso que me pagam. – digo-lhe, pondo-me de pé, tomando o peso da azagaia e, depois de ajeitar a pesada armadura de escamas, continuo a confidência:
– Quando o Xamã me disse, na minha longínqua infância na estepe, que seria caçador, eu, na minha inocência, presumi que fosse treinar com os cães dos alanos, só me apercebi que a coisa era séria mesmo, foi quando o maldito feiticeiro me obrigou a tomar uma infusão de cogumelos mágicos. A contra-gosto bebi sabendo que aquela mistela provocaria visões, durante uma hora andei à volta com aquilo no estômago. Depois é que foram elas, o xamã levou-me a uma fenda…
– A uma fenda?
Relembro a dor ausente como uma súbita facada no estômago, …” encurvo-me derramando o hidromel pontapeando o banco e atirando a bandeja ao chão, lá fora o vento rugia. O huno pega-me pelos cabelos puxando-me a cabeça para trás e berrando-me ao ouvido:
– Não te apagues e abre os olhos! – mas parece que tudo explode na minha cabeça, a realidade contrai-se e dilui-se, sei que estou nu no chão e a cabana encolhe-se e aumenta…
– Concentra-te no fogo Dagoberto, é essa a essência deles!- Focalizo a fogueira, e ouço… ouço…os cânticos do xamã do país das eternas neves ressoando-me nos intrincados labirintos da mente. Parecia que estava de volta a algo, à minha infância, mas como posso recuar à minha infância? será que já cresci? Lentamente ou de repente, tudo se aclara e fico desperto tal qual falcão planando no alto da montanha branca à cata de presa.
– Perguntas-te o que fazemos aqui?
– Eu sei o que fazemos aqui Mestre, vocês procuram dotados. – respondo-lhe. Dói-me novamente a barriga e torno a curvar-me, o cogumelo das visões cobra o seu preço.
– Sabes Dagoberto o homem para sobreviver sempre lutou contra quem o quer devorar e controlar, seres míticos e imortais que nos tentam sempre pisar a cauda.
– A cauda?
– Sim Dagoberto os homens já tiveram cauda e um olho aqui no meio da tua testa, o mesmo que estás a abrir agora. – noto que algo está lá fora a escarafunchar.
– Mestre…- pergunto febril..- Existe algo lá fora? no vento gélido?
– Sim, existe algo lá fora mas não estão no vento gélido, estão noutro nível, no dos infernos…- fico assustado.
– Queres espreitar? – leva-me amarrado aos ombros por uma frecha da tenda, o vento parará de uivar e a medo e com tremuras miro pela fenda através da escuridão. A princípio a visão lacrimejava e não via nada mas depois, algo se movia rapidamente nas trevas primordiais e eram vários e eram rápidos e pelos sons grotescos que faziam, estavam a devorar e a triturar o que me pareceu ser pedaços de nada, o mestre puxa-me de volta:
– Dago.. o que eles estão a fazer? pensa com teu terceiro olho, o mesmo que usas para os ver. – Raciocino e deixo brotar as conclusões óbvias:
– Eles estão a devorar a realidade, mas quem raios são eles mestre? – o huno torna a levar o meu terceiro olho à fenda negra da tenda. De novo enxergo; devoravam com as suas largas mandíbulas e seus afiados dentes pedaços de ar que se tornava matéria nas suas bocas como nacos de carne. Um deles, de pele escamada de cobra oleada, aproxima-se da fenda e põe-se a perscrutar-me com um olhar agudo de lagarto brilhante e amarelado, grito e tento escapar, o mestre puxa-me para trás e desfaz a fenda como se atirasse areia e terra para tapar um buraco invisível…ajoelho-me de cócoras.
– Água, água! Por Wodanaz! pelos nove deuses do palácio de estacas! mestre o que foi o que eu vi?…” Fico anestesiado olhando a gruta…
– Que é que viste Dadoberto?
– Freire, farás uma história sobre mim?
– Todos os anos te farei uma homenagem se a derrotares, mas… afinal o que viste…eram o quê? Rapaz! – encolho os ombros:
– Eram dragões!
☬ A Coca de Monção
☫ Mario D’Escócia
ஒ Físico: A estrutura do texto é muito frágil. A formação fraca e estranha de algumas frases mostra um certo desleixo do autor, o que acaba denotando, também, certa falta de habilidade. Não chega nem ao medíocre. A narrativa não é fluida. Durante a leitura, travamos muitas vezes. Esse é o risco que todo autor corre ao empregar palavras complicadas. Se não por bem empregado, não existe harmonia. Assim, o texto fica prolixo. Desculpe-me pela sinceridade, Mario, mas precisa melhorar muito.
ண Intelecto: Não é possível determinar o que está acontecendo. A história é muito mais do que isso. O autor deve entender qual é a natureza da ideia e aplicá-la no seu ambiente verdadeiro. Além disso, é impossível gostar dos personagens e entender quem eles são. O escritor provavelmente tinha a ideia formada na cabeça e transportou-a para o papel sem desenvolvê-la para o leitor. É um texto para si, não para os outros. Nesse caso, Mario, contenha-se e não divulgue. Faça para os outros, se quiser divulgar.
ஜ Alma: Apesar disso tudo, senti um pouco de amor no texto. Um amor profunda pela literatura. Talvez, por isso, o autor tenha escrito esse texto. Às vezes, ele não tem talento para escrever. É apenas um hobby. Mas não é possível afirmar isso. Gostaria de ver textos mais sólidos de sua autoria, Mario.
௰ Egocentrismo: Não consegui apreciar o conto. Dou muita atenção para a história em si, mais do que para a escrita, mas nessa caso, essas duas características se encontram num estado de extrema carência.
Ω Final: Não foi possível determinar o estilo. Não foi possível determinar o que está acontecendo na história. Não foi possível se apaixonar pelos personagens. Não foi possível gostar do texto. Realmente, esse texto se torna, no meu ponto de vista, descartável.
௫ Nota: 4.