Naquele momento éramos apenas eu e ela, eu, e a natureza blindada por uma beleza resfolegante. Uma brisa mansa, e na minha frente o meu amado me convidando para comungar com ele.
Sentada na areia da praia em minha velha esteira, aos pés de uma árvore, eu contemplava o mar, parado como uma lagoa. Aquele cheiro de sal e areia era perfume dos melhores para os meus sentidos. Eu não entendia direito o porquê de tanta ligação. Onde ele começava e eu terminava? Onde eu me prendia e ele me libertava? Eu só queria ficar ali, apreciando quietinha.
Pensando na vida, e que vida! Família, marido, filhos, salário, divórcio, guarda compartilhada, estaca zero, começar de novo e de novo. Chega! Silêncio! Respiro e confesso meus fracassos para mim mesma. Depressão! Xô, não te quero perto, quero vida! Agarro-me àquele momento com toda a minha alma, forte que sei que é. Respiro fundo absorvendo o bálsamo da existência. Não quero mais nada, só tu minha vida. Mas te quero com mais sorte, mais alegria. Quero-te de volta.
Olho para as ondas que começam a lacrimejar na beirinha. Admiro e faço um pedido: levem embora tudo o que não desejo mais, carreguem o desvalor, o menosprezo, a falta de esperança. Na volta, tragam meu amor, o próprio. Nem sei se vale a pena. VALE, o quero de volta, sim! Saúde, prosperidade e mesa farta, abastança para meus filhos. E muito tempo para o dolce far niente. Inteligência, lucidez, as quero comigo todos os dias!
Escalarei montanhas e correrei maratonas, darei palestras, amarei ao próximo com todas as minhas forças. Controlo o meu pico de emoção. Começo a meditar.
Não sei quanto tempo já passou, o mar começa a ter movimento, e o convite fica mais evidente. Não consigo mais resistir, sacudo os pensamentos na areia, deixo a lucidez para os sonhos. Agora quero um banho, uma limpeza, um balanço. Levanto, prendo as beiradas da esteira com meus chinelos, solto os cabelos ao vento e corro para o mergulho da comunhão. Sinto o sol arder no lombo. Penetro nas águas mornas e profundas daquela outra vida. Acostumo rápido. Não quero mais sair dali.
Lindo. Me fez pensar em minha vida, cheia de recomeços. Sempre sacudindo a areia e mergulhando de cabeça.
Parabéns, querida.
Obrigada, Neusa, uma satisfação receber teu comentário.
Abraço.
Obrigada Anorkinda, muito me honra teu comentário já que tens uma crítica apurada e bem fundamentada nos teus comentários. Gostei muito e aproveitando, parabéns pelos teus belos trabalhos, principalmente com poesias, sempre tocantes.
Abraço
Maravilha de texto, desabafo, reflexão.. exaltação!
Parabéns, Simoni.
A gente mergulha junto com a emoção!
Encontrei esta frase estranha aqui:
‘Não quero mais nada, só tu minha vida. ‘
faltou uma vírgula: só tu, minha vida
😉
Abração