O odor é inebriante, especialmente para alguém que perdeu grande parte do olfato em algum lugar faz meia-hora. Ainda assim cubro meu nariz de veias dilatadas com a mão direita, enquanto mergulho minha mão esquerda na privada inundada de excrementos. Remexo a bosta – que soterra meu punho – em busca da nota de dez reais que tentou o suicídio. Imagino sua solidão na carteira que imita couro e sinto seu desespero nesse calor escaldante. Melancolia e suor, combinação perfeita para perder as esperanças. Não posso culpá-la, todavia também não posso ser o carcereiro relapso que ilumina os lugares errados.
A nota avermelhada se camufla naquele ambiente hostil acostumado com hemorragias. Ela se esconde como se eu fosse o “Predador” de vasos sanitários. Quem me dera ter dradlocks e uma dentição tão homogênea… Ajeito os óculos – embaçados pelo metano – com a mão menos suja, e me amaldiçoo em silêncio por não ter treinado a canhota. Sinto-me como um paciente com mal de Parkinson tentando recolher bichinhos de pelúcia numa máquina de shopping.
Enfim, alcanço meu tesouro inestimável grudado entre restos lamacentos de algum desgraçado com uma dieta pobre em fibras. “Merda”, grito ao erguer aquele pedaço de coisa que já é parte de mim. “Não, sorvete”, responde um idiota na cabine do lado que assovia a nona sinfonia pelo reto.
Lavo a nota tingida de gente na água amarelada da pia e a deixo secando em um varal improvisado – que construí com meu maço de cigarros falsos. Assopro na sua direção, tal qual uma mãe zelosa que esfria a sopa de seu filho preguiçoso. O flautista de esfíncter sai de seu estúdio improvisado e me encara com uma dignidade inacreditável. Enxuga demoradamente o suor que escorre em profusão de sua testa avantajada e ajeita o cabelo seboso que parece ter sido penteado com gordura de porco. Ele sorri para o espelho, e eu sorrio por dentro enquanto contemplo as manchas espirais em sua camisa de seda. Imagino que as axilas do sujeito devam sofrer alguma espécie de incontinência. Penso em sugerir fraldas ou absorventes para aqueles sovacos tropicais, mas não sou de gastar nada, nem mesmo palavras. “Andropausa precoce” apostaria de modo arrogante – sem sequer arquear as sobrancelhas – se eu fosse aquele médico misantropo que sempre descobre tudo no final do episódio.
Com cuidado, abano a cédula no estágio final da reabilitação, que dali pra frente pensará duas vezes antes de tomar qualquer atitude impensada. De rabo de olho, observo o Kenny G de rabo sair do banheiro e esquecer 1/3 de sua cerveja em cima da pia. “Jackpot” meu cérebro grita em alegria. Sem pestanejar, pego a latinha morna e derramo um gole delongado em minha garganta com gosto de gente. Mastigo o líquido viscoso na mesma velocidade em que caça-níqueis engolem moedas. Meu estômago pisca com um fliperama que acaba de gravar um novo recorde.
Não me esqueço do pequeno caixão – que acomoda as minhas queridas velinhas cancerígenas – lindamente decorado por alguma imagem mórbida de cor vivaz. Um amontoado de carne vermelha e retorcida. Gangrenada, granada, granola, balbucio num mundo de poucas coincidências e de grandiloquência fúnebre. Grana, grana, grana! Meus bolsos mentais voltam a ficar cheios. Gramas que me fazem ascender. O único axioma que reconheço.
Saio do banheiro como um chacal à procura de presas. Escaneio as mesas buscando os restos esquecidos pela geração da abundância. O que seria de mim sem as pessoas que não bebem até a última gota, não comem os amendoins torrados, que não fumam a última ponta? Indivíduos que abreviam “cadê” e não recolhem a bandeja. Que pagam couvert artístico, apesar do déficit de atenção, e fazem vaquinha virtual para salvar ratos de laboratório. Porém, para minha infelicidade, eles não estão aqui hoje. “As ovelhas que salvam beagles vão deixar o urubu com fome”, anoto mentalmente o resumo de mais uma das fábulas idiotas que vez por outra me rendem um tostão na agência.
Vou até o balcão e peço o de sempre. O atendente com cara de poucos amigos – e que sempre rejeita minha amizade na rede social – me traz um copo d’água da bica e gira nos calcanhares, antes de receber o pagamento usual; uma espécie de sorriso de soslaio e uma mesura oriental, que aprendi num filme da sessão da tarde.
Bebo um trago da “gentileza” gratuita e olho ao redor. O local já está às moscas e moscas não costumam pedir mais do que consomem. Encaro as garrafas dispostas em fileira e um pensamento louco invade o meu gueto craniano. Cogito fazer uma excentricidade, que certamente trará arrependimentos e algumas noites em claro.
– Quanto tá a dose do nacional?
– 10 reais – ele responde assustado, como se estivesse presenciando a passagem do cometa Halley, em um ano bissexto, de dentro de um dirigível.
– E meia dose, tem desconto?
– Tem, 4.99 – sentencia com sarcasmo. Logo imagino o Hildenburg derretendo em chamas.
– E o paraguaio?
– Nós não trabalhamos com paraguaio.
– Isso me parece um pouco de xenofobia, em pleno século 21…
– Temos um 21 anos escocês.
– Ná, não suporto escoceses.
– Uma dose por conta da casa antes de você ir embora – meu novo melhor amigo diz, me expulsando com um olhar saturado.
– Deus salve a Escócia, o Sean Connery e o William Wallace – grito, segundos antes de virar a dose – todas as suas saias xadrez e suas gaitas desafinadas.
A maravilha destilada desce fazendo cócegas. As células surpreendidas vibram com a dopamina exagerada. Se não tivesse desenvolvido uma relação tão intima e de cumplicidade com aquela nota problemática, provavelmente teria feito uma loucura, concluo colocando a mão no bolso.
– Até amanhã, mate!
Já com os dois pés na calçada, recebo um esbarrão de um homem maltrapilho. Vejo nitidamente desespero e violência em seus olhos diminutos. Desorientado, ele ergue um gargalo quebrado e aponta na direção do meu pescoço.
– Me passa o que tiver na carteira ou já era, camarada!
Sem pestanejar, cerro os punhos e contraio a mandíbula.
Um bom conto estilo Bukowski, ainda que mais deprimente e profano. Devo confessar que não aprecio muito frases escatológicas, mas vejo isso a todo instante nos contos modernos. Aí vai do gosto do leitor, mas lembre-se de que muitas pessoas não gostam de ler contos com cenas fortes demais para o estômago. Bom, de qualquer forma é necessário escrever sobre a degradação, esse é o mundo em que vivemos. As suas frases são bem construídas, profissionais mesmo, o que dá valor literário ao seu conto. Mas, ainda que eu hesite, devo recomendar mais calma. O conto pareceu-me conter um tantinho a mais de poluição do que deveria.
Eu preso muito a fidelidade ao tema, e seu texto me encantou muito com esta avareza impregnada em cada sentença do seu texto. Parabéns! Quando eu crescer quero escrever bem como você rsrsrsrs
boa sorte 😀
Oi, Eike.
Seu conto está dentro da leva que li hoje: muito bem escrito e criativo.
Consegui me divertir com a figura avarenta, e as palavras e expressões foram usadas na medida certa. Seria bom que o conto tivesse duas mil palavras, porque gostaria de ler mais as desventuras de nosso camarada, mas jamais poderia dizer que da forma que está o conto parece incompleto.
quinhentas, mil, ou cinco mil palavras, tenho a impressão de que essa história se sairia bem em qualquer molde, pouco ou muito ampliada.
Bom trabalho, camarada.
Beleza. Li novamente e taí a avareza. Concordo com o personagem em cerrar os punhos e contrair a mandíbula. Tem dias que não dá pra deixar uma nota ir parar em mãos erradas.
Fiquei meio sem entender qual a relação do conto com o desafio, mas beleza, achei bem escrito. Quem escreve tem talento. O ponto alto é que é bem visual e tem termos interessantes: flautista de esfíncter? Nota tingida de gente? Eu ri. Suspeito do autor.
Ah, maldita avareza que nos presenteia nesse conto! Ficou bom. O começo me lembrou uma cena de Trainspotting … logo não me assustou como poderia, mas ainda assim, um sofrimento que não sei onde vale a pena! rs.. E do final, esperar mais o que? … incrível o cara com a sinfonia nos traseiros! kk
Bons diálogos e uma estrutura que caminha segura até o desfecho bem planejado.
Legal o conto Eike. Apesar da crueza descrita nas cenas, percebi o humor mórbido do personagem. O autor mostra – em minha opinião – o fim de “um homem caído”. Não apenas anjos caem, não é?
Conclusão sensacional. Parabéns!
Hehe, gostei. Mais um personagem que me cativou. Gostei do tom da narrativa e o final ficou bacana, jogando a bola para o leitor. Uma história que funcionou no tamanho em que está, minha opinião. Muito bom!
Prezado autor, optei por dividir minha avaliação nos seguintes critérios:
≋ Trama: (4/5) achei muito divertida a história do avarento que não perde uma nota de dez de jeito nenhum rs
✍ Técnica: (4/5) muito boa, com metáforas e sacadas hilárias como “nona sinfonia pelo reto”, “flautista de esfíncter”, “fraldas ou absorventes para aqueles sovacos tropicais” 😀 — Construções muito no bonitas para narrar o sujo e feio rs
➵ Tema: (2/2) um verdadeiro avarento (✓).
☀ Criatividade: (3/3) com certeza, o autor possui uma mente bem criativa.
☯ Emoção/Impacto: (4/5) me diverti bastante, como já disse. Muito bom!
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Classificação: ❹º (Teve nota 17 e empatou com outros quatro. Aplicando os critérios de desempate, ainda ficou empatado com “Flores de Vênus”, que ficou na frente depois de uma difícil decisão pessoal).
Bom conto. A primeira cena é bem repugnante, o que me faz afirmar que foi bem escrita. Este avarento é um personagem muito peculiar e foi muito bem construído. O autor mostra certa erudição ao fazer referência histórica ao citar Hindelburg (com n e não com l, segundo o google), um dirigível nazista. O final atesta definitivamente a sovinice do indivíduo, hahahaha. Boa sorte.
Gostei das descrições e do ambiente podre, mas achei que a trama ficou devendo um pouco. O personagem principal, apesar de toda nefasta nojeira que o cerca, consegue cativar pela sinceridade, e isso é um grande mérito do escritor. No mais, não gostei de algumas construções exageradas mas, ao fim e ao cabo, é um bom conto.
pontos fortes:
Gostei do conto, e da narrativa em geral. Consegue descrever de forma muito individual a aflição de um tipo que quer desesperadamente beber e procura uma nota no meio da merda
Pontos a melhorar: Creio que houve algum exagero na descrição de algumas cenas mais escabrosas e nojentas. Talvez tivesse sido esse o seu objectivo, mas achei irrelevante para o texto.
Contudo gostei do que li- Parabens
Olá, caro Eike(Batista?kkk)Hardbread(Pão-duro, gostei do trocadilho)!
Seu texto é bom na medida em que propõe uma espécie de distopia fantástica, inovando na descrição em primeira pessoa, que coube perfeitamente na proposta, além de trazer o leitor mais profundamente para a história, de tal forma que transmite todas as sensações de “nojo” que você pretendia. Contudo, senti que há um excesso de sugestão, que acaba deixando tudo muito aberto. O final é bom, mas, reiterando, muito sugestivo. Quem sabe uma mudança, deixando tudo muito mais claro(Ainda dentro da técnica de mostrar e não “dizer”)não deixa tudo muito mais coeso e ilustrativo? Parabéns!
Antes que esqueça: lembra aquela cidade que um monte de gente invadiu o laboratório para libertar sei lá quantos beagles? Depois disso, a cidade ficou cheia de cãezinhos abandonados! Agora vamos ao seu avarento bem humorado e bem resolvido. Dentro da proposta de uma narrativa engraçada, sem forçar a barra e cheia de convites à reflexão, só não acreditei que o atendente lhe desse uma dose por conta da casa só para ele ir embora.
Uma narrativa bem personalista, com o foco situado nas experiências anteriores da personagem que a levam a tomar certas atitudes, ou até mesmo em comparações bem cotidianas e banais (estômago vs. fliperama). Achei um recurso legal, uma vez que traz o personagem mais pra perto de quem lê, mas talvez não tenha sido a melhor escolha para uma narrativa curta: não pareceu caber muita HISTÓRIA a ser contada, “só” as impressões da personagem (bem desenvolvidas) sobre certos assuntos corriqueiros/comuns.
Pois então, assim, chegamos ao fim: pareceu mais uma cena cliffhanger de uma série estadunidense normalzona (dentro da fórmula: casos individuais por episódio e às vezes episódios duplos sobre um determinado assunto, exemplificado por House, CSI, NCIS etc.) do que uma narrativa fechada. Talvez justamente pelo foco na personagem ao invés da narrativa.
É um bom texto, uma corrida legal/interessante pela cabeça dessa pessoa extremamente medíocre, mas há um certo vácuo narrativo que não achei ter sido tão bem preenchido quanto poderia.
Boa escrita! 😉
Fiquei me perguntando qual a função de dar tanto destaque à merda no início do texto. Além da incoerência que a palavra especialmente dá primeira frase, ficou conflituosa a informação de que o sujeito ganhas uns trocos na agência, quando parece um pedinte que anda à esmo. A sensação final que fica é de não encontrar motivação real para as atitudes do protagonista ou mesmo de que seus pensamentos não casam com suas ações. Por fim, o título não encontra eco no que é contado.
Poxa. Uma pena que você não tenha entendido a proposta.
Mea culpa!
Ah, ele não é avarento porque é um pedinte, é justamente o contrário. Ele é um pedinte por ser avarento.
Mas que belo texto, tchê! Um dos textos com melhor escrita e descrições mais pormenorizadas do desafio, até agora. Gostei que esse vagabundo fosse, também, prolixo. Toda sua saga para manter a nota arduamente conquistada nos faz criar uma empatia de intimidade com o cara, e sua ira (e provável revide) ao ser assaltado é sentida como fosse nossa. Também aprendi uma palavra nova com esse título haha. Gostei muito, parabéns e boa sorte.
Bem… Só pelo título, nickname e ilustração escolhidos, já dava para imaginar o pecado do qual o presente conto iria tratar. A surpresa foi a qualidade do texto e a irrepreensível técnica do escritor, que prova ser um profundo entendedor do riscado. Faz o leitor entrar na sovina mente do protagonista e, assim, deliciar-se como se estivesse em um Avatar. Texto irrepreensível. Nada a acrescentar; até porque não quero ficar aqui gastando palavras… 😉
Parabéns!
Paz e Bem!
O conto não me agradou. Não me agrada esse tipo de linguagem nos contos, mas é gosto pessoal. Acho que o autor até foi criativo e soube trabalhar a história, mas realmente não faz o meu tipo.
Que começo foi esse, me deu ânsia de vômito, rsrs. Muito ousado. Gostei das comparações e metáforas, muito bem construídas, um tipo de humor que não gosto, mas entendi. Fico pensando o que leva uma pessoa a agir como ess personagem… A técnica é muito boa, o escritor tem domínio sobre o que faz. O final em aberto me deu vontade de ler mais. Sucesso no desafio !
Olá, autor(a). Primeiro, segue abaixo os meus critérios:
Trama: Qualidade da narrativa em si.
Ortografia/Revisão: Erros de português, falhas de digitação, etc.
Técnica: Habilidade de escrita do autor(a), ou seja, capacidade de fazer bons diálogos, descrições, cenários, etc.
Impacto: Efeito surpresa ao fim do texto.
Inovação: Capacidade de sair do clichê e fazer algo novo.
A Nota Geral será atribuída através da média dessas cinco notas.
Segue abaixo as notas para o conto exposto:
Trama: 9
Ortografia/Revisão: 10
Técnica: 8
Impacto: 7
Inovação: 9
Minha opinião: Muito bom. Conseguiu extrair o pecado da avareza em quase todas as frases, usando um final muito bom que deixa os leitores bem instigados. A criatividade e as pequenas piadas também caíram muito bem no conto.
Parabéns e boa sorte no desafio.
O texto foi bem escrito. Se a intenção era era criar um personagem desprezível e mesquinho, o enredo obteve sucesso. Porém sinto que falta algo mais, a história foi bastante curta.
Muito bom!! Cenas bem descritas, situação hilária, personagem bem definido. Se o conto pecou em algo, passou desapercebido. Surpreendente o que o(a) autor(a) conseguiu aqui.
Boa sorte!!
Confesso. Sou preconceituoso. Coxinha, talvez. Conservador, prefiro narrativas que vão de A para B, que conduzem o leitor por fatos que, gerando expectativa chegam à catarse. Por isso, tinha tudo para não gostar deste texto. No entanto, me rendo. Achei a narrativa foda para cacete. O uso das palavras, a elaboração dos pensamentos do narrador, a ironia, a sandice… Enfim, tudo está interligado de forma perfeita. As metáforas, as situações inconcebíveis que realmente acontecem. Putz, o que é essa busca pela nota de dez reais no meio da merda? Cara, esse trecho deveria figurar nos anais (sem trocadilho) dos melhores momentos do blog. Mais ou menos como “Filme de Rola”, do Rodrigues. Surreal e ao mesmo tempo genial. Um conto que cheira a bar fechando, fumaça de cigarro e perfume barato. Fácil simpatizar com o narrador, gostar dele, chamá-lo amigo. Penso aqui: ultimamente tenho preferido textos que privilegiam o aspecto psicológico dos personagens. Aqui, o autor foi perito nisso. Pouco importa se não há uma história no sentido tradicional da expressão. A construção da psiquê do protagonista foi extremamente bem executada e, para mim, coloca este conto no topo da lista. Belo trabalho. Parabéns.
Excelente conto! A descrição inicial de todo o processo de resgate da nota é de embrulhar um estômago, mas são essas as sensações que eu busco quando estou lendo um conto. O restante também não deixa a desejar, e mantém a linha mostrada inicialmente. Parabéns pelo trabalho!
hauhuhua muito bom..passando pela parte nojenta que nao pude reler!
Dei muita risada!
parabens!
Bastante focado no pecado da avareza, é isso que eu queria ver, o holofote no pecado.
pena da nojeira inicial na privada, vai perder posição no ranking! kkkk
abraço!
Gostei muito desse conto. Mas, quanto ao pecado, me perdi totalmente. O seu personagem é genial, intelectualóide, porém, pelo que pude notar, ele não denota o pecado da avareza, como pensei. Esse conto, embora magistralmente excelente, gira em torno de qual pecado capital?
No mais, parabéns.
Gostei bastante. Se sente toda a aflição do avarento com muito humor e ironia. Essa comparação com o Mal de Parkinson pode incitar o ódio nos politicamente corretos, mas eu gostei, e me culpo por gostar 😛 “Lavo a nota tingida de gente” Muito bom! Gosto, em especial (além de toda a narrativa) de como o sujeito muda de uma hora para outra quando o cara do bar lhe oferece uma dose “de grátis”. Ficou muito bom e eu até gostaria de mais algumas doses, sobretudo acerca de criticas sociais. Hic…Hic!
Parabéns! (Agora, só para aumentar o número de bolas fora, chuto R$ollberg)
Valew, Santino!
Adorei o $ no meu nome, kkkkkkkkk
Bjs
Bem narrado, com imagens criativas, gostei também do diálogo sóbrio. Uma dose de humor também presente.
Português – bom.
Trama – descrição de um momento na vida de um alcóolatra.
Estilo – monótono, sem atração, previsível.
Não chega a ser uma história, seria mais um monólogo.
Final – fica no ar, em aberto. Se o personagem agrediu ou foi agredido, é irrelevante. Nada que surpreenda o leitor.
Gostei bastante. Muitas frases legais no teu texto. Me ganhaste com o “flautista de esfíncter”. Sensacional!
Esse conto é nojento. No bom sentido, claro. O autor conseguiu criar um ótimo clima, fazendo com que o leitor até sinta o fedor do ambiente. Infelizmente a historia não me agradou muito, apesar de eu ter ficado feliz ao ver que alguem enfim estava tentando explorar um pecado pouco visto até agora. Tenho certeza de que este conto vai se dar muito bem, apesar de não ser o meu tipo de leitura. Parabéns ao autor.
Há algo de animalesco ou inumano no comportamento do personagem-narrador neste ótimo conto, que é uma grande crítica a um dos aspectos da sociedade contemporânea mais monstruosos: a acumulação material que beira à insanidade (como insano demonstra ser o personagem), aspecto esse que oxalá faça parte dos últimos estertores do capitalismo.
O traço que liga o personagem ao real empírico contemporâneo sob o viés acima pode ser exemplificado na própria ideia de uma cédula de R$ 10,00 (uma nota de valor médio, mediano, medíocre) estar dentro de um vaso sanitário abjeto e o personagem empenhar-se tanto em recuperá-la. Observe-se que o banheiro público ganha, em tais circunstâncias, conotações que ultrapassam a primeira camada de leitura, a mais evidente: o banheiro é a própria podridão em que o grande teatro da sociedade contemporânea vive, um “[…]ambiente hostil acostumado com hemorragias”.
Numa outra interpretação, o banheiro pode ser entendido como uma metáfora do Inferno, como entendido pelo Cristianismo. O próprio personagem, como já disse no início deste comentário, não parece muito humano. Quando o narrador diz “[…] ajeito os óculos – embaçados pelo metano – com a mão menos suja, […]”, isso lembra a emanação de gás irritante que o Cristianismo afirma existir no Inferno, normalmente associada ao enxofre ou ao amoníaco, mas o metano pode ocupar o lugar deles, na condição de símbolo. Interessante observar, considerando o que acabo de mencionar, o início do conto: “O odor é inebriante, especialmente para alguém que perdeu grande parte do olfato em algum lugar faz meia-hora”. O personagem “perdeu o olfato” não no banheiro, mas “em algum lugar”. Onde seria? Não seria ele alguma entidade infernal, habilmente disfarçada pelo narrador? O final do conto talvez sirva para corroborar esta hipótese (devaneio?): “Sem pestanejar, cerro os punhos e contraio a mandíbula”. Não parece a reação de um ente animalesco e/ou demoníaco? Outra passagem nesse sentido: “Sem pestanejar, pego a latinha morna e derramo um gole delongado em minha garganta com gosto de gente”. O que o narrador estaria querendo dizer com “garganta com gosto de gente”?
A crítica ao contemporâneo também se materializa no seguinte trecho, porém não em relação ao viés materialista, e sim quanto à falta de sentido e ao espetaculoso de alguns atos, algo tipicamente atual: “Que pagam couvert artístico, apesar do déficit de atenção, e fazem vaquinha virtual para salvar ratos de laboratório”.
O conto apresenta algumas construções frasais preciosas, por originais, como em
“[…]sugerir fraldas ou absorventes para aqueles SOVACOS TROPICAIS[…]”. Não é o preciosismo textual, a pérola rara, o barroquismo: é literariedade, ou seja, o trato linguístico da palavra com equilíbrio estético.
Outro ponto positivo é a qualidade dos diálogos. Há um aproveitamento dos termos referidos na fala de um personagem como mote para a fala do outro personagem, mas não no esquema automático pergunta-reposta. Apesar disso, o diálogo flui muito bem, escorre perfeitamente. Estou me referindo ao diálogo que se inicia em “– Isso me parece um pouco de xenofobia, em pleno século 21…” e termina em “– Deus salve a Escócia, o Sean Connery e o William Wallace – grito, segundos antes de virar a dose – todas as suas saias xadrez e suas gaitas desafinadas”.
Obrigado, Selga, por esse Raio X que só você sabe fazer.
Queria ter 10% desse olhar clinico!
Abraço
Sobre a técnica.
Muito boa! A forma descontraída de narrar me lembrou o Solberg e o FB. E essa sujeira toda deu uma cara diferente. Retratou muito bem a Avareza.
Sobre o enredo.
Gostei. É sujo, escrachado e transforma uma coisa bizarra em algo normal, devido a forma de narrar. O que a avareza não faz com as pessoas… nojento. Hahaha
Parabéns e boa sorte!
Valew, JC!
Quase te enganei nesse!
Abraços
Grande conto! Mais muquirana só se fosse o Tio Patinhas, rs. Bem redigido, com um personagem principal bastante convincente (e bem desagradável). Parabéns!
Meu sistema: EGUA.
Essência: Bem inusitado e sutil, pegando um dos “tipos mais difíceis”. Nota 9,00.
Gosto: Curti o tom escrachado e a odisseia pela nota de dez. O final fechou o ciclo com chave de ouro. O bom humor, aliado a boa escrita, deu o tom certo. Nota 8,00.
Unidade: Nada me incomodou nesse quesito. Deixo o troféu cata-piolho para os outros. Nota 9,00.
Adequação: Saiu do lugar comum e narrou uma “bela” aventura, deixando o tema subjetivo e na cara ao mesmo tempo. Nota 10,00.
Média: 9,00.
Valew, Brian!
Obrigado pela generosidade.
Abraço
Ai, que nojo! Boa descrição da situação do avarento. O que não se faz por uma nota de 10 reais? Bom, eu não faço muita coisa!
O conto está muito bem escrito, com passagens ótimas que levam o leitor direto à cena narrada. O final também funcionou bem, com o impacto necessário para focar toda a atenção no pecado escolhido.
Não encontrei erros. O autor sabe muito bem o que quer passar e o faz com maestria. Parabéns pelo trabalho. Boa sorte!
O conto foi bem divertido e o uso do pecado capital “avareza” tbm foi um ponto a mais neste bom conto. Algumas coisas a acertar em algumas frases, mas bem pouca coisa até.
O personagem-narrador é um achado: horrívelmente egoísta e sem pudor.
Opa, esse foi dos bons!
Muito bem escrito e bastante divertido.
O começo me lembrou bastante Trainspotting, na cena em que o cara afunda no vaso atrás de uma pílula que tinha enfiado no rabo não me lembro com qual finalidade kkkkkk. Aliás, esse é um filme que preciso rever.
Bom, apesar do conto fluir muito bem, não há necessariamente uma trama aqui. É apenas uma sucessão de eventos aleatórios, sem outro fio condutor além da excelente narrativa.
Veredito: ótimo conto. Se tivesse um enredo mais amarrado, seria meu preferido.
Valew, Fábio zero um.
Tu acredita que eu não vi Trainspotting. Está na minha lista tem tempo.
Acho que agora tem a série.
Abraços
Bom texto, o estilo meio ácido lembra Lourenço Mutarelli. Bom começo. Bom final. Talvez um pouco caricato em excesso com algumas frases de efeito sem efeito. Usou muita descrição, mas ao mesmo tenpo quase não descreveu a personagem principal. Só a avareza foi considerada. Até o maltrapilho do final recebeu mais atenção do autor. Mas nada que atrapalhe muito o texto. Alguns excessos, alguns exageros mas um bom texto.
Obrigado, Pedro!
Anotações feitas.
Abraço
O narrador pode ser um praticante do sovinismo hardcore mas abusou das palavras haha, esse é um ponto alto do conto, outro ponto alto é o personagem muito bem caracterisado, realmente gostei desse conto. 😀 boa sorte!
Obrigado, Mariana! Gostei do ‘Sovinismo Hardcore”, definição perfeita.
Abraços
Quase certo de que tenho certeza de quem escreveu esse conto… e que contaço com as sacadas genias de sempre.
Gostei muito. Senti que repetiu algumas coisinhas do ultimo conto que li seu (se for do autor) e isso me deixou só um pouquinho receoso, devido a zona de conforto) mas em compensação tivemos coisas muito, mas muito inovadoras por aqui.
A narrativa foi a mais perfeita até agora.
Só uma ressalva:
Meu estômago pisca com um fliperama que acaba de gravar um novo recorde – como?
Trama:(1-10)=10
Narrativa:(1-10)=10
Personagens:(1-10)=10
Técnica:(1-10)=10
Inovação e ou forma de abordar o tema:(1-5)=4 apenas por achar que depois de ler o conto eu, eu mesmo e todos os outros (que foi postado por aqui no EC) sendo ou não o autor em questão… senti que poderia ter nos apresentado algo diferente, para surpreender mesmo… mas é estupendo o conto!
Título: (1-5)=5 cincaço! Titulo muito show
Só tenho que parabenizar pelo melhor conto que li até agora!
Um forte abraço!
Valew Sidnei!
Abração Camarada!
Gostei da história do avarento que paga por sua avareza. A história não me cativou tanto, não sei nem dizer o porquê. Ela é boa, mas já tenho outras à frente no meu top-3. Apesar disso não tenho do que reclamar desse conto, não vi nenhum erro. Gostei do início em que o personagem chafurda na merda por causa do dinheiro mostrou bem o nível de avareza dele.