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Detox Literário.

Sem Pecados (Claudia Roberta Angst)

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Sofro de bondade. Nasci assim, diz minha mãe. Fervorosa devota de Santa Clara, fez de mim um Francisco sem riscos.

Não alimento paixões desde os cinco anos de idade. Foi quando descobri que Tia Celina, professora do pré-primário, não podia se casar comigo. Havia outro. A aliança denunciava um marido como meu rival. Mas, não foi só isso. Existiam outros que disputavam o amor dela: meus colegas de classe. Diante da terrível descoberta de ser minha amada uma leviana, fechei meu coração ao mesmo tempo em que desenhava o meu primeiro a.

De lá pra cá, aceitei viver meu quinhão neste mundo de provação. Não minto, pois seria inútil e cansativo. Só arrumaria dor de cabeça tentando escapar dos cascudos que viriam em seguida. Estes, garanto, nunca mereci.

Sou realmente bom. Não ótimo porque isso seria soberba e dela não me visto. Não sou melhor do que ninguém e nem invejo a identidade alheia.

Sirvo-me frugalmente da vida e da mesa. Sempre com parcimônia, alimento-me enquanto escuto pacientemente a ladainha de minha velha mãe. O sino dobra ao meio-dia e a igreja matriz parece se aproximar dos meus pensamentos. Sorrio para aquela mulher, imaginando como ela seria com dentes.

A falta de vaidade foi herdada ainda no berço. Poucos espelhos existem em minha casa. Alguns poucos apenas para garantir asseio e compostura. Nariz mirando horizonte, limpeza e ordem. Não mais, não menos.

Sou trabalhador, um profissional exemplar. Servidor público, ganho um bom salário. O suficiente para contribuir com as despesas da casa e ajudar os pobres. Calculo bem a parte que lhes cabe. Sou Francisco, mas não sou santo.

Tia Norminha chamou-me outro dia de anjo. O elogio, dito entre um sorriso e uma garfada no bolo de aipim, caiu-me algo traiçoeiro. Tive a nítida sensação de que algo crescia nas minhas costas. Apêndices clandestinos, dois calombos dificultavam meu apoio no encosto da cadeira.

Tenho três irmãos que me seguem em ordem decrescente: Tadeu, Pedro e Catarina. Falam e fazem bobagens o tempo todo.  Como sou o mais velho e dispenso meus próprios sermões, finjo que nada vejo dos seus desacertos.

Meus irmãos não são tão bons. Inventam histórias sobre meus passeios na praça. Dizem que namoro uma vizinha, a carola casada com o coveiro da cidade. Quando se cansam desse enredo, modificam as calúnias com novos detalhes sórdidos. Ora fumo maconha sob a árvore centenária; ora tenho ímpetos pedófilos e persigo moleques nas vielas da vizinhança.

Se odeio meus irmãos? Claro que não! Já disse: sou bom. Um dia, eles encontrarão seu manto de boas intenções. De santos, os nomes já têm Falta-lhes, talvez, essa coisa que chamam de coração.

Minhas idas à praça dão-se por uma única razão: falta-me preguiça. Se não estou trabalhando ou auxiliando minha mãe na lida doméstica, encontro sempre um bom motivo para esticar os músculos. Minha cama conhece-me bem pouco. Dedico-lhe as horas necessárias de sono e só.

Sou mesmo assim, sempre fui. Bom. Até que conheci Joana.

Não me apaixonei, juro que não. O olhar vesgo e as feridas nas pernas me comoveram, é verdade, mas também demoveram qualquer má intenção. Era tão desprovida de encantos que ali só podia primar alma desprendida e pura.

Era falante a menina, casca grossa em pele e palavras. Logo, crivou-me um olhar sem apelo. Eu sorri em consentimento de amizade. Contei-lhe sobre minha vida de mecanismo tão preciso quanto ao de um relógio: família, trabalho, religião e um pouco da história da cidade. Ignorei o incômodo que latejava sobre minhas omoplatas. Joana interrompeu-me curiosa, pôs as mãos na cintura e me olhou com quase nojo.

─ Por que você é assim tão sem graça?

Eu a olhei incrédulo, sem palavras. De todas as ofensas já recebidas, aquela foi talvez a única que nunca imaginei ouvir.  Joana apontou-me a banalidade em todos os aspectos da minha vida. Disse ainda que a ausência de pecado era, para ela, também um defeito. Mesmo vesga, havia em seus olhos uma intensa direção. Surpreso, percebi que ela toda era um sorriso. Dos pés à cabeça, a menina revelava-se alegria em prosa.

Foi então que pequei. Não sei se é assim com todos, mas comigo doeu e muito. Rasguei-me de inveja da espontaneidade juvenil de Joana. Cobicei-lhe os trejeitos de quem se gosta mais do que merece.

Em ritmo claudicante, Joana foi até o carrinho de sorvete e voltou com um picolé de limão. Disse que não me oferecia porque talvez não me agradasse o prazer de um gosto.  Eu nada disse, arranquei o sorvete de suas mãos e o devorei em mordidas geladas, enquanto avistava nuvens de espanto tomarem os olhos sardentos daquela pequena.

Joana disse um ou dois palavrões. Fui até o sorveteiro e gastei todo o dinheiro que tinha nos bolsos. Ciente dos meus deslizes sem volta, entreguei apenas um picolé à Joana. Os outros três, devorei com a pressa de um condenado faminto.

─ Sou bom!

Joana deixou escapar um sorriso enquanto tirava o papel do seu picolé. Ao ver a menina estragar o momento que eu já julgava perfeito, avancei e lhe dei um beijo, arrancado assim de um repente. Joana pôs-se a gargalhar e, sem cerimônia alguma, levantou-se a chacoalhar o corpo, afastando-se de mim.

Esperava não ser tarde demais quando alcancei a menina e a puxei pelos cabelos. Na força da hora, sacudi-lhe o corpo franzino e bati sua cabeça de encontro ao banco de concreto. Uma, duas, três vezes. Depois, perdi a conta. Os gritos e o sangue mesclaram-se em doses iguais. Perfeita consagração: hóstia mergulhada no vinho. Senti falta do sermão do padre e das ave-marias que me serviriam de algum alento.

Depois, foi aquela correria na praça e os guardas trançando seus braços nas minhas asas. E foi assim que cheguei aqui, Seu Delegado. Sei que minha mãe me aguarda lá fora. Não tenho mais nada a dizer.  Minhas mãos ainda cheiram à ferrugem. Como pode um corpo tão frágil guardar tanto sangue?

63 comentários em “Sem Pecados (Claudia Roberta Angst)

  1. wilson barros
    23 de fevereiro de 2015
    Avatar de wilson barros

    Belíssimo conto, que poderia chamar-se “O Castigo por Não Pecar”. Os pontos positivos são:

    – categoria em abordar o tema proposto.
    – Os trocadilhos (sem pecados, sem graça (divina))
    – O conto tem enredo, ao estilo de Maupassant (e Stephen King, há, há…)
    – Profusão de construçoes literárias (“descobri que a professora não podia casar comigo”, “sirvo-me frugalmente da mesa e da vida”, “falta de vaidade”, “a parte que cabe” aos mendigos, “falta de preguiça”, “o prazer de não ter um gosto”, a história das “asas nas omoplatas”.

    Pontos negativos: nenhum.
    Parabéns. Você é um profissional.

  2. Sidney Muniz
    23 de fevereiro de 2015
    Avatar de Sidney Muniz

    Gostei!

    A narrativa é interessante e a técnica é muito boa. Há alguns trechos que me desagradaram um pouco, mas nada que tenha descarrilhado tanto da linha que esse trem (o autor(a)) tenha seguido.

    Uai, sou mineiro sim.

    Trama: (1-10)=9
    Técnica (1-10)=9
    Narrativa (1-10)=9
    Personagens (1-10)=9
    Inovação e ou forma de abordar o tema (1-5)=5
    Título (1-5)=5

    Parabéns e boa sorte!

  3. Jowilton Amaral da Costa
    23 de fevereiro de 2015
    Avatar de Jowilton Amaral da Costa

    Bom conto. O final me surpreendeu. A condução é tranquila, vai fluindo vagarosamente e envolvendo o leitor. Muito bem escrito. Boa sorte.

  4. Edivana
    22 de fevereiro de 2015
    Avatar de Edivana

    Muito bom, se entregar aos desejos talvez não seja o maior pecado cometido. Obviamente, vamos para além da criminalidade. E se ele é sem pecados? Quem somos nós para julgar? …Achei a narrativa cativante. Abraços.

  5. Alexandre Leite
    21 de fevereiro de 2015
    Avatar de Alexandre Leite

    Intenso e muito bem desenvolvido.

  6. Leonardo Jardim
    20 de fevereiro de 2015
    Avatar de Leo Jardim

    Prezado autor, optei por dividir minha avaliação nos seguintes critérios:

    ≋ Trama: (3/5) interessante, fiquei sem saber se as asas eram de anjo ou demônio. Achei o final um pouco corrido.

    ✍ Técnica: (4/5) muito boa. Gostei da forma como o narrador engana o leitor e a ele mesmo.

    ➵ Tema: (2/2) o não pecador que peca (✓).

    ☀ Criatividade: (2/3) criativo, principalmente pela quebra da confiança do narrador.

    ☯ Emoção/Impacto: (3/5) o final foi corrido. Queria ter gostado mais, faltou mostrar mais e contar menos.

    Único problema que encontrei:
    ● santos, os nomes já têm Falta-lhes, talvez, essa coisa que chamam de coração. (ponto faltando)

    Obs.: ficou fora da lista pelos critérios de desempate (no caso “emoção/impacto”, o primeiro critério).

  7. alexandre cthulhu
    20 de fevereiro de 2015
    Avatar de alexandre cthulhu

    Pontos fortes:
    Texto bem redigido e com boa semântica.
    Pontos a melhorar: Achei o conteúdo do texto um pouco superficial. primeiro há uma assumpção de pureza, depois há uma transformação súbita devido a uma garota. o que eu não percebi foi a sua metamorfose tão rápida e brusca. Isso ficou por explicar
    boa sorte

    • Claudia Roberta Angst
      24 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Leia o comentário do Eduardo Selga e se fará luz …rs. 🙂

  8. Swylmar Ferreira
    18 de fevereiro de 2015
    Avatar de Swylmar Ferreira

    Texto muito bem escrito, trama excelente e um final absolutamente inesperado. Ao menos por mim.
    Bem a linguagem é objetiva, diálogos diretos, excelente narrativa também. Timing perfeito.
    Sinceros parabéns ao autor.

  9. Pedro Luna
    18 de fevereiro de 2015
    Avatar de Pedro Luna

    Escrita show, e eu gostei desse personagem Sem Pecados. Só que achei a reviravolta no final um pouco destoante do restante. Eu sei que é para isso que servem reviravoltas, mas essa foi longe demais, demolindo o que eu achava do personagem. Uma artimanha que talvez funcionasse melhor se o texto fosse maior, com um desenvolvimento mais trabalhado. Se existe algo no texto que contrarie o que eu disse, eu não vi. Mas gostei do conto.

    • Claudia Roberta Angst
      24 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Então, Francisco não é um poeta, mas um fingidor. Finge para os outros e para si mesmo que não peca. O narrador enganou você…rs.

  10. Bia Machado
    17 de fevereiro de 2015
    Avatar de Bia Machado

    Gostei do conto. Acho que foi escrito em um bom ritmo e o autor parece ter escrito tentando não ultrapassar um limite, para que a narração não ficasse em um tom exagerado. Essa, pelo menos, foi a minha impressão. Gostei do narrador-personagem. Só dá pra sentir dó de um ser desses, coitado, “doente” é o mínimo. A frase final me lembrou o livro “O Natal de Poirot”, onde uma das personagens, diante do morto, se pergunta, citando Shakespeare: “Quem poderia imaginar que aquele homem tivesse tanto sangue dentro de si?” Bom trabalho! 😉

  11. Gilson Raimundo
    17 de fevereiro de 2015
    Avatar de Gilson Raimundo

    Não provoque o que você não conhece, as vezes o ser humano é como um balão de gás, vai enchendo até explodir…então a coisa fede….

  12. Maurem Kayna (@mauremk)
    17 de fevereiro de 2015
    Avatar de Maurem Kayna (@mauremk)

    Gostei bastante desse monólogo demente-pretencioso-honesto ao extremo. O ritmo da narrativa flui bem e apenas a crase inadequada na penúltima frase incomodaram.

    • Claudia Roberta Angst
      24 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Olá, Maurem, Também fiquei em dúvida quanto ao uso da crase na frase apontada, mas acredito que a sua colocação é necessária para evitar a ambiguidade, a duplicidade de sentido. Por exemplo: “Cheirar à gasolina” (exalar o cheiro de gasolina) para diferenciar de “Cheirar a gasolina” (aspirar o cheiro da gasolina).

  13. Pedro Coelho
    16 de fevereiro de 2015
    Avatar de Pedro Coelho

    Gostei do conto, Francisco pecava sem saber, depois pecou sabendo e surtou ao descobrir isso. Estoria agradável de ler, que conduz a um final muito bom. Gostei do tratamento dado a metamorfose do homem.

  14. Rodrigues
    16 de fevereiro de 2015
    Avatar de Rodrigues

    Belo conto. Personagem bem desenvolvido em meio a uma trama em que os pecados foram inseridos com naturalidade. A saga do Francisco salta aos olhos a partir do momento em que começa a sentir-se confuso em relação a sua bondade, a questão levantada é bem interessante: pode um homem não ter pecados? A conclusão, talvez, seja o ápice do conto e é desprovida de qualquer artifício banal ou de fácil assimilação, a imagem que a frase final forma é bem assustadora.

  15. Lucas Almeida
    16 de fevereiro de 2015
    Avatar de Lucas Almeida

    Achei incrível o desfecho. Confesso que comecei a ler e achei a história rasa, sem emoção alguma, mas aos poucos ela foi ganhando vida, ou melhor, pecado, e quando o homem mata a outra é o apogeu. Fascinante!
    Boa sorte 😀

  16. Carlos Henrique Fernandes Gomes
    16 de fevereiro de 2015
    Avatar de Carlos Henrique Fernandes Gomes

    Com esse sobrenome, cheguei a pensar que o pecado seria o da gula mergulhada na maravilhosa culinária italiana! Esse seu anjo de asas cortadas só cometeu um pecado: soberba! Conto bem contado, conduzindo o leitor com calma até o anjo conhecer a vesga feliz, aí a mudança fica um tanto abrupta. E isso é até perdoável numa narrativa curta que não dá para perder tempo, só que não senti o sangue ferver nesse seu anjo de asas cortadas! Mas, fala sério! Que imagens você traz nesse conto! Quanta naturalidade!

  17. Leandro B.
    15 de fevereiro de 2015
    Avatar de Leandro B.

    Oi, Frank.
    “Ao ver a menina estragar o momento que eu já julgava perfeito,”
    Por que ela estragou o momento? Não entendi.

    Achei bem escrito, Frank. É o tipo de conto que vai melhorando com a leitura. Para mim, começou morno, mas terminou quente.

    É claro que sempre há exageros e comparações descabidas, como a que eu vou fazer agora: Existe um pouco de sentimento na história que me lembrou de Poe. Provavelmente porque não assumiu a perspectiva de um homem normal na narrativa que se depara com o bizarro, mas sim de um homem que se vê normal e, no fim, decai. Não sei se era a sua intenção, se estou falando o óbvio ou o errado, mas tenho a forte impressão de ser um conto do perturbado desde o início, e não de como um sujeito normal pode cometer um “deslize”.

    Agora, achei as referências aos pecados um pouco gratuitas. Até entendo que o personagem é religioso, mas não sei. Em uma versão final talvez valha a pena dar uma retrabalhada nisso. O resultado pode ser ruim, mas daí basta voltar com os termos de novo rsrs

    De resto, achei sólido. Parabéns pela construção progressiva.

  18. rsollberg
    12 de fevereiro de 2015
    Avatar de rsollberg

    Muito Bom!
    Adoro personagens, e esse conto soube criar uma com muita maestria.
    No começo do conto, lembrei-me muito do personagem do Will Ferrel no “Mais estranho do que a ficção”. Um Francisco um pouco mais metódico.

    Sempre que leio sobre sinos dobrados, penso em Hemingway e o meu humor já muda muito. A narrativa é ótima, gostosa e ágil.

    Em limitadíssimas mil palavras você conseguiu a proeza de mostrar uma transformação completa, da água para o vinho, ou do vinho para a água (questão de perspectiva). Foi possível sentir a libertação do personagem quando ele começa a pecar obsessivamente. Quase gritei aqui, “Vai Chico”. Isso já seria um bom final, mas quando Francisco comete o assassinato, a história ganha mais um “desfecho” que dá um tom mais lúgubre ao conto, uma espécie de choque “Nelson Rodrigues”.

    Por fim, ainda gostaria de destacar que o autor ainda ganha muitos pontos por deixar a imaginação do leitor fluir: “e os relatos dos irmãos, tinham fundamento?” ” e os dois calombos?”

    Bem, tudo isso é pra dizer que gostei bastante do conto.
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  19. Rodrigo Forte
    11 de fevereiro de 2015
    Avatar de Rodrigo Forte

    Gostei mais do final do que de qualquer outra coisa. Achei o desenvolvimento um pouco lento, mas o final foi um belo soco no estômago. Eu realmente não estava esperando esse desfecho. Parabéns.

  20. Gustavo Araujo
    10 de fevereiro de 2015
    Avatar de Gustavo Araujo

    O grande pecado deste conto é tentar usar todos os matizes de uma só paleta. O início é especialmente bem escrito. Pude enxergar a mim mesmo em diversas passagens, principalmente nesse tom confessional que permeia a primeira metade. Daí para frente, infelizmente, a coisa desanda um pouco. Pareceu-me um tanto forçada a inserção de todos os pecados capitais. Não havia tal necessidade. Tivesse o autor privilegiado um ou outro, tendo como fundo as digressões pessoais do protagonista, o resultado seria melhor, mais autêntico, mais natural. No fim, o conto é mediano, o que é um pouco frustrante, dada a perícia do autor no uso das palavras.

    • Claudia Roberta Angst
      25 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Talvez, eu tenha cometido o mesmo erro do desafio do tarô. No entanto, a ideia aqui foi mostrar o protagonista como alguém que se considera sem pecado algum. Para ele, é importante descartar um a um dos pecados capitais, justificando para o delegado (e para o leitor) o porquê de não se considerar um pecador. Coisas de uma mente esquizofrênica e desequilibrada.
      Ler “conto mediano” doeu um pouco… sniff, mas vou superar.
      Parabéns novamente pelo seu excelente conto com o qual me identifiquei de verdade. Abraço.

      • Gustavo Araujo
        25 de fevereiro de 2015
        Avatar de Gustavo Araujo

        Ah, mas mediano não é ruim. Quer dizer, relendo agora o meu comentário, parece ruim. Putz, foi mal. É que eu fiquei frustrado, esperava que o conto seguisse numa linha e me decepcionei quando vi que o rumo foi outro. De todo modo, eu poderia ter passado essa impressão sem parecer um homem das cavernas 😦

      • Fabio Baptista
        25 de fevereiro de 2015
        Avatar de Fabio Baptista

        Putz, Gustavo… que mancada falar que o conto da Clau foi mediano, hein!

        Tsc tsc tsc…

      • Claudia Roberta Angst
        25 de fevereiro de 2015
        Avatar de Claudia Roberta Angst

        Conto mediano e morno! Com vocês dois, eu estou bem arranjada. Da próxima vez, detestem, cuspam, pisem, mas sem essa coisa de médio, morno, mediano, medíocre. Fora isso, eu ainda gosto dos contos de vocês e da nossa amizade (média…kkk), tá? 🙂

      • rubemcabral
        26 de fevereiro de 2015
        Avatar de rubemcabral

        Ah, o que é um “mediano” comparado a um “sabrinesco”? rs. 😀

      • Ricardo Gnecco Falco
        26 de fevereiro de 2015
        Avatar de Ricardo Gnecco Falco

        Hauhauhauhauhauah! 😀

  21. Cácia Leal
    9 de fevereiro de 2015
    Avatar de Cácia Leal

    Não me agradou o conto. Os personagens não conseguiram nem convencer, nem cativar. A história não prende. Tentei imaginar os personagens e tudo o que consegui foi imaginar a história do Corcunda de Notre Dame. Ele, o monstro, ela a frágil donzela, que gosta e desgosta ao mesmo tempo, desdenhando.

    • Claudia Roberta Angst
      25 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Gosto assim, Cácia. Não agradou, fala mesmo. Rindo um pouco aqui (para não chorar) do Francisco como Corcunda de Notre Dame. O sujeito era doido, mas tinha aparência comum, sem graça, sem pecado, mas não era um monstro. E Joana não era tão frágil, duvido que donzela e não gostava dele porque ele era um chato sem gosto mesmo (lembrei de picolé de chuchu).

  22. Luan do Nascimento Corrêa
    7 de fevereiro de 2015
    Avatar de Luan do Nascimento Corrêa

    Gostei muito da mistura entre pecado e divino ao final. Um texto bem escrito e que apresenta um ponto de vista bastante interessante: o de que o correto só será assim enquanto andar em uma linha reta, ao se desviar do caminho, já não será mais.

  23. Anorkinda Neide
    7 de fevereiro de 2015
    Avatar de Anorkinda Neide

    Bom conto para se refletir no quanto todos nos julgamos anjos sem defeitos…
    Parabens pela ideia e pelo desenvolvimento.
    Abraço

  24. mariasantino1
    7 de fevereiro de 2015
    Avatar de mariasantino1

    Interessante. O homem não tinha pecados, estava até crescendo asas de anjos em suas costas, e daí ele surta (como todos os mortais). KKK.
    Gostei da sua narrativa, não cansa, tem construções bacanas “fechei meu coração ao mesmo tempo em que desenhava o meu primeiro a.” (que fofura!). Gostaria de saber o que o Francisco sentia quando era difamado pelos irmãos, e seria legal se não fosse de todo só calúnias devido o último ato dele. Acho que ficou abrupto a mudança, e adoraria se tivesse mais algumas palavrinhas para repassar melhor o momento de pecado “inveja dos modos da Joana gula e ira.”
    Não ficou muito claro algumas passagens, mas eu as completei por aqui.
    Desejo sorte. Abraço!

  25. Andre Luiz
    6 de fevereiro de 2015
    Avatar de Andre Luiz

    Olá, Frank!

    A)O texto é bem introduzido, traz uma ideia inovadora e bem metaforizado. Há belíssimas comparações, de forma que a liricidade acompanha o leitor em todos os momentos. A chegada de Joana é o ponto alto e, mesmo que eu sentisse que era filha da professora da infância, a mudança desesperada de Francisco no fim do conto é surpreendente. Parabéns!

    B)No entanto, vi que você entendeu o pecado da vaidade em um sentido “senso comum”, o que não prejudica, mas ser cuidadoso com a beleza é ser vaidoso, porém não pecado. Além do mais, sinto que até certo ponto o excesso de narração prejudica. Falta um pouco de diálogo em períodos que facilmente podem ser dialogados. Isto, contudo, não afeta a magnificência da obra como um todo. Novamente parabéns e sucesso no concurso!

  26. Mariana Gomes
    6 de fevereiro de 2015
    Avatar de Mariana G

    Ainda bem que veio a Joana! rsrs
    O conto antes dessa personagem estava igual ao personagem principal, ”parado”, e o que aconteceu para romper isso foi uma grata surpresa. Mas ouve erros ortográficos que atrapalharam a leitura. Boa sorte no desafio!

    • Claudia Roberta Angst
      24 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Oi, Mariana, tudo bem? Teve gente que achou que o seu conto era meu, sabia? rs
      Bom, ainda bem que você gostou da chegada da Joana. A ideia era essa = tudo parado, represado, até chegar Joana.
      Gostaria que apontasse os erros ortográficos que atrapalharam a leitura.
      Obrigada. 🙂

      • Mariana Gomes
        24 de fevereiro de 2015
        Avatar de Mariana G

        Você falou isso lá no meu conto rsrs. Agora que li ”Lua Dora” não tiro essa duvida das pessoas, mas o meu conto esta bem inferior a ”Lua Dora” com certeza.

        Um que percebi: ”fechei meu coração ao mesmo tempo em que desenhava o meu primeiro a.” Não sei se foi proposital, mas acredito que a devia estar assim: ”a”.
        Faz muito tempo que li, me perdoe por não me lembrar de mais coisas!
        De nada 🙂

  27. Luis F. T.
    6 de fevereiro de 2015
    Avatar de Luis F. T.

    Bom texto. Intrigante desde o começo e estranhamente perturbador.

    O personagem é realmente sem graça, o que influencia a primeira parte da narrativa, rs. Mas, no geral, não tenho críticas e não vi nenhum erro aparente na escrita. Está de parabéns!

  28. Thales Soares
    5 de fevereiro de 2015
    Avatar de Thales Soares

    Hm. O conto está muito bem escrito. A leitura flui de forma excelente, pois ele é leve e nem um pouco cansativo, divertindo o leitor nesse sentido. O tema é explorado de forma interessante aqui, com um homem todo certinho que nunca comete nenhum dos sete pecados capitais, e no final dá peti. Para dizer a verdade, o final não me agradou tanto… a linha de construção do personagem não deu brechas ou indícios para uma mudança tão bruta de personalidade. Afinal, ninguém vive a vida inteira de uma forma e, de um segundo para o outro, muda radicalmente todas as suas atitudes de forma de dizer… sempre há algums indícios, por mais sutis que sejam, de que a pessoa fará isso. Tudo bem, a culpa não foi sua, eu sei que 1.000 palavras é pouquíssimo para desenvolver a evolução de um personagem tão bem construído. Mesmo assim, senti certa estranheza com esse final.

  29. Brian Oliveira Lancaster
    5 de fevereiro de 2015
    Avatar de Victor O. de Faria

    Meu sistema: EGUA.

    Essência: Este é daqueles que chegam devagarinho e surpreendem com o passar da leitura. Nota – 10,00.

    Gosto: Impressionante. Começa como quem não quer nada, com o inusitado jeito invertido e termina com um soco no estômago. Quem disse que textos cotidianos não podem ter apoteose? Ressalto que achei interessante o jeito de contar a história, não das atitudes, pois não curto textos muito viscerais. Nota – 10,00.

    Unidade: Nada me incomodou. Nota – 10,00.

    Adequação: De forma criativa, abordou o avesso para depois desvirá-lo. Nota – 10,00.

    Média: 10,00.

    • Claudia Roberta Angst
      25 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Muito obrigada pelo seu comentário e nota. Adorei que tenha sentido o final como um soco no estômago. Não que eu seja sádica, mas saí daquela zona de conforto sem clímax ou reviravolta. 🙂

  30. Willians Marc
    5 de fevereiro de 2015
    Avatar de Willians Marc

    Olá, autor(a). Primeiro, segue abaixo os meus critérios:

    Trama: Qualidade da narrativa em si.
    Ortografia/Revisão: Erros de português, falhas de digitação, etc.
    Técnica: Habilidade de escrita do autor(a), ou seja, capacidade de fazer bons diálogos, descrições, cenários, etc.
    Impacto: Efeito surpresa ao fim do texto.
    Inovação: Capacidade de sair do clichê e fazer algo novo.

    A Nota Geral será atribuída através da média dessas cinco notas.

    Segue abaixo as notas para o conto exposto:
    Trama: 6
    Ortografia/Revisão: 10
    Técnica: 8
    Impacto: 6
    Inovação: 6

    Minha opinião: Achei o inicio, até a apresentação dos irmãos, um pouco truncado. As frases parecem não se interligar e ter como objetivo apenas apresentar fatos soltos. Por esses motivos não gostei muito da trama.

    O autor(a) faz boas construções e metáforas, além disso, não encontrei falhas de revisão.

    Boa sorte no desafio.

  31. Bia
    5 de fevereiro de 2015
    Avatar de Bia

    Muito bom! Sem exageros e na medida certa, indo em um crescente tom de loucura, sem parecer ter pressa ou querer pular etapas. A última frase me remeteu ao livro “O Natal de Poirot”, que por sua vez é uma citação de uma obra de Shakespeare, não me lembro agora qual: “quem poderia imaginar que aquele velho tinha tanto sangue dentro de si?”. Bom trabalho! 😉

  32. rubemcabral
    5 de fevereiro de 2015
    Avatar de rubemcabral

    Ótimo conto. Apreciei muito! Bem escrito, sem exageros, personagem bem desenhado, boa a sacada das asas! Talvez, por culpa da limitação de caracteres, penso que a parte final necessitaria de mais extensão, para não ficar tão brusca a mudança de comportamento do “quase anjo”.

  33. Alan Machado de Almeida
    5 de fevereiro de 2015
    Avatar de Alan Machado de Almeida

    O homem pacato que se revolta, me lembra o filme Um Dia de Fúria. Se bem que os motivos do Michael Douglas eram outros, enfim. Seria melhor se o conto explorasse mais a fúria do personagem ao invés de deixá-la só no final.

  34. Ricardo Gnecco Falco
    4 de fevereiro de 2015
    Avatar de Ricardo Gnecco Falco

    Ui… Esse doeu de ler. Muito bem escrito e com um final assustador. Muito difícil escrever algo enfadonho sem enfadar o leitor. Parabéns! 😉
    Boa sorte!

  35. Lucas Rezende
    4 de fevereiro de 2015
    Avatar de Lucas Rezende

    Olá, autor(a).
    Gostei da técnica,não encontrei erros e prende quem lê. Parabéns.
    A história é outro chamativo. É muito boa.
    O personagem parece ser completamente louco, uma vez que um mínimo de caos foi inserido em sua rotina, ele surtou. Adorei o final da história.
    Outro mérito por ter fugido do tão recorrente tema deste certame.
    Boa sorte!!!
    May the force be with us…

  36. Sonia Rodrigues
    3 de fevereiro de 2015
    Avatar de Sonia Rodrigues

    Bom português.
    na última frase: cheira a ferrugem, sem crase. (cheira a bolor, não cheira ao bolor)

    Começo original: sofro de bondade.
    O estilo lembra um pouco Poe, em seu Gato Preto. (não sou louco, nasci assim, cresci assim, sou mesmo assim… e por aí vai, o leitor já de sobreaviso de que é exatamente o contrário/ essa amada mórbida, perebenta e vesga)
    O final, previsível, foi bem elaborado. As frases finais poderiam ser melhores. As mãos cheirando a ferrugem me confundiram – ele pegou a menina pelos cabelos e a jogou no banco de concreto, não percebi de onde veio essa ferrugem; ou ele já era um psicopata e estava enferrujado por estar sem matar há algum tempo? Nada no conto sinaliza que esse não foi o primeiro assassinato)

    • Claudia Roberta Angst
      24 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Cara Sônia, fiquei em dúvida quanto ao uso da crase na frase apontada, mas acredito que a sua colocação é acertada para evitar a ambiguidade, a duplicidade de sentido. Por exemplo: “Cheirar à gasolina” (exalar o cheiro de gasolina) para diferenciar de “Cheirar a gasolina” (aspirar o cheiro da gasolina).

    • Claudia Roberta Angst
      24 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Ah, quanto ao fato das mãos de Francisco terem cheiro de ferrugem, eu quis passar a ideia do odor de ferro no sangue. Para mim, sangue tem cheiro de ferro. Ferrugem seria uma associação à Joana, sardenta, ruiva.

  37. Ledi Spenassatto
    2 de fevereiro de 2015
    Avatar de Ledi Spenassatto

    Sem pecados!
    Amei o seu texto Frank. Que gostosura. Do começo ao final despertou a minha curiosidade. Vivi o Francisco intensamente. Sou Francisco, mas não sou santo, traduz o dilema de milhares de jovens que com medo de pecar se frustam e se cobram diariamente, invejam os extrovertidos, os imperfeitos, aqueles que não têm medo de pecar.
    Parabéns!

  38. Tiago Volpato
    2 de fevereiro de 2015
    Avatar de Tiago Volpato

    O conto é bem construído, segue um ritmo bom dentro do que você desejou criar. Achei o início do texto bem chato, mas os cinco últimos parágrafos deram um outro gás ao texto e passei a me interessar por ele (maldita violência que deixa tudo mais interessante). Enfim, o texto mostrou que autor tem bom conhecimento da técnica narrativa e acredito que vai agradar bastante gente.

  39. Thata Pereira
    2 de fevereiro de 2015
    Avatar de Thata Pereira

    Acho que o limite atrapalhou esse conto. Eu adorei a forma como o início foi escrito. Calmo, bonito. Tão calmo que eu não esperava um final tão chocante. Para mim não funcionou, por dois motivos: ficou corrido e acabou com o encanto do início, talvez porque foi corrido.

    Boa sorte!

  40. Pétrya Bischoff
    2 de fevereiro de 2015
    Avatar de Pétrya Bischoff

    Esse desafio está surpreendendo mais e mais! É o terceiro conto que leio que carrega consigo esse ar de causo, ou de desinteresse no contar. Gostei, mais uma vez, por ser bem esclarecido. Achei a estória engraçadinha com a guria vesga e o cara que a beija… E, mais uma vez, fui surpreendida pelo ataque histérico de raiva. A escrita é mais elaborada que a dos contos anteriores que li, que tinham a mesma “pegada”. E a narrativa, como disse, de causo, me agradou aqui. Parabéns e boa sorte.

  41. Alan Machado de Almeida
    2 de fevereiro de 2015
    Avatar de Alan Machado de Almeida

    Tá difícil concorrer com contos tão bem escritos. Acho que vou esperar o off desafio

  42. Gustavo de Andrade
    1 de fevereiro de 2015
    Avatar de Gustavo de Andrade

    A “virtude” do personagem (e toda a narrativa do conto) não foi mostrada, só contada. Por que ele é bom? Nenhuma atitude demonstra sua bondade. As características não são minimamente narradas, sequer num diálogo proveitoso. Isso quebra a credibilidade do personagem: por que eu devo acreditar que ele é bom, trabalhador? Sequer confio que ele ganhe um bom salário e ajude satisfatoriamente os pobres: qual o parâmetro?
    Há muito enlevo pra pouca ação neste texto. E não quero dizer tiros ou confrontos (ou assassinatos batendo a cabeça no concreto “uma, duas, três vezes”), mas interações críveis entre personagens.
    “─ Por que você é assim tão sem graça?” — gostei mais de Joana — que Hades a tenha — que do protagonista
    ” Disse ainda que a ausência de pecado era, para ela, também um defeito.” — ficou forçado isso, previsível. Cê deve presumir que quem lê já construiu a noção de que ele é sem graça talvez justamente por não pecar, e não entregar tanto isso pelas descrições.
    “Depois, foi aquela correria na praça e os guardas trançando seus braços nas minhas asas. E foi assim que cheguei aqui, Seu Delegado. Sei que minha mãe me aguarda lá fora. Não tenho mais nada a dizer. Minhas mãos ainda cheiram à ferrugem. Como pode um corpo tão frágil guardar tanto sangue?” — não consegui me conectar tanto ao personagem pra conseguir absorver plenamente o impacto desses últimos parágrafos. Tudo pareceu gratuito demais, justamente por não ter havido qualquer construção anterior tangível de personagem.

  43. Eduardo Selga
    31 de janeiro de 2015
    Avatar de Eduardo Selga

    Ao contrário do que alguns consideram, não julgo simples construir um personagem que, demonstrando algum tipo de disfunção emocional ou social, pareça convincente e que escape às armadilhas do discurso consagrado a esses personagens, principalmente duas: ou a aparência de normalidade é tanta que chega ás raias da anormalidade (os psicopatas da tevê e do cinema) ou a demonstração da anormalidade é tamanha que beira o grotesco. Noutras palavras, construir um personagem desequilibrado demanda equilíbrio narrativo.

    Por isso este conto me parece muito bom. Somente no decorrer do texto vamos nos dando conta de que o comportamento que no início parecia apenas autoindulgência é, na verdade, soberba, e esta oculta uma personalidade doentia que sempre esteve à espera do necessário estopim para explodir.

    Um exemplo de como o texto consegue enganar bem: no início, quando o narrador-personagem diz “Existiam outros que disputavam o amor dela: meus colegas de classe. Diante da terrível descoberta de ser minha amada uma leviana […]”, é lícito o leitor imaginar que se trata de uma visão tomada a partir da criança que o hoje adulto foi. Mas logo descobrimos que não: é uma visão adoecida da realidade. Como não consegue encará-la de frente, altera-a para si ou a elimina. A professora, paixão impossível, é transformada em mulher leviana; Joana, ele a mata.

    A opção por retratar Joana de “olhar vesgo” e com as pernas feridas a ponto de mancar é, na verdade, um espelho do protagonista. Ele é um “Quasímodo” social que, óbvio, assim não se vê (ele é o verdadeiro vesgo), e se sente atraído pela moça que apenas fisicamente não tem atrativos. São forças antitéticas em jogo, aparência e essência, no qual a última não admite que a primeira se lhe mostre superior.

    O trecho “Dos pés à cabeça, a menina revelava-se alegria em prosa” eu considero um achado em termos de construção textual. “Alegria em pessoa” seria o esperável, mas o uso da palavra “prosa” remete a duas coisas: lembra o leitor de que se trata de um texto literário em prosa, não um relato verídico, por mais que bem escrito esteja; lembra a expressão “estar todo prosa”, o sujeito fanfarrão, o que combina com “alegria”. É claro: a alegria quer se exibir, estar prosa.

    Outro bom trecho é esse: “Disse que não me oferecia porque talvez não me agradasse o prazer de um gosto”, ou seja, ele era ‘”assim tão sem graça” que até sentir algo prazeroso talvez lhe fosse desagradável. E de fato: foram as emoções nele despertadas por Joana, prazerosas num corpo emocional reprimido e doentio, que redundaram em assassinato.

    • Claudia Roberta Angst
      24 de fevereiro de 2015
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Eu não seria capaz de fazer uma análise tão clara e generosa do meu conto. Acertou em cada detalhe, em cada ideia que me surgiu durante o processo criativo. Impressionadíssima!
      Muito obrigada.

  44. Virginia Ossovski
    31 de janeiro de 2015
    Avatar de Virginia Ossovski

    Técnica mais que perfeita, chega a encher os olhos, parabéns! Achei o final um tanto brusco, esperava algo mais leve, mas por outro lado isso aumentou o impacto. Sucesso no desafio !

  45. Fabio Baptista
    31 de janeiro de 2015
    Avatar de Fabio Baptista

    Autor, sua escrita é excelente.

    A história contada, porém, ficou muito morna até quase o final, onde a reação do personagem acabou destoando completamente. Entendo a vida de interiorizações de um monte de coisa e tal, mas esse acesso de ira ficou muito inverossímil.

    Veredito: uma trama muito aquém da ótima escrita aplicada, infelizmente.

  46. JC Lemos
    31 de janeiro de 2015
    Avatar de JC Lemos

    Sobre a técnica.
    Boa! Gostei de como o texto se desenvolveu, chegando ao ápice aguçando o interesse do leitor.

    Sobre o enredo.
    A princípio, achei meio bobo. Fiquei com essa impressão até a reviravolta. Deu uma cara completamente diferente. Deixou o conto bom. O fato de ser narrado por ele também foi muito bom. E o final fechou a conta.

    Parabéns e boa sorte!

  47. Gustavo Aquino dos Reis
    31 de janeiro de 2015
    Avatar de Gustavo Aquino dos Reis

    Conto muito bem escrito. História ímpar. Só me causou estranheza no adjetivo “olhos sardentos”.

    Parabéns.

E Então? O que achou?

Informação

Publicado às 31 de janeiro de 2015 por em Pecados e marcado .