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Detox Literário.

Infernales Lepra (Pétrya Bischoff)

Quão dolorosa pode ser a existência?

Definido híbrido. Humano de descendência, animal por falta de socialização e cousa indesejável por acidente da natureza. Não sabe o que houve, mas sabe que é um erro. Deixado à própria sorte, rejeitado pelos vivos e desprezado pela morte.

Sua mais marcante lembrança data dos onze anos, ao ser arremessado de uma carroça em movimento por ordem do reverendo, na estrada margeada pela floresta, à milhas do vilarejo. Em algum momento nesses idos tempos, começou a mutação. Nascera humano. Aprendera a falar, andar e conviver. Um dia, uma ferida indolor não cicatrizara. Amarelara, apodrecera. O mal cheiro e a gosma purulenta que brotavam assustaram até mesmo o doutor, que aconselhou chamar o reverendo.

Bruxaria, foi o veredito. Nem as ervas ou o exorcismo ou os gritos de lamúria reverteram a situação. O braço, agora de tom amarelo bílis, formigava constantemente. A criança vomitava desespero e implorava afago. Mesmo a mãe, outrora materna, apontava o recém anticristo com ódio, cuspindo ladainhas e água benta.

O demônio entrara em seu corpo através da ferida, tomou conta do braço e, logo, personificaria-se totalmente. O Conselho de Anciãos discutiu que a resposta estaria em um sacrifício. No entanto, como parte ainda era um ser inocente, deveriam aniquilar aquilo que já tombara.

Fora amarrado em uma mesa de madeira gasta, nos fundos da capela. O reverendo, munido de seu aparato de exorcismo, começou a fazê-lo como nunca antes. Parte seguia o protocolo, parte inventara como providência divina. O Conselho de Anciãos encontrava-se em pé junto à parede lateral, com terços e crucifixos e bocas trêmulas. Três dos rapazes mais fortes do vilarejo, dentre os quais, o filho do ferreiro, também por conveniência.

Aniquilar aquilo que já tombara.

O anticristo, advindo de bruxaria, deveria ser enfrentado com as armas para o próprio Belzebu: ferro e fogo.  Ferro quente que corte e expurgue à medida que sela a entrada do mal.

A criança, outrora em trêmula tensão, debatia-se, agora, em espasmos e urros de dolorosa angústia. O vai-e-vem do serrote dentado em brasa, logo acima do cotovelo, fora suave sob o controle habilidoso do jovem ferreiro. Não foi preciso mais que dois rapazes para deter a fúria sepulcral que emergia através do menino. Do lado de fora da cabana, olhos esbugalhados de falácia misericordiosa. Quando o cheiro agridoce de carne virgem sibilou por entre as frestas de madeira, ninguém sentira fome.

Não houve sangria, mas algo saíra errado. O menino entrara em choque, o demônio resistira entre idas e vindas de desmaios e golfadas e ataques convulsivos. Todos começaram a entrar em pânico ao passo que ninguém atrevia-se a fazer algo.

Em pouco mais de um quatro de hora, o ferimento que deveria estar fechado devido à queimadura, abrira e adquirira o mesmo tom enauseante que a parte decepada apresentara. Algo jorrava de maneira apavorante enquanto a criança debatia-se freneticamente. Um fio viscoso daquilo que vertia do ferimento acertara o olho do reverendo e, de imediato, começara a queimar como as labaredas do abismo infernal. A gosma ácida perfurou-lhe pele ensebada e ossos porosos, provocando-lhe gritos de dores animalescas, pondo todos em alvoroço. Fora o estopim para que atitude extrema fosse tomada: de maneira a rebocar e arrastar, maldizendo -o, tiraram o garoto da vila às pressas.

Uma carroça e um homem desafortunado para guiá-la. Rasgou a noite floresta adentro; perto donde, dizem, residia a bruxa, o garoto foi enxotado. O desespero das chagas de antes tomavam proporções animalescas enquanto o fluído medonho melava-lhe tronco e pernas. No entanto, nele não perfurava como acontecera com o reverendo. Cousa mais sinistra ocorria. Brotavam tantas outras feridas de aspecto mais horrendo que a anterior. A criança clamou a um Deus ineficaz; implorou misericórdia ao nada. Debateu-se em agonia sob o gelo cortante da madrugada… Tantas horas dolorosas. Tanto cansaço. Tanto medo. Tão só.

Nos dias que seguiram vagou, chorou, metamorfoseou. Um ser purulento e indolor que aprendera a comer a caça enquanto essa dissolvia-se ao seu toque. Não mais uma criança. Não mais humano. Não mais.

Deitado hoje, como de costume de peito para cima, com a cabeça sobre os braços, ouvindo muito alto ante o silêncio da solidão, sua respiração. Respiração um tanto pesada, anunciando lágrimas que já não se contém. Sente nos olhos um ardor e, escorrendo-lhe a face aquilo que traduz toda uma dor singular, não dita em palavras por não haver ouvinte. Uma dor que agora ele sente fervilhando em veias de pus que deixam um lastro de carne azeda pulsante. Em três ou seis anos não atrevera-se voltar para a vila. Também jamais cruzara com a bruxa. Esteve na floresta como um assombro que vaga entre os dois mundos, sem final feliz ou mesmo descansar em paz. Foi criatura medonha que brota sem sabermos donde a habita nosso interior proliferando podridão e enegrecendo-nos até, enfim, sucumbirmos. Em vida.

33 comentários em “Infernales Lepra (Pétrya Bischoff)

  1. Jowilton Amaral da Costa
    11 de janeiro de 2015
    Avatar de Jowilton Amaral da Costa

    Ficou meio trash, algumas partes quase cômicas, tipo Zé do Caixão. Fiquei esperando se o autor diria em que coisa a criança se transformou, mas, isso não ocorreu. O final me fez entender que o monstro seria uma metáfora do que que existe de ruim dentro de todos nós. Posso estar viajando, o que é comum, hehehe. eu gostei. Boa sorte.

  2. Miguel Bernardi
    11 de janeiro de 2015
    Avatar de Miguel Bernardi

    Acho que, nesse ponto, é redundante dizer que a narrativa e a construção do conto são impecáveis. Sério, é muito bem escrito que chega a dar inveja (uma inveja boa rs).

    O tema foi bem trabalhado, o suposto exorcismo, também. A dor e a tristeza da criança foram passados com sucesso, de modo dramático, e o final me agradou bastante. O domínio da língua e o vocabulário amplo do autor marcam o texto, assim com a qualidade do mesmo.

    Boa sorte no desafio, autor, e parabéns!

  3. bellatrizfernandes
    11 de janeiro de 2015
    Avatar de isabellafernandes

    Em termos de técnica, o autor é bom, mas talvez o não tenha sido seu melhor tema. Entrei no conto e saí sem saber praticamente nada sobre os personagens além do óbvio. A criança estava com medo, a cidade estava com raiva. Não me identifiquei com nada e, além de um pouco chocada, não senti nada que me fizesse dizer “Uau”.
    Boa sorte 😐

  4. Eduardo Matias dos Santos
    11 de janeiro de 2015
    Avatar de Eduardo Matias dos Santos

    Um conto curto, que tende a ser envolvente, mas para mim não foi, questão de gosto pessoal. Tens uns errinhos, mas nada muito sério. Boa sorte!

  5. Sidney Muniz
    11 de janeiro de 2015
    Avatar de Sidney Muniz

    Para mim um conto excelente. O melhor curto que li nessa edição, até aqui.

    É fato que peca um pouco quanto a trama, mas ainda assim dentro de sua proposta é importante salientar que em poucas palavras você me carregou durante a leitura.

    Achei a narrativa, o ponto alto por aqui.

    Técnica cativante.

    Se me permite atentaria para algumas repetições que podem ser sanadas, mas prefiro não expo-las, pois nesse caso precisei ignorá-las de tão irrisórias.

    Desejo sorte no desafio e te dou meus parabéns!

  6. Jefferson Lemos (@JeeffLemos)
    10 de janeiro de 2015
    Avatar de Jefferson Lemos (@JeeffLemos)

    Sobre a técnica.
    Impecável. Narra de forma competente e consegue encaixar as palavras de forma a criar belas imagens.

    Sobre o enredo.
    Gostei da ideia principal. Esse ser purulento lembrou-me aquele ser nojento de Sin City. Mas, esse daí é solitário, fadado ao esquecimento. Gostei disso. Só não vi muito na trama. Conta uma boa história, mas para muito antes do que deveria, em minha opinião. Queria ter visto mais, para melhorar a explicação.

    Escreve muito bem, tem uma boa história, mas apesar de eu ter gostado, achei que faltou algo.

    De qualquer forma, está de parabéns!
    Boa sorte!

  7. piscies
    9 de janeiro de 2015
    Avatar de piscies

    TRAMA 2/5
    Eu gostei do surgimento da criatura mas… e aí? O conto parou na metade. Achei o personagem principal interessantíssimo, apesar de não ter nome. só que aí acabou e fiquei com aquele sentimento ruim de “ué?”

    TÉCNICA 5/5

    Nada a falar sobre a técnica, senão que ela é quase impecável. Arrisco dizer que é até poética em alguns pontos. As imagens são muito bem descritas, com palavras bonitas e fluentes, além de comparações interessantes e metáforas perturbadoras. O autor sabe o que está fazendo.

    Boa sorte no desafio!

  8. Tiago Volpato
    9 de janeiro de 2015
    Avatar de Tiago Volpato

    O conto é muito bem escrito, mas na metade do texto eu perdi o interesse. Senti falta de uma história que eu pudesse me identificar, tá mais pra um relato, que particularmente não me atraí.

  9. Gustavo de Andrade
    7 de janeiro de 2015
    Avatar de Gustavo de Andrade

    Uma narração tecnicamente ótima, mas sem conexão. Poxa: cria as premissas para um ótimo e justificável anti-herói; enxuga o conto ao ponto de ser uma sucessão de durezas e emoções pesadas, sem idas e vindas que permitam um respirar maior da pessoa leitora (desperdiçando, no caminho, alguns personagens, como o padre e a mãe); não desenvolve mais o protagonista além de suas causas de ser. Acabou por ser um conto incompleto, não por ter extensão inaproveitada, mas por manter abertos certos fios que aparentemente se fechariam com muita qualidade, e certamente fariam o conto se destacar mais do que o ocorrido :/
    Boa escrita!

  10. Willians Marc
    7 de janeiro de 2015
    Avatar de Willians Marc

    Olá, autor(a). Primeiro, segue abaixo os meus critérios:

    Trama: Qualidade da narrativa em si.
    Ortografia/Revisão: Erros de português, falhas de digitação, etc.
    Técnica: Habilidade de escrita do autor(a), ou seja, capacidade de fazer bons diálogos, descrições, cenários, etc.
    Impacto: Efeito surpresa ao fim do texto.
    Inovação: Capacidade de sair do clichê e fazer algo novo.

    A Nota Geral será atribuída através da média dessas cinco notas.

    Segue abaixo as notas para o conto exposto:
    Trama: 6
    Ortografia/Revisão: 9
    Técnica: 9
    Impacto: 6
    Inovação: 6

    Minha opinião: Achei bem escrito, mas um pouco exagerado em termos de descrição, e mesmo assim, não consegui me importar muito com esse menino, realmente falta uma base ou uma história anterior para podermos nos identificar com ele. Também não acho que o protagonista trate-se de uma criatura fantástica, esse tipo de história, infelizmente, esta mais pra realidade do que fantasia.

    Boa sorte no desafio.

  11. Laís Helena
    7 de janeiro de 2015
    Avatar de Laís Helena

    A narrativa é boa, prendeu-me à história. A cena em que o braço do garoto foi amputado está muito bem descrita.
    No entanto, senti que a trama precisava ser melhor trabalhada. É mencionada uma bruxa e um demônio, que supostamente é o responsável pelas feridas, mas o conto não desenvolve muito bem a relação entre essas coisas. Ficou parecendo que era apenas uma doença e a bruxa e o demônio eram imaginação das pessoas.

    • Pontes Machado
      7 de janeiro de 2015
      Avatar de Pontes Machado

      Olá, Laís. Obrigada pela leitura e comentário.
      Então, alguns outros colegas alertaram que a criatura não convencia como fantástica. O que ocorre é que essas são as respostas que os leitores põem nas lacunas. Para alguns elas são incômodas, eu penso que precisamos ser intrigados/instigados com essas inquietações. Admito que nem mesmo eu sei exatamente como ocorreu e o que veio depois, se eu soubesse teria contado. 😉
      Como autora apenas conto o que surge em minha mente… nem sei se as produzo ou elas brotam sozinhas, com um enredo limitado.
      Será doença somente? Mas o líquido que atingiu o reverendo realmente o corroeu… Será, então bruxaria? Ele nunca chegou a encontrar a bruxa. Talvez seja mesmo um estado mental e uma crítica aos massacres morais que sofremos. Quem sabe? Essa é somente minha interpretação do texto, é claro.
      Boa sorte no desafio. 😉

  12. Lucas Rezende
    6 de janeiro de 2015
    Avatar de Lucas Rezende

    A escrita, apesar de bem feita, ficou cansativa.
    O garoto como criatura fantástica não me convenceu muito, talvez se houvesse uma explicação sobre a sua doença melhoraria. Gostei das descrições, a parte onde serram o braço do garoto da arrepio.
    O final não agradou, ficou meio que “Fim”. Acho que poderia desenvolver algo mais a partir dali, provavelmente uma vingança ou coisas ruins que acontecem no vilarejo atribuídas a criatura, dando início a uma caçada.
    Boa sorte!!!

  13. rubemcabral
    6 de janeiro de 2015
    Avatar de rubemcabral

    Então, achei o conto mediano. O português não está ruim e as descrições são bem vivas, porém a trama, focada somente no sofrimento da “criatura”, foi um tanto fraca; falta melhor desenvolvimento do personagem e talvez melhor ambientação.

  14. rsollberg
    5 de janeiro de 2015
    Avatar de rsollberg

    Achei a estória descritiva e chocante.
    Todavia, senti falta da trama.

    Em certo momento, o texto se desenrola só pelas imagens, mas peca pela ausência de emoção.

    Algumas frases foram bem construídas, percebi apenas alguns equívocos como “quatro de hora” ao invés de “quarto de hora”, e “enauseante” no lugar de “nauseante”.

    Gostaria de ter conhecido mais sobre a “criatura”, o pós surgimento.
    O conto soou como o prólogo de uma lenda…

    De qualquer modo, parabéns e boa sorte no desafio.

  15. Brian Oliveira Lancaster
    4 de janeiro de 2015
    Avatar de Victor O. de Faria

    As descrições são bem vívidas e o tema está aí. Só não senti um objetivo, apesar de narrar o nascimento de uma criatura abismal. Este gênero não me atrai muito, mas o autor conseguiu atingir aquela sensação de estranhamento quando acessamos este tipo de mundo. Ponto para a ambientação.

  16. Swylmar Ferreira
    3 de janeiro de 2015
    Avatar de Swylmar Ferreira

    Conto muito bem escrito,usando linguagem impecável. A trama é interessante mas o final permanece aberto. Parabéns!

  17. Leonardo Jardim
    29 de dezembro de 2014
    Avatar de Leo Jardim

    Fiquei na dúvida de como avaliar esse conto assim que li a última frase. Gostei bastante da forma como a doença e a repulsa da família e demais habitantes do vilarejo foram narrados. Acho, porém, que se fosse outra doença ao invés de lepra, uma doença totalmente diferente, o efeito do fantástico teria sido melhor. Além disso, senti falta de mais participação do menino “transformado”, imaginei que um dia ele iria transformar-se em uma besta e voltar-se contra o vilarejo. Aceitaria outro final também, mas, da forma como foi, narrou apenas o surgimento de uma triste criança monstruosa. No fim, bateu aquela sensação de encerramento abrupto.

    A parte técnica foi muito boa, bastando remover alguns mais-que-perfeitos, como já citado por vários aqui.

    Parabéns e boa sorte!

  18. Anorkinda Neide
    28 de dezembro de 2014
    Avatar de Anorkinda Neide

    Achei que o conto preocupou-se em chocar e enojar..hehehe
    Mas não teve uma historia que envolvesse, q focasse menos nos detalhes purulentos e mais na vida e personalidade do menino antes e depois da possessão ficaria mais apetecível.

  19. Marcellus
    27 de dezembro de 2014
    Avatar de Marcellus

    O conto tem um ótimo potencial, mas alguns pontos importantes tiraram seu brilho: o reverendo é um padre católico? Padres católicos realizam sacrifícios?

    Outra coisa: a lepra já era conhecida desde antes de Cristo. Então, confundi-la com possessão…

    Mas, como disse, o conto tem potencial. Se enveredasse mais pelo psicológico do ‘transformado’, quem sabe?

    Boa sorte e bons fluidos!

    • rsollberg
      5 de janeiro de 2015
      Avatar de rsollberg

      Boa noite, Marcellus.

      Desculpe minha intromissão no seu comentário.
      Padres católicos realizavam sacrifícios sim, nem estou me referindo ao período de caças as bruxas da inquisição. Centenas de arquivos, inclusive do próprio Vaticano, narram esses episódios, especialmente na idade média. Na verdade, tem uma galera adepta da teoria da conspiração que acredita que ainda tem coisa acontecendo hoje em dia, mas isso já é especulação…

      Quanto a Lepra já ser conhecida, fato é que no mundo inteiro, mesmo hoje em dia, várias enfermidades ainda são tratadas como caso de possessão. Não se trata de conhecimento, mas sim de ignorância e interpretações equivocadas.

      Saudações.

  20. Fabio Baptista
    27 de dezembro de 2014
    Avatar de Fabio Baptista

    ======== TÉCNICA

    Os mais-que-perfeito e também as descrições da “purulência” foram utilizados em excesso. Resultado: o conto ficou cansativo, parecendo ser bem mais longo do que é.

    – à milhas do vilarejo
    >>> sem crase

    – um quatro de hora
    >>> quarto

    – deveria estar fechado devido
    >>> soou repetitivo

    ======== TRAMA

    Achei legal a abordagem de um “excluído”, serve como metáfora e faz refletir sobre diversas situações do mundo real, conforme já falado pelos colegas.

    Mas faltou um pouco de “sustança” ao enredo. Faltou um pouco de desenvolvimento para nos afeiçoarmos à “criatura”.

    Aliás… falando em “criatura”, essa aqui infelizmente não me convenceu muito como ser fantástico.

    ======== SUGESTÕES

    Utilizar os mais-que-perfeito com mais parcimônia.

    Trabalhar um mínimo de personalidade ao pobre coitado cheio de feridas.

    ======== AVALIAÇÃO

    Técnica: ***
    Trama: **
    Impacto: **

  21. Andre Luiz
    26 de dezembro de 2014
    Avatar de Andre Luiz

    O conto é uma belíssima descrição da formação de uma fera que chega a dar dó. Senti compaixão pela criatura que, por puro preconceito, foi aos poucos transformada em besta. Pode-se aferir que há certa crítica social – mesmo se esta não for a intenção – em retratar efeitos da discriminação na vida de minorias, excluídas e subjugadas, oprimidas e despidas em dignidade. Parabéns pela ideia, muito original. A execução foi bem feita e o uso do pretérito mais que perfeito não me incomodou; pelo contrário, foi utilizada na medida certa. Sucesso no concurso!

  22. daniel vianna
    25 de dezembro de 2014
    Avatar de daniel vianna

    O conto mostra o processo de formação de uma fera. Dá uma explicação mágica para isso. Concordo que, por si só, tal ideia já daria um bom texto. E o autor demonstrou recursos para isso. Mas acho que faltou um pouco mais. Podia se aprofundar ou se estender (havia até mais espaço para isso). Talvez pudesse, se assim o desejasse, criar um arco, com um final não necessariamente feliz, mas satisfatório. Achei que ficou devendo, mas tem potencial, certamente. Um abraço.

  23. Claudia Roberta Angst
    24 de dezembro de 2014
    Avatar de Claudia Roberta Angst

    Oh, dó, oh, vida! Não fiquei chocada e olha que acabei de almoçar. As imagens criadas atingem o leitor em cheio, quase desfazendo-se em pus. Eca! O tamanho do conto está perfeito e acho que não precisaria mesmo de mais palavras. Um ser fantástico cheio de dor e sofrimento. Fiquei com uma pontinha de esperança que o menino fosse transformado em um cavalo alado, unicórnio, duende, sei lá. A criancinha não foi poupada. Muito bem escrito o seu conto. Boa sorte!

  24. mariasantino1
    24 de dezembro de 2014
    Avatar de mariasantino1

    Mil desculpas, mas vou rasgar seda. 😛

    Cara! Não sou de chamar palavrões, mas soltei um sonoro @#$¨¨%$$#@ quando terminei de ler. Até chamei minha irmã aqui pra estragar o apetite dela, mas a danada mal leu e título e caiu fora. Aff! rs.

    Puxa, como eu gostei do seu escrito!!! Seu conto é como um pequeno frasco de essência nobre, matéria prima, a nata da nata. Um universo tão condensado, tão cativante, impactante, visceral… Fiquei com ódio dos habitantes do vilarejo, com dó do guri, instigada para ver como terminaria, envolvida pela sua narrativa, escolha de palavras, cenário, repasse de sentimentos… É exatamente isso, choca e cativa por mostrar a ignorância humana, e nossa a capacidade de superação/resistência (ainda que sua pegada seguiu para outro lado).
    Em várias passagens me vi rilhando os dentes “O vai-e-vem do serrote dentado em brasa” … “Do lado de fora da cabana, olhos esbugalhados de falácia misericordiosa. Quando o cheiro agridoce de carne virgem sibilou por entre as frestas de madeira, ninguém sentira fome.” … “Um fio viscoso daquilo que vertia do ferimento acertara o olho do reverendo e, de imediato, começara a queimar como as labaredas do abismo infernal.” (dá até água na boca). A criança vomitava desespero e implorava afago. (isso me deu um nó na garganta). Acho mágico quando instigam minha mente em imaginar “e depois?” e também esse embate com minhas convicções, quando o texto mostra de maneira sutil sua mensagem.

    Parabéns mesmo pela tessitura, vou regurgitar seu conto por algum tempo, fique certo disso.

    Boa Sorte e Boas Festas!

    • Pontes Machado
      24 de dezembro de 2014
      Avatar de Pontes Machado

      Boa tarde, Maria Santino!
      Não sabes como fico feliz com tuas palavras, visto que admiro tua escrita e, normalmente, tu não gostas dos meus. D: hahahahah Mas é isso mesmo, vamos nos enveredando por caminhos ainda não trilhados e experimentando possibilidades. Gostei de escrever assim. ^^
      Obrigada pela leitura e comentário. Boas festas para ti também e ótimo desafio!

  25. Ana Paula Lemes de Souza
    23 de dezembro de 2014
    Avatar de Ana Paula Lemes de Souza

    Puxa, muito envolvente. Fiquei com muita pena do menino leproso – pobrezinho. Essa história provavelmente ocorreu muitas vezes nos tempos antigos, pela história da humanidade. A denominação lepra, aliás, é utilizada na Bíblia hebraica como “tsaraáth” que significa desonra.
    Muito chocante mesmo. Imagina na idade média, quando as pessoas tinham que utilizar sinos, para indicarem presença?
    A pessoa se torna objeto… Triste demais.

  26. Sonia Rodrigues
    23 de dezembro de 2014
    Avatar de Sonia Rodrigues

    Para mim pareceu mais uma narrativa sobre uma doença e a ignorância das pessoas do que uma criatura fantástica. Não me convenceu.

  27. Fil Felix
    22 de dezembro de 2014
    Avatar de Fil Felix

    Esquema do comentário + nota: 50% Estética/ Tema e 50% Questões Pessoais

    = ESTÉTICA/ TEMA = 4/5

    Muito bem escrito, não percebi nenhum erro, se desenvolve bem. Mas tenho que dizer: o uso do mais que perfeito chega a incomodar, as vezes, porque parece que as palavras começam a rimar/ repetir. Não sou muito fã desse estilo. Quanto ao tema, ficou um ar diferenciado à criatura fantástica e que, apesar de válido, não foi nada de muito extravagante.

    = PESSOAL = 3/5

    Gostei do tamanho do conto, é curto e se propõe a falar de um determinado assunto e ponto. Não tenta, como alguns que vejo, encher de informações que acabam passando batido. Se desenvolve bem (apesar dos “ara ara ara” kkk), sem atropelamentos e condizente. Só acho que faltou alguma sustança aí no meio. Não é ruim, mas também não me marcou.

    • Pontes Machado
      22 de dezembro de 2014
      Avatar de Pontes Machado

      Olá, Fil Felix.
      Sabes, também causou-me certo incômodo o mais que perfeito, havia mais dele e acabei podando um pouco, mas não consegui desconstruir mais que isso. D:
      Obrigada pela leitura e comentário, bom desafio para ti.

      • Sonia Rodrigues
        23 de dezembro de 2014
        Avatar de Sonia Rodrigues

        sugestão: usar tempos compostos.
        ex: Também jamais cruzara com a bruxa. = Também jamais havia cruzado com a bruxa.

  28. Virginia Ossovsky
    21 de dezembro de 2014
    Avatar de Virginia Ossovsky

    A história é envolvente e chocante, fiquei com as imagens da amputação na cabeça e meus dentes até bateram. Dá muita dó dessa criança. Fiquei meio na dúvida quanto à criatura fantástica, mas parece que o sofrimento e abandono transformaram o menino de maneira irreversível. Parabéns e boa sorte!

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Publicado às 20 de dezembro de 2014 por em Criaturas Fantásticas e marcado .