EntreContos

Detox Literário.

Lua Dora (Claudia Roberta Angst)

images (7)

– Pensa que é quem pra me olhar assim?

Dora torceu a bainha do avental. Os nós dos dedos brancos, circulação estagnada em medo e ira. Os olhos seguiram caminho pelo chão refletindo o tom do cimento. Cinzas também eram suas ideias, misturadas ao caos dos pensamentos que lhe tomava a pouca energia.

– Desculpe… – Começou a balbuciar antes que o primeiro tapa lhe cortasse fala e lábio.

Caída ao lado do fogão, cruzou os braços sobre a cabeça e desejou que o inferno fosse breve. Cinco minutos do êxtase que se pronunciava com a violência habitual. Depois, a batida da porta encerrando cena e tortura. Mais alguns hematomas e a mesma dor de cabeça a atravessar têmporas como tesouradas.

José Alberto não era um homem ignorante. Estúpido, bêbado, mas não ignorante. Professor de universidade renomada, fincara sombra e pouso naquelas paisagens. Há mais de cinco anos, decidira recolher seu destino naquela pequena cidade que, como outras tantas, não constava de mapa algum. Um rabisco no percurso de um profissional de sucesso. Diziam que o homem fugira das mazelas de um amor mal resolvido. Outros imaginavam crimes maiores em suas costas. Em meio às especulações, o povo aceitou o forasteiro que sabia derramar charme e sedução nas palavras.

Em seis meses, Dora também cedera aos encantos daquele homem tão cheio de novidades no olhar.  A filha caçula do prefeito, Doralice Dias, era conhecida por suas poucas e misteriosas aparições em público. Um misto de timidez e fascínio confundia os observadores mais atentos. Não se adequava às expectativas dos comuns.  Seus cabelos longos e negros, olhos manchados de um verde profundo e a pele tingida de luar formavam um quadro que, se não espantava, também não sossegava.

Dora não era uma mulher de beleza fácil, mas provocava ecos de espanto e admiração, inveja e lamentação. Mergulhada em misterioso silêncio, despertava o melhor e o pior de quem dela se aproximava. Fora assim também com José Alberto. O moço da cidade grande notou que ali havia mais do que a superfície turva do seu olhar conseguia explorar. Determinou-se a conquistar Doralice, como quem se predispõe a mais um desafio acadêmico. Nem mesmo importou-se com os rumores de amantes secretos e obscuros relacionamentos da jovem. Com aquele casamento, viriam a reputação e o respeito de que José Alberto tanto precisava.

Casaram-se em uma manhã estranha de setembro. Não estava frio nem quente e nuvens de chumbo cobriam o céu. Começava ali uma história de amor, maldição ou apenas sina.

Assim que as últimas pétalas caíram, céu e véu foram rasgados pelo calor. Os primeiros tapas seguiram-se de desculpas e algum arrependimento embriagado. Com os meses, as promessas enferrujaram lentamente, molhadas e salgadas em lágrimas, quase esquecidas. No entanto, era Doralice a encantada e o feitiço tornara sua disposição fraca, sempre a perdoar o que o amor não mais lhe permitia.

Por três vezes, seu ventre arredondara. Por três vezes, Dora sangrara em silêncio e escuridão. Seu desejo de ser mãe tornara-se oferenda devolvida à praia, desprezada pelos deuses. Suas intenções, suas esperanças e o querer bem àquele que agora mal reconhecia como marido, evaporavam com a fugacidade de um sonho. Quebrados sentimentos e estraçalhada magia contra as rochas dos ciúmes.  Ela percebia as mãos enrugadas pelo molhar constante na busca de bênçãos de outros dias.

Doente por não saber mais decodificar o que lhe vinha em sonho, Dora lutava para resgatar a sua própria natureza dos pálidos veios da submissão. Não era aquele seu lugar no mundo. Não fora para isso que entregara alma e corpo ao amor.

Com o tempo, Dora passou a usar vestidos mais fechados, a escolher cores que camuflassem marcas e dúvidas. Se fosse possível, evitaria o mundo para não ter que repetir as mesmas desculpas inventadas. Precisava de tempo para lidar com tudo aquilo, para se rever fora do labirinto no qual ela entrara sozinha.

Nas noites de lua cheia, Dora vestia-se de vinho, o vermelho embriagado. Embrenhava-se pelo mato, seguindo uma trilha feita só por ela. Sem medo ou susto, reunia-se a outras quatro mulheres que, sem nada confessarem, declaravam cumplicidade e aprovação. Pouco diziam, só olhares trocavam e de mãos dadas comungavam. Cantavam melodias aprendidas no ventre da noite. O mesmo ritual repetia-se a cada vinte e oito dias: pentagrama invisível, fogueira iluminando olhares e intenções, verdades ocultas sob as sombras que as chamas lançavam na terra.

Os dias tornaram-se mais densos, mas Dora sentia-se anestesiada, em transe abençoado. O mistério teimava em invadir as margens da sua lucidez, ainda tão frágil. Devorava-lhe a razão, camuflando-se entre as dúvidas e anseios. Tudo encoberto por um misto de encantamento e ferrugem.

José Alberto vivia descontente com tudo, mas seu apetite permanecia voraz. Dora esmerava-se em acrescentar novos temperos, elaborando receitas que agradassem o paladar do marido. Queria diminuir sua pena, embora ainda lhe ardessem todas as agressões em sua pele e mente.

Ao recordar toda trajetória até ali, Dora sentiu violentas ondas de náusea balançando suas poucas certezas, vazando na impossibilidade de felicidade. Teimava ainda em limpar suas dores postas e repostas, no vai e vem de uma canção oculta.

Depois de limpar o rosto e cuidar dos ferimentos, Doralice pegou o velho caderno de receitas. Alisou a capa de linho bordado e manchado pelo tempo. Abriu em uma página qualquer buscando conforto na caligrafia caprichada da velha tia. Uma bruxa, diziam os moradores mais antigos, mas que mulher nunca se revelou feitiço e praga?

Dora a partir daquele dia, esmerou-se ainda mais em se tornar invisível ao marido, só atendendo seu chamado na cama ou à mesa. Adquiriu um senso de tempo particular, desbotando impulsos e cobrindo de sabores os maus humores de algoz companhia.

Não saberia dizer quando ou como aconteceu. Foi tão de repente que Dora sentiu-se perdida diante do ocorrido. Não era um sábado, disso tinha certeza. Havia mais nebulosidade do que um fim de semana esticado em lazer e churrasco.

O médico mais experiente da cidade baixou os olhos ao tentar dar o diagnóstico. Hemorragia interna, falência de órgãos, dengue talvez. Admitir a própria ignorância não era uma opção para o velho doutor. Recolocou os óculos e assinou o atestado de óbito como se fosse uma receita de antibiótico. O medicamento certo para um mal já tão extenso. Se tivesse prestado atenção ao olhar da jovem viúva, veria que ali estavam todas as perguntas e uma só resposta.

Malditos mosquitos, exclamavam os vizinhos ao saber da notícia. Não nutriam grande amizade com o falecido, mas ele era um dos seus e merecia respeito. Pelo menos, agora, que morto estava. Fazia parte das tradições da cidade, homenagear os mortos com ressentida hipocrisia. Homens e mulheres puseram-se a trabalhar, recolhendo o entulho, cobrindo pneus e bacias, derramando água em terra.

Dora, ainda com olhar alquebrado e falhas no pensar, ao mutirão misturava-se. O ponto de partida seria sua própria casa, ainda com o ardor de velas e flores do velório. Seria bom manter-se ocupada, pensou Doralice.

– Melhor colocar areia nos pratinhos das plantas. – Sugeriu Dona Lucinha.

Dora virou-se e logo reconheceu uma das outras quatro mulheres em volta da fogueira. Um dos cinco pontos do pentagrama sob a lua cheia. Sorriu com alívio, em velada cumplicidade.

A viúva olhou para os vasos de flores que enfeitavam a varanda do seu lar. Tão bonitos, ostentando uma adiantada primavera. Então, puxou da prateleira da despensa, o pequeno e pesado saco. Despejou conteúdo e provas sobre a areia na bacia e mesclou os cristais. Sentindo a aspereza nas mãos, sua alma por fim se libertou.

Ninguém percebeu,ou se alguém o fez, tratou logo de recusar julgamento. Sob os espessos cílios, antes nublados, cinzentos de dor, os olhos de Dora revelavam cores de arco-íris. Aquela seria uma noite de luar pleno. Bailarinas, Dora e lua,  cheias no céu.

66 comentários em “Lua Dora (Claudia Roberta Angst)

  1. Iolandinha Pinheiro
    8 de abril de 2017
    Avatar de Iolandinha Pinheiro

    Olá, Claudinha. Como dito em nossa última conversa, vim ler o texto que fez você ganhar o desafio. Nem li os outros, tenho certeza que o seu foi mesmo o melhor. Você sempre escreve ótimos textos, mas este brilhou, um joia cuidadosamente produzida, onde as palavras foram se engastando no texto como pequenas pedras brilhantes, cada uma no lugar mais perfeito. Você criou um texto belíssimo, onde nada que era dito sobrou ou faltou, mas estava em seu preciso berço. Um conto poético, esculpido com a maestria de uma grande e sensível escritora. Nota 10.

    • angst447
      8 de abril de 2017
      Avatar de claudiaangst

      Agradeço pelo seu gentil e generoso comentário, Iolandinha. É sempre bom revisitar este conto que me deu tanta alegria. Meus melhores textos são os que nascem quase por si só, sem muito cálculos, planejamento, apenas surgem como um transbordamento de emoções. Espero que outro conto surja assim também, sem amarras. Beijos.

  2. Anna Silva
    24 de agosto de 2014
    Avatar de Anna Silva

    Muito poético e ressaltando o lado bruxa de toda mulher>

    • Claudia Roberta Angst
      29 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Obrigada, Anna. Realmente, quis enfatizar isso mesmo:o lado feiticeira de todas nós. Beijos.

  3. Claudia Roberta Angst
    22 de agosto de 2014
    Avatar de Claudia Roberta Angst

    Se eu começar a agradecer o comentário, não vou parar mais e o feitiço pode virar contra a feiticeira. Grata pela atenção, luz e generosidade. 🙂

  4. Fil Felix
    21 de agosto de 2014
    Avatar de Fil Felix

    Achei o conto corrido de mais. Narra um gande espaço de tempo em poucas frases, acabando por atropelar muitos acontecimentos. Poderia começar já com a vida dela de casada e infeliz. Apesar do final, a temática é quase imperceptivel.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Sou mesmo apressadinha. Não dou conta de me estender na narrativa. No entanto, o conto começa com ela já casada, levando uns tabefes do marido. Aí, voltei no tempo para explicar como tudo culminou entre tapas e beijos. Obrigada pelo comentário, 🙂

  5. Pedro Luna
    21 de agosto de 2014
    Avatar de Pedro Luna

    Olha, bem escrito e com umas passagens muito belas. No entanto, achei a trama sem apelo. Não me empolgou e algumas coisas ficaram mal explicadas, como as mulheres no meio do mato e a tal tia Bruxa…

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      O feitiço está na sutileza. As mulheres encontravam-se a cada lua cheia, formando um ciclo de 28 dias, que também é o ciclo reprodutivo feminino. A tia talvez nem fosse bruxa, eram apenas boatos.
      Obrigada pelo comentário, Pedro, mas não pela nota. Três??? Detonou, hein? rs

  6. Carmem Soares
    20 de agosto de 2014
    Avatar de Carmem Soares

    Gostei muito! A personagem foi belamente construída. É um texto simples e saboroso.

    Dora é uma bruxa muito linda e sofrida.

    Parabéns!!!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Que bom que você gostou, Carmem. 🙂

  7. Marcellus
    18 de agosto de 2014
    Avatar de Marcellus

    Um bom conto, mas que torna-se cansativo: “medo e ira”, “fala e lábio”, “sombra e pouso” e por aí vai.

    A bruxaria ficou um pouco deslocada, mas… está lá. Boa sorte!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Sabe que, depois de ler o seu comentário e do Fabio Baptista, eu realmente percebi que exagerei no “e”? Concordo que em alguns momentos, prendeu o ritmo.

  8. Weslley Reis
    15 de agosto de 2014
    Avatar de Weslley Reis

    A levada poética do conto não o tornou atravancado, como em outros casos acontece. Principalmente tendo a mim como leitor. A trama é bem construída, as motivações também, mas não funcionou comigo.

    A construção da personagem é sólida e os cultos na floresta tão a base ao tema, mas infelizmente, todos somos subjugados a nossa percepção para julgar.

    Mas não deixa de ser um bom conto.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Gostei do seu comentário sincero e embasado. Sim, o julgamento é muito subjetivo. Abraço.

  9. rsollberg
    13 de agosto de 2014
    Avatar de rsollberg

    O texto me ganhou pelo cuidado com a narrativa e não pela trama em si.

    Algumas passagens são ótimas:
    “Uma bruxa, diziam os moradores mais antigos, mas que mulher nunca se revelou feitiço e praga?”

    As palavras são escolhidas com esmero e a aspereza da realidade também é muito bem explorada como neste trecho:
    “Fazia parte das tradições da cidade, homenagear os mortos com ressentida hipocrisia.”
    Bom Conto!

    Parabéns e boa sorte no desafio.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Obrigada pelo seu generoso comentário, Rafael. Valeu!

  10. Juliano Gadêlha
    11 de agosto de 2014
    Avatar de Juliano Gadêlha

    Bom conto. O enredo me agradou, a narrativa tem um bom ritmo e o texto é bem escrito. Gostei da “velada cumplicidade” entre os “pontos do pentagrama”, mulheres comuns de uma cidade pacata que se encontram “sob a lua cheia”. Parabéns ao autor, continue com o bom trabalho.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Obrigada pelo comentário e por apreciar minhas palavras enfeitiçadas. Abraço.

  11. Edivana
    11 de agosto de 2014
    Avatar de Edivana

    Bem, é uma coisa triste a violência doméstica, o definhar feminino, a repulsa em buscar auxílio, o esconder as marcas, é uma triste (e fodida) realidade. Se eu compreendi ela o matou, bem, poderia ter feito isso antes, não?

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Dora levou um tempo para se livrar do feitiço da paixão. Até as bruxas acomodam-se em situações tristes. Sim, ela o matou com um temperinho especial …rs

  12. Martha Angelo
    10 de agosto de 2014
    Avatar de Martha Angelo

    Adorei essa bruxa vingadora, o cenário brasileiro, a poética da linguagem!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Vindo de você, Martha, um lindo elogio. 🙂

  13. Lucas Almeida Dos Santos
    8 de agosto de 2014
    Avatar de Lucas Almeida Dos Santos

    Seria ótimo se homens como o marido de Dora, ou piores, tivessem suas esposas, filhas, vizinhas, como a Dora. Diminuiria tanto os casos de agressão e morte. Parabéns pelo texto, bela mensagem.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Bom mesmo seria se elas não se envolvessem com esses sujeitos malignos. Obrigada pelo comentário e pelo notão, Lucas. 🙂

  14. Ricardo Gnecco Falco
    5 de agosto de 2014
    Avatar de Ricardo Gnecco Falco
  15. williansmarc
    5 de agosto de 2014
    Avatar de williansmarc

    Gostei. Conto muito bem escrito, com frases bem construídas. Não sei se foi intencional, mas os personagens tem nomes parecidos com nomes de personagens de novelas. Também achei interessante a protagonista, que viria a ser bruxa, ter sido enfeitiçada(metaforicamente) pelo seu futuro marido.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Nem percebi a coincidência dos nomes, mas é bem provável mesmo. E você percebeu bem: Dora foi enfeitiçada pelo professor, mesmo sendo uma bruxa. 🙂

  16. Eduardo Matias dos Santos
    5 de agosto de 2014
    Avatar de Eduardo Matias dos Santos

    Legal o enredo e a inclusão de temas importantes e atuais como a violência familiar e a dengue, mesmo como um certo pano de fundo.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Não foi intencional, mas acho que funcionou bem, né?
      Obrigada pelo comentário. Valeu!

  17. Walter Lopes
    4 de agosto de 2014
    Avatar de Walter Lopes

    Poético.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Comentário sucinto como a sua nota…rs. Três??? 😦

  18. fernandoabreude88
    4 de agosto de 2014
    Avatar de fernandoabreude88

    A lá! Gostei desse aqui. Apesar de algumas construções meio estranhas, a personagem principal me ganhou por completo. A história tem uma densidade peculiar, tanto no aspecto linguístico como nas veredas por quais se encaminha, o personagem secundário pode ser visto como uma sombra maligna contra qual torcemos. Só achei a inserção das bruxas da floresta meio destoante do resto. Bom conto!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Você não foi o único a se incomodar com as bruxas na floresta.. nem é uma floresta mesmo… só um mato perdido.
      Obrigada pelo comentário, apreciei muito. Abraço.

  19. Marquidones Filho
    2 de agosto de 2014
    Avatar de Marquidones Filho

    Gostei da parte da “ressentida hipocrisia”, é bem a cara da nossa sociedade mesmo.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      É mesmo, não? Todo mundo vira santo depois que morre.

  20. Wender Lemes
    1 de agosto de 2014
    Avatar de Wender Lemes

    Excelente. Nenhuma mostra de latim ou da tortura requintada da idade média, como já está ficando batido em muitos contos, mas uma bela e sensível narração doméstica. Parabéns pelo notável conto, boa sorte.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Obrigada pelas palavras de incentivo, Wender. Sem torturas!:)

  21. Fabio Baptista
    1 de agosto de 2014
    Avatar de Fabio Baptista

    ======== ANÁLISE TÉCNICA

    Outro caso de um estilo que não gosto, mas onde não posso deixar de reconhecer o esmero na construção do texto.

    – Os olhos seguiram caminho pelo chão refletindo o tom do cimento
    >>> Caberia uma vírgula aqui, depois de “chão”

    Achei as frases muito curtas (aí entra a questão do estilo que mencionei) e uma certa busca exagerada por construir uma frase “diferenciada” a todo momento.

    Também creio que o autor abusou um pouco no “e”, como nos exemplos abaixo:

    – iluminando olhares e intenções
    – camuflando-se entre as dúvidas e anseios
    – misto de encantamento e ferrugem
    – as agressões em sua pele e mente

    ======== ANÁLISE DA TRAMA

    É tudo bastante compreensível, mas acho que a cadência da narrativa, ditada pelas frases curtas já citadas, jogou contra o desenvolvimento, tornando a leitura um pouco monótona.

    O mote também é demasiado simples e a reunião a cada 28 dias me pareceu um pouco deslocada.

    ======== SUGESTÕES

    Arriscar umas frases mais longas vez ou outra, dando mais fluidez ao texto.

    Dosar um pouco os “e”s… é um bom recurso, mas, assim como todos os outros, quando usado em demasia, perde o impacto.

    Tirar essa parte da reunião.

    ======== AVALIAÇÃO

    Técnica: ****
    Trama: ***
    Impacto: ***

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Que comentário mais bem organizado! Concordo com o excesso do E. Pesei a mão e nem percebi. Valeu!

      • Fabio Baptista
        22 de agosto de 2014
        Avatar de Fabio Baptista

        Sou um sádico competitivo, mas sou organizado… 😀

  22. Rodrigues
    1 de agosto de 2014
    Avatar de Rodrigues

    Ah, e destaco essa frase maravilhosa que me ficou na cabeça um tempão, e ainda está – “Dora vestia-se de vinho, o vermelho embriagado”. VERMELHO EMBRIAGADO, que coisa foda.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Adorei isso também, sem modéstia. Vinho é minha cor favorita.

  23. Rodrigues
    1 de agosto de 2014
    Avatar de Rodrigues

    O conto é bom. Está bem escrito e aguça a curiosidade. Achei que o escritor pesou um pouco na carga dramática. Essa construção do marido – que me pareceu o personagem mais interessante do texto como um forasteiro e ao mesmo tempo um cara violento – me pareceu meio perdida, acho que ele deveria ser mais explorado, mostrando suas facetas. É um monstro. Mas, quando um personagem sangue ruim assim é mostrado de uma forma mais próxima, ele acaba ganhando o leitor e vale a história. Na verdade, achei que o bruxo da história toda tinha que ser o cara, mas aí também já é querer demais.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      É uma boa ideia essa do verdadeiro bruxo ser o canalha do marido. Vou pensar nisso. 😉

  24. Thata Pereira
    1 de agosto de 2014
    Avatar de Thata Pereira

    Gostei!!! Principalmente do cenário doméstico do conto. Mesmo sendo um cenário triste, inovou, entrelaçando temas que deixaram a história interessante.

    Boa sorte!!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Thata, sempre generosa nos seus comentários! Beijos.

  25. David.Mayer
    1 de agosto de 2014
    Avatar de David.Mayer

    O que gostei:
    O texto é muito bem escrito.

    O que não gostei:
    A história não entoou muito desejo de leitura. Alguns momentos um pouco enfandonha, pois a narrativa visou mais o lado sumario, quando um bom texto é um equilibrio entre o sumario e os dialógos e ações.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Que pena que a narrativa não despertou seu interesse. 😦

  26. JC Lemos
    31 de julho de 2014
    Avatar de JC Lemos

    Dá gosto de ler algo assim. Narração impecável!
    Fui lendo e imaginando tudo tão descontraidamente que nem percebi quando acabou. Não encontrei nada que tenha me desagradado no texto, e só tenho a parabenizar o autor pela obra.

    Nessas horas que o contraste da alegria de ler algo bom e a tristeza de saber que vou ficar em colocações abaixo do tal texto bom, se mostra. Mas a inveja é branca, então acho que não tem problema(ou tem?), né? haha

    Parabéns e boa sorte!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Dá gosto de ler um comentário assim, sensível e generoso! Nada a invejar. O seu caminho só começou e muito bem. 🙂

  27. José Geraldo Gouvêa
    31 de julho de 2014
    Avatar de José Geraldo Gouvêa

    Gostei deste bruxedo que não precisa de Satã para funcionar, heheheh…. Bem fininho, misturado numa carne moída com tomate, cebola e pimentão. Maridão nem sente. E só se tiver tripas de ferro ele sobrevive…. rsrsrs

    Achei desnecessária a inserção das bruxas literais na história. Ficou um elemento meio solto. Sugiro que numa futura versão você retire essa questão dos sabás literais e deixe a Dora simplesmente tomar a iniciativa a partir de ideias retiradas do livro de receitas da tia.

    Ainda continua sendo bruxa, ao menos metaforicamente, e a história ganha coesão.

    Um voto meu você já tem.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Reli algumas vezes o seu comentário até conseguir acreditar nele, sem pegadinhas. Acho que talvez o encontro mensal das bruxas não tenha funcionado muito bem. Obrigada pela atenção, sugestão e nota alta. 🙂

  28. Eduardo Selga
    31 de julho de 2014
    Avatar de Eduardo Selga

    Este é o décimo sexto conto que analiso neste desafio.

    É um conto que se destaca pela sutileza com que o drama da personagem é mostrado. Destruída por dentro enquanto mulher, sua vingança não vem a galope: paulatinamente a atmosfera propícia se mostra, culminando com o envenenamento do marido. Mas o ato não é explicitado, ele fica subentendido nos últimos parágrafos do conto. O que não é surpreendente: bruxas urbanas precisam se esconder.

    Chama atenção o trato linguístico, que embeleza sobremaneira o conto, cujo enredo é relativamente simples. Há metáforas sofisticadas, como em “com os meses, as promessas enferrujaram lentamente, molhadas e salgadas em lágrimas, quase esquecidas”, em que a ferrugem da promessa decorre da umidade e do sal da lágrima, elementos que causam ferrugem. Isso é elaboração literária.

    Em “Dora vestia-se de vinho, o vermelho embriagado” a cor da roupa é a cor de sua embriaguez. Não a etílica, e sim a causada pelo sofrimento e mágoa, aquela que entorpece a vida e o senso de legalidade.

    Um belo trabalho.

    Em 31/07/2014

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Obrigada pelo elaborado e atento comentário, Eduardo. Confesso que adorei essa sua análise do “vinho, o vermelho embriagado”. Bem por aí mesmo. Abraço.

  29. Pétrya Bischoff
    31 de julho de 2014
    Avatar de Pétrya Bischoff

    Mais um conto comovente, mais pela simplicidade da estória, onde toda mulher flui magia e é afligida por problemas mil, que por suas mazelas em si. Sem esquecer desta belíssima e notável escrita, permeada de lirismo. Gostei, parabéns e boa sorte.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Simples e comovente? Que baita elogio, Pétrya. Muito obrigada. 🙂

  30. Gustavo Araujo
    31 de julho de 2014
    Avatar de Gustavo Araujo

    Que escrita fantástica. A poesia permeia todo o texto. Parágrafos e parágrafos de metáforas cativantes, bem pensadas, bem ao estilo de Zafón. O texto me agradou muito – a razão pela qual Dorinha se tornou bruxa, o marido violento, os motivos apresentados. Enfim, uma história envolvente, ricamente ilustrada, doce e impactante ao mesmo tempo. Parabéns!

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Acertou em cheio, Gustavo. Ando lendo muito Zafón e deu nisso. Obrigada pelo comentário gentil e generoso. 🙂

  31. mariasantino1
    31 de julho de 2014
    Avatar de mariasantino1

    Puxa! Deixa eu limpar a baba aqui. rs.
    .
    Muito prazerosa essa leitura! Gostei muito, tem profundeza e sutileza. Adorei o parágrafo que começa assim “Por três vezes, seu ventre arredondara…” Ele é ótimo, condensado e forte. O conto todo é forte em vários sentidos e o final “Dora e lua, cheias no céu” me fez olhar para o pc e dizer “Hã? As “preces” de Dora foram atendidas?” Pois sim, elas foram. DEMAIS!!
    Parabéns pelo ritmo narrativo e escolha de palavras. Sucesso! 😉

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Que delícia de comentário, Maria. E a sua interpretação do final foi primorosa. Obrigada! Beijos.

  32. rubemcabral
    31 de julho de 2014
    Avatar de rubemcabral

    Muito bonito, cheio de poesia e construções interessantes. História simples, porém bem executada: gostei bastante.

    Parabéns ao autor.

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      Obrigada pelo comentário e nota!!! Ainda não acreditei direito nessa história de primeiro lugar. 🙂

  33. Ricardo Gnecco Falco
    31 de julho de 2014
    Avatar de Ricardo Gnecco Falco

    Gostei! Muito. Muito. Muito! 🙂 Que delícia poder ler textos assim, tão cheios de poesia! Está aqui o tipo de conto que eu mais anseio encontrar… Escrito com o coração. Palavras sentidas, vividas, sofridas. Que beleza de história! Que maravilha de foco narrativo! Isso é arte… Da melhor qualidade! A-DO-REI! 😉 .
    Aqui, a “mão boba” da autora (será que é mulher…? Hmm… Vou arriscar que sim!) acessa livremente a parte mais íntima do leitor mais desavisado que, quando percebe, já foi tocado em cheio. Pego por completo por um conto deliciosamente bem escrito e conduzido de forma magnífica. Ressalto a parte da apresentação da morte do violento esposo de Dora; que maestria! Domínio perfeito na apresentação dos fatos, cenas e tramas. A naturalidade do encontro com as bruxas (pessoas tão comuns que chegam a assustar!), elevando o conto a um patamar acima da própria adequação ao tema deste Desafio. É tão bem feita esta verdadeira simbiose que fica parecendo que o tema do presente Desafio era até outro; pois bruxas, bruxaria, danças, fogueira… Tudo ficou tão natural nesta história que chapéu, caldeirão, feitiços parecem até pertencer a outro universo. Deu para entender o que quero dizer? Ficou “realmente” FANTÁSTICO este trabalho! Deliciei-me com a leitura aqui… Literalmente.
    Isso sem falar nas imagens construídas pela autora para expressar de forma inequívoca os sentimentos mais intensos. O texto está repleto destas pérolas e vou citar apenas alguns: “Com o tempo, Dora passou a usar vestidos mais fechados, a escolher cores que camuflassem marcas e dúvidas.” ; “…Dora sentiu violentas ondas de náusea balançando suas poucas certezas, vazando na impossibilidade de felicidade.” ; “Cantavam melodias aprendidas no ventre da noite.” (genial analogia silenciosa — intrínseca — com os 3 abortos da personagem!) e “Uma bruxa, diziam os moradores mais antigos, mas que mulher nunca se revelou feitiço e praga?”. Muito, muito, muito bom!
    Olha… Parabéns, mesmo! Já está lá no alto do meu pódio!
    Não vou nem desejar boa sorte; apenar agradecer a criadora por este feitiço…
    Obrigado!
    Paz e Bem!
    . 🙂 .

    • Claudia Roberta Angst
      22 de agosto de 2014
      Avatar de Claudia Roberta Angst

      O que posso dizer ? Agradeço toda a generosidade, atenção e gentileza com que trata minha criação. Um tanto exagerado da sua parte, mas continue assim. Meu ego agradece. 🙂

      • Ricardo Gnecco Falco
        23 de agosto de 2014
        Avatar de Ricardo Gnecco Falco

        Não tenho a MENOR vergonha de GRITAR que GOSTO quando GOSTO!
        😛
        Lindo ver você brilhando lá (aí!) no alto deste MERECIDÍSSIMO pódio!
        Parabéns!
        😉

        PS: Cantei esta pedra, não cantei…? 🙂

Deixar mensagem para Fabio Baptista Cancelar resposta

Informação

Publicado às 30 de julho de 2014 por em Bruxas, Contos Campeões e marcado .