Neil Gaiman, o senhor dos sonhos e fantasia.
Em ocasião de um funeral na família, o personagem erra o caminho de volta e vai por um caminho que não percorria desde sua infância. Este fato, que poderia ser comum a qualquer pessoa que retorna à sua terra natal, mas para o personagem traz-lhe recordações que há muito esquecidas. Ele vai até a fazenda vizinha de onde morou e lá, observa o lago. Lembra-se de sua amiga de infância, Lettie Hempstock e de algo peculiar. Ela chamava o lago de “Oceano” e no emergir das lembranças faz-o recordar de uma parte de sua infância que quis enterrar a fundo em sua mente.
Em sua infância, fora um menino em uma família normal e comum, em uma casa igualmente comum. Fazia e gostava coisas comuns para um menino de classe média baixa, e possuía uma família normal, formada por pai, mãe e irmã.
Depois de um evento bizarro, o suicídio de um minerador de opalas, a aparição de moedas caindo do nada, desencadeia eventos que levam o menino e Lettie a transitar por terras proibidas. Por um descuido, o menino traz algo destas terras proibidas que ocasionará infortúnios em sua vida e de sua família.
A partir daí, algo de estranho começa a modificar sua família normal. O surgimento de uma babá bonita e insuspeita atrai o resto da família. Menos para o menino, que percebe algo de errado em uma mulher que se apresentava bonita, simpática e perfeita em seus modos.
O menino sofre agruras que bravamente suporta com sua inocência, determinação em salvar aqueles que ama e confiança em aliados inesperados.
No contexto das histórias do autor, a inocência, o apego ao amor de sua criação a crença na magia, são os protetores para que monstros reais não nos assombrem.
A perda na crença na magia torna-nos cegos em perceber quando os verdadeiros males nos intoxicam. Com isto, eles nos arrastam para os submundos, tornando-nos zumbis de estado permanente, incapazes de ir à tona para enxergar o real estado de nossos espíritos, cegos para captar a beleza que a vida nos oferece além do materialismo e insipidez de valores que nos preencham verdadeiramente.
Uma peculiaridade citada é o fato de que crianças não transitam os mesmos caminhos que os adultos. Fazem seus próprios caminhos e magias para se protegerem.
O racionalismo adulto não tem vez nesta história, aliás, é através das fraquezas que os adultos apresentam é que se tornam portas de dominação para que o mal domine e cause infortúnios que os monstros almejam.
O autor exerce muito bem a função de resgatador da magia para adultos. A magia das lembranças de pequenas coisas, trazidas da infância, fazem-nos verdadeiramente felizes, além de trazer sensações de conforto vivenciadas na época.
Neil Gaiman resgata estados que nos conduzem pelo caminho para enxergarmos o encantamento dos sonhos e da fantasia de nossa infância, os quais esquecemos assim que submergirmos em nossas rotinas infelizes de adultos.
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