Aquela espelunca, cheirando a cigarro e álcool, nos fundos do bordel, era chamada de escritório. E a pouca luz deixava tudo pior. Os poucos móveis que decoravam o lugar, contudo, eram melhores que as delegacias pelas quais percorrera antes daquele serviço porco. Odiava aquilo. Odiava aquela bandidagem toda. Estava começando a imaginar-se para sempre dentro daquele mundo, cheirando cocaína, crack e outras misturas que faziam. Imaginava-se um dia bebendo o próprio vômito, com o nariz enfiado naquele cheiro acre ou com o gosto de sangue na boca. Ou então, com uma agulha enfiada na veia, no braço roxo de apertar a borracha.
Sentia-se confortável longe de regras de comportamento, a favor daquela desordem social, inversa da qual vivera até três meses atrás. Gostava do sentimento que a violência que usava contra os devedores proporcionava. Machucava-os de propósito porque se sentia capaz de enfrentar o mundo. Depois? Depois era arrependimento. Sua redenção era recuperar um ou outro, levando-os até quem os pudesse ajudar. Juntar uns poucos trocados e alimentar as bocas famintas que ficavam para trás.
— Chamou?
Já pensara em como seria morrer mergulhado por entre as pernas da adolescente Vânia, gozando até enfartar-se, ou enfiar-se por entre os peitos enormes da experiente Susana, naquelas camas cheias de ácaros, percevejos e afins. Emaranhado naqueles lençóis impregnados de sujeira, suor e sêmen de homens viciosos que não tinham sequer onde caírem mortos, mas juntavam tudo para cair nas graças das mulheres da zona.
Era com Sônia, porém, nas camas de motéis pelos quais vagavam que se entupia de sexo seguro, de camisinhas perfumadas e calcinhas de renda. Odiava-se, às vezes, sentir-se tão limpo e alegrava-se estranhamente voltando para aquele antro no qual entrara disfarçado.
Esses delírios, contudo, não tinham tanto impacto quanto imaginar-se descoberto, encarando a fúria do grupo, sendo revelado como traidor que era.
A música que vinha da parte da frente, onde funcionava a boate, parecia um daqueles boleros de bêbado e embalava a vontade de sair correndo toda a vez que a noite chegava.
— Temos um encontro com o Doutor.
Julião não parecia importar-se com nada além da grana que gastava nas horas do dia. Grana que vinha das drogas, das armas e da prostituição. O Coronel era o chefe, mas Julião aproveitava como ninguém.
— Agora?
A pergunta soou como reclamação e o homem endireitou-se da cadeira, depositando a arma que lustrava bem à frente, por sobre a mesa escura. Não gostava de ser questionado, nem por seu braço direito.
— É. Agora. Junta aqueles três inúteis e me espera no carro.
Passou por ele devagar e ainda bateu nas costas.
— Pra onde vamos?
— Pra debaixo da ponte, idiota. Onde é que sempre vamos quando temos uma transação em andamento?
Respirou algumas vezes. Esperou Julião sair. Talvez aquilo não fosse realmente coisa pra ele. Aquele serviço estava pesando sobre seus ombros. Mas não tinha saída. Não até descobrir o que precisava.
Seguiu contrariado. Não tinha graça aquelas saídas às escuras. E já passava da meia noite.
***cd***
Aquele barracão caía aos pedaços. Mas era isolado e seguro. A polícia nunca entrara por aquelas paradas para qualquer averiguação.
— Vai preparando a grana. – O homem de meia idade, com terno de décadas atrás, foi falando com voz sóbria, olhando ao redor, depois que visualizou o grupo. – O chefe quer tudo na quinta-feira, por volta das onze. – Cuspiu no chão e enfiou o palito outra vez por entre os dentes. – Vê se não amarela. O cargueiro chega cedo, mas o pacote só sai depois das dez.
— O depósito vai ser feito em partes, Doutor. – Julião não era de responder muito para o engravatado. Não dava margem para alongar a conversa.
— Quem vai ficar na cobertura?
Ele interferiu, tentando descobrir detalhes que, de última hora fariam a diferença.
— O Coronel quer pouca gente na transação, Preto. Ele não quer chamar à atenção. Foi um acordo.
— Eu tô sabendo. – O Doutor completou – O container chega num caminhão vermelho. E é bom a grana ser depositada mesmo, do contrário, aquela caixa não sai de dentro do navio.
O homem foi se afastando e entrando no veículo.
— Que loucura…
— O que foi?
— Um carregamento de droga tão grande vir pelo porto como mercadoria qualquer? Você deve estar brincando, Julião.
— Fica quieto, aí, irmão. Esse carregamento vem na hora certa. Jogada de mestre. Os caras de farda nem suspeitam.
Julião era o mais letrado do grupo.
— Sei…
— Qual é? Sabe de alguma coisa, Preto?
— O que eu sei é que esse cara aí… – Apontou o dedo para o carro que saía. – Já andou metendo muita gente na vala. O idiota do Natinho me disse o nome dele passou a ser Doutor depois que ele arrancou os intestinos duns caras. – Parou e voltou-se para Julião. – Os caras estavam vivinhos, se quer saber.
Julião deu de ombros.
— O homem sabe o que faz. Está tranquilo, lá na mansão, e me garantiu que não tem problema algum.
— Sei.
Enquanto voltavam e as luzes da cidade ainda cintilavam no escuro, ia matutando uma maneira de avisar o departamento. Cleiton Viriato Batista, vulgo Coronel, agiria novamente. Desta vez, não poderiam deixá-lo escapar.
Pensava no curto espaço que teria para preparar-se para a ação. Armazém vinte e três. Cais do porto. Terreno baldio. Nada era tão sujo e tão degradante quanto o abandono daqueles galpões, a não ser as vidas subjugadas àqueles criminosos e às suas vontades. Vidas desperdiçadas, escorraçadas, muitas ceifadas das famílias. Quem cruzasse com O Coronel estava sujeito àquilo.
As coisas não deviam ser do jeito que eram e o mundo não tinha salvação. Assim ele pensava toda vez que as transações aconteciam naqueles lugares ermos. Aqueles criminosos não tinham mesmo noção de como aquilo era insuportável porque estavam acostumados à sensação de vazio, de sujeira, de degradação. Acreditava naquilo assim como acreditava em sua arma. Ela fazia muito mais sentido em determinados momentos do que uma possível redenção daqueles homens que de humanidade nada tinham.
O mandachuva do narcotráfico de toda aquela grande área sul não era flor que se cheirasse. Tão pouco Julião. Os policiais do departamento de narcóticos não tinham nem ideia de como aqueles indivíduos eram bárbaros. Nos meses que estivera disfarçado tinha visto execuções cruéis, não tendo como intervir. Ainda sofria pesadelos pelo que vira e recusava-se a largar o disfarce porque terminar com aquele bando era objetivo mais do que prioritário.
O arrepio no corpo acontecia de qualquer maneira. Toda a vez que a ação era anunciada. Estava, quem sabe, perdendo o tino policial, ou a frieza que uma vez corria no sangue. Costumava agir de forma racional, mas a vida, nas últimas semanas tinha sido conturbada. A intuição não falhava. Ainda possuía aquela argúcia que o pusera dentro daquela camuflagem toda. Pelo menos era o que ainda tinha de melhor.
***cd***
Tobias era um sujeito franzino perto de Preto. Parecia doente. O pouco que Preto sabia dele era que tinha entrado para a polícia federal a pouco tempo e que já tinha tomado tiro no primeiro ano num confronto com o tráfico da capital. Era perito em alguma coisa que ele não lembrava. Alguma coisa relacionada com o curso superior que possuía.
— Tá sabendo de alguma coisa, Preto?
As pessoas passavam por eles evitando o encontro. A rua fervilhava num amontoado de rostos sem identificação.
— Vai ser na quinta-feira. Passa para os outros. Tem que ser rápido.
— Tem certeza?
— Não passei todos esses meses me sentindo um lixo por nada. Já tava na hora de terminar isso tudo.
— Quer pular fora?
— Não. Eu mesmo quero prender esses filhos da puta. Avisa a chefia que vai ser às onze. Perto do armazém vinte e três.
O encontro seria o término de meses de mentiras para os familiares, mesmo que os mais próximos familiares fossem tios morando no interior. Uma grande venda estava prestes a acontecer. Milhões envolvidos porque aquele carregamento que estivera sendo planejado por meses abarcava uma cifra que ele não conseguia contar.
Os policiais estavam avisados e o confronto seria o último. Agora, a espera o mataria, senão o matassem primeiro.
Sentia-se embrutecido. Tantas cenas de crimes. Corpos jogados nas valas. Fugas pelas ruas dos bairros. Subidas e descidas nos morros. Revólveres, escopetas, fuzis. As imagens atribulavam o sono. Os sonhos eram recheados da ideia da morte.
— Tenha cuidado.
Olho no olho, Preto podia dizer que Tobias segurara as palavras que não vieram.
Ficou parado, lá, na esquina, vendo-o desaparecer por entre a multidão que circulava.
***cd***
A surpresa veio em golpes estanques.
— Anda, Preto! Temos que ir.
Julião chamava.
— O quê? Pra onde?
— Mudança de rumo, irmão. O Coronel está nos esperando.
— A transação é hoje?
Não recebeu resposta.
— Mas que filho da puta…
Resmungou num misto de susto e indignação, de confusão e medo. Mudança de planos? De que jeito? Como? O pessoal correu armado até os dentes. Dois carros e um furgão. Dois homens em cada. Ele não teve muito tempo. Enquanto verificava a arma, a vida ganhou outro sentido. A espelunca vibrou junto dos tremores. Colocou a mão em seu distintivo, tirando-o de debaixo da gaveta da mesa daquele cômodo que ocupava quando estava com os caras.
— Tá todo mundo esperando por você, princesa!
Ouviu Julião chamá-lo do lado de fora. Pensou em Tobias. Pensou em avisá-lo enquanto ia de encontro dos carros. Mandar mensagem era o que podia fazer. Mas como fazer com Julião ao seu lado?
A distância ganhou um gosto salgado na boca. O peito, constrito, arfou umas quantas vezes antes da última avenida cruzada. As ruas foram vencidas em agonia. A chegada, no cais, perto dos últimos galpões, tinha cheiro de morte misturada a peixe, a sal, ao vazio daquele espaço todo. E o barulho da água o deixou enjoado.
Julião estacionou primeiro naquela negritude. Só o furgão do outro lado apontava as luzes baixas para os que chegavam com eles. Homens ladeando o veículo de armas em punho foram se tornando visíveis. Como fantasmas em uma última aparição. Batista, carregando as correntes e pulseiras de ouro, se pôs ao lado do Doutor em seu terno branco fumando como sempre.
Antes de sair do carro, mandou mensagem curta para Tobias. Ajuda. Única palavra. Única esperança. E não teve certeza de ter escrito corretamente.
— Chefe… Doutor…
Julião cumprimentou-os de forma séria. Estava à sua frente e o pessoal se juntava numa única linha.
Não teve conversa alguma. O Doutor estalou os dedos e dois caras saíram de detrás do furgão arrastando um garoto magrelo.
Os olhos arregalados miraram Preto de primeira e ele congelou.
Quem era o sujeito? O que é que estava acontecendo?
— Diz aí, anjinho… – o Doutor puxou os cabelos encarapinhados do mulato miúdo – Quem é que tá amarelando o nosso negócio?
Algo estalou dentro de Preto enquanto Julião olhou-o de lado, puxando a arma.
— Seu filho da puta!
A voz foi seguida de gatilhos armados e tiros. O corpo de Julião serviu de escudo para ele e a passagem para dentro do carro. Não soube exatamente como é que deu a partida e atropelou os dois da direita, mas saiu, escutando os carros cantando na traseira.
A perseguição, contudo, não durou muito porque as sirenes da polícia ecoavam nas proximidades. Tudo o que Batista, Julião e o Doutor queriam era publicidade. Eram espertos demais. Quando ultrapassou a barreira que dividia os armazéns do cais do bairro, abandonou o carro e seguiu a pé, esgueirando-se pelos pequenos becos, desviando as ruas que seguiam para o interior da cidade.
Foi quando se deu por conta de que estava ferido.
— Que merda!
Exclamou totalmente atônito, olhando para a mão que tinha sido pintada de vermelho. Quando é que acontecera, mesmo? Em que momento fora atingido? Porque não sentira nada? Era seu sangue aí, decorando as linhas da palma, os dedos, o pulso. E sorriu de idiota que era porque seria encontrado e morto pelos homens de Batista. Precisava de ajuda, e rápido.
Tirou do bolso o celular.
— Caralho!
A rachadura na tela do aparelho não era bom sinal. Maldita tecnologia! Os dedos mal obedeciam ao comando. Uma falta total de coordenação apoderou-se dele.
Tentou ligar. Nem sinal nem nada aparecia na tela escura. Se Tobias recebera realmente a mensagem, não tinha certeza.
***cd***
As gotas foram caindo, encharcando a rua vazia uma após outra, num ritmo frenético, alucinado, de comum acordo com o céu e as nuvens. Foram preenchendo a secura da calçada, não deixando espaço entre elas. A calçada recebeu cada gota, sequiosa, como se fosse a própria terra, quente e árida por debaixo dela. Abraçou a chuva para seu deleite enquanto a noite se transformava em melancolia.
Do azul cinzento que havia no final da tarde para a cor que inspiraria os poetas mais tristes, a noite se compunha em pingos que se entulhavam pelas fendas e desníveis. A rua era lavada. A água carregava para o seu destino toda a poeira. E seguia também de encontro ao próprio fim.
Ele estava vendo. Estava vendo tudo terminar, o céu desabar em água, a negritude tomar conta, a vida passar diante dos olhos. Estava sentindo o gosto do próprio sangue na boca, o calor por entre os dedos da mão esquerda. Seu destino sendo selado ali, numa brecha, por entre prédios, de um lado isolado da cidade.
A calçada irregular, antes seca, agora era embebida por água que não terminava mais. O céu já não deixava visível outra coisa senão as formas das nuvens que eram percebidas pelo clarão dos relâmpagos. Ele não teria salvação. Ninguém passava por ali. Sabia que não havia alma alguma nas proximidades daqueles armazéns abandonados. Estava cansado de correr. Tinha fugido por muito tempo. E o fôlego que buscava alcançar parecia ser mesmo o descanso final.
A chuva se misturava às lágrimas. Suas lágrimas. Porque doía, mesmo não querendo. Porque sentia, mesmo tentando ser forte. Era um homem forte, mas tudo parecia frágil nele, naquele momento. Seu corpo estava quente e ardia. Era febre. E ele tremia. Tremia contra a vontade. As entranhas gritavam para que desistisse. Quase no fim da madrugada, dizia para si mesmo que algo dentro dele, que ia além dos nervos e músculos, e pele e ossos, deveria aguentar, resistir por mais algum tempo.
Estava cansado e ferido. Sangrara. Conseguira estancar o sangue. Tudo parecia rodar vez ou outra. O ferimento… A bala atravessara seu corpo. Não estava lá, dentro dele. Precisava de abrigo. Precisava… Tinha sido traído. Alguém o delatara. Não era possível mais confiar em quem quer que fosse. A droga daquele trabalho era exatamente aquela. Precisava respirar mais um pouco e assim como a chuva tentar percorrer mais um pouco de chão. Talvez encontrar uma boa alma que o pudesse esconder por um tempo, se é que a morte não o abraçaria antes.
Se conseguisse enganar o destino… Se conseguisse sobreviver àquele dia… Então tudo poderia ter outro final. Olhou para o distintivo, sua identidade, parada na mão. O plástico ainda reluzia no escuro, mesmo manchado de sangue e mesmo sem a luz que parecia merecida. Tinha lutado muito para obtê-lo. Tinha treinado incansavelmente, se esforçado, feito da profissão sua vida.
O barulho do carro o alertou e a luz fraca ao longe o surpreendeu. Estava vindo em sua direção.
Numa dança incerta das pernas, seu corpo ergueu-se do chão, tentando emergir daquela letargia que o dominara por completo até aquele momento. As pernas haveriam de ter força suficiente para deslocar-se até o meio daquela ruela e parar o veículo, mesmo que no processo fosse atropelado. Seria a última chance.
Respirou mais intensamente e numa ação suicida se pôs na frente do utilitário, que parecia conhecer bem aquele trajeto, erguendo o braço direito com a mão ainda segurando a identidade de policial federal, num gesto desesperado e confuso.
O barulho do freio não foi tão intenso. Talvez pela água que a rua lavava, talvez pela luz intensa que o cegou e o fez fechar os olhos e esquecer-se do mundo por completos trinta segundos.
Os joelhos fraquejaram. Caiu por sobre eles, expulsando o ar dos pulmões como se fosse indesejado e soltou um gemido. A dor o tinha apunhalado. Tinha arrancado a última gota de coragem, o último gesto de força. Naquele instante só queria estar por entre os braços de alguém e que esse alguém o salvasse. Porque precisava ser salvo. Porque merecia. Porque ainda não era sua vez. Sabia que precisava aguentar mais um pouco. Só um pouco mais. Só um pouco mais…
— Ei!
Contra a luz dos faróis, não conseguiu identificar o rosto do sujeito. As mãos do homem já o seguravam firmes.
— O q-que pensa q-que está fazendo? Quer m-morrer? O que aconteceu?
Era a voz de Tobias, gaguejando as perguntas que ele mal conseguiu entender. Precisava de ajuda e com urgência, e não de reprimendas. Arrancou suas últimas forças.
— Algo não deu certo. Alguém me denunciou.
A chuva ainda caía.
— Ok, ok. Vamos por partes. Aguente mais um pouco. Eu vou ajudar.
Olhou o ferimento.
— Ah, droga! Está… Está sangrando! Espera… Espera… – deitou-o um pouco mais, segurando-o firme – N-não morre agora. Não morre. Vou levar você para um hospital. Por favor, não morre.
— Não, Tobias! – O que aquele sujeito queria? Que o encontrassem? Que o matassem de vez? Que chance teria? Quem é que o salvaria? Respirou ofegante. Tentou se manter firme – Não pode! – sentindo-se fraco e com a cabeça girando completou – Não pode. Não pode. Preciso de um lugar. – os olhos esverdeados do outro policial pareciam mais claros. – Um lugar seguro. Por favor. Por favor.
— O quê?
Sentiu as mãos tentando erguê-lo e carregá-lo dali.
— Está sangrando. Vai morrer! Pelo amor…
— Não! – puxou a camisa do homem para que se aproximasse. Sua última chance. Única saída. Precisava fazê-lo entender que não era seguro no hospital. – Não… Eles me encontrarão… Não pode… Precisa me ajudar… Precisa…
— Está bem. Está bem. Sem hospital, certo? Prometo.
Sentiu o corpo sendo tomado por um torpor indescritível. Estava caindo. Estava escurecendo… A chuva. Ainda podia sentir a chuva. O frio. Os tremores voltavam. O corpo queimava. Escutou Tobias.
— Alô? Coronel?
Fechou os olhos. Estava longe agora. Tudo estava longe. Não existia mais nada. Mais ninguém. Só a escuridão.
Já tinha lido esse. Tirando os diálogos, achei bem escrito. A história mesmo que não me pegou, muito.
Obrigada pelo “bem escrito”. Isso é bom, não é? Gostaria de saber o quê, especificamente sobre os diálogos, você não gostou.
De qualquer forma, agradeço o comentário.
Abraço!
Grande conto…tenso, empolgante…gostei bastante embora tenha ficado com raiva de certos personagens…rs. Parabéns!
Obrigada, Frank!
Se consegui provocar alguma emoção, então, isso é bom!
Obrigada por ler e comentar!
Abraço!
Um conto bem sólido. Me parece que sua melhor qualidade é a ambientação; forte, desesperançosa e suja. Mérito do autor(a). A história é bem escrita, embora também tenha detectado uma aparente quebra de estilos. Essa ambientação suja e desesperançosa se tornou muito poética no fim. Ao menos, foi o que me pareceu.
De toda forma é um excelente trabalho e, até o momento, conta com a melhor ambientação que li em todo o desafio.
Parabéns!
Oi, Leandro…
Então, a segunda parte era para ser um pouco dramática, mas exagerei na dose, não? Sorte que o Charles apontou esse defeito e eu pude refazer algumas coisas aqui, com o texto. Logicamente você não vai poder ler para avaliá-lo, mas creia, refiz várias coisas e acredito que o distanciamento entre a primeira parte e a segunda não está tão gritante.
Obrigada por ler e comentar.
Abraço!
Nesse desafio, resolvi adotar um novo estilo de feedback para os autores. Estou usando uma estrutura padronizada para todos os comentários (“PONTO FORTE” / “SUGESTÕES” / “TRECHO FAVORITO”). Escolhi usar esse estilo para deixar cada comentário o mais útil possível para o próprio autor, que é quem tem maior interesse no feedback em relação à sua obra. Levo em mente que o propósito do desafio é propriamente o aprendizado e o crescimento dos autores, e é isso que busco potencializar com os comentários.
Além disso, coloquei como regra pessoal não ler nenhum comentário antes de tecer os meus, pra tentar dar uma opinião sincera e imediata da minha leitura em si, sem me deixar influenciar pelas demais perspectivas.
Dito isso, vamos aos comentários.
PONTO FORTE
A trama é excelente. O clima de desespero e o desejo de sobreviver do policial no final é contagiante, e chega ao ápice na revelação final da traição de Tobias. Muito bem escrito.
SUGESTÕES
Alguns períodos merecem ser revistos para deixar a leitura mais fluida. Exemplo: “Era um homem forte, mas tudo parecia frágil nele, naquele momento”, na minha opinião, funcionaria melhor como “Era um homem forte, mas naquele momento, tudo parecia frágil nele”.
TRECHO FAVORITO
“Sua redenção era recuperar um ou outro, levando-os até quem os pudesse ajudar. Juntar uns poucos trocados e alimentar as bocas famintas que ficavam para trás.”
Oi, Andrei,
Como é bom quando apontam o que podemos fazer para melhorar. Eu adorei esse desafio exatamente por isso. Fiquei muito feliz em poder avaliar o que eu escrevo através dos comentários. E creia, isso vale tudo!
Obrigada!
Abraço!
O texto é muito bom, a escolha de palavras é insanamente perfeita. Só pecou um pouco no excesso, ficou muito cansativo, cabendo ser enxugado. O final também, muito bacana! Só cuidado com a prolixidade, e com os diálogos, que precisam ser melhor clareados!
Oi, Alana,
Obrigada por ler e comentar e me apontar as falhas. Como já disse, trabalhei um pouco mais nele tentando melhorar. Abraços!
A ideia da trama proporciona a ideia de uma boa história Noir. A autora está de parabéns por detalhar com cuidado os personagens e cenários. Minha única observação é dar uma lapidada no conto, uma “enxugada”, no mais gostei.
Oi, Masaki,
Reescrevi os diálogos e mudei a segunda parte para que ela não destoe tanto da primeira. Obrigada pela dica. Abraço!
Também tive impressões parecidas com as dos colegas. No início, me perdi um pouco nos diálogos, sem saber quem estava falando e com quem estava falando. Na parte final, eu entendo o objetivo, mas acho que daria sim para cortar um ou dois parágrafos, pois ficou cansativo, sim.
Talvez esse? ”Do azul cinzento que havia no final da tarde para a cor que inspiraria os poetas mais tristes, a noite se compunha em pingos que se entulhavam pelas fendas e desníveis. A rua era lavada. A água carregava para o seu destino toda a poeira. E seguia também de encontro ao próprio fim.” Fica a critério do autor.
Oi, Pedro,
Estive reescrevendo a segunda parte do texto, seguindo o que os comentários disseram aqui. E acredito que tenha ficado bem melhor. Retirei (tentei!) o aspecto “depressivo ego trip” que o Charles falou. Também reescrevi os diálogos tentando deixar mais claro quem era quem no começo. De uma certa maneira, todos contribuíram para que eu fizesse, ou tentasse fazer melhor.
Apenas devo dizer que me surpreendo com a forma como os comentários são feitos. Devo confessar que gostei dos que foram extremamente delicados, sem deixar a objetividade de lado, na forma de apontar os erros de escrita, de compreensão, porque esses me fizeram realmente querer melhorar.
Abraço!
O enredo básico é interessante, tem potencial, mas a execução deixou a desejar. Na primeira parte o excesso de nomes e alcunhas me deixou perdido . A segunda parte tem um estilo totalmente diferente da primeira (descritiva), totalmente introspectivo … parece que o autor escreveu metade do texto num dia de animação … e a segunda num dia “depressivo ego trip”.
Bem… Talvez eu não compreenda mesmo onde está o excesso de nomes e alcunhas. Talvez possa apontar para mim, didaticamente. Para mim existem Julião, Preto, o Coronel (Batista), o Doutor e o Tobias. Não há outros personagens, a menos que esteja falando dos nomes das mulheres e dos outros bandidos que estão no pano de fundo. Existe número determinado para personagens em um conto?
A segunda parte foi realmente escrita em um momento diferente e com propósito diferente. Por isso ela é totalmente diferente da primeira. Mas posso garantir que, não, a primeira não foi escrita num momento de animação e, não, a segunda não foi escrita num dia “depressivo ego trip”. Existe para mim claramente dois momentos. O primeiro que é um momento geral, e o segundo que é focado no personagem principal que é Preto. O primeiro é ação. O segundo não. Porque entendi que eram dois momentos totalmente diferentes. Talvez esse tenha sido o meu erro, não é? Um conto precisa necessariamente ser escrito todo em estado de animação, ou todo como se estivesse num dia “depressivo ego trip”?
Confesso que determinados comentários me deixam muito mais confusa do que esclarecida.
Mas vou, como já disse, reescrevê-lo, tentando acertar o que seria possível fazer.
Agradeço o comentário, Charles.
Abraço.
Lendo este conto, fiquei intrigado, há um começo exageradamente sujo, as descrições parecem querer englobar toda a imundícies dos becos e da bandidagem. Porém, gostei dessa introdução, achei que o exagero teve um resultado positivo para o conto. Quanto ao desenrolar da história, achei que as partes chaves do foram descritas de forma abrupta. Claro, entendo o limite de caracteres, mas, mesmo assim, bastava cortar algumas divagações do protagonista (como aquela cansativa saga introspectiva que ocorre enquanto ele agoniza na chuva), equilibrando melhor o texto. No fim das contas, achei um conto razoável que, com algumas alterações, ficaria muito bom.
Oi, Fernando…
Gostei muito do seu comentário! Ele vai me ajudar muito quando eu refizer esse conto. Obrigada por suas observações. Abraço.
Achei o conto bem confuso. Me perdi em vários momentos durante a narração, sem saber quem estava fazendo o quê. O mesmo com os diálogos. A maneira como os personagens foram inseridos também não ajudou muito.
Achei fraca a cena em que o protagonista é alvejado e foge. Primeiro poque a fuga dele pareceu bem inverossímil. Depois porque ninguém leva um tiro que atravessa o corpo e sequer sente. Além disso, não fica claro quem era o cara que estava preso no furgão. E aliás, quem é Batista? O Coronel?
A última parte muda bastante o tom da narrativa, foi uma quebra estranha pra mim. E o final deixa muita coisa por explicar.
Fora alguns erros pontuais, o conto é bem escrito. A ideia também é boa. Mas não consegui gostar do texto. =\
Então, Felipe… Gostei de saber de suas impressões. Quero responder a sua dúvida: Cleiton Viriato Batista, vulgo Coronel – está escrito no texto quem é o Batista. Com relação à parte da fuga, talvez refazendo consiga um melhor acabamento.
Que bom saber que está bem escrito, apesar do que teria que refazer. E fico feliz que tenha gostado da ideia, mas não do texto. Sinal que pode melhorar, não é?
Abraço!
O contexto me fez lembrar do excelente “Infiltrados”, do Martin Scorsese. No filme, essa ideia do policial que consegue penetrar no submundo e que é atacado por dilemas morais e psicológicos, é aproveitada para caracterizar o personagem Billy Costigan, interpretado pelo Leonardo di Caprio. Foi bem explorada lá e também aqui.
Neste conto, especificamente falando, o que me chamou a atenção foi que em momento algum consegui visualizar quem era o protagonista. Seu nome nunca apareceu. Daí o “Incógnito” do título. Uma sacada muito boa.
Alguns trechos do desenvolvimento ficaram confusos para mim, mas imagino que essa tenha sido a intenção do autor, que criou uma atmosfera caótica envolvendo tanto o protagonista como nós, suas testemunhas. Na verdade, tive que voltar várias vezes para me certificar de quem se estava falando. Tobias? Preto? Coronel? O próprio protagonista? De todo modo, esse labirinto funcionou bem, já que conferiu ao conto um semblante noir bastante original.
O final, embora previsível, fechou bem a trama. Só isso já é motivo de júbilo, pois criar um enredo atraente e com substância, para este tipo de narrativa, dentro do limite de 3500 palavras, não é fácil.
Em suma, o conto está muito bom. O autor realmente sabe o que está fazendo. Apenas sugiro uma revisão mais atenta, a fim de solucionar os pequenos erros ortográficos já apontados.
Obrigada por ler e comentar, Gustavo. Eu, como já afirmei num outro comentário, corrigirei as palavras que estão inadequadas nesse texto. É sempre bom quando nos mostram o que podemos melhorar. Eu não sei como posso deixar menos confusa a construção de quem é quem, uma vez que não há muitos personagens mesmo. Preto, o protagonista. Julião, o braço direito do Coronel. O Coronel. O Doutor. E Tobias, o amigo de Preto, que também é policial. Mas posso rever os diálogos porque me parece claro que é aí que a confusão se estabelece. Se puder responder quanto a isso, agradeço. Abraços!
Cada dia mais impressionada com seus textos!
TENSO!!
Consegui visualizar os lugares perfeitamente, foi tudo muito bem descrito, na medida certa. Gostei muito dos diálogos e a narrativa é envolvente. Pude sentir toda a tensão do protagonista, principalmente no final.
Uia! Fiquei torcendo pra que ele fosse salvo… rsrs. Maldito traidor! U_U
O texto ficou perfeito como tudo o que você escreve, uma leitura deliciosa.
Arrasou, como sempre!! Parabéns!!
Obrigada, Mari!
Que bom saber que gostou do texto!
Obrigada pelo comentário aqui. Abraços carinhosos!
Muito bom! Climático e bem escrito, com algumas metáforas bem sacadas, realmente um noir de raiz. Qto ao portuga, só reparei num “tão pouco” que deveria ser “tampouco”, um “a” x “há”, e alguma repetição qto ao personagem estar ferido (“Estava cansado e ferido. Sangrara…” – já havia sido citado antes).
Obrigada, Rubem. Eu corrigirei no original, aqui, o que indicou. Obrigada. Ele só tem a minha revisão e, nem preciso dizer que, de revisão, não entendo muito. Eu procuro lembrar-me do que é certo, do que me ensinam, mas nem sempre é possível. Fiquei feliz com seu comentário. Obrigada, mais uma vez. Abraço!
Ótimo conto policial e de mistério como que apunhalando e ferindo o leitor. Mas sou de opinião que “noir” não precisa ter, obrigatoriamente, uma investigação de crime para ser considerado dentro do tema do Desafio. Mas este está muito bem escrito e descrito. Tem muito valor por criar um clima de suspense e o final é o que um conto deve ter: aberto e com “gosto de quero mais”. Parabéns ao autor por nos dar o prazer da leitura de algo bom e agradável.
Obrigada, Agenor, pelo comentário e pelo elogio. Adorei saber que gostou! Abraços!
Muito bom conto! Deprimente, visceral… Me lembrou “O Homem Duplo” em algum momento. Parabéns!
Obrigada por ler e comentar. Fico feliz que tenha gostado. Obrigada!
Eu ando muito destreinada nisso, mas vamos lá.
Dizer que eu gostei muito é pouco. É um texto e tanto. Dá uma sensação de vertigem muito boa. Ele vai dando voltas nele mesmo sem sair do lugar, mas sem estagnar. Faz sentido isso? É como eu fico quando leio. Gosto do ponto de vista desse policial que sabe que está cedendo na sua moral e se tornando os monstros que caça, e que por isso precisa sair logo daquilo antes que seja tarde demais. Gosto dos personagens que nada mais são que eles mesmos, sem falseamentos, sem receios. Não são pessoas bonitas por dentro e não tentam fingir que são. E gosto de como, mesmo assim, a gente pode se enganar com eles. Todos são muito claros, mas ao mesmo tempo se escondem em disfarces. É que nem na vida, né?
Gosto também de como o texto cresce. A narrativa meio que vive, prende e causa ansiedade, uma vontade imensa de pular pro fim e saber no que vai dar. Isso é bom pra quem lê.
Quanto ao final, eu ainda fico chateada! haha Não está certo isso! Mas é como o protagonista disse, as coisas não são como devem ser e o mundo não tem salvação. No fim, é isso mesmo. E é bem esse o clima de um texto noir, não é? Essa escuridão, esse cinismo diante da humanidade, essa falta de esperança. Aliás, o clima noir veio de dentro dos personagens, do cenário e até do céu. Correndo o risco de falar besteira porque não sou técnica, eu acho que ficou bem dentro do tema.
E é isso. Ficam as impressões. Antes tarde que mais tarde ainda. xD
Que comentário! Não sei o que dizer. Eu acredito que você tenha realmente tocado num ponto importante: as coisas não são como devem ser e o mundo não tem salvação – pelo menos no olhar do protagonista e no nosso olhar vez ou outra, não é?
Obrigada por ler e comentar. Abraços!
Há! Que foda! Destaque para o final.
Havia decidido deixar esse conto para ler amanhã, pois já tinha lido e comentado três e gosto de dar umas pausas entre um e outro. Mas, não resistindo em espiar, li os primeiros parágrafos e me entreguei. Não me arrependi. Adorei!
Que bom que gostou do final! Fico feliz com isso.
Obrigada! Abraço!
Muito bom, amiga Evelyn… Bom demais!!! Vc fez jus ao mestre Dashiell Hammett!!! Parabéns!!
Repito os elogios que disse: o texto é muito bom!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Obrigada pelo comentário!
Conto bem elaborado e redigido com muita tensão. Não dá para evitar a torcida pelo protagonista. O leitor fica querendo que ele se livre logo, que consiga se camuflar e não ser pego. Ritmo adequado que prende a atenção. Gostei bastante do final.
Sim. Verdade isso, não é? Nós torcemos pelo protagonista. Inevitável isso. Mas nem sempre é o final que queremos. Ainda bem que gostou dele. Obrigada, Cláudia, por ler e comentar. Abraço!
Po, esse final foi bagunça…
Cadê o resto? Kkk
Muito bom o texto. Bastante subjetivo,e transbordando figuras de linguagem digno de você rs
Será que morre como um indigente ou vira um Jack da vida (herói)?
Quero mais! Abraço!
O final? Pois é… O final… Nem sempre tem um final feliz, não é? Mas ele ficou em aberto. Isso significa que tudo pode ter acontecido à partir daquele ponto. Abraço!
Uma boa ideia, muito bem executada. Destaque para o final, fechando este conto no tom, jeito e momento certos.
Parabéns!
Obrigada, Ricardo! Como já disseram, é uma história bem simples. Mas que bom que você e os outros leitores gostaram!
Que conto bom, hein!
Gostei bastante da narrativa e dos diálogos. No começo fiquei com um pé atrás, mas depois fui me envolvendo e gostei do final em aberto. Apesar de ter descoberto, antes do desfecho, que era o Tobias o x9, não achei que o texto tenha deixado a desejar.
Parabéns!
Que bom que gostou! Fico feliz. Obrigada!
Achei excelente! O conto é tenso do começo ao fim, e muito bem escrito. A história é bem simples, e , com exceção do final, até dá pra ser imaginada. Dava pra ter elaborado um pouco mais, talvez até ter colocado mais informações (sobre a cidade, sobre a vida dupla do cara…) Mas é interessante porque fica tudo suspenso até o final, que chega na hora e do jeito certos. Ótimo ritmo. Parabéns!
Obrigada! Sim. A história é bem simples mesmo.
Você disse: com exceção do final… Posso saber por quê?
Abraço!
Muito bom!
Uma boa descrição do ambiente escuro dos filmes noir, com seus bandidos inescrupulosos e cruéis e o policial que busca redenção.
A tensão estabelecida no texto é forte e a gente se pega torcendo para que o protagonista não seja descoberto. Afinal, é pelo fim do crime que ele luta, mesmo sabendo que nunca terá realmente um fim. No lugar de um criminoso abatido, ou preso, surgem outros, com a mesma sede de poder.
Parabéns!
Que bom que gostou da descrição. E que bom que a tensão foi percebida. Abraço!