EntreContos

Detox Literário.

Falsa Simbiose (André Lima dos Santos)

Até que ponto nos acostumamos com o sofrimento?

Anoiteceu. A chuva fina caía sobre o solo do Rio de Janeiro. Ele dobrava a esquina passando pelos Arcos da Lapa e acendeu o charuto com dificuldade. A bengala era por pura estética, ele poderia muito bem andar sem se apoiar, mas era verdade que as costas doíam a cada passo e a curvatura do corpo aumentou no último ano, afinal, foram sessenta e oito anos muito intensos.

Atravessando as ruas do bairro boêmio pôde observar os bares lotados de pessoas alegres, mas alguém o intrigou naquela noite. Em meio aos namorados apaixonados, aos amigos festejando e às bebidas geladas, um sujeito se mostrava em outra sintonia. Sentado em uma cadeira de bar virado para a rua, ele observava os próprios pés com uma expressão muito vazia; a mão direita dentro do bolso do casaco segurava algum objeto.

O velho se intrigou com a situação e, adotando suas medidas não-convencionais, rapidamente se dirigiu ao jovem, puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado.

– O que é que te aflige?

A mensagem pareceu demorar alguns segundos para penetrar na mente do homem. Ele, pós cinco segundos, moveu a cabeça para observar quem o indagava.

– De que adianta lhe contar?

– Eu sou bom para ouvir e ótimo para falar.

Os olhos azuis do velho eram muito bonitos.

– Quem é você? Uma espécie de velho sábio? – desdenhou.

– Vivido apenas. Já quis a morte e já desejei a vida, já caminhei sobre a ponte das incertezas, mas posso dizer que hoje quem me brinda diariamente é a sabedoria.

– E precisa falar as coisas de forma tão poética?

O jovem voltou a observar os sapatos. À medida que seus pensamentos se rearranjavam a raiva se intensificava. Ele já estava mordendo o lábio inferior.

– Estou com uma dúvida muito grande – constatou o jovem.

– A dúvida… Sintoma maior de nossa insignificância e impotência. Para uns é uma agonia quase fatal, para outros é a energia que lhes coloca na torrente da evolução.

O homem apertou os olhos.

– Para mim está mais para uma agonia quase fatal.

– Pois então busque sanar sua dúvida ou ela te corroerá por dentro.

O velho agora olhava para as nuvens carregadas, talvez uma lembrança distante passasse diante dos seus olhos naquele momento, entre as baforadas do charuto.

– Eu não sei… Parece que está escrito que tenho que sofrer. As incertezas me torturam diariamente. Se por um momento estou feliz, logo cai a tempestade, se a calmaria vem após, esta não dura nem meio segundo.

– Estás me dizendo que tu és um fracasso?

– Não! Longe de mim! Eu sei do que sou capaz, mas sinto-me limitado. Como o pássaro é capaz de voar, mas está preso numa gaiola.

– E nesse caso o que seria a sua gaiola?

– Há quem diga que seja Deus… Está mais para o demônio. Se os fatos que se sucedem em minha vida são conseqüências de minhas ações, sou ignorante. Mas parece-me algo sobrenatural, como se uma mão invisível me impedisse de prosseguir e se porventura eu escapar por alguns segundos, lá está ela me arrastando de volta ao início.

O velho percebeu a melancolia daquelas palavras. Ele achou que o homem seria mais relutante, mas aparentemente ele se sentia disposto a lhe contar tudo.

– Quais é sua grande dúvida?

– Estou entre duas mulheres…

– Duas mulheres te amam?

– Não, quisera eu que fosse por isso. Apenas uma me ama e aí está todo o problema.

– Você ama as duas mulheres?

– Não sei…

E esfregou os olhos contendo o desespero. O velho apoiou a bengala no queixo e apagou o charuto no chão.

– Não sei se amo uma e é evidente que esta é a que me ama.

– E a outra já te amou um dia?

As lágrimas romperam as barreiras do orgulho, banharam o rosto do homem.

– Não sei se era amor, mas eu tinha a sensação de que era.

A história se desenrolava na mente do homem. Ele sentia a necessidade de expô-la.

– Nós éramos amigos de infância. Ela se apaixonou por mim e despertou todo meu amor por ela. Namoramos por alguns anos e nos últimos meses ela foi se tornando fria… Na volta de uma viagem a trabalho, eu encontrei uma carta dizendo que o amor havia acabado e que deveríamos parar por ali para preservarmos nossa amizade. Eu caí sobre a desgraça e ela pareceu suportar bem e logo se juntou a outro.

A expressão corporal do homem era um misto de raiva e dor. Os olhos eram tristes, mas o corpo tremia de fúria.

– A ironia – prosseguiu – é que eu não tardei a encontrar outra pessoa. Uma mulher que me amava…

– Mas a convivência com a primeira, sua amiga, pôs em dúvida o que você sente pela segunda – adivinhou o velho.

– Exatamente. – o homem levantou a cabeça convicto de algo – E a primeira está aqui hoje, lá dentro do bar, com o homem que lhe faz feliz. Aquele maldito…

E o homem retirou o que guardava em seu bolso: um revólver calibre trinta e oito, cromado. As pessoas no bar, tão concentradas em suas ações, nem perceberam a arma de fogo que o homem ostentava. O velho não esboçou nenhuma reação.

O homem analisava os detalhes do revólver.

– Espere um momento… – o velho ajeitou-se com sua bengala. – Eu conseguiria enxergar em seus olhos, milhas e milhas de distância, que seu desejo não é de matar o que julgas ser o maldito…

– O maldito, julgado e condenado, sou eu. Aquilo foi mera força de expressão! – interrompeu o homem que travava e destravava o revólver, repetidas vezes, nesse movimento obsessivo.

– Que seja. Mas o que quero dizer é que você não jura vingança ao homem que está com sua amada. Estou certo?

O homem apertou os olhos mais uma vez, as lágrimas agora irrompiam numa intensidade absurda. Era uma forma muda de assentir.

– O revólver é para matá-la… – refletiu o velho.

– Matá-la seria como matar uma parte de mim.

O homem refletia em seu íntimo e cada pensamento era uma agonia trucidante. Lembrou-se das noites em que se contorcia na cama com ataques de pânico e ansiedade. A imagem mental era de que o lençol o envolvia como patas de uma aranha gigantesca que tecia sua teia lentamente, para prender-lhe na eternidade, inerte.

– A dúvida lhe matará, por certo. Você tem a razão de não punir quem não merece, no caso, o atual amor de sua amada. Mas a arma, de fato, está carregada. Não só o revólver em suas mãos, mas também as angústias em seu coração ora dilacerado, outrora feliz. Não sou de falar apenas por símbolos, portanto, mate-a… Ou mate a outra. Uma das duas deve morrer para garantir tua sanidade.

O coração disparava, as veias dilatavam-se e ele podia jurar que ouvia sua pulsação. Os poros se abriam para um suor frio percorrer as distâncias de seu corpo. Um suor frio, como o ato que estava prestes a cometer.

O homicídio, ato egoísta maior de sua parte, ainda lhe dava calafrios. A consciência havia sido trabalhada há tempos para que o peso que caísse sobre ela fosse como uma pena. Mas o seu medo maior era de que a bala do revólver ricocheteasse na alma da vítima e rebatesse direto sobre a sua própria alma, fazendo-lhe um eterno arrependido.

Mas a constatação de sua infelicidade era tão evidente que destruía, como um bom argumentador utiliza da retórica, rapidamente todas as argumentações contrárias. Ele precisava mover-se, precisava sair de sua inércia. Ele percebeu que se acostumara com o sofrimento.

– Matá-la seria como matar uma parte de mim e matar a outra, pobre coitada que ama um homem cujo coração acaba de ser corrompido, seria como matar um indefeso, isento de qualquer culpabilidade.

– É a tua escolha maior: mover-se contra as forças que lhe plantam no solo das angústias ou continuar a viver nesta sua falsa simbiose.

– Falsa simbiose…

Aquelas palavras foram como o combustível da centelha da ideia que se instalava em sua mente.

– A arma está carregada e o momento é agora. Vamos, decida-se! – ordenou o velho.

O homem se levantou e escondeu o revólver no bolso de seu casaco. Moveu-se cerca de três passos para a direita, sendo observado pelo velho ainda sentado.

Olhou para dentro do bar e lá estava ela, sentada de costas, olhando para seu novo amor. Os cabelos loiros… Tão bonitos.

Ele não apenas constatava, mas agora sentia que o momento era aquele. Alguém devia morrer, não apenas de maneira simbólica: o simbolismo ainda o afetava.

O homem enxugou o suor da testa, fechou os olhos por alguns segundos e fez uma oração, talvez a mais sincera de sua vida.

– Entrego-me, Senhor da Vida, criador inefável, aos braços de quem quiser me segurar. Espero, Todo-Poderoso, que os braços que me confortarem sejam como o seio materno, pois a minha alma agora corrompida necessita de luz e cuidado. Entrego-me, mas com a consciência de que faço um gesto egoísta, pior será o meu castigo, pois a consciência agrava minha situação. Sou o que sou e me jogo no abismo de braços abertos, porém de olhos fechados, temendo o impacto atroz do meu corpo ao solo. Alivia minha queda, meu bom Deus, assim como decidi trancafiar-me em meu sofrimento por puro altruísmo.

Abriu os olhos e apontou o revólver para sua vítima. Ao puxar o gatilho o estrondo foi enorme. A pressão do projétil saindo do cano da arma foi tamanha que até fez-lhe dar mau-jeito no punho. Soltou ao chão a prova de seu crime, e a arma caiu ao mesmo tempo em que o corpo da vítima, perfurada no crânio, dava seu último suspiro. O baque surdo da bengala ao cair, por sua vez, não foi audível por todos.

O velho morreu instantaneamente e fazia uma poça de sangue ao seu redor. O cérebro estava exposto, pois o crânio fora fraturado pelo projétil.

Em meio ao desespero geral das pessoas, o homem se afastava caminhando calmamente, de costas para o morto.

Ele deu seu veredicto naquele momento: passou a viver na incerteza. Assassinou o velho como se este fosse sua própria consciência.

A partir de agora, sua vida seria como se Deus, ou o Diabo, lhe apontasse a arma na cabeça e, a qualquer deslize, o gatilho seria apertado.

E de uma coisa ele tinha certeza: Ele finalmente se livrara de sua falsa simbiose.

43 comentários em “Falsa Simbiose (André Lima dos Santos)

  1. Pedro Luna Coelho Façanha
    4 de dezembro de 2013

    Não vi Noir, mas achei bacana. O conto praticamente prende a atenção na base dos diálogos misteriosos e bem escritos, e achei isso um ponto muito positivo.

  2. fernandoabreude88
    4 de dezembro de 2013

    Iniciando os trabalhos… rs

    Apesar de não apresentar os elementos clássicos de um noir, o conto tem um clima misterioso que é criado a partir dessa chuva, desse jogo de palavras entre o protagonista e o velho, que nos dá uma sensação de que um surpresa iminente e arrebatadora está por vir. No entanto, acho que os personagens secundários mereciam uma aprofundamento maior, principalmente as mulheres. A conclusão também não cumpre a promessa inicial do conto. Achei razoável.

  3. Masaki
    3 de dezembro de 2013

    Simples, direto e de impacto. São as melhores palavras para este conto. A história está bem escrita e os personagens bem detalhados. O começo da trama estava com uma boa “pegada”, mas com o passar do tempo foi esfriando. O final, creio eu, poderia ser melhor trabalhado, entretanto parabéns ao autor por nos proporcionar um conto de excelente qualidade.

  4. Alana das Fadas
    2 de dezembro de 2013

    Ótimo conto! Com palavras bem escolhidas, envolve o leitor. Parabéns!

  5. Acaso
    26 de novembro de 2013

    Olha, se você ler o meu texto vai ver que a gente é tem estilos bem opostos! hahah
    Então acho que alguns fatores me incomodaram por não fazerem parte do meu estilo de autoria, e nem de leitura. Eu não costumo gostar de diálogos tão trabalhados e refinados. Pra mim isso tira um pouco o ritmo (no meu conto, para comparar, as pessoas estão até se incomodando com alguns vícios de linguagem intencionais que eu inseri na fala do meu personagem).
    Além disso, eu acho que a ambientação ficou um pouco menos lapidada que o restante dos elementos: Deu pra ver que você sabia a história que iria contar (independente de agradar ou não ao leitor) e que planejou seus diálogos e o psicológico do personagem. A ambientação, porém, ficou mais para o começo mesmo e uma certa falta de descrição e detalhamento prejudicou um pouco o estabelecimento de imagens propriamente noir.
    (Ah, espero que leia na melhor das interpretações, porque estou escrevendo na melhor das inenções, ok?) 🙂

  6. Andrey Coutinho
    23 de novembro de 2013

    Nesse desafio, resolvi adotar um novo estilo de feedback para os autores. Estou usando uma estrutura padronizada para todos os comentários (“PONTO FORTE” / “SUGESTÕES” / “TRECHO FAVORITO”). Escolhi usar esse estilo para deixar cada comentário o mais útil possível para o próprio autor, que é quem tem maior interesse no feedback em relação à sua obra. Levo em mente que o propósito do desafio é propriamente o aprendizado e o crescimento dos autores, e é isso que busco potencializar com os comentários.

    Além disso, coloquei como regra pessoal não ler nenhum comentário antes de tecer os meus, pra tentar dar uma opinião sincera e imediata da minha leitura em si, sem me deixar influenciar pelas demais perspectivas.

    Dito isso, vamos aos comentários.

    PONTO FORTE

    Definitivamente o mistério. Gosto quando o conto desde logo te desafia a tentar entender o que está acontecendo. Também gosto do tom dramático. Bom vocabulário e construções corretas a maior parte do tempo.

    SUGESTÕES

    Talvez adicionar algum pretexto para o início do diálogo… começar com algum comentário desinteressado ou uma interação casual. Daria um pouco mais de dubiedade ao personagem do velho, ainda que ao longo do texto fosse ficando mais claro que ele representa parte da psique do personagem.

    TRECHO FAVORITO

    “A partir de agora, sua vida seria como se Deus, ou o Diabo, lhe apontasse a arma na cabeça e, a qualquer deslize, o gatilho seria apertado.”

  7. Felipe Falconeri
    21 de novembro de 2013

    Achei o conto muito ruim. Muito.

    O diálogo parece ser travado por dois garotos de 13 anos tentando ser poéticos/filosóficos. Aliás, por um garoto só falando sozinho, já que não há nenhuma distinção no discurso dos dois personagens. E a história deve ser contada pelo mesmo garoto, já que a narração vai no mesmíssimo caminho.

    Praticamente inexiste uma trama. E a pouca que existe não sustenta as atitudes do personagem. E o final é uma solução absolutamente sem sentido.

    A impressão que dá é que o autor tentou escrever um texto filosófico, analisando a psique humana num tom lírico. Mas não funcionou nem como filosofia – literalmente – de botequim.

    O conto também não se encaixa no tema. Mas isso é até irrelevante aqui.

  8. Gunther Schmidt de Miranda
    19 de novembro de 2013

    Simplesmente sem mistério… Uma conversa surreal (que desconhecido pára para dar atenção à outro desconhecido?!)… E um final sem nexo… Quem se mata em um bar? Vejam os jornais!

    • A.S.A.
      19 de novembro de 2013

      Outro sem atenção. Onde está escrito que alguém se matou? Está escrito que houve um assassinato, não um suicídio.

  9. rubemcabral
    19 de novembro de 2013

    Bom conto: estranho, diferente. Soou para mim mais como um delírio ou sonho do personagem principal, pois a situação e os diálogos ficaram meio surreais.

  10. Sérgio Ferrari
    18 de novembro de 2013

    Que papo mais chato o deste velho. Sério. E achei meio jogado isso, logo no começo: “adotando suas medidas não-convencionais” (que medidas?) Enfim…. não tem nada nesse conto. 😉

    • A.S.A.
      18 de novembro de 2013

      A medida não-convencional de puxar assunto com um estranho.

      Se você não percebeu isso, é sinal de que estava disperso ou não possui capacidade de interpretação de texto.

      Aceito críticas, mas a sua é tendenciosa.

  11. aafjunior
    16 de novembro de 2013

    Também imaginei tudo em preto e branco! kkkk O conto foi bem escrito, e diferente de alguns colegas aqui, acho que a linguagem mais rebuscada do diálogo ajudou tanto na integração do conto ao tema, como em deixar a dúvida no leitor de o velho existir ou não. Bom conto!

  12. Rodrigo Sena Magalhaes
    14 de novembro de 2013

    Muito bom conto. Bem escrito, bons diálogos que faz a leitura fluir. Como toque, leia os diálogos em voz alta, vc mistura 2ª e 3ª pessoas (– É a tua escolha maior: mover-se contra as forças que lhe plantam no solo das angústias ou continuar a viver nesta sua falsa simbiose.) isso soa meio estranho.
    Muito bom mesmo!

  13. Agenor Batista
    13 de novembro de 2013

    Contos que parecem peças de teatro não me aquecem. Talvez pelo excesso de diálogos. No mais, trata-se de um texto muito bem escrito e de fácil percepção da intenção do autor em manter o clima de desespero e descuido com a vida do personagem principal.

  14. fernandoabreude88
    11 de novembro de 2013

    Gostei, mas senti falta de uma carga descritiva maior, o cenário do conto como parte dos personagens, as estruturas como extensôes de suas personalidades. No mais, encontro um noir, um clima denso de mistério e surpresas. Uma gostosa bem descrita aí no meio cairia muito bem.

  15. vitorts
    10 de novembro de 2013

    Nem tenho muito o que dizer. Faço minhas as palavras do Leandro; o velho poderia ser tratado de maneira mais ambígua, mística, para servir melhor ao conto. No mais, muito bom. Gostei da carga psicológica do texto. E sim, enxergo noir aqui.

  16. piscies
    9 de novembro de 2013

    Um conto bem interessante. Leitura suave, sem cansar a mente nem os olhos. Suas palavras são muito bem escolhidas e colocadas. Sua escrita é muito boa mesmo!

    A história também é interessante e, diferente de outros aqui, não previ o final não. Quer dizer, no meio eu imaginei que ele mataria o velho mas… não vi motivo para isso, então comecei a achar que ele mataria a si mesmo. Tive até certeza que ele cometeria suicido =)

    Gosto de contos assim, que nos fazem pensar. São interessantes. Parabéns!

    Achei a ambientação bem Noir, mas acho que a trama não é… só que não sou nenhum especialista para ter certeza, rs.

  17. Leandro B.
    8 de novembro de 2013

    Achei um bom conto. O que vem ficando evidente nas leituras é que esse é um desafio muito complexo no que diz respeito aos elementos de noir.

    Achei que o sujeito ia se matar.
    Já estava me sentindo “o fodão” porque antevi o final e, para minha surpresa, ela acabou atirando no velho, ou numa representação de sua consciência. A minha pequena e humilde sugestão é que não se comece o conto com o idoso. Não da forma que foi feita, pelo menos. Diminuiu muito a ambiguidade sobre ele ser ou não real (o que me parece ser o alicerce do conto); A dor nas costas, a bengala por estética e, principalmente, os declarados 68 anos tiram muito a mística de uma existência subjetiva. Pelo menos foi o que senti.

    Bom conto e boa sorte.

    • A.S.A.
      9 de novembro de 2013

      Leandro, muito obrigado pela crítica.

      Fico feliz por você ter citado esses detalhes, eles são a chave para toda interpretação do conto.

  18. Marcellus
    7 de novembro de 2013

    Ao contrário de alguns comentaristas, prefiro o diálogo mais formal e rebuscado, especialmente neste desafio. Lembrem-se de que os primeiros filmes no estilo “noir” foram exibidos na década de 1940 (há controvérsias, eu sei)… quando ninguém achava certo dizer “é nóis, manu” e uma porta abrindo-se violentamente com a tempestade era a metáfora para um ato sexual.

    No entanto, apesar de reconhecer a técnica do autor, senti falta da estética, do clima detetivesco, das demonstrações de “fatalidade” da mulher, do cinismo. Mas estão ali o herói derrocado, o crime, a arma de fogo… então, noves fora, o conto passou. 🙂

  19. Ricardo Gnecco Falco
    7 de novembro de 2013

    Gostei da história e do clima de tensão que leva o leitor até o final sem deixá-lo dispersar.
    Destaque para as descrições das expressões da(s?) personagem(ns?), como: “Era uma forma muda de assentir.”
    Gostei. 😉
    Parabéns ao autor!

  20. Di Benedetto
    6 de novembro de 2013

    Tirando um excesso ou outro, achei bem escrito.

    Mas sou burro pra esse tipo de final. Fiquei confuso: se o texto afirma que o velho morreu e as pessoas ficaram desesperadas, é porque o velho de fato existia, certo? Se o velho de fato existia (e não era só uma alucinação do assassino), todo o diálogo travado entre os dois é muito rebuscado e não faz sentido. São pessoas comuns e ninguém fala assim na vida real.

    Por que um velho aleatório iria incitar alguém que acabou de conhecer a “se decidir logo” para atirar em alguém? Por outro lado, não é como se o assassino estivesse matando sua consciência (literal ou metaforicamente), porque essa comparação só faria sentido se o velho estivesse tentando convencer o assassino a não atirar!

    Talvez eu tenha entendido errado ou tenha deixado passar alguma coisa. Mas foi esse meu problema com a história.

    Desculpe o comentário mala, boa sorte e continue escrevendo!

    • A.S.A.
      6 de novembro de 2013

      Obrigado pela crítica, mas me sinto na obrigação de esclarecer alguns pontos.
      Não gosto muito de explicar a real interpretação do texto, pois isso tira toda a graça do leitor, mas você realmente se confundiu. O texto em nenhum momento diz que as pessoas ficaram desesperadas pela morte do velho. Se você quiser interpretar que o velho não existia, as pessoas estariam assustadas porque o sujeito pegou um revólver e deu um tiro, com corpo ou não, isso já é motivo para desespero.

      Outro ponto:
      ” Se o velho de fato existia (e não era só uma alucinação do assassino), todo o diálogo travado entre os dois é muito rebuscado e não faz sentido. São pessoas comuns e ninguém fala assim na vida real.”

      Não entendi o seu questionamento. O tema do desafio é “Noir”, você já viu alguma coisa desse gênero sendo fiel 100% à realidade? Outra pergunta: Os contos devem ser sempre 100% fieis à realidade?
      Eu não fiz mamutes voarem, nem nenhum absurdo contrário às leis da natureza, foi apenas diálogo… Apenas um recurso estilístico, ainda mais para o tema em questão. A linguagem rebuscada dá um ar trágico que retrata a perturbação mental do personagem.

      “Por outro lado, não é como se o assassino estivesse matando sua consciência (literal ou metaforicamente), porque essa comparação só faria sentido se o velho estivesse tentando convencer o assassino a não atirar!”

      Ele não diz que matou sua consciência, ele disse que matou o velho como se este FOSSE sua consciência. Ou seja, desejou viver na incerteza. O velho o incitava a pensar, raciocinar, sanar sua dúvida… Ele preferiu matar (Metaforicamente ou não) esta fonte de dúvidas.

      Enfim, espero ter esclarecido alguns pontos.
      Obrigado pela crítica.

      • Di Benedetto
        7 de novembro de 2013

        – Então A.S.A., minha interpretação foi de que o velho era só um velho mesmo. Por isso não curti os diálogos/personagens, porque não consegui acreditar neles. (Diferente, como falei, se a gente pensar no velho só como uma alucinação.)

        Não é questão de seguir a realidade 100% , porque os próprios filmes Noir não seguem. Mas mesmo que sejam melodramas de sua época, de longe não tem neles nenhuma linha de diálogo rebuscada como aquela oração ali no conto ou um diálogo tão improvável com um velho que o cara acabou de conhecer. Acho que você optou por ir por uma vibe mais “lírica” digamos e OK. Mas acho que (e é so uma opinião pessoal sou nenhum expert) destoou um pouco de como eu vejo uma história do gênero.

        – Agora, com você falando, acho que consegui entender melhor o que o velho representava dentro da história.

  21. Frank
    6 de novembro de 2013

    Li até o fim sem nem perceber; bastante interessante. Claro que não tem os elementos do noir (eu pelo menos não os encontrei), mas fora isso, uma história bacana.

  22. selma
    6 de novembro de 2013

    interessante. parabens.

  23. Gustavo Araujo
    5 de novembro de 2013

    Muito interessante a narrativa. O autor soube trabalhar bem o enredo de modo a acomodá-lo na limitação imposta para contos. Gostei do emprego das palavras, do modo como a tensão vai crescendo até o climax esperado. Confesso que adivinhei o fim, mas isso não tira o mérito da escrita. Mesmo o emprego de diálogos coloquiais – que em outras circunstâncias soaria estranho e deslocado – aqui me pareceu bastante oportuno. Talvez tenha sido uma tentativa do autor em aproximar a história do gênero noir. Creio que funcionou. Bom conto.

    • A.S.A. André Lima dos Santos
      5 de novembro de 2013

      Muito obrigado pela crítica!

  24. Bia Machado
    5 de novembro de 2013

    Gostei, achei bem tenso, e fiquei pensando se terminaria como terminou… E acertei, rs, mas foi apenas uma suposição que se concretizou, não me tirou a surpresa do final, porque até o as últimas linhas ainda duvidei de que isso tudo se daria. E só achei um pouco de exagero o parágrafo poético do cara fazendo a oração, mas é coisa minha. Parabéns!

    • A.S.A. André Lima dos Santos
      5 de novembro de 2013

      Muito obrigado pela crítica!

  25. Rafael Sanzio
    5 de novembro de 2013

    Gostei da densidade à la Dostoiévski, do rapaz angustiado. O falar dos personagens me pareceu bastante adequado, não vi nada que destoasse do clima.
    Acho que seria interessante (mas aí já é uma preferência minha) não dar a dica sobre o possível assassinato da mulher, porque é quase como entregar o final (que acaba por não ocorrer). Uma sugestão mais sutil de que a mulher seria o alvo do homicídio talvez fosse melhor. Aí, o final ganharia uma força extra. No mais, é um conto bem elaborado. Parabéns. 😉

    • A.S.A. André Lima dos Santos
      5 de novembro de 2013

      Muito obrigado pela crítica e pelos parabéns.

  26. charlesdias
    5 de novembro de 2013

    Gostei do contos, bem escrito, dinâmico, interessante … mas apesar disso não consigo conciliá-lo com o tema do desafio.

  27. CRAngst
    5 de novembro de 2013

    Gostei do conto. A ideia de relacionar o velho à consciência do homem em conflito foi ótima. Assim, o extermínio daquele que reprezentava a simbiose angustiante justificou-se. Muito boa a narrativa com ritmo agradável de leitura.

    • CRAngst
      5 de novembro de 2013

      RepreSEntava. Escrever comentário pelo celular dá nisso.

    • A.S.A. André Lima dos Santos
      5 de novembro de 2013

      Obrigado, fico feliz por ter gostado dos elementos que compõem a narrativa.

  28. Marcelo Porto
    5 de novembro de 2013

    O final surpreende.

    A construção dos diálogos dá uma dinâmica bem interessante ao texto. Não sei se foi proposital, mas soa como um monólogo, ante o rebuscamento do linguajar de ambos os personagens.

    No final essa impressão ficou ainda mais forte.

    Um bom conto!

    • A.S.A. André Lima dos Santos
      5 de novembro de 2013

      Agradeço demais pela crítica.

  29. Jefferson Lemos
    5 de novembro de 2013

    Gostei muito do final. O fato de o velho ser comparado com a consciência, deu uma cara diferente ao texto. O que não me agradou foram os diálogos rebuscados. Não sei, eu não sou muito fã de falas “cultas” e poéticas. No mais, o seu conto ficou ótimo, muito bem escrito, fluente e gostoso de ler.
    Parabéns!

    • A.S.A. André Lima dos Santos
      5 de novembro de 2013

      Muito obrigado pela crítica.

  30. Thata Pereira
    5 de novembro de 2013

    Algo no meio do conto me entregou o final. Tive a certeza de que isso aconteceria, mas não me incomodei nenhum pouco. Gostei muito do segundo parágrafo, pois trouxe para mim esse ar boêmio ao imaginar o cenário. Imaginado, inclusive, em preto e branco.

    O engraçado foi que o homem julga o velho por falar de uma forma poética, mas o próprio homem faz. E no fim, quando foi feita a ligação velho/ consciência, gostei do efeito.

    Adorei o conto!

    • A.S.A. André Lima dos Santos
      5 de novembro de 2013

      Obrigado pela crítica e fico feliz por você ter percebido a falsa “contradição”… Foi proposital e bem sutil.

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Publicado às 5 de novembro de 2013 por em Noir e marcado .