Aos olhos de muitos, aquele menino de 5 anos de idade parecia um lunático. Muito calado, sempre lia a vida com seus olhos mudos capitando os acontecimentos dos arredores. Brinquedos não os tinha e, quando muito, se divertia com os melões-caetano, com as cabaças, os pepinos e com sabugos de milho, os quais transformavam em gado, e se via como sendo um vaqueiro a tanger seu rebanho. Por várias vezes ele ouvia dos adultos frases do tipo: “Esse menino não é normal / Esse menino fala só, parece coisa de doido”.
Mas, indiferente aos comentários, o menino continuava viajando em suas fantasias. Hoje, esse tipo de tratamento se chama bullying, porém, na cabeça dele, seu mundo era diferente e ninguém seria capaz de entendê-lo.
De qualquer forma, o menino se sentia amparado, pois sua avó achava o neto muito inteligente e até incentivava as brincadeiras, colhendo o material para a confecção dos brinquedos.
Ah, as formigas!!! Essas sim eram suas companheiras inseparáveis; seus brinquedos favoritos. Toda manhã, após colocar seu gado no cercado para pastar, o menino sentava sob um pé de tamarindo para apreciar o trabalho das formigas. Ali ele conversava com elas, ajudava a carregar seus fardos e até fazia trilhas, para facilitar o caminho até o formigueiro. Ele jogava farelo de cuscuz para as formigas e repetia:
Vejam amiguinhas, eu trouxe a merenda de vocês! Comam pra ficar fortes e carregar suas folhas para dentro de casa.
Muitas e muitas vezes, ele se divertia fazendo da mão e dos dedos pontes para sentir as formigas caminhando sobre sua pele até pegar a trilha novamente. Ele gostava das formigas pretas, pois elas não “beliscavam”. O menino, imaginando porque elas carregavam tantas coisas para dentro do formigueiro,seguia as trilhas para ver de onde elas vinham e o que faziam.
O trabalho principal delas era carregar alimentos, e o menino perguntava:
— Vocês estão levando comida para seus irmãozinhos que não podem andar? (e ficava esperando uma resposta). De vez em quando uma formiga levantava as patinhas e alisava as antenas. Com esse gesto o menino via uma afirmação da formiga e exclamava:
— Eu sabia!!!
À tardinha, após colocar seu gado no curral, o menino, cuidadosamente, colocava um pouco de terra na entrada do formigueiro e dizia:
— Boa noite, amiguinhas. (Ele já sabia que na manhã seguinte as próprias formigas abririam a porta para mais um dia de trabalho, e ele estaria lá para viajar com elas em um mundo que só as crianças sabem caminhar – o mundo da fantasia).
De tanto o menino andar pelo caminho das formigas,transformou-se em um poeta e elas até hoje não saem dos seus pés, chamando-o para brincar. Ah, se todo mundo pudesse voltar ao tempo de criança e rever seus conceitos!
Obrigado a todos(as) pelos comentários construtivos. Na realidade hoje eu sou um poeta e escrever contos não é “minha praia”. Escrevi esse e postei porque uma colega me indicou e pequei o desafio. De qualquer forma, todos os comentários foram bons, pois, engrandece a nossa criação e pode até expandir o pensamento quando de outras tentativas. O final do conto foi intencional mesmo. Não gosto de dá tudo mastigado, pois acredito que o leitor tenha o discernimento de ler nas entrelinhas e recriar a história, de acordo com sua visão intelectual. Talvez o menino tenha se tornado um poeta porque aprendeu a observar os fatos.
Um conto, ou crônica (ou algo do tipo bonito, singelo) que me fez lembrar de mim mesma: eu fui um terror para as formigas na infância… Pegava as coitadinhas, fazia testes e mais testes em microscópios, e depois de arrancar as patinhas das coitadas, pesava na consciência e eu fazia o enterro depois, hahahahah! Olha, acho que o texto merece uma “elaborada” melhor, sem deixar parte alguma corrida, como foi o final. Coloque mais magia nas ações da personagem, não tenha pressa de narrar… É só o que posso lhe dizer, além de um “obrigada” por me fazer reviver minha infância (a parte mais sádica, talvez, mas mesmo assim, infância… =P)…
interessante, mas muito superficial, parece uma boa ideia inacabada.
Interessante a proposta de não tratar da viagem no tempo da maneira convencional, mas achei forçada a inclusão do tema nesse conto. Também achei que ele foi pouco desenvolvido. O problema não é ser curto (há histórias curtas que são geniais), mas não ser tão bem trabalhado como poderia. Ao final fica um sentimento de que falta algo. Despertou minha curiosidade, mas o desenvolvimento deixou a desejar.
Não que eu não tenha gostado do texto. Foi um dos primeiros que li e dei um tempo pra voltar com um melhor humor. Deveria ter feito a minha resenha lá atrás. Agora depois de ter lido quase todos os outros concorrentes ele ficou menor ainda.
Não acho que ele se encaixa nem ao menos como um conto, se o autor o desenvolvesse melhor talvez desse algum caldo.
CARA, VOCÊ É UM ÓTIMO INCENTIVADOR E DESTRUIDOR DE PASSATEMPOS. NOSSA!!!!!!!!
ahhhh, não gostei disso aqui, não. Tem lá alguma coisas que são bacanas, mas vejo uma preguiça em desenvolver melhor. No mais, gostei da brasilidade e do tom infantil.
Eu particularmente não acho que um conto necessariamente sofre por ser curto. Conheço incontáveis exemplos de narrativas extremamente breves e igualmente eficazes. A questão é que o peso na escolha exata das palavras e dos caminhos do texto se torna ainda mais intenso nesses casos.
No caso desse texto em especial, acredito que o autor poderia ter desenvolvido um pouco mais sem nenhum problema, ou manter o texto curto, mas dar uma polida maior. De qualquer forma, a exploração da viagem no tempo é inusitada, e gostei da sutileza na construção dos aspectos emocionais do personagem principal. É um bom texto.
Achei pueril. Um pouquinho de revisão ortográfica caberia, também, mas no geral, a escrita é correta e o estilo agrada. O final, meio fábula, decepcionou. Quanto ao tema, quem disse que precisa de máquina ou outro troço qualquer para viajar no tempo? A memória ainda é o mecanismo mais eficiente!
As vezes, quando a inspiração não vem mesmo, deixamos pra lá. Legal a vontade de participar. Não desista, pois escreve bem. Só que tem que liberar a imaginação, pq esta sim é chata.
Mesmo com o fim, fugiu muito ao tema. É bonitinho, mas não chega a ser inspirador, criticador ou na verdade, qualquer coisa. É, no máximo, uma crônica.
O continho parece uma homenagem a um poeta (Manoel de Barros, não?!). E a carona no tempo veio de memórias de um meninim que ‘cresceu’, que era filho da terra e a natureza seu material de sonho.
Creio que o finalzinho tenha dado um duplo sentido, de o personagem ter crescido, ou por ser poeta (e poeta não tem olhos de gente, mas de miúdo) ainda era ‘convidado’ a brincar com as formigas…
Muito singelo.
Sobre a história… Fuga total ao tema, motivo de desclassificação para mim. De resto, soa como uma tentativa de realizar uma fábula, mas carece da lição de moral que tal estilo exige. Como conto, é fraco. Como fábula, falta algo. Portanto, não consigo não achar que o tamanho curtíssimo prejudicou o desenvolvimento de uma história que seguia bem legal, já que o personagem título é bem acolhedor ao leitor.
Sobre a técnica… O autor tem domínio das palavras. Escreve bem, delinea de forma lírica e envolvente o ambiente e os personagens. Conta a situação de um jeito que não cansa. Por isso mesmo o texto exigia muito mais do que foi mostrado.
Sobre o título… Simples, bem a cara de uma fábula, que talvez deva ser o caminho dessa história.
O primeiro defeito deste texto é o tamanho: 487 palavras é o tamanho de uma composição escolar, não de um conto completo. Para conseguir contar uma história em tão pouco espaço, seria preciso simplificar a história, aproveitar ao máximo as referências literárias prontas, etc. Eu nem sei como eu faria algo tão pequeno funcionar. Raras vezes li textos com menos de mil palavras que conseguissem o efeito desejado.
O segundo erro é a pieguice, que chega a extremos de melação lá no final, cheio de mensagem positiva e bonitinha, exposta da forma mais didática possível. O autor manifesta até algum talento, mas um talento tremendamente imaturo.
Esses problemas, porém, não comprometeriam totalmente o texto, pois a pieguice poderia ser cortada e a história poderia ser desenvolvida. O que realmente mata o texto é a falta desse desenvolvimento. Este não é um texto pronto: é uma anotação no rascunho, que poderia, ou deveria ser trabalhada para se chegar a algum resultado.
Não há resultado neste texto.
Eu gostei do texto..mas não curti a interpretação do tema. Acho que fugiu do proposto sim, mas é só a minha opinião. Ficou bem infantil mesmo e isso me desagradou um pouco. No entanto, valeu a leitura. Vlw..
Vejo as formigas como parte do passado (infância) que aparece em paralelo com o presente. A viagem no tempo acontece o tempo todo por meio de lembranças (passado) e sonhos (futuro). O final ficou mesmo com jeito de moral da história, surgindo de repente, com pressa.
Achei mais ser uma lição de moral já escandara sem subentendimentos. A parte psicológica do texto foi interessante. Mas se explorar mais a questão leitor-ouvinte-escritor renderá bons frutos no futuro.
Gostei da escrita e concordo com a ideia de que o tema pode ser “reinterpretado”, mas nesse caso específico também achei que fugiu da temática proposta.
Achei interessante a citação de alguns costumes da infância, dos alimentos e a presença das formigas. Parece-me um texto a ser ilustrado em um livro infantil, com algumas revisões, enxugadas e ajustes gramaticais. Achei fora do tema.
Um conto deve ser uma história com começo, meio e fim e, de preferência, ser escrito com uma linguagem simples. Quanto ao poema, estranho que alguns não tenham entendido nas entrelinhas que o personagem ainda mantém a habilidade de sonhar, pois ainda continua com as formigas lhe acompanhando. O final deixa entrelinhas que, no meu entendimento, leva o leitor para outras interpretações. Uma história não pode ser escrita mastigada, pronta para ser engolida. O leitor também pode entrar em cena e usar sua imaginação. Um comentário diz que não houve uma transição da vida infantil para a vida adulta (também não está expresso que o poeta é um adulto – de repente ele pode ser ainda um adolescente e ainda está em processo de transição para a vida adulta). Bom, cada um é livre para usar sua e durante a leitura tudo pode ocorrer na cabeça do leitor. De qualquer forma, as observações foram pertinentes.
Concordo plenamente, Gilnei! 😉
“O final deixa entrelinhas que, no meu entendimento, leva o leitor para outras interpretações. Uma história não pode ser escrita mastigada, pronta para ser engolida. O leitor também pode entrar em cena e usar sua imaginação.”
Como gosto desses textos!! Gostei muito da inspiração. Como crítica, vou dizer que você deveria ter tomado um pouquinho mais de cuidado com o final. Soou corrido para mim, contradizendo todo o restante: talvez porque o personagem cresceu e perdeu toda a poesia dentro de si? Eu até interpretei assim, mas eu continuaria ele com esse ar de infância e de saudade… =)
Também interpretei assim, Thais! 🙂
“…o personagem cresceu e perdeu toda a poesia dentro de si?”
Algumas pessoas não gostam disso. Eu gosto. Não sei se teria feito, mas eu gosto muito de ter esse tipo de interpretação. Depois, gostaria que o autor me dissesse se foi isso mesmo ou apenas uma outra percepção. =)
Achei o texto bonito, mas bem simples, como um conto infantil, com tudo muito explicadinho, por exemplo. Sei que o tema “viagem no tempo” pode permitir múltiplas interpretações, mas como é um tema difícil, não sei se fico à vontade com contos que “dão a volta” no tema, :D.
Algo que gostei do conto foi o qto este é brasileiro, com citações dos costumes do interior, feito a comida (cuscuz), o trabalho (levar o gado), etc.
É bacana perceber como um assunto considerado batido pode ser interpretado de diversas formas. Nada máquinas, nada de viagens siderais. Aqui a viagem no tempo ocorre na memória – e é, por isso, perfeitamente factível, já que todos nós a praticamos todos os dias, todas as horas. O conto em si é terno, recheado de nostalgia e, talvez por isso, carregue um quê de tristeza. Seria legal ver o autor desenvolvendo mais essas digressões. O final realmente ficou muito atropelado. Do nada salta-se da infância para a vida adulta. Nada há no meio do caminho. Um conto bonito, mas que poderia ter sido melhor explorado.
Uma boa prosa e sai do arquétipo “esperado” para o tema de viagem no tempo, pois a viagem é feita pelo próprio personagem, através de suas lembranças de menino…
Poucos contos deste desafio tiveram a coragem de ousar neste quesito, ampliando o leque de abordagens para um mesmo tema. Para viajar no Tempo, basta tão pouco…
Gostei!
🙂
A prosa é boa, e gostei do início, tem um quê de encanto e desperta a curiosidade sobre “onde vai parar? Onde o autor vai com isto?”, mas o final decepcionou-me e o modo como o tema foi abordado e trabalhado parece um pouco forçado.