EntreContos

Detox Literário.

O Jogo da Vida (Antonio Luis Mendes)

ABERTURA (d4 c4)

Devo, antes de tudo, pedir paciência — e, se não for muito, benevolência. Escrevo estas linhas com as mãos que sempre foram de fazer, não de narrar: mãos que seguraram cartazes, apanharam do sol e da pressa; mãos que, quando muito, moviam peças num tabuleiro emprestado, na praça, sob o olhar de um relojoeiro que jurava que tempo também joga.

Os nomes verdadeiros ficarão trocados, por pudor e por prudência. Se algum leitor — ou leitora — reconhecer nesta história a sua rua, saiba que troquei a cor das fachadas e o rumo do vento; quanto ao resto, que Deus nos tenha, porque verdade e lembrança são irmãs que brigam, mas se amam.

Dizem que fui Rainha. Nunca acreditei nessas coisas, nem mesmo quando me chamavam Dama da Noite. Aprendi cedo que peça que se acha onipotente conquista casas demais e acaba perdendo o jogo. É possível que eu tenha vencido uma vez ou outra; hoje, escrevo para registrar que só paramos o golpe quando aprendemos a perder sozinhos para ganhar juntos. Se falho no relato, perdoem-me as omissões. Se exagero, é por zelo com o que nos salvou.

Quando o pano abre — assim dizia o senhor que vivia ajeitando o relógio — a cena é simples: um papel úmido de carimbo e seco de compaixão; um prazo que não cabe na vida de ninguém; e um ponteiro que, ao cair, parece-me o primeiro tic da derrota anunciada. Eis o nosso xeque.

O XEQUE (Txa7+)

A notícia chegou numa terça de vento canalha, dessas que empurram poeira para dentro das salas e desalojam lembranças das prateleiras.

O nosso jovem mais promissor — que encarava fórmulas no caderno com a mesma seriedade com que amarrava o tênis; que falava baixo para não acordar a casa; que aprendia rápido e fingia que não; que já estudava a mudança de ônibus para chegar mais cedo ao cursinho — ficou estendido no chão de cimento lavado da praça, entre o banco de madeira e o poste de luz que falha no vento. A mochila ainda presa ao ombro; o moletom vermelho, sujo na altura do ombro também; e o rosto, coberto por um casaco que não era seu.

A perícia chegou devagar, com o gesto de quem cumpre rotina. Um PM soprou ao outro a palavra que ouvi incontáveis vezes em dias seguintes, repetida até perder qualquer pudor: conflito. “Guerra entre facções.” Alguns vizinhos recuaram para dentro; outros ficaram na janela, de braço cruzado. A mãe do menino, mãos no avental, sequer teve forças para gritar. Mordeu o lábio até o sangue escorrer. Não houve sirene escandalosa nem fita amarela esticada com o respeito devido; apenas uma caneta que escorregou no papel, um carimbo que secou rápido, e um “liberado” que me deu ânsia.

— Os brancos sempre estão a ditar as regras do jogo — disse alguém, sem drama. — E nós somos obrigados a aguardar a nossa vez.

Não respondi, mas, internamente, concordei. Em nossa realidade, retroceder é luxo; e parar, uma imprudência. Eu aprenderia, em algumas horas, que há mortes que empurram o dia inteiro alguns passos adiante, queira-se ou não — e esse avanço custa mais do que qualquer palavra que eu escreva agora.

ROQUE MAL ENSAIADO (O-O?)

Acompanhei a mãe ao IML. No lugar das flores, uma senha. Ela assinou com mão trêmula e letra firme, porque mulheres aprendem cedo que tremer e firmar não são contradições, são atos contíguos. A funcionária pediu nome completo, idade, cor da camiseta e itens pessoais.

Na delegacia, o balcão alto definia o nosso lugar. Um inspetor falava pela boca e pelos dedos:

— Lavra-se ocorrência. Zona conflagrada. Disputa.

— Ele tava voltando do curso — defendeu a mãe. — Nunca mexeu com ninguém.

— Senhora, não sou eu quem decide — ele concluiu, carimbando com a autoridade do gesto pequeno.

Saindo dali, fui procurar um advogado; atendeu-me ao telefone com cordialidade, prometeu retorno, desligou. No dia seguinte, o escritório estava fechado “para reforma” — fita crepe, cartolina, canetão. Fui à rádio, ao jornal local. Falaram comigo dois minutos, depois entrou um comercial de parcelamento de carros. O microfone desligado é uma cortina que cai sem aviso.

Voltei à praça no fim da tarde. Havia varal de fitas pretas amarradas no tronco. Nosso mestre estava sentado no banco com o relógio de madeira no colo.

— Não há papel que mate o que vimos — proferiu, sem me olhar. — O que há é gente. E a ordem do dia é essa: ou a gente faz linha, ou a gente vira número.

— Linha? — perguntei, cansada de palavras que não resolvem.

— Corrente de braço e de prova. E uma virada.

VIRADA DO RELÓGIO (…h6)

No dia seguinte, a praça encheu sem alarde. Chegaram mães com crianças ainda de uniforme, o dono do bar com a mão engordurada e um envelope pardo, a costureira com a tesoura presa na fita do pescoço; um rapaz de boné, celular no tripé, que já nos servira café em reuniões de domingo.

— Eu… — começou o peão, e calou para arrumar a gola do avental queimada de fritura. — Eu tenho algo. A câmera pegou. Não gostei, mas pegou.

Ninguém perguntou o quê, tampouco se jogou sobre o envelope, sem alarde desta vez. As mulheres olharam umas para as outras, e ouvimos um tic discreto.

— Se você expõe — lembrou a costureira, mão no ombro dele —, eles te cobram.

— Já estão me cobrando — rebateu, sem força para ficar brabo. — Mas o menino não volta. Ao menos a verdade não precisa ficar prensada sob o balcão.

— Então a gente organiza a melhor estratégia — disse nosso mentor. — Nada de heroísmo. Vai ter quem segure a esquina, quem conduza a palavra, quem empurre o arquivo pela rede até sair do nosso bairro e girar pelo país. E vai ter quem prepare o tombo.

— Tombo?

— Vão derrubar qualquer coisa para dar lição. Melhor que não seja do nosso lado.

O relógio marcou a virada. Sem mais conselhos, só tarefas.

GAMBITO (d5!)

A manhã nasceu sem azul. As mães sentaram na calçada em frente ao bar, crianças no colo e caderno aberto; não para estudar gramática, mas para registrar presenças. O dono do bar trancou o letreiro — lâmpada frouxa, vidro rachado —, desligou o disjuntor, abriu o compartimento da câmera, tirou a caixa preta comprida que segura memória com teimosia; no bolso, um pen-drive; no coração, duas filhas com quem não falou sobre medo.

O rapaz ergueu o celular e escreveu no canto da tela, com letra grande o suficiente para cego ver: AO VIVO. Deu-me um gesto de cabeça: parecia dizer “se a mão tremer, é porque tem sangue”.

Chegaram duas viaturas, vidro fechado, motor em baixa. Não desceram de pronto; estudaram o terreno com aquela calma que gela a boca do estômago. Quando desceram, um de cada vez, pensei na palavra “limpa”, que ouvira em algum áudio sem data. O de boné ajustou o foco, ligou o som, colou a lente à nossa obsessão.

— Vai dar errado — sussurrou a mãe do sacrificado, sem lágrima, apenas ar.

— Já está errado — respondi.

Quando a porta se abriu, uma peça foi movida. Não peguei de imediato; apontei para o rapaz, que se adiantou, cobriu o objeto com a mão, sem pose de herói, e encaixou o metal no adaptador. O arquivo subiu. O rosto apareceu. O reflexo na lataria apareceu. A mão de quem aperta o gatilho apareceu com a tranquilidade de quem faz sempre o mesmo trabalho.

As viaturas avançaram um passo, recuaram dois, avançaram quatro. A primeira pergunta surgiu na tela do rapaz: “onde?”. A segunda: “quem?”. A terceira: “compartilhe”.

— Segura essa! — exclamou o guia da jogada.

A pancada na porta não veio com palavra, sobrou sola e cotovelo. Dentro, o cara do bar precisou esticar os braços e sair com mãos abertas. Do lado de fora, as mães levantaram-se, e seus cotovelos se encontraram em cruz. Quem nunca viu linha feita de braços pode supor que seja fraca; só não conhece as fibras de quem sustenta cozinha e vizinhança. A pancadaria foi evitada devido ao acovardamento de ambas as partes: a deles, por terem sido vistos; a nossa, por sabermos que eles sabiam que tínhamos visto.

À noite, a resposta. Cheiro de álcool, estalo de vidro, um clarão rápido, o toldo indo embora, o balcão queimando. Quem deu a cara a tapa, dois vizinhos e uma mangueira velha fizeram o possível com baldes; o bar amanheceu com paredes negras e copos extintos. A filmagem, por sua vez, deixou de ser nossa: rodava em textos que eu não leria, batia na porta de gente que nos ignoraria ontem, e agora carregava, junto de si, nossa rua inteira, com todos os defeitos e interjeições.

— Tentaram arrancar a língua — gritou a costureira, varrendo a fuligem. — Esqueceram que pra morder, bastam os dentes.

ZUGZWANG

A liberdade de movimento que nunca tivemos ficou ainda mais comprometida. Viaturas passavam lentas, sem sirene, durante o dia; paravam nos cantos mortos da praça à noite; nos bares que resistiram, homens de barba feita perguntavam pelos horários de nossas reuniões, pelo parentesco de uns com outros, pela cor de nossas assinaturas.

Fizemos o que sabíamos: empilhar documentos e vozes — não muito, apenas o suficiente para que o “não” no balcão ficasse difícil; protocolar pedido de proteção, anexar o vídeo e os testemunhos ao procedimento correto, acionar órgãos competentes com discurso frio; aceitar a mão de um coletivo de advogados que não pediram foto, apenas e-mails e horário, e deram, em troca, instruções que me fizeram agradecer o estudo alheio: ir em dupla, falar em parágrafo, pedir recibo.

O vereador de oposição, que não frequenta a nossa feira, solicitou sessão extraordinária; a universidade enviou nota técnica, com palavras que me soaram parentes de justiça; um site nacional pegou a história no ar. E, entre um gesto e outro, o relógio voltou a mandar: duas transmissões por dia, curtas, firmes, sem chorume de comentário; foco na linha do tempo e no que já estava em papel. Ou a pressão nos engolia, ou a legalidade nos salvava; nunca soube, ao certo, quando uma vira a outra.

No terceiro dia, o comando superior fez o que a burocracia faz quando percebe que perdeu parte do controle: anunciou “apuração” e “oitiva”. A praça respirou pela metade; metade medo, metade descrença; restava caminhar.

COLUNA ABERTA (Td8)

A reunião ocorreu no auditório da subprefeitura, com ar frio demais para quem esteve o dia na rua. A mesa tinha copos d’água, microfones, dois assessores invisíveis a olho nu, mas audíveis no sussurro. O promotor nos agradeceu a presença; o comandante recitou a biografia de um colega “exemplar”, que poderia ser qualquer um; a palavra “exagero” apareceu no momento em que eu esperava “respeito”.

A mãe que não pôde ver o filho cumprir seu destino, sem pranto e sem pressa, descreveu a rotina do rapaz, a cor do moletom, a hora exata. Alguém projetou, no telão, o recorte do vídeo em que o clarão antecede o corpo no chão — silencioso, mas eloquente. O outro pendurado apontou que o bar ardeu na mesma noite e mostrou o braço envolto em gaze, assinando presença com o próprio corpo.

— A perícia interna vai se debruçar sobre as imagens — esclareceu o comandante, cordial.

— E, enquanto isso, nós vivemos — respondi, cortando o fio do pudor que me restava. — Vivendo sob a sombra de quem passa devagar na esquina e entende a nossa janela como alvo.

Após a anotação, um professor de terno muito gasto, que reconheci da TV, pediu a palavra e falou, por minutos suficientes, sobre “território” e “banalidade da violência”, termos que, naquela hora, acenderam em mim uma gratidão esquisita; o mundo nos olhava por um buraco de fechadura; e, por esse buraco, talvez passasse o ar.

Ao fim, a mesa leu, com todas as sílabas pronunciadas, uma decisão provisória: encaminhamento ao órgão de controle, garantia de integridade para testemunhas, prioridade no inquérito, informação pública periódica. Um texto que, lido em voz alta, nos devolvia um pedaço do que nos haviam tirado.

— A coluna abriu — sussurrou o pastor no meu ouvido. — Sustentar é não tropeçar no próprio cadarço.

O sol, do lado de fora, lembrava o normal que já não nos pertencia.

OPOSIÇÃO (Re7 vs Re5)

Ninguém poderia imaginar que, um dia, ele sairia de seu castelo para nos confrontar. Jaqueta escura, ódio sem adjetivo, o mesmo jeito de olhar que atravessa gente. Chegou ao cair do dia, quando a praça fica cinza e o barulho da avenida, lá em baixo, morde a beirada da nossa rua. Eu voltava da casa da costureira, trazendo debaixo do braço um bolo embrulhado em pano; o rapaz ajeitava cabos no coreto; o mestre, sentado, acariciava o relógio com a ponta do dedo, sempre vigilante.

— A senhora quer estragar minha vida? — começou, de mãos vazias, mas pesadas.

— Fala quem já estragou a vida de muitos — devolvi, sem elevar a voz.

Ele deu um passo e respirou raso, de quem está furioso e não quer suar. Perto, uma janela fechou sem barulho; longe, um cachorro latiu.

— Você vai apagar aquilo — ele ordenou, aproximando a face da minha. — Vai sumir, vai desmentir, vai dizer que não viu direito. Ou alguém mais cairá.

— A queda está no teu corpo — respondi, ouvindo minha própria loucura.

Um garoto ergueu o celular, a tela virada para nós, e iniciou a transmissão sem truque. Não cheguei a olhar para a lente; virei-me para o rosto daquela mãe, que eu via em todos os rostos agora, e não me perdoaria por um recuo. Aquele homem, que tem nome, salário, posto e barra de ferro, percebeu tarde demais que já havia alguém vendo. Moveu a mão ao bolso da jaqueta, enquanto tive que dar um passo que meu corpo aprendeu sozinho nos últimos dias: nunca para trás.

As sirenes, quando vieram, pareceram coincidência. Encurralamento. A corregedoria, em gesto raro, aceitou o algoritmo como aliado: transmissão com palavras-chave acionando serviço de escuta; este acionando viatura que não pertence à mesma mão do sujeito que já viveu acima da lei. A partir dali, sucederam-se voz de comando, algema, vaia murmurada e oração em silêncio. O homem que se considerava intocável saiu engrenado na máquina que defendeu tantas vezes; e, ao vê-lo assim, confesso ao leitor: não senti triunfo, em vez disso, alívio envergonhado.

— Fim de jogo? — perguntou alguém, sangrando esperança.

— Jogo nenhum — revelou o mestre. — Registro. E luto.

PROMOÇÃO (a8=D#)

As manchetes do dia seguinte usaram verbos diferentes para o mesmo ato: “prende”, “cumpre”, “apreende”, “investiga”. O inquérito teve números de páginas, carimbos de hora, assinaturas legíveis; o bar de quem foi derrubado exalou fumaça por dias; a praça, depois, deixou de transpirar qualquer coisa — e esse silêncio é o que sobra quando o bairro inteiro veste uma roupa limpa para parecer que está tudo bem.

Fui até a casa da mãe que nos representava naquele momento. Ela me recebeu com um copo d’água e me levou ao quarto do menino. No cabide, a mochila. Na mesa, um caderno de exercícios com a capa dobrada. Na última página, um desenho tosco de uma cruz que poderia ser coroa e não é, sobre um quadrado desenhado à régua; abaixo, com letra de quem não tem tempo a perder, uma frase: “andar pra frente dói”.

Não lhe prometi nada; ninguém que se respeite promete o impossível. Saí com o papel do inquérito impresso, guardando comigo o aprendizado que papel guardado pesa menos do que memória e, às vezes, resolve onde a voz falha. O bairro voltou à rotina dessas rotinas que se fingem neutras — pão, ônibus, escola, sopa; e, em cada movimento, uma pequena vigília. À noite, sentei no banco da praça com quem tomava conta do relógio que, por uns dias, eu carregara no pulso.

— Fica contigo — eu disse.

— Não — sentenciou, sem me olhar. — O tempo que me cabia já foi gasto. Agora, vocês é que sabem a hora.

Dizem, na rua, que “vencemos”. Confesso que não gosto desse verbo posto assim, solto. O homem perdeu seu posto: está preso; o processo anda; alguém nos pediu desculpas burocráticas; outra pessoa nos chamou de exemplo. Entretanto, o menino jamais retornará; tampouco o bar derrubado; e aquela parcimônia com que atravessávamos a praça também não. Se escrevo é para que se entenda que a vida, no fim, é isso que o relógio ensina sem sermão: a queda do ponteiro, a respiração que cabe entre um som e outro, o avanço que, custe o que custar, não admite recuo.

Se, um dia, voltarem a dizer que fui Rainha, peço que me neguem essa honra que é mentira. Fui, no máximo, quem permitiu que a roda girasse no lugar certo — atrás, sustentando; ao lado, cedendo a vez; à frente, só quando nada mais nos restava. E, se há alguma glória, ela cabe às mães que não arriaram os braços, ao rapaz que ergueu o celular sem espetáculo, a quem se sacrificou para entregar um arquivo, a um relojoeiro que nos ensinou que o tempo também joga e que a virada só existe se a gente estiver disposto a sustentar a jogada até o fim.

A você, que chegou até aqui, peço o favor de não procurar nosso bairro no mapa: ele se parece com tantos que você conhece. E, se o reconhecer, troque de calçada, mas não de lado.

FIM DE JOGO: 1/2 – 1/2

EXTRATO — BOLETIM DE OCORRÊNCIA / NOTA DA CORREGEDORIA

“Em 14 de agosto, às 21h37, foi cumprido mandado de prisão preventiva em desfavor do sargento [nome suprimido], lotado no [batalhão], pela possível autoria do homicídio de [iniciais], ocorrido em 12 de agosto, conforme elementos probatórios consistentes em: a) imagens extraídas de dispositivo de gravação digital de estabelecimento comercial; b) registro audiovisual transmitido em tempo real por terceiros, preservado por meio de cadeia de custódia; c) depoimentos de testemunhas presenciais; d) laudo pericial complementar. Determina-se: preservação de integridade de testemunhas; apuração de incêndio em estabelecimento na mesma data (13 de agosto), em procedimento apartado; atualização pública quinzenal sobre o andamento. Registre-se e cumpra-se.”

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

34 comentários em “O Jogo da Vida (Antonio Luis Mendes)

  1. Sarah S Nascimento
    14 de dezembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Seu título é muito adequado ao conto. Sua história é forte, dolorida, ela machuca, faz sentir uma dor e um reconhecimento difíceis de engolir. É como ver o noticiário sabendo que esse tipo de injustiça acontece e acontece mesmo, e isso dói, e tudo que os vizinhos, familiares e amigos desse rapaz fizeram foi tentar ter um pouco de justiça.
    O uso do xadrez foi bastante original, os nomes das jogadas conforme os parágrafos. Mas, o sentimento que me causou foi tão triste e doído que eu só queria que terminasse. Foi um trabalho excelente.

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Sarah!

      Muito obrigado pela leitura sensível e pelas palavras generosas! Fico imensamente honrado em saber que a história provocou esse impacto.

      A intenção era justamente essa: trazer um desconforto que espelhasse a realidade, onde o ‘tabuleiro’ social muitas vezes não nos dá opções de recuo. Essa dor que você sentiu é a prova de que a narrativa cumpriu seu papel de não romantizar a tragédia.

      Sobre o uso do xadrez, optei por deixar os personagens sem nomes próprios (chamando-os pela função ou peça) propositalmente para reforçar essa sensação que você descreveu: a de que, infelizmente, essa injustiça é universal e poderia ser qualquer um de nós naquele noticiário.

      Agradeço demais por ter ficado até o fim, mesmo com o aperto no peito!

  2. Thales Soares
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Bom… eu sou a pessoa errada para comentar e julgar este conto. Pois eu certamente NÃO sou o público alvo dele. Reconheço que a escrita está ótima, e que ele foi feito de forma muito bem pensada… mas para mim foi uma leitura difícil e enfadonha. Desculpe. Porém, como sou obrigado a comentar todos os contos da série B, mas verificar melhor o que eu senti enquanto eu lia:

    A protagonista é uma mulher envolvida em lutas comunitárias, o que dá um ar de conto progressistas. Ela usa o xadrez como metáfora para a vida e a organização coletiva… e isso eu achei interessante. A forma como este conto aborda o tema é criativa. Enquanto todo mundo ficou obcecado por colocar dois adversários jogando uma partida literal de xadrez, aqui as coisas são mais poéticas.

    Tudo começa quando um garoto do bairro é morto a tiros na praça. A polícia registra o caso como conflito de facções, e não faz porra nenhuma para ir atrás do culpado. A mão do garoto vai na delegacia e imprensa, recebendo indiferença institucional. E aqui o conto começa a me perder um pouco… pois eu vivo numa bolha, separada da sociedade, e para mim, tudo o que se sucedeu nesse conto foi como se estivéssemos observando um mundo alienígena. Porque aqui começa a entrar umas pegadas de comunidade se ajudando pra expor o caso publicamente, enfrentando algumas ameaças e talz… ai com a pressão pública, o Estado é forçado a agir.

    Uma sessão oficial acontece, onde eles mostram as provas. A mãe relata a rotina do filho. O caso segue com as suas burocracias… Aí, do nada, o policial responsável confronta a protagonista, exigindo que o video com provas seja apagado. Só que nisso, alguem grava eles, fazendo uma Live, e o agressor é desmascarado e preso. Poxa……. que solução sem graça. Senti uma pegada de Malhação aqui, ou de novela enfadonha da Globo. Filmaram a pessoa falando bosta, e com isso rolou um exposed, e a justiça foi feita? Aff…

    No final, a protagonista ainda não se sente satisfeita… porque mesmo com sua vitória, o morto não vai voltar à vida. Que volúvel…. mas enfim. A história parece discutir sobre a justiça, que não é tão justa assim… sei lá.

    Este conto não me conquistou muito. Mas está muito bem escrito!

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Thales!

      Agradeço muito pela franqueza, mesmo sendo um tema distante da sua realidade.

      Entendo perfeitamente que a leitura tenha sido árdua. A intenção era justamente criar uma atmosfera de impotência e burocracia, simulando o peso que essas comunidades carregam — o que pode soar ‘enfadonho’ ou arrastado, mas é o ritmo real da busca por justiça nesses cenários. Que bom que a escrita técnica e a metáfora do xadrez funcionaram para você!

      Sobre o desfecho, gostaria de oferecer uma perspectiva diferente sobre a sensação de ‘novela’: no contexto de uma comunidade desarmada enfrentando a força policial (Peões contra Torres), a exposição midiática (a ‘Live’) é, tragicamente, a única arma disponível. Não é uma solução mágica, é a ferramenta de sobrevivência contemporânea — o que no xadrez chamamos de ‘Oposição’, onde obrigamos o adversário a se mover.

      Quanto ao final, a insatisfação da protagonista não é volubilidade, mas sim a constatação do ‘empate trágico’ (o 1/2 – 1/2 no xadrez). A peça adversária caiu, mas o Peão dela (o filho) não volta ao tabuleiro. A vitória jurídica nunca compensa a perda humana, e manter esse gosto amargo foi uma escolha consciente para não romantizar o desfecho.

      Obrigado por reconhecer a qualidade da escrita, mesmo não sendo o público-alvo!

      Abraço.

  3. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto bem escrito, uma linguagem admirável.

    A linguem me conquista muito mais do que o enredo.

    Tem crítica social e metáfora na medida.

    Narrado em primeira pessoa, vai mostrando a violência, a polícia.

    Faz uma boa relação com o xadrez, tem várias divisões e subtítulos, às vezes um pouco exagerado na nomenclatura.

    Parabéns!

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Mauro!

      Muito obrigado pelo comentário! Fico imensamente feliz que a linguagem e a voz da narradora tenham te conquistado, trabalhei bastante para que a prosa tivesse esse peso poético em contraste com a dureza do tema.

      Sobre a nomenclatura e as divisões, entendo perfeitamente a sensação de exagero. Foi uma aposta estilística intencional para tentar criar um choque entre a frieza matemática/técnica do xadrez (como se fosse um relatório insensível) e o drama humano que estava acontecendo na prática. É aquele risco de pesar a mão na estrutura para reforçar o conceito, mas agradeço demais o toque!

      Valeu pela leitura atenta!

  4. Bia Machado
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, Vera, tudo bem? Seguem alguns comentários sobre a minha leitura do seu texto.

    Desenvolvimento (1,0): Um texto com um bom ritmo, acho que a divisão com base nas jogadas do xadrez ajuda nisso. Como se fosse a divisão de um livro em capítulos. Mas aqui, mesmo com essa divisão, não tenho a impressão de que esse texto precisaria ser um livro, algo muito maior, é diferente do conto “São Nicolau”. O que está aqui narrado basta para entregar um texto de até 3.000 palavras.

    Pontos fortes (1,0): Gostei muito da narração, da relação dos trechos com jogadas do xadrez, de ter usado a violência recorrente do cotidiano como material, o enredo está na nossa cara todo dia, nos telejornais, só não vê quem não quer…

    Adequação ao tema (0,5): Para mim está adequado.

    Gramática (0,5): Correta, não vi nada que “destoasse”.

    Emoção (2,0): O conto é muito inspirador. Parabéns por sua escrita. Eu gostei muito.

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Bia!

      Muito obrigado pela análise criteriosa e pelas notas generosas!

      Fico extremamente satisfeito em saber que a divisão em ‘jogadas’ funcionou para ditar o ritmo da leitura. A intenção era exatamente essa que você captou: usar a estrutura do xadrez para organizar o caos de uma realidade violenta, permitindo contar uma história densa e completa dentro do limite de palavras, sem que parecesse apressada ou incompleta.

      Sobre a violência cotidiana, é exatamente isso: um enredo que infelizmente está ‘na nossa cara’ todos os dias. Tentei traduzir essa realidade dura para a lógica fria do tabuleiro para gerar reflexão, e fico feliz que tenha soado inspirador para você.

      Mais uma vez, agradeço. Abraço!

  5. Thaís Henriques
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Senti-me num filme. Sequenciamento de eventos muito bem estabelecido, comovente. Entretanto, para mim, está fora do tema proposto.

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Thaís!

      Fico muito feliz que a narrativa tenha soado cinematográfica e comovente para você. Agradeço a leitura.

      Sobre a questão do tema, gostaria de compartilhar a lógica da construção para esclarecer a proposta. A minha intenção foi não limitar o xadrez a um ‘objeto de cena’ (apenas pessoas jogando), mas sim transformar a própria estrutura do conto em uma partida real.

      O texto segue rigorosamente a cronologia de um jogo: Abertura, Meio-Jogo e Final. Cada subtítulo e cada ação dos personagens correspondem a conceitos táticos técnicos:

      1. O ‘Gambito’ (sacrifício de material por vantagem) acontece quando o bar é sacrificado pela prova;
      2. O ‘Zugzwang’ (obrigação de jogar perdendo) é a pressão jurídica exercida;
      3. A ‘Promoção’ do peão é a voz que a comunidade ganha no final.

      Além disso, a dinâmica dos personagens respeita as regras das peças: os ‘peões’ da história, assim como no tabuleiro, só podiam andar para frente (sem recuo social), enquanto as ‘Torres’ (o poder) tentavam bloquear as colunas.

      Portanto, o tema está inserido na engrenagem da história, como uma alegoria viva do jogo, em vez de uma representação literal. Espero que essa explicação ajude a visualizar a estratégia por trás do texto!

  6. Fabio Baptista
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Cruzada por justiça após policial matar jovem inocente.

    Esse conto me deixou bem dividido. O maior mérito aqui é o estilo da escrita, muito marcante. Paradoxalmente isso acaba jogando contra a partir de determinado momento, porque são tantas frases de efeito, que o impacto delas acaba se diluindo, são tantas construções rebuscadas que a história fica arrastada, parecendo mais complexa do que é.

    Em determinado momento fiquei com receio que caísse no panfletarismo, mas felizmente isso não ocorreu. A história de busca por justiça segue de modo crível e comove sem apelar.

    O tema do desafio passou de raspão… uma rainha metafórica, uma citação a peão, movimentações estartégicas com títulos de jogadas de xadrez… pouco, na minha visão.

    MÉDIO

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Fabio!

      Agradeço pela leitura franca e pela organização do desafio. Ficar em 2º lugar com uma proposta tão arriscada já é uma grande vitória para mim.

      Entendo perfeitamente a observação sobre a densidade do texto. Foi uma escolha estilística consciente: tentei mimetizar, através da ‘complexidade’ das frases, o peso sufocante e burocrático que aquela comunidade sente. A ideia era que a leitura tivesse, de fato, essa gravidade, para que o leitor sentisse o cansaço dos personagens. Fico feliz que, no saldo final, tenha soado crível e evitado o panfletarismo.

      Sobre a adequação ao tema, respeito sua visão, mas gostaria de defender a proposta conceitual: minha intenção foi não limitar o xadrez a um ‘cenário’ (pessoas jogando), mas usá-lo como a física daquele universo.

      O tema não está apenas nos títulos, mas na mecânica dos eventos: a impossibilidade de recuo social (como o Peão), o sacrifício material para ganho posicional (Gambito), a força bruta linear (Torre/Polícia) e a transformação final (Promoção). Para mim, construir a trama sobre a lógica do jogo é a forma mais profunda de honrar o tema, indo além da presença literal do tabuleiro.

      De toda forma, agradeço por ajudar a tornar possível experiências como esta.

      Abraço!

  7. Amanda Gomez
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Temos um conto sensível, consciente e atual, daqueles que não são feitos para entreter, mas para provocar reflexão. O que mais se destaca pra mim é a forma. A escrita é muito rica, carregada de expressões que ficam na memória, muito bem elaborada toda ela. O texto, como já mencionado, é atual… acontece todos os dias e continuará acontecendo.

    O xadrez é introduzido de forma metafórica e bem sutil. Sutil demais pra eu pensar que está realmente dentro do tema, me fez duvidar, mas não cheguei a uma conclusão. Poderia ser qualquer jogo mencionado… o xadrez acaba deixando tudo mais profundo.

    O personagem que não se apresenta é quase onisciente, o papel dele é, através da sua visão, mostrar ao leitor todo o contexto, ainda que corra o risco de ser muito pessoal.

    É um texto denso, difícil de ler e com um propósito bem definido.

    Parabéns pelo trabalho, boa sorte no desafio!

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Amanda!

      Muito obrigado por essa leitura tão profunda e sensível. Fico honrado que a ‘forma’ e a riqueza da escrita tenham te marcado, pois a intenção era realmente provocar reflexão e não apenas entreter.

      Sobre a questão do tema e a dúvida se ‘poderia ser qualquer jogo’, gostaria de defender o porquê do xadrez ser o único jogo que sustenta a metáfora central da história.

      Diferente de cartas ou damas, no xadrez o Peão tem uma característica trágica única: ele nunca pode recuar. Essa regra dita a vida dos personagens — eles só têm a opção de seguir em frente ou serem capturados. Além disso, a Promoção (o peão virar Rainha/Dama ao chegar no fim) é a única mecânica de jogo que permitiria o desfecho da ‘voz’ conquistada. Se fosse outro jogo, a hierarquia e o sacrifício (Gambito) não teriam o mesmo peso estrutural.

      Fico muito feliz que, mesmo com essa dúvida inicial, o texto tenha soado profundo e atual para você.

      Grande abraço!

  8. danielreis1973
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    O Jogo da Vida (Vera Menchik)

    Narrado por uma líder comunitária de um bairro periférico, o conto relata o assassinato de um jovem promissor — morto a caminho do cursinho, e rapidamente classificado pela polícia como “conflito entre facções”. Nada diferente do que a realidade que estamos vendo no jornal. Mas organizar isso num jogo de xadrez foi bastante criativo, com cada movimento é calculado para resistir à intimidação policial e tornar público o que aconteceu de verdade. Terminar o conto com o registro oficial do boletim da corregedoria e a reflexão final de que a luta comunitária é contínua, não vitória, deu um gosto meio amargo de realidade à história.

    (Apenas como comentário, a imagem do conto me deixou esperando um clima meio “blaxploitation”, filmes dos anos 70, o que não se confirmou na leitura…)

    PONTOS POSITIVOS

    Estrutura em “lances de xadrez”: o uso de títulos de jogadas (Abertura, Xeque, Gambito, Zugzwang etc.) cria uma certa dificuldade para quem, como eu, não tem muita afinidade com o jogo. Mas é válida e criativa.

    Voz narrativa: a narradora tem timbre próprio — firme, poético, politicamente lúcido, sem melodrama. A mistura de lirismo com pragmatismo (“tremer e firmar”, “o microfone desligado é uma cortina que cai”) é um dos grandes trunfos do texto.

    Personagens secundários:

    Mesmo sem nomes, todos são reconhecíveis: o relojoeiro mentor, o dono do bar, o rapaz que transmite, o professor, as mães. Pequenos gestos definem personalidades inteiras. Um dos poucos contos que conseguiram isso.

    Os detalhes do bairro (bar, costureira, praça, câmera, viatura lenta, fichas e protocolos) são apresentados sem vitimismo: é a vida real com sua dignidade, dureza e humor seco.

    Final complexo: assume o empate como metáfora moral: justiça formal não apaga ferida social. 

     PONTOS A MELHORAR

    (Nenhum deles compromete a qualidade; são ajustes para maior precisão e ritmo.)

    A intensidade alta é quase contínua, há poucos respiros. Talvez caiba um ponto de pausa (um momento doméstico, uma lembrança suave) antes do confronto final, para dar contraste.

    A figura do assassino chega tarde na história: embora isso funcione tematicamente (a violência aparece do nada), o antagonista é mais símbolo que presença dramática. Um pequeno eco anterior — uma sombra, um comentário, um rumor — aumentaria a antecipação da ameaça.

    O excesso de termos técnicos (Td8, Re7 vs Re5, etc.) exige familiaridade mínima com o xadrez, coisa que eu não tenho. Por isso acho que perdi alguns lances aí…

     Trechos com muita informação:  Em “Zugzwang” e “Coluna Aberta”, a quantidade de ações (protocolar, anexar, acionar, pedir, transmitir, convocar) corre o risco de transformar emoção em relatório. É coerente com a burocracia, mas pode ser ligeiramente mais ritmado.

    Reproduzir o extrato oficial no final, embora seja um contraste, quebra um pouco o tom literário — ainda que funcione como documento.

    Desejo a você boa sorte no desafio!

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Daniel!

      Uau! Que leitura minuciosa e técnica. Muito obrigado por dedicar esse tempo para analisar cada engrenagem do conto. Seus pontos positivos sobre a voz narrativa e a construção dos personagens sem nome (que bom que a personalidade deles transpareceu nos gestos!) me deixam muito realizado.

      Gostaria de comentar os pontos de melhoria, que são observações fascinantes:

      1. Sobre a Imagem e o Clima: A foto escolhida é uma releitura da Pietà (a Virgem Maria segurando o corpo de Jesus), focada na dor sacra do luto materno. A expectativa de ‘Blaxploitation’ talvez tenha vindo de uma leitura diferente da estética, mas a intenção era puramente a solenidade da tragédia, o que conversa com o tom ‘sem melodrama’ que você elogiou no texto.
      2. Sobre a Intensidade e o Antagonista: Você tem razão, há pouco respiro. Foi proposital para simular a asfixia de quem vive essa realidade, onde não há tempo para o luto doméstico antes da luta política. O antagonista demora a aparecer (e é quase impessoal) porque o verdadeiro inimigo não é um homem só, mas a onipresença do Sistema (as Peças Brancas).
      3. Sobre os Termos Técnicos e o ‘Relatório’: Entendo perfeitamente que a sopa de letrinhas (Td8, etc.) e o trecho burocrático em ‘Zugzwang’ possam cansar. É um risco calculado: a ideia era usar a frieza da notação e a chatice do protocolo como ferramentas sensoriais, fazendo o leitor sentir na pele a burocracia fria que a personagem enfrenta. O documento final quebra o tom literário justamente para mostrar que a vitória, no fim, é apenas um papel carimbado, e não um alívio emocional.

      Sua análise foi cirúrgica e enriqueceu muito o debate sobre o texto. Muito obrigado!

  9. Fabiano Dexter
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Um Garoto é executado na praça perto de sua casa e os moradores da região, em busca de entendimento do que ocorreu e justiça, investigam e agem após descobrir que o executor era um policial.

    Tema

    Achei que o tema aqui passou um pouco à margem, fora do foco principal.

    Construção

    Um texto excelente e muito bem escrito e desenvolvido.

    Achei o resultado mais uma Crônica do que um Conto, algo que eu, como bom engenheiro, não sei diferenciar. Ou seja, zero impacto na avaliação ou nota.

    Impacto

    A realidade mostra que não há final feliz e que o impacto de uma morte na vida das pessoas é para sempre. Um bom fim para uma excelente história.

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Dexter!

      Muito obrigado pela leitura e pela excelente avaliação da escrita!

      Achei curiosa e muito pertinente a sua observação de ‘engenheiro’ sobre a diferença entre Crônica e Conto. Na verdade, tomo isso como um grande elogio! A Crônica geralmente retrata o cotidiano nu e cru, e se o texto passou essa sensação, significa que o realismo da narrativa funcionou, fazendo a ficção parecer um relato verídico do dia a dia.

      Sobre o tema ter passado ‘à margem’, a proposta foi um pouco diferente do habitual: em vez de colocar o xadrez como o assunto principal da conversa, usei o xadrez como a engenharia da estrutura. Cada movimento dos personagens respeitava a física das peças (o Peão que não recua, a Torre que ataca em linha reta, o Gambito). O tema estava na fundação do ‘edifício’ da história, e não apenas na fachada.

      Concordo plenamente sobre o impacto: finais felizes nessa realidade seriam artificiais. O ‘empate’ amargo era o único resultado honesto possível.

      Obrigado!

  10. cyro eduardo fernandes
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Vera fez um texto denso sobre a violência, a burocracia e a omissão do Estado, correlacionando com situações do xadrez. Tocante e bem escrito. Boa sorte no desafio.

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Cyro!

      Muito obrigado pela leitura e pela síntese precisa.

      Fico muito satisfeito que você tenha captado o coração da história: o confronto entre a comunidade e a burocracia/omissão estatal, espelhado na estrutura do tabuleiro. A intenção era mesmo que essa correlação gerasse um texto denso e que provocasse reflexão.

      É gratificante saber que a história tocou você. Valeu pela torcida!

  11. Jorge Santos
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Gostei bastante da premissa do seu conto. A ligação da vida real aos momentos de um jogo de xadrez. Penso que a execução ficou aquém do esperado, por falta e fluidez no texto. O leitor deveria ter ficado agarrado à trama, mas isso não aconteceu.

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Jorge!

      Obrigado por apreciar a premissa de unir a vida real ao tabuleiro.

      Entendo perfeitamente a sua observação sobre a fluidez. Gostaria apenas de pontuar que essa característica ‘truncada’ do ritmo foi uma escolha de construção proposital, e não acidental. A história trata de burocracia, entraves legais e luto — situações que, por natureza, não são fluidas. Elas são arrastadas, pesadas e cheias de obstáculos.

      A intenção foi fazer com que a forma do texto mimetizasse o conteúdo: o leitor sente a dificuldade de avançar na leitura assim como os personagens sentem a dificuldade de avançar na busca por justiça (o conceito de Zugzwang). O objetivo era gerar imersão pelo desconforto e pela densidade, em vez de oferecer um entretenimento de ritmo acelerado.

      Sinto muito que essa abordagem não tenha te prendido, mas agradeço pela franqueza!

  12. Pedro Paulo
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    A escrita é sofisticada, tem forte teor poético e metafórico, abordando a tragédia da violência urbana de Estado pela via do simbolismo do Xadrez que desafia os entrecontistas desta vez. As seções dividem uma história nas etapas de um jogo estratégico de uma comunidade a enfrentar a injustiça da letalidade policial e da impunidade generalizada presente na outra ponta da bota que esmaga. O conto não volta a esse aspecto depois de mencioná-lo no começo, mas mais uma escolha interessante foi a racialização do embate tomada das cores do xadrez: as peças pretas, sempre em defesa, enfrentam as peças brancas. O texto adquire, portanto, o tom de um grito de protesto, reforçado pela escolha acertada de escrever em primeira pessoa, na forma do relato de uma das pessoas da comunidade. Há suspense nesse conflito e a angústia pelo desenlace cativa a leitura, ainda mais quando o paralelo com a realidade assombra quem lê com a compreensão de que desses conflitos geralmente saem perdendo os mais fracos. Portanto, uma outra boa escolha, em consonância com o paralelo do Xadrez, nem sempre muito bem evidente, foi a de dar um desfecho favorável aos periféricos que se levantaram contra o Estado, aproveitando da narradora na metáfora da ascensão de peão à dama. Senti que há uma intenção de inserir frases de impacto cuja recorrência às vezes é um pouco cansativa, mas o conto não perde ritmo ou potência, as peças se movimentam, digladiam, ascendem, apoiam-se e alcançam o xeque-mate.

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Pedro!

      Como sempre, o seu comentário é um dos melhores que recebi. Fico imensamente grato por você ter captado as nuances mais sutis que tentei inserir no texto.

      Você foi um dos poucos que destacou a questão da racialização via regras do jogo: o fato de as Brancas sempre terem o primeiro movimento (a iniciativa, a ação do Estado) e as Pretas jogarem na defesa/reação é a base fundamental dessa alegoria. Fico muito feliz que isso não tenha passado despercebido.

      Sobre o desfecho, a ‘Promoção’ foi, de fato, a única vitória possível: não a ressurreição ou a justiça perfeita, mas a conquista da Voz (tornar-se Dama/Rainha) para quem antes era apenas Peão.

      Sobre o desfecho, a ‘Promoção’ foi, de fato, a única vitória possível: não a ressurreição ou a justiça perfeita, mas a conquista da Voz (tornar-se Dama/Rainha) para quem antes era apenas Peão.

      Anoto com carinho a crítica sobre as frases de efeito. A intenção era manter o tom de ‘grito de protesto’ e manifesto, mas entendo perfeitamente que a recorrência pode gerar esse cansaço na leitura. É um equilíbrio difícil de atingir.

      Obrigado por dizer que o conto alcançou o xeque-mate. Sua análise enriqueceu muito o meu trabalho!

  13. Mariana
    27 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Para a avaliação ficar bem explicada, organizei os tópicos que construíram a nota

    História: 

    Há começo, meio e final (0,75)? Acompanhamos a história de um assassinato cometido por forças legais, a comunidade se organizando e as consequências de tal. Cumpre o requisito 0,75

    Argumento (0,75): É um argumento atual, dentro do Brasil de 2025. Parece ter se inspirado em fatos recentes, o que é válido. No entanto, o xadrez é muito sutil – nos subtítulos e em como a personagem que narra a história se denomina. 0,5

    Construção dos personagens (0,5): Os personagens são instrumentos da história e sua lição. Não sabemos o nome de ninguém e nada para além do que o narrador descreve. Acreditei que o menino poderia ter algo com xadrez, mas passa batido 0,25

    Técnica:

    A capacidade da escrita de prender (0,75): Senti que o recurso da descrição truncou a experiência. Um pouco mais de mostre, não conte. No entanto, acredito que foi uma escolha consciente e estética de quem escreveu. 0,5

    Gramática, ortografia etc (0,75): Escrita correta e coerente ao estilo proposto 0,75

    Impacto (1,5): Talvez a minha expectativa estivesse alta demais pela imagem, que foto linda. E expectativas altas são irreais… É um bom conto, dentro da sua proposta. 1,0

    • toniluismc
      16 de dezembro de 2025
      Avatar de toniluismc

      Olá, Mariana!

      Muito obrigado por compartilhar os critérios da sua avaliação de forma tão detalhada. É raro e muito útil receber um feedback estruturado assim, ajuda demais a entender a recepção do texto.

      Gostaria de comentar brevemente dois pontos cruciais que você levantou sobre a Construção e o Argumento:

      1. Sobre os Personagens e Nomes: Você foi cirúrgica ao notar que eles são ‘instrumentos’. A escolha de não nomeá-los foi deliberada para reforçar a desumanização do sistema e a metáfora do xadrez: no tabuleiro, não importa quem é o indivíduo, importa a função da peça (o Peão, a Torre, a Rainha). Eles precisavam soar universais e coletivos, peças de uma engrenagem maior, em vez de indivíduos ultra-particularizados.
      2. Sobre a Sutileza do Xadrez: Tentei ir além dos subtítulos, inserindo o xadrez na própria mecânica da trama — o fato de a comunidade só poder ‘andar para frente’ (como peões), o sacrifício material (o bar) para ganhar posição (Gambito) e a impossibilidade de recuo.

      Fico feliz que, mesmo com as ressalvas sobre o estilo de ‘contar’ (que foi uma opção estética para simular um relato/manifesto), a gramática e a estrutura tenham sido bem avaliadas. E concordo: aquela imagem da Pietà eleva a régua para qualquer texto!

      Obrigado pela leitura atenta!

    • Priscila Pereira
      25 de novembro de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Olá, Vera! (Compartilhamos quase o mesmo pseudônimo!) Tudo bem?

      Seu conto é muito bom! Muito bem escrito, e com uma crítica social muito importante e muito bem executada!

      Gostei da linguagem poética e metafórica que me deixou em dúvida de ter entendido realmente tudo ou não, como se tivesse uma camada subliminar que não consegui captar muito bem. É difícil escrever assim. É realmente uma escrita com personalidade própria!

      Gostei de como você usou o tema, de forma, inclusive o nome das jogadas abrindo cada “capítulo”. Sinto que se eu entendesse de xadrez e soubesse o que significa cada jogada, entenderia melhor o conto….

      O enredo é triste ainda mais que é de uma forma ou de outra um recorte da realidade. Mas é esperançoso, já que tem um final, se não feliz, satisfatório, com a insinuação de que a justiça será feita.

      Um ótimo conto! Parabéns!

      Boa sorte no desafio!

      Até mais!

      • toniluismc
        16 de dezembro de 2025
        Avatar de toniluismc

        Olá, Priscila!

        Que coincidência divertida com os pseudônimos! Somos quase xarás de caneta. rs

        Fico muito feliz que a personalidade da escrita e o tom poético tenham te cativado. Sobre a sensação de ‘camada subliminar’ por conta do xadrez, não se preocupe: você captou o principal, que é a emoção e a luta por justiça!

        O conhecimento técnico das jogadas serve apenas como um ‘bônus’ ou uma curiosidade extra para reforçar o tema. Por exemplo: a lógica do conto se baseia no fato de que o Peão é a única peça do jogo que nunca pode recuar. Usei isso para simbolizar que aquelas pessoas, diante da violência, só têm a opção de seguir em frente.

        Mas fico aliviado em saber que, mesmo sem conhecer as regras, o enredo te tocou e o final trouxe essa sensação de justiça possível.

        Muito obrigado pelas palavras gentis e pela leitura!

    • Gustavo Araujo
      17 de novembro de 2025
      Avatar de Gustavo Araujo

      Um conto forte, envolvente e bem escrito, retratando a violência policial numa comunidade qualquer de uma grande cidade cujo nome não importa.

      A voz narradora é interessante, mas em alguns trechos pesa a mão na grandiloquência, diluindo o impacto emocional — e olha que impacto não falta. Gostei muito da organicidade da comunidade, com seus diferentes personagens, cada qual com seu drama interno, e de como o “xadrez” funciona como metáfora, embora às vezes o tema apareça mais como ornamento do que eixo real do enredo.

      O texto é fluido, mas um pouco longo para o que quer contar; alguns parágrafos poderiam ser mais secos para ampliar a tensão. Emoção teve: indignação, tristeza, um certo alívio amargo no final. Não notei erros graves de gramática; só alguma repetição estilística.

      No geral, literatura de qualidade, madura, apesar de alguns excessos. Parabéns e boa sorte no desafio.

    • Kelly Hatanaka
      12 de novembro de 2025
      Avatar de Kelly Hatanaka

      Considerações

      Um estudante é assassinado em bairro periférico e a polícia parece prestes a arquivar tudo sob a justificativa de zona conflagrada. Porém, a comunidade junta provas que incriminam um sargento da polícia e, estrategicamente, se organiza para lutar por justiça e vencer retaliações.

      É interessante a ideia de que algo tão básico como justiça tenha que ser fruto de uma luta estratégica e complexa como um jogo de xadrez. A ideia é de que é fácil, muito fácil, sair da posição de vítima em busca de justiça para a posição de acusado, quando se está do lado mais fraco.

      No fim, a justiça é feita e nem mesmo isso parece trazer fechamento. O conto acaba numa possibilidade, uma prisão preventiva, um processo em andamento. São tantos desvios que podem sufocar a justiça, tanta coisa errada que ainda pode acontecer. E o menino nunca vai voltar.

      Gostei ou não gostei

       Gostei muito. É um conto impactante e forte.

      Particularmente, não gosto muito de temas sociais. Mas, eu gostando ou não, são temas importantes e este conto conta a história muito bem. A forma poética torna-se, por vezes, um pouco cansativa, mas acho que isso é proposital, pois a luta desigual por algo que deveria ser um direito básico, a justiça, também é cansativa. O caminhar da justiça e a condução das investigações são truncadas, avançam aos solavancos, como o texto. A narrativa fica, às vezes, nebulosa, da mesma forma como também não é claro, na vida, quem é confiável e quem não é. A poesia parece uma tentativa de dizer sem falar, como muitas testemunhas se veem impelidas a agir, em nome da sobrevivência.

      O que quero dizer é que, até o que parece “ir contra” o conto, para mim, é parte da narrativa e funciona bem. Durante a leitura, há coisas que parecem ambíguas, confusas, espelhando a realidade de quem sabe que não pode confiar no poder público ou na lei.

      Pitacos não solicitados

      Teria um monte de pitacos, mas acho que não é o caso. Leio este conto e o entendo como concluído, fechado, um texto que funciona perfeitamente tal como está. Penso que ele é exatamente o que o autor queria que fosse, o que é tudo o que uma obra artística pode esperar ser.

    • Antonio Stegues Batista
      8 de novembro de 2025
      Avatar de Antonio Stegues Batista

      A história de um homicídio, sendo um policial causador da morte de um jovem estudante sem antecedentes criminais. O crime foi registrado por câmera de segurança e a filmagem acidental de um tiktoker. A comunidade se reúne para cobrar justiça. A leitura é difícil por conta das metáforas, sentido figurado, e simbolismos. Há quem goste, que considera arte literária, há quem goste de um texto mais simples, sem questões filosóficas complexas. A elaboração das frases enfeita a escrita e não a história, que permanece a mesma. Acho que ficou faltando o tema. Na história não tem jogo de xadrez, tampouco referências a nenhuma das peças. Acredito que o autor tinha esse conto pronto e inseriu os títulos dos capítulos com referencias ao jogo. Aliás, existem mais referencias ao teatro do que jogo de xadrez. De qualquer forma dei nota 4,5 por causa da escrita.

    • andersondopradosilva
      8 de novembro de 2025
      Avatar de andersondopradosilva

      Olá, autor.

      Autor, fiquei encantado com o seu texto. Não é que ele não tenha defeitos, porque talvez ele tenha, mas eu os desculpo, pois, afinal, estamos em um desafio literário e, suponho, você quis impressionar este seu leitor aqui e, convenhamos, conseguiu.

      Meu primeiro incômodo com seu texto se deu com sua primeira frase. Não gosto de textos que iniciam com pedidos de desculpas. Parecem revelar uma fraqueza, uma insegurança. Mas é aquilo, literatura tudo permite se bem feito, e você sabe fazê-lo; e o pedido de desculpas vem acompanhado de uma bela justificativa, com o que eu lhe desculpo pelo pedido de desculpas.

      Também julguei que seu jogo de palavras e metáforas é, por vezes, demasiado elaborado e poético, quase hermético.

      Dito isso, achei a poética representação do periférico linda e necessária. Gostaria de ver essa literatura séria, nacional e socialmente engajada mais representada por aqui. Que inveja deste seu trabalho. Vou lhe dar as categorias de MELHOR CONTO, MELHOR TÉCNICA e CONTO MAIS IMPACTANTE.

      Nota 5

    • claudiaangst
      6 de novembro de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Olá, autor(a), tudo bem?

      Conto muitíssimo bem escrito e dentro do tema proposto pelo desafio.

      O xadrez e suas regras estão por todo o texto, com inúmeras metáforas e construções certeiras. Talvez alguém reclame que não está explícito. Eu não.
      • Ninguém perguntou o quê, tampouco > Ninguém perguntou o que era, tampouco

      A simbologia está presente em várias passagens, por exemplo, a mulher que um dia era considerada uma Rainha, já foi chamada de Dama da noite. Ou seja, o(a) autor(a) brinca com a polêmica em torno da nomeação da peça de xadrez: é dama ou rainha?

      “O nosso jovem mais promissor” > seria uma referência a Jesus, o sacrificado que a mãe carrega no colo e no coração enlutado?

      “[…] retroceder é luxo; e parar, uma imprudência” > os peões (trabalhadores, o povo) não podem se dar ao luxo de voltar atrás, nem podem ficar parados.

      Na narrativa há também o relógio a marcar o tempo de cada lance no tabuleiro da vida. Tudo muito bem amarrado, dando sentido à trama elaborada como denúncia social.

      Relacionar o xadrez com suas peças pretas e brancas ao jogo da vida, à realidade que nos rodeia, foi uma jogada de mestre. Parabéns!

      Começou bem com a imagem escolhida (referência à escultura Pietà), o título conciso e significativo. Esta leitora aqui, sem dúvida, percebeu a excelência da partida e se rendeu ao xeque-mate.

      Parabéns e boa sorte!

    • Luis Guilherme Banzi Florido
      5 de novembro de 2025
      Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

      Boa tarde, Vera! tudo bem?

      Esse conto me agradou pouco na forma mas muito no conteúdo. Muito mesmo. Vou começar pelo negativo (que é menos relevante) e vou passar pro positivo (que predomina).

      O único problema do seu conto pra mim é que ele é confuso demais. Posso definir como complexo e palavrudo. Achei que a linguagem é exageradamente floreada, e isso atrapalha o ritmo da leitura. Entenda: sua técnica aqui não é ruim, pelo contrário, é excepcional. Somente alguem que manja muito consegue fazer isso. Porém, eu achei que ela foi uma má escolha, pois, ao invés de me entregar à leitura e absorver, sentir, sofrer com o que estava sendo contado, em muitos moimentos eu me vi tentando decifrar frases. Isso deixou a leitura truncada e atrapalhou o ritmo pra mim, sabe? Acho que a mesma história podia ser contada de forma mais direta e menos floreada.

      Dito isso, vamos ao que interessa de verdade: que conto do cacete! Sensacional, pesado, revoltante. Me deixou com uma baita sensação de impotência. Aqui, ao menos, ao contrário do que a realidade geralmente nos entrega, você foi generoso ao nos permitir uma redenção final. Na vida real, não costuima ser assim. O conto nao tem medo de por o dedo na ferida, especialmente no momento em que vivemos. Acho que nao poderia haver hora mais propicia pra esse conto que agora, nao é?

      Enfim, é um conto sensacional, uma denuncia, um grito entalado na garganta. Mas poderia ser mais simples, sem tanto enfeite, privilegiando a fluidez e tornando-o mais acessivel. Parabens e boa sorte!

    Deixar mensagem para claudiaangst Cancelar resposta

    Informação

    Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4B, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .