EntreContos

Detox Literário.

Calibre 22 (Gustavo Araujo)

Quando chegou a Água Branca, Ricardo César estava tomado por um misto de curiosidade e receio. Bem, receio é uma palavra um tanto leve. Talvez pavor fosse mais apropriado. Mas é fato que precisava estar ali. Questão de sobrevivência, podia-se dizer.

Desceu do ônibus e viu-se envolvido pelo bafo quente e abafado típico do interior. Era um homem alto, ou pelo menos se achava alto com seu 1,80m. O rosto era quadrado, com os olhos pequenos e o maxilar firme se destacando quase tanto quanto o bigode farto, contrastando com o cabelo ralo. Vestia camisa de botão, aberta até o meio do peito, e tinha nas mãos apenas uma pequena pasta com itens básicos. Em um ou dois dias resolveria sua vida, tinha certeza. Ou quase certeza.

Olhou o celular. Sem sinal. Guardou o aparelho no bolso e esqueceu-se dele imediatamente. Em seguida prendeu os lábios e respirou fundo. Seria posto à prova mas haveria de vencer. Bateu no próprio peito com toda a virilidade que tinha, buscando confiança, deixando entretanto escapar uma tosse.

― Está tudo bem, senhor? ― perguntou um sujeito octogenário que por ali passava.

― Sim, está tudo bem, meu bom homem! Só preciso saber a direção do cemitério.

O velho arqueou a sobrancelha esquerda. Claro, o cemitério.

― É por ali ― disse casualmente. Tinha no rosto repleto de pregas uma expressão de familiaridade com a situação, de quem está acostumado a apontar o local do campo santo.

Fingindo indiferença, Ricardo César agradeceu e tomou o rumo indicado. Era melhor concentrar-se no caminho até o lote 34 da seção oeste da necrópole municipal, o sítio exato em que repousava eternamente o mais conhecido filho daquela cidade modorrenta, quiçá do Estado inteiro, o poeta Victor Climério.

Ah, sim, Victor Climério, que cinquenta anos antes havia abalado o universo literário nacional, dono de uma desenvoltura invejável no trato das palavras, o sujeito que transformava letras em sentimentos, que compunha rimas que desnudavam a essência de qualquer pessoa. Victor Climério, o homem de todos os amores, que despertava o desejo feminino – e, com a mesma intensidade, também o masculino –, enfileirando conquistas na mesma métrica de seus versos perfeitos, provocando admiração, inveja e ciúmes, o trinômio que levaria a seu trágico assassinato no auge da carreira.

Uma verdadeira bicha louca, pensou Ricardo César quase que defensivamente.

Muito se havia escrito sobre o crime que chocara o país meio século antes e muitas teorias ainda perduravam no submundo, mas havia uma unanimidade silenciosa segundo a qual o jovem poeta fora morto por uma mulher que se descobrira traída – isso mesmo, por uma mulher informada à boca pequena que seu marido e o conhecido autor viviam um tórrido romance – e que, ao surpreendê-los, fulminou Victor Climério com dois tiros à queima roupa.

Fosse como fosse, ninguém jamais comprovaria essa versão. A tal mulher, se é que existiu, nunca seria encontrada e no fim, o que passou para a posteridade, ao menos oficialmente, foi que Victor Climério morrera vítima de um ladrão que invadira sua residência. Um fim deveras anticlimático – além de mentiroso – para alguém tão admirado.

De todo modo, Ricardo César não estava tão interessado no que havia ocorrido antes da morte do sujeito, mas nos boatos que surgiram depois disso, especialmente junto à sociedade literária brasileira.

Peço um tanto de paciência à estimada leitora e ao prezado leitor. Logo tudo ficará mais claro.

Ricardo César era ele mesmo um escritor, desses que se veem por aí, desiludidos com o mundo literário, com a tirania do universo editorial. Considerava-se talentoso, experimentado, um autor maduro, pronto para o reconhecimento e o estrelato, cujos originais, no entanto, eram solenemente ignorados pelas casas de publicação, quando muito merecendo uma resposta padronizada dizendo que a obra não se encaixava no perfil editorial respectivo.

Isso já era difícil. Pior ainda era ver jovens imberbes, donos de uma retórica medíocre e vazia, alçados à condição de campeões de vendas com obras ridículas que não serviam nem como peso para segurar porta.

A situação havia chegado ao limite. Ele, que prezava pela densidade de qualquer concepção literária, pelo diálogo de alto nível com a psique humana, tomara o rumo de Água Branca justamente para corrigir essa injustiça, ao menos no que dizia respeito a si próprio.

Há tempos corria a lenda de que para escritores fracassados, ou melhor, para escritores que por algum motivo não haviam conseguido um lugar ao sol, um contato mais íntimo com o espírito do poeta Victor Climério poderia destravar uma inspiração diferenciada que, ao fim, resultaria no reconhecimento do público e da crítica.

Parecia mentira, claro, mas havia casos praticamente comprovados de que aquilo funcionava mesmo. Romeu Farias, Ebenézer Luiz, Martinho Roberto e João José Figueroa eram escritores pífios que, depois de terem rendido homenagens ao aguabranquense mais famoso da história, haviam se transformado em autores requisitadíssimos em todos os círculos por suas obras de alta literatura, abocanhando prêmios de diversos quilates, à exceção do prestigioso Javali, reservado apenas ao panteão-mor da literatura nacional.

A lenda era verdadeira, portanto. Mas tinha um custo. E era isso que deixava Ricardo César apreensivo.

Segundo diziam, a inspiração introjetada pelo falecido autor – e o consequente sucesso profissional de quem dele se socorria – tinha como contraprestação o abalo das convicções masculinas mais arraigadas. Sim, pedir ajuda ao ghost writer mais influente do mundo sobrenatural custaria ao pretendente o questionamento de sua própria macheza.

Ricardo César era um homem orgulhoso de sua virilidade, do fato de praticamente transpirar testosterona. Em uma situação normal, jamais se sentiria atraído por outros homens, isso era certo. Mas Romeu Farias, Ebenézer Luiz, Martinho Roberto e João José Figueroa, autênticos representantes da espécie exclusivamente heterossexual masculina, verdadeiros highlanders do planalto brasileiro, terminaram aderindo à baitolagem e à comunidade LGBT logo depois da fama decorrente da citada interveniência do além.

Aquilo fazia Ricardo César tremer, mas, pensando bem, talvez aquela turma já mordesse a fronha desde muito antes, sem ninguém saber. Não aconteceria com ele. Sem chance.

Antes de chegar ao cemitério, parou em um bar, desses em que se vê uma mesa de sinuca com seus longos tacos e bolas coloridas. Deixou-se hipnotizar por um segundo. Balançou a cabeça e dirigiu-se ao balcão. Logo atrás estava um sujeito que parecia ser o dono do lugar, um homem de meia idade de barriga saliente, com um pano de prato jogado sobre o ombro. O impulso de Ricardo César foi de pedir a ele uma latinha de fanta. Por sorte deteve-se a tempo.

― Café preto ― disse, mais ríspido do que queria. ― Sem açúcar, por favor.

O sujeito observou-o por um segundo. Pegou uma garrafa térmica sob o balcão e encheu um copo de vidro com o líquido fumegante. Ricardo César não titubeou. Virou tudo de uma vez, sentindo a bebida rasgando goela abaixo.

― Bom! ― disse estalando os lábios, repousando o copo sobre a tampa de fórmica. Estava contente com a própria performance, apesar da garganta em chamas.

― Quer comer alguma coisa? ― perguntou o sujeito, pouco impressionado. Tinha uma caneta atrás da orelha, apontando para cima.

― Sim, quero uma linguiça ― respondeu Ricardo César, os olhos estreitando-se em desejo. ― Uma bem gran…

Assustou-se de imediato com a própria resposta. Sentiu um calafrio, uma gota de suor escorrendo pela testa. O homem atrás do balcão voltou a examiná-lo. Intrigado, disse:

― Linguiça faz muito sucesso por aqui. Pessoal de fora gosta muit…

― Não. Esqueça. Não quero nada.

Largou o dinheiro amassado sobre o balcão e retomou o caminho do cemitério. Precisava resolver logo aquela história.

O túmulo de Victor Climério era visível desde a entrada da necrópole. Um mausoléu enorme, coberto de granito, que se destacava ante as mirradas sepulturas em volta. Não era sua opulência, porém, que havia perpetuado no meio literário a fama do poeta morto há cinco décadas. O verdadeiro ímã, a verdadeira razão pela qual toda a sorte de escritores injustiçados ali buscavam inspiração consistia na estátua do falecido.

Esculpida em bronze, em tamanho real, posicionada diante de todo o conjunto arquitetônico, não era uma estátua como você, prezada leitora, estimado leitor, está a imaginar, com o sujeito em pé, numa posição heroica brandindo uma pena ou algo do tipo. Na realidade, era uma estátua que replicava, com detalhes próximos do hiper-realismo, a posição exata em que Victor Climério fora encontrado pela polícia após levar os dois tiros que lhe ceifariam a vida aos 26 anos de idade. Deitado de costas, o braço esquerdo sobre o peito vazado e o direito acima da cabeça; os cabelos longos e revoltos, a expressão quase ingênua traduzida pela boca entreaberta e pelos olhos semicerrados.

A estátua era tudo o que diziam, pensou Ricardo César ao contemplá-la. Ia dizer que era um arraso, mas freou a expressão antes que lhe escapasse da boca. De qualquer maneira, era uma obra impressionante, já que permitia a qualquer um acreditar, ao menos por um momento, que ali estava o poeta, verdadeiramente, a um passo da eternidade.

Não pôde evitar a constatação óbvia. Mesmo em sua versão esculpida, Victor Climério era… inacreditavelmente bonito. Uma combinação de Alain Delon com Burt Lancaster, ou talvez até mesmo Henry Cavill misturado com Brad Pitt. Que homem, que…

Tossiu de propósito para despertar do devaneio. Constrangido consigo mesmo, viu que precisava reagir.

― Você é que é homem, Ricardo César ― disse, como quem dá uma ordem, apertando as têmporas com os indicadores. ― Não existem homens bonitos. No máximo, muito no extremo da possibilidade, existem homens bem apessoados. Sim, no máximo isso. Aí dá para admitir. Victor Climério era um homem lin… BEM APESSOADO. Bem apessoado! Só que o negócio dele era outro, certo? Jogava no outro time. Alguma dúvida? Não! Agora trate de terminar o que veio fazer aqui. Sei que é difícil, mas você consegue.

Por sorte estava sozinho. Deu um tapa no próprio rosto sentindo a bochecha arder. Respirou fundo. Agora é que vinha a parte mais difícil.

Encarou a estátua mais uma vez. Para destravar a inspiração de que necessitava e assim conceber a obra que encantaria público e crítica, tinha que tocá-la. Não em um ponto qualquer, mas em um local específico, o único que permanecia brilhando quando todo o resto já sucumbira à ação do tempo. Ali, um palmo abaixo da linha da cintura, na generosa protuberância em formato longitudinal, de exatos 22 centímetros, que fazia presumir que o poeta fora muito bem aquinhoado pela natureza.

Sim, o êxito no mundo da escrita – ao menos em decorrência do sobrenatural – dependia do que vulgarmente se conhece por patolagem. Precisamente o que, no limite, levava os escritores em busca de reconhecimento a duvidar da própria masculinidade e por fim sucumbir à boiolice.

Não comigo, pensou Ricardo Cesar, o autodeclarado legionário, o homem que lavava os cabelos e o bigode com sabão em barra. É só friccionar um pouquinho, disse a si mesmo. Que mal há nisso? Ninguém vai ver mesmo… É só mais uma parte do corpo humano…

Ainda assim suas mãos tremiam.

Pense em algo aleatório, ordenou a si. Em futebol. Sim, em futebol. Você gosta de futebol. Um esporte viril, de macho. Os homens atrás da bola, fazendo lançamentos, correndo e chutando. E depois trocando as camisas, os peitos nus e suados, as pernas grossas se roçando e…

Concentre-se!

Balançou a cabeça mais uma vez. Ninguém disse que esse momento seria fácil. Concentração! Esta é a sua hora! É o momento de romper com a pequenez, de tornar-se uma referência, de salvar a literatura, de ver seus livros nas grandes lojas, de dar entrevista para o cara do Lume. É hora de poder usar a palavra “outrossim” sem receio de que digam que ela é difícil, datada ou algo do tipo. O mesmo valendo para fugidio, extemporâneo ou inobstante.

Súbito um pensamento cruzou sua mente. E se tudo realmente não passasse de crendice? E se a lenda fosse mentira? E se o sucesso de Romeu Farias, Ebenézer Luiz, Martinho Roberto, João José Figueroa fosse pura coincidência? Teriam eles realmente visitado o túmulo de Victor Climério?

Acorde, Ricardo César, é hora de ser racional, de esquecer essa história impossível.

Estava a ponto de sair dali, de marchar de volta à rodoviária quando olhou uma vez mais para a estátua. Foi quando sentiu uma ereção se insinuando e o instinto se impondo. Ah, às favas com tudo! Precisava tomar aquele volume todo nas mãos. Sim! Agora, nem mesmo se um médium profissional aparecesse e lhe garantisse que tudo aquilo era mentira Ricardo César deixaria de apalpar Victor Climério.

Ajoelhado, numa espécie de transe, entregou-se à bolinagem. Percebia que era isso, desde o princípio, o que buscava ao vir a Água Branca. Só isso. Que toda aquela justificativa sobre salvar a literatura era conversa fiada, que seu desejo real fora, desde sempre, descobrir-se em sua plenitude, abraçar com seus próprios dedos aqueles 22 centímetros de bitola. Agora estava feliz, estava realiz…

Levantou-se de plano, com vergonha de si mesmo. Olhou para os lados. Ninguém a vista, felizmente. Juntou sua pasta e tomou o rumo do centro de Água Branca aos tropeções, sem olhar para trás, enraivecido até.

Meses mais tarde, um inquieto Ricardo César foi despertado por uma voz em sua cabeça em plena madrugada. Sem controlar os próprios impulsos, ligou o computador e pôs-se a martelar as teclas com dedos ágeis. Estava em êxtase. Uma história, que nem mesmo ele sabia qual era, brotava de suas mãos e saltava para o monitor. Não era mera inspiração, mas verdadeira psicografia. Victor Climério falava através dele. Era verdade, tudo verdade. Em breve viria a fama, o dinheiro… E o melhor, com sua masculinidade de bárbaro visigodo praticamente intacta.

Dali a oito horas, exausto, com o pijama empapado em suor, viu-se clicando no botão “enviar” do site da “Deserton”, a maior loja de livros on-line no mundo, para inscrever a obra recém concebida no famoso prêmio “Bingle”, que agregava autores independentes e que prometia publicação com a grande editora “Solitária das Letras” para os vencedores.

Depois que os três jurados leram em quinze dias as 798 obras inscritas, os ganhadores foram anunciados. Claro, Ricardo César foi o grande campeão, com o livro chamado “O estagiário e o C.E.O”, escrito sob o pseudônimo Ricky Sweet, trazendo na capa dois rapazes usando calças jeans, sem camisa e de abdomens chapados.

Dias após a divulgação, uma mensagem de voz chegou a seu celular. Era alguém que se identificava como representante do Grupo Arco Yris – assim, com ‘Y’ mesmo, enfatizou –, convidando-o para um ciclo de palestras.

Ricardo César sequer titubeou. Retornou a ligação no ato:

― Ricky aqui. Podem contar comigo. Se quiserem posso trabalhar como estagiário – disse soltando uma gargalhada libertadora.

Sobre Fabio Baptista

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19 comentários em “Calibre 22 (Gustavo Araujo)

  1. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 1/1 – Hahaha, que coisa de louco! Gostei desse enredo nonsense, mas muito provável, por que não seria? Hehehehe…

    Criatividade: 1/1 Muito, muito criativo. Foi o que mais se encaixa no tema de comédia, faltando mais dois além dele pra eu ler e acreditando que os dois não sejam de comédia.

    Fluidez narrativa: 1/1 – Muito fluído de ler. Eu ri imaginando a situação do cemitério e depois sobre a parte do concurso.

    Gramática: 1/1 – Não enxerguei nada de errado ou descuidado.

    Gosto/Emoção: 1/1 – Eu gostei muito! Um conto divertido, que brinca com os romances hots. Parabéns pela ideia.

  2. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Pilar!

    Outro continho complicado de comentar… Ele está muito bem escrito, tem algumas sequências bem legais, mas senti mais desconforto do que leveza. Não me divertiu.

    A história gira em torno de um aspirante a escritor que vai atrás de uma lenda urbana que garantirá seu sucesso no mundo literário. Só tem um problema: o protagonista precisaria sacrificar sua hombridade. Para alguns, pode ser uma premissa engraçada, mas, pra mim, não funcionou.

    A progressão da transformação, ou libertação, do protagonista acontece de forma gradual na narrativa, antes mesmo dele chegar ao túmulo de Victor Climério. Mas tudo acontece de forma pouco natural. Ele fica cismado com a lenda, aí, do nada, começa a ter medo de falar sobre linguiça e afins — numa tentativa de reafirmar sua hombridade —, depois fica excitado no cemitério, pra, no final, escrever um hot mequetrefe, ganhar um prêmio e soltar a franga. Pra mim, tudo ficou meio forçado, o que tira o brilho.

    A narrativa também é engessada e densa. O humor, que é a leveza e o divertimento do leitor, é esquecido. Ideias são repetidas toda hora. É uma comédia, certamente, mas não me conquistou.

    Abração!

  3. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Pilar!

    Engraçado como seu conto conseguiu se traduzir em minha cabeça como aqueles antigos especiais da TV Globo que tinham, invariavelmente, Marco Nanini ou Luiz Fernando Guimarães como protagonistas em adaptações literárias humorísticas de clássicos da literatura brasileira. Acho que ambos poderiam encarar um bom Ricardo César.

    Acho que o principal de seu conto é o enredo. A brincadeira com a musa/ghost writer foi muito bem sacada, bem conduzida e, se não é daquelas comédias de arrancar risadas, é daquelas que nos colocam em estado de divertimento, pois colocam o leitor frente a situações absurdas, disruptivas, cuja única opção é achar graça. A crítica ao machismo, num plano paralelo, adiciona uma camada extra de atratividade. Minha única crítica aqui foi com o excesso de menções ao EC e agregados, pois pareceu uma tentativa meio gratuita de ganhar pontos com os participantes.

    Por outro lado, acho que esse conto merecia uma revisão bem profunda no que diz respeito a pontuação, sobretudo no que diz respeito à utilização de vírgulas, principalmente no começo do texto. Tem várias passagens que pedem separações (“seria posto à prova, mas haveria de vencer”, “deixando, entretanto, escapar uma tosse”, “pensou Ricardo César, quase que defensivamente”). Outro aspecto que poderia ser revisto é com as sonoridades e repetições de termos, que poderiam ser aprimoradas (“pelo bafo quente e abafado”, “era um homem alto, ou pelo menos se achava alto”, “tinha certeza. Ou quase certeza”).

    E eu entendo que o texto se quer cômico, e por isso algumas construções fazem mais sentido aqui do que fariam em outros textos, mas vou dar um exemplo do que não entendo o motivo do porquê serem utilizadas: quase que defensivamente. Veja só, não há motivo por ser quase que defensivamente, poderia ser defensivamente, simplesmente, ou quase defensivamente, sem prejuízo para o entendimento. Nota-se um certo abuso de advérbios, realmente, felizmente, praticamente, que chegam a inundar certos parágrafos, gerando algum ruído.

    No geral, minha opinião é a de que é um conto desequilibrado. Tem uma ideia de enredo muito bem sacada, que ganha muitos pontos comigo, pois é o que mais admiro num conto, mas encontro muitos problemas na parte técnica, transformando a leitura em algo não tão prazeroso.

    É isso. Boa sorte no desafio!

  4. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    Penso que infelizmente o conto não conseguiu atingir aquilo que desejava. Se era pra fazer rir, não fez.

    Percebe-se que o(a) autor(a) tem domínio da escrita e consegue prender o leitor com a história. No entanto, em determinado momento, a narrativa pareceu se perder um pouco. Talvez, se o limite de palavras do desafio fosse maior, teríamos uma trama mais desenvolvida e completa.

             Enfim, escrever contos cômicos não é tarefa fácil e o gosto pessoal pelo que faz rir conta muito na avaliação.          Desejo boa sorte!

  5. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    Infelizmente poucos apostaram no humor, e é compreensível, por ser o gênero mais difícil. O humor exige dedicação ao leitor – o escritor deve sempre pensar, enquanto escreve “isso é engraçado para o  leitor”? Nem todos os gêneros exigem essa preocupação. 

    Mesmo que seja o mais difícil dos gêneros, há uma vantagem: se o autor acertar, é nocaute na certa. 

    E creio que o ator acertou, o texto tem passagens realmente engraçadas, principalmente quando satiriza os eminentes poetas que tanto lotam academias de letras Brasil afora. 

    As partes referentes ao questionamento da sexualidade do poeta Ricardo não funcionaram muito para mim, não porque não sejam engraçadas, mas porque nesses momentos a caricatura rompeu escancarada o que até então estava sendo apenas elegantemente aludido. 

  6. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): um escritor fracassado, que se achava macho, bulina a estátua de um grande escritor gay e consegue escrever um romance com CEO no título e abdômen na capa.

    Achei o início um pouco cansativo. Comecei a ler a abandonei duas vezes. O conto só me ganhou quando a premissa foi apresentada. Achei que poderia cair em piadas homofóbicas, mas era o protagonista que se achava machão que estava saindo do armário. A cena do boteco, por exemplo, é bem engraçada.

    O salto temporal ficou forçado. Ele realmente ficou meses sem escrever e sem se assumir?

    O final foi dentro do esperado, mas o título e a capa do livro, assim como a frase final, me tiraram um sorriso.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐▫▫): descreve bem as cenas, irônicas no ponto certo, quase fugindo desse ponto em alguns momentos. É uma daquelas técnicas transparentes: não aparecem tanto, pois focam na narrativa. E faz isso bem.

    🎯 TEMA (⭐⭐): uma comédia, sem dúvidas.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫): boa, na média do desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐⭐▫): foi um conto que andou na corda bamba pra mim. Cansativo no início, perigoso logo depois e engraçado em alguns pontos. No fim, acredito que a experiência terminou positiva.

  7. rubem cabral
    24 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Pilar.

    Achei divertido o conto, bem criativa a história também, não imaginei o desenrolar ao ler o início do texto. Fora que “calibre 22” não me fez associar a outra coisa, hehe.

    O tema é meio controverso, contudo. Deriva da crença de que heterossexuais podem virar homossexuais por influência e tudo mais, mas as brincadeiras com estereótipos foram divertidas.

    A escrita é competente, os diálogos são bons e algumas descrições são bem inspiradas.

    Abraços e boa sorte no desafio!

  8. Fabiano Dexter
    24 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    A história aqui, olhando de forma direta, é bem simples. Escritor frustrado busca ajuda espiritual para vender livros. Mas a simplicidade acaba aí.

    O texto é muito bem escrito e nos leva por uma viagem em busca do sucesso editorial e os sacrifícios (ou não) necessários para que o mesmo possa ser alcançado.

    O desenrolar é muito bem-feito e a evolução do personagem, assim como de todo o universo literário em que o conto se encontra.

    Tema (1,0)

    Humor, sem deixar nenhuma margem para dúvidas. Me pegou em mais de uma passagem, ainda que use piadas aparentemente obvias como pedir uma Fanta ou linguiça no bar, elas são colocadas em um contexto e não ficam forçadas.

    Construção (1,5)

    A escrita está muito boa, com uma narração sendo feita diretamente para estimada leitora e para o prezado leitor, nos traz para dentro da história e nos envolve, usando de uma escrita mais rebuscada justamente para ficar mais evidente quando usa uma mais simples para descrever alguma ação ou visão do protagonista.

    Impacto (1,0) Alto, pois terminei de ler o conto ainda com um riso no rosto. Excelente!

  9. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    O autor sabe escrever. Palavras bem colocadas, termos pouco utilizados, simplicidade e elegância. “extemporâneo “, essa palavra existe mesmo? O inventor do nosso idioma não tinha limites. Particularmente, não acho bacana ficar usando palavras que ninguém sabe o que significa – palavras que são tão vivas como o idioma egípcio cuneiforme. Mas enfim. Gostei do texto, bem divertido. Li neste mesmo site uma crônica ou artigo que pareceu ser a inspiração pra esse conto. Um desabafo sobre o mundo editorial e suas injustiças. Ah se fosse tão fácil como tocar numa estátua, né? Mas não é. Pior que “o estagiário e o CEO” é um título que tem cara que faria sucesso, ao menos no watpad. O personagem é um machão que não combina muito com alguém ligado em “alta literatura”. Esse pormenor causou uma pequena contradição na história. Parece quase que ele ia sair gritando “viva o bolsonaro”. Enfim, a história foi escrita pelo e para o certame, fazendo sentido especialmente para todos os autores amadores que pululam a turma do EC. Talvez muitos se enxerguem no Ricardo Cesar, especialmente quem já teve a ilusão que ele teve. Eu não, pois tenho certeza que pra atingir certos níveis de exposição é preciso ter contatos e ser uma “figurinha marcada”. Literatura feita pra vender nunca é apenas literatura, sempre contém algum tipo de propaganda embutida que é do interesse de alguém no poder transmitir para as massas. Enfim, foi uma comédia pra lá de divertida, nem vi o tempo e as linhas passando ao ler. Leitura agradável. Técnica alta. Conteúdo despretensioso. Só agora entendi o trocadilho do título: sagaz. Gostei também da descrição tão clichê e visual do dono do bar. Mas enxergo também toda a frustração por trás do personagem. A história é quase uma desistência de fazer algo que faça sentido maior para as massas, contentando-se em apenas escrever para e pelo desafio.

  10. Kelly Hatanaka
    21 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Divertido e engraçado. Só me chamou atenção que a derrapada com a linguiça no bar aconteceu antes da visita ao túmulo, então, será que podemos botar tudo na conta do Climério? Sei não.
    Muito bom. Eu só não gostei muito dos últimos parágrafos, sobre o grupo arco yris e a tal gargalhada libertadora. Sei lá. Chatice minha. Ficou ótimo assim mesmo.

  11. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, autor ou autora. Estou completamente confundido com o género da autoria, tal como me confundiu o título. Estamos perante um exemplo de terrir. Ou seja, terror mais comédia. Nele, um autor em crise criativa viaja até a uma cidade do interior para tocar na linguiça da estátua de um poeta famoso, igualmente famosa por trazer inspiração a desinspirados. Reza a lenda que, para além de trazer inspiração, torna o autor em homossexual, mas este ligou o “que se foda” e siga. O terror é psicológico e vem do medo do autor nesta transformação. A comédia vem do mesmo processo. Gostei do conto, mas creio que teria gostado ainda mais se o narrador fosse menos interventivo e se não abusasse das palavras cortadas. Nota: eu já usei isso nos meus livros e arrependi-me sempre. Tem de haver um motivo muito mais forte do que os motivos patentes no seu texto. Fora isso, gostei bastante, mas não o suficiente para dar nota máxima. Nota2: durante a leitura, diverti-me a imaginar que o autor desinspirado era o nosso caro colega Anderson.

  12. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    Ridicularizar a literatura de mainstream é sempre um bom assunto. O que me parece enfraquecer a brincadeira aqui é que, pra fazer isso, a tua história exagera na tiração de onda com os gays. Se fosse menos insistente, se fosse apenas uma alusão, digamos, ao medo do personagem principal de se assumir homossexual, mas a brincadeira vai ficando progressivamente explícita e, progressivamente, vai perdendo a graça. Achei mais produtivas, mais divertidas, as piadas com os nomes das editoras e dos prêmios. Velha história, em comédia: por que bater no oprimido, se tu pode bater no poderoso? 

  13. Cyro Fernandes
    19 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Conto bem humorado, criativo e com boa técnica.

    A originalidade é um ponto forte. Poderia ter um pouco mais de terror.

  14. Rodrigo Ortiz Vinholo
    17 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    O “talento” do autor estava lá o tempo todo… ou o fantasma o inspirou? O segredo era se liberar, ou havia mesmo magia na “caneta” do escritor falecido? Piadas à parte, achei divertidíssimo! Aquele tipo de conto que sabe brincar muito bem com a voz do personagem e, ainda que caminhando sobre clichês e piadas que poderiam ser óbvias, ainda diverte muito. Somando a isso uma técnica cuidadosa, de vocabulário a timing nas piadas, mesmo um ou outro ponto que poderia soar como exagero funciona bem. Parabéns!

  15. Thiago Amaral
    17 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Gostei bastante da ideia do conto, e me empolguei logo de início com a premissa.

    O mundo literário naturalmente é interessante para os escritores, e esse tema sempre chama a atenção quando abordado numa história.

    As referências ao cenário literário atual são bem-vindas, onde o protagonista secretamente inveja a literatura LGBT e, principalmente, o sucesso de alguns nesse meio. Ele, que é tão profundo e culto, merece mais. É um personagem que a gente quer que se ferre, não é mesmo? Desejamos a transformação dele ao longo do conto.

    Infelizmente, me parece que a maior parte das piadas acabou girando em torno do fato de ele ser enrustido, o que pra mim perdeu um pouco do impacto. Se fosse algo mais sutil, talvez? Mas aí não seria o mesmo conto, isso é certeza.

    De qualquer forma, tantas pistas óbvias de que ele prefere Fanta a café, que ele queria linguiça, que a estátua tinha um pau de 22 centímetros, pra mim tudo foi um tanto óbvio. Pra contrastar, gostei de algumas expressões irônicas como “highlanders do planalto brasileiro”.

    De qualquer forma, adorei o final, com a fala libertadora dele. Consegui vizualizar perfeitamente o personagem, agora transformado. Gosto da ideia que, tocado pelo fantasma ou apenas tendo liberado seus desejos reprimidos, ele passou a escrever romances de “romance tórrido” (evitar essa expressão batida) estilo 50 tons.

    Aliás, esse tema me fez lembrar muito daquele conto do Leandro sobre a porta do banheiro, dois desafios atrás.

    Concluindo, então: um conto muito bem escrito, com uma ótima ideia, mas enfraquecido um pouco por algumas piadas meio óbvias.

  16. toniluismc
    14 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    O conto é uma sátira inteligente, bem executada e extremamente criativa sobre o universo literário, os preconceitos sociais e as aparências. O humor ácido é um destaque claro, funcionando como crítica e entretenimento simultaneamente.

    Ótima utilização das descrições e caracterizações do protagonista, que evidenciam tanto sua masculinidade insegura quanto seu conflito interno. A linguagem cômica é bem aplicada, mas em alguns momentos poderia ser levemente mais concisa.

    O conceito original do “pacto fáustico sexual-literário”, que leva escritores à fama às custas da própria identidade sexual é hilário, inovador e inteligente.

    Confesso que, de início, achei que não iria longe, mas gostei bastante da jornada. Parabéns!

  17. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Pilar.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Um escritor experiente, indignado com o cenário literário que alavanca autores de qualidade duvidosa, resolve visitar o mausoléu de um poeta consagrado cuja lenda promete sucesso a quem realiza o “ritual”, mas tal ato também gera um “efeito colateral”…

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: Pilar, sua escrita é impecável, uma das melhores até aqui. O texto não é rebuscado, tem fluidez e casa perfeitamente com a informalidade das cenas. É curioso também como o primeiro bloco nos induz falsamente para o aspecto dramático ou mesmo de horror com a ida do personagem-narrador ao cemitério. Mas isso se desfaz no segundo bloco do texto e vai ficando ainda mais cômico nos parágrafos seguintes.

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Plenamente adequado à comédia. Não tem como não soltar uma ou duas risadas – pelo menos no meu caso. É engraçado sem ser vulgar, pois o desenvolvimento foi se dando não no modo de um pastiche ou de algo escrachado, mas do suavemente cômico. Junte-se a isso a habilidade de um autor que parece dispor sentenças muito boas como se estivesse respirando ou comprando pão. Parece fluir naturalmente. Não é uma estória inovadora, nem precisaria sê-lo – mas é bem desenvolvida e brinca com certa masculinidade maleável. 

    O impacto não se trata de algo abrupto e inesperado, mas sim diluído na comicidade da lenda, de seu efeito e de como o protagonista age em face desses dois assuntos.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: Sim, várias risadas. Acredito que o próprio ar da cidade de Água Branca foi “maleando” a suposta alta masculinidade do protagonista, a menos que ele já tivesse desembarcado ali mole como gelatina.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: É um conto muito bom que envolve a busca de um escritor por um lugar ao sol, ainda que lhe custe ceder uns nacos de sua masculinidade. O conto brinca com estereótipos de maneira curiosa e sem ser exagerado, jocoso ou piegas. Nota: 4,7.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  18. Leandro Vasconcelos
    12 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Este foi o conto, até agora dos que li (e já cheguei à metade), que mais me fez rir! A cada parágrafo uma sacada diferente, que no final do texto tornou-se um sacão daqueles! Se é que me entende. Não, melhor deixar isso de lado! Pois ainda preservo a hombridade. Assim espero. Não vou ter delírios de grandiosidade literária para procurar a famigerada estátua de Victor Climério! Opa, já estou me tornando um Ricky Sweet da vida…

    Brincadeiras à parte, o texto me lembrou levemente de um conto do Stephen King chamado “Dois fios da mãe talentosos”, que, embora seja de suspense, possui igualmente essa vertente cômica. Além disso, os enredos se parecem: nele, dois amigos, indivíduos comuns e sem quaisquer atrativos, tornam-se extremamente talentosos no mundo da arte (um, como artista plástico; o outro, enquanto escritor) após um encontro sobrenatural bizarro.

    Mas o seu texto tem outros ingredientes, uma certa crítica social. Trata-se de um escrito que extrapola as características do machistão comum, o qual se revela um tanto inseguro de si e preso aos próprios preconceitos, talvez até receoso de assumir a própria sexualidade. No fim, Victor Climério se revela o catalisador do movimento de sair do armário! E essa ideia é transposta ao enredo não de uma forma panfletária, mas leve e bem-humorada. Ponto positivíssimo!

    A forma do conto é boa. O narrador intruso, aquele que dialoga com o leitor e opina sobre o próprio texto, foi uma estratégia inteligente, pois nos aproxima do pretendido teor cômico. Termos chulos e metáforas visuais foram bem empregados para realçá-lo. O título então, perfeito!

    Algumas construções de destaque: “highlanders do planalto brasileiro”, “o autodeclarado legionário, o homem que lavava os cabelos e o bigode com sabão em barra”, dentre outras. Ri demais!

    Gostei também do viés metalinguístico do conto, com referências ao próprio certame e ao mercado editorial. Ademais, parodia bem o gênero do terror, nessa ambientação de cemitério, espíritos e assuntos sobrenaturais.

    Enfim, um texto muito agradável de ler e que me rendeu grande divertimento! Parabéns!

  19. Afonso Luiz Pereira
    12 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Oi, Pilar! Como vai?

    “Calibre 22”, um excelente trocadilho dentro do contexto do conto, me enganou completamente nos primeiros parágrafos. Você usou um “clickbait” literário muito criativo, incluindo até uma imagem inicial que sugeria uma trama de vingança, ou um assassinato encomendado, algo violento. Claro, logo fica evidente que não se trata disso.

    Em primeiro lugar, parabéns pela tua escrita, muito bem elaborada e pontuada. Quando leio um texto assim, costumo dizer que ela corre lisa.  Aliás, o Entrecontos realmente agrega um povo de respeito no quesito literatura.

    O que achei mais interessante e criativo foi a maneira como a situação de Ricardo César vai se descortinando gradualmente. O conto começa com um tom sério, narrando a chegada de um escritor fracassado a Água Branca em busca de uma última cartada para o sucesso: um ritual supersticioso no túmulo de um poeta lendário. Aos poucos, a narrativa se transforma, revelando o humor sofisticado e a crise interna do protagonista.

    Gostei especialmente do desdobramento psicológico de Ricardo César, da sua luta para manter a pose de machão irredutível e da sua resistência, não tão resistente assim (rs,rs), a sair do armário. O humor é leve, inteligente e literário, com referências sutis que enriquecem o texto. Aliás, notei até um hábito machadiano na forma como você pede paciência ao leitor, o que adiciona um charme especial à narrativa.

    O conto, além deste humor sofisticado, também traz uma crítica divertida ao meio literário, à busca pelo sucesso e até mesmo à forma como a “boa escrita” nem sempre garante reconhecimento. São coisas da vida. Muito bem feito. A leitura me abriu alguns pontos de sorriso. Parabéns.

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .