A fechadura da porta foi trocada, a coleção de sapatos estava intacta e ninguém abriu o cofre. Só levaram as jóias esquecidas na mesa de cabeceira. Uma bobagem, graças a Deus.
Depois que a polícia foi embora, Stela finalmente jogou-se na cama e dormiu o sono profundo dos justos. Foi somente pela manhã, na hora do café, que deu falta da empregada.
Olá Thales. Muito obrigada pela leitura e pelo comentário.
Pena que você não curtiu. De qualquer forma a gente nunca consegue agradar todo mundo, né?
Mas, só pra você entender, essa não é uma história sobre roubo. O roubo é só a história visível, mas a história profunda é outra… A dica está no título…
O conto sempre conta duas histórias: uma história visível e outra oculta. Uma superficial, em primeiro plano. Outra, em segredo, no segundo plano. E o nosso trabalho como contista consiste justamente em saber codificar a história 2 nas entrelinhas da história 1. São como Icebergs. Existe uma história submersa, que cabe ao leitor desvendar.
Talvez eu não tenha conseguido fazer isso direito, então está anotada aqui sua crítica para reescrever o texto e melhorá-lo.
Mas o fato de você ter ficado intrigado, pensando em várias alternativas possíveis, é proposital. O efeito que quis provocar foi esse mesmo. No microconto, mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de “preencher” a narrativa e entender a história que está por trás da história escrita. A boa literatura se faz nas entrelinhas. 😉
Essa resposta veio parar no lugar errado… sorry.
Olá Thales. Muito obrigada pela leitura e pelo comentário.
Pena que você não curtiu. De qualquer forma a gente nunca consegue agradar todo mundo, né?
Mas, só pra você entender, essa não é uma história sobre roubo. O roubo é só a história visível, mas a história profunda é outra… A dica está no título…
O conto sempre conta duas histórias: uma história visível e outra oculta. Uma superficial, em primeiro plano. Outra, em segredo, no segundo plano. E o nosso trabalho como contista consiste justamente em saber codificar a história 2 nas entrelinhas da história 1. São como Icebergs. Existe uma história submersa, que cabe ao leitor desvendar.
Talvez eu não tenha conseguido fazer isso direito, então está anotada aqui sua crítica para reescrever o texto e melhorá-lo.
Mas o fato de você ter ficado intrigado, pensando em várias alternativas possíveis, é proposital. O efeito que quis provocar foi esse mesmo. No microconto, mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de “preencher” a narrativa e entender a história que está por trás da história escrita. A boa literatura se faz nas entrelinhas. 😉
Essa também, não consigo apagar…
Caso solucionado!
Um bom conto, não sei se teve todo o impacto que procuro, mas a execução está ótima!
Parabéns e boa sorte!
Adorei a forma como deixou aberto a interpretação o final do conto sem dar algo óbvio demais. Parabens
Vou trazer um comentário semelhante que fiz em outro conto, onde o(a) autor(a) dá a deixa para o leitor completar a história da forma que achar melhor. Na minha opinião isso é um grande ponto. Foram bem menos do que 99 palavras e um conto muito bem feito.
COMENTÁRIO: Um texto de muitas camadas! O primeiro parágrafo nos situa tanto em relação ao que aconteceu – um furto – como em relação à personagem, uma ricaça, alguém com uma inclinação à superficialidade, que desfaz das jóias, mas tem seus verdadeiros bens em um cofre e dá graças à integridade dos sapatos. Essa mentalidade rasa se comprova no parágrafo seguinte, em que, só depois de chamar a polícia é que nota a ausência da possível assaltante. É revelador porque, em primeiro lugar, ela conseguiu simplesmente esquecer a presença de alguém que está sempre em sua casa, mostrando sua soberba de não enxergar a própria vulnerabilidade diante de alguém que estaria supostamente, em posição de subalterna. O título se fortalece duas vezes, no primeiro parágrafo, quando vemos a hierarquia de valores da vítima e depois, quando vemos o quanto desvalorizou uma pessoa próxima. Bom texto.
Mais um conto com essa pegada crítica. Aqui, peca na falta de originalidade.
A técnica é boa, mas falta robustez. O conto permeia e transita entre expectativas. É humorístico? Pois a suspensão de descrença cai no cômico (Esquecer da empregada/sequestro). É trágico? Faltou mais peso para gerar tragicidade e mergulhar menos no absurdo.
Não me agradou, embora eu reconheça que a técnica é realmente muito boa.
Boa sorte!
um microconto policial, olha, quem diriam os textos nesse desafio estão com a tendência de brincar com a polissemia. Dependendo do ponto de vista, podem pensar pra um lado ou pra outro. Aqui, pode-se concluir que a empregada cometeu o roubo, ou quebfoi vítima também, tendo a dona da casa se lembrado apenas posteriormente. Interessante que muitas pessoas dizem que a empregada é parte da família. Gostei.
boa sorte!
Conseguiu instigar minha curiosidade e fazer uma crítica social, em pouquíssimas palavras. Achei um ótimo microconto.
Senti falta de algumas informações. Acho que um contexto de como a polícia entrou na história ou qual foi a participação da empregada na história, poderiam ter elevado o nível do texto. Mas, no geral, me agradou bastante.
Parabéns pela participação. Boa sorte.
Chamo de “técnica” a facilidade com que o autor carrega o leitor pela narrativa, e/ou transmite subtexto, e/ou faz (bom) uso de figuras de linguagem que tornam a leitura agradável.
Chamo de “interesse” o quanto o texto me fisgou enquanto leitor, o quanto de impacto senti pela leitura.
Chamo de “objetivo do autor” um palpite do que o autor queria com o texto. É mais um esforço criativo e uma tentativa de fazer leituras mais enquanto escritor do que leitor.
Um conto muitíssimo bem escrito que abre a possibilidade de duas interpretações claras: 1)a empregada também foi roubada, 2)a empregada participou do roubo.
Fico com a primeira interpretação, porque assim o conto ganha mais força narrativa e elementos no texto como só terem levado bobagens. Além disso, a empregada, ainda que não soubesse o código do cofre, saberia da coleção de sapatos.
Técnica: Alta. Texto fluido com uma porrada no final que demanda ressignificação ou, no mínimo, algum tempo de reflexão por parte do leitor. Nada forçado e tudo bem conectado.
Interesse: Alto. Não só pela questão social abordada, mas por toda a construção narrativa.
Objetivo do autor: Forçar o leitor a interpretar a história após o fim da leitura.
Olá, Juan Marcos
Adorei seu microconto. Muito bem escrito, final surpreendente, real e triste. O valor das coisas e das pessoas, como diz o título. Mensagem passada com poucas palavras, ótimo trabalho.
Mudaria a ordem das frases na primeira oração. A fechadura foi trocada depois da constatação de que a coleção estava intacta e de que ninguém abriu o cofre. Achei estranho começar com a troca da fechadura, mas é só uma pequena sugestão que pode ser bobagem, tipo as joias poucas joias roubadas.
São poucas palavras, mas eu ainda faria alguns pequenos cortes. Por exemplo, na última frase, daria para tirar o Foi e o que.
“ jóias” – sem acento
Parabéns pelo conto.
Fê! Obrigada pela leitura e pelo comentário. Com certeza vou reescrever esse primeiro parágrafo, muita gente empacou nessa fechadura. Kkkkkk
E super concordo com a supressão do Foi e do que.
O acento no joias é porque preciso atualizar meu Word. Rsrsrs
Valeu super! Sempre aprendo contigo. J
Oi, Juan Marcos,
Como leitor, agradeço por compartilhar conosco seu texto. Participar de um desafio exige coragem, expor-se de forma cega ao julgamento dos pares. Seu conto é interessante. Uma narrativa bem correta, envolvente, coisa de quem domina a arte de contar muito em pouco espaço. O sumiço da empregada é ambíguo: foi levada pelos invasores ou era, ela própria, a ladra? A segunda opção me lembra um episódio no filme “Marte Um”.
Essa ambiguidade é sadia, típico dos bons minicontos. O que fica bem claro é o descaso da empregadora, que só se dá conta da ausência da funcionária no dia seguinte – provavelmente ao não encontrar o café posto.
Texto inteligente e de agradável leitura. Parabéns e boa sorte no desafio!
Olá, Juan Marcos Bolívar.
Contexto pessoal
Mais um conto que mexe profundamente comigo, devido ao contexto pessoal. Minha mãe é empregada doméstica, sempre foi. E algumas coisas que ela me conta me deixam muito triste sobre essa realidade.
Análise do conto
Acho que um outro conto desse desafio também abordou o tema. Mas o seu conto foi de uma forma muito marcante. O que mais me chamou a atenção aqui foi a agilidade da leitura. Causou ainda mais impacto no final. Triste, infelizmente real.
Conclusão
Vou colocar seu conto na minha lista de possíveis indicados. Torço para que continue lá!
Desejo um bom desafio!
Um canto ágil e preciso. Tem todas as virtudes que um bom microconto deve ter. Ao final, um fecho com um comentário social e um espelhamento a lá Machado que nos confronta com nossa própria mesquinhez.
Parabéns! Ótimo texto.
Vão-se os anéis, ficam os dedos… Mas e a empregada? Fugiu ou foi sequestrada? Pelo jeito, para Stela, ela nem existe. Estranho que os policiais não perguntarem se havia mais alguém na casa, se havia funcionários, ou alguma visita.
Para mim, o(a) autor(a) quis dar ênfase no descaso quanto à existência da empregada. Enquanto a patroa tem nome – Stela (estrela), a outra mulher é só a empregada que sumiu. Uma é a estrela, a outra é tão invisível que ninguém se lembra dela.
Não encontrei falhas de revisão. Limite de palavras bem aproveitado.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
O conto está bem escrito, com um tema interessante de mistério. Passamos pela casa de Stela, interessados em saber o que aconteceu. O mistério não é resolvido, mas surge uma crítica social no final: a empregada sumiu.
Tudo que eu poderia dizer já foi dito por outros colegas. Algo que me chamou atenção é que pouco importa, como disse o Anderson, se a empregada roubou ou não roubou. O fato é que ela foi esquecida. Se concentraram nos bens, no que havia de valor na casa. O título e a irônica imagem, representando relação de equilíbrio entre duas partes, evidenciam a intenção da autoria.
Por outro lado, a Kelly mostrou um furo que considero grave na história: realmente, a polícia perguntaria da empregada ao constatar que havia um quarto dela na casa. E a mulher devia morar lá, ou não faria sentido dizer que a mulher só sentiu sua falta naquele momento. A não ser que a polícia seja muito incompetente e a mulher tenha desconsiderado tanto a empregada que não pensou nem na possibilidade de ela ser a ladra. O que não sei se é pior ou melhor kkk Mas deixa um problema num texto que, tirando essa falta grave, está muito bom, bem escrito e interessante.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Antes de chegar à dúvida da empregada, esbarrei logo no início “A fechadura da porta foi trocada, a coleção de sapatos estava intacta e ninguém abriu o cofre.” Este “trocada” está-me a fazer grande confusão. Como assim? Se ela está a constatar o resultado do roubo, no momento, quem é que trocou a fechadura? Ela não pode ser. Foi quem roubou? Este pequeno detalhe impede-me de compreender o conto, na verdade. Se a fechadura estivesse arrombada, era uma coisa, se estivesse intacta, era outra. Agora trocada, não consigo avançar daqui. Apenas uma palavra está a condicionar toda a história, para mim. Será a diferença atlântica no português que me está a atraiçoar? não sei.
Gostava de resolver este imbróglio, já que gostei do conto. Achei um relato interessante que nos mostra alguém que se preocupa mais com os sapatos do que com a empregada. Como se esta fosse apenas mais uma coisa, e de pouco valor. A continuação presumível desta história é a protagonista arranjar uma nova empregada e esquecer a outra, sem se preocupar sequer em saber qual o paradeiro dela.
Olá, JP. Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Tenho que discordar de você sobre a fechadura. Primeiramente, o conto não diz que o roubo acabou de acontecer naquele momento, isso foi a sua interpretação. O roubo aconteceu, ponto.
Já fui roubada duas vezes, na primeira o ladrão arrombou a fechadura, portanto tive que trocá-la. Da segunda, aparentemente, entrou com uma cópia da chave. E é claro que eu troquei a fechadura no mesmo dia também.
Pena que vc tenha ficado tão preso a esse detalhe, o que provavelmente foi por erro meu mesmo, mas isso acabou impedindo você de ir mais fundo e perceber o mais importante nesse conto, cuja pista está no título, que é o conceito de mais valia.
Já anotei aqui que essa questão da fechadura incomodou outros leitores também, então vou reescrever e melhorar. Obrigada.
ajjajaaj. Essa história me lembrou outra, verídica, de uma empregada que roubou medalhas de campeã esportiva de uma mulher (que imitavam medalhas de ouro). A mulher achou que eram de ouro mesmo. Nunca mais apareceu pra trabalhar , óbvio. ahahah É um bom conto. E mais comum do que as pessoas pensam, já que tendem a santificar certas profissões ou pessoas. Quase um pecado insinuar que uma empregada possa roubar. Também tem outra interpretação seu conto, a de que roubaram a empregada também, e que ela seria algo extremamente valioso pra patroa. Mas prefiro a primeira versão. Por conta dessa dicotomia, acho que seu conto não vai caber na minha lista. Mas foi bem pensado. Embora acho que o autor prefere a versão politicamente correta, menos preferida por mim.
Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Pena que você não tenha gostado, mas realmente não há como agradar todo mundo.
Sobre quem roubou as joias é coisa para o leitor imaginar. Mas penso que você não captou o sentido do conto, que não é sobre um roubo. O título já dá uma pista, que é o conceito de Mais Valia. Na verdade, a empregada não tem importância alguma para a patroa, por isso ela só se dá conta da ausência da subalterna no dia seguinte, na hora em que ela deveria lhe servir o café.
É um conto que procura refletir sobre o que tem valor nas nossas vidas: bens materiais, joias, dinheiro, sapatos, ou pessoas? Mas provavelmente falhei nessa missão com você. 😦
Interessante o conto e a história, sem falar na mensagem que deixa.
Bandidos invadem uma casa mas a patroa fica tranquila, pois deu falta apenas de algumas joias, ou seja, nada de valor havia sido levado. E só deu conta que haviam levado a empregada nondiaa seguinte, quando a mesma fez falta.
Bom conto e muito boa a utilização do limitado número de palavras.
Gostei!
Olá, Juan Marcos Bolivar, que microconto interessante você me trouxe. Gostei dele. A mulher que é assaltada e que só se dá conta da falta da sua empregada no dia seguinte (hora de preparar o café da manhã). Será que ela também foi roubada? Seria a culpada pelo delito? Afinal, nosso olhar preconceituoso costuma lançar sobre os serviçais a desconfiança (culpar o mordomo como nas histórias policiais antigas tipo Agata Christie). Um conto que sabe a que veio. Gostei mesmo dele. Parabéns.
Stela chega em casa e descobre que roubaram suas joias. Ela dá graças a Deus por não terem levado sua coleção de sapatos nem terem aberto o cofre. Se deita para dormir e quando acorda percebe a falta da empregada. Bom, presumo que a empregada seja o ladrão. Muito simples, uma estória do cotidiano comum e sem grandes mistérios. Seria legal se a empregada fosse um alienígena, levou as joias e deixou um objeto estranho no lugar, ou algo assim…,
Plot: Após um roubo, mulher contabiliza as perdas, sentindo alívio pelo que não foi roubado, sem se importar com a empregada.
Desenvolvimento: O conto não tem arestas, a mim a impressão foi a de que não faltou nada, toda a situação narrativa que o autor ou autora quis passar, coube no espaço que foi utilizado. Algo como “o que precisou ser escrito, foi”.
Destaque: Para a forma da narrativa, ao contar algo banal, que poderíamos ler em qualquer jornal, guardando a surpresa para o final. A surpresa é a falta de empatia total com quem possa ter morrido, ou sido sequestrada…
Impressões da leitura: Eu gostei demais do seu conto, a crítica feita a essa situação em que empregados infelizmente valem menos do que um objeto qualquer, diante da soberba de quem acha que é mais… Sensação de indignação aflorada por uma história contada em menos de 100 palavras. Parabéns!
Uma comédia de erros, Fargo sintetizado. Se num primeiro momento a trama parece banal, ou mesmo seria? Essa, talvez, a chave do entendimento. A cabeça do escritor é como uma máquina de sorvete, nunca sabemos quando o sabor chocolate vai acabar, e nesse caso a verve policial traz um mundo ao mesmo tempo familiar e universal, visto que a simplicidade amarga desta casa está invadida por personagens comuns na literatura, o assassino, a vítima, o mandante do crime. Essa chave ambígua que nos transporta para uma relação de dúvida é o que torna o leitor receoso até mesmo de dar sua opinião. Conto enigma.
Um furto descrito com agilidade e precisão. O arremate final da empregada dá a explicação que faltava e organiza a história. Penso que deve ter um pessoal que vai problematizar o uso da doméstica como ladra, e tal e coisa, mas defendo o direito do autor contar a história que quiser, sem ter que considerar a “luta de classes” na hora de criar a SUA obra. Boa sorte no desafio!
Oi Daniel, querido! Obrigada pelo comentário. Quem disse que a empregada roubou as joias? Há várias respostas possíveis, e todas ficam por conta do leitor.
O título do conto é Valia… vem de Mais Valia… É um conto que reflete justamente sobre a luta de classes e não o contrário…
Mas realmente, depois de todos os comentários, entendo que preciso melhorar esse texto, uma vez que muita gente não captou a mensagem. Depois eu posto lá nas Contistas!
Beijos! 🙂
De forma irônica, este conto explora a questão de valor e a fragilidade da segurança. A narrativa, embora muito curta, traz uma série de questionamentos sobre o que realmente importa na vida e sobre a natureza humana.
Um roubo que deveria causar angústia, parece trazer um certo alívio para a personagem principal quando ela analisa o que foi levado, porém apenas no dia seguinte a ausência da empregada foi notada, fazendo desse fato o real conflito da narrativa.
Parabéns pelo texto e boa sorte no Desafio!
Muito bem escrito. O autor precisou de pouquíssimas palavras para ambientar a história e sorrateiramente quebrar expectativas na última frase. Desfecho que pode ter diferentes interpretações, inclusive. Muito bem executado, parabéns!
O conto narra a história de um assalto em uma casa, onde só foi levado coisas sem muito valor. No fim, após a dona da casa acordar do sono dos justos ele sente falta da empregada. O que nos faz supor que foi a empregada que roubou a casa. O conto tem uma boa técnica, de linguagem direta, no entendo, o impacto foi baixo.
Boa sorte no desafio
Oi Jowilton! Obrigada pela leitura e comentário. Em nenhum momento digo que foi a empregada, isso você que concluiu. Rsrs
O desfecho tem mesmo várias interpretações. Teve quem achasse que foi a empregada, tem quem achasse que a empregada foi morta ou sequestrada. Muita gente aqui captou a mensagem, muitos não, o que me faz ter certeza que preciso melhorar esse conto.
Mas penso que o título dá uma pista, no caminho do conceito de Mais Valia. É um conto que procura refletir sobre o que tem valor nas nossas vidas: bens materiais, joias, dinheiro, sapatos, ou pessoas?
Vou reescrever e depois posto lá nas Contistas! 🙂
Acredito que para funcionar bem um microconto precisa de camadas diferentes. Para além da história literal que é contada pelas palavras, é preciso haver tramas subjacentes, dilemas e dramas escondidos nas entrelinhas, algo que se revele somente ao fim da leitura, ou até mesmo em uma segunda ou terceira leitura.
Aqui temos uma história que se mostra policialesca de início, com o roubo de joias, aparentemente levadas pela empregada da casa, que deixou de levar a coleção de sapatos e que não conseguiu estourar o cofre.
Mas é numa segunda leitura que percebemos que não, não é isso, não é só isso. Que por ter dormido o sonho dos justos, é a protagonista que forjou um crime (o roubo de joias) para encobrir outro (o assassinato da empregada).
Eu já estava preparado para, ao fim da primeira leitura, escrever uma crítica social gigante, dizendo que o autor colocou a culpa na empregada de modo indiscriminado, reforçando estereótipos. A segunda leitura me salvou desse mico. Ali percebi que o conto funciona como espelho de nossos próprios preconceitos (de meu preconceito, pelo menos). Culpada é a patroa, Gustavo. Presta atenção!
Ao revelar-se dessa forma, o conto provoca o enlevo que se espera desse tipo de texto. Rápido e certeiro. Não há poesia nas construções, mas ainda assim a narração cativa, justamente por nos desnudar. Sentir vergonha da própria ignorância não deixa de ser reflexo da força daquilo que se lê.
Tá perdoado, mestre! Rsrsrs
Adorei o comentário. Sim, há várias leituras possíveis nesse desfecho, mas acho que o título é a chave, remetendo ao conceito de Mais Valia.
Obrigada pela leitura! Foi gostoso participar outra vez. 🙂
Olá, tudo bem?
Texto bem curtinho e cada vez que leio tiro uma nova interpretação. Só posso deduzir que se trata de uma mulher rica que não sabe preparar seu próprio café. Vi uma boa dose de ironia, quando a mulher só sente falta da sua empregada quando precisa dos seus serviços. Sim, suas joias eram mais valiosas. Achei interessante como você conseguiu inserir vários elementos numa narrativa curtíssima, deixando o leitor com a pulga atrás da orelha.
Boa sorte no desafio.
O micro tem uma atmosfera de suspense e engana bem porque a narrativa nos faz focar no roubo e nos objetos materiais. Depois, como se não fosse nada, revela a ausência da empregada. Prioridades, não é mesmo? Quem é a empregada na fila do pão dessa patroa? O micro está bem escrito e nos faz refletir sobre o ‘enxergar’ o outro, sobre valores e negligência. Boa reflexão.
O conto critica a facilidade que algumas pessoas têm de objetificar uma empregada. Na verdade, qualquer pessoa que forneça serviços mais pessoais, especialmente caseiros: jardineiro, porteiro, faxineira, etc. Quando não são tratados como gente, só se sente falta quando eles vão embora. Aqui, neste caso, há um subtexto de que a empregada provavelmente era maltratada pela contratante, e roubou as joias como vingança (e talvez como compensação).
Aqui a coisa ficou um pouco inverossímil já que, se a polícia estava presente, alguém perguntaria sobre a empregada. Mas é o tipo de suspensão de descrença que relevo, para assimilar a mensagem do conto.
Um conto simples e direto. Talvez o tema seja um pouco batido, mas acho que cumpre bem a sua proposta.
Bom dia/boa tarde/boa noite e um bom ano pra nós, amigo entrecontista. Bora começar um novo ano arrasando na escrita! Parabéns pela participação nesse primeiro desafio no ano,! Pra mim, escrever micro conto é um macro desafio kkkkkk. Bora pra sua avaliação, mas, por favor, não leve minhas palavras a sério demais, afinal, micro conto é algo muito fora da curva e é difícil até analisar. Pra ajudar, criei um micro sistema que espero que ajude a ser justo com todos os amigos. Bora lá!
Micro resumo: quem bom que não levaram nada! ah, verdade, tinha a empregada…
Microsensações: um conto com forte comentário social, que usa muito bem o subtexto e as entrelinhas pra comunicar a mensagem. Pra mim, funcionou muito bem. Tece um comentário sobre o valor das coisas x valor das pessoas, sobre a desvalorização do ser humano, sobre condições de trabalho, sobre mais valia, etc. E faz isso de forma eficaz e sutil, sem necessidade de esfregar na cara do leitor. Claro que isso tudo se interpretarmos que a empregada foi levada, mas o texto deixa em aberto a possibilidade de ela ter sido parte do crime. Fica ao leitor, e isso acaba dizendo também muito sobre o leitor. A interpretação que cada um tem, o lado que escolhe como correto nas duas possibilidades, também aponta um pouco sobre como vemos as coisas e a sociedade. Parabéns!
Impacto:
Micro
Médio
Macro –> a frase final chega como um soco. Eu estava lendo curioso pelo final, mas o desfecho não passou em nenhum momento pela minha cabeça. Foi surpreendente, uma espécie de plot twist, e impactante, além de deixar abertura para pelo menos duas interpretações.
Uso das pouquíssimas palavras permitidas: excelente. O conto fala muitíssimo usando poucas palavras (uns 2/3 do limite), usando subtexto e deixando duas possibilidades.
Conclusão de um leitor micro-capacitado a opinar sobre micro contos:
Parabéns e boa sorte no desafio!
Mais um miniconto que tem a força do subtexto como recurso de articulação para expressar uma ideia, gerar reflexão e, de fato, cumpre bem o seu papel, haja vista a quantidade de nuances levantadas aqui entre os participantes para explicar o roubo das joias. O autor acerta em usar a ambiguidade como ferramenta narrativa.
Embora as interpretações pareçam inicialmente muito presas às duas ideias principais (roubo da empregada, ou o sequestro desta junto com as joias, e não me pergunte o porquê de um despropósito deste), a verdade é que o texto possui um único objetivo claro, independente do que aconteceu: mostrar o contraste entre o valor dado às joias (uma bobagem para a patroa, mas ainda assim notada) e o completo descaso pela empregada, cuja ausência só foi percebida na manhã seguinte.
É uma crítica à desumanização das relações humanas, no caso aqui no trabalho, que faz uma provocação ao leitor a fim de preencher as lacunas com sua própria visão. Não é um texto que eu aprecie muito, já que meu deu trabalho para se chegar nesta conclusão com tão poucas palavras, mesmo com a ajuda dos universitários. Mas acredito que venha a agradar bastante para quem curte o recurso de subtexto.
Afonso, você entendeu tudo! Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Um conto de humor ácido sobre aquilo que realmente vale em nossas vidas: bens materiais, joias, dinheiro, ou pessoas?
Com poucas palavras o autor nos leva a vários possíveis significados, o que é muito bom. Mas talvez não tenha ficado claro para todos por causa da economia de palavras.
Talvez mais algumas palavrinhas tivessem ajudado a construir com mais clareza esses significados.
Bom conto, parabéns.
Olá, Entrecontista,
Obrigada, muito obrigada, por mostrar a todos que não precisa ter o máximo de palavras para ser um texto claro, com impacto, muito criativo e que te faz pensar sobre um princípio, um valor.
Eu tenho ranço – desculpem, colegas – de quem reclama não terem sido usadas todas as palavras. Uma das delícias dessa escrita, a de micro, é exercitar a arte da síntese. E não é fácil.
A história inteira é só na imaginação do leitor.
Teu micro tem tudo, tem esse tapa na cara do metido a besta que, mais preocupado com “a coleção de sapatos”, só percebeu o rapto de outro ser humano quando ele não estava lá para servir.
Adorei. Obrigada pelo texto.
rapto ou desaparecimento.
Olá, Juan!
O conto tem boas passagens, mas o final ficou um pouco confuso. Deu margem para várias interpretações. Seria essa a intenção? Não sei. Mas ficou incompleto. O que aconteceu com a empregada? Ela roubou as joias ou simplesmente não apareceu? Era costume dela não aparecer? Não entendi como a patroa pode perceber o sumiço dela depois de, presumidamente, ter passado muito tempo. Parece que a empregada ficou solta no texto. Eu sumiria com ela. Boa sorte!
Olá Victor!
E se a empregada está nesse conto só para te intrigar? Rsrsrs
Eu acho que realmente você fez uma leitura superficial e por isso não alcançou o significado do conto, provavelmente por minha culpa.
O conto sempre conta duas histórias: uma história visível e outra oculta. Uma superficial, em primeiro plano. Outra, em segredo, no segundo plano. E o trabalho do contista consiste justamente em saber cifrar a história 2 nas entrelinhas da história 1. São como Icebergs. Existe uma história oculta por baixo, uma história profunda que traz o significado do conto.
Na empregada reside o sentido desse conto, que tem a ver com valia (ou mais valia), como diz o título. Não estamos falando sobre um roubo. Percebe? O roubo é a história visível, mas a história profunda é outra…
Então acho que não consegui fazer isso direito. Pois a empregada que você acha melhor tirar do conto é justamente a parte que importa, que conta a história oculta. O efeito que eu pretendi provocar no leitor é a reflexão sobre o que tem valor nas nossas vidas: bens materiais, joias, dinheiro, sapatos, ou pessoas? O fato da patroa só perceber que a empregada não está em casa no dia seguinte, na hora em que ela deveria servir-lhe o café, pode trazer mesmo muitos significados, e a resposta certa está na imaginação de cada um.
Que pena que você não captou, mas na próxima espero melhorar e me redimir.
Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Um conto que dá margem a algumas interpretações sobre a empregada.
De repente, a empregada além de menos o importante do que o material, seja a responsável pelo roubo.
Talvez, tenha sido sequestrada.
O “talvez” é o mérito do conto.
Boa!
Podemos seguir dois cursos baseado no que nos foi apresentado.
O primeiro, menos interessante, é que a empregada foi a praticante do crime, e que a dona da casa só notou a sua falta no dia seguinte, pois ela não apareceu para trabalhar.
A segunda, muito mais angustiante e crítica por parte da pessoa que escreveu, é que a empregada foi sequestrada. A dona, apegada aos bens materiais, só notou na manhã seguinte, tornando ainda mais complexa a situação da busca pela trabalhadora.
É bem difícil gerar tamanha tensão e com teor crítico em um espaço tão pequeno.
Boa sorte!
Olá, Juan!
Num texto de tão poucas palavras, cada termo, cada frase escolhida, tem que ter peso mais bem definido, de modo que a habilidade do autor é medida quando analisamos essas escolhas e como elas funcionam entre elas. Acho que seu conto entrega um enredo interessante, com uma crítica social extremamente pertinente, mas que poderia ter funcionado melhor num contexto mais bem trabalhado, a fim de não deixar nenhum tipo de margem para má interpretação.
Me parece, de fato, que o enredo trata da falta de tato da patroa com sua funcionária, que sumiu, e cujo desaparecimento só foi percebido, em uma escala de importância, após a dos bens materiais, após a passagem da noite. Entretanto, há margem para entendermos que se trata de um roubo cometido pela empregada, pois as joias sumiram, a empregada sumiu, e nem patroa e nem polícia suspeitaram da moça, e aí o foco seria completamente outro, embora o conto também funcionasse desta forma. O que quero dizer é que teria sido interessante explorar um pouco mais as construções dos dois parágrafos a fim de eliminar essa dissonância nas interpretações.
Se eliminarmos esse entrave na trama, encontramos um texto de crítica ácida, calcado num humor que me remete ao clássico inglês do Monty Python, embora sem o absurdo. E isso é um elogio.
É isso. Boa sorte no desafio!
VALIA (JUAN MARCOS BOLÍVAR)
Bom dia, boa tarde, boa noite autor(a)! Espero que esteja bem! Meus critérios de avaliação foram escolhidos baseando-se em conceitos que encontrei sobre o gênero microconto na internet. São eles: utilização do espaço permitido, subtexto, impacto, escrita. Nesse desafio em específico, não soltarei minhas notas no comentário. E, por fim, mas não menos importante, gostaria que você tivesse em mente que microcontos são difíceis de escrever e difíceis de avaliar; logo, não leve tanto para o lado pessoal se o meu comentário não estiver bom o suficiente, por qualquer motivo que seja. Garanto que li com o cuidado e a atenção que seu conto merece, dando o meu melhor para tanto contribuir com a minha opinião quanto para avaliar de uma forma justa você e os demais colegas.
É isso! Chega de enrolação e vamos para o meu comentário:
Ø Breve resumo:
Uma ricaça tem sua casa invadida. Crítica social pertinente, mas não tão bem executada.
Ø Utilização do espaço permitido:
Bom, eu achei que ficou conciso até demais. Eu vou desenvolver melhor no quesito subtexto, mas eu achei curtinho demais. Tirando isso, o conto está muito bem conduzido, sem ser apressado. Ele te pega, te leva pela história de uma forma despretensiosa e te arrebata com um desfecho bom, mas que podia ter sido melhor.
Ø Subtexto:
Bom, é um microconto-iceberg! A profundidade dele tá no final, quando a protagonista se vê sem a sua empregada. E, por mais que eu tenha amado a intenção da crítica social (digo isso em decorrência do título, que faz referência à mais-valia, termo cunhado pelo Marx [foi ele mesmo?] e ao pseudônimo Bolívar, que me faz lembrar aquele lider do séc.XIX que buscava integrar a América do Sul), eu acho que faltou refinamento no ponto de vista das ideias para fechar com chave de ouro.
Explico.
Bom, pelo menos para mim, faltou amarrar melhor a questão da empregada. Digo isso porque, pelo que conclui da leitura, a empregada é uma funcionária que vive na casa da Stela, a protagonista. Como pelo desenrolar do microconto, eu percebo que ela se importa tão somente com as coisas de valor da casa. A empregada e a mais-valia em torno do trabalho dela não são valorizadas o suficiente pela Stela. Aqui, gostei bastante da referência até mesmo à invisibilização e consequente desvalorização do trabalho doméstico.
Qual o problema, então? Pelo menos para mim, eu acho que tecer apenas esse fio da meada para “coisificar” a empregada doméstica insuficiente. Digo isso porque ficou geral demais e não necessariamente demonstra toda a complexidade da situação, deixando aberto demais para várias possibilidades. Por exemplo, a empregada doméstica pode não dormir no trabalho. Ou, a empregada domestica podia ter roubado as coisas, com ajuda ou não. Claro, a interpretação mais provável é aquela que dialoga melhor com o pseudônimo e o título, mas ainda assim, creio que seria melhor amarrar esse desfecho, não permitindo outras conclusões.
Minha sugestão? Colocar algo que faça pensar que a empregada estava em situação análoga à escravidão. Tem espaço para isso.
No mais, o subtexto está bom. Realmente, essa é a minha única questão.
Ø Escrita:
No geral, muito boa. Jóias perdeu o acento; logo, joias.
Ø Impacto:
Mesmo com a crítica longa, eu gostei do conto. Uma boa crítica social, que poderia ter sido refinada de uma forma melhor.
Vou mandar para a minha namorada!
Parabéns e boa sorte no desafio!
Valia até poderia ser adjetivado de despretensioso. Um microconto de humor, uma anedota. Mas isso seria rematada injustiça. O autor sabe ser crítico sem ser enfadonho. É divertido acompanhar a saga desta mulher que só dá falta da empregada no dia seguinte e, num olhar primevo, menos atento ou mais superficial, seria até possível se ater à ideia de que o autor quis criticar a possibilidade da patroa ter considerado a empregada como suspeita. Mas a intenção do autor não é tão óbvia nem tão simples. O título do conto é Valia. Cabe ao leitor se perguntar sobre o que as coisas (e as pessoas) valem. Algumas coisas (ou pessoas) valem tão pouco para outras que, num furto, sua ausência nem é notada, não constam nem do relatório da polícia. A empregada furtou as joias? Pouco importa. O que importa é que a empregada importa tão pouco à sua patroa, e vale e importa tão menos que umas joias esquecidas sobre a cabeceira, que sua falta sequer foi notada. Essa é a Valia da empregada. Essa é a crítica pretendida pelo autor.
E isso. Obrigada, Anderson!
Quem teria roubado as joias era a empregada? Ou a empregada havia sido sequestrada? A empregada não foi trabalhar e se tornou suspeita? Não entendi. E o título, o que diz?
Um chavão: “sono dos justos”. Vale evitar, principalmente em miniconto. Pesa muito.
A palavra ‘finalmente’ não está entre vírgulas, então valeria usar a próclise (se jogou) e não a ênclise (jogou-se).
Parabéns!
Olá Mauro. Muito obrigada pela leitura e pelo comentário.
É chato ficar explicando conto, mas quis te trazer uma resposta, afinal, se você não captou a mensagem, o mais provável é que a culpa tenha sido minha.
Microconto é um conto e contém todas as prerrogativas do conto, é o sumo do conto, ele leva ao limite todas as características estéticas do conto. E o conto sempre conta duas histórias, uma é a história escrita, visível e outra a história oculta, aquela que está nas entrelinhas e que traz todo o significado do texto. E o entendimento da segunda história é realizado pelo leitor, que em sua imaginação preenche o subtexto da narrativa. Assim, mais importante do que mostrar é sugerir, permitindo que o leitor preencha a narrativa e entenda a história que está por trás da história escrita.
Esse conto não é sobre um roubo. O roubo é o que acontece somente na história visível. A história profunda desse conto é outra… percebe? O título dá uma pista. “Valia” (ou mais valia) é um conceito marxista que se refere ao lucro que o capitalista obtém do trabalho do empregado, que não é pago. Marx considerava que a mais valia era a base da acumulação de capital e da dinâmica do capitalismo. O conto sugere que o verdadeiro “roubo” não é de joias, mas da própria vida e dignidade da empregada, fala sobre a invisibilização sistemática de quem realiza o trabalho doméstico, alguém cuja presença muitas vezes é tão desvalorizada que sua ausência só é notada quando interfere em uma rotina confortável – como na hora do café.
O “sono profundo dos justos”, nesse contexto, não é mero chavão, pois busca a ironia. A patroa dorme tranquila porque sua percepção de justiça é limitada ao que a afeta diretamente. O resto fica para sua imaginação. Leitura boa se faz nas entrelinhas. 😉
Hum, entendo a crítica. Uma casa foi roubada e não sentem falta de nada de valor. Só foram sentir falta da empregada no dia seguinte. O ser humano vale menos do que os bens. Ok.
Só que a situação não é lá muito verossímil. Digo, se uma casa é roubada e a empregada mora lá (é o que deduzo, já que sentiram falta dela pela manhã; não foi dito que ela faltou ao trabalho, foi dito que a patroa deu por falta dela), então ela seria a primeira a ser procurada. Não sendo encontrada, se tornaria suspeita.
Parabéns pela participação e boa sorte.
Kelly
Lembrou a atmosfera do filme Parasita.
Aqui, Stela não tem nenhum apreço com sua empregada.
Talvez daí, acredito eu, a empregada levou as joias esquecidas na cabeceira e nada mais, como uma possível forma de indenização por seus trabalhos e pela indiferença por parte da patroa – o fato da fechadura ter sido trocada gerou esta teoria.
Boa sorte!
Rogério Germani
📜 Conteúdo (⭐⭐▫): um roubo, algumas joias sumiram. A polícia veio e ficaram um tempão tentando descobrir quem roubou. Só no dia seguinte deu falta da empregada, porque ela não colocou a mesa do café da manhã. Percebi como uma crítica a sociedade que invisibiliza os mais pobres, a ponto de não perceber que ela tinha sumido.
📝 Técnica (⭐⭐▫): boa, contou muito com pouquíssimas palavras
💡 Criatividade (⭐⭐▫): achei na média do desafio
🎭 Impacto (⭐⭐▫): me levou a alguma reflexão e isso é bom. Se a patroa mal percebia a existência da empregada e ela roubou as joias, acho justo. Distribuição de renda.
Conto interessante, final inconclusivo. O leitor avalia diferentes possibilidades. A protagonista é preconceituosa porque foi dormir? Que hora era? ela estava cansada? e a policia incompetente? Ninguém inquiriu a empregada? Muitas variáveis, muitos possíveis desfechos. Fiquei mais intrigado com a fechadura trocada. Se fosse um ladrão a arrombaria, não? gostei, me deixou curioso. Boa sorte.
Oi Nilo. Obrigada pelo comentário!
Pena que você não entendeu o conto, provavelmente por falha minha.
Sem querer explicar, mas já explicando, não é um conto sobre roubo. Acho que você ficou na leitura muito superficial, por isso tantas interrogações (algumas interrogações são bem vindas, mas se são muitas é porque não pescou as entrelinhas, erro meu). O roubo é apenas a história visível, mas a história profunda, o significado mesmo do conto, está submerso nas entrelinhas. Todo conto conta duas histórias, uma clara e visível (a história escrita) e outra, a parte que está no subtexto, no não-dito, que cabe ao leitor desvendar.
O conto fala de valores (o título é “Valia”, que remete ao conceito marxista de Mais Valia), o efeito que eu pretendi provocar no leitor é a reflexão sobre o que tem valor nas nossas vidas: bens materiais, joias, dinheiro, ou pessoas? O fato da patroa só perceber que a empregada não está em casa no dia seguinte, na hora em que ela deveria servir-lhe o café, pode trazer mesmo muitos significados, e a resposta está na leitura de cada um.
Quanto à fechadura, tenho a dizer que você não investigou isso a fundo. Veja bem, já fui roubada duas vezes, na primeira o ladrão arrombou a fechadura, portanto tive que trocá-la. Da segunda, aparentemente, entrou com uma cópia da chave. E é claro que eu troquei a fechadura no mesmo dia também.
OI Juliana, você tem toda razão, eu que entendi errado, mas depois de ler outros comentários entendi perfeitamente o que você quis dizer.
Oi, bem?
Esse conto é muito pontual. Corte Tramontina perfeito.
Passaram horas, polícia e a dona da casa, fazendo o inventário do que de VALOR havia sido roubado. E não perceberam a ausência da empregada. Uma excelente crítica social sobre como tratamos as pessoas que, de alguma forma, falando pejorativamente, nos “servem.”
Dá a entender que algo ruim aconteceu com a empregada. Fugiu? Sequestrada? Morta? Não sabemos, mas sua ausência só foi sentida quando sua presença era necessária.
O autor foi muito perspicaz. No primeiro momento, imaginei que a empregada faria parte do assalto ou algo do tipo, mas isso cai por terra quando, de fato, nada de real valor foi roubado.Ótimo conto, parabéns.Boa sorte no desafio!
O texto mostra, de maneira fluente e simples, que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Nesse caso, a empregada, que deu um chá-de-sumiço e estava entre os suspeitos. Bom conto. Parabéns e boa sorte!
Olá, Juan! Tudo bem?
Seu conto é muito interessante, antigamente os empregados da casa eram os primeiros suspeitos em caso de roubo, mas hoje parece que de suspeitos passaram a invisíveis, simples máquinas que cumprem uma função.
No conto não dá pra saber se levaram a empregada como refém, ou mataram ela, ou se foi ela quem roubou as jóias e desapareceu. E essa falta de definição das coisas fez o texto ficar mais interessante.
O conto está bem escrito e fluído. Carregado de crítica social.
Parabéns e boa sorte no desafio!
Até mais!
É o segundo micro com empregadas que leio, esse com uma carga crítica mais aberta. Trata do quanto as pessoas trabalhadoras em nosso país não são vistas enquanto humanas, mas como máquinas de trabalho. Qual foi o destino da empregada? Foi levada como refém ou se vingou da patroa e levou as joias?A balança desigual é uma simbologia forte para o assunto da pequena. Apesar de bastante curto, possui começo e final (algo que estou considerando para avaliar os micros. No mais, a escrita não comprometeu – tudo correu certo.
Gostei! A pouca importância que a personagem dá a pessoas se reflete bem no valor que ela dá para coisas (e, mesmo assim, com escalas bem específicas).
Uma questão do formato, que não sei se foi proposital, é uma dubiedade interpretativa que surge: o ladrão “roubou” (sequestrou) a empregada, tal como roubou as joias? Ou a empregada é a possível ladra? A interpretação mais direta é a a primeira, por surreal que seja, o que muito me agrada, mas entendo que se o objetivo era ser um teco surreal nesse sentido, algum retoque para explicitar melhor poderia ter sido feito.
Ainda assim, excelente!
Oi Rodrigo, obrigada pela leitura e pelo comentário.
Justamente, o final deixa a interpretação a cargo do leitor. No microconto, mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de “preencher” as entrelinhas da narrativa e entender a história que está por trás da história escrita. 😉
Olá, Juan.
Vai ver uma das personagens tomou para si o que, ao ver dela, realmente valia… Mas o microconto, quando aberto demais a interpretações, pode gerar discussões quanto à verdadeira intenção do autor… mas (2) isso, para mim, seja bacana, isso de extrair o que se quer, podendo ir para caminhos opostos (desde que não viajemos muito na maionese…)
Mas (3) ao menos o caráter de Stela parece flagrantemente acentuado.
Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
Conto com carga de crítica social elevada e bem desenvolvido.
Leva à reflexão sobre o individualismo contemporâneo.
Cyro Fernandes
cyroef@gmail.com
Um conto bastante sucinto e bem escrito. No entanto, o enredo me decepcionou um pouco. Foram tão poucas palavras, imagino que menos de 99, que eu acabei ficando perdido.
Houve um roubo. Ok, essa parte eu entendi. O ladrão levou só umas porcarias, tipos umas jóias… err… ok. Aí a polícia vai na casa, e talz… fazem o que tem que fazer (provavelmente comem umas rosquinhas), e então vão embora. A protagonista dai deita e dorme. No dia seguinte, ela sentiu falta da empregada. Tá… mas por quê? Roubaram a empregada também? E fim!
Este conto não me agradou tanto. Mas desejo uma boa sorte no desafio!
Olá Thales. Respondi duas vezes no lugar errado. Agora espero acertar. rsrsrsrsrs
Muito obrigada pela leitura e pelo comentário.
Pena que você não curtiu. De qualquer forma a gente nunca consegue agradar todo mundo, né?
Mas, só pra você entender, essa não é uma história sobre roubo. O roubo é só a história visível, mas a história profunda é outra… A dica está no título…
O conto sempre conta duas histórias: uma história visível e outra oculta. Uma superficial, em primeiro plano. Outra, em segredo, no segundo plano. E o nosso trabalho como contista consiste justamente em saber codificar a história 2 nas entrelinhas da história 1. São como Icebergs. Existe uma história submersa, que cabe ao leitor desvendar.
Talvez eu não tenha conseguido fazer isso direito, então está anotada aqui sua crítica para reescrever o texto e melhorá-lo. Mas o fato de você ter ficado intrigado, pensando em várias alternativas possíveis, é proposital. O efeito que quis provocar foi esse mesmo. No microconto, mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de “preencher” a narrativa e entender a história que está por trás da história escrita. A boa literatura se faz nas entrelinhas.