EntreContos

Detox Literário.

WWE (Fabio Baptista)

Não sei muito bem como começou. As memórias da infância têm um quê onírico e eu já apareço ali, no meio da ação, com as arestas desnecessárias aparadas como se tudo precisasse caber em um conto de Tchekhov.

Eu estava sentada no tapete da sala, cortando os cabelos da minha Barbie preferida, quando ouvi minha vó gritar lá na casa dos fundos: “Mata ele! Acaba com esse miserável!”. Assustada, corri até minha mãe. “Pelo jeito sua vó voltou a assistir luta livre”, ela respondeu antes que eu perguntasse, com o desdém com que os filhos crescidos falam sobre os gostos dos pais. “Vai lá assistir com ela”, completou, antes que outras dúvidas tivessem oportunidade de se transformar em palavras e eu acabasse atrapalhando a história que o Zé Béttio contava no rádio.

Eu fui. E a Barbie de cabelo recém-cortado foi junto. Ela sempre ia.

Subi as escadinhas, ainda desconfiada de que fosse um rato (ou, Deus me livre, uma barata) o causador de toda aquela comoção. Mas não era. Na TV de tubo que devia ter no máximo vinte polegadas mas na época parecia um cinema, um homem só de cueca ganhava impulso nas cordas e saltava sobre outro homem (também só de cueca) estirado no meio do ringue. Na cadeira de balanço, minha avó, a doce vovó que fazia bolinho de chuva e dava água com açúcar para os passarinhos, grasnava impropérios que eu só tinha escutado da boca do meu pai quando o Zico perdeu pênalti contra a França, socava o ar e torcia pescoços invisíveis, olhos vidrados na tela preto e branca.

A conexão foi imediata. Em dois segundos eu estava entendendo tudo que se passava ali, sabendo quem era do bem e do mal (ou “limpo” e “sujo”, como minha avó me ensinaria ainda naquela tarde), me esquivando dos golpes e quase deixando escapar algumas palavras que eu só haveria de incorporar ao dialeto cotidiano bem mais tarde, buzinando nos engarrafamentos da vida. Na última luta do dia, Fantomas parecia desacordado. Eu chorava e minha vó, desesperada demais para praguejar, dedilhava freneticamente as contas do terço. Aquiles, o Matador, subiu nas cordas e saltou. Tudo parecia perdido, mas Fantomas rolou para o lado no último segundo e, ato contínuo, se jogou por cima do adversário. O juiz deu três tapas no chão, eu joguei a Barbie para o alto e gritei, de alegria e alívio, comemorando como jamais voltaria a comemorar nada em nenhum esporte na vida. Minha avó, forças revigoradas pela vitória, saiu da cadeira com desenvoltura de ginasta russa e aplaudiu o lutador mascarado “isso, Fantomas! Dá nele! Bem-feito pra esse canalha miserável!”

Passamos aquela tarde, e muitas outras depois, comendo rocambole Seven Boys, tomando café e falando sobre as lutas, com eloquência e cumplicidade que só aqueles que possuem uma paixão em comum podem ter. Até que o programa parou de passar na TV, ou minhas férias acabaram, ou minha avó enjoou e começou a ver outra coisa. Não sei ao certo, só sei que em um final de semana as lutas eram a coisa mais importante das nossas vidas e no outro simplesmente não existiam mais. Durante a adolescência, cheguei praticamente a esquecer disso e já quase não visitava a minha avó que morava a uma escada de distância. Só voltei a me lembrar (e tem sido uma memória recorrente desde então) quando segurei a mão da vovó na cama do hospital e ela, olhos perdidos em tempos menos dolorosos, perguntou: “é hoje que o Fantomas vai lutar com o Verdugo?”. Na ocasião, eu, estudada, esclarecida, proprietária exclusiva do manual da vida e guardiã incansável de todas as virtudes, defendia que as pessoas deveriam conhecer a verdade sempre, que ilusões eram âncoras que prendiam a sociedade no cais do retrocesso e deveriam ser combatidas a todo custo. “Era tudo combinado, vó. As lutas eram ensaiadas, os lutadores eram todos amigos, eles só fingiam ser limpos e sujos pra fazer a gente torcer por um ou por outro, era só mais um programa de televisão feito pra desviar nossa atenção do que realmente importa”, foi o primeiro pensamento que me veio. Mas (jamais me perdoaria se tivesse feito diferente) eu respirei fundo, reconsiderei minhas convicções e fiz a coisa certa:

“Eles lutaram ontem, vó. A senhora não viu?”

“Não acredito! Quem ganhou?”

“O Fantomas ganhou, vó. O Múmia Escarlate chegou na surdina e deu uma cadeirada nas costas dele e daí o Verdugo aproveitou pra bater e enforcar o Fantomas nas cordas, mas o Ted Boy Marino apareceu na última hora e salvou a pátria.”

“Ai, meu Deus, aquele menino é um anjo, não é?”.

“É sim, vó.”

“Que bom que ele veio. Bem-feito para aqueles dois sem-vergonhas!”

“A próxima luta a gente assiste junta, lá no quartinho da senhora.”

“E depois eu faço bolinho de chuva pra gente tomar com café.”

“Era tudo que eu queria na vida, vó… que a senhora saísse dessa cama e fizesse bolinho pra gente comer tomando café. Tudo que eu queria…”

Mas ela não saiu. Pelo menos não para voltar para casa.

Eu nunca mais assisti luta livre, nem comi bolinho de chuva. Café eu tomo até demais, mas nenhum tem o mesmo gosto. Minha mãe e meu pai continuam vivendo a solidão a dois, no sobrado que meu avô ergueu sozinho na época em que era possível fazer isso ganhando salário-mínimo. Só venho visitá-los, menos por gosto do que para amainar a culpa velada da ausência, em dia de eleição. Não transferi meu título para ter essa desculpa. Nos dias de fúria, enclausurada entre vidros, concretos e prazos do centro da cidade, às vezes eu penso em ignorar o conselho do filósofo anônimo que diz para não voltarmos a um lugar onde já fomos felizes, largar tudo, correr para o antigo bairro e ter uma vida mais tranquila, talvez até resgatar promessas de amores que nunca tiveram a chance de se cumprir. Mas quando eu venho, a cada dois anos e olhe lá, quando vejo as ruas revestidas de santinhos e os esqueletos das pipas desfazendo-se nos fios, quando vejo as mesmas quitandas e os mesmos bares e as mesmas casas e as mesmas pessoas nos mesmos lugares, logo me vem a angústia de sumir dali o mais depressa, porque a realidade é madrasta de todas as nostalgias.

Não era a boneca Barbie que, contrariando todas as minhas expectativas, jamais teria cabelos compridos novamente. Não era poder brincar de pega-pega na rua, não eram os ponteiros do relógio que andavam mais devagar, não era o Fantomas. Por Deus, não eram nem os bolinhos de chuva e nem o rocambole.

Era só porque eu ainda era criança.

Era só porque eu… ainda acreditava.

Sobre Fabio Baptista

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29 comentários em “WWE (Fabio Baptista)

  1. Victor Viegas
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Charlotte Flair!

    Eu não conseguiria escrever este comentário sem mencionar a oportunidade perdida com o título, agravado com o pseudônimo escolhido. Uma coisa é falar de wrestling, o esporte praticado na World Wrestling Entertainment e que está presente em mais empresas pelo mundo, outra é falar exclusivamente sobre o conteúdo da WWE, que para mim é algo muito nostálgico. São tantas possibilidades. O próprio pai da Charlotte Flair, o “The Nature Boy” Ric Flair (WOOOOOO!!!), poderia ser mencionado. Também temos The Undertaker, Hulk Hogan, Shawn Michaels, Randy Savage, Bret Hart, Triple H, Randy Orton, The Rock, John Cena, Stone Cold Steve Austin e a lista continua. Lembro que quando era criança e acompanhava Raw e Smackdown todas as semanas, ficava na frente do computador por 2 horas ininterruptas, sempre às segundas e sextas, eu com minha bandana e camiseta laranja do John Cena (U can’t see me!!) torcendo contra os heels e esperando um RKO outta nowhere do Randy Orton para botar os vilões para dormir rs. Bons tempos. Mas, sem muita enrolação, vamos falar dessa WWE que na verdade não é WWE. Merece um Sweet Chin Music por causa dessa propaganda enganosa. Vou reclamar com a administração rs.

    Não falou da WWE mas falou de telecatch, dos tempos em que eu não era nascido. Chuchu, gostei muito do Fantomas derrubando o Aquiles. Estava vibrando com o decorrer da leitura, como se eu estivesse vendo a luta ali na minha frente. Claro, faltaram alguns detalhes que poderiam deixar o movimento mais claro e alguns termos técnicos que poderiam especificar o assunto sobre wrestling (olha o pilããããããããooooooo!!!!), mas não nego que a história é muito bonita e agradável de ler. O leitor consegue perceber esse despertar do interesse da menina em acompanhar o telecatch com a avó, a emoção em torcer pelo bom moço e a alegria de saber que o bem venceu o mal. 

    A sequência de cenas soou natural, com a menina se tornando adolescente, a avó adoecendo, a menina indo ver a vozinha no hospital e as duas conversando sobre luta-livre. Achei fofinha essa parte “foi o primeiro pensamento que me veio. Mas (jamais me perdoaria se tivesse feito diferente) eu respirei fundo, reconsiderei minhas convicções e fiz a coisa certa”, demonstra que, mesmo com esse conflito interno, a menina tem muito carinho pela avó. Eu, particularmente, acho difícil mostrar empatia na escrita e você apresentou essa habilidade com maestria. Não somente as ações foram claras, como as emoções também. Parabéns! De modo geral, o conto está muito bem escrito. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!

  2. Pedro Paulo
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Esse conto omite seu verdadeiro sentido até a última linha. É quando se descobre que o principal não é relação entre neta e vó e mesmo a importância da luta livre para a relação de cumplicidade entre as duas. Depois que se termina a leitura, fica mais perceptível como o retorno às memórias da protagonista é feito acompanhado de pequenas notas de insatisfação com o presente. Essa própria inquietude da narradora talvez passasse como meras inconveniências, mas é justamente as últimas linhas que a ressignificam e toda a vida adulta da personagem é revista não como algo ruim, mas como algo que nunca será novamente. Uma infância feliz é irrepetível e muito dessa felicidade é principalmente pelo que não se compreende. O uso da primeira pessoa foi crucial para passar esse sentimento e a centralidade oportuna da luta livre foi uma forma bastante inteligente de passar essa mensagem.

  3. JP Felix da Costa
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    Este foi o último conto que li. A ordem alfabética assim o ditou. Devo dizer: ainda bem. Fechei com chave de ouro.

    A nostalgia palpita, nesta história. Coloco-o ao lado do Playstation. Trabalham o mesmo sentimento, a verdade que aquilo que nos prende, que nos cria memória, é a partilha, o acreditar, o viver os eventos acompanhado, não sendo verdadeiramente o evento, mas a vivência do mesmo com outros.

    Este tipo de textos faz-me regressar ao passado e a momentos em que sinto que a verdadeira magia que os tornou inesquecíveis foi a partilha.

    Para além de me agradar, este texto está magnificamente bem escrito, com apontamentos de texto deliciosos.

    Encerro aqui os meus comentários, num dos melhores contos que li neste desafio.

  4. leandrobarreiros
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    Vai para lista de contos curtos que eu não tenho nada negativo para abordar.

    O texto está muito bom e o autor executa bem a proposta. Cria uma cena na infância para criar empatia entre leitores e personagens, estabelecendo a relação entre neta e avó e usa um salto temporal para compartilhar o fim da relação de maneira emotiva.

    Não tenho o que dizer além de que funcionou. O autor tomou alguns cuidados para não deixar a intenção sem graça. Introduziu um conflito rápido, mas importante, que seria a decisão de contar ou não a verdade, humanizando mais a personagem e trazendo o leitor para a trama.

    Insere, ainda, uma reflexão final que vai além da mera perda da avó, problematizando a nostalgia como a saudade da inocência.

    Quero com tudo isso dizer que o conto tem uma proposta bem definida e que executou bem os passos para alcançá-la, um texto bem maduro. Parabens ao autor.

  5. Fabiano Dexter
    11 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Um conto muito bonito, uma história marcante e pessoal, com detalhes que nos fazem ver os cenários e sentir o que a protagonista está sentindo.

    O modo como inclui algo incomum, como uma avó assistindo Luta Livre dentro da rotina de uma família e cria ali um laço com a neta ficou muito bom.

    Escrita é fluida e a leitura leve, ainda que a história em si não seja. É uma história triste, um soco da realidade em nossa barriga.

    E chegando no fim fiquei com a impressão inicial que seria melhor ter terminado na morte da avó, mas a autora (autor) deixou mais uma surpresa para nós e um final excelente, mostrando que não é o lugar, mas o nosso espírito. E que não há alegria igual a de quando éramos criança.

  6. Felipe Lomar
    10 de dezembro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá!

    o conto é muito bem escrito. Gosto da forma que aborda a percepção da protagonista de que a infância ficou para trás, com sua inocência e falta de preocupação, e que as coisas materiais que sobraram não a poderiam trazer de volta. Termina pra baixo e de forma melancólica, mas isso não é defeito e funciona bem nesse tipo de conto. A escrita é simples mas bem construída.

    boa sorte!

  7. Jorge Santos
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá autor(a). Antes de comentar, devo confessar que o Wrestling, ao contrário do cinema, que foi encontrei em, pelo menos, dois contos deste desafio, não me diz absolutamente nada. Népia, como costumamos dizer aqui em Portugal. A razão é a mencionada pela personagem: tudo não passa de uma encenação. O cinema também é uma encenação, mas não é vendido como sendo realidade. Gostei do conto, que fala da nostalgia das memórias de infância/adolescência, da ligação com uma avó (de onde escrevo este comentário posso ver as fotografias do meu avô paterno e da minha avó materna, duas pessoas que me influenciaram bastante). No final do conto, é descrito um sentimento estranho que encontrei também no conto Playstation. Quando voltamos aos sítios que nos disseram muito no passado, quando voltamos a fazer aquilo que gostámos durante a adolescência, vemos que o tempo deixou marcas e já não sentimos a mesma coisa. “Não devemos voltar ao sítio onde fomos felizes”, poderia ser o mote deste conto. Há um conjunto de fatores que influenciam as vivências. O tempo muda as pessoas e os lugares, nem sempre para o melhor. O certo é que dificilmente voltaremos a ter o mesmo sentimento ao voltar aos sítios onde fomos felizes. A nostalgia, essa, fica para sempre.

  8. claudiaangst
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?
    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.

    ◊ Título = WWE – Apenas uma sigla desconhecida por mim, se não fosse a imagem, não teria a menor ideia sobre o conteúdo do conto antes da leitura.

    ◊ Adequação ao Tema = Tema proposto abordado com sucesso: nostalgia de sobra para querer comer bolinho de chuva e mais o rocambole Seven Boys, tomando café de vó. Só faltou a boneca escolhida ser a Susi e não a Barbie.

    ◊ Desenvolvimento = O conto é bem desenvolvido, apresentando o enredo com bons personagens. Destaque para as passagens da convivência neta e avó, a cumplicidade associada às lutas assistidas pela TV. Finaliza com um toque a mais de nostalgia e saudade.

    ◊ Índice de Coerência = Não encontrei nada que desabone a coerência do texto.

    ◊ Técnica e Revisão = Linguagem clara e bem cuidada, boas construções com citações de elementos que nos remetem ao passado, à infância. Não encontrei falhas de revisão, a não ser a falta de uma vírgula:
    […] vinte polegadas mas na época > […] vinte polegadas, mas na época

    ◊ O que ficou = A imagem da menina brincando com a boneca (na minha cabeça é uma Susi) de cabelos cortados. Nostalgia pura.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  9. MARIANA
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de MARIANA

    História – uma garota assiste TV coma vó e a mulher lembra. Não parece um conto, mais uma crônica sobre nostalgia. Bem escrito, dá um amargor na boca, mas é só 3/4

    Escrita – Bem escrito, mas não há um desenvolvimento, é um texto curto. Poderia ter desenvolvido as personagens 3,5/5

    Título e imagem – Adequados 1/1

  10. Elisa Ribeiro
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Adorei sua avozinha fora do esquadro pero não muito. Minha avó também gostava de assistir essas lutas fakes, embora não fosse desbocada, até porque quase não tinha voz. Gostei bastante do seu conto, mais da primeira parte, até o meio, do que deste para o final. Há um pequeno twist quando a protagonista decide entrar na fantasia da avó, mas depois o conto se desfecha de um modo um pouco previsível para o meu gosto. Ainda assim gostei bastante do seu conto que entregou um aproveitamento criativo do tema e está muito bem escrito e bem narrado.

  11. Mauro Dillmann
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto curto e de bom ritmo desde o início.

    Consegue tratar de nostalgia sem ser sentimental. Tem emoção na medida. A vinculação da relação entre neta e avó ficou bem articulada. A ponderação quanto à aparente necessidade de sobreposição da razão em algumas situações da vida está bem colocada. A narradora (e suspeito que o/a autor/a também) demonstra certa maturidade.

    É verossímil, bem escrito, pensado e revisado. A retomada da boneca Barbie ao final ficou muito bom! Feminista sem ser panfletário.  

    Parabéns !

  12. danielreis1973
    7 de dezembro de 2024
    Avatar de danielreis1973

    WWE (Charlotte Flair)

    Prezado(a) autor(a):

    Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
    Obrigado e boa sorte no desafio!

    DR

    A) PREMISSA: a relação da neta e da avó, baseado na nostalgia das lutas livres que passavam na televisão – eu me lembro, Ted Boy Marino, na Bandeirantes… Zé Bétio, um monte de referências para os da minha idade. Mas o mérito maior é partir disso para construir um conto sobre saudade e relação entre gerações. Isso me toca muito, pela relação que tenho com meus avôs já falecidos e com minha avó, de 97 anos, lúcida e leitora voraz. O autor me pegou por aí: embora simples, o enredo é simpático e coerente com o tema do desafio.

    B) TÉCNICA: apesar de não apresentar grandes picos, o conto não tem vales, permanecendo com uma boa condução ao longo de toda a narrativa. Os diálogos também são bastante realistas, e tal qual fiz no meu, não seguem o padrão de travessão mais convencional, o que me agradou bastante pela fluidez na leitura, nesse formato.

    C) EFEITO: o efeito final foi bom, um conto simples desde a concepção, mas que passa a mensagem da relação entre netos e avós, do desencanto com a ordem natural das coisas, com a falta do que já tivemos antes (a tal da nostalgia) e que era bom em nossas vidas… uma pequena grande obra. Parabéns!

  13. Priscila Pereira
    4 de dezembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    Gostei demais do seu conto! Me trouxe muita nostalgia, mesmo que eu nunca tenha visto uma única luta na vida e que ainda more na cidade onde nasci e que visite a casa dos meus pais, onde cresci, várias vezes por semana…

    Você conseguiu retratar muito bem a nostalgia que todos sentimos da infância, e de nossos avós, e que isso não é necessariamente a vontade de voltar àquele tempo. Era bom porque éramos crianças.

    Os laços que nos unem a família, e a culpa por não estar presente como antes e a individualidade que nos faz criar nossos próprios laços e nossa própria família, tudo está muito bem retratado nesse conto mesmo que seja tão curto!

    A escrita está ótima (como sempre) e o estilo muito gostoso de ler (como sempre). É uma história singela e despretensiosa que com certeza vai agradar a muitos!

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  14. André Lima
    29 de novembro de 2024
    Avatar de André Lima

    É um ótimo conto. Está redondinho, todas as arestas foram aparadas, a escrita é excelente. Nível altíssimo de qualidade literária. Para mim, é um dos contos mais bem-escritos do desafio (Ainda me falta ler um bocado).

    Não tenho nada de negativo para apontar. Talvez apenas uma elaboração um pouco maior na narrativa, mas acredito que se correria o risco de perder o brilho do conto. É para se ter um enredo simples, pois o que brilha aqui é a força da linguagem.

    Não é dos contos mais atmosférico ou imersivos. Não me tocou como algumas outras leituras, mas tecnicamente é impecável.

  15. Kelly Hatanaka
    28 de novembro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá Charlotte.

    Uma menina relembra suas tardes assistindo luta livre com sua avó.

    Eis aqui um conto que não mencionou um evento qualquer do passado para entrar no tema, nem botou uma porta aleatória no meio do caminho ou mencionou uma passagem de A para B para fazer as vezes de portal. Este conto é inteiramente sobre nostalgia. Vou dar ponto extra neste quesito.

    A ambientação está muito bem feita. O clima é de tarde de infância, e as referências ao rocambole seven boys ou aos bolinhos de chuva e, principalmente, àquela cumplicidade infantil com os avós, estão perfeitos.

    No mais, a história está bem escrita e revisada. Dá gosto de ler.

    Os diálogos com a avó mostram muito bem a personalidade das personagens. O tom da narrativa, idem. Orgânica, fluida, com uma dose muito boa de sentimentos.

    Minha pitada de achismo: as duas linhas finais são dispensáveis. Tive a impressão de que elas diluíram o impacto do final.

    Gostei ou não gostei: gostei muito!

  16. Thata Pereira
    25 de novembro de 2024
    Avatar de Thata Pereira

    Vocês pegam muito pesado com conto falando de avó, de pai…

    Meu parágrafo preferido desse conto é o segundo. Consegui imaginar direitinho uma criança correndo assustada para a mãe e depois a delícia de ouvir a mãe falar “vai lá assistir com ela” e a menina subir as escadas, ainda assustada.

    Gostei da sequência do conto. Só fiquei perdida imaginando no que ela ainda acreditava. Ela ainda acreditava que a avó voltaria, ela ainda acredita que seria mais feliz voltando para casa (não porque ela mesma descartou isso no conto), ela ainda acreditava que podia voltar no tempo e resgatar o tempo perdido com a avó…

    Essas dúvidas martelando vão me impedir de dar um dez. Mas adorei o conto, sobretudo o segundo parágrafo.

  17. Gustavo Araujo
    24 de novembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Este foi o primeiro conto que li em todo o desafio, mas é o que comento por último. Isso porque fixou, para mim, o que se deve entender por nostalgia. Bem, talvez “deve” seja uma palavra muito forte… Vamos substituir isso por “o que mais representa minha visão de nostalgia.”

    Isso porque consegue traduzir, em poucas linhas, o sentimento que associo a essa palavra, de paradoxo entre o desejo de reviver uma época que evoca as mais reconfortantes lembranças e o temor, ou melhor, a percepção de que isso é impossível. Claro, porque jamais poderíamos experimentar as mesmas sensações, jamais poderíamos viver os mesmos acontecimentos pela primeira vez.

    Ao fazer isso, isto é, ao fixar essa premissa, o conto meio que pautou minha análise em relação aos demais inscritos no certame. Então eu precisei ler todos para ver se essa percepção se confirmaria ou se se diluiria à medida que as outras leituras avançassem. Acabou se consolidando, ainda que outros contos tenham ganhado minha preferência.

    Mas é fato que a narradora deste conto é quem vivencia melhor aquilo que entendo por saudade do outrora, uma saudade impossível de mitigar. Não pelos bolinhos de chuva, não pela antecipação da saudade da avó, não pela luta livre assistida na TV de tubo 20″, mas pelo paralelo habilmente traçado entre a realidade atual e a do passado.

    Essa comparação entre o que temos hoje — um mundo acelerado em que as pessoas se orgulham de trabalhar como camelos — e o que vivemos ontem — quando ainda acreditávamos que o mundo seria bom e justo, que manteríamos para sempre acesas a alegria e a ingenuidade — que concentra de modo exemplar a angústia causada pela nostalgia. Creio que nenhum outro conto do desafio conseguiu emular esse sentimento, esse desamparo.

    Não que o texto seja perfeito. Falar da relação entre neta e avó foi tiro na mosca — impossível dar errado. Mas a luta livre me pareceu um tanto arriscada como fonte de ligação entre ambas. Não que soe inverossímil, mas é que poucos leitores se recordarão com saudades do programa, ou mesmo dos lutadores-personagens…

    Ou seja, não sei até que ponto falar de luta livre pode cativar os leitores. Eu mesmo, nascido nos anos 1970, me lembro dos espetáculos — os chamados telecatches na TV dos anos 1980 — mas confesso que não faziam parte da minha memória afetiva.

    Como disse, a força do conto está no comparativo entre o hoje e o ontem. Isso não é pouco. Mas acho que se outro assunto fosse utilizado para reforçar o abismo entre as duas realidades, em vez da luta livre, o texto ficaria mais próximo da perfeição.

    De todo modo, este conto mostra-se capaz de fazer pensar. Apesar de curto, é o tipo de história que faz com que o leitor permaneça pensando nela por horas depois do fim da leitura — especialmente se esse leitor tiver muitas, muitas saudades da avó que fazia bolinhos de chuva.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  18. Thiago Amaral Oliveira
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Nesse conto temos uma trama um tanto clichê, a morte de uma avó, mas revestida de uma situação atípica: a luta-livre. Uma fórmula que pega basicamente qualquer um, pois pretende atingir emoção comum a todos, mas ao mesmo tempo traz um nicho esquisitinho que nos faz rir.

    Mas acho que o conto acerta em outros elementos. Apesar dos parágrafos enormes, a escrita é boa, evitando o cansaço. Além disso, os comentários sobre sonhos, a situação atual dos pais e as reflexões ao final são o que realmente dão significado e brilho ao tema proposto.

    Que a nostalgia é uma ilusão todos sabemos, mas esse conto foi muito competente em como ressaltou isso. E parece bastante real, dando a impressão de que a autoria retirou elementos da própria vida para montar essa história.

    Parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio.

  19. Luis Guilherme Banzi Florido
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos, tudo bem?

    Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:

    Tema escolhido: nostalgia.

    Abordagem do tema: 100%. Que saudades daquele época boa e inocente da infância, né?

    Comentários gerais: esse é um conto bom e muito bem escrito. Infelizmente, não correspondeu à hype do grupo. Acho que ele vai pegar posições lá em cimão, um top 3 ou 5, mas pra mim ele é nota 8. Um bom conto, mas que não me arrebatou, sabe? Mas vamos por partes:

    Primeiro de tudo, esse conto é muito bem escrito. O autor é claramente um veterano e tem um nível de escrita “profissional”, tendo muita facilidade com as palavras, escrevendo de forma fluida e natural, e dominando a parte técnica com perfeição. O conto transcorre de maneira natural, orgânica e dinâmica, e a leitura é rápida e gostosa. Os diálogos também funcionam. Como eu disse, coisa de veterano.

    A história, por outro lado, é um pouco água com açúcar demais, pelo menos pra mim. Não sei dizer exatamente o motivo, mas acho que por ser um pouco linear demais e por tentar um drama que pelo menos comigo não funcionou tanto: não me emocionei nem envolvi emocionalmente com a história, pra ser sincero. A relação dela com a avó é até bonita, mas não sei, a morte da avó não me pegou tanto (ainda que eu tenha achado bem legal a neta abrir mão das convicções pra realizar um “último desejo” da velhinha), e acho que dali pra frente o conto caiu. Acho que ali era a hora de acabar. As mensagens que vem depois, ainda que corretas, não soam muito naturais e parecem um pouco didáticas. A ideia de que a vida adulta é meio bosta e a infância era incrível aparece ali, mas não sei, não me pegou. Sem dúvida, a melhor parte do conto é o início, quando ela descobre a avó maldizendo os lutadores e elas começam a xingar juntas, assim como a descriação das lutas, que é muito boa. Ali é o auge do conto, e me pegou. Não posso dizer o mesmo, infelizmente, do restante.

    Enfim, como falei anteriormente, um conto muito bem escrito, mas que pra mim carece de carisma e acabou não me envolvendo muito. De todo modo, deve ficar lá no topo.

    Sensação final: fui convidado pela minha amiguinha pra assistir luta com sua vovó. Adorei a atitude badass da véia, mas à partir de certo ponto, perdi um pouco o interesse e me distraí com a barbie dela.

  20. Marco Saraiva
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    Um conto triste, como muitos contos deste desafio. A galera pareceu ter conectado o tema “nostalgia” à sensação de tempos melhores, de tempo desperdiçado, de arrependimentos, etc. O resultado foi esta enxurrada de contos melancólicos e tristonhos… apesar do quê, parando para pensar, nostalgia é uma espécie de melancolia.

    O conto é muito bem escrito, com frases potentes como “…a realidade é madrasta de todas as nostalgias”. Entrega bem o que busca entregar, esta sensação de nostalgia que veio como um tiro no meu peito. Como a maior parte dos contos deste desafio, também, não há muito enredo – o conto é mais uma oportunidade para mergulhar em memórias e divagações. Acho justo e funciona, às vezes, mas na maioria das vezes que leio contos assim, fica aquele sentimento de que faltou “alguma coisa”. Desenvolvimento, um clímax, um conflito, etc.

    Apesar de eu não ter sido tão atraído pelo conto, a técnica e a competência do(a) autor(a) são inegáveis.

  21. Givago Thimoti
    22 de novembro de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    WWE – Charlotte Flair

    Resumo + Comentários gerais:

    “WWE” conta a história de uma mulher que reflete, a partir das memórias das tardes assistindo luta livre com a vó e da partida da mesma, sobre a nostalgia.

    “WWE” é um conto intimista escrito com evidente competência, algo que transparece na narrativa e nos aspectos técnicos. No entanto, para mim, a história deixou a sensação de ser mais performática do que visceral, como um espetáculo bem coreografado, mas que perde o espectador no último ato.

    O conto aborda temas profundos, como nostalgia e o afastamento familiar ao longo da vida, e inclui cenas impactantes, como a interação entre a neta e a avó no hospital. Ainda assim, senti falta de um aprofundamento maior nos conflitos internos da protagonista, especialmente no autoquestionamento sobre suas decisões e o impacto disso. Essa ausência, a meu ver, enfraqueceu o impacto emocional do desfecho, que acabou ficando mais teatral do que visceral.

    Apesar disso, a beleza do texto e a habilidade do autor permanecem inquestionáveis. Creio que a nota final reflete isso.

    Frase/Trecho de impacto:

    “Era tudo combinado, vó. As lutas eram ensaiadas, os lutadores eram todos amigos, eles só fingiam ser limpos e sujos pra fazer a gente torcer por um ou por outro, era só mais um programa de televisão feito pra desviar nossa atenção do que realmente importa”, foi o primeiro pensamento que me veio. Mas (jamais me perdoaria se tivesse feito diferente) eu respirei fundo, reconsiderei minhas convicções e fiz a coisa certa:

    Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 3

    A nostalgia está bem presente e delimitada.

    Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 1,5

    O conto é muito bem construído, de verdade. E, como todos os aspectos analisados aqui, reflete a qualidade de quem escreveu. São poucas nuances, mas (quase) todas são bem trabalhadas. A personagem mergulha na nostalgia ao ver sua avó, companheira de assistir WWE, acamada por uma doença. Após dar o braço torcer, entra nas lembranças de criança.

    Então, conforme vai se aproximando do final do conto, ela passa a refletir. E conforme vai refletindo e o autor encaminha a conclusão, mais o final vai se abrindo e menos a protagonista reflete propriamente falando. A sensação que tive é que ela vai jogando fatos e deixa para o leitor inferir o que ela concluiu. Dos tempos de criança, ela vai lembrando de como as coisas não tem mais o mesmo gosto. OK, justo. Então, a protagonista comenta que se sente culpada por visitar os pais apenas de 2 em 2 anos para votar. OK. Nos dias difíceis na capital ela até sente vontade voltar, mas ao ver que sua cidade de origem continua pequena do mesmo jeito que era, desiste e foge como o diabo foge da cruz. OK. Então, temos uma conclusão meio filosófica; a realidade, mádrasta (não mãe) da nostalgia, depende que a pessoa acredite, tal qual uma criança, que o passado era bom sim.

    Por mais que eu goste em parte da ideia filosófica da conclusão, quando eu olho todo o desenvolvimento da história e leio o desfecho, a sensação que tenho é a que não casa com harmonia. É algo forçado, quase como uma luta de WWE mesmo. Penso que a causa disso seja o desfecho apressado e comprido dentro de um parágrafo enorme, deixando tudo aquilo que poderia ser explorado mas não é a cargo do leitor, que completa a lacuna por meio de suas inferências.

    Aí, para mim, não sei se ficou tão em construído, já que, afinal, tinha bastante espaço ainda para construir, pelo menos, uma base mais sólida para essas inferências todas.

    Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos:  2

    A gramática está irretocável! Estilo de escrita que insere o leitor para dentro da história, com bastante competência. Parabéns!

    Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 1

    Como eu disse na parte da construção, estava tudo bem e na mais perfeita ordem até a conclusão. Fluía que era uma beleza, encantava como poucos contos aqui, pela criatividade em abordar uma história teoricamente “mais fácil” (aqui, o que liga neta e avó é luta livre, algo muito pouco imaginado). Mas a conclusão e o ritmo acabaram manchando esse conto.

    Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 0,5

    WWE é um conto de de um escritor/ de uma escritora competente. A escrita grita isso ao leitor. Penso que as outras notas nos demais aspectos evidenciem isso. Contudo, com todo o respeito, pelo menos para este leitor, a impressão que esse conto deixou foi algo extremamente similar ao que é WWE (para mim e para a personagem principal depois de velha): um show acrobático de mentirinha.

    Tá, eu sei, ficou pesada essa frase. Vou melhorar. Vamos comparar o WWE com o UFC ou o boxe; enquanto um é uma luta performática, que se usa cadeira, coreografia, mortal, golpes quase cômicos. Já os outros são mais viscerais. Tem sangue, tem porrada, tem osso quebrado (puts Anderson Silva). Claro, isso não impede que o lutador de WWE não se machuque, nem impede que sejam lutas armadas… mas não é essa a questão.

    O conto é pesado. Fala de nostalgia, fala de como quando nós crescemos nós nos afastamos da família… É pesada a cena da neta e da vó interagindo no hospital. Mas o desfecho, pelo menos para mim, com a conclusão da protagonista foi o que trouxe aquele ar de WWE e não de UFC. 

    Acho que faltou o visceral. E isso, para mim, murchou quase que completamente o impacto da história. Eu passei por isso esses dias. Me questionei porque eu permaneci tanto tempo afastado da minha família. É uma pergunta difícil. Por que em 3 anos eu vi uma pessoa tão querida apenas uma vez, por um final de semana? Esse conto não aborda o cruel autoquestionamento do porquê de se tomar essa decisão. E o impacto disso na personagem. Seja qual for o motivo da personagem, essa seria a grande porrada visceral do conto. Nem que o motivo fosse o eu não sei da personagem, a vida atribulada. A motivação fica para o leitor. E é bem frustrante isso porque, afinal, trata-se de um conto intimista e nostálgico.

    Sem essa visceralidade, por mais que o conto não perca totalmente sua beleza e não diminua em nada a competência de quem tenha escrito, ao final, me pareceu bem mais uma luta muito bem coreografada do que uma luta em si, o que dinamitou o impacto do conto nesse leitor.

    NOTA FINAL: 8

  22. Rangel
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Rangel

    cont. Gostei das elipses que deixou, sensibilidade em omitir a verdade em nome de um tempo a mais de carinho. Gostei dos bolinhos de chuva, quem é do interior, tem uma relação de encanto com o alimento, desde o preparo até a retirada das louças. Parabéns

  23. Rangel
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Rangel

    outra bela prosa recheada de saudades poéticas. O conto está todo estruturado para nos deixar sentir esse doce amargor da nostalgia. Da falta. Da memória. Poderia ter ficado piegas, mas foi bem dosado e funcionou muito. U

  24. Thales Soares
    20 de novembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: Desinteressante.

    Entendo o mérito do autor ao escrever algo de um nível tão elevado de escrita. Mas a narrativa não conversou em nada comigo. Senti, na verdade, uma falta de criatividade, e vi aqui o mesmo que estou vendo em todos os outros contos deste desafio: uma pessoa choramingando e dizendo “Puxa, como o passado era bom”, “Tempos que não voltam”. Ok… é isso o que o tema deste desafio nos pede, certo? Sim… mas gostaria de ver um pouco mais de criatividade investida nas histórias… pois na maioria das tramas não está acontecendo nada demais.

    Aqui temos uma mulher (que nem nome tem) que está visitando sua avó no hospital, e lembrando de como era boa a época da infância, em que ela visitava a véia e as duas juntas assistiam WWE. Eu nunca assisti luta livre, então não consegui sentir completamente o quão divertida era essa experiência… mas o texto por si só foi bastante competente em me fazer imaginar como era essa sensação.

    Com o tempo, a infância acabou, e aí veio a adolescência e a vida adulta. A mulher parou de assistir WWE, e mal visitava sua avó. Ela só lembrou dessas coisas porque a avó agora tá morrendo no hospital. E aí a véia morre. Fim.

    Poxa………… eu sinceramente não consigo entender como é possível se divertir ou se entreter com uma história como essas, por mais bem escrita que ela seja. Talvez seja porque não houve conexão nenhuma comigo, mas eu realmente senti que isso daqui tá bem sem sal.

    Enredo simples demais, criatividade zero, ausência de tempero, e escrita primorosa. Essa foi a fórmula utilizada para criar este conto. Pelo menos se encaixou bem dentro do tema. Boa sorte no desafio!

    EDIT:

    (aliás… isso daqui não é um edit… é só um comentário novo, porque não dá pra editar e nem responder comentários que não foram aprovados)

    Esqueci de dizer que o maior ponto forte deste conto é que ele é extremamente fluido e bem curtinho. Isso foi um grande alívio, em meio a contos tão grandes e cansativos deste desafio. Eu li este conto numa sentada, enquanto eu estava no banheiro, colocando pra fora o almoço. Até que este conto serviu bem para passar o meu tempo enquanto eu executava essa minha tarefa diária…

  25. Thales Soares
    20 de novembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: Desinteressante.

    Entendo o mérito do autor ao escrever algo de um nível tão elevado de escrita. Mas a narrativa não conversou em nada comigo. Senti, na verdade, uma falta de criatividade, e vi aqui o mesmo que estou vendo em todos os outros contos deste desafio: uma pessoa choramingando e dizendo “Puxa, como o passado era bom”, “Tempos que não voltam”. Ok… é isso o que o tema deste desafio nos pede, certo? Sim… mas gostaria de ver um pouco mais de criatividade investida nas histórias… pois na maioria das tramas não está acontecendo nada demais.

    Aqui temos uma mulher (que nem nome tem) que está visitando sua avó no hospital, e lembrando de como era boa a época da infância, em que ela visitava a véia e as duas juntas assistiam WWE. Eu nunca assisti luta livre, então não consegui sentir completamente o quão divertida era essa experiência… mas o texto por si só foi bastante competente em me fazer imaginar como era essa sensação.

    Com o tempo, a infância acabou, e aí veio a adolescência e a vida adulta. A mulher parou de assistir WWE, e mal visitava sua avó. Ela só lembrou dessas coisas porque a avó agora tá morrendo no hospital. E aí a véia morre. Fim.

    Poxa………… eu sinceramente não consigo entender como é possível se divertir ou se entreter com uma história como essas, por mais bem escrita que ela seja. Talvez seja porque não houve conexão nenhuma comigo, mas eu realmente senti que isso daqui tá bem sem sal.

    Enredo simples demais, criatividade zero, ausência de tempero, e escrita primorosa. Essa foi a fórmula utilizada para criar este conto. Pelo menos se encaixou bem dentro do tema. Boa sorte no desafio!

  26. Antonio Stegues Batista
    14 de novembro de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

     A personagem lembra o tempo de criança quando assistia o Telecatch, um programa de luta livre pela televisão dos anos 70, na companhia da avó. Meus heróis eram também o de todo mundo, os bonzinhos contra os malvados e traiçoeiros. Eu gostava do Fantomas, a gente gritava e batia palmas quando ele entrava no ringue. Acreditava que as lutas eram pra valer. A personagem relembra aquele tempo em que assistia o programa com a avó. Quem não teve uma avó que morava num quartinho nos fundos do terreno e que fazia bolinhos-de-chuva? Era o que os avós fazem quando a velhice chega, dá a casa da frente para os filhos e netos morarem e vão morar nos fundos com seu pet de estimação. Depois a avó morre, ficam as lembranças. A vida segue, não tem jeito.

    O conto está bem escrito, tem um bom enredo, sem grandes traagédias, mistério, ou magia, e nem precisa, é um conto só de Nostalgia. Parabéns e boa sorte.

  27. vlaferrari
    12 de novembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Não pude preservar na memória os comentários feitos no grupo a respeito do conto, mas confesso que provavelmente, foi a flecha mais certeira no alvo nomeado “Nostalgia” do desafio. Vivi tudo isso. Não guardo esse receio da narradora, no entanto. O passado é como consultar um verbete em um dicionário e alegrar-se em ter escolhido a palavra perfeita para a frase que se deseja escrever. Que bela imagem essa: “esqueletos das pipas desfazendo-se nos fios”. Uma infância que nenhuma das crianças de hoje em dia terá. Foi surpreendente lembrar não apenas da luta livre, mas também do herói dos desenhos animados na mesma TV de tubo, o Fantomas. E sendo assim, o conto cumpre o seu papel de, além de impactar o leitor, deixar ecos que provocam as sinapses e alegram os pensamentos e os copos de cerveja com os velhos amigos. O único senão, mesmo, é esse receito da protagonista em revisitar o passado. Mas, compreensível. A autora quis jogar com os sentimentos do leitor e provocar a emoção com o final bem colocado, a flecha certeira. Parabéns.

  28. Silmara Fiore
    11 de novembro de 2024
    Avatar de Silmara Fiore

    Parabéns!!! Certamente muitos de nós nos sentimos a personagem do conto! Como é bom ser criança!

  29. andersondopradosilva
    10 de novembro de 2024
    Avatar de andersondopradosilva

    WWE

    Resumo:

    Neta rememora bons momentos com a av.

    Comentários:

    O melhor momento para deixar uma briga é quando ainda não perdemos a razão, porque não importa quão certo estejamos, mas, se a briga de arrasta, se os ânimos gradualmente se exaltam, inevitavelmente perdemos a razão. Então, quer vencer uma briga? Deixe-a o quanto antes.

    Neste conto, o autor investiu na briga, seguiu adiante e, como resultado, perdeu a razão. O conto vinha bem, com alguns altos e baixos, mas, entre o sopé e o cume, encerrou pelo sopé.

    O conto tem diversos excertos memoráveis, um dos melhores aparece faltando quatro parágrafos para o desfecho: “a realidade é madrasta de todas as nostalgias”. Era neste ponto que o conto deveria ter se encerrado. Teria vencido por nocaute.

    Mas o autor seguiu adiante e nos apresentou mais três parágrafos supérfluos e cambiantes.

    No mais, o conto é bom, embora explore a relação um tanto quanto óbvia (e nostálgica) de uma neta com sua avó. Mas, por céus, o autor fornece uma fuga ao óbvio ao nos apresentar uma exótica velhinha admiradora de luta livre.

    Como consignei, o conto tem altos e baixos. Um dos baixos foi o medo do autor de sujar as mãos e colocar na boca da neta as duras palavras sobre a falsidade da luta. O autor, tal qual sua personagem-narradora, hesitam, e acabam por mentir pra velhinha em seu leito de morte. Era pra ser belo, mas soou covarde e piegas.

    Mas, enfim, perdoei o autor e a personagem-narradora por sua covardia diante da velhinha, isso porque a pieguice se rendeu à realidade, e o lobo parou de se travestir, mostrou seus dentes e suas garras, revelando-se, ao final, um cretino de mão cheia (como somos todos em algum ou alguns momentos) ao se mostrar omissa com os pais, os quais só seriam visitados nas eleições. Isso aí, autor, sem medo de meter o dedo na ferida fétida e pútrida dos nossos desconfortos diários!

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Informação

Publicado às 10 de novembro de 2024 por em Nostalgia e marcado .