EntreContos

Detox Literário.

Toc-toc (Luis Guilherme)

21 de agosto de 2024.

Fazia cinco dias desde que a porta apareceu. Vermelha, cor de sangue. Provocante. Sempre a chamá-lo, sussurrando imoralidades.

Carlos enfiava os dedos com força nos ouvidos, tentando bloquear o som, as unhas imprudentes ferindo tímpanos, cavando membrana. Sangue e dor. E a porta saboreando, provocativa. Sorrisos maliciosos em rostos joviais.

Toc-toc.

Demônios arranhando a madeira do outro lado, lambendo os lábios, salivando por carne. Carlos deu um grito sufocado e apertou mais os dedos no ouvido. Não queria levantar, não devia andar até a porta, não podia abri-la. De jeito nenhum. Toc-toc. Era melhor morrer, esmagado pelo sufocante som de risadas e gritos e gemidos e carne sendo rasgada. O som vinha de todos os lados, entrava pelos vãos das telhas, pelos canos, pela persiana fechada, pelos seus ouvidos tapados, pelos olhos, pelos poros da pele. Vibrava nas paredes, ecoava dentro de seu crânio.

O homem se encolheu contra uma quina da sala de estar, amassando-se contra a parede como se quisesse invadi-la, tornar-se concreto e tinta, desaparecer dentro dela. Fora do alcance da porta. Esse pensamento lhe causou uma gargalhada, que ressoou estranhamente com a cacofonia de dor, desespero e prazer que agora fazia vibrar a casa toda, ameaçando a própria realidade. Toc-toc.

Carlos não podia ceder, era isso que a porta queria. E também o demônio que a esmurrava, do lado de fora, atraindo-o com gritos infantilizados de “papai”.

O pavor ameaçava destruí-lo, e sentiu os dentes rangerem  perigosamente, tamanha a pressão que punha nos maxilares. Gosto de sangue. Toc-toc. Levantou-se e cambaleou, derrotado. Deu alguns passos pela sala – outrora brilhante e impecável, como se orgulhava de enfatizar – agora o pandemônio de uma semana de desespero e isolamento. Toc-toc.

Deu um passo longo para evitar a roupa suja que se amontoava em meio a restos de comida e gavetas reviradas, e esticou o braço direito. Tocou na maçaneta, o frio do metal queimando os dedos de unhas de sangue coagulado. Toc-toc. Girou. A porta se abriu num silêncio mortal: agora, o próprio mundo parecia observar paralizado pela tensão e antecipação, mudo, incapaz de produzir ruídos de vento ou grilo.

Luz, muita luz, ofuscando a visão acostumada ao escuro. E diante dele, dissimulado demônio, olhos malignos estampados em semblante inocente. O rosto de sua filha mais nova, zombador. Mas Carlos sabia que era um truque. Tentou gritar, mas não tinha língua para isso.

Tentando recuar, tropeçou na pilha de imundície. Caiu de costas. A filha entrou, sorriu com malícia e abriu a boca para proferir profanidades. Antes, no entanto, Carlos tirou algo da cintura, apontou e atirou.

Julho de 2017.

– Pai, vira essa porcaria pra lá! Cê tá cansado de saber que eu odeio armas – Patrícia olhava desgostosa. Carlos apenas riu, guardando a pistola na caixa vermelha. Gostava de provocar a filha, forma de se vingar da menina que parecia cada vez mais com a mãe.

– Não sei porque você traz essa merda pra mesa, ainda mais em dia de almoço, com a criançada tudo correndo aqui em volta.

– Lá vem você com o chororô – bufou o homem, as costas de 50 e poucos anos doendo ao levantar. Guardou a caixa no alto da estante, fora do alcance dos 4 netinhos.

– Ah, pai, não começa. Não viemos aqui pra ficar brigando por bobagem. Pelo menos dessa vez, pra variar. Pode ser? – quem respondeu foi Ricardo, o filho mais velho, enquanto a irmã se contentava em bufar com desdém.

20 de agosto de 2024.

Toc-toc. Podia jurar que a porta se moveu. Ela tem uma forma de seduzi-lo, de dançar e provocar. Queria ser aberta, precisava que ele a abrisse. Um calor intenso tomava conta da casa. A porta queria queimá-lo vivo, seduzindo-o com o frescor da noite de primavera. Me abre, sente meu frescor. Me quebra. A sensualidade com que a última frase foi pronunciada causou-lhe arrepios. Um frio na barriga, um nó na garganta. Desejo. Toc-toc.

Precisava acabar com isso; não sabia quantos dias mais ia aguentar. Agarrou a caixa vermelha, da qual já não se separava um momento sequer. Na outra mão, segurou uma bíblia surrada e entoou orações desconexas. Toc-toc.

O próprio ar parecia vibrar, e não se lembrava como isso tinha começado, mas de sua boca saíam agora não orações cristãs, mas blasfêmias e heresias. Toc-toc.

Tentou se calar, mas o fluxo de palavras jorrava como vômito incontrolável. Toc-toc. A maldita porta queria destruí-lo de dentro para fora. Toc-toc. Já que ele não sairia por vontade própria, pois sua determinação era inabalável – jamais aceitava ser contrariado e resolvia as dissidências com a força de seu caráter, como se orgulhava de dizer –, ela parecia querer destruir sua fé. Toc-toc. Toc-toc. Pegou a tesoura na gaveta – toc-toc, toc-toc, toc-toc –, escancarou a boca como pôde, em meio à torrente verbal, esticou a língua. E cortou. Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc.Toc-toc…

Maio de 2018.

– Fica de olho na Júlia, pai. Ela tá terrível, some tão rápido que a gente nem vê – Ricardo passava margarina numa fatia de pão, procurando o pai e a filha atrás das árvores cheias de frutas que balançavam ao vento outonal.

– Ele sabe se virar, Rica, para de ser tão medroso – debochou com carinho Patrícia. – Achei que a Rafa vinha hoje…

– Ela tá trabalhando, mas mandou um beijo. Tá uma pilha de nervos com o projeto da casa na Vila Mariana.

– É, ainda bem que ela tem você, o paizão que leva a criançada pro piquenique e não consegue relaxar nem pra comer.

– Seu senso de humor é encantador, Pat – ironizou o irmão, sem conseguir no entanto esconder o bom humor e carinho na voz.

– Mudando de assunto, Ri, tô preocupada com o pai – a mulher baixou a voz, para que os filhos e o sobrinho que brincavam por perto não ouvissem. – Ele tá piorando, não para de trocar os nomes, às vezes não lembra das crianças. E ele vive me confundindo com a mamãe. Parece que a doença tá avançando, não sei se ele devia continuar vivendo sozinho.

– É, também tô preocupado. O foda é que tô na espera daquela proposta, e se der certo, vou ter que mudar pra Campinas, cê sabe. Não consigo levar ele junto. Ele é velho, Pat, se você tirar ele da casa dele, ele morre. E vocês dois, você sabe, sai faísca. Se colocar pra morar juntos, daqui a pouco é você que vai acabar internada! Hahahaha.

– É, nem brinca. A gente não se bica nem durante o almoço de domingo, imagina morando juntos. Deus ô livre. Mas tô incomodada, viu. Ontem mesmo ele me chamou de Flávia e perguntou porque eu demorei tanto no mercado. Acho que ele nunca superou o sumiço da mamãe…

Uma bola passou perigosamente perto de sua cabeça, e as crianças se aproximaram fazendo algazarra. Patrícia se limitou a dar um último sorriso preocupado para o irmão.

19 de agosto de 2024.

– … te matar! Vou te matar se você aparecer de novo aqui! – Carlos gritava, apontando sua arma para algum inimigo invisível. O adversário, no entanto, fosse o medo de levar um tiro ou a diversão de ver o homem esperneando, não apareceu para contra atacar. Se é que realmente havia algum.

Minutos depois, ele pareceu se acalmar. Olhou ao redor, alheio ao fedor de comida azedando em meio a gavetas e armários revirados, como que procurando um refúgio em seu purgatório. Pelo canto dos olhos, percebia o vermelho vivo da porta vibrando, ondas malignas de prazer demoníaco irradiando em sua direção. O maldito toc-toc ressou mais uma vez. A porta parecia sentir quando ele pensava nela. Podia atirar nela, mas sabia que seria muito pior para ele próprio. Apertou a caixa vermelha com mais força.

Fazia agora dias que estava enclausurado naquela casa, encurralado pela maldita porta e seus sussurros indecentes. Toc-toc. Queria possuí-la – me abre, me explore, me arrombe –, mas não cederia a desejos tão primais. Sabia qual era seu jogo, e não cairia tão facilmente.

Caminhou lentamente, fingindo não perceber o olhar da porta. Esgueirou-se de lado, como pugilista em guarda. Ousou espiar, e lá estava ela. Vermelho  sangue, cor de pecado. Me sinta. Exalando odores carnais convidativos, feromônios irresistíveis. “Maldita porta, vadia degenerada” – murmurou. Toc-toc. Então, a passos lentos e dissimulados, chegou até ela. Me toque. Sem olhar, baixou as calças num único movimento brusco e ríspido, ainda segurando a arma, para caso precisasse se defender. Me violente. Orou uma última vez por perdão, e encostou na madeira. Macia, quente, viscosa. Toc-toc. Gemeu.

Agosto de 2000

– Deixa eu jogar também, Rica! Que saco, vou contar pra mamãe! – Patrícia, com suas perninhas curtas que faziam com que pisasse na ponta do vestidinho, correu aos tropeços em direção à mãe.

Flávia vestia um lindo vestido florido, que caía belamente por suas pernas esbeltas. Os cabelos ondulados brilhavam ao sol, enquanto preparava pãezinhos para os filhos sobre a toalha de piquenique estendida no gramado do parque. Carlos roncava ao lado, irradiando um cheiro intoxicante de bebida velha.

– Manhêeee… – choramingou a menina, limpando as lágrimas e o nariz nas costas da mão.

– Psiu, quieta, fofinha. Papai tá dormindo ali, não vamos acordá-lo – a mulher puxou a filha para um abraço apertado, envolvendo-a em seu peito.

– Mas o Rica não quer me deixar brincar de novo, mã-mã-mãe… – sugou o catarro com estrondo, e seguiu, falando baixinho – ele só fica correndo igual tonto com o Felipe e o Pedro, mas eles não me deixam jogar junto.

– Deixa eles, querida. Meninos são todos uns bobos. Vou te contar um segredo: você é minha preferida, e comigo você sempre pode brincar.

A garotinha sorriu e apertou mais o abraço, sentindo um cheiro gostoso de amaciante na blusa da pessoa que mais amava no mundo. Percebeu que a mãe suava.

– Mamãe, cê num tá com calor com essa blusa? – tentou puxar a manga da jaqueta que a mãe usava, e que não combinava com o estilo veranil do vestido e da sandália. Quando aproximou sua mãozinha da manga da blusa, no entanto, a mãe puxou o braço com pressa, assustando a menina, que olhou para ela com medo.

– Desculpa, meu amor. Não quis te assustar. A mamãe tá com uma alergia no braço, não pode tomar sol…

O marido resmungou num muxoxo mal humorado, e Flávia fez “xiiiiu” para a filha, levando o dedo ao lábio. Então, ofereceu um sanduíche e um suco de caixinha, que a menina aceitou com gratidão.

18 de agosto de 2024.

Hoje ela apareceu. A porta voltou a fazer toc-toc, como se alguém estivesse chamando. Carlos não caiu nessa, era esperto demais para ser enganado pelo ardiloso demônio. A porta agora exalava um cheiro curioso. Ferro? Não, era algo mais doce, talvez até orgânico. Não conseguia definir, mas já tinha sentido aquele odor, e talvez o gosto do cheiro. De alguma forma, aquilo lhe causava euforia. E medo.

Então ela surgiu no canto da sala: Flávia, tão linda e maligna como se lembrava dela. Se esgueirava pelos cantos, ora fera, ora inocente, ora transbordante de desejo. Maliciosa. Claro que não podia ser ela, afinal, há quanto tempo não a via? 14 anos? 13? 17? Não conseguia se lembrar, sua memória vinha o traindo há algum tempo, afinal. Mas não podia ser real. Estava tão jovem quanto da última vez que a vira. E tão indecente quanto. Traiçoeira, queria enganá-lo de novo, agir em conluio com a porta para atraí-lo para o inferno disfarçado de lado de lá.

Respirava com dificuldade, tão forte e inebriante o cheiro se tornava. Salivava. Abriu a caixa vermelha, sacou com presteza e ameaçou atirar nas sombras que se moviam em risinhos provocadores. Preferiu não puxar o gatilho; as sombras desapareceram. Toc-toc. E a risada de Flávia, que tantas noites perturbava seus pesadelos, ecoou pela casa. Durante horas.

Junho de 2021

– Igual a porra da sua mãe! Pensa que pode me controlar? Eu vou pra onde eu quiser, cacete! – Ricardo ouviu o estrondo de uma porta batendo em meio à gritaria enquanto parava seu carro na vaga extra de garagem que o pai não usava. Segundos depois, Carlos entrou no Ford Fiesta estacionado ao lado e saiu cantando pneu.

– O que tá acontecendo, Pat? – O irmão olhava confuso para ela, cujos olhos marejavam e cujo corpo sacudia com os soluços, parada em frente à porta marrom de entrada da casa.

– Ai, Rica, não aguento mais. Ele quer sair pro bar, do jeito que ele tá. Tem que ficar em ca-casa… – o corpo teve outro solavanco, mas continuou: – do jeito que ele tá, esquecendo tudo toda hora, confundindo as pessoas. Outro dia, bateu no carteiro falando que era um amante da mamãe. Eu… eu… – as palavras pareceram morrer em sua garganta, enquanto Ricardo a abraçava e conduzia para dentro.

17 de agosto de 2024.

Fazia uns dias que não saía de casa. Não se lembrava de quase nada que fizera ou comera nos últimos dias. Algo, algum pressentimento ruim, sonhos e sinais confusos, diziam-lhe que estava em perigo. E hoje a porta apareceu. Só percebeu sua presença quando um toc-toc ressoou pela casa. Por precaução, preferiu não abrir. Fez silêncio, e o que quer que estivesse tentando entrar pareceu acreditar que a casa estava vazia.

Não se sentia mais seguro. Parecia que olhos vorazes o fitavam por todo o local. Teria conseguido selar a casa a tempo, ou os demônios já tinham entrado? Não poderia abri-la jamais. Tampouco podia dormir. Se baixasse a guarda, a maldita porta iria devorá-lo.

Pegou o vidro do remédio sem rótulo que comprara na internet, jogou uns 4 na boca, e virou um copo de whisky.

A porta agora rangia, sons difusos que lembravam gemidos de prazer e dor, tal qual um ser inumano violentado com selvageria que achava prazer na dor. Chacoalhou a cabeça, como quem tenta afastar pensamentos perigosos, virou o restante dos comprimidos na boca e mastigou os dois ou três que restavam.

Respirou fundo, segurou a bíblia, levantada como escudo, e subiu no banquinho para pegar sua caixa vermelha no alto da estante. Então sentou-se na poltrona, posicionada de frente para a porta, e decidiu montar guarda. Adormeceu. Toc-toc. Pesadelos de corpo se arrastando pelo tapete da sala e gemendo. Toc-toc. Então, era ele próprio que se revirava no chão, nadando em sangue, o corpo disputando espaço com carne sangrenta. Toc-toc. Acordou deitado ao pé do sofá, ensopado de suor. Vomitou.

22 de agosto de 2024.

“… eu tô te falando que ele não tá legal, Rica. O pai pirou de vez. Não atende o telefone, não dá notícia faz tempo. Passei lá na frente, tinha correspondência transbordando da caixa de correio. E tem uma porta nova! Toda vermelha, uma coisa horrível que faria a Rafa ter um treco! Hahahah. Parece que ele tá se barrigando lá dentro. É assim que fala? Sei lá, é uma porta cheia de tranca. A vizinha do lado, aquela senhora que tem um poodle gordo, falou que viu alguém instalando essa porta ontem. O pai deve ter chamado o Rubem pra colocar, ela falou que era um velhinho super corcunda, só pode ser ele hahahaha. Bati na porta rapidinho, porque já tava atrasada, mas o pai não deu sinal de vida. Vou ficar fora 4 dias a trabalho, tô indo pra Minas naquele evento. Cê num vem pra São Paulo essa semana, né? Tô preocupada com ele. Mas tá tranquilo, pelo menos a gente sabe que ele tá vivo. Volto dia 21 e vou direto do aeroporto pra casa dele. Dessa vez vou esmurrar a porta até o teimoso abrir. Cacete, viu, devia tá me preparando pra palestra e tô aqui no aeroporto preocupada com ele. Cê sabe que ele nunca mais foi o mesmo desde que mamãe sumiu, né? Muito estranha aquela história, ela nunca mais nem ligou pra explicar nada nem saber da gente. Mas deixa pra lá, não é hora de mexer em ferida do passado, né? Bom, me responde quando ouvir o áudio. Tchau, cabeção. Ah, tava esquecendo, vi o vídeo do Rafinha no Insta hoje, ele tá sua cara. Fala pra ele que a tia Pat vai trazer presente. É um boneco do Ben 10 que a Fátima achou num shopping lá em BH, vou pegar com ela quando chegar no aeroporto. Não fala pra ele, claro, do jeito que você é boca aberta! Hahah! Nossa, o áudio virou podcast! Hahaha. Beijo, e nada de demorar uma semana pra responder, ein?”

Ricardo ouvia pela milésima vez aquele áudio. Tinha demorado quase uma semana para ouvi-lo, como sempre. Como ela previra. E nunca chegou a responder. Patrícia sempre implicava com ele por demorar uma eternidade para responder no WhatsApp. Apertou o play mais uma vez.

17 de agosto de 2010.

– Sai de perto dessa porra de porta! Já te falei que você não vai pra lugar nenhum, vagabunda!

Porta vermelha: vermelho sangue.

Sobre Fabio Baptista

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25 comentários em “Toc-toc (Luis Guilherme)

  1. Pedro Paulo
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Entre idas e vindas, a autoria complicou um pouco a leitura, especialmente pela escolha de situar os trechos passados neste ano em decrescente ao invés de crescente, diminuindo a expectativa sempre que voltávamos a esse tempo, enquanto os outros recortes nos esclareciam mais do que estava acontecendo. Enquanto isso fez do percurso da leitura um pouco maçante, foi o que possibilitou as duas revelações, de que o irmão escutava o áudio enlutado e da verdadeira razão do sumiço da mãe, no que a única aparição efetiva da personagem se encaixa a aumentar a potência desse golpe no final. O uso da porta como elemento em torno do qual o conto se constrói também foi uma abordagem inteligente. Pesam contra o texto a sua organização e a sobreutilização do “toc-toc” titular, que embora faça sentido, é um recurso que aparece justamente nas seções de 2024 e não me pareceram caber bem, poluindo o texto, redigido com uma escrita que não se destaca, apenas cumprindo o seu papel.

  2. Victor Viegas
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Knock! 

    “Knock-knock-knockin’ on Heaven’s door”. Muito provavelmente seja por causa do pseudônimo, mas essa música foi a primeira lembrança que tive antes mesmo de ler o conto. Talvez eu esteja nostálgico? Acredito que sim, até agora já foram dois textos com esse tema. Gosta de Guns ‘n’ roses? Por sinal, é uma excelente letra, hein! Mas não tem nada haver com a história que tu escreveu. Sem muita enrolação, vamos para o comentário. Adianto que vai ser pesadinha. Tu prefere uma crítica com armas ou rosas? Em comentário fechado, não há muita escolha, eu entendo. Bora ler a minha opinião? Vamos começar logo antes que a porta sussurre imoralidades.

    O conto possui uma narração não linear com muitas fragmentações e saltos temporais. Há duas histórias que são contadas paralelamente, mas que se complementam no final. Em uma delas, vemos o comportamento do Carlos com a família: um pai ausente, maníaco e bastante agressivo. Fiquei impressionado com a cena da arma na cabeça da filha “Carlos apenas riu, guardando a pistola na caixa vermelha. Gostava de provocar a filha”. A outra parte conta ele preso com a porta vermelha cor de sangue. A cada dia que se passa a tensão vai aumentando, acontece alguns absurdos como “Queria possuí-la – me abre, me explore, me arrombe –, mas não cederia a desejos tão primais”, mas isso é puramente a criatividade do autor. O texto não apresenta pontas soltas, foi muito inteligente você abordar o sumiço da Flávia nos momentos com a família em “Ontem mesmo ele me chamou de Flávia e perguntou porque eu demorei tanto no mercado. Acho que ele nunca superou o sumiço da mamãe” e no quando o Carlos estava em sua loucura com a porta em “Então ela surgiu no canto da sala: Flávia, tão linda e maligna como se lembrava dela. Se esgueirava pelos cantos, ora fera, ora inocente, ora transbordante de desejo. Maliciosa. Claro que não podia ser ela, afinal, há quanto tempo não a via? 14 anos? 13? 17?”. Esses paralelos se convergem harmonicamente, realmente transparece a ideia que o conto se refere à mesma família, com acontecimentos que são justificáveis.

    Nessa história você vai e volta no tempo várias vezes, o que pode deixar o leitor confuso, mas o autor usou esse artifício com maestria. Muito bom, mesmo. Você conseguiu transmitir com clareza a situação doentia de Carlos e os porquês dele estar naquela condição, mostrou a relação que ele tem com a família, os filhos, tudo ficou muito vívido e palpável. Tirando alguns absurdos que, realisticamente, são inexplicáveis. De qualquer forma devo dar os meus parabéns! Confesso que não sou muito bom em chutes, mas chutaria que este conto pertence a um escritor experiente. Acertei? Preciso destacar o terror psicológico que vai crescendo toda vez que aparecia esse bendito toc-toc. Deu até dor de cabeça. Ficava me segurando no braço da cadeira falando “Cacilda! (sou evangélico, não costumo falar palavrão), quando essa tensão vai acabar?”. Acredito que eu tenha conseguido passar a ideia que este texto me agradou bastante rs. Tá vendo? Mostrei as rosas primeiro. Agora vão aparecer as armas. Não teria roses sem guns, não é? Então, preparado? Espero que sim. 

    Para um conto bem escrito, é preciso analisar os detalhes, e foi esse o meu objetivo. Logo nas primeiras linhas temos “21 de agosto de 2024. Fazia cinco dias desde que a porta apareceu” e em um dos últimos parágrafos “17 de agosto de 2024…. E hoje a porta apareceu”. Bem capaz que eu esteja chato demais, mas essa cronologia não fechou, pois foram passados quatro dias entre esse período. Se há 5 dias, partindo do dia 21, apareceu a porta, então o primeiro dia deveria ser o 16. Precisei pesquisar em sites que mostram calendário para confirmar isso. Novamente, embora seja chatice, é algo importante. É no detalhe, chuchu.

    Ao colocar o texto de forma cronológica, há algumas inconsistências e, acredite, eu só vou destacar uma frase que não fez muito sentido para mim: “Esse pensamento lhe causou uma gargalhada, que ressoou estranhamente com a cacofonia de dor”. Isoladamente, esse trecho não apresenta nenhum problema, mas quando colocamos no contexto em que ele está há, aproximadamente, quatro dias sofrendo esse abuso psicológico de uma porta, a gargalhada, mesmo que de forma maníaca, não seria muito viável. Primeiramente que não foi mostrado ser uma gargalhada por loucura e desconexão da realidade, o que seria mais verossímil, e se fosse precisaria de maior desenvolvimento. Também que a mudança repentina de humor contrasta demais com a tensão crescente do texto, acaba criando uma quebra que não valoriza a leitura. Se essa gargalhada for algo espontâneo, não teve sentido em uma cena que explora os medos e culpas do Carlos.

    E não foi somente isso que a frase me causou desconforto. Pensa comigo. Estamos no dia 21 de agosto, a língua dele foi cortada no dia 20 “escancarou a boca como pôde, em meio à torrente verbal, esticou a língua. E cortou”. Tudo bem que não foi mencionado se o corte foi vertical ou horizontalmente. Mas é uma língua. O sangramento é enorme por causa da grande inervação presente ali e algo tão recente impossibilitaria essa musculatura de se mover adequadamente, pior ainda em uma gargalhada, mesmo que a pessoa sinta uma dor excruciante. 

    Seu conto está muito bem escrito. Você tem uma criatividade fenomenal. Adoraria  ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!

  3. JP Felix da Costa
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    Loucura, desespero, alucinação. Tudo elementos deliciosos do mundo do terror. Como entusiasta do género, não posso deixar de sentir afinidade com esta história. No entanto, a estrutura não me conquistou. A história, sim. Todo o evoluir, todo o significado, a descida ao fundo dos infernos, a loucura personificada numa porta, a alucinação que dela deriva. Todos os elementos estão lá. Gostei, mas fico com a sensação que, talvez, poderia ser melhor contada a história. Com mais tempo, mais calma, aprimorando a narrativa. Não sei precisar, mas não me convenceu totalmente.

    Apesar do dito, gostei da história e do seu significado.

  4. Thais Lemes Pereira
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Thais Lemes Pereira

    Nossa, muitos sentimentos para um conto só. O primeiro foi: que doideira é essa? Agora vamos continuar…

    Adorei a passagem do ato sexual com a porta, ainda mais entendendo depois o que ela representava. Acho ousado quando algum autor ou autora escreve coisas assim, ainda mais associadas a objetos como uma porta. Vai ganhar uns pontinhos por isso.

    Primeiro achei que o pai era esquizofrênico, mas acho que o autor ou a autora pensou em Alzheimer para escrever, observando o que os filhos falavam.

    E por falar em filhos, PORRA! Que filhos desgraçados esse homem tem. Teu pai tá doente, estranho, perdendo a memória e você deixa o cara SOZINHO EM CASA? Não pode ficar, paga um cuidador, uma enfermeira, sei lá.

    Outra coisa, queria que o autor ou a autora tivesse deixado uma pista mais clara se em 2024 a arma ainda era real ou não. Temos o relato do passado da filha mencionando a arma, mas e depois? Os filhos, mais uma vez irresponsáveis, deixaram o pai com a arma mesmo estando doente?

    Depois, infelizmente, não temos uma ideia do que aconteceu com o pai. Ele tomou o remédio com álcool, mas não morreu porque vomitou. Depois só temos o filho ouvindo tarde o áudio da irmã, que, na minha opinião não faria diferença ter ouvido mais cedo, já que ele não estava se importando muito.

    Então agora eu pergunto o principal: qual foi o final do pai?

  5. MARIANA CAROLO SENANDES
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de MARIANA CAROLO SENANDES

    História: Que protagonista asqueroso. Um homem vê uma porta na sua casa e passa a ter que lidar com seus pecados. Pobre dos seus filhos. A cena do coito com a porta… 3/4

    Escrita: Escrever diálogos é sempre difícil, mas os do conto não comprometeram. Leitura ocorreu sem tropeços 3/5

    Imagem e título: adequados 1/1

  6. Felipe Lomar
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    uau, que conto impactante. O terror misturando delírios, demência, alcoolismo e lembranças da realidade é bem pesado, ainda mais quando se percebe o desfecho. Acho que talvez o único demérito sejam os diálogos e a quantidade de filhos, que acaba confundindo. mas não chega a prejudicar o impacto.

    Boa sorte.

  7. leandrobarreiros
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    Foi um dos primeiros contos que eu li e na ocasião eu brinquei dizendo que era um dos meus favoritos no desafio. Tendo lido tudo, posso afirmar que ele continua sendo.

    Temos nessa história duas coisas que fazem ela mais do que um simples conto de horror comum. Primeiro, a inversão temporal muito bem executada. Ela funciona porque não apenas andamos para trás, mas porque o autor ampliou os diferentes pontos de vista, fornecendo mais peças para o quebra cabeça do que está acontecendo, concluindo a história de maneira muito satisfatória.

    Me lembrou o filme “Memento”, inclusive.

    Mas o que realmente eleva a história é o fato das cenas de horror serem feitas de maneira tão eficiente. Não existe um excesso do gore, que até pode funcionar em uma mídia visual, mas que geralmente não se traduz bem para a leitura, mas sim cenas específicas que fogem do comum e incomodam não só pela violência, mas pela estranheza. Por exemplo, não houve uma profunda descrição da língua de Carlos sendo arrancada, mas o fato dele mesmo ter cometido o ato, combinado com o suspenso formado pelo toc-toc, eleva o efeito do terror.

    A leitura também se tornou bastante sinestésica, dado o cuidado do autor de ambientar as cenas não apenas de maneira visual, mas também tátil e sonora.

    Aqui não é uma crítica negativa proprimente, mas talvez, talvez valesse a pena rever algumas cenas com a família que ficaram um pouco confusas para mim, em especial Maio de 2018.

    Enfim, um fantástico trabalho para o horror.

  8. Thales Soares
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: CARALHO!

    Vamos começar falando da história deste conto. Vou fazer uma agenda aqui cronológica, pra ver se eu entendi tudo direitinho:

    Personagens:

    • Carlos: o pai. Está com Alzheimer
    • Patrícia: filha mais nova
    • Ricardo: filho mais velho
    • Flávia: a mãe, esposa de Carlos. Está morta

    Ordem Cronológica:

    XX/08/2000: Aqui vemos Ricardo e Patrícia crianças. A mãe, Flávia, ainda está viva, mas vemos que ela está com alguma marca estranha no braço. No início, pensei que fosse alguma doença. Mas também pode ser algum tipo de agressão.

    17/08/2010: Carlos fica puto de raiva e tem uma briga feia com Flávia. Talvez ele tenha matado ela aqui, já que ele tem uma arma, sofre de transtornos mentais, e é um velho lazarento.

    XX/07/2017: Carlos tá brincando com sua arma, apontando pra cabeça de sua filha (e no final da história ele vai fazer isso novamente, e vai matá-la). Aqui vemos que esse cara não bate bem, e que ele tem uma caixinha vermelha que guarda sua arma.

    XX/05/2018: Num almoço de família, Patrícia revela para Ricardo que o pai, Carlos, está com Alzheimer, e já está esquecendo as coisas e a confundindo as pessoas.

    XX/06/2021: Carlos está putão e briga feio com sua filha, Patrícia, e ainda revela que tinha intrigas feias com Flávia. Ele se mostra ser um véio agressivo e filho da puta. Também vemos que seu Alzheimer está mais avançado.

    16/08/2024: Carlos instala uma porta vermelha em sua casa.

    17/08/2024: Carlos está enclausurado em sua casa. A porta vermelha começa a mexer com sua mente. Ele ouve alguém batendo, mas finge que não estava em casa. Quem está batendo é Patrícia, sua filha, mas ele acha que é o demônio. Então ele enche o cu de remédios, pega sua caixa vermelha da arma, e fica vigiando a porta.

    18/08/2024: Carlos tá começando a ficar meio maluco. A porta tá fazendo Toc Toc, mas ele não a abriu. Ele está com sua arma na mão, e até pensou em atirar. Mas se conteve.

    19/08/2024: Carlos tá meio doidinho, e ele resolve passar a manjuba na porta, se masturbando com a madeira.

    20/08/2024: Carlos fica muito louco e corta sua própria língua.

    21/08/2024: Carlos pirou de vez, e por fim abre a porta. É sua filha, Patrícia, que está batendo. Mas ele pensa que é o demônio se disfarçando da sua esposa, Flávia. Então ele dá um tiro nela.

    22/08/2024: Ricardo houve o áudio que Patrícia enviou para ele há quase uma semana atrás. Parece que agora ela está morta.

    Li esse conto inteiro duas vezes. Na primeira, me senti um pouco confuso com a linha cronológica fragmentada. Mas na segunda leitura, consegui pegar tudo, e achei extremamente genial a forma como o leitor organizou a linha narrativa. O autor aqui conseguiu conduzir o leitor de forma incômoda e confusa, mas intencional, a ponto de dar certa agonia, refletindo o estado mental do protagonista. Quando eu consegui compreender tudo, e esticar o nó que era a narrativa, eu pude apreciar com muito mais prazer essa obra. Gostei muito de tudo que li aqui. As descrições são boas, os personagens são bem desenvolvidos, e esses flashbacks anteriores ao ano de 2024 contribuíram bastante para apresentá-los ao leitor.

    Gostei muito de todo o horror aqui apresentado, principalmente do processo gradativo com o qual Carlos foi ficando maluco. E o legal é que primeiro vemos ele o máximo de louco, no dia 21, depois vemos ele doidão no dia anterior, 20, então vemos no dia 19 que ele estava menos maluco, no dia 18 ele tava só um tiquinho doido, e no dia 17 ele estava quaaase de boa. Foi legal ver esse processo inverso da degradação da mente desse velho lazarento. A forma como ele é apresentado durante os flashbacks são perfeitamente condizentes com suas atitudes extremas, fazendo com que a história seja verossímil dentro do universo proposto. E por fim, no final da leitura, quando conseguimos organizar todas as informações (igual eu fiz ao colocar a ordem cronológica dos fatos), vemos que esta história está perfeitamente amarrada, mas a linha narrativa foi colocada no liquidificador… não para destruí-la, mas para deixar o leitor maluco junto com Carlos, o que foi ótimo!

    Eu já havia gostado deste conto mesmo na primeira leitura, quando eu ainda não o tinha entendido direito. Mas na segunda leitura, gostei mais ainda.

    Aliás, quero só fazer um último adendo! Gostei bastante da onomatopeia do Toc Toc, que dá nome ao conto. Ela orquestra o ritmo da narração, de forma semelhante ao Tic Tac do conto da Praia do desafio passado. Inclusive, são sons muito parecidos, e acredito que o autor tenha se inspirado nisso.

  9. Thiago Amaral Oliveira
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Oi Knock, tudo bem?

    Seu conto entra de cabeça no sofrimento extremo do protagonista como poucos já vi fazerem. Você não poupa esforços em nos ajudar a experimentar toda a dor, agonia e decaimento mental passados por ele, e funciona muito bem. Poderia ser um gênero novo, onde os autores tentam emular as piores dores possíveis, como um daqueles filmes de horror cheios de mutilações e atos perversos. Algo a se pensar, hein. O nome podia ser Painexploitation ou algo que soe melhor.

    De qualquer forma, acho ousado e, ainda bem, executado de forma competente. O uso metafórico da porta está aí, além do comentário social, que me fez lembrar do cenário político recente, e ainda tão atual. De fato, muitos de nós estão enlouquecendo com as portas do inconsciente tão desesperadamente bloqueadas.

    Como sou fã de sutilezas, apreciei também sua delicadeza ao falar da esposa, que usava blusa num calor de rachar. Outro toque bacana.

    Obrigado e boa sorte no desafio.

  10. Fabiano Dexter
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Muito boa a história, bem fora dos parâmetros do desafio (pelo menos dentro do que li até o momento) e com uma qualidade muito boa tanto no texto como na história.

    Apesar disso achei a cronologia do texto um pouco ruim, tive que voltar algumas vezes para me achar no tempo, entre as idas e vindas.
    Modo como a doença do pai foi abordada foi boa, mas não a explicação da porta. Era real? O pai pediu para instalar? Achei que faltou algo mais claro nesse sentido, mesmo gostando bastante de finais abertos. O conto rodou em torno dela, mas sua origem (mística ou real) ficou um pouco dúbia e poderia ser melhor explicada.

    O fechamento foi muito bom, com a explicação em um áudio de WhatsApp.

    Outro ponto de destaque foi a diferença entre o presente (pai) e o passado.

  11. danielreis1973
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de danielreis1973

    Toc-toc (Knock)

    Prezado autor(a):

    Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
    Obrigado e boa sorte no desafio!

    DR

    A) PREMISSA: apesar do gênero não ser meu preferido, a escolha do autor se mostra perfeita tanto pelo protagonismo do tema do desafio (porta/portal) quanto pela demonstrada habilidade em abordar um ponto até mesmo lugar comum nesse tipo de ficção – de cabeça, me lembro do episódio do Além da Imaginação em que um portal se abre sob a cama do menino – os Simpsons também fizeram uma paródia, só que era o Homer num mundo 3D de animação… então, porta para o inferno, ainda que bastante comum, se diferenciou pelos tons que vou comentar abaixo, em técnica…

    B) TÉCNICA: o autor soube expor de cara, na primeira frase, o conflito da história! Depois, no desenrolar, descreveu cenas dantescas com grande competência, prendendo a atenção do leitor. A escolha dos flashbacks intercalados por datas não me agradou um pouco, apesar de justificada como opção para contar a história de fundo, da dissolução da família (ou da loucura dele, com isso), mas acho que a forma como a linguagem se alterna é muito brusco, sendo violento num momento e quase idílico no outro.

    C) EFEITO: o efeito final é bom, apesar do final ser bem antecipável, com a morte da filha. Um conto realmente interessante, até para quem não é fã do gênero, mas que me deixou pensando em alternativas de final… não que isso seja ruim, mas  é diferente daquele “então, é isso! Surpreendente, mas… só podia ser assim!”. Deu pra entender? Mas é um dos meus preferidos. Boa sorte!

  12. Jorge Santos
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, knock. O seu conto mexeu comigo de uma forma mais profunda do que eventualmente fará a outros comentadores. Tenho pessoas próximas que sofrem de doença mental. As paranoias descritas no seu conto são-me, por isso, familiares e sei até que ponto podem mudar as pessoas. Ou estarei ainda a meio do processo e o pior ainda está para vir. Espero que não. Este seu conto lembrou-me de tudo o que passei. Nem tudo podem ser rosas.

    Voltando ao seu conto, gostei especialmente da forma não linear da narrativa, que vieram transmitir outra intensidade ao conto. Eu escrevi algo parecido. Pode ler aqui, se quiser: https://entrecontos.com/2018/03/20/a-paixao-segundo-isaura-s-tomas. Também aqui escolhi uma narrativa não linear. De resto, nada a apontar sobre o seu conto. É fluído e impactante.

  13. claudiaangst
    3 de dezembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.

    Título = TOC-TOC. Quem bate? Simples e eficaz.

    Adequação ao Tema = Tema proposto abordado com sucesso. Temos uma porta e daquelas!

    Desenvolvimento =   O conto desenvolve-se dividido segundo datas, mas não de forma linear, passado remoto e passado recente se alternam. Cria-se com isso uma trama cheia de suspense, mas que requer atenção para não se perder a linha dos acontecimentos.  Suspense e terror dão um tom peculiar ao conto.

    Índice de Coerência = Dentro do universo criado, não encontrei incoerências na narrativa.

    Técnica e Revisão = No geral, a linguagem adotada é simples, clara e objetiva, focando em criar um clima de suspense com toque de terror.

    Algumas falhas no quesito revisão:

    […] paralizado > […] paralisado

    Não sei porque você traz > Não sei por que você traz

    […] dos 4 netinhos > […] dos quatro netinhos

    […] sem conseguir no entanto esconder > […] sem conseguir, no entanto, esconder

    O maldito toc-toc ressou > O maldito toc-toc ressoou

    Flávia vestia um lindo vestido > vestia/vestido (fica estranho, não fica?)

    […] jogou uns 4 > […] jogou uns quatro

    Vou ficar fora 4 dias > Vou ficar fora quatro dias

    É recomendável o uso de numerais por extenso nos casos de números com até duas sílabas; quanto aos números com mais de duas sílabas, recomenda-se representá-los por meio de algarismos: “os dez países”, “os treze secretários”, “os quinze membros”, mas “os 16 países”, “os 17 membros”. (Fonte: https://funag.gov.br/manual )

    O que ficou = “Porta vermelha: vermelho sangue”. A sensação de ter assistido a um filme de suspense/terror com final tenebroso, quase aberto, que leva o(a) leitor(a) a pensar no que teria de fato acontecido.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  14. Fabio Baptista
    27 de novembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    Terrorzão dos bons!

    Gostei bastante de como os fragmentos foram sendo construídos, fui e voltei no texto algumas vezes, montando a ordem cronológica dos eventos para não perder nada.

    A escrita está muito boa, fluindo que é uma maravilha. Só os “hahaha” me incomodaram um pouco, apesar que eu mesmo costumo usar esse recurso às vezes.

    Assim como outros contos do desafio, seguiu o plot da porta misteriosa. Até determinado momento eu estava pensando que era só imaginação do velho, mas a porta era real.

    Só fiquei na dúvida se não seria melhor ter invertido o primeiro com o último trecho.

    MUITO BOM

  15. Elisa Ribeiro
    26 de novembro de 2024
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Seu conto não é mau, mas lamentavelmente não funcionou bem comigo. O artificialismo de contar a história por meio de flashs, a escrita muito ligeira, a quantidade de personagens, seu texto requisitou muita atenção desta leitora, fazendo-a esperar muito e acabar se frustrando um pouco ao final. A referência ao tema do desafio um pouco forçada, mas vale. O texto me pareceu bem revisado, estranhei um pouco o uso da pontuação nos primeiros parágrafos, mais adiante deixaram de me causar sobressaltos.

  16. André Lima
    26 de novembro de 2024
    Avatar de André Lima

    É um conto legal que claramente possui muita influência de Stephen King.

    O que é uma grande valência, pois se trata de um dos maiores escritores de todos os tempos, se tornou também um ponto fraco pra mim. Sou grande consumidor de sua obra e fiquei com a sensação de que já havia lido essa história outras trezentas vezes…

    O estilo, a forma de narrativa, a forma como os personagens interagem e são construídos… Tudo é muito parecido com o que se vê na obra do mestre King. Aqui, na verdade, faltou um número maior de palavras para termos um background mais robusto, um mergulho na mente do protagonista. Achei que o texto ficou corrido e pouco explorou a psique do personagem principal, em seus surtos psicóticos e também na dubiedade de um elemento sobrenatural. Acho que era história para mais palavras!

    O texto está bem escrito. Alguns trechos como “hahaha” e excesso de informalidade na escrita me incomodaram, mas nada que me desconectasse da trama.

    A história em fragmentos funciona bem. Começa em ritmo elevado, frenético e esse ritmo é mantido até o fim. Ponto para o(a) autor(a)! O clima e a ambientação, a forma de narrar, tudo é muito bom dentro da proposta.

    É um bom conto, no fim das contas. Mas que poderia ter tido um impacto muito maior se o autor pudesse se aproveitar das 10 mil palavras que o mestre King costuma utilizar para nos conectar com a psique do personagem.

  17. Mauro Dillmann
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um texto fluido, bom de ler. As palavras parecem bem colocadas. Mas devo dizer que o excesso de ‘toc-toc’ (proposital, eu sei) me irritou um pouco. Rsrs. Quando traz a fala dos personagens, o tom coloquial e diferente de cada um deles (o que é de se esperar), parece que destoou do estilo do conto. Por exemplo, a expressão utilizada pelo personagem Ricardo: “O foda é que…”. Esse “foda” não caiu bem.

    Um homem alucinado por um suposto demônio com face infantil atrás da porta.

    Traz Pai e filhos em diferentes tempos. E o pai parece doente no tempo presente (2024).

    A cena do corte da língua lembra “Torto Arado”. É uma imagem muito peculiar da literatura brasileira contemporânea. 

    Parabéns!

  18. Gustavo Araujo
    22 de novembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Rapaz, terror de primeira linha! A maneira como as histórias se entrelaçam é excelente! Sim, porque temos de um lado o drama imediato do (re)surgimento da porta para o Carlos, trazendo consigo todas as lembranças de sua esposa, desaparecida há anos, e, de outro os flashbacks que revelam como tudo se desenrolou até ali, permeado pelos dramas pessoais e pela própria desconstrução do núcleo familiar.

    A realidade imediata de Carlos é vista de trás para frente, enquanto que a história da demolição de sua união com Flávia é contemplada em fast-forward. Entremeadas, essas vertentes brincam com a percepção do leitor, convidando-o a mergulhar numa espiral que parece confusa, mas que se revela cristalina se a ela é dada a devida atenção.

    Claro que são possíveis mil interpretações, mas para mim a percepção de Carlos é a de que Flávia certa vez desapareceu porta adentro, o que bastou para deixá-lo perturbado pelo resto da vida, contribuindo para com a deterioração da convivência com os filhos e até mesmo com o neto. Eis que, no presente, a porta ressurge, não apenas fazendo com que ele enxergue nela a desaparecida esposa, mas convencendo-o, de alguma maneira de que ela, a própria porta, é, em si, a mulher, transmutada. Vê-se Carlos, assim, seduzido pela porta, enfeitiçado por ela, doente, derretido até, querendo com ela fundir-se.

    De fora, percebemos que assim como o Oceano de Solaris, a porta é um ente dotado de inteligência que está a brincar com a psique de Carlos, tragando-o inexoravelmente para o abismo eterno. Não há muito o que possamos fazer, porém.

    Ao fim do texto, o grande mistério é revelado: Carlos teria assassinado a esposa em 2010, próximo a uma porta. Só não consegui ter certeza de que, no início, ele tbm assassinara a filha ou se estava simplesmente em surto, imaginando coisas.

    De todo modo, como disse, a construção do mistério ficou muito boa. A escolha das palavras, idem. É um texto que prende o leitor, que não cansa, que flui e que sabe lidar com a curiosidade que produz. Não é fácil manter a coerência com uma história assim. Você, caro autor, nos entregou um conto de primeira linha. Espero que outros possam apreciar.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  19. Kelly Hatanaka
    19 de novembro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá Knock.

    Está perfeita e maravilhosamente dentro do tema PORTA. Não podia estar melhor, neste quesito. A porta não é mencionada, ela não é citada. Ela é a antagonista, a sombra de Carlos e ela está bem no meio da ação.

    Gostei muito da forma como a história foi contada, do final para o começo, “a la” Memento, um filme maravilhoso, atrapalhadamente traduzido para Amnésia. O leitor vai montando a história na cabeça, pedaço por pedaço até a revelação do início que, se não é exatamente uma surpresa gigantesca, é um elemento interessante sendo bem usado e que gerou um ótimo final. O conto começa com um evento chocante e termina com outro.

    Carlos é o protagonista da história, cuja deterioração mental conduz a tragédia do início. Ele é um homem beberrão e de má índole. Patrícia é a filha que nunca se deu bem com o pai, que se ressente de sua semelhança com a mãe. Talvez sua semelhança invoque culpa, soe acusatória. Ricardo é o filho mais velho que ouve a mensagem da irmã tarde demais. Flávia é a mãe que sumiu. Nas recordações de Patricia surge o primeiro estranhamento: não parecia provável que ela abandonasse os filhos e partisse. Por fim, ficamos sabendo de seu destino.

    Minha pitada de achismo: uma coisica de nada, só um elemento que ficou meio perdido. A Rafa. Ela foi mencionada duas vezes, não apareceu e fiquei esperando que algo acontecesse com ela. Foi de propósito, tipo um red herring?

    Gostei ou não gostei: adorei. Um conto excelente, tenso e bem conduzido que entregou o que prometeu. O clima de suspense se mantém durante toda a narrativa e prende a atenção. A história está bem amarradinha. Uma ótima ideia muito bem executada.

    Parabéns!

  20. Marco Saraiva
    12 de novembro de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    Contão ein? Gostei bastante. Escrita muito bem feita, história amarradinha, personagens cativantes. É uma espécie de “Crime e Castigo”, só que tirando a discussão ética e explorando apenas o declínio de um homem que assassina a própria esposa e aos poucos desce em um espiral de loucura por estar carregar este crime em segredo durante anos.

    A porta aqui primeiro assume um tom mitológico, metafórico, onde ela parece ser uma alusão a uma decisão impossível. Carlos age como se lutasse contra um chamado, como se abrir a porta significasse abraçar de vez a loucura. Depois descobrimos que a porta é real e ele se esqueceu que havia mandado instalá-la, o que tira um pouco do aspecto sobrenatural da narrativa (a não ser que o velho corcunda não seja mesmo a pessoa que Patrícia achava que era!).

    Gostei da narrativa fora de ordem. É difícil escrever um conto assim sem soar confuso, mas você o fez muito bem! Apesar de cada trecho acontecer em datas diferentes (e a narrativa principal correr em ordem cronológica invertida), o texto não se perde e dá para entender bem o que está acontecendo. A única coisa que me confundiu foram os nomes. Eram muitos nomes em pouco tempo: Carlos, os dois filhos, a esposa e os netos. Mas isto não atrapalhou muito.

    Parabéns!

  21. Priscila Pereira
    11 de novembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    Seu conto está bem escrito, bem revisado, só notei uma coisinha ou outra, que agora não consigo achar… Tipo “poros da pele” acho que só poros já dá pra entender…

    A história em si é bem trágica e triste. Apesar de ser um terror descritivo, na verdade se trata de um idoso (que devia ter muitos pecados horríveis que o tinhoso agora veio cobrar) com problemas mentais, ou devido a bebida, idade, ou doença mental mesmo, ou até a soma de tudo. E que está bem no meio de um surto, e sem ninguém pra ajudar.

    Mostrar logo no começo que ele mata a filha foi uma ótima sacada, porque vamos nos apegando a personagem sabendo do seu fim. A mãe também já imaginamos desde que é citada que provavelmente foi vítima do protagonista ( seria a doença dele já antiga ou ele era mesmo um filho do demo?) A cena entre mãe e filha foi muito emotiva e bem feita, parabéns!

    A dinâmica entre os irmãos é muito bem estruturada e é um milagre que eles sejam aparentemente normais tendo tal pai…

    As cenas da porta são bem feitas e trazem a dose de terror certa (que eu não curto muito 🤷🏻‍♀️) pra dinâmica do conto.

    É um conto muito bom, parabéns! Ótimo (mas não muito original, né) uso do tema. Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  22. Givago Thimoti
    3 de novembro de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    TOC TOC (Knock)

    Resumo + Comentários gerais: “TOC TOC” é um conto de terror psicológico, narrando a história de um homem atormentado pelos delírios recheados de culpa, enquanto somos apresentados, por meio de memórias fragmentadas, ao histórico familiar turbulento da família do homem.

    É um bom conto. Talvez fique colocado nas cabeças do Desafio. Ele explora bem o ambiente inóspito que vive o protagonista. Na minha opinião, se perdeu um pouco em determinados pontos com a escrita mais confusa, mais dúbia… Como leitor/escritor, escritor/leitor, não gosto muito desse estilo.

    Frase de impacto: ”Toc-toc. Podia jurar que a porta se moveu. Ela tem uma forma de seduzi-lo, de dançar e provocar. Queria ser aberta, precisava que ele a abrisse. Um calor intenso tomava conta da casa. A porta queria queimá-lo vivo, seduzindo-o com o frescor da noite de primavera. Me abre, sente meu frescor. Me quebra. A sensualidade com que a última frase foi pronunciada causou-lhe arrepios. Um frio na barriga, um nó na garganta. Desejo. Toc-toc”

    Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 3

    Um conto que versa sobre explicitamente sobre porta. Talvez tenha leves toques de nostalgia. De qualquer jeito, merece a nota máxima nesse quesito.

    Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 1,75

    Acho que esse é o grande trunfo do conto. Como se trata de um conto de terror psicológico, faz sentido o conto ser todo confuso (embora eu acho que em certos pontos tenha sido exagerado essa utilização). A narrativa e o ambiente, especialmente quando levamos em consideração os delírios culpados e angustiados do personagem principal, casam (quase que) perfeitamente. Além disso, a descrição do jeito que o personagem mais velho vive em casa é extremamente adequado, e faz o leitor imergir nesse ambiente tóxico.

    Percebemos a dinâmica da casa, de um ambiente problemático para todos os envolvidos e somos tragados para dentro. Meu único “porém” nesse aspecto de construção do mundo, pelo menos, é a ingenuidade, (por assim dizer) dos filhos em relação ao sumiço da mãe, especialmente quando se leva em consideração que a família vivia naquele ambiente familiar conturbado. Enfim, algo a se consertar numa revisão futura.

    Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos: – 1,5

    Em termos de qualidade de escrita, eu diria que a história está bem escrita. Não é uma escrita poética, rebuscada. Mas é uma escrita competente, que por vezes escapuliu em fluidez. Contudo, os diálogos não foram tão bem construídos, na minha opinião.

    Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado:  1

    O conto tem um estilo de escrita naturalmente menos claro, imerso na psiquê confusa, culpada e angustiada do protagonista. Embora seja um conto que conseguiu transmitir bem sua história em boa parte do seu desenrolar, teve alguns deslizes pelo caminho, que travou um pouco o fluxo do texto. Por exemplo, achei um tanto repetitivo essas imersões na psiquê do pai da família, assim como achei jogado o trecho do áudio da irmã para o irmão; assim, enquanto leitor, percebi que ela faleceu durante a viagem de avião (talvez numa queda). Esses momentos, por vezes, me pareceram mais desconexos.

    Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 0,75 

    Eu tenho um certo problema com contos que usam e abusam da falta de clareza. Eu senti que houve um abuso meio exagerado nesse aspecto e isso contribuiu para um impacto emocional mais baixo. Gosto de leituras mais simples, no sentido de termos as ideias mais bem definidas e trabalhadas. Creio que nem sempre foi assim durante o conto.

    Aliado a isso, ainda temos um segundo fator: a escolha do autor/da autora foi focar, principalmente, no pai, um personagem totalmente suspeito, tanto pelo seu comportamento vilanesco, quanto pelo seu comportamento delirante por conta da sua culpa. É um personagem que desperta antipatia no leitor. E aí, vê-lo sofrer mentalmente, várias vezes ao longo do texto, por suas culpas não me trouxe prazer. Foi bem cansativo.

    O terceiro ponto que senti que abalou o impacto emocional foi a ingenuidade dos filhos, quase inverossímil, em não relacionar o comportamento violento do pai com o sumiço da mãe.

    Nota final: 8

  23. Antonio Stegues Batista
    29 de outubro de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto é formado com os fatos em ordem alternada.  As ações são intercaladas e não na sequência cronológica. É uma técnica de escrita que dá uma estrutura diferente ao texto. Para uma leitura fluida, alguns leitores podem achar que é um empecilho. Eu gosto e de vez em quando uso em meus contos porque é um tipo de arte literária. Gostei dessa forma, gostei do enredo e da escrita forte. No paragrafo final, pressuponho que Carlos matou a mulher isso não é dito diretamente, o que confere ao autor uma habilidade de mostrar sem dizer. As descrições são contundentes e até nojentas. Dependendo do enredo, cenas fortes fazem o conto ser interessante, contribui para ser um bom conto. Parabéns e boa sorte.

  24. vlaferrari
    28 de outubro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Gentileza considerar esse comentário e não o anterior, em que me confundi com as datas:
    Uma estória de abuso de Flávia por conta do marido Carlos, um alcoólatra violento. Com o tempo, Carlos se apresenta vítima do Alzheimer. Precisei ordenar as datas para perceber a estória em si. O que me espantou foi a proficiência do autor em descrever a evolução do Alzheimer, e suas fases. Os esquecimentos, as alucinações, a violência, o resguardo. Parecia estar lendo sobre meu pai, nesse ponto específico. Pai, Mãe, tios e avós na minha família passaram por esse mal (tenho de ficar esperto). A construção desse dilema moderno em relação ao cuidado com nossos pais X cuidar da própria vida, foi perfeita. É interessante essa dualidade. Passamos por isso e sempre rende boas e dolorosas lembranças.
    O autor/autora explorou bem esse demônio multifacetado, entre o desejo da carne e as alucinações da doença, as viagens do alcoolismo, as confusões e o enxergar o mal em si, ao cortar a própria língua.

  25. andersondopradosilva
    27 de outubro de 2024
    Avatar de andersondopradosilva

    Toc-toc (Knock)

    Resumo:

    Homem corroído pelo remorso enlouquece e acaba por matar a própria filha.

    Comentários:

    “O maldito toc-toc ressou mais uma vez.” – O correto é ressoou.

    Vermelho  sangue, cor de pecado.” – O correto é usar hífen em vermelho-sangue.

    “Porta vermelha: vermelho sangue.” – O correto é usar hífen em vermelho-sangue.

    As sucessivas idas e vindas no tempo ou confundem o leitor ou o obrigam a, a cada novo capítulo, voltar ao título dos anteriores para se situar no tempo. No meu caso, não me confundi, mas tive de ficar voltando.

    Gostei do conto por tê-lo achado bem revisado, criativo, e com ótimo desfecho. No entanto, eu o achei muito mais próximo de literatura de entretenimento, um terror, do que de um conto de alta literatura que desafiasse meu intelecto, me fizesse pensar ou conhecer uma nova realidade ou modo de vida.

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Publicado às 26 de outubro de 2024 por em Nostalgia e marcado .