EntreContos

Detox Literário.

O Caso das Duas Loiras (JP Félix da Costa, Victor Viegas e Pedro Paulo)

O vento frio cortava como um bisturi na mão de um cirurgião experiente. A ausência de nuvens impedia a queda de neve. Ergueu a gola da gabardine para proteger as orelhas. A noite ia longa e, nas ruas, apenas o assobiar do vento que roçava as esquinas se fazia ouvir. A selva de cimento, que enxameava de vida durante o dia, estava agora adormecida.

Da boca saía-lhe vapor. Quem lhe dera que fosse fumo. Sentia-se capaz de matar por um cigarro. Matar fora o que o trouxera ali. Ou melhor, ser morto, ou morta, como era o caso. Dois homicídios. Duas mulheres. Nada ligava os dois crimes, mas, mesmo assim, algo no M.O. do assassino, ou assassina, não deixava de coincidir. Só não conseguia concretizar em palavras o que lhe chegava apenas por instinto. Ainda não conseguia por o dedo na ferida e alicerçar as suas suspeitas.

Mas, a possibilidade de serem dois crimes não relacionados, perpetrados por mãos diferentes, também se colocava.

O frio chegava aos ossos. Estava demasiadamente bem vestido para que a sua indumentária pudesse fazer frente à intempérie. Retomou a marcha. O vento empurrava papeis velhos e folhas de árvores, tombadas por um outono que já terminara. Os sapatos, de sola fina, crepitavam na gravilha da calçada. Os becos das traseiras eram sempre obras inacabadas. Ruas e passeios eram acabados na frente, mas as traseiras ficavam sempre esquecidas.

O Johnny não dormia. Iria-lhe bater à porta. Era sempre uma boa fonte de informações. O que era preciso era deixar passar um pouco o tempo para ele as conseguir. Ajeitou o chapéu e atravessou a rua. A porta das traseiras do Muralha da China estava oculta pelas sombras. O candeeiro que iluminava aquela parte da rua, misteriosamente, estava sempre apagado. Bateu três vezes. Duas rápidas, uma lenta. Aguardou. Voltar a bater era perder a oportunidade. Johnny não perdoava. Aprendera essa lição uns anos antes. Ficara pendurado numa investigação por aquela porta não se abrir; voltara a bater.

Um chinês baixo e anafado, cujos olhos eram uma linha horizontal distorcida por uns óculos de fundo de garrafa, abriu a porta e apressou-se a fazê-lo entrar.

– Se te veem aqui é mau para o negócio. – Disse Johnny. O apelido colara, muitos anos antes. Remontava à sua infância, aos tempos em que chegara àquelas paragens, com os pais, emigrando do outro lado do mundo. Alguém, incapaz de pronunciar o seu verdadeiro nome, chamara-lhe Johnny. Ele adotara o pseudónimo desde esse dia. Já ninguém se recordava do seu verdadeiro nome.

– Dou má fama ao restaurante?

– Não é desse negócio que falo. – Johnny estava irritadiço. Algo não estava bem.

– Sabes o que me traz aqui, certamente.

– As loiras assassinadas. És previsível, já te aguardava.

Sentou-se numa das cadeiras de madeira que Johnny tinha na cozinha. Tentava não olhar com muita atenção para o que o rodeava. Ali havia mais provas de crime do que as que ele queria encontrar, mas nenhuma era de homicídios. Johnny não era dessas coisas e ele era apenas dessas coisas.

– Que me sabes dizer do assunto?

– Sei apenas que o Tony “Dois Dedos” está implicado. E isso, para mim, é suficiente.

Tony “Dois Dedos” era um mafioso de pouca monta. Um peão de Don Mastrantónio com uma capacidade inata de fazer asneira. Por cada uma pagava o preço em dedos. Na mão esquerda já só lhe sobrava o indicador e o “obsceno”. Corria o boato que estaria para fazer nova asneira e que pagaria com o indicador. A isso acontecer, já se tornara a maior anedota do submundo a quantidade de alcunhas criadas para substituir a “Dois Dedos”.

Johnny fechou-se em copas e mostrou o seu desagrado pela presença dele ali. Mais valia seguir caminho. Pouca informação era melhor do que informação nenhuma.

O choque com o frio, depois de recuperar a temperatura na cozinha quente e abafada do Muralha da China, fez com que começasse a bater os dentes. Acelerou o passo. A noite não iria fornecer mais informações e já tinha muito em que pensar. “Dois Dedos” era peixe miúdo e era estranho envolver-se em homicídios. Estaria a mando de alguém, ou saberia mais do que o que devia?

Chegou ao hotel envolto em pensamentos. Por mais voltas que desse, chegava sempre ao mesmo ponto. Estava preso num círculo vicioso que precisava de mais informação para quebrar. O quarto, junto ao letreiro luminoso, era o mais barato do estabelecimento. A luz não o incomodava. O mesmo não podia dizer das pancadas ritmadas em cadência crescente da cama do quarto ao lado contra a parede. Felizmente, não duraram mais de dois minutos. Uma noite de repouso na companhia dos mais gordos percevejos da cidade poderia trazer luz à escuridão em que se via envolvido. Ao fim de quase uma semana de investigação, apenas tinha um nome. Tony “Dois Dedos”.

Saiu do chuveiro a tempo de ver um papel ser-lhe entregue por baixo da porta. Embrulhou-se na toalha e saiu para o corredor. Ao fundo viu, contra a luz da janela em que este terminava, a silhueta de uma mulher, de vestido justo, cujas curvas eram capazes de enlouquecer um eunuco. De relance, quando ela se virou para descer as escadas, pode-lhe ver os sapatos, de salto alto, com tacões como agulhas.

– Boa. – Disse, para si próprio. – A minha vida é um clichê. Até direito a femme fatale tenho.

Fechou a porta. Não estava em condições de a seguir. O único que podia fazer era ler o bilhete que ela lhe deixara.

Amanhã, 12 horas, caffé de la boulangerie.

A assinatura era apenas um “A” manuscrito em letra delicada.

Chegou o papel ao nariz e inspirou fundo. Rosas. O perfume era inconfundível.

A madrugada aproximava-se em passos largos e o cansaço cobrava o seu preço. Deitou-se. O torpor já quase se espalhara por todo o corpo quando uma pancada forte na porta, como se um rinoceronte estivesse a tentar entrar, arrancou-o de novo para a realidade. O coração disparou. As veias inundaram-se em adrenalina. O cansaço era agora apenas uma memória. Nova pancada. A porta não iria resistir muito mais tempo àquele tratamento.

Ele saltou da cama, vestindo a calça rapidamente, com a toalha ainda molhada caindo no chão. Pegou a pistola que deixara sobre a mesa de cabeceira e, em um movimento ágil, posicionou-se atrás da porta, encostando-se à parede. O som da madeira rangendo e a pressão contra a fechadura indicavam que o intruso estava decidido a entrar. A terceira pancada fez a porta ceder parcialmente, abrindo uma pequena brecha. A mão do intruso apareceu, tateando o trinco. Ele não pensou duas vezes e agarrou o pulso, puxando com força e desequilibrando o invasor, que tropeçou porta adentro.

Era um homem alto, de expressão feroz, com o rosto marcado por cicatrizes. O olhar gelado encontrou o dele e, em um segundo, o invasor tentou se recompor. Mas não foi rápido o suficiente. Um soco bem aplicado no queixo fez o homem cambalear para trás, e ele aproveitou para chutá-lo no estômago, jogando-o ao chão. A pistola ainda estava firme em sua mão, apontada para o rosto do invasor, que agora gemia de dor.

— Quem te mandou? — a voz saiu firme, mas o coração batia acelerado.

O homem no chão soltou uma risada rouca, cuspindo um pouco de sangue.

— Acha mesmo que vou falar? Eles me matariam, idiota.

Ele pressionou a pistola contra a testa do homem.

— Se não falar, eu te mato agora.

O invasor olhou para ele, avaliando suas palavras, tentando decidir se estava blefando ou não. A dor e o desespero fizeram com que cedesse.

— Foi o Tony — murmurou. — Ele quer que desista. Está metido até o pescoço nessa história.

— Por que ele se importaria tanto com isso? — perguntou, mantendo a pressão.

— Porque ele está encobrindo alguém. Alguém grande.

O silêncio tomou conta do quarto. Ele olhou para o homem no chão, tentando avaliar a veracidade de suas palavras. Um movimento rápido pegou-o de surpresa: o invasor puxou uma faca escondida na bota e avançou. O disparo foi inevitável. O corpo caiu, inerte, sobre o velho carpete, o sangue começando a se espalhar. Ele respirou fundo, tentando controlar a adrenalina que ainda pulsava em suas veias. Precisava sair dali, rápido. Alguém ouviria o tiro e a polícia não demoraria a chegar. Pegou o que pôde, enfiando no bolso da gabardine, e saiu do quarto, descendo as escadas rapidamente.

A rua estava deserta, o vento frio ainda cortando como antes. Não havia tempo para pensar. Precisava encontrar aquele café e descobrir quem era “A”. A informação dada pelo invasor morto agora era sua única pista. Enquanto caminhava, a mente trabalhava a mil, tentando ligar os pontos. Quem poderia ser tão importante a ponto de Tony “Dois Dedos” estar disposto a matar para protegê-lo? E quem seria a mulher misteriosa que o aguardava no café?

O caffé de la boulangerie era pequeno, situado em uma esquina pouco movimentada da cidade. Ele sabia que chegar antes das 12 horas era crucial. Entrou no estabelecimento, escolheu uma mesa no canto e pediu um café forte. Olhou para o relógio. Faltavam ainda alguns minutos. A porta se abriu, e a mulher de vestido justo entrou, com o mesmo perfume de rosas inundando o ambiente. Ela olhou ao redor e, ao encontrá-lo, um sorriso enigmático surgiu em seus lábios. Ajeitou o vestido e caminhou até ele, sentando-se com uma graça que parecia reservada apenas para femme fatales de filmes noir.

— Vejo que recebeu meu bilhete — disse ela, a voz suave e encantadora.

— Sim. E você tem muito o que explicar — respondeu, tentando manter a calma.

Ela sorriu novamente, cruzando as pernas e apoiando os cotovelos na mesa.

— Tudo a seu tempo, queridinho. Tudo a seu tempo.

Ele estreitou os olhos, sentindo que estava prestes a mergulhar ainda mais fundo no mistério. A observou enquanto ela se acomodava na cadeira, e os olhos azuis perfurantes analisando cada detalhe de sua expressão. O perfume de rosas preenchia o ar, misturando-se com o aroma do café recém-preparado. Ele percebeu que estava segurando a xícara com mais força do que pretendia, a tensão estava aumentando naquele silêncio.

— Vamos direto ao ponto — disse ele, tentando controlar a voz. – Quem é você?

Ela sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos. Era um sorriso de alguém que sabia mais do que deveria, alguém que carregava segredos pesados.

— Meu nome é Angelina — começou ela, com uma leveza que contrastava com a seriedade da situação. — Mas muitos preferem me chamar por Angie. Quer saber mais o que? Idade? Profissão? Estado civil? Querido, eu sou uma prostituta, me criei com as regras cruéis das ruas, conheço muito bem os bastidores de quem luta pra ter um mísero prato de comida no final do dia. Você precisa fazer pacto até com o diabo para ter seu nome conhecido e respeitado. Confesso que já vi de tudo por lá, e esses crimes são fichinha do que pode acontecer com você.

Ele sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Angelina continuou, sem quebrar o contato visual.

— Tony é apenas um peão, como você bem sabe. Mas ele está envolvido em algo muito maior. Estou falando de uma rede que controla mais do que você pode imaginar. Dois assassinatos são apenas a ponta do iceberg.

— E você? Onde você se encaixa nisso tudo?

Angelina deu uma risada breve, como se a pergunta fosse ingênua.

— Eu sou a ligação, meu bem. A pessoa que conhece todos os segredos, que tem o poder de derrubar toda essa merda. E por isso, eles me consideram uma ameaça. Por isso, tentaram me calar. E falharam.

Ele sentiu o peso das palavras dela. Se ela estava dizendo a verdade, estava lidando com algo muito mais perigoso do que imaginara.

— O que você quer de mim? — perguntou, a voz baixa.

— Quero proteção — respondeu Angelina, a expressão estava séria. – E, em troca, te darei tudo o que precisa para acabar logo com isso. Informações, nomes, locais. Mas preciso saber se posso realmente confiar em você.

Ele considerou as palavras dela. O dilema moral era evidente. Se Angelina estava dizendo a verdade, protegê-la poderia significar a diferença entre desmantelar uma rede de crimes ou cair em uma armadilha mortal. Antes que pudesse responder, a porta do café se abriu com um estrondo. Três homens entraram, armados e com expressões de aço. O coração dele disparou, a adrenalina estava correndo pelo corpo. Angelina manteve a calma, mas ele viu a tensão em seus olhos.

— Temos companhia — murmurou ela.

Ele levou a mão à cintura, onde mantinha a pistola escondida. Os homens avançaram, claramente sabendo quem procurar. O líder, um homem com uma cicatriz que ia do olho esquerdo até o queixo, falou com voz firme.

— Angelina, você vem conosco. E seu amigo aí… — ele apontou para ele com a arma — …é melhor não tentar nada estúpido.

Angelina olhou para ele, um pedido de ajuda silencioso apareceu em seus olhos. Ele sabia que precisava agir rápido. A mão dele apertou o cabo da pistola, o tempo parecia desacelerar enquanto avaliava as opções.

— Não vou a lugar nenhum com vocês — disse Angelina, a voz firme. — E ele também não.

O líder riu, um som cruel que ecoou pelo café vazio.

— É mesmo? Vamos ver quanto tempo você consegue manter essa atitude…

Antes que o homem pudesse completar a frase, Johnny sacou a pistola e disparou, acertando o homem com cicatriz no ombro. O café explodiu em caos. Clientes gritavam, mesas viravam, e os outros dois homens começaram a atirar. Ele se jogou atrás do balcão, puxando Angelina junto. O barista fugiu pela porta dos fundos, deixando o café à mercê da violência.

— Precisamos sair daqui! — gritou ele, enquanto tiros ricocheteavam ao redor.

Angelina assentiu, a expressão estava determinada. Juntos, rastejaram até a porta dos fundos, com cada movimento cuidadosamente calculado para evitar os tiros. Uma vez fora, correram pelos becos, o som dos passos dos perseguidores continuavam ecoando atrás deles. O vento frio cortava a pele, mas a adrenalina os mantinha em movimento. Eles se esconderam em um beco escuro, ofegantes. Ele olhou para Angelina, a tensão entre eles era agora palpável.

— Temos que encontrar um lugar seguro — disse ele, tentando recuperar o fôlego.

Angelina assentiu, o olhar permaneceu fixo no dele.

— Conheço um lugar. Mas precisamos ser rápidos. Se nos encontrarem, estamos mortos.

Ele sabia que não tinha escolha. Estava em um jogo perigoso, e Angelina era sua única chance de sobreviver e desvendar o mistério. Juntos, desapareceram na noite, seus passos os estavam levando mais fundo em uma rede de segredos e violência que aos poucos estavam se revelando. Johnny estava com medo, temia por sua vida, mas mantinha uma aparência firme.

Os caminhos eram desconhecidos, mas o ponto de chegada não podia ser mais famoso. Os arabescos que adornavam a arquitetura, a cantoria gemida e os acordes imersivos dos ouds no salão principal o indicaram que chegavam ao bordel Granada. Ele mesmo já visitara o lugar em noites solitárias, mas nunca havia entrado por onde passaram agora, um acesso que vinha do subterrâneo e os atravessavam a uma espécie de porão conectado aos fundos. Antes de entrarem no recinto, tocou o ombro de Angelina, sem esconder seu receio.

— Estais maluca? Nos trazer logo para cá? É capaz de Mastrantónio em pessoa estar aqui.

Ela sorriu. Começava a achar que nada era capaz de tirar aquele sorriso de seu rosto e, depois do frio e assassinato que enfrentara antes de encontrá-la, achava que tudo correria melhor se ela continuasse sorrindo.

— Quer um cigarro, Johnny?

A proposta o fez titubear.

— Eu não te disse o meu nome.

— Achas que eu te deixaria uma carta sem saber quem é? Amorzinho, eu te conheço! Inclusive, acho deveras engraçado que tenha o mesmo nome do chinês lá do Muralha, não concorda?

— Não é uma coincidência difícil, é um nome comum.

— E você é um homem comum. E precisa de um cigarro.

Ele assentiu e a seguiu para o porão, completamente omissos nas trevas. Ela ligou um abajur que não irradiou mais do que um halo langoroso, revelando duas poltronas esfarrapadas. Deixou-se cair em uma delas, percebeu que ainda estava armado e tentar largar a arma só fez a mão estremecer. Angelina o tocou no pulso, atraindo o seu olhar de volta aos olhos azuis. Ela pegou o seu revólver com a mesma suavidade e o depositou sobre a mesinha que ficava entre as poltronas. Colocou o cigarro entre os seus lábios e o acendeu com um movimento rápido de isqueiro.

Tragou o fumo e exalou com um suspiro exausto. Esperava que a névoa cinzenta do tabaco omitisse o seu rosto cansado. Queria acreditar que as lágrimas em seus olhos fossem pela fumaça e não por uma súbita e inexplicável vontade de chorar. A adrenalina o abandonara, nunca havia se sentido tão velho e perdido. Esfregou o rosto entre uma tragada e outra, percebendo que estava sozinho. Aliviou-se ao perceber que o revólver continuava sobre a mesa. Seus olhos se acostumaram à escuridão e pôde distinguir a bela silhueta de Angelina ao pé da escada que levava ao piso superior. Detendo o olhar, divisou uma segunda pessoa, menor e fracassada em sua tentativa de se esconder atrás de Angelina. A criança segurava a mão da prostituta.

— Está tudo bem, ele é bom. Venha comigo.

Ouvir a puta sussurrar em tom maternal, tão distinto da forma sugestiva como vinha falando com ele, o surpreendeu. Vieram até que a luz do abajur as revelasse. A rapariga que acompanhava Angelina detinha mais traços infantis do que adolescentes. Usava roupas de menino e os cabelos desgrenhados não passavam dos ombros. As cicatrizes em seu rosto contavam algumas histórias, nenhuma delas boa e, conforme juntava as peças, ele concluía pelas piores possíveis.

Lembrou-se das loiras. Violentadas. Orelhas, nariz, olhos, lábios e línguas, tudo cortado. Não ver, não ouvir, não dizer. A luz do abajur confundia, mas percebia que os cabelos da menina eram loiros iguais. Olhou para Angelina.

— Mães.

— Sim. Provavelmente não as últimas.

— Há mais como essa?

Quem respondeu foi a garota.

— Muitas… muitas.

Levantou-se, escondeu o revólver por dentro da calça e ajeitou o casaco. Umedeceu o dedão e o indicador na língua e os encostou na ponta do cigarro, que se apagou com um sibilo.

— Eu entendi.

Acompanhou-a até o andar superior. Era uma parte do prédio que não conhecia, o grupo de cubículos onde as prostituas dormiam. Deixaram a criança entrar no quarto mais amplo. Viu, pela porta entreaberta, meninos e meninas de idade similar a da garota espalhados por beliches. Observavam, taciturnos, sem saber se sua presença era boa ou ruim. Ele mesmo não sabia se, com toda a sua boa intenção, traria a justiça necessária. Angelina fechou a porta e o olhou. Foi a primeira vez que a viu preocupada, como denunciava também a sua voz.

— A Justiça é cega somente para quem mais precisa dela. A depender do tamanho da carteira de quem procure, vai despir robe e venda, ajoelhar e chupar seu caralho até as bolas. Aquelas ali são apenas algumas das que resgatamos. Mas a carga… A carga tem centenas. Elegeram este fim de mundo como o ponto de distribuição. Se não detivermos agora, serão perdidas para sempre.

— Eu não vou conseguir desmantelar essa operação sem reforços, eu poderia avisar um amigo da polícia e….

— E quem achas que os deixou entrar aqui? Ora, se fazes de burro? A prefeitura é uma só para a cidade e para a cidade embaixo da cidade.

Ele se encostou na parede, descobrindo menos força nas pernas do que imaginava ter. Angelina estava certa.

— Dois Dedos?

— Mastrantónio é um monstro, mas não consentiria a algo assim. Concorrência e desrespeito. Dois Dedos cansou de ser piada, quis subir na vida e fez ponte para essa merda… mas se quiser saber mais, podes perguntar a ele.

Ela seguiu pelo corredor, mas não se juntou a ela.

— E você? O que te interessa tudo isso?

Também foi a primeira vez que a viu hesitar. Ela não o olhou diretamente ao responder.

— Eu fui vendida em Andaluzia quando tinha onze anos e não é uma história tão triste quanto as de metade das meninas daqui… nós putas vivemos do outro lado da justiça, mas não é por isso que não acreditamos no justo e na inocência. Se jamais teremos a nossa inocência de volta, pelo menos podemos cuidar daqueles que ainda têm uma chance de preservá-la, por menor que seja… e assim como nós do submundo temos a nossa ideia do que é realmente um crime, também temos a nossa ideia de punição.

A justiça subterrânea de putas, assassinos e ladrões. Seguiu-a, dobrando em uma série de corredores que jamais imaginaria compor aquele prédio, mesmo aparentando ser grande. Encontraram Tony Dois Dedos em mais um quartinho, outro cômodo que tinha aos montes naquele lugar. Tinham o amarrado a uma cadeira, estava nu e ostentava alguns roxos cobertos de sangue seco aqui e ali. As garotas já o tinham reduzido a Tony Um Dedo.

— Olá, Tony. Se quiser manter esse indicador, ele vai me apontar para o lugar que desejo.

Depois do impropério que o vadio lhe cuspiu, pediu que Ângela deixasse a sala. Ela negou.

— Está bem. Mas feche a porta atrás de você.

Os dias seguintes poderiam ser lidos nos jornais para a versão mais adequada ao público sensível. Lia uma edição de um desses periódicos enquanto caminhava ao alvorecer. Sinalizara a alguns jornalistas que conhecia e eles obtiveram o furo de reportagem das crianças resgatadas em um depósito. O policial responsável pela operação havia sido o garoto mais burro, arrogante ou, talvez, simplesmente corajoso que encontrara no Departamento de Polícia. Todos os jornais rodavam a foto do prefeito dissimulando um sorriso enquanto o premiava com uma medalha. Uma medalha-alvo.

Entregaram Tony Um Dedo de volta a Don Mastrantónio. Melhor do que se dedicar à complicação de se livrar de um corpo e, apesar de o terem entregado já bem acabado, o mafioso saberia o que realmente fazer com o patife. Não tornou a encontrar Ângela após aquela noite. Contou a ela o plano que tinha para desembaraçar o esquema do tráfico e se despediram sem palavras. Ainda tentou passar o seu número, mas ela já tinha lhe dado as costas, uma visão abençoada. Ela provavelmente demoraria a reaparecer, se é que o faria. Seria mais seguro que se mantivesse às escondidas. Um crime aos olhos, uma mulher daquelas omissa.

Ele mesmo considerava se não deveria dar um tempo nas investigações, após aquilo tudo. Era sobre isso que meditava ao entrar no Muralha da China. Cumprimentou o dono.

— Johnny.

— Johnny.

Sentou-se. Johnny veio até a sua mesa e se inclinou de modo que pudesse ouvi-lo a um sussurro.

— Parabéns. Hoje o seu é por conta da casa. O que quer?

Sorriu-lhe sem ser retribuído, apesar da cortesia.

— Apenas um café, por favor.

O restaurante estava aberto havia apenas alguns minutos e os funcionários ainda colocavam tudo no lugar. Cada um que o via, cumprimentava de alguma forma. Interagia com eles para além da tragédia, mas ainda se lembrava de cada um. De cada caso que solucionara e das vidas salvas, algumas das quais estavam ali agora, acolhidas pelo Muralha. Johnny já havia desaparecido atrás do balcão e um instante depois seu café chegou. Teve que olhar para abaixo do seu ombro para reconhecer quem o servia. Era a menina órfã que conhecera alguns dias atrás. Ela retribuiu o seu sorriso.

—  O senhor vai querer mais alguma coisa?

—  Apenas que você fique bem.

Ela assentiu com a cabeça e saiu. Ele soube que não podia parar. Naquela mesma manhã, antes que o café esfriasse, seu novo caso entrou pela porta.

Sobre Fabio Baptista

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24 comentários em “O Caso das Duas Loiras (JP Félix da Costa, Victor Viegas e Pedro Paulo)

  1. Fabio D'Oliveira
    30 de setembro de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Dessa vez farei uma avaliação mais pessoal, apontando o impacto do conto em mim.

    Olha, não vou mentir, não gostei muito desse conto. Ele está bem escrito, tem uma narrativa consistente e eletrizante, com vários picos de adrenalina. Acontece que não trouxe nada de novo para o gênero. É o famoso “mais do mesmo”, sabe? Sem falar na solução final, praticamente um deus ex machina. Outra coisa que me incomodou foi a forma como todas as soluções caíam no colo do protagonista. Lembrou-me de um mangaká japonês, que quer alçar o status de Agatha Christie, mas faz histórias desse naipe. Ele traça um suposto mistério, mas tudo cai na mão dos personagens, convenientemente. Sem falar das deduções absurdas. Fiquei com a mesma sensação de estar assistindo Hyouka ou, pior ainda, Shōshimin Series — esse se supera no absurdo das soluções, rs.

    Eu adoro o gênero de mistério, policialesco, mas é uma área com muitos textos que apresentam a mesma coisa. Então é muito difícil se destacar nesse meio.

  2. Renato Puliafico da Silva
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Renato Puliafico da Silva

    Conto noir inspirando em filmes clássicos do gênero, mas algo no conto não funcionou para mim. Algumas falas metalinguísticas do protagonista, por exemplo. Essa tentativa de quebrar a quarta parede só faz sentido pra mim em uma comédia nonsense. A personagem Angel parecia mais sensual calada. A solução final ficou estranha, não me agradou.
    Eu gosto muito de noir e os autores parecem não terem captado bem essa essência, não tanto na ambientação, mas na própria construção dos personagens. Por outro lado, se os personagens não funcionam bem, a ambientação parece totalmente irrelevante.
    De resto, o conto está bem escrito e a leitura foi agradável. Só não me tirou um suspiro no final.

  3. Sílvio Vinhal
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Sílvio Vinhal

    O conto inicia com força, o estilo noir é bem empregado e convence.
    Os personagens vão se apresentando e compõem o que poderia ser uma boa história de investigação policial. Os elementos estão todos presentes.
    As cenas de tensão e de violência são interessantes, dão certo dinamismo à trama e geram expectativa.
    No entanto, o segundo e o terceiro autores – embora tenham conseguido até emular bem o estilo (embora alguma quebra seja perceptível) parecem esquecer do título e que havia um crime a desvendar.
    A história vai se desconstruindo, se esvaindo em frases esparsas que não conseguem explicar o que está acontecendo. No máximo, dão uma vaga ideia.
    E então, o texto começa a se encaminhar para um final que – por falta de conclusão – sinaliza para uma continuidade, como se fosse um romance ou um seriado.
    Uma pena.
    Parabéns pela participação no desafio. Desejo sorte.

  4. Victor Viegas
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Frankensteiners!

    O primeiro autor passou a descrição do cenário de uma forma um pouco travada, acredito que teria muita informação para o limite de palavras e isso tenha sido um dos obstáculos na escrita. Porém, conseguiu imprimir um estilo noir muito bem característico e isso é um ponto positivo. 

    O segundo autor parece que decidiu colocar mais ação, mas o desenvolvimento ficou muito corrido. Também devo citar a confusão com o nome do personagem principal, que não havia sido mencionado.
    Já o terceiro autor consegue retomar o texto, mas deixou o final um tanto apressado, talvez pelas trapalhadas dos trechos anteriores. No final eu fiquei me perguntando, quem são as duas loiras? O próprio título não está respondido no conto. Parabéns pelo Frankenstein! Boa sorte!

  5. Thales Soares
    19 de setembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O conto é sobre um investigador solitário, no estilo Noir, muito bem ambientado. No início, as descrições são perfeitas, e nos lembra mesmo os contos clássicos desse gênero. Mas conforme os outros autores vão assumindo, essas descrições perspicazes vão perdendo sua riqueza, apesar de não atrapalhar a história.
    O investigador está com um caso em que duas mulheres foram mortas, e a princípio os casos parecem desconexos. Achei muito estranho o fato de que, em momento algum da história, o detetive vai até a cena do crime, e também ele não interroga os familiares e nem pessoas próximas da vítima. Na realidade, esse é o ponto fraco do conto… não há uma investigação, apesar de a premissa nos fazer a promessa de que haverá. Mas pelo curto limite de palavras, o recurso que o autor utiliza é de jogar as resoluções na cara do detetive, já que ele não terá tempo de investigar de verdade.
    Logo no início, ele já vai no restaurante Muralha da China, para conversar com seu amigo Johnny, que é o chines ex machina que resolve todos os casos por ele, dando as informações de bandeja. Mais tarde, descobrimos que o nome do detetive também é Johnny… talvez por erro do segundo autor… mas o terceiro autor consegue remediar esse problema com categoria, deixando um aspecto engraçado na história.
    Mas então Johnny diz para Johnny que Tony Dois Dedos está por trás desses assassinatos. Voltando pra sua casa, enquanto o detetive pensa sobre essa informação, uma mulher misteriosa deixa um bilhete enigmático para ele (como eu disse, neste conto as pistas pulam na cara do protagonista, sem que ele precise fazer qualquer tipo de esforço).
    Ai mais tarde o detetive está num hotel, e do nada um invasor aparece e eles começam a lutar. A luta é rápida, mas bem descrita, e o homem revela que trabalha para o Tony Dois Dedos, e que ele está tentando encobrir um esquema grande.
    Então o detetive vai em uma cafeteria encontrar a mulher do bilhete, Angelina, Ela revela que é uma puta, mas que tem um monte de informações pra dar. O caso investigado tem a ver com tráfico humano… achei o motivo do caso um pouco grandioso demais… eu gostaria que o escopo fosse algo mais simplório, para dar um ar mais clássico ao conto. Mas enfim… enquanto os dois conversam, surge uma galera do mal que começa a atirar em tudo.
    Aí eles conseguem fugir e vão até o puteiro Granada, onde estão escondidas umas crianças vítimas do tráfico, para serem protegidas. Neste momento pensamos “Caramba… o conto já está acabando… e o Tony Dois Dedos, quando será que o Johnny vai atrás dele?”. Então… parece que o autor 3 também estava muito preocupado com isso, e pela falta de espaço, mais uma vez vemos aquele recurso de jogar tudo na cara do protagonista, sem que ele tenha que fazer o mínimo esforço para ir atrás das coisas. Tony Dois Dedos foi capturado pelas putangas, e está na sala do andar de cima, amarrado. Agora ele é o Tony Um Dedo, e toda essa piada com sua alcunha eu achei bem legal.
    Mais uma vez, vemos que o maior vilão desta história é o limite de palavras, pois não dá tempo de o autor nos apresentar o ato final, e o conto acaba ficando sem um clímax. O que nos é dado aqui é um resumo de tudo que aconteceu na resolução, onde Johnny e Angelina conseguem desmantelar a operação de tráfico, com a ajuda de alguns contatos (e um pouco de deus ex machina), expondo a operação criminosa, resultando no resgate de várias crianças.
    Angelina desaparece, e Johnny volta no Muralha da China, para conversar com Johnny.
    -Olá Johnny.
    -Olá Johnny.
    Muito bom o diálogo! Kkkkkk.
    Então a história se encerra com uma garotinha trabalhando ali e agradecendo ao detetive, e dá um ar fofo para o desfecho.
    Pena que o limite de palavras prejudicou esse conto, porque ele é bastante divertido. Apesar de todas as conveniências que ocorreram, o resultado final foi razoavelmente bom, dentro do possível.

  6. vlaferrari
    17 de setembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Não conhecia o termo “anafado” e o Google me responde que o significado é “baixo e gordo”. Ou seja, o chinês era baixo, baixo e gordo. Raymond Chandler é ótimo com metáforas e é absurdo de minha parte efetuar um julgamento pegando logo um autor de primeira prateleira, mas como não estou no “certame”, espero ter uma permissividade dos autores/autoras. Na minha opinião, a repetição da descrição do X-9, como toda a primeira parte, é resumida em “um cara caminha numa noite de frio cortante até um restaurante duvidoso, a procura de pistas sobre o duplo assassinato de duas louras”. Economizaria palavras para uma trama mais cheia de ação, penso eu. Recomendaram-me e eu repasso, que os outros sentidos sejam explorados na descrição de uma cena noir (tentei sem sucesso, ou melhor, ainda sem sucesso, pois está parado em algum ponto do HD). No caso do conto, na primeira linha já deu para entender que estava frio pra caramba. No mais, os dois/duas autores/autoras das partes finais tentam remendar uma estória que ficou perdida no vento e nas folhas da primeira parte.

  7. claudiaangst
    16 de setembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Meus cumprimentos e vamos ao que interessa.

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ FEITO ◊ para avaliação de cada conto.

    ◊ Título = O CASO DAS DUAS LOIRAS – O título me remeteu logo àquele filme – As Branquelas. Por quê? Não faço a menor ideia.

    ◊ Amálgama = Percebe-se a troca de autoria do meio para o fim, devido ao uso de espaço de parágrafos inexistentes nas outras duas partes.

    ◊ Fim = Os fins justificam os meios? Talvez… E a ordem dos fatores altera o produto? Permita-me começar pelo fim, observando o impacto causado na leitura.

    Consertou o engano do(a) segundo(a) autor(a) quanto ao nome Johnny. No entanto, trocou por duas vezes Angelina por Ângela.

    Fiquei um pouco confusa com tanta informação disparada no final. O caso das duas loiras, exposto no título, perde a relevância. Ninguém liga.

    ◊ Entremeio = Houve a confusão com o nome Johnny, sobrando ao(à) terceiro(a) autor(a) dar um jeito e desatar o nó. Traz à trama o desenvolvimento de cenas mais violentas, mas a narrativa parece se arrastar um pouco.

    ◊ Início = O(A) primeiro(a) autor(a) preocupou-se em descrever o cenário no qual se daria a ação. Trouxe alguns clichês à narrativa, ambientando o leitor a uma expectativa de trama noir. Poderia ter se estendido menos nas descrições, talvez.

    ◊ Técnica e revisão = O conto é narrado na terceira pessoa. A primeira parte tem um ritmo mais lento e descritivo, depois há uma sucessão de diálogos que agilizam a leitura. A linguagem é clara, simples, talvez com um leve sotaque lusitano, mas pode ter sido impressão minha.

    Notei pequenas falhas no quesito revisão:

    […] por o dedo >[…]  pôr o dedo

    […] papeis > […] papéis

    – Repetição de palavras similares (som) – inacabadas/acabados

    – repetição de ERA, principalmente na primeira parte

    […] pode-lhe > […] pôde-lhe

    […] o som dos passos dos perseguidores continuavam > […] o som dos passos dos perseguidores continuava

    – repetição muito próxima do mesmo verbo = achar/achava

    – repetição muito próxima do mesmo verbo = percebendo/perceber

    […] similar a da garota > […] similar à da garota

    […]pediu que Ângela deixasse a sala > […]pediu que Angelina deixasse a sala

    Não tornou a encontrar Ângela > Não tornou a encontrar Angelina

    ◊ O que ficou = Uma sensação esfumaçada de ter assistido a um filme noir diferente.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  8. André Lima
    16 de setembro de 2024
    Avatar de André Lima

    É um conto muito bem escrito. Para mim, há uma crescente na técnica. O conto começa despretensioso, mas consegue me capturar após alguns parágrafos.

    Algumas coisas me incomodaram, porém. Primeiro, uma facilitação narrativa boba quando o tal assassino de aluguel tenta invadir o quarto do protagonista. Quando o nosso herói o captura, ele resiste bravamente dizendo que “jamais falaria”, um segundo depois, ele modifica totalmente o que havia dito e começa a falar tudo. Uma facilitação para avançar a trama que poderia ter sido melhor elaborada.

    O segundo ponto tem conexão com o que vou falar mais adiante: as duas loiras, em si. Se o modus operandi do assassino e o perfil de vítima são idênticos, de onde vem a suspeita dos crimes serem desconexos? Isso não ficou nem um pouco claro durante a narrativa.

    E, acredito, que isso tenha sido negligenciado pelos autores seguintes. Para mim, o primeiro autor estava plantando sementes desse mistério, dessa suposta/provável falta de conexão, presumo que ele estivesse pensando que o plot giraria em torno disso. Mas o mistério foi ignorado e deu uma reviravolta na trama de modo que as duas loiras, que dão título ao conto, foram completamente esquecidas.

    Bom, esses incômodos, para mim, não foram suficientes para tirar o brilho do conto. Gostei da forma como tudo foi narrado, da atmosfera criada e da trama madura para um estilo de narração mais maduro. Meu maior medo era de uma trama juvenil neste conto, coisa que não se concretizou.

    É um conto bem escrito, que brilha, mas que tem certos pontos de incômodo. Não é perfeito, nem dos meus preferidos no certame, mas está longe de ser dos menos preferidos. É um bom conto e devo parabenizar os 3 autores.

  9. Luis Guilherme Banzi Florido
    16 de setembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, autores! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pela participação num desafio tão dificil e maluco quanto esse!

    Início: o início do conto traz uma excelente caracterização de noir, e utiliza boa parte de suas palavras na construção do cenário e dos personagens. Temos aqui um crime duplo, possivelmente cometidos pela mesma pessoa, e nosso investigador bem perdido e sem pistas. O problema pra mim que vai aparecer nesse conto todo é que, claramente, ele não cabe em 4500 palavras. Eu cheguei a pensar em escolhê-lo para concluir, mas percebi que concluir tal conto com apenas 1500 palavras seria maluquice. Mas espera, estou pulando etapas. Aqui, o autor constrói pouco do enredo, deixando muito em aberto para os autores seguintes resolverem em pouco tempo. Quem matou as loiras? Por que? Qual o envolvimento de Dois Dedos? E de Mastrantónio? Veremos o que vem a seguir.

    Meio: o meio do conto, infelizmente, não consegue contribuir o suficiente para que o autor final entregue um desfecho mais completo. Como falei, numa história tão ampla, as palavras precisam ser usadas a conta gotas para que tudo caiba em pouco espaço, o que não é o caso. Como tinha dito acima, eu cheguei a pensar em concluir esse conto, mas percebi que parecia uma tarefa quase impossível, já que 2/3 do conto já tinha ido e tudo o que se sabia ainda era: 1- Dois Dedos está envolvido de algum modo; 2- Angelina sabe de algo. Um mistério enorme, e em 1500 palavras teria que se desenvolver tantas coisas, inclusive o assassino, suas motivações, sua personalidade, chegar a um clímax, gerar algum conflito e problema para os protagonistas. Preferi não encarar esse desafio. O autor 3, que foi mais corajoso que eu, conseguiu entregar?

    Fim: olha, vou dizer que, apesar de muitas coisas em aberto e um desfecho bastante corrido, fácil e com pouco clímax (tudo isso, aliás, era totalmente esperado), o autor 3 fez um trabalho excelente com o que tinha em mãos. O final ficou surpreendentemente bom, e tenho certeza que eu não teria feito melhor, então fiz bem em me retirar. A inclusão de tráfico infantil foi impactante e inesperada, e a parte 3 desse conto foi poderosa e muito bem feita.

    Coesão entre os autores: o autor 1 investigou o caso das duas loiras e concluiu que duas loiras estavam mortas. O autor dois revisou o caso das duas loiras, e confirmou: alguém matou duas loiras. O autor 3, numa cartada inesperada, pegou o dossiê de duas páginas e, surpreendendo a todos, inclusive autor 1 e 2, concluiu que o Dois Dedos tava envolvido com os caras do Busca Implacável e deixou a treta nas mãos do Liam Neeson (“vou te procurar, vou te encontrar, e vou te matar.” “Boa sorte”). Em outras palavras: no quesito técnico e na escrita, os 3 autores ficaram bem homogêneos. No entanto, infelizmente os autores 1 e 2 deixaram coisas demais em aberto, de modo que, mesmo o autor 3 fazendo muito com pouco, o conto infelizmente ficou com uma série de furos, soluções fáceis e corridas. Ainda assim, uma leitura muito agradável e um final impactante.

    Nota final: bom

  10. Jorge Santos
    15 de setembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, trio.

    Sempre gostei de literatura policial, que segue, em primeiro lugar, a lógica. O fio da dedução, elegante, que dá voltas até revelar a verdade. Este texto começa bastante bem, de forma elegante, embora carregada de clichês. Acho interessante que o segundo autor (creio ter sido o segundo autor) ter referido “– Boa. – Disse, para si próprio. – A minha vida é um clichê. Até direito a femme fatale tenho.”. Poderia ter sido trabalhado de outra forma. A gabardina, por exemplo, poderia ter sido evitada.

    Na segunda parte a elegância é obliterada. Não gostei da utilização dos nomes iguais. Baralha o leitor e não há mais-valia para o texto. Gostei da alusão à Muralha da China, trouxe-me boas recordações, mas não me vou alongar nessa análise.

    No final há uma curiosa troca de nomes (entre Angelina e Ângela) e tudo surge de forma algo atabalhoada. O tema central é atual, o tráfico de seres humanos. A justiça surge das próprias mãos das vítimas, enquanto a polícia recebe os louros, numa referência igualmente atual. Depois, Johnny segue o seu caminho, sem nunca sabermos, afinal, de que vive e a quem responde. Ficamos a pensar que é uma espécie de batman de gabardina, à procura de ajudar os mais desfavorecidos, mas fica sempre a incerteza da sua motivação.

  11. Gustavo Araujo
    14 de setembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    O grande desafio de um conto noir é colocar as peças no tabuleiro, traçar a estratégia e resolver tudo de maneira convincente. Temo, porém, que essa receita não teve sucesso aqui. A premissa constante da primeira parte é muito boa. Os diálogos são ótimos e há, de fato, aquela atmosfera fumacenta e misteriosa permeando tudo. Há, ainda, um protagonista anti-herói, algo fracassado, alguém que ri de si mesmo mas que, na hora H, é capaz de mostrar a que veio. Nesse contexto todo, temos o assassinato de duas mulheres loiras que, nosso protagonista desconfia, estão interligados.

    Em um hotel de quinta categoria, ele precisa enfrentar um assassino de aluguel e, de quebra, vê-se fisgado por uma femme fatale. Estão aí todos os clichês do gênero, o que não é de forma alguma ruim — é algo que se espera e até pelo que se anseia. Tudo trabalhado de forma muito hábil.

    A segunda parte consegue até certo ponto manter esse nível, mas acaba alterando o crime que se insinuava nas entrelinhas. Em vez de um assassinato, o que surge é um esquema de tráfico de mulheres e crianças. Não há nada de errado nessa opção, mas creio que algo mais trivial, tipicamente noir, cairia melhor — bem, essa é a minha opinião egoísta kk Mais grave foi a confusão de nomes, mas disso outros comentários já dão conta.

    A terceira parte viu-se na posição de fechar o circuito. Com 1500 palavras à disposição, ficou complicado. No fim, Dois Dedos tinha sido preso e amarrado pelas próprias mulheres, sendo entregue na sequência ao mafioso-mor, Mastrantónio, para sofrer as penas que o submundo reserva aos traidores.

    Nada há especificamente sobre as duas loiras do início. Angelina se torna Ângela e Johnny, o detetive, aparece mais como espectador do que como alguém que resolve o assunto.

    De todo modo, o conto é redondo. A história flui e, apesar dos furos e omissões, entretém muito bem. Para um conto noir, não é pouco. Parabéns aos autores e boa sorte no desafio.

  12. Leo Jardim
    13 de setembro de 2024
    Avatar de Leo Jardim

    🗒 Resumo: o protagonista, que depois descobrimos se chamar Johnny, como seu informante, é um detetive noir que investiga o assassinato de duas loiras, se envolve com a femme fatale Angelina e o caso acaba escalando para tráfico de crianças. No fim, ele tortura o ex-Dois Dedos e desmascara o esquema.

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): apesar da trama ser meio clichê noir gostei muito de ler e foi tudo muito intrigante. O ponto fraco é que o protagonista é quase um obervador da história, quase não faz nada de útil. Tudo meio que acontece apesar dele. O xará dele diz que foi o Dois-Dedos, a Angelina procura por ele e conta todo o mistério. Depois o Dois-Dedos já está capturado esperando para ser torturado… Fora isso, gostei da resolução e de como se concluiu. Apesar do espaço curto, funcionou razoavelmente bem.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): boa. Conduziu a trama com eficiência e muitas descrições, carregando o leitor pela história de mistério. Achei que no fim sobe um pouco de nível.

    ▪ O que *era* preciso *era* deixar passar um pouco (repetição próxima)

    ▪ Bateu três vezes. (…) Aprendera essa lição uns anos antes. (…) voltara a bater. (Essa última frase pertence ao tempo do conto (“bateu”) ou ao tempo anterior (“voltara”)? Fiquei confuso com os tempos verbais aqui…)

    🧵 Coesão (⭐▫): houve um vacilo do uso errado do nome Johnny (que era o nome do informante e não do detetive), o autor seguinte resolveu bem com uma brincadeira e tudo ficou bem amarrado.

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): ele chega a brincar com os clichês do tema. Não é criativo, mas faz bem com o que tem.

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫): vou dizer que gostei mais que achei que ia gostar. Começa que é um tema que costuma me prender e foi bem desenvolvido, apesar dos problemas já apresentados. O final não foi tão climático, mas me agradou por fechar as pontas e abrir pra mais. Terminei a leitura com um gosto bom.

  13. Givago Domingues Thimoti
    10 de setembro de 2024
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Boa noite aos autores do conto!

    A partir da leitura de 3 contos do desafio, eu percebi dois grandes problemas que os participantes precisam superar para escrever a continuação, para além daqueles que nós conhecemos bem: (i) compreender a história, os detalhes mais importantes que o autor anterior escreveu, tipo um núcleo-duro, para que você possa continuar sem perder o mais importante e (ii) manter o estilo de escrita (mesmo que isso signifique fugir da sua zona de conforto) ou, se necessário, adaptar para o melhor.

    Acho que esse conto sofreu com essas duas questões. Em que pese o clima noir paire no ar que nem nicotina queimada por todo o conto do início ao fim, o que eu percebi foi o seguinte: se o primeiro autor impôs aquele ritmo descritivo e demorado, focando principalmente no ambiente e levantando a bola sobre as mortes das duas loiras, o segundo engatou a segunda marcha, jogou o RPM lá nas alturas e atropelou toda a base narrativa, a noção de tempo (e até mesmo de estilo de escrita, português de Portugal substituído pelo português brasileiro) que o primeiro colocou. O caso das duas loiras fica completamente esquecido (até agora não encontrei bem a relação entre as loiras e as crianças, tipo eram prostitutas que acolhiam crianças sequestradas e foram mortas por isso, num sinal para as restantes fingirem que não escutam, não vem e não falam do tráfico?)

    O terceiro veio para tentar consertar as coisas, remediar e etc, mas o carro já tava meio desgovernado demais para qualquer controle.

    Enfim, a conclusão que cheguei é que é um conto que poderia ter sido muito melhor trabalhado, especialmente na sua segunda parte, tanto em termos de narrativa, quanto em termos técnicos

  14. bdomanoski
    10 de setembro de 2024
    Avatar de bdomanoski

    Quesitos avaliados: Entretenimento, Originalidade, Pontos Fracos

    Entretenimento Esse conto exige atenção total praticamente. É bem intrincado. Especialmente o começo. Após o segundo autor assumir, presumo, a leitura fica muito mais fluída. Embora tenha ficado imperceptível o momento da mudança de autoria. “A justiça subterrânea de putas, assassinos e ladrões. ” gostei dessa frase. Muitos discordam, mas pra mim, putas estão na mesma categoria que ladrões. Bem, fiquei bastante contente com o rumo que a trama tomou durante o desenvolvimento. ENvolver uma história de trafico de crianças foi genial e combinou bem com tudo, exceto talvez com o título do conto. Certeza que não foi isso que o primeiro autor pensou quando escreveu.

    Originalidade “Estava demasiadamente bem vestido para que a sua indumentária pudesse fazer frente à intempérie. ” Rapaz (ou moça), fico imaginando como seria começar a falar assim com as pessoas ao vivo, nas ruas, conhecidos, em rodas de conversa, etc. Pergunto-me qual seria a reação dos outros. É um estilo de palavreado que só vejo mesmo em histórias escritas. É um linguajar muito sofisticado, diga-se de passagem. “Iria-lhe bater à porta. “, VOU CONFESSAr que meu português não é tão bom a ponto de conseguir conjugar uma frase desse jeito. Parabéns ao autor da primeira parte, muito versado. Clap clap clap Diria que faz parte de uma micro minoria do Brasil que possui um domínio tão grande da lingua portuguesa.

    Pontos Fracos Achei semi engraçado a cena do protagonista no hotel. Achei que um humor negro poderia ter permeado mais a trama, a fim de transformá-la num noir de ponta. Uma frase dessa , por ex: “– Boa. – Disse, para si próprio. – A minha vida é um clichê. Até direito a femme fatale tenho.”, achei meio sem vida. Imaginei o personagem falando de forma bem deprimente, mesmo. Mas o maior ponto fraco ficou pra conclusão da história, que novamente, não fez jus ao desenvolvimento. Embora os ultinmos dois autores tenham a escrita muito mais fluída. Demorei pra conseguir vencer o cansaço do primeiro e chegar até eles. Chego a conclusão que isso de escrever em trio não dá certo. Não mesmo. Mesmo assim, gostei o suficiente pra dar uma possível boa nota.

  15. Fernando Cyrino
    10 de setembro de 2024
    Avatar de Fernando Cyrino

    Olá, amigos e/ou amigas de desafio. Cá estou eu a entrar pela porta dos fundos pela traseira da Muralha. Sou um pouco do Jonny pronto para encontrar o outro Jonny. Legal a história que me trouxeram. Um conto policial. A morte de duas loiras que terminaram seus dias mutiladas sem olhos, ouvidos, narizes e bocas. Um recado bastante claro para não se ser enxerido. A história está bem contada, um bom uso do idioma e, com certeza, os três autores, ou autoras, souberam dar conta do recado, o primeiro, alguém que parece ser de além-mar deu o tom da narrativa e os outros dois souberam seguir pelo caminho aberto. Está tudo bem, o mistério desvelado, tratava-se de um negócio tétrico, tocado por Dois Dedos. O tráfico de crianças vendidas para a prostituição na cidade grande. Mesmo estando tudo bem, não foi uma história que me fisgou, que tenha me encantado. Gostei, mas queria mais, sabem? Queria ter sentido durante a leitura e releitura a adrenalina que, da mesma forma que o perfume de rosas da mulher fatal, Angeline, exalava na fuga do nosso casal protagonista. Bem, mas relevem esse fato. Creditem-no ao fato de que sou um leitor bem chato. Fiquem com o meu abraço e tenham muito sucesso no certame.

  16. rubem cabral
    10 de setembro de 2024
    Avatar de rubem cabral
    • Enredo: bom conto, típico noir, com femme fatale, clichês e frases de efeito comuns ao gênero. Achei que a 1a parte criou bons elementos a serem desenvolvidos, mas a 2a pouco fez para avançar com a história e ainda confundiu o nome do chinês com o do personagem principal. A 3a parte corrigiu o erro de forma divertida e teve que lidar com o peso de arrematar a história e resolver as pontas soltas, infelizmente, contudo, teve que pisar no acelerador para conseguir fazê-lo com as 1500 palavras restantes.
    • Escrita: boa escrita, sem grandes voos metafóricos e tal, mas correta e eficiente em contar a história. Senti, no entanto, que um típico noir pederia por narração em 1a pessoa.
    • Personagens: o Johnny detetive é um bom personagem, cínico e engraçado como deve ser. Os outros, Angelina, Tony e outros foram menos desenvolvidos.
  17. JP Felix da Costa
    9 de setembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    Gostei deste conto onde, apesar de se notar bem as passagens do testemunho, as três partes acabam por não destoar. A coerência do enredo é mantida, pese as falhas ocasionais, e alguns deslizes, como a troca de nomes, mas nada demais.

    Pareceu-me que o segundo autor teve muita “fome” de partir para a ação e acabou por deixar o ónus de explicar tudo ao terceiro, cometendo algumas falhas pelo caminho. A sequência cronológica dos acontecimentos não está muito coerente.

    No final, um conto interessante, que dá mais voltas do que as que, ao início, parece que vai dar, pelo tipo de texto e do ritmo mais lento da primeira parte.

  18. opedropaulo
    8 de setembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Nesse texto, as três autorias se equilibraram bem no quesito coesão de estilo, mas não na construção do conto. A primeira parte é praticamente um demorado estabelecimento do cenário, inclusive com os poucos personagens que aparecem sendo caracterizados mais para contribuir com a atmosfera noir do que para nos fazer entendê-los. Tratando-se do gênero policialesco investigativo, ainda assim há um bom trabalho em levantar o caso, sendo generoso com a segunda autoria, que poderia escolher por qual caminho levar o conto… entretanto, embora seja preservada a atmosfera com a introdução da femme fatale, o enredo não avança, com mais encontros explosivos e a renovada menção a um enigma que, nesse segundo trecho, não é mais definido do que quando o encontramos no primeiro. Além disso, surge aí um equívoco algo embaraçoso com o nome do protagonista, que é confundido com o de outro personagem, revelando desatenção e priorização da ação na narrativa. Lembrou-me um pouco de Michael Scott na aula de improviso, conhece? 

    A terceira autoria remediou o erro com o nome apenas para mais à frente cometer equívoco similar com a personagem introduzida na segunda parte, mas, por outro lado, concluiu o conto sendo mais dedicado a substanciar os crimes até então só mencionados e encerrar a história com uma visível pressa. Apesar da aceleração da narrativa, ainda há uma conclusão e um certo impacto nesse desfecho. Fica uma obra que, se as três autorias se sentassem para conversar, certamente possibilitaria uma lapidação em um ótimo conto ou em uma história maior.

  19. Fabio Baptista
    8 de setembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    X Sensação após a leitura: É por isso que eu leio duas vezes…

    X Citações pro bem e pro mal:
    x cujas curvas eram capazes de enlouquecer um eunuco
    Boa! (me refiro à frase)
    Boa. – Disse, para si próprio
    O personagem pensou a mesma coisa kkkk

    x parecia reservada apenas para femme fatales de filmes noir
    Há brincadeiras com esses clichês em alguns pontos, achei legal.

    x esses crimes são fichinha do que pode acontecer com você
    “perto”

    x ele apontou para ele / Angelina olhou para ele / Ele sabia que precisava agir rápido / E ele também não.
    Tipo de frase que pode ser melhor trabalhada (a primeira). A sequência de “ele” em um curto espaço reforça ainda mais a necessidade de estruturar o texto um pouco melhor para evitar esse tipo de repetição.

    x Johnny sacou a pistola e disparou
    Pô, legal o chinês informante ter aparecido para salvar o dia… né?

    x Não é uma coincidência difícil, é um nome comum
    bom recálculo de rota…

    x completamente omissos nas trevas
    Acho que “omissos” foi a melhor escolha aqui

    x Ela seguiu pelo corredor, mas não se juntou a ela.
    ???

    X Conclusões:
    Na primeira leitura, entre uma tarefa e outra do trabalho, as coisas me pareceram bem confusas e a sensação final foi de que, apesar da boa escrita, estava diante de mais um conto que vai se tornando um Frankstein ao longo do caminho.

    Lendo novamente agora, com a devida calma (apesar de ter dado um problema no WordPress bem no meio da leitura), e também alinhado ao conhecimento prévio de alguns detalhes da história, as peças se encaixaram e me vi diante de um conto muito bom. É recheado de clichês? Sim, mas e daí? Eles jogaram a favor do andamento da história, da ambientação. Deixaram o caminho livre para nos concentrarmos na breve relação do detetive com “A” e na monstruosidade do Dois Dedos.

    O autor do segundo trecho destoou um pouco na técnica e cometeu a gafe do “Johny”, habilmente remediada pelo terceiro autor, o que, curiosamente, acabou surtindo um efeito positivo. Gostei imenso da leitura!

    MUITO BOM

  20. Fabiano Dexter
    5 de setembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Gostei bastante da história, mas acho que o fato de ter passado por três autores acabou comprometendo um pouco o todo, também pelo fato de termos um (belo) inicio de conto em um estilo Noir que, naturalmente, acaba precisando de muitas palavras para conseguir manter o clima, que acabou sendo colocado um pouco de lado justamente em prol do desenvolvimento da história.

    A história em si é bem interessante, clássica, onde um simples detetive acaba, com a ajuda de alguém, desmantelar toda uma estrutura criminosa. O problema aqui foi o tamanho do conto para que a história pudesse ser mais bem desenvolvida, com mais detalhes sobre os personagens principais.

    Ao não mencionar época ou local onde o conto se passa, iniciada com o primeiro autor e mantida, agrega ao conto. O fato de não ficarmos presos a celulares ou telas nos leva a uma história de maior movimento e ação, necessária. “Liguei para meu contato Jhonny” ou “Recebi um Zap de um número desconhecido” não trazem o mesmo impacto da visita ao restaurante ou bilhete embaixo da porta.

    A história no todo ficou muito boa, ainda que um pouco corrida. Merecia um pouco mais de tempo e palavras para se desenvolver. Além disso o “Caso das Duas Loiras” ficou apenas no título, sendo citado apenas ao final dando mais detalhes de como foram as mortes e, pelo MO, não tinha muito sentido achar que os casos não estariam ligados….

  21. Leandro B.
    4 de setembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    “-Johnny

    -Johnny”

    Sensacional.

    Bom o conto, como um todo, não funciona muito bem. Acredito que o primeiro autor tomou algumas decisões criativas que dificultaram muito uma construção em conjunto.

    A estética noir já seria problemática. Mas para além dela temos muitos cenários, muita descrição, muitos lugares, muitos personagens, duas loiras mortas e só 4500 palavras para amarrar tudo.

    Eu não gostei tanto da abertura do conto. De fato, acho que foi melhorando conforme os outros autores foram chegando. Acho, inclusive, que a última parte é bem escrita, com soluções interessantes, dado o espaço que o autor tinha.

    O maior problema, contudo, é o início. É estranho, porque o autor nitidamente leva jeito com descrição. O problema maior é que não parece se tratar de uma narração de um conto noir, mas uma narração de um filme noir. Como se alguém tivesse visto a estética em tela e tivesse tentado passar, da melhor maneira possível, pro papel. Mas não funciona. São simplesmente mídias muito diferentes.

    Há, também, como disse anteriormente, o problema do espaço. A impressão que fica é que o autor não levou em conta o escopo da história.

    Com o segundo autor a coisa melhora um pouco. Parece que o texto passa menos a ser uma tentativa de reprodução da estética do cinema e começa a ingressar em algo propriamente mais narrativo.

    Dito tudo isso, não quero dizer que o primeiro autor foi incompetente. Parece um pouco contraditório, mas ele claramente leva jeito para atmosfera, só teve a opção infeliz de tentar demais esse aspecto cinematográfico.

    No mais o uso de clichês foi um tanto exagerado. Eu entendo que tentaram brincar um pouco com os clichês, inclusive tentando abordá-los na própria narrativa, como no caso da femme fatale. Mas o reconhecimento do clichê, por si só, não resolve o uso do clichê.

    É isso. No geral, sinto que a história foi feita por autores talentosos que, por um motivo ou outro, não puderam mostrar tudo o que sabem.

    De todo modo, parabenizo pela escolha desafiadora.

    Boa sorte no desafio!

  22. Priscila Pereira
    30 de agosto de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, autores! Tudo bem com vocês?

    Começo: Uma história “policial” sem época, nem localização própria, um duplo assassinato e um detetive. Um bom começo. A ambientação ficou um pouco demais. Muita alusão ao frio sem que tivesse alguma coisa a ver com o conto.

    Meio: Muita violência e morte, fuga e enrolação para apresentar e desenvolver o mistério que é o propósito dos contos policiais.

    Final: mistério bom, mas desenvolvido às pressas, não entendi direito do que se tratava, muita coisa foi só insinuada, pelo que entendi era tráfico de crianças, né…? Mas com que propósito? Prostituição somente? Escravidão sexual? E o tal do Tonny? Foi ele quem pensou e executou tudo isso? Ele não era meio lesado? Ficou muitas pontas soltas…

    E o encontro no café não era 12 horas? Pq saíram do café em plena noite escura e fria? E qual café estaria aberto a meia noite? Furos de leitura e interpretação aí, heim!

    Coesão: Percebi que o autor da terceira parte se esforçou mais para imitar o estilo do primeiro autor e o segundo foi mais direto na ação. De qualquer forma achei que dá pra passar despercebido pelo estilo que foi escrito por três pessoas diferentes.

    Considerações finais: esse conto merecia um desenvolvimento maior, com muito mais palavras. A ideia é muito boa, mas precisa de aprofundamento e de revisão de pontas soltas. E maior atenção aos detalhes, até Angelina vira Ângela no final.

    No geral é um bom conto!

    Parabéns aos autores!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  23. Kelly Hatanaka
    28 de agosto de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá, caros colegas entrecontistas!
    Primeiramente, parabéns pela participação corajosa e desapegada.
    Vou avaliar e comentar de acordo com meu gosto, não tem muito jeito, afinal não tenho conhecimento nem competência para avaliar de forma mais “técnica”. Ou seja, vou avaliar como leitora mesmo. Primeiro, cada parte separadamente, valendo 1 ponto cada. Depois, a integridade do resultado, valendo 3 e, por último, o impacto da leitura, valendo 4.
    Começo
    O bom de escrever um noir bem clichê é que dá pra economizar com a ambientação. Algumas palavras bem colocadas e tcharã! Temos clima frio e escuro, garoa, névoa, recintos esfumaçados. Não fica claro onde se passa a história e isso não fez falta. Dá pra imaginar essa história se passando em qualquer cidade grande. Pra mim, ela se passa em Gothan. O mistério foi lançado: o assassinato de duas loiras, o envolvimento de Tony Dois Dedos, que está encobrindo alguém. Bem bom.
    Meio
    Até agora o nome do protagonista não tinha aparecido. Acho que o autor 2 se confundiu e o chamou de Johnny, o mesmo nome do informante chinês. Levei um tempo pra me refazer da confusão de nomes. Não acontece muito nesta parte. O detetive encontra Angelina que diz saber de tudo e eles são caçados por dois caras.
    Fim
    O autor 3 consertou a confusão de nomes do autor2 e temos dois Johnnys na história: o detetive e o informante. Ok. No fim, Tony Dois Dedos tinha sido capturado por Angelina. E ele não estava encobrindo ninguém, ele só ficou ganancioso e passou a perna em Mastrantonio. Johnny salva o dia envolvendo a polícia, que era justamente o que Angelina não queria. Se fosse assim, ela mesma podia ter chamado a polícia diretamente. Também não fica claro como Tony mandou o capanga atrás de Johnny, o detetive, se ele estava preso por Angelina. Ou quem mandou os capangas ao café. Mastrantonio? Por que, se ele estava atrás de Tony? E por que as mulheres foram assassinadas e qual a relevância delas serem loiras? Afinal, a loirice delas está no título…
    Coesão
    O estilo de escrita ficou bom, mas o deslize do nome custou palavras ao autor3, que já tinha ficado com todas as pontas soltas para amarrar. Acho que isso sacrificou o enredo.
    Impacto
    O bom de um noir é que ele já vem com a ambientação acoplada. O ruim é que ele precisa desenvolver um bom mistério e resolvê-lo. Aqui, faltou mistério e faltou resolução.

  24. Antonio Stegues Batista
    22 de agosto de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto; detetive investiga a morte de duas mulheres loiras e com a ajuda de uma profissional do sexo, acaba desmantelando uma quadrilha que praticava tráfico humano.                                                                                     Um conto Noir no estilo de Raymond Chandler e Dashiell Hammett. Com os elementos característicos, o detetive, o chinês, o mafioso, o cafetão, a prostituta, personagens e ambientação, o restaurante chinês, o café francês, o bordel espanhol, mas me parece que o local onde se passa a história é Espanha, embora os personagens não sejam típicos do lugar. Mastrantónio me parece Italiano, Johnny, americano, Angelina, espanhola.

    Percebi algumas frases clichês, “A tensão entre eles era palpável”. “Alicerçar suas suspeitas” “Fechou-se em copas” etc. Também frases mal construídas “Que me sabes dizer?” No início há uma preocupação em fazer uma escrita rebuscada, mas nem sempre a escolha das palavras é ideal. Acho que o primeiro autor iria ambientar o conto num lugar e o colega mudou para outro. A menção da Andaluzia por Angelina, leva a conclusão de que a ambientação é na Espanha.

    Um pouco antes do fim, a narrativa se torna apressada, os fatos são resumidos talvez por conta do limite de palavras. Não vi a relação, ou a relevância das mulheres mortas, inclusive Angelina, que é chamada de Ângela em certo momento, serem louras, ou loiras. Acho que o primeiro autor tinha, ou teve, uma ideia sobre a cor dos cabelos das mulheres, que os colegas não completaram, nem podiam saber qual era a intenção do colega de escrita, claro. Nem o título foi sugestivo. De qualquer forma, gostei do conto, apesar dos contrates e mistifório.

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Publicado às 1 de julho de 2024 por em Começo, meio e fim e marcado , , .