EntreContos

Detox Literário.

Paz Roubada (Rubem Cabral, Antonio Stegues e Silvio Vinhal)

Rio de Janeiro, 1994.

“A vida é reprise dalgum velho filme francês numa insone sessão da madrugada: roteiro que parece não ir a lugar algum, diálogos que confundem mais que esclarecem, personagens bipolares que se amam e se odeiam… E claro: um final abrupto como uma martelada. Então, as letras sobem céleres, sem música de fundo, sem ter resolvido quase nenhuma das tramas mal esboçadas… Depois, só a estática, e o ruído branco e reconfortante do vazio”.

“E não era mau esse não sentir” – pensou Kynthia Papadopoulos.  “Observar a tela cinza sem piscar e ouvir o acalentar do som baixinho como areia jogada sobre metal”.

Seus olhos, enfim cansados, acabavam por fechar, e o sono sem sonhos chegava como um bem-vindo mergulho na escuridão.

***

Sete e vinte da manhã e Kynthia acordou com o entoar de hinos da Congregação Messiânica Gideões de Sião, que ocupava o imóvel térreo vizinho ao seu prédio, onde no passado fora uma pastelaria que foi vendida e reformada há mais ou menos um ano.

O dízimo não é um pagamento.

 É devolução do muito que Deus nos dá…

 Pobre do irmão que esconde  recebimentos,

 pois certamente o Senhor o castigará…

Queimai, queimai, Senhor.

 Queimai, queimai, Senhor.

 Sem dó, todo ladrão de vossas dádivas.

Queimai, queimai, Senhor.

 Queimai, queimai, Senhor.

 Fazei de suas vidas um amargo vale de lágrimas!

O dia prometia calor e ela resignou-se à cantoria, pois era luta já perdida: já reclamara a tantos órgãos, escrevera tantas cartas e nunca obteve sequer alguma resposta ou satisfação sobre o problema do ruído oriundo do templo, que literalmente tremia com o bater de pés e das quedas de gente a estrebuchar no chão.

Kynthia tomou uma ducha fria, comeu umas bolachas meio amolecidas e bebeu café requentado na única xícara limpa que restava no armário sobre a pia.

Desceu as escadas para ir ao trabalho: era coordenadora dos digitadores num bureau de dados que detinha contrato com a Previdência Social. Passou defronte ao templo – que de alguma forma ainda exalava um odor sutil e rançoso de óleo de fritura – e viu o Pastor Ruy Hernandez, um homem alto e gorducho,  moreno e de feições indígenas, talvez entre 40 e 50 anos, já com enormes manchas molhadas sob os braços. O pastor vestia uma camisa de javanesa brilhante e Kynthia imaginou a roupa pouco absorvente a bambolear e escorregar pelo corpo roliço e lubrificado de suor. A mera ideia a fez se arrepiar.

O homem falava ao púlpito e dali a olhou diretamente nos olhos – certamente devia saber das reclamações. “Pois saibam, irmãos, que há ovelhas desgarradas que desejam ardentemente desviar o povo temente a Deus de seu caminho, que moveriam montanhas, se pudessem, para pôr ao chão a obra do Senhor, mas o fracasso e as chamas eternas são os únicos destinos possíveis para os que desafiam o Criador e o Seu povo abençoado. Sim, é isso! Acabei de ter uma revelação e decidi: hoje à noite faremos uma vigília” – o pastor cerrou os olhos com expressão de desafio. “Quem estará comigo? E oraremos pela conversão de nossos opositores. E quero ver quem, o que, desafiará a vontade do Senhor!”.

Kynthia suspirou e seguiu para o trabalho. O escritório e os problemas que tinha que resolver nunca foram tão atraentes.

***

À noite, como esperado, não conseguiu dormir até quase 3 da manhã, quando finalmente a polícia atendeu aos chamados de outros vizinhos e interrompeu a cantinela desafinada. A cabeça de Kynthia girava e doía e os hinos perversamente grudavam à memória.

Acordou tarde e chegou quase 1 hora atrasada ao trabalho, sendo repreendida pelo gerente do departamento. Algum digitador confundiu-se e lançou valores sem as vírgulas dos centavos, e nova reprimenda por falta de qualidade do trabalho de seus subordinados não tardou. Já perto do fim do expediente chegaram duas dúzias de caixas com fichas diversas do Instituto Félix Pacheco.

Kynthia sentou-se com os digitadores para ajudar a lançar os dados. Depois de uns 20 minutos, esbarrou com uma ficha com foto de alguém que não lhe era estranho.

José Ramirez González Garcia, nascido em Tucumán, Argentina, 14/03/1950. Profissão: açougueiro…

“Mas é o pastor Ruy!”, Kynthia pensou. “E com outro nome?! Estranho!”.

Ela então tirou uma fotocópia da ficha e guardou, antes de lançar os dados. Melhor se aconselhar antes de qualquer atitude impensada…

***

Tocou a campainha da casa da mãe, mas como ninguém atendeu, abriu o portão, passou pelo canteiro cheio de ervas aromáticas, pelo limoeiro carregado de frutos, e usou sua cópia da chave para abrir a porta.

Sentadas no sofá da sala, sua avó, Thalia, fazia tricô enquanto sua mãe, Zoe, desenrolava um carretel de lã.

— Ah, veja só o que o gato nos trouxe hoje! – Exclamou a anciã.

A velha era doce às vezes, mas Kynthia tinha sempre que lembrar que a avó estripou um soldado que tentou violá-la durante a invasão turca em 1922. Ela era do tipo que mostrava a mão espalmada – um mountza – para quem a irritasse, ou até as duas mãos, quando queria amaldiçoar toda uma geração. A pobre estava quase cega pelo glaucoma. A mãe talvez herdaria o mesmo mal nos anos por vir, se não se cuidasse.

— Meu amorzinho! – Disse Zoe, beijando a filha efusivamente. — Que bom que pôde vir. Eu te falei, mamãe, que ela não faltaria!

— Sua mãe está fazendo Avgolemono – disse a avó. — Compramos ovos frescos, galinha caipira, e usamos o limão do jardim. Não ficará tão boa como a que fazíamos na Grécia, mas eu não consigo nem preparar um tzatziki decente hoje em dia.

— Vovó, deixa disso! A senhora foi uma cozinheira de mão cheia. Ainda lembro do seu carneiro com grão de bico; nunca comi nada igual! Ah, sabe uma coisa engraçada que me passou pela cabeça? Quando eu abri a porta e vi vocês duas tecendo juntas?

— Moiras? – Indagou a anciã com um sorriso meio torto.

— Hahaha! Sim, como a senhora adivinhou?

— Eu mesma já havia pensado. Faltava você, uma terceira pra completar o trio, mas só eu que estou quase cega e desdentada. Então não se precisaria compartilhar olho ou dente entre nós. Sabe, eu iria querer ser a que tem a tesoura, hahaha. Você ou sua mãe, que são florzinhas de açúcar, poderiam cuidar de dar vida ou do desenrolar dos destinos. Eu só queria fazer “clip, clip”!

Conversaram um pouco mais e Kynthia ajudou a avó a se levantar e caminhar até a copa. Zoe pôs a sopeira sobre a mesa. Inevitavelmente, durante o almoço, o tema do pastor veio à tona.

— Então o tal pastor Ruy se chama José Ramirez e era açougueiro? – Questionou sua mãe. — Que coisa suspeita! Já pensou em falar com seu primo de Petrópolis? O amigo dele é delegado… Pode ajudar a investigar.

— Bah, “amigo”! Eles moram juntos, tolinha! Há uns 10 anos pelo menos… – Refutou a anciã.

— Pode ser mesmo uma boa ideia falar com o Andreas — respondeu Kynthia.

— No domingo, quando eu for à missa, vou rezar por uma solução pro seu problema. Esse homem tem que entender que está incomodando! – Comentou Zoe.

Thalia parou de comer e fechou a cara, de repente.

— E vai combater o Cristo dos evangélicos com nosso Christós?! Ah, mas essa é muito boa! Você não acha que eu rezei e clamei por Christós na época da guerra? E o que Ele fez? Perdi dois irmãos! Minha casa foi destruída! Tivemos que fugir, passamos fome e frio e por anos erramos sem rumo até chegarmos aqui, a convite de uma tia. Acha que foi Christós que empurrou e girou a minha faca naquele turco? – A velha cuspiu no chão ao falar “turco”.

Kynthia e sua mãe ficaram caladas. Sabiam do trauma e do ódio que ela alimentava desde o ocorrido.

— Eu só tinha 15 anos! Se Christós não era forte o suficiente pra derrotar o Maomé dos invasores, eu conhecia quem não teria medo de sujar as mãos!

— Mamãe, você está agitada! Deixa o passado no passado!

— Eu banhei uma escultura delas com hidromel! Eu sacrifiquei um cordeirinho negro e pedi pelo favor das Benevolentes, das Gentis! Eu cantei hinos para elas, as Eumênides! E a guerra enfim acabou! Quisera ter feito isso anos antes.

— Mãe, não fale bobagens sobre as Fú…

— Não ouse dizer esse nome! – A velha gritou. — Quer atrair a ira delas? Homens inventam expressões assim para nos diminuírem. “Bruxa”, “louca”, “puta”, “fúria” – ela sussurrou a última palavra. — Existe uma hierarquia no mundo. As Senhoras Gentis já existiam antes do primeiro deus, são parte do mecanismo universal! Kyn-kyn, você pode buscar por justiça dos homens. Vá lá falar com o “amigo” do Andreas. Ou eu te dou minha escultura de Alecto, Megera e Tisífone. Devo tê-la, guardada no meu baú. Anoto o hino num papel. Faça hidromel em casa: é fácil! Peça e elas farão o serviço sujo! Para dar cabo de um falso pastor nem pedirão por um cordeirinho…

No intervalo para o almoço, Kynthia foi almoçar no restaurante Rio Minho. Ela estava absorta, colocando sal na salada de tomates, mexeu o arroz com o garfo pensando nas próximas férias e a possibilidade de viajar à Grécia com a mãe e avó, quando percebeu alguém parar na sua frente. Ergueu os olhos e teve a desagradável surpresa de ver que era o pastor Ruy Hernandez.

Ignorando as regras da boa educação, o homem puxou a cadeira e se sentou.

Chateada Kynthia expeliu o ar com força, largando os talheres.  O que fiz de tão horrível para merecer um castigo desses? Além de não poder dormir em paz, agora não posso almoçar sossegada!

Ele falou como se fosse um amigo de longa data.

— Precisamos conversar seriamente.

Ela aprumou-se e respondeu num tom duro, dando a entender que não era uma mulher fraca, que não tinha medo de cara feia.

— Não tenho nada o que falar com o senhor. Farei um abaixo-assinado e nós vamos tratar desse assunto nas barras do tribunal.

Ele sacudiu a cabeça, concordando.

— Vamos sim, ainda mais agora que a senhora colocou fogo na minha igreja.

— O quê? Eu coloquei fogo na sua igreja? O senhor está louco, só pode ser!

O pastor exibiu um sorriso falso.

— Então você não leu as manchetes nos jornais da manhã?

Ele pegou um exemplar do jornal O Dia do bolso do paletó e estendeu sobre a mesa. Na primeira página estava a notícia do incêndio na Igreja da Congregação Messiânica Gideões de Sião. Ilustrava a notícia, uma foto do prédio semidestruído. O fogo iniciou de madrugada e não houve vítimas, dizia a matéria. Após uma perícia, os bombeiros concluíram que o incêndio foi provocado. Possivelmente alguém abriu uma janela do escritório e jogou uma tocha para dentro. A polícia iniciou investigação para descobrir e prender o culpado, ou culpados.

— Capaz que eu iria fazer uma coisa dessas! A essa hora eu estava em casa, dormindo. Durmo cedo para acordar cedo.

Passou por sua cabeça um pensamento rápido como um relâmpago e dele veio o gozo de ter novamente uma noite tranquila, silenciosa, sem o barulho dos louvores noite adentro.

— Todo mundo sabe que a senhora se incomoda com os nossos cultos.

— Senhora não, senhorita O que me incomoda é o barulho que não me deixa dormir sossegada. Agora o senhor pode reconstruir sua igreja longe daqui.

— Ah! Então está admitindo que destruiu minha igreja para me expulsar do bairro?

Kynthia olhou ao redor, o restaurante estava quase lotado, mas notou com alívio que ninguém prestava atenção na conversa deles. Ela gostaria de gritar com aquele pastor fajuto, mas continuou no mesmo tom baixo.

— Não destruí nada. Não distorça minhas palavras. Aliás, o seu nome nem é Ruy Hernandez, mas sim, José Ramirez Gonzáles Garcia, que entrou no Brasil com documentos falsos. O senhor sim, é criminoso.

Ruy não se perturbou.

—  O pessoal do consulado se enganou. José Ramirez era o nome do meu primo, ele morreu de emoção quando entrou no Brasil. Ele se inclinou para beijar a terra, caiu e não se levantou mais. Meu nome verdadeiro é Gaspar Ramirez de Lencastre, com muito orgulho, descendente dos Lencastre, de Toledo, Espanha. Meu avô foi bispo na Catedral de Sevilha. Mas eu não vim falar de minha família.

Ele meteu a mão no bolso do casaco, retirou algo e segurou por uma ponta, exibindo o objeto como um troféu. Kynthia logo reconheceu a pulseira que ela ganhou de Thalia no aniversário de 20 anos. A pulseira que ela pensava estar guardada na gaveta da sua escrivaninha na repartição. Um bracelete de ouro com um pingente em forma de coração e uma miniatura da deusa Circe.

O pastor voltou a guardar a joia e se inclinou para frente, ameaçador.

— Direi à polícia que encontrei no pátio da igreja. Você perdeu quando jogou a tocha pela janela. Tirei uma foto do local que pretendo entregar ao delegado. Eles têm o boletim de ocorrência que você fez, reclamando do barulho. Você tinha motivos para incendiar a igreja e esse bracelete prova que você é a autora do incêndio.

Kynthia sentiu a fome sumir como se fosse uma gota d’água evaporando no solo árido de um deserto escaldante. O apetite foi substituído por um embrulho volumoso e pesado no estomago. Escutou em silêncio. Considerou que o pastor tinha razão, que ela poderia ser presa. Reclamara a tantos órgãos que a polícia teria motivos para desconfiar dela. Precisava contratar um bom advogado. Andreas poderia ajudar. Agora, como o pastor conseguiu pegar o bracelete para acusá-la de um crime que não cometeu?

Ele disse em tom confidencial;

— Eu devolvo a pulseira e esqueço tudo, se você me fizer um favor. Posso dizer que esqueci uma vela acesa no escritório e assim, livrarei você de todas as suspeitas e acusações.

Kynthia imaginou que o homem era um tarado, um pervertido que pediria favores sexuais, mas não, o pedido era outro.

— Thalia, sua avó, possui algo que me pertence. Ela o guarda como um troféu, mas não tem direito a ele.

— O que é?

— Uma taça de jade. Está dentro daquele baú de madeira de carvalho, onde ela guarda aquelas bugigangas do tempo da Perseguição do Santo Ofício.

— Tempo da Inquisição? Isso foi há mais de cem anos, minha vó nem era nascida.

— Ela não, mas a bisavó dela sim, Katina Papadopoulos, foi decapitada em Zagreb, Croácia, acusada de bruxaria. O mesmo aconteceu com a avó, Barbara, que foi condenada à fogueira em Perúgia, na Itália, Senhorita, você descende de uma longa geração de bruxas.

Kynthia sabia disso, mas alguns fatos teriam sido distorcidos com o passar dos anos e pareciam mais lenda do que verdade. A maioria das mulheres condenadas pela Inquisição, eram inocentes. Esqueceu a comida, que a essa altura da conversa, estava fria. Ela queria encerrar aquele assunto, mas ainda havia muitas perguntas a fazer. Lembrou-se de certa vez ter perguntado a avó o que havia de tão precioso no baú que ela mantinha trancado e Thalia, respondeu; O Santo Graal.

Ela estaria caçoando ou dizendo a verdade?

— Como o senhor conhece minha avó? De onde?

— Não importa, pegue a taça sem que a sua avó ou sua mãe veja e me entregue aqui, no restaurante. Logo que pegar o objeto, saia da casa e me telefone. Vou te dar o número do meu telefone.

— Vai ser difícil eu fazer isso porque o baú está sempre trancado com um cadeado. Vou precisar de tempo para achar a chave que deve estar escondida no quarto dela.

— Faça isso o quanto antes.

O pastor deixou um retângulo de papel sobre a mesa com o número do telefone, levantou-se e sem se despedir, foi embora deixando para trás um cheiro estranho, parecido com enxofre. Claro, apenas impressão.

Kynthia pegou o papel, pagou a conta e voltou para o escritório. Não conseguiu trabalhar direito o resto do dia, pensando se deveria revelar para a avó e a mãe, a chantagem do pastor. Estava em dúvida se pegava a taça às escondidas para entregar a ele, ou se enfrentava a acusação de ter causado incêndio na igreja. Assim, com o espírito em conflito, ela chegou na casa da mãe. Thalia ainda tricotava, parecia Penélope tecendo o interminável sudário para Laerte. A avó abriu um largo sorriso ao ver a neta que ela tanto adorava, herdeira do baú de carvalho.

— Vovó, por acaso a senhora conhece, ou conheceu, um tal de Gaspar Ramirez de Lencastre, natural de Toledo, Espanha?

Thalia empalideceu, abriu os olhos de espanto. O sorriso se desfez. As mãos delicadas, salpicadas por manchas senis afrouxaram e o tricô caiu no chão. Zoe saltou da cadeira para acudi-la.

Izmir, 1922

Thalia saiu do transe e se deparou com a tesoura ensanguentada. O líquido, viscoso e quente, ainda escorria por suas mãos e vestes. No chão, o soldado que tentou estuprá-la jazia, semidespido e eviscerado.  Os olhos vidrados e o rosto congelado numa expressão de espanto e dor.

Sua mãe, Bárbara, parecida acostumada às adversidades. Não era a primeira vez que tinha de lidar com o caos do acaso e com a perversidade. Diante da situação, ligou o automático e passou a juntar alguns poucos pertences de valor e a guiar a filha, para tirá-la da inércia e darem sequência à fuga. Era preciso sair dali com urgência.

— Filha, não temos tempo a perder. Troque sua roupa e junte seus pertences e documentos, não poderemos levar muita coisa, e temos que sair já! Logo virão atrás dele.

Saíram com pouca coisa, quase só a roupa do corpo, no entanto, Thalia viu que a mãe não esquecera o baú de carvalho. Procurou disfarçá-lo o máximo que conseguiu, mas estava decidida a levá-lo consigo.  Era sua guardiã e aquela era a tarefa mais importante da sua vida.

— Para onde vamos, mãe?

— Tenho uma tia na região da Úmbria, na Itália. Ela vai nos receber. Desde que começou a invasão ela pediu que fôssemos morar com ela, até que as coisas se acalmassem por aqui. Com o final da Guerra, a Itália estava se reconstituindo. Não estava fácil morar lá, mas ela imaginava que aqui estaria pior.

. . .

Perúgia, 1925

Três anos apenas se passaram desde a fuga de Izmir, e a triste sina que perseguia aquela família, já tinha feito outra vítima. Por perseguição de um certo bispo Lencastre, da Catedral de Sevilha, Bárbara foi cruelmente perseguida, torturada e queimada numa fogueira, numa inquisição continuada e tardia, conduzida por membros de uma ordem secreta intitulada “Excubiae”, que em Latim significa “sentinelas”, do qual o avô de Gaspar fazia parte.

— Thalia, tome muito cuidado, não se revele a ninguém, procure passar despercebida. O navio partirá de Nápole, daqui a três dias. A viagem leva cerca de 40 dias e é exaustiva, seja forte.

— Não tenho outra escolha, tia. O meu receio é conseguir chegar ao Brasil sem que a relíquia seja roubada ou retida na entrada. Se pudesse, queria deixar com a senhora.

— Não, Thalia! Nossas guias indicaram que a relíquia deve seguir para o Brasil. Lá, você encontrará segurança e estará protegida.

Aparentemente, a proteção e segurança haviam acabado. Thalia voltou a si e, ainda apavorada, começou a tomar, novamente, ciência da situação.

— Eles nos encontraram! Precisamos nos fortalecer e nos defender.

— Eles quem, vó?

— Os Excubiae, filha, os Sentinelas… que foram os responsáveis pelas mortes de Bárbara e de Katina, e de quem eu fugi quando vim da Itália para cá.

Kynthia ficou surpresa com a revelação. Sabia parcialmente da história da família, porém, por crescer num ambiente de paz, sem perseguições, aquelas histórias pareciam algo distante, algo como uma lenda, uma história antiga que parecia não a afetar.

— Vó, então, esse pastor ter aparecido na minha vida não foi um mero acaso?

— Não foi, minha querida. Ele está atrás de nós, atrás da relíquia que guardamos.

Zoe veio por trás de Kynthia e colocou as mãos em seus ombros, dizendo:

— Sei que foi você quem incendiou a Igreja. É só o nosso instinto de defesa e sobrevivência falando mais alto. Porém, agora precisamos afastá-lo de vez, e evitar que o pastor consiga incriminá-la. Acho que é hora mesmo de falar com o Andreas.

. . .

— Oi, primo. Há quanto tempo! Tudo bem com você e Mathias?

— Oi, prima! Tempo mesmo… Quando vocês vão dar uma subidinha aqui para a Serra?

— Em verdade, primo, estou precisando de um grande favor e vai envolver o Mathias. Trata-se de uma questão vital para a nossa família. “Aquela” questão sobre as nossas raízes, nossa missão de defender a relíquia.

— Sério? Tem tantos anos que não ouço ninguém tocar nesse assunto, que até havia me esquecido.

— O que é normal, eu também andava bem desligada quanto a isso, até que uma sombra do nosso passado nos alcançou. Essa sombra se transfigurou na forma de um pastor chamado José Ramirez Gonzales Garcia, porém, que em verdade é Gaspar Ramirez de Lencastre, neto do Bispo Lencastre, da Catedral de Sevilha, o qual foi o algoz da minha bisavó, Bárbara.

— Uau! Que história!  Conte comigo. Do que vocês precisam?

— Acho que uma prisão por fraude viria a calhar. Porém, pode ser necessário sumir com uma certa pulseira, que ele está usando para me ameaçar.

. . .

Dias depois, o Jornal O Dia trouxe, estampada na capa, a foto do falso pastor José Ramirez Gonçalves Garcia, preso por falsidade ideológica. Pelo menos por enquanto, a relíquia e a saúde das bruxas estariam preservadas.

— E aí, priminha, ficou satisfeita com o andamento do caso?

— Totalmente, Andreas. Nem foi muito difícil, não é verdade?  E a pulseira?

— Fizemos desaparecer. Digamos que eu e Mathias também temos o nosso lado bruxo.

— Sério? Não sabia que Mathias também era um mago e que podia fazer desaparecer objetos.

— Bem, não importam muito os detalhes. Digamos que não foi um desaparecimento “de verdade”, ele apenas cobrou um favor de outro amigo delegado. Tudo pela “causa”!

— É verdade! Só posso agradecer. Nossa linhagem e o mundo vão poder respirar por não permitirmos que os Excubiae coloquem as mãos nessa relíquia. Era o melhor a fazer, o caminho possível.

— Precisando de algo, é só chamar! Mande um beijo para as tias e diga que logo, logo, apareço aí para degustar um Avgolemono.

As risadas fecharam com leveza os acontecimentos daquela tarde e deixaram tudo com um clima bem melhor do que o dos últimos dias.

. . .

Sete e vinte da manhã e Kynthia acordou com um incrível bom humor. Lá fora, só o ruído de fundo normal de uma grande cidade e, mais perto, apenas o cantar de alguns passarinhos. Reinava a paz.

Sobre Fabio Baptista

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25 comentários em “Paz Roubada (Rubem Cabral, Antonio Stegues e Silvio Vinhal)

  1. Fabio D'Oliveira
    30 de setembro de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Dessa vez farei uma avaliação mais pessoal, apontando o impacto do conto em mim.

    Esse conto é interessante. Bem escrito, tem elementos fantásticos na trama, além de ser estranhamente coeso. É um conto difícil de manter a coesão e tudo fazer sentido, no final. E senti que os autores conseguiram manter o mesmo tom, principalmente por não ter percebido a transição entre os autores, numa primeira leitura descompromissada. Teve coisas que não gostei, como o fato da protagonista ter realmente tocado fogo na Igreja, rs, mas são detalhes que não influenciam tanto no resultado final.

    Gostei, gostei. Achei criativo e toda fantasia é muito bem vinda. Mesmo aquelas mais sóbrias, onde o elemento fantástico é mais uma sugestão do que uma realidade.

  2. Renato Puliafico da Silva
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Renato Puliafico da Silva

    Conto bem escrito e executado pelos três autores. Tem diálogos bem dinâmicos e os autores parecem entender um bocado de cultura grega, trazendo inúmeros termos e referências, seja do catolicismo ortodoxo como da mitologia. Por outro lado, alguns diálogos traziam um excesso de informações (infodump) que mais parecem aquelas aulas do Telecurso 2000 do que uma conversa espontânea.
    Essa eterna luta entre um clã de bruxos contra o de inquisidores foi mal explorado, na minha opinião. Parece que tudo se resumiu a uma chantagem daqui, denúncia de lá, e um falso profeta na cadeia.

  3. Sílvio Vinhal
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Sílvio Vinhal

    O primeiro autor tem um bom domínio da escrita e conseguiu construir um início bastante interessante, com referências à cultura grega e às bruxas. O mote é o incômodo causado à protagonista por um certo pastor evangélico, a redação consegue gerar curiosidade, é instigante, deixa um desejo de quero mais.
    O segundo autor inicia pisando um pouco na bola, quando junta um “intervalo de almoço” sem contextualizar que se trata de outro momento, outro dia. Fica estranho. Passa, então, a criar uma reviravolta na história, inserindo elementos e personagens novos que, do meu ponto de vista, distorceram a intenção original. 
    O terceiro autor tentou amarrar as duas partes, e até conseguiu fazer isso com respeito ao que foi proposto, porém, a trama ganhara inúmeros personagens e pontas que complicaram a finalização. Como resultado, creio que se chegou a uma história relativamente possível, porém, bem distante do que aquele início tão laureado, poderia permitir.
    Parabéns pela participação no desafio. Desejo sorte!

  4. Priscila Pereira
    19 de setembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, autores! Tudo bem com vocês?
    Começo: Apesar de muito bem escrito, revisado, sarcástico e irônico, não gostei do conteúdo. Sou cristã evangélica então já deve imaginar o porquê de não ter gostado, né. Imagino que existam igrejas e pastores como esse do conto, e até muito piores, mas eu nunca vi nos meus quarenta anos de evangelho (morar em uma cidade pequena do interior deve ter a ver com isso também). Então esse começo me deixou triste de verdade… Fui até pesquisar no Google se a música dos dízimos era real (vai que, né) mas só apareceu o conto mesmo, pq nunca li algo mais equivocado, tendencioso e triste … (Eu sei, era pra ser sarcástico e irônico!) 🥺
    Meio: Não sei exatamente onde começou, mas achei legal a parte da ambientação da casa da mãe da Kynthia e da parte das moiras. Aí depois disso começa a deslanchar para muitas outras coisas, colocando elementos atrás de elementos sem dar tempo de aprofundar nada.
    Final: Continuou a pegada do meio só acrescentando mais coisas sem ter tempo e espaço pra concluir de maneira adequada.
    Coesão: O estilo e a narrativa do autor 1 não foi emulado corretamente pelos outros dois, principalmente no conteúdo, mas parecem estar bem coesos entre si.
    Visão geral: Não gostei de nada nesse conto, infelizmente, mas acredito que se todos os autores tivessem seguindo a narrativa mais cotidiana, irônica e sarcástica do começo, sem inventar moda (Santo graal, sério?) e acabar virando uma salada de frutas sem aprofundar nada, só jogando as coisas aleatoriamente, esse conto teria agradado a maioria dos leitores daqui.
    Parabéns aos autores pela participação!
    Boa sorte no desafio! (não é de coração 😅)
    Até mais!

    • Autor 1
      21 de setembro de 2024
      Avatar de Autor 1

      Olá, Piscila.

      Sou o autor da 1a parte do conto. Peço desculpas, antecipadamente, se o conteúdo do conto foi ofensivo para você. Eu quis criar um pastor pilantra feito um Silas Malafaia (vi um vídeo dele tentando convencer desempregados e gente vivendo de seguro-desemprego a pagar dízimo e até mais), mas sei que há gente séria no meio evangélico. Assim como o esteriótipo do padre pedófilo, há o mesmo sobre pastores interesseiros, em especial os dos movimentos neopentecostais e ligados à teologia da prosperidade.
      O “hino”, feito você verificou, foi criado por mim, e pode ser cantado ao ritmo de “Derrama, senhor”. Minha parte terminou no almoço na casa da mãe e avó de Kynthia.
      Novamente, lamento por ter soado ofensivo.

      Abraço!

      • Priscila Pereira
        21 de setembro de 2024
        Avatar de Priscila Pereira

        Olá, autor!

        Não se preocupe com isso, não precisava se desculpar, como disse, não me senti ofendida, pq essa não é a minha realidade, graças a Deus, só fiquei triste mesmo, principalmente por saber que esse tipo existe mesmo, e mancha toda uma comunidade que é exatamente o oposto.

        Fique tranquilo que estamos em paz!

  5. vlaferrari
    19 de setembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Gostei da mistura de credos e da oposição ao “vencer pelo sofrimento”. Apesar de “perder o ponto” e resultar em um bolo de fios a “crochetar”, na minha opinião, pareceu coeso, ainda que desgastado pela troca de mãos narrativas. Talvez seja uma daquelas primeiras partes que mereça retornar às mãos do autor/autora, para uma versão completa.Sugiro que a protagonista siga o conselho, fabrique o hidromel e embeba a tal estátua, condenando a alma do pastorzinho de merda. E então, um slasher bem sangrento para finalizar, cheio de “acasos” como os do filme “A Profecia”, de 1976, na sequência em que a cabeça do fotógrafo é decepada pela lâmina de vidro.Perdão pela divagação. Talvez seja a proximidade do aniversário do Mestre King, no sábado, 21/09.

  6. Victor Viegas
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Frankensteiners!

    ✨ Destaque: “Meu nome verdadeiro é Gaspar Ramirez de Lencastre, com muito orgulho, descendente dos Lencastre, de Toledo, Espanha. Meu avô foi bispo na Catedral de Sevilha. Mas eu não vim falar de minha família.”

    📚 Resumo: Kynthia, uma coordenadora de digitadores em um bureau de dados, tem sua paz roubada pelo fuzuê da igreja perto de seu apartamento, barulho esse que parece ser mais alto que baile funk em Heliópolis às 3h da madrugada de uma sexta-feira, mas são apenas cantorias e corpos caindo ao chão. Mais tarde, descobre que o padre tem uma identidade falsa, ouve as histórias da avó na guerra da Grécia e é confrontada pelo padre xexelento e mau caráter por um suposto incêndio. Na conversa, o não enviado de Deus pede um artefato guardado pela avó de Kynthia e a convence a pegá-lo. Na volta para casa, ela fala sobre o padre e a avó lembra do nome como sendo um dos torturadores de guerra. A família arma uma forma prender o padre e a paz volta para Kynthia, mas eu não vim resumir o conto.

    🗣️ Comentário: O começo ficou muito interessante. Realmente gostei da escrita, a forma como estava sendo conduzida e a instalação do conflito inicial. Na passagem de bastão que a estória passa a desandar, e, devo dizer, foi ladeira abaixo. Eu, geralmente, não sou muito a favor de coincidências narrativas, uma descoberta sem explicação lógica, e eu senti que minha inteligência foi muito testada neste conto. Vamos aos detalhes: Um padre argentino indígena, neto do bispo de Lencastre da Espanha, coincidentemente tem uma igreja ao lado da Kynthia, neta de Thalia que presenciou a guerra na Grécia. Gaspar, que por algum motivo tem o documento falso, sabe exatamente que é Kynthia sem nunca ter conversado mais profundamente com ela e ainda sabe de toda a descendência, onde estava guardada a pulseira e onde está o artefato que queria pegar, guardado na casa de Thalia, sem nunca ter pisado lá. E FALA EM DETALHES!!! Como assim? Faça isso ter sentido, por favor? Pior ainda que não foi preciso o padre falar muito para convencer Kynthia. Desculpa, mas depois de tanta furada eu sinto que estou saindo com um QI negativo, não é possível.

    💬Considerações finais: Esse conto é literalmente o pupilo das novelas Globo: uma premissa boa, com reações previsíveis e comportamentos impossíveis. Parabéns pelo Frankenstein! Boa sorte!

  7. Thales Soares
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O conto começa em 1994, no Rio de Janeiro, mostrando uma mulher com nome esquisito que lida com uma sensação de estagnação na sua vida. Ela até compara sua existência a um filme frances melancólico, sem rumo. Ela vive em um apartamento vizinho a um templo muito doido, onde tem aquelas gritarias exageradas, e com isso ela tem dificuldade de dormir.
    Esse início do conto, apesar de ser mundano, é bastante inusitado, e me chamou a atenção. Fiquei imaginando para onde a história iria, e isso me deu boas expectativas.
    Então, dando continuidade, vemos a mulher no trabalho dela. É aí que ela descobre, olhando umas fichas do trampo dela, que o pastor da igreja que ela odeia, o Ruy alguma coisa, é um açougueiro argentino chamado Ramirez. Ela pensa que há algum podre nisso, mas eu não entendi exatamente o porquê… acho que por ele ter feito algum tipo de falsidade ideológica.
    Então a mulher vai visitar sua mãe e sua vó. A avó revela histórias do passado da família, e aqui vemos um paralelo com a mitologia grega, mencionando as Moiras (aquelas bruxinhas do Hércules). Gostei bastante dessas referências, e gostaria que o conto tivesse seguido mais por essa vertente. No entanto… não é o que acontece.
    Durante o almoço, no outro dia, a mulher encontra por acaso o pastor, que revela para ela que sua igreja foi queimada! Ele começa a ameaçar ela com isso, mostrando um bracelete que ela havia ganhado de sua avó, e dizendo que encontrou no local do incêndio. Após essa chantagem, o pastor pede para a mulher roubar da avó (engraçado o quanto as avó estão ganhando destaque neste desafio) uma taça de jade, que está no baú secreto dela.
    Então a mulher volta pra cara da avó, e ela descobre que o pastor é um tal de Gaspar, descendente de uma família espanhola, ligada à Inquisição, responsável pela perseguição das bruxas… e seus antepassados estão conectados à bruxas. Tá… mas… bruxas?! Cadê as Moiras? Aqui o conto parece se perder, pois antes o foco era mitologia grega, e agora estamos na inquisição. Não entendi o porquê essa mudança ocorreu.
    Então surgem uns flashbacks que, para mim, foram bem deslocados… e quando voltamos para o presente, o narrador nem sequer nos avisa que estamos novamente em 1994, o que me causou certa confusão em minha primeira leitura.
    Mas é aqui que entra a parte mais fraca de todo o conto… que é quando mulher entra em contato com seu primo ex machina, que, com um estalar de dedos, consegue resolver todos os problemas desenvolvidos pelos autores anteriores. Um final bastante anticlimático, sem nenhum climax, jogando um balde de água fria em leitores como eu, que ficaram empolgados no início. Aí o conto termina com a mulher acordando em paz.
    Um dos pontos fortes deste conto é que os três autores se mesclam muito bem em questão de estilo narrativo, e eu não consegui definir exatamente onde ocorre a passagem de um para o outro.
    Este é um conto razoável, mas que, pelo início, eu tinha expectativas altas. O final deixou a desejar, mas não destruiu a obra por completo.
    Boa sorte aos autores.

  8. claudiaangst
    17 de setembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Meus cumprimentos e vamos ao que interessa.

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ FEITO ◊ para avaliação de cada conto.

    ◊ Título = PAZ ROUBADA – Passa a ideia de que alguém vai ter a sua paz roubada.

    ◊ Amálgama = Percebi a mudança de autoria da primeira parte para a segunda. Cada autor(a) deixou a sua marca.

    ◊ Fim = Os fins justificam os meios? Talvez… E a ordem dos fatores altera o produto? Permita-me começar pelo fim, observando o impacto causado na leitura.

    O desfecho apresenta a súbita construção de uma solução para todos os problemas de Kynthia. Venceu a mocinha, que teve sua paz resgatada. Achei um pouco apressado, mas é sempre bom contar com um final feliz.  

    ◊ Entremeio = O deslocamento repentino de Kynthia para o restaurante parece determinar o começo da segunda parte do conto. Há a inserção de um objeto mágico, sagrado como uma nova informação a ser desenvolvida como conflito.

    ◊ Início = Introdução de um conflito cotidiano, com personagens sendo apresentados dentro de uma boa ambientação. Considero a melhor parte do conto, abrindo boas possibilidades de continuidade para os(as) demais autores(as).

    ◊ Técnica e revisão = Narrativa na terceira pessoa, linguagem simples, melhor trabalhada na primeira parte.

    Pequenas falhas no quesito revisão:

    Sons repetidos muito próximos – Diretamente/certamente/ardentemente

    Som repetido muito próximo = Finalmente/perversamente

    Chateada Kynthia expeliu o ar com força > Chateada, Kynthia expeliu o ar com força

    Senhora não, senhorita O que me[…] > Senhora não, senhorita. O que me[…]

    Thalia, sua avó, possui algo que me pertence. > Thalia, sua avó possui algo que me pertence.

    […] pesado no estomago > […] pesado no estômago

    […] respondeu; O Santo Graal. > […] respondeu: O Santo Graal.

    – Repetição do mesmo verbo muito próximo – deixou/deixando

    ◊ O que ficou = A impressão de que o(a) primeiro(a) autor(a) não teve sua expectativa atendida. Algo me diz que extrapolaram no quesito criatividade desgovernada.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  9. Luis Guilherme Banzi Florido
    17 de setembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, autores! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pela participação num desafio tão dificil e maluco quanto esse!

    Início: esse começo me deu arrepios, é o verdadeiro horror urbano ahuahuahua. Quem tem medo de fantasmas e zumbies, que não existem, quando tem um templo torando o som do outro lado do muro? Começo interessante, estabelece bem o enredo, a personagem, o conflito, o antagonista. Brincadeiras à parte, a mulher acuada diante da ameaça do pastor realmente cria essa expectativa sobre a continuidade.

    Meio: gostei da guinada na história. O autor 2 aproveitou a deixa do nome da protagonista e família, fez bastante pesquisa, e mergulhou num rumo bastante inesperado de árvore genealógica, bruxas, inquisição tardia, santo Graal, etc. Pra mim, soou bem e foi um caminho bastante interessante, que ganhou minha atenção. Em algum lugar entre a parte 2 e 3, no entanto, algumas coisas ficaram estranhas, especialmente quando é revelado que a menina realmente colocou fogo na igreja. Se eu tivesse que chutar, eu diria que foi na parte 3, então vou seguir adiante (aliás, o fato de eu não saber onde se dãr as transições testemunha a favor da coesão do texto: a escrita é muito parecida e os autores emular bem o estilo, apesar das guinadas que entregam a mudança de autor, o que não é ruim, óbvio).

    Fim: como eu estava dizendo, do meio pro fim as coisas se complicam um pouco. Achei bastante estranho que a mça tenha de fato queimado a igreja, pois faria muito mais sentido que o pastor tivesse feito isso como uma forma de incrimina-la e poder usar isso para chantagea-la. Parece que ele, como parte daquele culto bizarro, vive com o objetivo principal de encontrar o Santo Graal. Assim, não seria surpresa ele queimar a propria igreja (que certamente tem seguro, dado a tranquilidade dele com o incencio), para conseguir seu intento. Além disso, se ele sabe onde a família está, a ponto de se mudar para o lado da casa da moça com a igreja, e se eles são um clanzinho secreto da maldade que parecer ter algum tipo de influência nas sombras, por que eles simplesmente não invadiram a casa da mulher e roubaram a caixa, matando as duas? Sei lá, parece ter muitas pontas soltas. Vale ressaltar que o autor 3 não tem responsabilidade sozinho pelas pontas soltas ,uma vez que ele ficou com uma história enorme pra concluir em pouco espaço. Acredito que essa história funcionaria melhor com mais espaço, não sei. De todo modo, mesmo com os problemas mencionados, é uma história curiosa e divertida de ler. Ah, ia esquecendo: o final, com o primo policial resolvendo tudo muito facilmente, foi anticlimático, mas acredito que também seja resultado do limite de palavras.

    Coesão entre os autores: o autor 1 escalou a lateral da igreja e ajudou os outros dois a subirem, o autor 2 fez pézinho pro autor três escalar e tacar o coquetel molotov lá dentro, mas a altura não estava boa e o autor 3 ficou todo desequilibrado. O terceiro autor, então, teve que arremessar o coquetel meio torto, e acabou queimando um pouco as próprias calças. Em outras palavras: por mais que o autor 1 tenha tido uma boa ideia, e o autor 2 tenha levado a história por um rumo interessante e inesperado, parece que ficou muita coisa pro autor 3 resolver em pouco espaço. O resultado foi bastante esburacado, mas ainda assim uma leitura gostosa. Na escrita e técnica, a coesão funcionou muito bem.

    Nota final: bom

  10. Gustavo Araujo
    15 de setembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Gostei muito do primeiro ato deste conto. A história de Kynthia é a história de muita gente que vive em cidade grande, acossada por vizinhos sem noção — igrejas, casas de shows (há quem considere essas expressões sinônimas), enfim, algum local cujos frequentadores não têm noção de convivência. Qualquer um pode se identificar com a pobre garota, não só pelos problemas com os vizinhos, mas também pelas agruras no trabalho. Kynthia é uma de nós. A isso some-se o excelente jogo de palavras, a ótima ambientação e o mergulho cultural proporcionado a cada parágrafo. Sem dúvidas, um dos melhores inícios dentre os contos do desafio.

    O caldo começa a desandar com o segundo ato. O drama urbano delineado pelo primeiro autor é colocado de lado, dando lugar a uma história “fantástica”, repleta de bruxas e tesouros. Toda a questão mundana entre o pastor-imigrante-ilegal se perde e mergulhamos num caso de perseguição que remonta a séculos. Tudo bem, é uma opção válida, mas devo admitir que fiquei muito frustrado, pois queria ver algo mais próximo de Nelson Rodrigues, algo como a vida de verdade, e não um escapismo fácil. Mas, paciência, segue a leitura.

    O terceiro ato foi o menos inspirado. As questões levantadas na segunda parte resolvem-se em poucos diálogos, com um primo policial que não vê problemas em passar por cima de qualquer código de ética e que consegue, facilmente, incriminar o tal pastor cuja família vinha de Toledo mas que depois veio de Sevilha.

    Talvez tenham sido muitas pontas soltas deixadas pelos dois primeiros autores, o que justificaria um final corrido, mas a maneira como o conto se fechou, de todo modo, deixou bastante a desejar. Mas, de repente, é só o meu “eu-egoísta” falando, frustrado por ter visto um drama adulto — desses que tinha tudo para provocar uma boa reflexão — transmutado em história vazia para adolescente.

    De qualquer forma, parabenizo os três autores e desejo boa sorte no desafio.

  11. Jorge Santos
    15 de setembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, trio.

    Acabei de ler o vosso trabalho e tenho alguma dificuldade em comentar. Gostei da primeira parte. A premissa é interessante e atual: mulher que se sente incomodada com o culto que tem lugar no prédio vizinho resolve ir à luta. Ideia simples e concreta, que tinha o potencial para ser um bom conto. As continuações mudaram completamente a história, com linhas narrativas irrelevantes com referências internacionais confusas e incoerentes, e onde as personagens surgem do nada ou perdem qualquer tipo de profundidade. Poderiam ter continuado a simplicidade da ideia inicial, e não me teriam “roubado a paz de espírito”, passe a expressão. Senti-me o pobre homem que fecha os ouvidos na imagem que ilustra o conto.

  12. André Lima
    12 de setembro de 2024
    Avatar de André Lima

    Certamente era história para mais palavras. Acho que a premissa foi grandiosa demais e os demais autores não tiveram muita margem para trabalhar em tão pouco espaço.

    É uma pena que o conto tenha que ter sido encerrado de modo apressado, utilizando um Deus Ex Machina para dar fim a todos os problemas levantados na história.

    O fluxo narrativo é bom, a escrita é envolvente. Me vi extremamente imerso e, de repente, o conto acabou…

    Há um erro, ao meu ver, estratégico.

    Por fim, fica uma sensação de história resumida.

    Para mim, os 3 autores acabaram por fazer um conto “ok”, com boa técnica, mas estrategicamente ruim.

  13. JP Felix da Costa
    10 de setembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    O começo da historia é muito bom. Temos uma realidade brasileira misturada com a Europa antiga. Todo o descrever dos personagens e do conflito está no ponto. Depois entra a parte dois e a história faz 90 graus. O confronto no restaurante é bom, mas depois entra a inquisição ao barulho. O autor executa sumariamente pontas deixadas pelo 1 para levar a história para o caminho que quer. Não é que o caminho não seja válido, que é, e a história mantém um bom ritmo. Não gostei da mistura de conceitos. Quem defende a mitologia grega nunca se assumiria como bruxa. Podia ser chamada de, mas não se reconhece como. Depois entra o Graal como uma grande joia e lembrei-me logo do Indiana Jones. Mesmo assim, até aqui tudo bem, a historia tem todos os elementos para ser interessante. Tem mistério, tem confronto, e tem pernas para andar.

    O terceiro autor parece-me querer fazer mais do que lhe é pedido, e do que pode, pelo numero de palavras que lhe é disponibilizado, e insere uns flashbacks que seriam interessantes, mas noutro contexto de escrita (nomeadamente a dimensão do conto). Depois chega ao fim e “vitória, vitória, acabou-se a história”. Se ao menos o fim ficasse em aberto com a ameaça dos Excubiae a pairar, talvez se safasse, a meu ver. Não achei que o conto merecesse este final que dá aquela sensação de “olha, já acabou”.

    Primeira parte muito bom, com boas ideias e várias continuações possíveis.

    Segunda parte não tão boa, mas mantém a história viva.

    Terceira parte começa bem mas depois martela um fim não digno de tudo o que fora escrito antes.

  14. Fernando Cyrino
    10 de setembro de 2024
    Avatar de Fernando Cyrino

    Olá, amigas/amigos do desafio. Pois é. Cá estou eu diante do conto de vocês. A paz que vem roubada desde os tempos da inquisição… passando pelas terras gregas, italianas e chegando enfim ao Brasil. A história começa de uma forma muito legal, dinâmica e bem intensa. A segunda parte eu senti que houve uma quebra e o conto começou a perder verossimilhança. Na terceira parte, o ritmo frenético da primeira parte retomou, mas a história infelizmente, ao meu modo de ver, perdeu ainda mais sustentação. Ficou um tanto frouxa, bamba. O final achei que não funcionou tão bem quanto o terceiro autor terá imaginado. Gostei da história, sabem, mas acho que ela poderia ter entregado mais. O seu início prometia muito… Fiquem com o meu abraço e tenham bastante sucesso no desafio.

  15. Fabio Baptista
    7 de setembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    X Sensação após a leitura: provavelmente o primeiro autor teve a paz roubada ao ver os rumos que a história tomou.

    X Alguns pontos para uma revisão mais atenta:

    x Chateada Kynthia expeliu o ar com força
    Chateada, Kynthia expeliu o ar com força

    x Senhora não, senhorita O que me
    faltou ponto

    x sua avó, possui algo que me pertence
    sobrou vírgula

    x estomago
    faltou ^

    xTempo da Inquisição? Isso foi há mais de cem anos, minha vó nem era nascida.
    xEla não, mas a bisavó dela sim
    A bisavó da vó??? Seria “sua bisavó, sim”, certo? Bisavó da Kynthia.

    x O mesmo aconteceu com a avó, Barbara
    Putz, era bisavó da vó mesmo…

    x Tem tantos anos que não ouço ninguém tocar nesse assunto, que até havia me esquecido.
    Quem não se esqueceria que a tia guarda o Santo Graal numa caixa, não é mesmo?!

    x Uau! Que história!
    Pois é, primo… pois é…

    x Dias depois (…) preso por falsidade ideológica
    Curiosa e infelizmente essa é a parte mais inverossímil do conto. A justiça brasileira atuando com rapidez contra um fdp de verdade em benefício de uma cidadã comum? Mesmo com o primo delegado ajudando, haja suspensão de descrença!

    X Conclusões:
    Comentei no grupo do whatsapp que se eu tivesse pegado esse conto para continuar, provavelmente teria seguido uma linha tipo “Deuses Americanos”, com as bondosas chegando ao Rio de Janeiro, convocadas pelo ritual da Kynthia. O conto não deixa de seguir uma linha Neil Gaiman, mas da parte ruim (eu pelo menos assim considero) da literatura dele: é tanta criatividade, são tantos elementos interconectados e tantas soluções fáceis sendo tiradas do nada que perde-se qualquer senso de “perigo” na história.

    O começo é excelente. Drama cotidiano, bons personagens, cenários. Uma insinuação de que os rumos poderiam ir para o lado da fantasia…

    Já na transição a coisa começa a desandar. Do sofá da avó, Kynthia já aparece no restaurante, tendo passado algum tempo porque houve um incêndio na igreja em frente à casa dela que misteriosamente ela não percebeu. O diálogo do restaurante é totalmente teatral, as coisas vão se aparecendo do nada e quando vemos a história está cheia de novos elementos e toda a ótima atmosfera do começo foi deixada de lado.

    O desfecho segue na linha da segunda parte, trazendo um flashback desinteressante, diálogos teatrais e soluções simples para os problemas.

    MÉDIO

  16. Leo Jardim
    2 de setembro de 2024
    Avatar de Leo Jardim

    🗒 Resumo: Kynthia Papadopoulos (adorei o nome!) sofre com um pastor inconveniente como vizinho. Ela descende de uma casta de bruxas gregas e o pastor ameaça prendê-la em troca do cálice sagrado que a família guarda à gerações. No fim, o primo e o namorado ajudam a resolver a questão.
    📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫): confesso que o conto me agarrou de uma forma espetacular no início. A rotina de uma vida em 1992 (datilografia, Instituto Félix Pacheco…) deixando a trama muito gostosa de ler, ainda mais com a introdução da mãe e avó e da menção às Moiras. O incêndio e a ameaça do pastor colocou fogo na narrativa, com perdão do trocadilho. A evolução, com detalhes do passado, apesar de não acrescentar tanto à trama, foi legal de ler. A resolução, porém, foi “fora da tela”. Um telefonema, um diálogo expositivo e todo terminou bem. Não curti o desfecho.
    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): a forma como o conto se desenvolve no início foi de uma maestria que pareceu que me pegou no colo e me levou para passear, fazendo carinho e massagem 😁. O embate entre o pastor e a protagonista foi de uma tensão muito interessante, assim como a revelação de que elas são bruxas. As cenas no passado acrescentaram pouco e pareceram um pouco de gordura no conto, apesar de bem escritas. Já falei que o diálogo no fim, com o primo, acabou muito expositivo, com infodump e também pouco natural.
    ▪ Sentadas no sofá da sala, sua avó, Thalia, fazia tricô enquanto sua mãe, Zoe, desenrolava um carretel de lã (o excesso de nomes novos num espaço curto me deu uma certa confusão, principalmente lá na frente quando era citado os nome sem referência, eu meio que tinha que voltar pra lembrar qual era qual)
    ▪ A velha era doce às vezes, mas Kynthia tinha sempre que lembrar que a avó estripou um soldado que tentou violá-la durante a invasão turca em 1922 (gosto desse tipo de frase que apresenta a personagem de forma marcante em poucas palavras)
    ▪ Chateada *vírgula* Kynthia expeliu o ar com força
    ▪ — Senhora não, senhorita *ponto* O que me incomoda é o barulho
    ▪ Sua mãe, Bárbara, *parecida* (parecia) acostumada às adversidades.
    🧵 Coesão (⭐▫): só li a versão final do conto, com as três partes. Não sei bem onde foi o corte entre a primeira e segunda parte, mas acredito que a cena do restaurante foi nela. Já o fim ficou preguiçoso e bem abaixo, infelizmente.
    💡 Criatividade (⭐⭐▫): achei uma premissa criativa, apesar de usar elementos comuns (como o pastor pilantra e a cultura grega). Foi tudo feito de forma fora do usual.
    🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): ganha pontos pelo ótimo início, mas é no fim que mora o impacto. Peço desculpas ao último autor, mas realmente não curti como o conto se encerrou.

  17. Pedro Paulo
    1 de setembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Cogitei se seria o meu primeiro 10, pergunta ainda mais intrigante quando até então não dei nenhuma nota preliminar acima de 7,5. Entretanto, o desfecho, inevitavelmente a se atribuir a uma terceira autoria, é o trecho no qual vi o conto se desencaminhar em mais de um aspecto. Antes dessa crítica negativa, entretanto, acho melhor comentar o que vi de tão brilhante nas duas primeiras autorias, um do aspecto já sendo esse: tragado pela leitura, esqueci do contexto do certame e que havia mais de uma pessoa envolvida.

    Os personagens apresentados logo traçam um intricado mapa multicultural de imigrantes que se encontram no Brasil e se enfrentam em batalhas multigeracionais. O plano de fundo mítico estrangeiro colore essa tela improvável e faz o conto inédito… até a busca pelo Graal, que é quando comecei a ver o texto titubear, eu ainda estava acompanhando e acredito que o auge tenha sido mesmo o encontro entre antagonista e protagonista, quando a ameaça é feita. Até aí, todo o contexto havia sido transmitido a criar um grau de verossimilhança e caracterização das personagens, com um conflito que elevava o enredo à sua máxima temperatura… para, no fim, a resolução insípida, comunicada a quem lê por uma ligação telefônica em que é travado um diálogo tão casual que me pareceu criação de uma inteligência artificial… foi um balde de água fria na panela de caldo quente. Resultado morno e sem sabor.

  18. bdomanoski
    1 de setembro de 2024
    Avatar de bdomanoski

    Quesitos avaliados: Entretenimento, Originalidade, Pontos Fracos

    Entretenimento “que literalmente tremia com o bater de pés e das quedas de gente a estrebuchar no chão.” Urro. Como gnóstica (e ex-evangélica) rolei de rir com essa parte. Logo pensei: parece que achei o melhor conto do certame. “defronte ao templo – que de alguma forma ainda exalava um odor sutil e rançoso de óleo de fritura”, as pérolas estavam imparáveis. Ao autor(a), se um dia escrever um livro com essa temática, me informe por favor, irei adquirir.

    Originalidade Haja coragem pra postar um conto assim, com um personagem crente que usa o Deus dele como jangunço para atacar seus desamores, sempre torcendo pra eles se darem mal e os ameaçando com seu Deus de bolso, que é o que geralmente se vê por aí. Aprovadíssimo. Interessante, não conhecia essas Moiras. Elas me lembram a Hécate, mas pelo que pesquisei, não são a mesma entidade. O Santo Graal acaba sempre se saindo bem nas histórias, embora eu não consigo deixar de associar o objeto com a história de Dan Brown, começou sendo bem utilizado aqui também, mas depois ele meio que perdeu o significado no conto no final, sendo reduzido a passar a eternidade dentro de um báu.

    Pontos Fracos O fim foi um pouco abrupto, provavelmente pela limitação de palavras, mas não podemos nem despontuar muito o conto exatamente por causa disso, pois pelo menos conseguiu terminar, embora tenha soado super apressado . Achei apenas que houve uma incoerência pois na cena do restaurante deu a entender que o pastor havia armado pra Kinthia, e que ela seria inocente. Depois ela virou culpada mesmo. E sobre ele ser primeiro argentino e ela o ter reconhecido na foto, e depois ter mudado a nacionalidade para espanhol. Diria que foram as partes incoerentes do conto. Autores emularam bem a escrita. Ficou Bom.

  19. Antonio Stegues Batista
    31 de agosto de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto tem enredo para uma história mais longa, com maiores detalhes do passado das mulheres consideradas bruxas, guardiães de uma relíquia sagrada, embora meio que tenha saído da ideia principal, do universo mitológico grego. O embate entre cultura e crença, forças ocultas assunto não aprofundado. Algumas reviravoltas inesperadas, mas no total, achei um bom trabalho. O terceiro autor reuniu todos os elementos e fechou a história com sucesso

  20. rubem cabral
    29 de agosto de 2024
    Avatar de rubem cabral
    • Enredo: terei que dividir em 3 partes. O 1o autor introduziu o conflito: Kynthia sofre com o barulho do templo vizinho, onde o pastor Ruy não se assusta com cara feia e faz até vigílias. Kynthia visita a mãe e a avó e descobrimos que a avó fez um sacrifício às Fúrias para terminar a guerra e sugere fazer o mesmo para resolver o problema do pastor. O 2o autor trouxe outros elementos que eu achei estranhos: inquisição espanhola, bruxaria e o Santo Graal, fora um incêndio criminoso do templo (não notado por Kynthia, vizinha do templo?). O 3o autor começou bem com alguns flashbacks, mas acabou por resolver o conflito de uma forma estranha: prendem o pastor por falsidade ideológica e a conspiração pelo Graal acaba por isso mesmo.
    • Escrita: os 3 autores escrevem bem. O 2o teve algumas falhas de pontuação (“Chateada Kynthia expeliu o ar com força” – Kynthia tem o prenome “Chateada”?!).
    • Personagens: gostei de Kynthia e de Thalia, achei-as bem desenvolvidas. Ruy ficou meio canastrão e os outros personagens foram bem terciários.
    • Coesão: Boa. Há um pouco de quebra entre o 1o e o 2o, pois o 2o autor pareceu mais informal e engraçado que o primeiro. O 3o autor conseguiu emular bem os estilos dos 2 primeiros.

    Obs.: O restaurante Rio Minho é um restaurante relativamente caro. Kynthia era coordenadora de digitadores, não deveria ter poder aquisitivo para viagens à Grécia ou de ser habitué de um restaurante frequentado pelos figurões da Bolsa de Valores. A questão do incêndio do templo ficou mal resolvida: afinal, Kynthia queimou ou não o templo?

  21. Leandro B.
    28 de agosto de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    *Todo e qualquer crítica refletem mais um ponto subjetivo meu do que qualquer outra coisa. Outro leitor pode achar o oposto.

    Nos últimos anos tenho ficado cada vez mais interessado em histórias que conseguem gerar envolvimento a partir de conflitos extremamente mundanos.

    Fiquei bem empolgado com o início da história. Um conto sobre uma pessoa tentando alcançar a paz e sossego roubados de maneira tão injusta, mas que se via presa nas normas burocráticas do cotidiano. E logo em seguida vieram deuses, linhagens históricas, bruxaria e artefatos mágicos.

    Não é obviamente uma crítica negativa, só uma observação da minha expectativa no início da história.

    De todo modo, a primeira parte, que, suspeito, foi até o encontro entre Kynthia e a família está bem escrita e produz um conflito muito bem escrito, pertinente e, acima de tudo, relacionável. O autor tirou seu tempo para desenvolver seus personagens e sugerir quem poderia participar da trama para ajudar a concluir a história, como o primo Andreas.

    O segundo autor focou em andar com o enredo, o que é uma decisão bem justa. Contudo, não gostei da decisão de encerrar o primeiro conflito de forma tão abrupta. O medo de ter que encarar a justiça por conta de um bracelete também me pareceu muito repentino. Eu acho que, talvez, isso funcionasse para um roteiro, mas para um conto fica apressado demais.

    E de repente temos a inserção de um novo conflito, um artefato misterioso e uma sugestão de história de roubo e Kynthia parece tão… ok com tudo. Me pareceu rápido demais e corrido demais. Uma mudança muito repentina no plot.

    Achei também a diferença de estilos perceptível, mas, sinceramente, não foi tão diferente a ponto de causar incomodo.

    A terceira parte estava indo bem para organizar o material dado, mas, de repente, novamente o conflito foi resolvido abruptamente, sem cenas mostrando o desenrolar da coisa.

    Admito que existe uma certa ironia e graça em ambos os conflitos terem sido resolvidos e apresentados pelo jornal. Ainda mais engraçado que seja especificamente o jornal O dia, por algum motivo.

    Mesmo assim a impressão geral que fiquei foi que os autores que continuaram, em algum momento disseram “naa, esquece isso. Vai ser mais interessante se eu fizer isso aqui”.

    No que diz respeito a técnica e construção de cena, acho que todos foram muito competentes, especialmente o primeiro autor.

    No mais, são só minhas impressões.

    Boa sorte no desafio!

  22. Kelly Hatanaka
    27 de agosto de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá, caro colega entrecontista!

    Primeiramente, parabéns pela participação corajosa e desapegada.

    Vou avaliar e comentar de acordo com meu gosto, não tem muito jeito, afinal não tenho conhecimento nem competência para avaliar de forma mais “técnica”. Ou seja, vou avaliar como leitora mesmo. Primeiro, cada parte separadamente, valendo 1 ponto cada. Depois, a integridade do resultado, valendo 3 e, por último, o impacto da leitura, valendo 4.

    Começo

    Um começo lindo. Lembro de ter lido e pensado “taí um conto que eu gostaria de continuar”. Interessante, bem escrito, os personagens brilharam. Facil, fácil gostar da Thalia. As referências gregas sugerem uma boa pesquisa. E a gente já torce pra ter um vislumbre das Eumênides, pra vê-las botando o pastor Ruy pra correr.

    Meio

    O autor 2 deu um bom prosseguimento á trama. Enunciou o que foi sugerido na parte um, que Thalia era uma bruxa, aumentou a tensão e desenhou mais claramente o antagonista, dando a ele um objetivo oculto, relacionado ao passado de Thalia. Muito bom!

    Fim

    Aí a coisa desandou. A parte 3 começou bem, com as cenas de Izmir e Perúgia. Depois disso, foi ladeira abaixo. Uma sucessão de explicações corridas. Só faltou alguém sacar um infodump. E explicar, final de contas quem são os Excubiae e o que eles queriam com a relíquia. Zoe diz que foi Kynthia que colocou fogo na igreja. Foi? É? Não pareceu, ela ficou surpresa no restaurante… Bem estranho, isso aí. Daí Andreas entra na história para resolver o problema, dar todas as explicações tin-tin por tin-tin… e fim. Os Excubiae não deviam ser lá grande coisa no fim das contas, se foi tão fácil se livrar deles, não é?

    Mas, e as Fúrias? E a bruxaria? Tinha tanta coisa ótima prometida na parte um e dois e aqui foi tudo resolvido da forma mais corrida e chata possível. O pior é que tinha espaço (palavras) para desenvolver melhor.

    Coesão

    Boa coesão entre a parte 1 e a parte 2. A parte 3 ficou bem perdida.

    Impacto

    Ai, que pena. Gostei tanto da premissa desta história, ela prometia tanto. Mas o final estragou tudo. Vontade de tacar o baú na cabeça do Andreas.

  23. Fabiano Dexter
    26 de agosto de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Que conto gostoso de ler! Mais um dos que não parecem ter sido escritos por mais de um autor.

    A história é fluida e rica em detalhes, com personagens cativantes e que conseguimos imaginar sem grandes dificuldades, como a vovó Thalia, que quase conseguimos ouvir quando defende as Fúrias.

    A história tem reviravoltas excelentes e que realmente nos pegam, principalmente no cuidados dos detalhes, que vai de um autor para o outro sem que notemos. A cultura grega, bruxaria… Foi gasto algum tempo em pesquisas aqui (ou se trata de um tema que é do conhecimento da autora, sim, eu chutaria que é uma mulher. Pelo menos na segunda parte.)

    O ponto negativo, para mim, ficou na conclusão da história. Embora tenha sido feito um arremate, ficou bem abaixo do que eu esperava pelo que havia sido desenvolvido até então. Talvez tenha sido pela limitação de palavras e “necessidade” de dar fim à história, mas não correspondeu ao que havia sido apresentado até então, “terceirizando” o destino de Gaspar. Além disso os dois flashbacks que tivemos foram, ao meu ver, desnecessários. Ainda que a história da tentativa de estupro com a fuga para a Itália daria, sozinha, um excelente conto.

    E como último adendo, o título no final acabou fazendo pouco sentido dentro da história…

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Publicado às 30 de junho de 2024 por em Começo, meio e fim e marcado , , .