EntreContos

Detox Literário.

O Peso da Bagagem (Luis Guilherme)

Edgar passou os olhos uma última vez pelo vagão, mal notando a confusão de corpos, fumaça e sangue. Respirou fundo e fez uma prece silenciosa, pedindo perdão a um Deus no qual nunca acreditou. Apontou a arma para a cabeça da criança, que o olhava com horror. Então atirou.

O trem com destino a Klondike, no noroeste do Canadá, serpenteava ruidosamente em direção à estação. Engolfado pelo frio, Edgar aprumou-se e puxou para mais perto de si a abarrotada mala de viagem. A bagagem excessivamente pesada, que começava a maltratar as costas cansadas do homem de meia idade, deixava escapar partes de roupas íntimas e de uma calça de flanela, indicando que possivelmente fora arrumada às pressas.

A fumaça envolveu os aventureiros que se lançavam tardiamente à corrida do ouro que assolara a região nos últimos anos. A descoberta do minério em 1896 gerara um frenesi desenfreado, atraindo todo tipo de golpista, garimpeiro, assassino, prostituta, desempregado, sonhador e quem quer que ansiasse deixar para trás pecados e arrependimentos e embarcar numa nova vida no desconhecido. Edgar se encaixava em mais de uma categoria.

Afastando a fumaça do rosto, apresentou o cartão de embarque, olhou novamente ao redor, desconfiado de um grupo de homens que conversavam baixo a média distância, e embarcou. Após procurar por alguns minutos por um vagão menos lotado, e avaliando com cuidado os integrantes, entrou no penúltimo, composto por um padre franzino de olhos irritadiços que folheava rapidamente um livro, um homem alto de aspecto desgrenhado, que fumava um longo cigarro e baforava a fumaça de maneira grosseira, e uma mulher fortemente maquiada, com longos cabelos loiros mal cuidados que evocavam incômodas lembranças em Edgar.

Meneando a cabeça de forma mecânica, o homem entrou na cabine e fechou a porta. O grupo estava engajado numa acalorada discussão sobre as oportunidades da cidade mineradora de Klondike.

– Meu primo chegou mais cedo, tem uns 2 anos – resmungou um deles, em uma voz rouca em meio a duas baforadas, enquanto Edgar empurrava seus pertences no bagageiro. – Me chamo William… – acrescentou, olhando indagador para Edgar.

Mal humorado e começando a se arrepender da escolha do vagão, Edgar nada respondeu, mas apontou para o nome escrito em prata em sua maleta de mão.

– Cê até que tem mesmo cara de Edgar, viu? Essa aqui é Anna, e aquele lá é o Padre John. Nós tá vindo tudo de São Francisco – o homem parecia esperar uma resposta informativa, o que não aconteceu. Dando de ombros, seguiu sua ladainha. – Esse aí num tá pra conversa. Como eu tava dizendo, meu primo Micah chegou tem uns dois anos, veio lá de Seattle. Tava cheio de dívida, se meteu num esquema de jogo que no fim era coordenado pelo delegado. Teve que sair fugido, chegou em Klondike, ficou rico, ein? Tá com uma mina com um monte de empregado e abriu três bordéis na estação. Me disse que vai me dar trabalho lá.

O homem falava rapidamente, parando apenas entre uma tragada e outra baforada, o que parecia incomodar o padre, que continuava a procurar algo em suas anotações. Só agora Edgar notou que o religioso se agarrava a uma mala pequena, para a qual olhava com preocupação a intervalos curtos, e então retomava sua leitura apressada.

– Apenas blasfemos e prostitutas, ladrões e vagabundos! – bradou o que pareceu a Edgar um slogan que, a julgar pela troca irônica de olhares dos dois outros integrantes, vinha sendo repetido há algum tempo naquele vagão. – Hão de ser purificados pela fúria de Deus. Um antro de luxúria e ganância.

– Sodoma e gomorra, meu padre. Ainda bem que a vossa santidade estará lá, pois terei muitos pecados a confessar – foi a primeira vez que a mulher falou desde a chegada de Edgar. Sua voz era carregada de sarcasmo e sensualidade, quase um sussurro provocador escapando dos lábios de uma sedutora experiente. Edgar percebeu os cortes, picadas e escoriações nos braços e as unhas com pintura descascada, bem como as pupilas exageradamente dilatadas. A mulher notou o olhar e retribuiu com um sorriso provocador. – Vejo que terei boa companhia – piscou um olho.

– Não estou indo para lá para absolver putas e delinquentes! A missão que recebi de Deus é mais importante que resgatar esse lixo humano das entranhas do inferno – o homem pareceu folhear ainda mais febrilmente o livro, e se agarrou com mais força à maleta, apertando-a de tal modo que seu fecho se abriu levemente, deixando escapar um odor difícil de definir. Edgar teve a impressão de ter sentido aquele odor no passado, mas não conseguia se lembrar onde nem quando.

A mulher apenas riu e cruzou as pernas de modo provocador. O trem sofreu um solavanco, e por alguns minutos reinou o silêncio, quebrado apenas pelos muxoxos entediados de Anna, as baforadas espalhafatosas de nicotina barata, e o folheamento alucinante de páginas, entrecortado por olhadas rápidas para a mala. Observando mais atentamente, Edgar percebeu se tratar de um antigo livro sagrado, tão desgastado que sua capa estava praticamente incompreensível. Algo sobre um rei persa era parcialmente legível, assim como uma grande cruz e símbolos que Edgar desconhecia.

O trem então parou novamente, numa estação tão envolta em neblina que era impossível enxergar qualquer coisa além de vultos se deslocando na plataforma. Edgar se moveu desconfortável e endireitando-se em alerta. No interior do casaco, a mão direita repousava sobre uma pistola.

Após alguns minutos, a porta do vagão voltou a se abrir, e uma mulher entrou desengonçada puxando uma surrada mala em uma mão, enquanto arrastava uma criança pela outra. O menino, que devia ter entre 7 e 10 anos, resmungava algo sobre frio e fome. Edgar, ainda com o dedo no gatilho, notou uma série de reações percorrer o vagão: o padre olhou para mãe e filho com desprezo, Anna encarou a criança com incontida tristeza, um sentimento penoso rompendo por um instante a pretensa confiança e superioridade da mulher, enquanto um olhar estranhamente voraz, visível por trás de uma cortina de fumaça por um instante fugaz, lhe causou arrepios. Ele, no entanto, conseguiu conter suas emoções e nada transpareceu.

– Entra e senta, Michael. A gente come quando chegar. Eu te dei o último pedaço de pão não tem nem meia hora, te falei que era pra comer devagar.

– Tá com fome, menino? Eu tenho um sanduíche aqui, viu? Toma aqui – Edgar queria gritar para o menino que não chegasse perto daquele homem, mas o garoto já havia corrido até ele.

A mulher se apresentou como Emma, mas nada falou sobre seu filho. Ao invés disso, resmungou algo sobre uma nova vida longe do ex-marido, embora ninguém tenha perguntado, e se sentou ao lado de Anna, onde foi seguida pelo menino. Apesar de faminto, o garoto deve ter decidido guardar o sanduíche para mais tarde, e se limitou a olhar pela janela e balançar a cabeça ao som do chacoalhar do trem.

O grupo seguiu numa conversa da qual Edgar preferiu não participar, e que foi totalmente ignorada pelo padre, enquanto o menino cutucava um buraco na cortina. Por volta de meia hora mais tarde, falaram sobre suas motivações para uma mudança tão drástica de vida. Com exceção talvez de William, que parecia gostar de uma platéia para quem pudesse fazer longos monólogos, os demais pareciam pouco inclinados a falar sobre seu passado, dando respostas escorregadias e pouco diretas. Edgar não estranhou e muito menos se importou, uma vez que ele próprio se sentia pouco tentado a compartilhar o que quer que fosse com aqueles estranhos.

O trem seguiu por horas, atravessando a escuridão de uma noite de nevasca sem estrelas. Edgar sentia um crescente incômodo. Aquele cheiro peculiar agora escapava com mais intensidade da bolsa entreaberta. Algo nele lhe causava arrepios, enquanto tentava decifrar a fonte de tal odor. Sem dúvida, não provinha de nada saudável ou vivo, mas cheirava estranhamente a carne crua ou sangue misturado com pólvora e areia. O cheiro lhe causava um estranho torpor, uma sensação de náusea e cansaço. Justamente quando se perguntava se ninguém mais estava sentindo, Anna esbravejou, deixando de lado o costumeiro ar provocador.

– Caralho, padre, que merda você tá carregando nessa pasta? Esse cheiro doce tá me dando ânsia. Nem essa fumaceira tá conseguindo disfarçar.

– Do que ‘cê tá falando? Esse negócio tem um cheiro estranho de lençóis lavados e suor – respondeu William, com o olhar estranhamente desfocado e um filete de baba começando a escorrer de sua boca.

Emma nada falou, mas parecia esconder um sorriso enviesado, enquanto agarrava o filho num abraço que parecia desconfortável. Antes que Padre John pudesse responder, no entanto, o trem reduziu sua velocidade, aproximando-se da estação seguinte. A mulher levantou-se de chofre e saiu puxando o garoto pelo braço, sem nem mesmo pegar sua bagagem. Estupefatos, os demais integrantes viram duas silhuetas atravessarem correndo a plataforma em direção à frente do trem, até sumirem de vista. Um silêncio modorrento pairou na cabine, onde os remanescentes pareciam incapazes de reagir, mesmo diante da súbita partida.

O padre, entretanto, procurava ainda mais avidamente por páginas específicas de seu livro, e começava a murmurar coisas numa língua desconhecida, que evocava uma estranha sensação de pertencer a um antigo mundo morto. Somando-se ao cheiro nauseabundo, soava como mantra hipnótico.

O trem voltou a se locomover, e os solavancos da partida pareceram despertar levemente os presentes. O cheiro cada vez mais intenso, a súbita partida de Emma, e o estranho comportamento de John tiveram efeito tonificante em Edgar, que se lançou sobre o padre e tentou tirar a mala de suas mãos para ver o que havia dentro. Pego de surpresa, o franzino padre derrubou o livro de suas mãos, que parou aberto no chão, ao mesmo tempo em que Anna e William se juntaram à briga.

Vencido, se largou na cadeira e tentou recuperar a bíblia, mas foi interrompido por William, que a pegou e exclamou: “isso né uma bíblia cristã não, viu? Tem uma monte de desenho bizarro aqui de criança e bebê sendo… puta merda, tão sendo sacrificado.”

Nesse instante, todos olharam para o padre que continuava cabisbaixo, e limitou-se a murmurar: “vocês estão se metendo em algo que não entendem, e vai acabar muito ruim pra todos, seus hereges malditos.”

– Acho que está na hora de começar a se explicar, padre – a voz rouca e solene de Edgar ressoou pelo recinto. Após um longo silêncio, prosseguiu – bom, se você vai fazer voto de silêncio, então melhor abrirmos essa maleta.

Tudo se seguiu num rompante confuso. O padre levantou-se de um salto, tentando aparar a mala das mãos de Edgar, que, surpreso, derrubou-a num baque surdo. A mala abriu-se, e de dentro dela rolou um pequeno corpo enegrecido e enrugado, um pequeno bebê, morto e envolto num líquido negro como obisidiana. E então, todos ajoelharam-se com as mãos cobrindo o nariz.

– Nãaaao! Seus tolos! Condenaram a todos nós! – as palavras saíram da boca escancarada de John num rompante abafado, como se o próprio ar de seus pulmões se recusasse a aceitar o odor que agora dominava o local.

Edgar caiu de cócoras, tampando o nariz e tentando precariamente evitar o vômito. Um cheiro de cavalos trotando, areia e pó, pólvora, sangue, choro. O odor se misturava a seus outros sentidos, e ele podia sentir seu sabor, ouvir seu lamento, o som dos tiros, o implorar dos inocentes, o riso dos sádicos. Podia sentir o toque da arma em suas mãos, o trotar dos cavalos e a areia desértica raspando seu rosto. Sentia coisas que não deveriam existir. Via cores como um caleidoscópio, cores que nunca vira. Não havia nomes para elas, eram impossíveis. Sentia sabores pútridos, incompreensíveis. Sentia o toque da culpa, via os olhos aterrorizados, sentia o sabor do medo e do remorso. Sua cabeça girava de forma alucinada, viajando pelo desconhecido numa velocidade vertiginosa. Então, tudo se apagou.

Ao seu redor, o caos havia se instaurado. Tomada pela culpa e remorso, Anna provava o sabor do abandono, sentia seu útero retorcer-se, mãos pequeninas tocarem seu rosto,  um líquido ácido penetrar suas veias. Sentia o cheiro do veneno, uma podridão âmbar percorrendo seu corpo,  o odor de gritos de uma menina implorando para não ser abandonada. Sentia o toque do dinheiro queimar suas mãos, a visão incapaz de compreender a extensão de seu corpo, o cheiro do horror de ter trocado sua garotinha por ópio. Incapaz de se segurar, vomitou, e começou a cortar os próprios punhos com as unhas, num rompante de força maligna que fez jorrar um sangue em tons escarlates por toda a cabine. Deitou-se no chão e entrou em trabalho de parto, dando à luz criaturas malignas e cruéis, que puxaram seus órgãos de dentro para fora.

William se viu em total escuridão, um barulho ensurdecedor de gritos de dor e desespero. Mãos pequenas tentavam arrancar seus olhos e ele podia sentir o sabor de vida sendo destruída na infância. Cores tão negras que queimavam seus olhos dançavam e tremeluziam em suas pupilas, e ele terminou de arrancar os próprios olhos. De nada adiantou, pois ainda conseguia sentir o cheiro do ódio, o sabor daquela escuridão infinita, sentia crescer dentro de si o horror da impotência, da violência que destrói a pureza infantil. Tentou falar, implorar, mentir, mas a voz perdeu-se numa mente destruída. O odor tétrico transformou-se numa erosão de fluídos corporais quando seus órgãos internos se desfizeram e escorreram pela sua virilha.

Padre John levantou-se, cego, segurando uma antiga runa persa numa mão e um crucifixo de pedra afiada na outra. Berrava a ponto de sentir o sabor do sangue, um misto de palavras e sons incompreensíveis.

– Maldito! Você devia estar morto! – gritava, sem saber exatamente onde estava o pequeno corpo de seu filho bastardo. – Deus, guiai-me! Matei-o como ordenaste-me em sonho, pois a santidade de meu juramento não podia ser destruída por um erro carnal. Segui vossos conselhos e executei-o conforme vossa vontade – o homem berrava em direção ao alto, como se esperasse encontrar auxílio de um Deus que nunca esteve ao seu lado. E seguiu bradando, alucinado, passagens desconexas do velho mandamento:

– Em Êxodo 12:29 dizeis: “à meia-noite, o Senhor feriu todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se sentava no trono, até o primogênito do cativo que estava atrás da mó, e todo primogênito dos animais”. Em Gênesis 7:23 ordenais, e seguindo vossa vontade “todo ser vivente que estava sobre a face da terra foi destruído”, incluindo bebês e crianças.

As palavras morreram em seus lábios, enquanto um pavor primal tomou conta do homem, que sentia o infinito explodir em seus sentidos, degustou o pavor do inferno, sentiu o toque da blasfêmia, aquele cheiro de enxofre impregnado em suas narinas. Desesperado, enfiou o crucifixo em seus olhos, ansioso por deixar de ver a fúria de um Deus que traíra. Agonizou infinitamente, esparramado em uma poça de seu próprio sangue e fezes.

Edgar agora se encontrava novamente num vagão, mas o vagão de outro trem, dessa vez atravessando o deserto de Nevada. O cofre havia sido arrombado, estavam todos mortos. O banqueiro  jazia ao lado da esposa, de longos cabelos loiros, ambos de olhos abertos inexpressivos. A arma em punhos, envolto pela fumaça dos disparos e tomado por súbito arrependimento, Edgar notou que uma criança se escondia atrás do porta casacos. Tentou fazer um sinal para que ela ficasse em silêncio, mas Matthew já tinha percebido.

– Mate a testemunha, Edgar. Mate a testemunha ou sua dívida não será considerada paga – sorriu, maligno.

Uma lenta batida de coração, um momento de indecisão, um gosto amargo na boca. Edgar passou os olhos uma última vez pelo vagão, mal notando a confusão de corpos, fumaça e sangue. Respirou fundo e fez uma prece silenciosa, pedindo perdão a um Deus no qual nunca acreditou. Apontou a arma para a cabeça da criança, que o olhava com horror. Então atirou.

E acordou, a memória se desfazendo de sua mente e a realidade se formando novamente. Estava deitado no chão do vagão, neve caindo fora da janela, lavado de sangue e fezes que não poderia dizer se eram seus ou dos companheiros de vagão que jaziam ao redor. Levantou os olhos e viu Michael e sua mãe Emma. Ambos o encaravam com um olhar de escárnio que não podia ser humano. Acima, pairava o filho bastardo de um padre com sua própria irmã, flutuando em aura maligna, emanando aquele odor tétrico que destruía aos poucos os sentidos de Edgar. O sabor podre daquele cheiro amargava a boca do homem, que enegrecera, assim como seus olhos.

Não entendia como Emma e o filho estavam ali, nem porque o olhavam e riam. Olhou para o lado, onde deveria estar a mala de viagem da mulher, que havia sido abandonada ali. Não havia mala de viagem, nunca houvera. Sacou sua arma, apontou para a própria cabeça. Hesitou. Amaldiçoou mentalmente um Deus no qual nunca acreditara. Apontou a arma para a cabeça do ser flutuante, que o olhava com desdém. Então atirou. Nada aconteceu. O feto soltou uma última gargalhada sem alegria, e o odor que atingiu os sentidos de Edgar queimava em ondas malignas.

O trem começou a frear em pequenos solavancos conforme se aproximava da estação de Klondike, a neve intensa bloqueando completamente os primeiros raios de luz do amanhecer.

Sobre Fabio Baptista

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29 comentários em “O Peso da Bagagem (Luis Guilherme)

  1. vlaferrari
    2 de junho de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Olá Luiz Guilherme. Muitíssimo grato pelos comentários em “Uma Espada para Lilibeth” e pela interação. Fico me perguntando como se daria essa possibilidade da “leitura beta”, já que minha ideia é prolongar mesmo o conto (já que a maioria dos comentários sugeriu isso kkk). Sigo o perfil de alguns dos colegas aqui, por conta de outras reuniões literárias e apreciaria muito seguir o seu. No Instagram, sou @vlaferrari. Apareça, para estendermos essa troca de “figurinhas”.

  2. Renato Silva
    1 de junho de 2024
    Avatar de Renato Silva

    Olá, tudo bem?

    O conto está ambientado no final do século XIX, na América do Norte, situado no momento conhecido como “Corrida do ouro”. A ação se passa dentro de um trem e seu protagonista, Edgar, é um homem rústico e violento, em busca do enriquecimento.

    Ao longo da leitura, parecia que eu estava vendo algum filme sobre o “velho oeste”, mas que depois foi apresentando outros elementos, como os do terror. Não fiquei surpreso com o que veio depois, já que estou acostumada a essas histórias. Robert E. Howard escreveu muitos contos weird western, que é a mistura do “faroeste” com o  sobrenatural/terror.

    A ambientação ficou boa, bem descrita. Os personagens também estão bem caracterizados. Tem algumas pontas soltas aqui e ali. As reações do padre soam um tanto teatrais. Tirando alguns deslizes, o conto é bem interessante e me prendeu à leitura.

    Boa sorte.

  3. Sílvio Vinhal
    1 de junho de 2024
    Avatar de Sílvio Vinhal

    Ideia e texto muito bem executados – só recomendaria um pouco de cuidado com as mudanças de tempo/espaço, que podem confundir um pouco o leitor.

    A descrição do “mal” e a ambientação de terror são muito bem construídas, revelando, possivelmente, um expert no gênero.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  4. Pedro Paulo
    1 de junho de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    RESUMO: Um horror incompreensível acomete os passageiros de um trem.

    COMENTÁRIO: Conto muito bem construído, das descrições acertadas à dosagem das informações que vamos recebendo direta ou indiretamente, por meio dos delírios provocados pelo mal que os personagens enfrentam. Avalio que é um dos casos de um clichê muito bem executado. Temos o fanático, a puta, o bêbado, o andarilho desconfiado e mãe e filho que a princípio sugerem inocência. Há uma pequena subversão, mas o cenário de uma “terra de oportunidades” e violência dos oitocentos da América do Norte empresta muito do que os filmes de velho-oeste sugerem sobre a época. Elementos que só elevam o texto, sobretudo pela maneira como foram administrados na narrativa. O tema de viagem está presente, tanto pelo conto se passar em meio a uma viagem como, também, pelas origens, destinos e expectativas das personagens contribuírem para a construção da atmosfera do conto e para o clímax da revelação. O cenário do trem, com seu confinamento, seus solavancos e paradas imprevistas, desenhou um ambiente fascinante. Enfim, um conto com uma história não original, mas bem construída.

  5. Mariana Carolo
    31 de maio de 2024
    Avatar de Mariana Carolo

    História: começa como um faroeste, termina como Lovercraft. Foi interessante, uma pena que não deu tempo de gostar de ninguém… Viagens de trens são rápidas. É interessante que Klondike é um lugar e também um jogo de fazendinha. 3,5/4,0
    Escrita: fluída e segura. Eu apenas deixaria destacado os flashbacks, mas seria uma ideia minha (com itálico ou outro tipo de destaque). 4,5/5,0
    Título e imagem: adequados, a imagem do trem é sinistra. Como deveria ser, de acordo com a narrativa 1,0/1,0

  6. Gustavo Castro Araujo
    26 de maio de 2024
    Avatar de Gustavo Castro Araujo

    Gostei bastante deste conto. Desde a criação da atmosfera – viagens de trem são sempre instigantes – com os personagens secundários atrás de redenção no distante Klondike, além do próprio protagonista, tudo é crível, verossímil, interessante. Sim, há profundidade em cada um deles, estão longe de serem unidimensionais, possuem características bem marcantes, parecem reais. Toda pessoa que já viajou de trem uma vez na vida pode imaginar a cena com facilidade: estranhos que passam a ser quase-íntimos à medida que os quilômetros avançam. Esse é, pelo menos para mim, o ponto alto do conto.

    O enredo, de todo modo, nos conduz para uma atmosfera de terror. O padre traz em sua valise a semente do mal, o cadáver de um bebê que libera toda a crueldade do mundo, revelando o que há de pior em cada pessoa daquele compartimento. As cenas são bem descritas e vejo a opção pelo gore – com as descrições em alto nível de detalhe – como algo intrínseco ao gênero. Nada diferente do que Stephen King ou o mestre Lovecraft fazem. O horror, aqui, deve causar repulsa, nojo, desconforto, daí a insistência nos adjetivos, uma estratégia que acaba funcionando mesmo para aqueles leitores menos acostumados ao estilo.

    Também achei bacana a estratégia de iniciar o conto com a cena mais marcante da história e trabalhar em flashback os fatos que conduzem a ela. Serve muito bem para manter a curiosidade e o fluxo intenso da leitura. A quebra de linearidade pode ser uma faca de dois gumes, já que exige um pouco mais de atenção, mas aqui foi bem empregada e eu, pelo menos, não vi o tempo passar, querendo saber, afinal, o motivo do tiro na criança.

    Só o que não consegui pescar foi o papel de Emma e do filho Michael na história – o motivo pelo qual abandonaram o vagão e depois, a volta de ambos. Talvez tenha sido opção da autora do conto em deixar isso em aberto, como uma lacuna a ser preenchida pelo leitor. Gosto desse tipo de provocação, mas aqui, creio, isso ficou vago demais. Espero que eventualmente uma explicação possa ser dada para este leitor.

    De qualquer forma, é um ótimo texto. Bem construído, com ótimos personagens, com destaque para o suspense e o terror bem desenvolvidos.

    Parabéns à autora e boa sorte no desafio.

  7. Cícero Robson
    26 de maio de 2024
    Avatar de Cícero Robson

    Oi, Anna!

    O conto está bem escrito, um enredo enigmático e personagens que a mim pareceram simbólicos. O arquétipo do padre que usa a religião para justificar atrocidades, o aventureiro em busca de fortuna numa terra de novas oportunidades, o viajante misterioso que carrega lembranças marcadas pela culpa. Posso estar enganado, mas senti uma influência de Agatha Christie e Edgar Allan Poe, pela mistura do horror com o mistério. Uma boa combinação feita pela autora, mas que me deixou um pouco confuso. Talvez essa seja a função do conto, despertar reflexões, incomodar, deixar uma “pulga atrás da orelha”.

    Parabéns pela produção e boa sorte no desafio.

  8. Amanda Gomez
    23 de maio de 2024
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Um conto em que o autor no faz degustar sensações. Em demasia até. 

    Temos um começo que gera impacto e nos faz ler buscando respostas para essa cena. Se você ficar com o pé no chão dificilmente vai conseguir gostar ou mesmo entender o que se passa nessa historia tão complexa.  Precisei encontrar um melhor momento pra ler novamente e captar as nuances que foram perdidas numa primeira leitura. 

    Tem tensão, mistério, bizarrices e ausência de respostas e ”pqs”. Simplesmente é assim, goste ou não. 

    A parte que revela os pecados de cada personagem é o ponto alto, desnudando os personagens de forma agressiva e constrangedora até. O que pensar de uma mala que se abre e tem um bebÊ  morto, não é?

    Um conto realmente inspirado, precisa ser bom pra escrever dessa forma. Não é daqueles que me agradam o enredo, mas que admiro a escrita e execução. 

    Parabéns. 

  9. Marco Saraiva
    22 de maio de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    ——————————————-

    Avaliação

    Uma historia de terror com toques de Tarantino e HP Lovecraft, com pitadas de gore. Pegou pesado, tocou em todos os pontos que eu curto ler em uma historia!

    Seguimos Edgar, que esta partindo para o Canada para tentar uma vida nova na corrida pelo ouro. Encontramos diversos personagens no trem desta viagem, cada um com seus misterios. Tudo eh revelado no ultimo ato, quando descobrimos que o padre carregava seu filho morto e realizava rituais macabros para uma entidade desconhecida. A esta altura, todos os passados sao revelados, e as mortes comecam.

    Eu curti a ideia e a historia, mas ela pede mais espaco para criar mais tensao no trem. Ainda assim voce conseguiu trabalhar bem com o pouco espaco que tinha, e gerou a atmosfera correta no cenario. Vou entrar em mais detalhes quando explicar minhas notas nos quesitos abaixo:

    TÉCNICA ●●◌ (2/3)

    A escrita eh muito boa, bem pensada e estruturada. Os dialogos sao bons, e cada personagem tem personalidade. Meu unico problema aqui foram as sinestesias, que acabaram se tornando um problema no conto por que voce dependeu delas para narrar o seu climax, mas (ao meu ver) exagerou no uso e elas perderam o impacto. Estas metaforas “lovecraftianas”, de “coisas impossiveis de explicar”, sao muito boas quando bem feitas, e em moderacao. O conto exagera nelas e acaba metralhando o leitor com sensacoes indescritiveis que perdem a forca. No final eu nao sabia mais o que estava lendo, e meu cerebro so me falou que eu lia palavras, sem tentar entender o que elas significavam:

    “Anna provava o sabor do abandono”
    “Sentia o cheiro do veneno, uma podridão âmbar percorrendo seu corpo, o odor de gritos de uma menina implorando para não ser abandonada.”
    “…o cheiro do horror de ter trocado sua garotinha por ópio…”
    “…podia sentir o sabor de vida sendo destruída na infância…”
    “…pois ainda conseguia sentir o cheiro do ódio, o sabor daquela escuridão infinita…”
    “…que sentia o infinito explodir em seus sentidos, degustou o pavor do inferno, sentiu o toque da blasfêmia…”

    Uma ou duas dessas fazem o leitor se interessar e refletir sobre o que leu, mas uma enxurrada dessas acaba desensibilizando o leitor e eu, particularmente, acabei perdendo o impacto delas.

    Outra coisa que afeta a leitura no conto sao as repeticoes de conceitos ou palavras. Olha quantas vezes voce faz referencia aos olhos de william neste trecho:

    “William se viu em total escuridão, um barulho ensurdecedor de gritos de dor e desespero. Mãos pequenas tentavam arrancar seus olhos e ele podia sentir o sabor de vida sendo destruída na infância. Cores tão negras que queimavam seus olhos dançavam e tremeluziam em suas pupilas, e ele terminou de arrancar os próprios olhos.”

    E pouco tempo depois, o padre enfia o crucifixo nos olhos! Muito olho em pouco tempo. Mais tarde voce repete outro conceito:

    “Amaldiçoou mentalmente um Deus no qual nunca acreditara.”
    “…pedindo perdão a um Deus no qual nunca acreditou…”

    Entendi o contraste: antes ele orou ao deus, depois amaldicoou, apesar de em ambos os casos nunca ter acreditado nele. Mas a repeticao do conceito (o fato de ele ser ateu) soa enfadonha aqui, especialmente por que parte deste trecho ja eh citada no inicio do conto como “flash-forward”.

    Estou falando todas estas coisas por que acho que sao pontos validos para melhoria, mas ainda assim dou 2/3 na tecnica por que, no geral, a leitura foi bem boa!

    HISTÓRIA ●●◌ (2/3)

    A ideia da historia eh boa, e a execucao eh excelente no espaco que voce tinha. Nao dei nota maxima aqui por que este tipo de historia pede mais espaco mesmo. O leitor tem que se sentir mais intimo dos personagens no vagao do trem, gerar mais perguntas, e mais supense. Quando o bebe surge da mala e todo o caos insurge, as revelacoes teriam mais impacto se o leitor se importasse mais com estes personagens. Mas em 3.500 palavras eh dificil trabalhar bem 4 ou 5 personagens e ainda trabalhar uma conclusao epica dessa forma.

    O detalhe de Emma e o filho eh interessante, mas talvez em uma historia que pede espaco, ela ficou um pouco solta. Entendo o seu papel: ela gera perguntas. Seria ela a entidade que sussurrou no ouvido do padre o ritual a ser realizado? Mas aqui acho que a historia funcionaria bem sem ela, fazendo com que esta entidade fosse realmente mais invisivel, onipresente e mistica. Mas isso eh opiniao pessoal.

    TEMA ●● (2/2)

    A viagem para o Canada eh parte integrante do conto.

    IMPACTO ● (1/1)

    Rapaz, quando as coisas comecam a acontecer eh um deus nos acuda! As imagens sao muito nitidas e o gore me pegou, ficou no olho da mente por um tempo, rs rs.

    ORIGINALIDADE ● (1/1)

    Apesar das inspiracoes obvias em HP Lovecraft, o conto eh muito original. Gostei bastante!

    TRECHO INSPIRADO

    “Um cheiro de cavalos trotando, areia e pó, pólvora, sangue, choro. O odor se misturava a seus outros sentidos, e ele podia sentir seu sabor, ouvir seu lamento, o som dos tiros, o implorar dos inocentes, o riso dos sádicos.”

  10. Thiago Amaral
    20 de maio de 2024
    Avatar de Thiago Amaral

    Conto de terror muito competente. Rico de sensações e descrições que ajudam o leitor a embarcar no cenário e nos acontecimentos. Principalmente no clímax da história, que está muito bem escrito. Para o propósito da história, que é confrontar as personagens com suas bagagens, essa cena final cumpre a missão com perfeição. Em relação a isso, o título do conto também está perfeito, poético e inteligente.

    Existe um contexto histórico como pano de fundo, e fiquei preocupado se não teria muita exposição em relação a isso, deixando tudo enfadonho. Felizmente, não é o caso. As personagens também são distintas o suficiente para não confundir. Assim como outro comentarista, estranhei o jeito que William fala, mas resolvi suspender minha descrença e não atrapalhou.

    Achei que em alguns momentos tem excesso de vírgulas (principalmente na apresentação das personagens), e de “um” e “uma”. Me escaparam as outras repetições que os colegas citaram.

    Assim como todo mundo, não entendi bem por que Emma e Michael aparecem no final. Na minha interpretação, eles representavam duas pessoas que não tinham bagagem, ou seja, não tinham consciência pesada com nenhum pecado do passado. Talvez no final Edgar os veja por que confronta a possibilidade de ter feito diferente e não possuir culpa, como eles? Essa foi a ponta-solta do conto pra mim.

    Gostei que cada um sente cheiro diferente da mala do padre, de acordo com suas culpas, e o conto sutilmente mostra como nenhum deles quer falar sobre seus históricos.

    Achei o fato do Edgar querer saber o que tem na mala, “tonificado” pelo cheiro, muito rápido. Seria interessante ver o que ele sentiu aos poucos, para não ser uma ação tão repentina.

    A descrição dos bebês saindo de Anna e puxando seus órgãos foi forte, muito boa, mas também achei que a descrição foi muito veloz. Poderíamos ter sentido mais ali. Entendi que cada personagem tinha seu próprio parágrafo de ataque de consciência, mas mesmo assim…

    Ressalto de novo que o clímax, com a mistura de sensações e descrições abstratas, ficou muito bom como horror e para o que o autor pretendia com a história. Parabéns!

    É isso. Muito obrigado pela contribuição e até a próxima!

  11. Givago Thimoti
    17 de maio de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    O PESO DA BAGAGEM (ANNA)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    AVALIAÇÃO + IMPRESSÕES INICIAIS

    + Eu acho que se a temática de terror do Edgar Allan Poe (o nome do protagonista não é uma coincidência) tivesse um conto-filho com a história policial “Morte na Mesopotâmia” da Ágatha Christie, talvez chegaria perto do que é essa história. Não estou falando em qualidade, mas em questão de enredo mesmo.

    – Hum, tem um ar de confusão meio desnecessário né.

    HISTÓRIA (2/3) 

             O desafio desse conto para mim é a interpretação da história.

    Vamos para o resumo. Edgar entra no compartimento do trem com outras três pessoas; William, um falastrão meio bonachão, que quer saber da vida de todo mundo; Anna, que talvez seja ou não uma meretriz com alguns problemas drogas (?) e claro; o padre John, um fanático religioso.

    Depois que Edgar se assenta naquele compartimento, Emma e o seu menino entram também no compartimento, um pandemônio se instaura depois de meia-hora de conversa fiada. Um cheiro nefasto (e doce) exalado por algo dentro da bolsa do padre John levanta suspeitas do grupo. Edgar tenta descobrir o que é: um bebê, meio anticristo, é revelado. Padre John se revela um satanista e, ali, naquele compartimento, o AntiCristo se revela, punindo cada um dos seus ocupantes por seus crimes.

    Emma vai embora, com o seu filho. Provavelmente foi ela quem fez o caldo entornar… Como? Eu não entendi (e aqui tá a minha crítica).

    Anna, uma meretriz, que realizou um aborto (PESO DA BAGAGEM VS MARCELA, OS DOIS A 80 KM/H), sente as mãos sendo queimadas por aceitarem dinheiro e o útero sendo revirado, drogas corroendo suas veias. William era um pedófilo, que algum dia atacou algumas crianças, acabando com suas vidas (?)… Não sei, não ficou muito claro para mim. Edgar era cúmplice de um latrocínio, matando também uma criança, que testemunhou um crime.

    E o padre John, alem de satanista, também cometeu seu crime: um filho bastardo com sua própria irmã. Ele grita la uns versos da Bíblia, referentes à Páscoa e como Deus matou pelo menos uma pessoa de cada casa do Egito e a Arca de Noé

    Edgar tenta matar o Anti-Cristo, mas enfim, não dá certo (e é esse o trecho inicial do conto)…

    Todo mundo morre no final rs.

    Eu não gosto de histórias de terror. E essa é uma boa história. Eu pensei muito na ideia de uma viagem torturante para a sua tortura eterna no Inferno. Uma coisa meio comece a pagar pelos seus crimes já no trem. E isso aqui, se tivesse trabalhado desse jeito… Mas me provocou a pensar assim.

    Meu destaque positivo é a construção histórica, porque ela motiva e justifica e legitima todos esses personagens se encontrarem nesse trem: essa cidade no Canadá realmente existiu, realmente ocorreu um fluxo migratório de habitantes de Seattle, que assim como os EUA, viviam um período econômico bastante duro e de recessão, migram para o Alasca numa corrida de ouro no inverno. E isso aqui tá muito bem construído (vou falar mais disso na técnica).

    Agora vem a minha crítica: toda essa construção histórica, muito boa por sinal, rui com o exagero gore do pandemônio que ocorre no compartimento. Ele fica em segundo plano. É tão exagerado esse enfoque ao sangue, ao vômito, ao horror, à tortura realizada ao feto bastardo amaldiçoado por um demônio devotado pelo Padre John que ofusca a história. E me faz pensar que William, Edgar e Anna pagaram o preço de estarem no lugar errado, na hora errada, ou seja, do lado do Padre John e não exatamente pelos seus crimes (embora, talvez no caso de Anna, eu usaria aspas). Os crimes ficam num segundo plano, na minha opinião.

    Eu acho que, ao final, o enfoque foi errado. Porque a sensação que tive é que, podia ser o próprio Jesus Cristo ali no lugar de qualquer um dos três, ele também seria punido. Talvez por deitar com Madalena (Ou ter caso com ela).

    Isso aqui pode ser realmente um erro de interpretação meu. Eu confesso, mas não consigo largar essa sensação. Toda a boa construção da história ficou em segundo plano para um evento dantesco que cansou um pouco, sabe?

    TÉCNICA (2,5/3)

             A técnica tá muito boa. Escrita bem construída. O gore palpável, que me fez fazer aquela cara de nojo… A imersão no caminho até Canadá

             Agora, acho que faltou um refino em certos pontos; Bíblia é Bíblia com b maiúsculo. Velho e Novo Testamento também. E olha que nem sou católico para ser cricri com isso. Alguns erros gramaticais, tipo acento em plateia, também passaram.

    TEMA (1/1)

             Viagem está presente, né? Próximo item rs…

    IMPACTO  (1,25/2)

             O 1 foi pela construção histórica (até esse momento do pandemônio rs). Gosto de histórias elaboradas, que bebem de um contexto real para partir para uma fantasia. Gosto bastante disso porque mostra pesquisa, mostra conhecimento do autor. Então foi isso.  

             O 0,25 é aquele braço torcido: afinal, eu fiquei enojado com a história rs.

    ORIGINALIDADE (1/1)

             Todos os elementos clássicos do terror estão ali, né?  Bem articulados, cai num clichêzin, mas tem uma boa construção por trás que bota uma característica do tipo “esse conto é diferente dos outros” por essa construção.

    Trecho interessante: Uma lenta batida de coração, um momento de indecisão, um gosto amargo na boca. Edgar passou os olhos uma última vez pelo vagão, mal notando a confusão de corpos, fumaça e sangue. Respirou fundo e fez uma prece silenciosa, pedindo perdão a um Deus no qual nunca acreditou. Apontou a arma para a cabeça da criança, que o olhava com horror. Então atirou.

    Nota: 7,75 (como as regras do desafio não permitem notas com duas casas decimais, sobe para 7,8)

    • Anna
      17 de maio de 2024
      Avatar de Anna

      Bom dia, Givago! Tudo bem?

      Obrigado pelo comentário! Gostei das coisas que apontou!

      Eu não gosto de responder sobre roteiro durante o desafio, mas você mencionou algo que meio que gera um conflito moral na história, então queria só esclarecer uma coisa: o conto não se posiciona sobre aborto, pois a Anna não fez um aborto, ela trocou a fila, já nascida, por ópio. Esse é o “peso” que ela carrega. Provavelmente Jesus passaria seguro pela viagem, pois não acredito que ele tinha muita bagagem pesando em sua consciência ^^.

      De todo modo, obrigado pela ótima análise!

      • Anna
        17 de maio de 2024
        Avatar de Anna

        Roteiro não, enredo rs

      • Givago Thimoti
        17 de maio de 2024
        Avatar de Givago Thimoti

        Oooi, Anna! Tudo bem, entendi!! Obrigado!

  12. Jorge Santos
    13 de maio de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Anna. Acabei de ler o seu conto e fiquei com a sensação de ter visto um filme de terror. A narrativa flui e é rica em termos sensoriais (de vez em quando excessivamente rica). Tem uma não linearidade que não ficou complexa ao ponto do leitor se perder (algo que acontece com alguma frequência em outros textos que tenho lido). Este equilíbrio da fluidez vs complexidade é uma capacidade importante para o autor. Se o leitor se perde na narrativa, o objetivo do texto ficar irremediavelmente perdido. No seu caso, este objetivo foi atingido com sucesso, e mostra que o autor tem experiência. No entanto, creio também que se enveredou por um caminho de excessos no qual o texto perdeu a elegância. Da minha parte, não tenho problema com o terror, desde que sirva um determinado propósito. No caso do texto, creio que o houve um excesso desnecessário que provoca algum desinteresse no leitor. O equilíbro narrativo falhou neste campo, mas creio ser simples de corrigir.

  13. claudiaangst
    8 de maio de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Oi, Anna, tudo bem?

    O pseudônimo e a viagem de trem em fizeram relacionar a trama ao livro que estou relendo: Anna Kariênina. Claro que as coincidências terminam por aí.

    O conto aborda a temática proposta pelo certame. Há uma viagem e também roubo – inclusive de vidas.

    Terror não é muito o meu forte, mas aqui a tensão e o suspense contribuíram para a captura da minha atenção.

    O bebê morto descoberto também seja uma métafora ao passado podre (já em decomposição) do passado dos personagens ali reunidos naquela viagem. Parece que apenas os inocentes não foram poupados (as duas crianças – o bebê e o menino Michael). Se é que o menino morreu mesmo… Aliás, concluí que o pequeno cadáver seria usado para um ritual macabro. Também parece haver um clima apocalíptico – “Um cheiro de cavalos trotando, areia e pó, pólvora, sangue, choro.”

    Fiquei na dúvida se Emma e o filho eram reais ou fantasmas… E qual era a missão do padre? Sei que devem ter dicas espalhadas pela trama, mas não consegui ligar os pontos.

    A linguagem empregada é simples, clara, mas com uma boa dose de sinestesia (recurso estilístico = palavras e expressões associadas a diferentes sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) para gerar um efeito discursivo). 

    Cuidado com a repetição de palavras e expressões, o vocabulário da Língua Portuguesa é vasto, explore sem moderação.

    Sodoma e gomorra > Sodoma e Gomorra

    e se sentou ao lado de Anna, onde foi seguida pelo menino. > e se sentou ao lado de Anna, sendo seguida pelo menino.

    platéia > plateia

    Enfim, perdoe-me por não alcançar o entendimento do enredo por completo.

    Boa sorte!

  14. Queli
    27 de abril de 2024
    Avatar de Queli

    A história é interessante, e, apesar de bem escrita, peca pelo excesso de palavras/frases repetidas.

    Acredito que seria possível deixar o texto mais fluido, mais incisivo e mais claro, organizando melhor as ideias, reestruturando frases e eliminando as redundâncias.

    Mas adorei o enredo!

  15. Mauro Dillmann
    26 de abril de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    O conto é narrado em terceira pessoa e bastante descritivo.

    Uma literatura juvenil, um texto para ser apreciado por adolescentes. Digo isso tanto pelo enredo quanto pela linguagem, pelas escolhas das palavras.

    O personagem Edgar e o conteúdo da mala são o ponto alto do conto.  

    Está bem escrito, mas com passagens muito adjetivadas. O excesso de adjetivos cansa o leitor. Não vou citar exemplos, a cada parágrafo existem muitos adjetivos. Deixo uma sugestão: experimente cortar quase todos os adjetivos e leia o conto em voz alta. Vai fluir.

    Além disso, há uma repetição de palavras e expressões. O texto poderia ser enxugado, assim ficaria mais limpo e direto, proporcionando ao leitor, uma leitura mais prazerosa.

    Na minha percepção, existem muitos personagens. Não há problema, quando todos são bem construídos.

    Um detalhe: platéia não tem acento, pois é paroxítona com ditongo aberto.

    Parabéns !

  16. Thales Soares
    21 de abril de 2024
    Avatar de Thales Soares

    Não vou utilizar meu modelo padrão de comentários para tecer minha crítica a respeito deste conto (separando tudo em tópicos: Escrita, Tema, Enredo, Conclusão). Primeiro, porque estou com preguiça. Segundo, porque estou com tantas coisas na cabeça, que eu quero partir direto para a parte onde eu comento o enredo!

    Achei que a primeira frase do conto foi um grande acerto do autor, mostrando já de cara o Edgar dando uma despirocada, e MATANDO UMA CRIANÇA!!!! (se eu estivesse numa rede social agora, eu estaria fodido por digitar isso em letras maiúsculas… naqueles ambientes têm que seguir o politicamente correto, e digitar m4t4nd0 cri@nç@s, para não ser cancelado… mas como estamos no EC, aqui vale tudo nessa porra!!). Esse início me lembrou muito os episódios de Breaking Bad, onde começava com o Walter White metendo a pica também, e do nada cortava para o passado, onde ele estava na maior calmaria. Essa tática é muito boa, principalmente quando o início da história vai ser propositalmente lento, para apresentar ao leitor/espectador os personagens e plot da história. Com esse recurso, minha atenção foi fisgada desde o início, e eu fiquei lendo empolgado, pois o autor me fez a promessa de que o caldo ia ferver em algum momento… caso contrário, talvez eu tivesse ficado com tédio no início, na dúvida se as coisas melhorariam ou não.

    Agora quero falar sobre a imagem de capa de o título do conto, pois foram as primeiras coisas que vi antes de começar a ler. Achei ambos muito bem escolhidos. A imagem me lembrou aquelas ilustrações doidas do livro “O lar da srta. Peregrine para crianças peculiares”, por ser branco e preto e trazer uma vibe misteriosa. E com esse título, “O Peso da Bagagem”, achei que a história traria talvez alguma discussão sobre gravitação, envolvendo ficção científica. Se fosse esse o caso, achei que ela seguiria por uma linha no estilo Twilight Zone, o que seria muitíssimo interessante! Me enganei totalmente, porém, foi tão bom quanto! A história me pareceu seguir para um terror… algo que lembrou um horror cósmico na verdade, mesmo não usando figuras características do universo Lovecraftiano, e tratando sobre uma figura mais demoníaca. Mas eu adorei o vilão, que era o feto morto… pera, quero falar sobre isso mais tarde… vamos por partes, para eu não me perder no raciocínio aqui (eu escrevo esses comentários sem fazer rascunho, vão meio que no improviso mesmo).

    Agora, vamos falar sobre a ambientação da história. Tudo acontece dentro de um trem. Eu amo histórias de trem!!!! Não sei explicar o porquê, mas viagens de trem são charmosas, e sempre possuem um aspecto enigmático. Aliás, já temos o encaixe do tema aqui: viagem. Se enquadrou muito bem, e eu acho que era até necessário alguém no desafio tratar sobre viagem de trem, e que bom que o tema foi abordado de forma tão cuidadosa e divertida. Viagens de trem são sempre muito insanas quando estamos na literatura ou na cultura pop. Temos como exemplo o Trem Infinito, do Demon Slayer, o Infinity Train, do Cartoon Network (ei… espera aí um pouquinho… eles tem o mesmo nome!!!), o Expresso Polar, aquele filme com o Tom Hanks, que tem aquela direção de arte bizarra, que entra no vale da estranheza, e temos várias histórias sobre mistérios e assassinatos em trens, como o Assassinato no Expresso do Oriente, e até aquele filme com o Brad Pitt, o Trem Bala. Enfim, o que quero dizer é que eu amo histórias em trens! Eu mesmo sempre quis escrever uma, e este conto reviveu esse desejo dentro do meu coração.

    Droga, meu comentário está enorme, e eu ainda nem comecei a falar direito sobre o conto!

    Enfim… vamos logo para a trama então. Os personagens são apresentados todos logo no início, e de forma bem interessante. Conhecemos o mal humorado Edgar, o Padre, a Loira, o fumante, e depois chegam a mulher e o filho dela (desculpe, sou péssimo com nomes). Seis personagens (se eu não esqueci de nenhum), mas todos eles são mostrados muito bem, e eu gostei bastante das falas e interações entre eles. De início, todos parecem ser uns lazarentos. E no final, é revelado que eles realmente são uns lazarentos. Pelo que eu entendi, eles foram terrivelmente punidos por pecados que cometeram, principalmente o padre satanista, que quebrou seu voto de celibato. Li que um dos nossos amigos comentaristas citou a referência da Cafeteria do Sandman, e eu também ia citar isso! Me lembrei da mesma situação na parte em que a história começou a ferver!

    No entanto, antes de as coisas começarem a ficar realmente insanas, o trem faz uma parada, e a mulher e o filho dela, Matheus, descem. Para ser bem sincero, essa parte me deixou confuso. Eu não entendi o que isso representou na história. Por que eles deixaram a bagagem? Tudo bem que, no final, revelou que essa bagagem na realidade nunca existiu. Aliás, aqui entra a parte em que, para mim, foi o único ponto fraco do conto. O final. A mulher e o filho dela retornam para o trem, mas agora de forma fantasmagórica, junto com o feto do padre! Aí eles começam a rir e ficar encarando Edgar, todo ensanguentado e cagado, com pose de malvadões. Edgar tenta matar eles, mas não dá, porque são fantasmas. Então o trem chega em Klondike e…… a história acaba. A história acabou de verdade? Ou foi o limite de palavras do autor que chegou ao fim? Pois senti que faltou alguma coisa aqui. Talvez eu que não tenha conseguido interpretar direito as pistas deixadas ao longo da história. Eu até tentei ler de novo desde a parte em que a mulher saiu do trem junto com a criança, pois acho que essa é a chave de tudo… mas confesso que sou lerdão demais para entender certas coisas.

    Aliás, toda essa questão do trem que vai pra Klondike, na época da corrida do ouro nas Américas, eu achei uma ambientação muito legal! Eu gosto dessas histórias antigas, onde não tem smartphone ou tecnologia alguma.

    E por último, acho que devo falar sobre a escrita. Eu realmente adorei a forma como a história foi narrada. Descrições vívidas, com uma leitura fluida, e uma ótima escolha de palavras, principalmente quando ocorre o ponto de virada da trama, ao encontrarem o feto morto, e o verdadeiro terror começa. A propósito, eu gosto de histórias com fetos… eu mesmo utilizei um personagem que era um feto no meu conto A Paixão do Demônio. Ele se chamava Porrinha. Construções de frase como:

    “O odor tétrico transformou-se numa erosão de fluídos corporais quando seus órgãos internos se desfizeram e escorreram pela sua virilha.”

    Eu achei excelente, porque dá pra imaginar bem a cena, e é bizarro!

    Só de ver a palavra tétrico, já dá uma sensação de horror cósmico! Por isso comentei, no início, que o conto tem essa pegada de horror cósmico, pois ele coloca os personagens diante de um adversário com poderes imensuráveis, e não dá para combater. Dessa forma, cada um apenas sofre as consequências horríveis por sua curiosidade em descobrir o que o padra estava escondendo. Essa tipo de conhecimento amaldiçoado, com verdades que nenhum humano pode saber, senão alcançam a loucura absoluta, são marcas características desse gênero.

    Enfim… para encerrar, gostaria de dizer que eu gostei muito deste conto pois ele se encaixa perfeitamente no meu gosto pessoal! Só não digo que parece que fui eu que escrevi pois eu não conseguiria criar descrições tão bem produzidas quanto as que apareceram aqui. Mas toda essa questão de aventura, com um ar misterioso, e um clima fantástico dentro do trem, é o tipo de coisas que eu costumo apreciar bastante! Como meus comentários são inteiramente baseados no meu gosto pessoal, eu costumo meter chinelada nos contos que não se encaixam comigo, e exaltar aqueles contos que são a minha cara, como foi o caso deste.

  17. Priscila Pereira
    20 de abril de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Anna! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Nossa, que viagem!! Você escreveu sob os efeitos de alucinógenos, não foi? 😂😂😂😂😂 Tô zuando!!!

    Achei bem legal o conto! Eu não gosto de terror, mas não vou levar isso em consideração, porque achei seu conto muito interessante, muito bem escrito. As descrições estão fantásticas, quase conseguimos sentir (eca) tudo que os personagens sentiram.

    O enredo é bem pensado e bem executado. Todos os personagens estão bem caracterizados e tem o psicológico bem traçado.

    Toda a atmosfera do conto é bem legal, bem enevoada e meio insólita. O clima de tensão e horror estão presentes e foram muito bem distribuídos no conto. É um conto bem sensorial, o que acho muito legal mesmo.

    Os pecados sendo revelados e punidos dá um má ideia do que o padre pretendia fazer com o bebê morto. E ele ter sido pego (involuntariamente) no ritual que estava planejado para os outros (pq imaginei que ele pretendia fazer o que aconteceu no trem na cidade e exterminar todos, menos ele, é claro) foi uma ótima sacada! Dando o castigo que ele merecia também!

    Enfim, gostei bastante do conto! Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  18. Angelo Rodrigues
    19 de abril de 2024
    Avatar de Angelo Rodrigues

    Olá, Anna.

    Um ótimo conto, cheio de imagens interessantes.

    Busca levar ao leitor uma série de impressões demoníacas do objeto central do discurso, que é a irrevelada – ainda – mala do padre John.

    O trecho vai se construindo nesse sentido, buscando aumentar a tensão entorno do que nela pode haver. O sujeito do texto é a mala e seu conteúdo.

    Algumas observações:

    Lá pelo início, temos o texto “– Não estou indo para lá para absolver putas e delinquentes! A missão que recebi de Deus é mais importante que resgatar esse lixo humano das entranhas do inferno – o homem pareceu folhear ainda mais febrilmente o livro, e se agarrou com mais força à maleta, apertando-a de tal modo que seu fecho se abriu levemente, deixando escapar um odor difícil de definir. Edgar teve a impressão de ter sentido aquele odor no passado, mas não conseguia se lembrar onde nem quando.”, que parece indicar uma missão. A leitura terminada, não fica claro qual a missão a que se atribuía o padre.

    Nesse trecho, não fica claro quem é o homem do qual o narrador fala, se John ou se William: “– Tá com fome, menino? Eu tenho um sanduíche aqui, viu? Toma aqui – Edgar queria gritar para o menino que não chegasse perto daquele homem, mas o garoto já havia corrido até ele.”

    As presenças de Emma e filho não ganham relevância na trama. Eles entram, são ouvidos e pouco falam, e vão embora deixado a mala que a mãe trazia consigo. Não há relevância para o desenvolvimento da história. Mais adiante eles retornam como parte do delírio de Edgar.

    Neste trecho “O cheiro cada vez mais intenso, a súbita partida de Emma, e o estranho comportamento de John tiveram efeito tonificante em Edgar, que se lançou sobre o padre e tentou tirar a mala de suas mãos para ver o que havia dentro.”, a trama finalmente se desata. Edgar procura desvendar o mistério. Creio que os motivos apontados não são relevantes, não todos. A súbita partida da mulher, por exemplo, não explica a ação de Edgar. O comportamento de John, talvez, mas o cheiro sim, este poderia ter forte influência sobre Edgar, como mostrado mais adiante no texto.

    No trecho “Vencido, se largou na cadeira e tentou recuperar a bíblia, mas foi interrompido por William, que a pegou e exclamou:”, parece faltar o sujeito. Entendi que deveria ser “Vencido, John se largou na cadeira…”.

    Com o advento da abertura da mala e exposição do que lá havia, todos mergulharam em suas memórias ruins, reminiscências danosas encobertas com o tempo.

    Ao padre coube revelar – ou não – a identidade do corpo morto, quando o narrador o chama de “filho bastardo” do padre. Era mesmo um filho bastardo ou seria apenas uma imprecação?

    O conto toma o rumo do místico, ao final, onde horrores se apresentam ao leitor.

    Não sou muito de envolver com textos pouco telúricos, mas gosto das imagens imponderáveis que os autores constroem quando buscam montar cenas de forte impacto teatral. Essas apresentadas pelo autor são legais, e buscam levar ao leitor algo extremo. Há palavras que ajudam nesse tipo de construção, tais como sangue, fezes, risadas sem alegria etc. Todas foram usadas. E quando juntas, mais ajudam na formação de uma imagem poderosa.

    Uma das maneiras de se terminar um conto de extremos, é pela morte do protagonista, quando nada parece precisar de outra explicação que não o desespero ou a loucura que o tomou. Foi assim que se deu.

    Ótimo conto, parabéns. Boa sorte no desafio.

  19. Antonio Stegues Batista
    19 de abril de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Alguns leitores não gostam de contos com mais de 3 personagens, não sei se é alguma dificuldade de memorizar os nomes, de saber quem é quem. Esses nunca leram Stephen King, alguns de seus contos tem mais de 10 personagens. Alguns escritores famosos ambientaram suas histórias fora do país de origem, como por exemplo Agatha Christie em seu livro, Assassinato no Expresso Oriente. É até instigante romper com nossos limites, mas é necessário alguns cuidados, principalmente mostrar algo do lugar, a paisagem, a cultura, o modo de viver para dar autenticidade. Então, você ambientou seu conto no Canadá e pouco mostrou dele, a não ser a citação da corrida do ouro entre 1896 e 1899.
    Acho que abreviar você, para “cê”, ficou meio estranho numa história ambientada fora do Brasil, porque a forma “cê” é mais utilizada pelos belo-horizontinos, ou seja, é um modo de falar dos brasileiros.
    Algumas palavras repetidas muito juntas num mesmo parágrafo, principalmente a palavra “que”, além de outras arcaicas.
    Gostei da parte quando o conteúdo da mala é exposto, provoca evocações ruins nos passageiros, despertando o mal que cada um carrega em seu íntimo. É um conto de terror muito bom.

  20. Emanuel Maurin
    18 de abril de 2024
    Avatar de Emanuel Maurin

    Anna, seu conto é uma viagem horripilante que esta em caminho da cidade do ouro. Tá lotado de personagens atormentados. A história é rica em detalhes sensoriais e cria uma atmosfera de suspense e horror. Teve uma hora que foi foda: deu nojo. As revelações sobre os personagens são impactantes, adicionando profundidade à história. Tudo passa muito depressa, igual filme acelerado. Essa narrativa corrida, deixa a transição um pouco abrupta entre as cenas. Tem muita informação ao mesmo tempo. Mas o conto me ganhou. Achei tudo original. É uma boa trama e o final é de matar.

  21. Regina Ruth Rincon Caires
    18 de abril de 2024
    Avatar de Regina Ruth Rincon Caires

    Êxodo 12:29 – “E aconteceu, à meia-noite, que o Senhor feriu a todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até ao primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos animais.”

    Acredito que o conto é construído e totalmente orientado por essa passagem bíblica. Confesso que pouco sei (ou nada sei) das Sagradas Escrituras, mas tenho uma certeza “bambeada” de que o autor deste texto é “abundantemente religioso”. Fiquei pesquisando, queria saber o que significava a citação bíblica. Pouco entendi, mas envolve os sermões que abrangem os povos de Egito e Israel, e versam sobre suas sagradas pregações e venerados desígnios de Deus. O mar de sangue e morte que ocorre durante todo o conto, soa para mim, como um castigo aos impuros, aos pecadores. Ou uma “purificação”. Parece que há uma significância nesse destaque ao “sangue” e na imolação do filho primogênito (???). Teor sinistro. Para mim, imensamente sinistro.

    Quanto à construção da narrativa, há um cuidado extremo de relatar tudo sofregamente. É tudo feito no galope. E essa “carreira” dá certa aflição durante a leitura. Tudo descrito de maneira sinistra, basta observar o ambiente mórbido. Tudo cinza para o negro, esfumaçado. Basta observar a soturnidade das descrições narradas nos últimos parágrafos. Sensações sufocantes.

    Texto bem escrito, e percebe-se que o autor tem uma capacidade tremenda para sustentar os personagens num enredo que cumpre a pregação.

    Interessante, a história é ambientada no ano de 1896, na Corrida do Ouro do Klondike. E gostei do que aprendi nas minhas pesquisas:

    “ Charles Chaplin, considerado um dos maiores gênios do cinema, produziu e atuou esta obra-prima do cinema, que homenageia a corrida do ouro do Klondike (1896-1899).

    Este evento histórico causou uma migração em massa de garimpeiros de todos os tipos, dos Estados Unidos para o Alasca, em busca de ouro.

    Em “The Gold Rush”, o vagabundo mais amado do mundo é mais um americano que vai se aventurar como garimpeiro nos depósitos de ouro do Alasca, e encara diversos tipos de desafios.

    Em sua genialidade, o autor – diretor – protagonista Chaplin representa, de maneira suave, mas com grande dose de realidade, as dificuldades enfrentadas por milhares de pessoas que seguiram na jornada pelas montanhas geladas.”

    E mais…

     “A Corrida do Ouro do Klondike, também chamada de Corrida do Ouro do Yukon, ou Corrida do Ouro do Alaska e de a Última Grande Corrida do Ouro, foi uma migração estimada de 100 mil garimpeiros para a região do Klondike e do Yukon no noroeste do Canadá entre 1896 e 1899. O ouro foi descoberto lá em 16 de agosto 1896 e, quando a notícia chegou às cidades de Seattle e San Francisco, no ano seguinte, provocou uma debandada de garimpeiros. A viagem revelou-se demasiada difícil para muitos, e apenas entre 30.000 e 40.000 chegaram ao destino final. Alguns de tornaram ricos, mas a maioria não. A Corrida do Ouro do Klondike terminou em 1899, após o ouro se esgotar. Tal corrida foi imortalizada por fotografias, livros e filmes.”

    Parabéns pelo trabalho, Anna (perseverante e disciplinada)!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço…

    • Anna
      18 de abril de 2024
      Avatar de Anna

      Olá, Regina! Obrigado pelo comentário!

      Geralmente, não respondo sobre o enredo do conto durante o desafio, mas só queria fazer uma ressalva. Na verdade, o conto não tem intenção de ser religioso, e nem se baseia na bíblia ou em trechos específicos dela. É só o padre que é um maluco degenerado que usa a bíblia pra justificar uma atrocidade que cometeu heheheh

      • Regina Ruth Rincon Caires
        18 de abril de 2024
        Avatar de Regina Ruth Rincon Caires

        Errei feio. Peço desculpa. Abraço…

      • Anna
        18 de abril de 2024
        Avatar de Anna

        Imagina! Eu adoro seus comentários, e não to reclamando, nem nada. Só quis responder por ser um assunto sensível, e pros colegas mais religiosos do grupo não se chatearem achando que eu interpretei a bíblia do meu jeito kkkkkkk

        Mas fica tranquila, seus comentários são ótimos ❤

  22. Kelly Hatanaka
    18 de abril de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Atende o tema. Toda a história se passa durante uma viagem de trem até Klondike. A viagem é motivada pela necessidade que os personagens têm de uma nova vida ou de novas oportunidades.

    Escrita
    Muito boa, cria tensão e expectativa com muita competência.

    Enredo
    Durante uma viagem de trem, os passageiros são confrontados por seus fantasmas do passado através de uma entidade sobrenatural, filho de um padre com sua própria irmã. A história é boa e parte de uma ótima premissa. Os personagens são bem definidos e o clima de tensão permeia todo o conto. Porém, senti que tem muita coisa sobrando e alguns elementos sem explicação. Qual era a missão do padre? O que ele planejava fazer com o bebê morto em Klondike? Quem eram Emma e Michael? Por que eles saíram correndo do trem e como voltaram?

    Impacto
    Achei especialmente interessante o momento em que cada personagem confrontou seu passado. Lembrou-me a cena da cafeteria de Sandman. Gostei de ver o passado doloroso de cada um deles e o desespero ao sentir intensamente o que fizeram. Porém, a sensação de que ficou muito ainda a ser dito, como falei em Enredo, prejudicou o impacto.

  23. Vladimir Ferrari
    18 de abril de 2024
    Avatar de Vladimir Ferrari

    Bem, uma viagem em todos os sentidos. Algumas coisas no texto, no entanto, se fazem notar. A repetição de palavras, por exemplo e algumas expressões estranhas (NA MINHA OPINIÃO), como “frenesi desenfreado”. A narrativa segue tão rápida em acontecimentos como o próprio trem. Entendi que talvez, se mais diálogos houvessem, a atmosfera de imagens confusas seria mais suave. É claro que isso é apenas uma sugestão, pois o terror conforme proposto, é mesmo mais descritivo. É interessante observar que há passado em todos os personagens.
    A ação fica concentrada, apesar disso, não entendi o enveredar pelo passado de cada um dos personagens como digressão. É uma premissa interessante. Sucesso.

E Então? O que achou?

Informação

Publicado às 18 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo e marcado .