EntreContos

Detox Literário.

Cozinha (Mauro Dillmann)

Nas semanas finais de dezembro, quando o marceneiro chegou para montar a cozinha, Maelle, grávida de três meses, caminhava para todos os lados, sem saber se abria a janela ou se colocava água na chaleira elétrica. Tinha deixado cinco reais para a gorjeta no sutiã, passado desinfetante no chão e nas paredes, afastado a mesa e preparado o cafezinho para o montador. Ofereceu também limonada e um pedaço de bolo de milho, como costumava fazer como gratidão por um serviço.  

Agora, a cozinha estava pronta, cheiro de nova, inúmeras portas, gavetas e compartimentos, no lugar daquelas prateleiras manchadas de mofo que ficavam protegidas por cortinas e das quais sentia alguma vergonha quando recebia as amigas. As panelas, frigideiras, formas de alumínio, caixas de fósforo, canecas de todas as formas, copos de requeijão, potes de margarina e de sorvete estavam sobre a mesa.

Coração batendo forte, rezando baixinho, antes de arrumar tudo e de acertar o relógio de parede, chamou as crianças para admirar aquela beleza. Pelo muro dos fundos, gritou também à vizinha, companheira de boas risadas. Era emoção que precisava ser compartilhada. E com pipoca doce. Sentaram-se para descansar, tomadas do ânimo natalino lembrado pela música das mensagens do grupo da família no whatsapp: “Que seja feliz quem /Souber o que é o bem”.

“Felicidade do tamanho do universo”, a frase dita por Maelle naquele momento, a mesma repetida à filha menor em outras circunstâncias. “Olha, amiga, se não parece aquelas cozinhas que sempre surgem no Instagram da gente”. “Vou fazer uma foto e postar ‘Beijinho no ombro pro recalque passar longe’”. A vizinha tragava o cigarro e com fala anasalada dizia: “Esse papai Noel antecipado é um escândalo”, “também estou pensando em trocar a minha”. Maelle teria deixado escapar um “invejosa!”, mas conteve a palavra, enquanto puxava o cabelo ressecado entre os dedos.

As crianças logo descobriram que as portas fechavam sem bater e a lixeira ficava embutida. Pura diversão, motivo de risadas. Cada uma escolheu um espaço para fazer de esconderijo. Guardaram desenhos e tampinhas, plásticos e balas. “Essa é a minha prateleira”, gritou o maiorzinho. “Reparem os puxadores de alumínio”, disse Maelle, e, falando sem parar, tamanho contentamento, começou a guardar as louças, empilhar os potes e arrumar os talheres.

Sem contar da cozinha, Maelle mandou áudio para Klaus. Ele ainda estava no terminal. Queria fazer surpresa ao marido. Para comemorar aquela aquisição tão sonhada foi preparar sagu com creme, a sobremesa preferida de Klaus. Interrompida de dez em dez minutos pelas ligações do banco oferecendo empréstimos, teve de colocar o celular no silencioso. Depois de um banho para relaxar, prendeu os cabelos com a piranha de dois dentes quebrados, pôs o vestido crepe de algodão cru, queimou umas folhas de louro no prato em cima da geladeira e colocou as últimas gotas do Gabriela Sabatini.

Era noite quando Klaus chegou anunciando a canseira. Tinha feito uma viagem de ônibus e outra de trem, pausada por um cafezinho de um real na estação, onde não se demorou. As pessoas pareciam atrasadas e a impressão era de que todos corriam. Klaus corria também, mesmo sem saber por quê. Antes de chegar em casa, tinha parado no supermercado para comprar o sabão em pó da promoção. Viu a danada cerveja. Um aborrecimento, porque a contenção segurava o impulso. Terminou ainda no Uber, sentindo-se roubado pelos vinte e dois reais do pequeno trajeto até sua casa no horário de pico pela Avenida Presidente Vargas. Euclides e Isaac latiam no portão, pedindo ração e farejando as botinas e o uniforme azul da firma de Klaus.

Maelle foi recebê-lo, pegou a mochila e a marmita vazia. Ele se virou para ela, limpando o suor que insistia em entrar nos olhos, e disse: “Minha vida, não ganhei o aumento prometido”. Ela não esboçou reação, parecia anestesiada e antes que ele abrisse a boca mais uma vez, ela acrescentou: “Fofão, nem imaginas!”, com os braços ao redor do pescoço dele depois de um selinho. “Adivinha?! Adivinha?!”. Com os olhos arregalados e quase sem palavras, ele balbuciou: “Então, chegou?”.

Ao entrar forçando a porta da sala, há tempos com defeito, o marido cheirou os sovacos e foi direto ao banho no chuveiro com pouca pressão d’água. Os pés inchados, a diabetes como um formigueiro nos olhos. Quase não enxergava a própria imagem no espelho rachado. Sentiu uma pontada na coluna e uma dor na virilha, resultado da inflamação no quadril. Gostava de peidar, mas percebia os gases presos. Do banheiro, gritou para Maelle com ênfase em cada palavra: – “Preciso de dois purgantes”. Procurou relaxar com a música que remetia à infância acionada a todo volume no celular: “Daquele tempo de menino / Ainda tenho no meu peito muita saudade…”.

 Melhor cantar do que pensar no custo daquela economia, das pesquisas de preço, da promoção perdida meses atrás na semana do consumidor. Depois de lavar-se com a mistura feita de sobras de sabonete, perfumar-se com musk, foi à cozinha, no fundo da casa. “Surpresaaa!”, gritou Maelle. “Que chique, hein”, disse à esposa. Alisou o móvel, abriu as portas, reparou que tinha espaço até para as ferramentas. Maelle já tinha acomodado num dos compartimentos as sacolas de supermercado usadas para lixo e decorado as superfícies dos balcões brancos com trilhos de crochê, cumbucas de porongo e flores artificiais. Também tinha pulverizado o ambiente com uma mistura de álcool e amaciante, receita do youtube.

As crianças, que brincavam na piscina de mil litros no fundo da casa, correram para abraçar o pai e lhe mostrar a lixeira. Esperavam balas e pirulitos, que dessa vez não veio. Sentaram-se todos para a última refeição do dia, a mesa bamba numa perna. Maelle não conseguia se segurar, apoiando o rosto com as duas mãos, ria em silêncio, expirando pelo nariz.

Depois do jantar, com energia, as crianças foram pular no sofá, sem as fivelas do encosto, enquanto não começava a novela. Maelle e Klaus, ficaram ali, no lero-lero, tomando um chá de funcho, admirando aquela aquisição, a toalha xadrez, a fruteira cheia de limões. Palito nos dentes para não perder o costume.

“Quanto custou mesmo?”, perguntou Klaus. “A entrada e mais três mil parcelados em quatro vezes”, lembrou Maelle, observando os pelos crescidos na orelha dele. “Meu pai Oxalá! No próximo mês tem a última mensalidade do lava jato”, disse Klaus, levantando-se da mesa. “Precisamos pagar a conta de luz. Venceu tem vinte dias”, afirmou Maelle, arrastando a sandália pelo chão. “As crianças não podem mais assistir filmes de terror. Agora só dormem com a luz do abajur acesa a noite toda”, disse ele.

Murmuraram ainda o esforço, a entrada, as prestações da cozinha. Falaram do apetite das crianças, comendo cada vez mais, da necessidade de providenciar o enxoval do caçula e de cuidar do pré-natal. Quanta despesa. Nesse natal vestiriam a mesma roupa do ano anterior.

Depois de um silêncio, olheiras fundas, observando o relógio de parede sem pilha, Maelle comentou em voz baixa: – “Acho que vou tomar um Rivotril”. Klaus, imóvel, olhar zanzando ao longe, impactado pela “roubada”: – “Eu também”.

Sobre Fabio Baptista

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25 comentários em “Cozinha (Mauro Dillmann)

  1. Renato Silva
    1 de junho de 2024
    Avatar de Renato Silva

    Olá, tudo bem?

    Conto bacaninha sobre o cotidiano de uma família, sem nenhum grande acontecimento. Não vejo problemas neste tipo de narrativa, contanto que esteja contando uma história. As descrições são bacanas e imersivas, fazendo com que eu me sentisse dentro daquela casa e compartilhasse um momento com aquela simpática família. O ponto negativo é a fuga do tema.

    Boa sorte.

  2. Sílvio Vinhal
    1 de junho de 2024
    Avatar de Sílvio Vinhal

    O conto revela um autor/autora muito preparado e sensível. É agradável de ler, nos abraça como se fosse um velho conhecido.

    Talvez não se enquadre muito bem ao tema, porém, retrata uma realidade, um momento, um jeito de ser num país que, quase sempre, é injusto com os seus habitantes.

    O sonho quase sempre não tem vez, os boletos que o digam.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  3. Pedro Paulo
    1 de junho de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    RESUMO: Um casal celebra uma compra e se arrepende ao fazer as contas.

    COMENTÁRIO: Este texto me pareceu mais uma crônica. Uma bem escrita, aliás. A ambientação do cotidiano familiar e do tipo de vida levado naquela casa é tanto evidente como reconhecível de muitas famílias brasileiras, além da caracterização dos dois personagens torná-los verossímeis, justamente por serem prosaicos como geralmente somos nós, os de carne e osso. Apesar de toda essa qualidade, não vi o conflito até o final do texto, o que para mim enfraquece essa produção enquanto conto. Outro ponto é que nenhum dos dois temas me apareceram na história e a menção à roubada no último parágrafo, ainda mais entre aspas, me desceu como uma tentativa quase desesperada de encaixar no tema.

    Então, um bom texto para ler, mas não um bom conto para este certame.

  4. Mariana Carolo
    30 de maio de 2024
    Avatar de Mariana Carolo

    História: Uma mulher compra uma cozinha, contando com o aumento do marido que não vêm. É algo bem realista na vida do brasileiro médio, mas, seria na roubada (?) que se meteram a adequação ao tema? 2,0/4,0
    Escrita: Stela escreve bem, os personagens são críveis enquanto figuras comuns de uma cidade comum. É uma família. No entanto, o excesso de descrições (os dentes da piranha quebrados, piscina de mil litros etc) começaram a me tirar a atenção. A autora poderia cortar um pouco delas, a primeira parte já constrói muito bem a atmosfera. 3,5/5,0
    Imagem e título: título e imagens adequados, apesar da casa exalar mais pobreza do que a personagem transparece (ela tem celular, piscina para as crianças) 0,8/1,0

  5. Cícero Robson
    27 de maio de 2024
    Avatar de Cícero Robson

    Oi, Stela!

    Muito bom o seu conto. O recorte preciso de uma família simples, típicos trabalhadores brasileiros, com suas lutas cotidianas e alguns momentos de felicidade, mesmo quando produzidos pelo consumo. Não tem como a gente não se identificar e se comover com os personagens, pela forma como você descreve, uma arguta observadora dos detalhes significativos da vida.

    Parabéns pela história e boa sorte. Abraço.

  6. Gustavo Castro Araujo
    24 de maio de 2024
    Avatar de Gustavo Castro Araujo

    Muito bom o conto. Tem aquele charme suburbano que torna a leitura fluida, fácil e bastante prazerosa. É como se a gente fizesse parta da família, testemunhando as pequenas conquistas da Maelle e do Klaus, no caso, a cozinha, mesmo em meio a móveis antigos e à casa carente de cuidados.

    A escrita competente ajuda a manter o interesse. Há um ótimo jogo de palavras e metáforas bem sacadas, até mesmo inesperadas. Não curti muito o trecho escatológico do momento em que o Klaus chega em casa, mas isso é coisa minha. Creio que destoou um pouco da atmosfera geral, um tanto forçado na verdade. Mas isso é detalhe.

    O conto, como disse, é muito bom de ler. Agora, sejamos honestos, não chegou nem a arranhar os temas do desafio. Imagino que o autor já o tivesse pronto e aproveito o certame para lança-lo. Sorte a nossa, rs Mas não dá para avaliar bem por conta dessa fuga ao que foi proposto, seria a meu ver um tanto injusto com quem se propôs realmente a escrever algo sobre roubo ou viagem.

    Em suma, uma história bacana – digna dos (bons) roteiros das novelas antigas da Globo – mas que não atendeu o tema proposto. De qualquer modo, parabenizo o(a) autor(a) e desejo boa sorte por aqui.

  7. Amanda Gomez
    23 de maio de 2024
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Esse conto me pegou, poderia ficar lendo essa historia por mais algumas linhas fácil. Boa escrita, aquele cotidiano agradável, descrições muito boas e personagens bons. Não tem como não se familiarizar com essa rotina, a felicidade de uma coisa nova, de um sonho realizado, não interessa em quantas parcelas (pelo menos não e um iPhone e paredes a rebocar). 

    Um historia tão real que acho que todo mundo conhece pessoas assim, pode ser um tio, primo, vizinho ou ate vc mesmo. 

    Mas… tem aquela sensação de estar sendo ludibriado, afinal…a forma como o autor trouxe ( será que trouxe)? O tema. A piada no final foi um grande anticlímax, pq não teve preparação pra isso e nem fez muito sentido. 

    Nesse caso, a ultima impressão foi a que ficou. 

    Parabéns pela participação.

  8. Marco Aurélio Saraiva
    23 de maio de 2024
    Avatar de Marco Aurélio Saraiva

    Resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    ——————————————–

    Avaliação

    Um conto muito bem escrito, que mostra com cruel simplicidade e objetividade a vida difícil de boa parte da população brasileira, com certa intimidade na narrativa, narrando os detalhes de uma vida simples e com poucas felicidades. A narrativa vai direto ao ponto, faz o leitor mergulhar no cenário de uma vez só. Infelizmente ela não leva a lugar nenhum: é uma fotografia de um dia na vida de Maelle; um dia importante, sim, mas também um dia ordinário. Uma crônica muito bem escrita mas sem conflito ou clímax.

    TÉCNICA ●●● (3/3)

    A escrita está perfeita. Você escolhe as palavras muito bem, a leitura é fluida e prazerosa. Coisa bonita de ver!

    HISTÓRIA ●◌◌ (1/3)

    Não há muita história ou enredo. Acompanhamos os personagens por algum tempo e é só. Acho que textos assim são válidos mas, para mim, fica faltando alguma coisa.

    Houve também um momento de confusão, ao meu ver. De certa forma eu me senti conduzido a achar que o conflito da trama estaria entre Maelle e Klaus. Logo, a chegada de Klaus tornou-se um momento esperado na narrativa. Quando ele chegou, porém, foi com o seguinte parágrafo:

    “Fofão, nem imaginas!”, com os braços ao redor do pescoço dele depois de um selinho. “Adivinha?! Adivinha?!”. Com os olhos arregalados e quase sem palavras, ele balbuciou: “Então, chegou?”.

    Só que daí ele vai tomar banho, e só depois que vai ver a cozinha, com a esposa gritando “SURPRESA!”. Mas como é surpresa, se ele já sabia que havia chegado? E como ele não foi na cozinha ver antes de tomar banho? Sei que há explicações simples para tudo isso, mas achei que esta parte do texto ficou confusa. Acho que senti que o texto estava sendo construído para este momento, que seria marcante, mas não foi nada de mais.

    TEMA ◌◌(0/2)

    O texto em momento algum aborda um dos temas do desafio.

    IMPACTO ◌ (0/1)

    A leitura não deixa muita marca. Senti-me como que revivendo uma infância distante, mas não houve nada de diferente ou marcante na história para que ela tivesse algum impacto.

    ORIGINALIDADE ● (1/1)

    É um texto original, bem produzido e que vem do coração.

  9. Thiago Amaral
    23 de maio de 2024
    Avatar de Thiago Amaral

    Olá!

    O conto está muito bem descrito, com imagens vívidas da casa e da vida de pessoas trabalhadoras que precisam batalhar e muito para administrar suas vidas. Conseguimos visualizar perfeitamente o cenário e o dia a dia dessas pessoas. Além disso, tem muitas referências que provavelmente quem viveu de maneira semelhante irá se identificar.

    Consigo perceber que o conto pretende ter tom humorado, mas não me parece que atingiu o objetivo. O momento do banheiro com Klaus, o final… Fiquei com a sensação de uma tentativa de humor, como de alguém que está à distância da situação, a considera cômica, mas não ri de fato.

    Me parece que você queria atingir os leitores com o sentimento de familiaridade e valorização da vida cotidiana do brasileiro. Nesse propósito, atingiu em cheio e, se fosse esse o tema do desafio, seria um forte concorrente. No entanto, quanto a roubo ou viagem, não atendeu à proposta. “Roubada” está mais próximo de “cagada” do que de roubo, apesar das palavras serem parecidas. Significam coisas diferentes. As viagens que Klaus faz são periféricas na história, sendo a temática do conto coisa totalmente diferente.

    Até consigo imaginar você pensando e fazendo as ligações metafóricas para justificar a construção da história, mas pra mim não atendeu ao desafio. Metáfora tem limite, e às vezes não corresponde, como chamar uma pessoa mansa de leão. Se foi tentada uma crítica social, o conto também não trata disso. São ligações que devem ser feitas pelo leitor, e não considero próximo o suficiente dos temas.

    Uma pena, pois, como disse anteriormente, está muito bem feito.

    Obrigado pela contribuição, e fico curioso para ver sua próxima criação.

  10. Jorge Santos
    13 de maio de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Não fosse o roubo na viagem de uber, implantado cirurgicamente para satisfazer ambos os temas deste desafio, e este seu conto estaria completamente fora. Narra a história de uma família que luta para conseguir chegar ao fim do mês, uma história partilhada por todos aqueles que não têm a felicidade de terem a conta do banco recheada. É interessante como tudo se passa na cozinha, onde uma mulher passa o seu tempo enquanto o marido vai trabalhar (conceito ultrapassado e que decerto vai ser chumbado pelas comentadoras feministas). A narrativa é linear e simplificada: narra um momento na vida desta família, num único local da casa. Quem esperar algo mais diversificado e impactante, não o vai conseguir encontrar, porque não foi esse o objetivo da autora. De resto, não encontrei erros e o texto flui bem, o que, num texto onde pouco se passa, é uma qualidade preciosa, sem o qual a sua leitura seria um tédio.

  11. Givago Thimoti
    3 de maio de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    COZINHA (STELA DO NASCIMENTO)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá,  para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    Avaliação + Impressões iniciais

    Esse conto me lembrou algumas músicas. Eduardo e Mônica, Cotidiano,principalmente. Foi um conto gostoso de ler, como se eu tivesse lendo e escutando ao mesmo tempo. É verdade, não tem nenhum grande clímax, tampouco precisou também.

    HISTÓRIA  (3/3)

    “Cozinha” conta a história da família de Maelle e Klaus. O conto inicia com Maelle recebendo o marceneiro, responsável por montar o armário da cozinha. O conto deixa bem claro, desde o seu início, que o armário é uma grande conquista para a família. E é assim que segue, mostrando alguns detalhes do dia 1 do armário; Maelle mostrando para a vizinha, chamando a querida para uma pipoca doce. Maelle limpando o pó do armário com álcool e alvejante (?).

    Então, temos Klaus, o patriarca, voltando para casa depois de um dia de labuta, cansado e com más notícias.

    O que tem de bom nesse conto que me conquistou? É uma história gostosa de ler. É uma história brasileira, é uma história simples e é uma história que o leitor, de certa maneira, se identifica com a história. Seja porque já passou por isso, de batalhar uma grana por aquele móvel de qualidade, simples, mas novo. Seja porque já ouviu essa história em outras bicas, seja de conhecidos ou não.

    Claro, a “roubada” (também chamada de “ dura realidade” veio no final: Klaus, que estava esperando um aumento, infelizmente não ganhará o que foi prometido. A conta de luz só aumenta, ao passo que o terceiro filho do casal se aproxima. É final de ano, logo tem material escolar vindo por aí… Isso sem contar os cachorros…

    Acho que o grande trunfo da simplicidade da história conquista. Simples e leve do início ao fim.

    Talvez, o meu único “a” sobre a história seja justamente o nome dos personagens: Maelle e Klaus. Nomes tão não brasileiros… Claro, deve ter algum brasileiro e brasileira com esse nome, mas sabe… eu sei, chatice minha, eu li como se fosse Maysa e Cláudio e passou.

    TÉCNICA  (2,5/ 3)

    A técnica de escrita, ao meu ver, é simples. A leitura flui que é uma beleza. Combina e muito com a história. Para quê grandes arrojos literários, florear com palavras rebuscadas quando se encontra a sutil beleza do cotidiano?

    Acho que só não dei uma nota maior em termos de técnica porque eu senti que poderia ter um algo a mais. Como falei, a escrita é simples e suficiente. Mas ela podia ter um tchan. Já que estamos falando de móveis, passar um lustra-móveis, deixar os puxadores de metal brilhando, sabe? Talvez, um pouco de regionalismo nos diálogos ou até mesmo nos parágrafos…

    TEMA  (0,5/1)

    “Cozinha” é um dos bons contos desse desafio, mas que talvez peque justamente pelo tema. Não vi tanta ligação do conto com o tema. Achei roubada uma pequena forçação de barra, por mais metafórico que tenha sido.

    IMPACTO  (1,5/2)

    História simples, brasileira e leve. Quase uma receita de sucesso.

    ORIGINALIDADE  (1/1)

    Creio que achar o lúdico no simples é um grande sinal de originalidade.

    Trecho interessante: Coração batendo forte, rezando baixinho, antes de arrumar tudo e de acertar o relógio de parede, chamou as crianças para admirar aquela beleza. Pelo muro dos fundos, gritou também à vizinha, companheira de boas risadas. Era emoção que precisava ser compartilhada. E com pipoca doce. Sentaram-se para descansar, tomadas do ânimo natalino lembrado pela música das mensagens do grupo da família no whatsapp: “Que seja feliz quem /Souber o que é o bem”.

    Nota:8,5

  12. Queli
    27 de abril de 2024
    Avatar de Queli

    Que escrita gostosa, que prende e faz a gente ir até o fim! Você sabe bem como descrever cenários d personagens. Eu me senti dentro da cozinha!
    Achei maravilhoso, mas senti falta da “reviravolta” no final… fiquei esperando pra ver qual seria surpresa, e ela não veio.
    Mas isso não desmerece seu conto.

    Só que, infelizmente, não consegui encontrar referência aos temas propostos. Então, creio que pecou nesses dois aspectos. Mas gostaria muito de ler outros textos teus.

    • Queli
      29 de abril de 2024
      Avatar de Queli

      Eu de novo.

      Estava lendo os comentários, e percebi que o tema “roubo” foi metafórico. De fato, o tema está presente.

      Retiro o comentário anterior.

      Reitero o que disse quanto ao resto, especialmente que amei o seu conto é que gostaria muito de ler outros textos teus!

      Parabéns! E boa sorte!!!!

  13. Sem noção
    27 de abril de 2024
    Avatar de Sem noção

    Stela, não gostei não. Qual é? Tá me vigiando é? Porque esse seu conto aí foi baseado na minha família, que eu tô sabendo. Não foi a cozinha que a gente comprou, no caso. Foi um conjunto de sofá em courino, nas Casas Bahia. O B.O. porém, foi o mesmo. Mas agora tá tudo bem. Já fizemos um empréstimo consignado. Vai dar tudo certo.

    Agora, espero que você tire as câmeras aqui de casa, tá? É você Alzira, sua invejosa?

  14. Luis Guilherme Banzi Florido
    24 de abril de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, Stela. Tudo bem?

    Estou voltando aos desafios após longos anos, então estou um pouco enferrujado, mas muito empolgado em ler os contos e deixar minha opinião! Obrigado por enviar o seu, e vamos lá:

    Um resumo rápido do conto: um recorte do cotidiano, que na verdade representa dezenas de milhões de brasileiros, de uma família que compra uma cozinha planejada contando com um aumento do marido que não aconteceu.

    Opinião e comentários gerais:

    O conto é bastante fluido e rápido, não só pelo tamanho, mas pelo ritmo e linguagem empregados, que facilitam a leitura e a tornam mais prazerosa. Como alguém que tem dificuldade de escrever de forma simples (normalmente meus contos pecam pelo excesso de adjetivos, ritmo lento e pouca clareza kkkkk), é agradável ler um conto mais leve e direto ao ponto.

    Conforme eu comentei no resumo, acredito que dezenas de milhões de famílias brasileiras se sentem representados pelos eventos retratados no conto: a alegria de novas conquistas, o alívio de se livrar de um móvel antigo do qual sentia vergonha, a esperança do aumento e a decepção  da recusa, a preocupação com as contas vencidas, gastos de natal, juntar sabonetes para render, as marcas mencionadas, etc.

    Sendo assim, fui lendo de maneira leve, me divertindo com as referências que iam aparecendo e me identificando. 

    Por outro lado, senti que algo ficou faltando, aquele algo que te prende à história e te causa um impacto maior, sabe? Não é pelo gênero, obviamente, afinal sou um grande fã de slice of life, mas devo admitir que o conto não me arrebatou. Se eu tivesse que arriscar dizer o motivo, eu diria que talvez seja a linearidade excessiva, mas não sei se é exatamente isso  Foi uma leitura agradável, mas que não me conquistou totalmente. Outro destaque negativo para mim foi a cena do peido no banheiro. Não tenho nada contra esse tipo de coisa, afinal meus contos são cheios delas, mas achei que não combinou com o restante da história. Me pareceu uma tentativa de humor, mas não achei que esse humor casou com o restante, afinal, o conto já é bem humorado naturalmente. 

    Ah, não posso deixar de mencionar que não consigo encaixar seu conto nos temas propostos, e infelizmente isso é um critério, então não posso deixar de levar em conta em minha nota. 

    Enredo 5,0

    Ritmo: 7,0

    Desfecho: 5,0

    Técnica 6,5

    Construção de personagem: 8,5

    Ausência da temática: – 5,0

    Total: 5,4

    Parabéns pelo trabalho e sucesso no desafio!

  15. Mauro Dillmann
    22 de abril de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    O conto é bem escrito, correto na língua, revisado.

    Trata do cotidiano de uma família pobre. Me pareceu bem realista e brasileiro. A leitura flui bem, prende atenção do leitor. Além do drama, tem alguma dose de humor. Gostei bastante.

    Reparei que o relógio de parede aparece no início e no fim do conto. A família não tinha grana nem para a pilha! Era felicidade demais para ser verdade. No final, os personagens parecem se dar conta de tudo isso. Achei o conto bem amarrado.

    O tema roubo está contemplado. No final, menciona ‘roubada’. Entendi que é um roubo metafórico, conotativo. Um roubo de oportunidades, de dignidade e de possibilidades numa sociedade tão desigual.  

    Parabéns!

  16. claudiaangst
    20 de abril de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Oi, Stela, tudo bem?
    O conto aborda o tema proposto pelo desafio de forma metafórica – Foi sim uma roubada comprar os móveis de cozinha, contando com o aumento de salário do Klaus. A mania do povo sempre se endividar no final do ano, enchendo-se de esperança de que o ano novo vai trazer prosperidade. E do que mais se pode viver se não de sonho quando o dinheiro passa longe?
    A linguagem é simples, bem colocada, conversa com o leitor. O estilo é coloquial, quase uma crônica sobre uma família modesta, mas feliz mesmo com suas limitações.
    Não percebi erros que requeiram uma segunda revisão.
    Achei interessante a escolha dos nomes dos personagens: Klaus e Maelle. Klaus significa “vitorioso“, “o que vence com o povo”, “o que leva o povo à vitória”; “pessoa conquistadora”, lembra o Papai Noel e o Natal já estava chegando. Maelle é a versão feminina de Maël, cuja origem é celta. Significa “chefe”, “princesa”.
    Não sei se Maelle foi autorizada pelo médico a tomar Rivotril, mas acho bem perigoso isso, ainda mais no começo da gravidez. Talvez eles nem estivessem falando a sério, era só um jeito de brincar com a situação da roubada.
    Não sei se foi proposital, mas achei simbólico a fruteira estar cheia de limões. O casal parece mesmo ser daqueles que fazem uma limonada quando a vida só oferece opções azedas.
    Narrativa leve e divertida. Nada atrapalha a fluidez da leitura, e o tamanho não muito longo contribui para isso também.
    Boa sorte!

  17. Thales Soares
    19 de abril de 2024
    Avatar de Thales Soares

    Escrita:

    A escrita deste conto está muito boa. As cenas são muito claras e bem descritas, com uma leitura fluida e fácil de ler. O tamanho reduzido do conto também ajudou, pois em meio a tantos contos de 3500 palavras, é refrescante às vezes passar por um que seja um pouco mais breve. Pelas próprias descrições dá pra notar que a família é bastante humilde… dava pra imaginar o estilo de vida precários deles, até pude imaginar alguém colocando uma garrafa de refrigerante com água dentro na geladeira, ainda mais nos dias de calor, por mais que isso não estivesse descrito no conto.

    Adequação ao Tema:

    Para mim, a história nem sequer tangenciou o tema. De início, quando comecei a ver a cozinha, pensei “Bom… este conto não vai ser sobre viagem. Então… só pode ser roubo!”. Com a mulher postando as fotos nas redes sociais, e ostentando, pensei “Ixi… vão roubar a coitada!”. Então senti que matei a charada do conto. Desse momento em diante eu fiquei apenas pensando “Quando será que vão acabar com a alegria dessa família e roubar tudo o que eles tem?”. Fiquei imaginando as barbáries que os ladrões fariam. Chegariam no meio da noite, levariam a geladeira com as garrafas de refrigerante com água dentro, cagariam em cima da mesa, e destruiriam tudo o que não pudessem carregar. Fiquei ansioso para que isso acontecesse logo. Mas então cheguei ao último parágrafo do teste, e pensei “UÉ?! Cadê o roubo? Acho que vai ser algo breve, e sem tanta descrição.” E aí……… bom……… acabou. Não teve roubo. Não teve viagem. Não teve tema.

    Entretenimento:

    Este conto foi muito bem escrito, mas não me agradou. Para mim, foi uma história em que nada aconteceu. A família fez uma reforma na cozinha. Eles eram humildes. E no final… foi só isso. Tá, mas onde está o clímax? Senti que a história foi do nada para lugar nenhum. Felizmente foi um conto bem curto, então a leitura não incomodou. Mas também não me entreteve. Espero não estar tacando uma pedra na janela da sua cozinha, pois não é esta minha intenção. Estou apenas expondo minha opinião pessoal, e relatando o que eu senti enquanto lia este conto.

    Conclusão:

    PONTOS POSITIVOS:

    – Descrições muito boas, com uma escrita fluida e experiente.

    – Leitura rápida, com um tamanho de história breve.

    – Este conto não me deixou entediado…

    PONTOS NEGATIVOS:

    – … mas também não me agradou.

    – Não abordou nenhum dos dois temas propostos no desafio.

    – Não aconteceu nada durante toda a história, e não houve clímax.

  18. Priscila Pereira
    18 de abril de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Stela! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Engraçado que eu achei seu conto inverossímil… 😅 mas eu sei que existe sim (e muito) esse tipo de gente, mas pra mim, é tão absurdo… eu nunca compraria uma cozinha nesse preço se estivesse na situação deles. Coisas materiais não me atraem, e sou praticamente zero consumista.

    Seu conto está muito bem escrito, e está deliciosamente recheado de sarcasmo, todas as pobrices colocadas estrategicamente para acentuar ainda mais a roubada de terem comprado aquela cozinha e o pior, de terem ficado tão felizes com ela! Misericórdia!

    O final com o Rivotril me fez pensar se não são loucos de verdade, ainda mais a mulher estando grávida!!

    Achei o conto divertido, meio nonsense, apesar de extremamente cotidiano (é eu sei!) E o tema… Bem, não vou tirar notas por isso, mas tá bem forçado, vai…

    De qualquer forma o conto é muito bom! Daqueles que dá gosto ler. Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  19. Antonio Stegues Batista
    16 de abril de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Quem não fica feliz com um armário novo, um guarda-roupa, uma cama nova? O conto conta uma história do cotidiano de uma família que festeja um bem adquirido com muito esforço, creio.O enredo me pareceu parte de um romance que não se sabe como começou nem terminou, é apenas o meio. Um romance onde o autor demora-se em muitos detalhes para estender o texto a um número grande de palavras,  como embromar-se falando outras coisas num comentário, quando não se tem muito o que falar. Não sei, mas acho que viajei e não encontrei viagem nem roubo nesse conto. Stela, vc escreve bem, mas precisa criar histórias mais interessantes, além do cotidiano, escreva outros gêneros, ficção científica, terror, um bom autor(a) precisa transpor seus limites. Continue escrevendo.

  20. Vladimir Ferrari
    15 de abril de 2024
    Avatar de Vladimir Ferrari

    Não consegui captar os temas do desafio. Pode-se “viajar” em um recorte de tempo de uma família cheia de problemas, que comemora pequenas conquistas que, para a maioria, não significa muito. Mas é complicado decidir entre comprar comida e pagar a conta de luz. O texto é maravilhoso nesse ponto, ao descrever o cotidiano de nove entre dez famílias. A narratia é muito boa sim, a “voz” da autora/autor está ali e é poderosa nas descrições certeiras. Pode estar aí, mais um elemento da “viagem”. De minha parte, percebi apenas um erro em “Esperavam balas e pirulitos, que dessa vez não veio”.
    Sugiro um enfoque diferente para o mesmo tema, por exemplo. Klaus poderia visualizar toda a estória durante sua penosa viagem entre o fim do expediente e a chegada ao lar. Toda a narrativa poderia “habitar” o pensamento dele, em tom de “o que é que vou dizer lá em casa?”, descrevendo um prato da balança com o “sentir-se roubado” pela falta de reconhecimento no trabalho e, o outro, com toda a alegria da esposa em conquistar uma cozinha de fazer inveja.
    Sucesso no desafio.

  21. Kelly Hatanaka
    14 de abril de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Puxa, gostei da história, mas não achei nem roubo nem viagem. A situação a família é uma roubada? É. Mas não acho que isso salve o tema.

    Escrita
    Ponto alto da história. Excelente. O narrador conduz a história muito bem, de maneira fluida e natural. O ambiente e a situação são familiares, ao menos para mim. É fácil se sentir dentro da história, como parte dela. A vizinha, as crianças, a alegria por uma nova aquisição, é tudo muito cotidiano, verdadeiro.

    Enredo
    É um enredo simples e, ao mesmo tempo, rico. A ação externa é bem simples. Casal compra uma nova cozinha e, como o marido não recebe o aumento que esperava, preocupam-se com as contas. Mas, é internamente que as coisas realmente acontecem. Nos sentimentos conflitantes, ora alegria, ora medo, nos diálogos entre o casal, tão íntimos, nem necessitam de maiores explicações. Gostei muito. Só uma frase, quando o foco do narrador muda para o marido, me causou estranheza: “(…)Gostava de peidar, mas percebia os gases presos(…)”. Pareceu meio fora de lugar, fora do tom do resto do texto.

    Impacto
    Uma ótima história, bem cotidiana, e que foi bem escrita, muito bem conduzida. Um recorte da vida de uma família na luta. Gostei da história, muito. Mas faltou alguma coisa, para mim. Não sei dizer o que, desculpe, sei que isso não ajuda muito.

    Parabéns e boa sorte!

  22. Emanuel Maurin
    13 de abril de 2024
    Avatar de Emanuel Maurin

    A esposa fez uma surpresa ao marido, mas eles estavam cheios de dívidas e entraram numa roubada. O conto é cativante do começo ao fim, e o final de arrancar suspiros. Gostei muito. Tenho apenas elogios para fazer. 

  23. Regina Ruth Rincon Caires
    13 de abril de 2024
    Avatar de Regina Ruth Rincon Caires

    Antes de qualquer coisa, quero dizer que a imagem escolhida tem uma conotação magnífica. Enternece. Já é um convite à leitura.

    Quanto aos nomes dos personagens, aprendi mais um pouco. Maelle é um nome francês/bretão, significa “princesa”. Klaus é a forma alemã de Nicolau (grego Niklaus -Nikólaos), e remete também a São Nicolau – Papai Noel (Santa Claus).  O pseudônimo “Stela” significa “estrela” (emite luz própria); quanto ao uso do sobrenome “do Nascimento”, acredito que se refira ao nascimento de Jesus, no Natal (ambientação temporal do conto), ou por ser um sobrenome amiudado, ou apenas por uma escolha arbitrária do autor.  Mas, devo confessar que pensei no meu “Ajuricaba do Nascimento”, sobrenome que escolhi a dedo para caracterizar um “não sei”.

    Bom, vamos ao texto. Lindo, por sinal!

    É um conto tão pulsante, tão próprio, tão próximo da nossa realidade. Ave Maria! Escrito na maneira mais simples e que transmite a mensagem como se o autor estivesse conversando com o leitor ali, na divisa das casas. Vizinhos. Linguagem coloquial, direta. Trabalha com todos os vocábulos que correm de boca em boca nas famílias, desde as mais humildes até as “letradas” (???).

    A construção do texto é perfeita, segue um compasso ritmado de colocar a isca e fisgar, colocar a isca e fisgar…  A descrição é primorosa, cuidada. Quem não visualizou a cozinha, os potes vazios de margarina e de sorvete? Quem não enxergou as danadas das canecas estampadas com símbolo dos times, com adesivos do dia das mães – eu te amo – JESUS – Paz?! Quem não viu toda aquela bugiganga apaixonante comprada no 1,99? E quem não percebeu a “inveja” da vizinha? Confesso que fiquei aflita de saber que Maelle, grávida, toma Rivotril, misericórdia! Acredito, também, que o tema ficou por conta da “roubada” em que se meteu a família. Dívidas, dívidas, dívidas… Ou seria o dinheiro roubando a alegria de realizar sonhos?

    Escrever é isso: passar a emoção, tocar os sentidos. Sinto tudo isso quando utilizo o transporte coletivo (e uso muito). Observo os passageiros. Muitos deles exaustos, humildes, mas com gana pra seguir em frente. Mãos carregadas de sacolas, dificuldade até mesmo para passar o cartão no visor da catraca. Fico tocada quando observo cada semblante, percebo que há gente infinitamente mais forte que eu.

    O texto é curto? De maneira alguma! Falou o que tinha para dizer e pronto. Não faltou absolutamente nada, e a maneira de contar muito com poucas palavras é para os competentes. Stela, você tem muito talento. Eu ficaria aqui papeando o dia inteiro sobre o conteúdo escrito por você, mas vou parar por aqui. Se eu começar a falar sobre as prestações, os boletos, as compras de supermercado, toda essa “cobrança pela sobrevivência” que tira o sono dos brasileiros, bah! Prefiro não comentar…

    Parabéns pelo texto!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço…

  24. Angelo Rodrigues
    13 de abril de 2024
    Avatar de Angelo Rodrigues

    Olá, senhora Stela,

    Conto bom de ler.

    É simples, tem o jeito bom das crônicas de costumes. Gente pobre, simples, embora sem perder a dignidade. Isso é legal.

    O discurso narrativo, acredito, não é destruído pela falta de informação. O autor sabe o que fala, conhece os detalhes do que diz, das gentes simples e como se comportam. Muito bom isso.

    Um conto de cozinha, onde o autor quase não se afasta do seu objetivo, que é descrever a simplicidade embutida nos grandes desejos. Ter uma cozinha bacana é um luxo só. Tudo foi muito bem trabalhado pelo autor. Invejável o discurso.

    Há algumas passagens que não facilitam a compreensão, uma delas, por exemplo, está em “Sem contar da cozinha, Maelle mandou áudio para Klaus.”. O verbo contar é de cognição ampla. Pode significar fazer contas, ou pode significar dizer algo, ou dar relevância – levar em conta – a um fato etc. Ao ler o texto, de cara, a frase fica pouco compreensível. Sob reflexão: ‘Sem nada revelar sobre a nova cozinha, Maelle mandou áudio para Klaus.’. Acho que isso facilitaria a leitura.

    No que diz respeito ao tema, creio que o autor não se tenha dado conta de que ele deveria falar de roubou e/ou viagem. Tudo bem. Um desvio de rota, embora grande.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

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Publicado às 13 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo e marcado .