EntreContos

Detox Literário.

Segredos (Felipe Lomar)

Uma sala de espera vazia. Quem diria que a minha nova vida começaria de forma tão monótona. Um cubículo de paredes cinzas, um silêncio quebrado apenas pelo zumbido em 60Hz de uma lâmpada fluorescente com defeito e uma ocasional digitação no teclado pela secretária. Minha ficha deve ser mais complicada do que de outros pacientes. Apreensão… a ansiedade sempre foi presente na minha vida. Sempre fui a pessoa que pensa em tudo o que podia dar errado. “vai infartar cedo, cedo”, mamãe dizia. Hoje, duas coisas  me preocupavam: Que a secretária não percebesse as gotas de sangue no dinheiro do pagamento da consulta, e o que o médico fará quando eu lhe contar o meu segredo.

Bem, duas pessoas apenas já souberam do segredo. Duas, talvez três. Não importa. Todas estão mortas. Dou um breve suspiro ao lembrar da minha condição amaldiçoada, um passado tão triste, tão sujo, agora lavado de sangue. A secretária não esboça a mínima reação. Sinto, pouco a pouco, minha mente tentando escapar dali, querendo reviver os momentos traumáticos. Costuma acontecer em momentos de estresse. É em vão lutar contra a mente. Lentamente, vou dissociando, saindo daquele local, voltando às minhas origens.

Lembro-me da casinha humilde da minha família, no interior de Minas Gerais, Onde nasci. Fui batizado Cícero, em homenagem ao padre, por conta da devoção de minha mãe. As paredes externas, caiadas, manchadas pelo barro vermelho, a estrada de chão batido, as galinhas ciscando no quintal.

Era uma criança diferente dos meus irmãos mais velhos. Demorei a falar e a me virar sozinho com as coisas. Não desenvolvi o mesmo porte físico deles, acostumados a trabalhar na roça  desde cedo. Para meus pais, isso era apenas “coisa de caçula”, e eu iria pegar o jeito da vida alguma hora. Quem me ajudava, na maioria do tempo, era minha irmã, Maria, que apesar de ser apenas um ano mais velha, tinha comigo uma devoção quase materna. Estávamos sempre juntos. Nossa proximidade era tanta, ao ponto de ela dizer que, quando crescesse, em vez de se casar, como as outras moças da vila, iria fazer faculdade na capital e me levaria para morarmos juntos. Eu sempre respondia que não iria, que não conhecia outra vida em outro lugar.

Mesmo com a vida difícil, tínhamos nossos momentos de diversão. Meus irmãos costumavam ir até o córrego no final da estrada, onde tirávamos a roupa e passávamos a tarde nadando. A mãe não gostava que maria fosse porque “mulher tem que ser recatada, não pode ficar mostrando o corpo por aí”, mas ela dava um jeito de ir. Eu ficava admirando, intrigado com os corpos de meus irmãos nus, As diferenças entre os sexos. Sempre me indaguei por que tanta diferença, por que não havia um ‘meio-termo’? Certa vez, na escola, encontrei um livro de anatomia em uma prateleira empoeirada. Virou minha obsessão. Passava o dia todo olhando todas aquelas ilustrações, lendo todos os textos, a ponto de decorar o nome de cada órgão, osso, músculo…

Outra figura presente na minha infância era o tio, irmão mais velho de mamãe que conseguiu se dar bem na vida. Possuía a maior fazenda da região, com centenas de cabeças de gado e lavouras a perder de vista. Nos ajudou muito em momentos de dificuldade, dando comida e arrumando emprego para meus irmãos à medida que iam crescendo. Os poucos brinquedos que tivemos na infância foram presentes do tio. Volta e meia, vinha nos visitar. Era muito simpático e sempre nos tratou com carinho. Uma pessoa que todo mundo considerava de bom coração. Só papai que ficava meio encabulado, por não ter o mesmo sucesso que ele, não ter podido dar melhores condições aos filhos. Mas mamãe sempre dizia para não perder a fé, que um dia as coisas iriam melhorar.

O tempo foi passando, entrei nessa coisa chamada puberdade. E aí as coisas pioraram muito. As mudanças me faziam estranhar minha imagem a ponto de não me reconhecer. Piorava o fato de eu ser bastante desajeitado e esquisito em relação a meus colegas, o que gerava piadas e comentários desagradáveis. Percebi que, com as relações ficando mais complexas, havia coisas que deveriam ficar em segredo, pois poderiam ser usadas para te derrubar. E tinha algo que eu sabia sobre mim que ninguém podia saber. Algo que não se encaixava, fugia do padrão. Era o meu segredo. Passei a me isolar cada vez mais, virei uma pessoa tímida e reclusa. Mas essas coisas não eram nada, comparado com o que estaria por vir.

Com o aperto financeiro da família e meu crescimento, decidiram que já tinha idade suficiente para trabalhar na fazenda do tio. Por ser muito franzino, não aguentava todo o trabalho pesado de peão, mas conseguia ajudar com alguma coisa. Foram alguns meses assim. Como sempre, comentários sobre meu jeito e minha aparência. Surgiram apelidos e fofocas entre os peões, me chamavam de coisas como “bichinha”, “mariquinha”, “fracote”. Foi assim durante os primeiros meses. Me esforcei para me acostumar com aquilo, afinal a família precisava do salário. Até que, no meu aniversário, o tio chegou com dois cavalos e me chamou para dar uma volta, dizendo que faria uma surpresa.

Cavalgamos por uma trilha por cerca de meia hora, até o pé de um morro encoberto por goiabeiras. O tio amarrou os cavalos e me mandou subir. Ficamos um tempo lá, comendo algumas goiabas maduras e admirando a vista, um belo pasto verde, encerrado bem ao longe pelo rio São Francisco.

— Essa terra é sua, tio?

— Sim, deixei o pasto descansando. Daqui a algum tempo vou mandar trazer o gado. Por enquanto, tá tudo vazio, ninguém pisa ali.

Do nada, o tio me deu uma rasteira, aproveitando minha distração. De começo, não entendi o que estava acontecendo. Até que, em um ato miserável, ele desafivelou o cinto e arriou as calças. A cena era, ao mesmo tempo, intimidadora e grotesca. Aquele homenzarrão de mais de um metro e noventa parcialmente desnudo, o pênis ereto com aquela cabeçona vermelha e inchada, encimado por um tufo bem denso de pentelhos desgrenhados e do qual pendia um saco enrugado e igualmente cabeludo. Ele deixou bem claro o que estava para acontecer.

— Já chupou uma piroca, menino?

— Uai, Não. Que isso, tio?

— Tudo tem a primeira vez. Os peão me falaram que você é bichinha, capaz de você gostar.

Por alguns segundos, fiquei paralisado. Se eu gritasse, ninguém ouviria. Se corresse, o tio montaria no cavalo e me alcançaria. Não tinha escapatória. Lentamente, levantei-me, aproximei-me daquele “trem” que apontava direto para minha cara, e coloquei-o contra meus lábios. Enquanto eu prosseguia, ele murmurou em tom de alerta.

— Agora a gente tem um segredo. Acho bom ninguém ficar sabendo, senão você vai ter problema.

O ato durou alguns minutos, até que o tio segurou minha cabeça, travando-a no lugar, e soltou seu sêmen em minha boca. Naquele dia, o pasto, as goiabeiras e o Velho Chico testemunharam meu primeiro abuso. De muitos.

Não fui mais o mesmo depois do ocorrido. Isolei-me mais ainda. Não conseguia mais confiar em ninguém. Toda noite, minha cabeça revivia aquele momento, de uma forma assustadoramente real, como se estivesse lá, de novo, embaixo das goiabeiras. Sentia um nojo, uma repulsa por mim mesmo, me sentia sujo. Minha inocência e dignidade haviam sido destruídas. Agora, carregava o peso de dois grandes segredos.

Aquilo se arrastou ao longo dos anos. O tio me chamava carinhosamente de Cicinho, o que eu detestava. Várias vezes tive que repetir o ato de tocar no “pistolão”, como ele chamava seu órgão, e tive que permitir ser tocado e chupado também. No quarto dele, no carro, no meio do mato. Eu tentava nunca ficar a sós com ele, pois a qualquer momento poderia querer fazer algo. Não tinha hora nem lugar. Perguntava-me como sair daquilo, como pedir ajuda, mas não tinha jeito. quem acreditaria que aquele homem, tão bondoso e gentil, seria capaz de qualquer atrocidade? Além do mais, o dinheiro do meu trabalho era necessário para a família. Talvez, por não ter a produtividade dos colegas, tivesse que compensar daquele jeito. Ou talvez fosse um castigo divino por algo que eu fiz. Um fardo tão pesado não poderia ser à toa.

O tio ainda visitava a família de vez em quando. Nessas ocasiões, fazia questão de me encarar com um olhar seco e intimidador. Eu entendia e fazia silêncio. Mas era doído ver todo mundo o tratando com afeto, sem saber do segredo.

Aos dezoito anos, Já estava anestesiado. Tocava minha vida sem pensar muito. Não via mais esperança da situação mudar. Àquela altura, Maria também começou a trabalhar para o tio, que precisava de alguém para fazer faxina na sede da fazenda. Tinha muito medo de algo acontecer, já que esse trabalho a deixava sempre muito próxima dele sem ninguém por perto.

Certo dia, apareceu um peão novo. Ele também era diferente e sofria com a implicância dos colegas. Nos demos bem logo de cara. Todo tempo livre que tínhamos, estávamos juntos, conversando sobre qualquer assunto. Era a única pessoa que me importava além de Maria, meu confidente.

Em um desses tempos livres, aproveitamos a ausência do tio e fomos até a sede, onde teríamos mais privacidade, longe dos peões. Como ele não conhecia a casa, fui mostrando-lhe os cômodos, até que chegamos no quarto do tio. Era uma sensação estranha entrar naquele lugar onde já havia sofrido tanto, mesmo acompanhado de uma pessoa tão querida. Convidei-o a sentar na cama, e após respirar fundo, resolvi contar meus segredos. Comecei com o primeiro, aquilo que eu sentia que não se encaixava em mim. Mas o rapaz não me deixou terminar. Disse que estava tudo bem, e tocou seus lábios nos meus. Não sei o quanto ele ouviu, o quanto entendeu, mas certamente era menos desconfortável se tratando de uma pessoa querida, diferente do tio.

E foi só pensar nele. Aquela figura intimidadora apareceu do nada e nos pegou de surpresa. Era visível sua feição de nojo e desapontamento. Era como se eu o tivesse traído, e pior ainda por ter sido em sua cama. Meu amigo foi puxado violentamente, e ordenado a sair da casa. E o tio, após trancar a porta, começou a me questionar, sob socos e tapas, o que ele sabia. Acuado e cheio de raiva, falei o que não deveria:

— Ele sabe de tudo.

Na minha cabeça ingênua, o tio teria cuidado ao lidar com alguém que soubesse o segredo, e por consequência, comigo, já que teria um aliado. Achei que tinha finalmente feito uma boa jogada. Ledo engano. Louco de raiva, ele me deu um soco na boca do estômago, tirando completamente minhas forças. Jogou-me de bruços no chão, montando em cima de mim e arrancando-me a roupa.

— Agora que você é de maior, posso fazer mais coisa com você. Hoje você vai conhecer a dor.

Não sei se existe humilhação maior no mundo que ser estuprado. A cada impulso que ele dava, sentia minha humanidade indo embora. Era agora uma coisa, indigno de ser chamado de gente. Dei a desculpa que levei um coice de mula, para explicar os machucados à família. Meu orifício sangrou por alguns dias após o ocorrido. Mas pior que a dor física era ter a alma dilacerada. Meu amigo desapareceu e foi encontrado afogado em um rio alguns dias depois. Aquela morte ‘acidental’ nunca me convenceu. As lembranças desse episódio são tão doloridas que nem ao menos consigo lembrar seu nome.

Agora, já estava decidido pela vingança. Não deixaria aquele homem impune. Maquinava, em minha mente, milhões de planos. Até que soube que um outro peão planejava um assalto na fazenda. Decidi me voluntariar. Em troca, ganhei um revólver e a promessa de uma parte do saque. Seria o suficiente para uma nova vida longe dali. Talvez com um nome novo, uma aparência nova.

Chegou o dia marcado. De acordo com o plano, iria me disfarçar como Maria para entrar na casa do tio antes de ela chegar para o trabalho e abriria a porta para meu comparsa. Sempre diziam que eu parecia muito com minha irmã. Deixei o cabelo crescer e fiz um rabo de cavalo, com a desculpa de tentar parecer um jogador de futebol famoso.

Acordei cedo naquele dia. Peguei o uniforme de escola de Maria. Raspei com cuidado as pernas e a barba. Vesti o sutiã, a saia e as meias três-quartos. Abotoei a camisa branca. Soltei o cabelo e dei uma última olhada no espelho. E ali aconteceu algo. Meu coração disparou como nunca. Era como se aquela imagem refletida ali me mostrasse algo diferente. Algo que finalmente se encaixava, depois de uma vida toda. Respirei fundo e tentei voltar à calma. O dia seria cheio.

O disfarce funcionou. Abri a porta dos fundos para o comparsa, que se adiantou, correndo até a sala. Ouvi um tiro. Algo não estava no plano.

Vi minha mãe caída no chão, agonizando com um furo no peito. Entrei em desespero. Não fazia ideia do que ela estava fazendo ali. O homenzarrão agachado no canto, acuado, como um covarde sob a mira da arma. Corri para abraçá-la. Olhei nos seus olhos antes deles se fecharem. Ainda deu tempo de ela balbuciar, confusa:

— Cícero?

Voltei-me para o comparsa, sacando a arma. Precisava de uma resposta.

— Ficou louco? O que você fez?

— Ela entrou na frente, foi sem querer.

Nenhuma desculpa arrefeceria minha raiva. Cravei uma bala no meio da testa daquele tonto. O tio tentou sair de mansinho no meio da confusão, mas meu segundo tiro acertou sua perna. O fiz subir as escadas, mesmo urrando de dor, e o levei até o quarto. Assim que entramos, acertei um chute bem na ferida da bala, com todas as minhas forças. Era satisfatória a mudança de posição. Agora era eu quem estava a subjugá-lo. Apontando a arma para sua cabeça, ordenei que abrisse o cofre. Lá estavam alguns bolos de notas de dólar. Finalmente, coloquei o cano do revólver em sua boca, como ele costumava fazer com meu órgão genital, e puxei o gatilho. Sangue e miolos imprimiram um desenho macabro na parede branca. Algumas gotas caíram sobre o dinheiro. Minha vingança estava consumada.

Desci as escadas com o dinheiro na mão. Precisava sair dali o mais rápido possível. Embarcaria no próximo ônibus rumo a Belo Horizonte. Uma carta sobre a mesa me chamou a atenção, porém. Era de uma faculdade da capital. O tio pretendia pagar os estudos de Maria. Devia ser por isso que mamãe estava lá. Resolvi deixar uma boa parte do dinheiro junto à carta. Antes de sair, peguei uma lista telefônica. Precisaria ver um psiquiatra assim que chegasse.

O chamado do médico me acordou do sonho maldito, me trazendo ao presente. Agora, entendia que não precisava me preocupar com mais segredo nenhum, tudo estava bem resolvido em minha mente. Já não era mais tão secreto assim. Eu poderia recomeçar minha vida, do zero.

— Senhor Cícero?

— Senhora. Cecília. Muito prazer.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

15 comentários em “Segredos (Felipe Lomar)

  1. Daniel Reis
    2 de março de 2024
    Avatar de Daniel Reis

    Segredos (Cecília)

    Comentário: o texto mais violento que encontrei, até agora. Não só pelos descritivos dos abusos sofridos por Cícero/Cecília, mas pela descrição crua dos aspectos da pobreza, da dependência econômica e familiar, do preconceito atávico que existe principalmente no Brasil rural, mas não só lá. Sinceramente, creio que algumas cenas descritas foram gráficas demais (o que se pode justifica por uma possível intenção do autor de não romantizar ou “maquiar” a realidade reproduzida pelo seu texto), mas que auxiliam o leitor na compreensão das motivações do narrador.

    Critérios de avaliação:

    Premissa: a premissa do jovem trans que nasce de família miserável, em ambiente rústico e preconceituoso, é o ponto de partida para explicar as motivações de um crime. A temática é bastante explorada e foca no aspecto “mundo cão” dessa situação, o que em partes pode desagradar uma parte grande de leitores sem identificação imediata com o tema, mas que é perfeitamente compreensível e até gera empatia e indignação pelas coisas serem realmente assim – o que foi o meu caso.

    Construção: a evolução do texto é convencional (apesar de apresentar inicialmente uma cena do final para contar em flashback), linear e lógica. Como disse anteriormente, algumas descrições podem ser gráficas demais para algumas sensibilidades e até gerar alguns gatilhos em leitores sensíveis ao tema. Outro ponto da construção que acho que poderia ser melhor trabalhado é a construção do relacionamento e o destino do amigo, que acabou sendo “apressado” talvez pelo limite de palavras, e a descrição do roubo – no qual me pareceu que o narrador sente pouco a morte acidental da mãe, julgando que apenas satisfez seu instinto de vingança, mas não demonstrou um sofrimento compatível com o horror presenciado.

    Efeito: como disse, o texto em si é muito cru (no sentido de fiel a uma realidade horrível) e pode desagradar alguns leitores com seus descritivos. No geral, me pareceu um relato coerente com a realidade e que merece existir, seja como denúncia, seja como pedido de ajuda e compreensão.

  2. Marco Aurélio Saraiva
    1 de março de 2024
    Avatar de Marco Aurélio Saraiva

    Um conto pesado, sobre a descoberta da sexualidade e sobre abuso familiar. É bem visceral, especialmente nas cenas de abuso. Quase pornográfico, eu diria. A historia não traz muita surpresa. Na verdade, ela evolui exatamente como eu esperaria que ela evoluísse-se. Cada novo aspecto se desenrola de forma bem previsível – o tio bonzinho revelou-se um vilão; o personagem principal era um jovem afeminado no meio de homens brutos e foi abusado; o trabalhador novo e afeminado revelou-se um par romântico, etc.

    No geral, o conto me lembra muito do filme “O Poder do Cão” (que achei excelente!)

    O final, onde ele se torna mulher e muda de nome de verdade, é um bom final. Gostei de o conto iniciar e terminar no consultório, fora da tragédia principal, para dar uma conclusão. Não fosse esse recurso, a história provavelmente terminaria com o assassinato do tio, deixando algumas perguntas no ar. A única coisa que tenho dificuldades de imaginar é alguém perdendo a mãe, executando o tio, e imediatamente indo até um psiquiatra.

    O que não gostei: o tema batido. Clássico “sou gay mas a sociedade não está pronta para isso ainda”. Para mim, este tema não me parece mais atrativo. A sociedade já aceita homossexuais há décadas, mas muito escritor ainda explora esse assunto como se fosse algum tabu. Acho um tema justo se a história se passa nos anos onde os homossexuais ainda eram muito discriminados, mas esta história já foi contada tantas vezes, que perdeu muito de sua força inicial

    O texto carece de uma boa revisão. Avistei muitos erros de digitação (letras faltando, letras maiúsculas após vírgula, etc), e uma série de problemas de português. O problema mais frequente é a inconsistência nos tempos verbais da narrativa. Um exemplo gritante está na frase abaixo:

    “Hoje, duas coisas me preocupavam…”

    “Hoje” (presente) não combina com “preocupavam” (pretérito). Em meio a isso, o texto também troca o estilo de narrativa. Às vezes é uma narrativa intimista em primeira pessoa, e outras vezes é uma narrativa descritiva em primeira pessoa. Como o exemplo abaixo:

    “Bem, duas pessoas apenas já souberam do segredo. Duas, talvez três. Não importa. Todas estão mortas. Dou um breve suspiro ao lembrar da minha condição amaldiçoada,…”

    Este trecho começa com uma narrativa intimista. Somos convidados a ler o texto como se fossem os pensamentos do narrador. Porém, logo em seguida, o narrador descreve o próprio suspiro. Ninguém pensa assim. A narrativa saiu do reino dos pensamentos e entrou em um estilo descritivo, no mesmo parágrafo!

    Falando em estilo descritivo, o texto abusa um pouco das descrições. Em outras palavras: vi muito contar e pouco mostrar. Trechos como “Agora era eu quem estava a subjugá-lo” são desnecessários, basta mostrar a ação. E trechos como “Não fui mais o mesmo depois do ocorrido. Isolei-me mais ainda” são melhores quando trocados por exemplos do ocorrido, ao invés de narração simples e direta, que se conecta pouco com o leitor.

  3. Givago Thimoti
    1 de março de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    Segredos (Cecília)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

             Impressões iniciais

    + Conto forte, com temáticas pesadas e necessárias. 

    + A escrita me passou um grande incômodo, o que considero positivo, considerando a temática pesada.

    – Ainda assim, acho que faltou uma escrita um pouco mais refinada em alguns momentos. Percebi alguns erros de revisão.

             Alma

    Esse conto é bom, na minha visão. Ele é brutal, mostra uma realidade masculina tóxica de interior (embora ele seja extremamente replicado também no âmbito da cidade), na qual uma figura masculina fora daquele estereótipo machão é condenada à humilhação verbal e, por vezes, até mesmo ao estupro corretivo. O grande trunfo do conto (e talvez seja também um ponto fraco) é mostrar justamente essa realidade, por mais cruel e incômoda que seja. E a autora (ou autor) teve muito sucesso nisso, ao meu ver.

    O conto sobre o recomeço e a transformação de Cecília merece apenas uma ou duas ressalvas; primeiramente, a parte do desfecho, a vingança ao tio a partir de um roubo foi escrita muito abruptamente. Era uma parte que tinha de ser escrita com mais calma, especialmente naquela parte do assalto em si.

    A minha segunda ressalva é a parte do estupro; não sei se existe uma forma apropriada de escrever um ato tão vil, contudo, creio que seria necessário no início um breve aviso de gatilho por violência sexual, pois pode ser que algumas pessoas sentissem engatilhadas. Talvez, uma escrita um pouco menos brutal na parte da descrição do ato. Enfim, não sei, mas é de se pensar.

  4. Antonio Stegues Batista
    1 de março de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto começa com o protagonista no consultório de um psicanalista, ele está à espera  da consulta e imagina o que o médico fará quando contar o seu segredo. As pessoas que sabem, estão mortas. Ele relembra o passado, os traumas que passou nas mãos de um tio tarado. Não entendi muito bem o que era o tal segredo, se é uma diferença anatômica, ou orientação de gênero, o sentimento de ser mulher e não homem. Se é homossexual, em nenhum momento na infância ou adolescência, disse que gostava de meninos, nem mesmo quando tinha relações com o tio e isso é meio estranho, não explica nem confirma o segredo. Achei  inverossímil e forçado ele se vestir de mulher para matar o tio . Como que por acaso as coisas vão se encaixando sem justificativa, explicações. A escrita é boa, a história é um drama comum, sem grandes novidades como Arte Literária.

    ……………………………………………………………………………………..

  5. Fernanda Caleffi Barbetta
    27 de fevereiro de 2024
    Avatar de Fernanda Caleffi Barbetta

    Oi, Cecília

    Seu texto é bom. A história é boa, logo no início foi me envolvendo em uma espécie de suspense, que prendeu minha atenção. Depois fui percebendo ser um texto com uma temática triste e real. Muito bem tratada. Gostei do final.

    Achei apenas a parte da psicóloga um pouco forçada. “Antes de sair, peguei uma lista telefônica. Precisaria ver um psiquiatra assim que chegasse” – quem pensaria nisso naquele momento?

    “a ansiedade sempre foi (esteve) presente na minha vida”

    “Sempre fui a pessoa que pensa (pensava) em tudo o que podia (ou trocar aqui por pode) dar errado”

    Essa frase sou estranha: “Hoje, duas coisas  me preocupavam: Que a secretária não percebesse as gotas de sangue no dinheiro do pagamento da consulta, e o que o médico fará quando eu lhe contar o meu segredo” – há uma confusão de tempos verbais. A palavra “Hoje” com passado fica estranho. Uma das possibilidades está no pretérito imperfeito (percebesse), a outra, no futuro (fará).

    “tinha comigo (por mim) uma devoção quase materna”

    “Meus irmãos costumavam (eu e meus irmãos costumávamos) ir até o córrego no final da estrada, onde tirávamos a roupa e passávamos a tarde nadando.”

    Faltou revisão, algumas palavras apareceram com a primeira letra em caixa alta, nome em caixa baixa.

    “Mas essas coisas não eram nada, comparado (comparadas) com o que estaria por vir”

  6. Vladimir Ferrari
    27 de fevereiro de 2024
    Avatar de Vladimir Ferrari

    Há ligeiras repetições que não prejudicam a leitura, mas deixariam, na minha opinião, a narrativa mais encorpada. O pronome “minha”, especialmente, poderia ser suprimido em algumas sentenças dos dois primeiros parágrafos. O expediente se repete ao longo do texto. De forma geral, é um texto de boa premissa, apesar de não atingir a premissa do desafio. Há claramente uma narrativa sobre o passado e não sobre o recomeço. O passado poderia ser alusivo e o protagonista poderia ter se encontrado (e recomeçado) ao sentir-se feliz e desperto após vestir as roupas da irmã. Sucesso.

  7. fabiodoliveirato
    24 de fevereiro de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Segredos
    Buenas!
    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.
    Vamos lá!
    TÉCNICA
    O conto está bem escrito. tem ritmo, boa organização das ideias, uma cadência razoável. Parece que ainda está amadurecendo, pois não há um estilo bem definido na escrita, apesar da leitura fácil. Alguém que ainda está se encontrando.
    Acredito que uma das maiores falhas seja na abertura do conto. Ele entrega o final, tirando todo o prazer do leitor em descobrir o destino de Cícero, agora Cecília. Se fizesse um cruzamento entre personagens, hora Cícero, hora Cecília, em sua nova vida, fazendo a ligação dos dois no final, poderia ter trazido algo mais interessante para o leitor.
    CRIATIVIDADE
    Algumas coisas me incomodaram. Não foi falta de sutileza. Alguns choques são bons para o leitor. Nem a trama central. Ela é extremamente necessária, atualmente. Pra mim, o problema foi o uso do clichê em quase tudo. Um menino do interior. Da roça. Uma família carente. Irmã confidente. Pais trabalhadores. E um “tio” legal, dono de fazenda, que esconde um lado perverso. É tudo muito estereotipado, sabe?
    A decisão criativa de abrir o conto revelando o crime de Cícero, agora Cecília, compromete o resultado final.
    Fico pensando se a falta de maturidade do autor o levou a tomar essas decisões. Algo óbvio. O autor claramente é criativo, a trama é desenvolvida em seus pormenores, mas faltou ousadia na hora de criar.
    CONSIDERAÇÕES FINAIS
    O conto está longe de ser ruim. Talvez falte personalidade na narrativa, na história, mas não tira a importância da mensagem do conto.

  8. fabiodoliveirato
    24 de fevereiro de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Segredos
    Buenas!
    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.
    Vamos lá!
    TÉCNICA
    O conto está bem escrito. tem ritmo, boa organização das ideias, uma cadência razoável. Parece que ainda está amadurecendo, pois não há um estilo bem definido na escrita, apesar da leitura fácil. Alguém que ainda está se encontrando.
    Acredito que uma das maiores falhas seja na abertura do conto. Ele entrega o final, tirando todo o prazer do leitor em descobrir o destino de Cícero, agora Cecília. Se fizesse um cruzamento entre personagens, hora Cícero, hora Cecília, em sua nova vida, fazendo a ligação dos dois no final, poderia ter trazido algo mais interessante para o leitor.
    CRIATIVIDADE
    Algumas coisas me incomodaram. Não foi falta de sutileza. Alguns choques são bons para o leitor. Nem a trama central. Ela é extremamente necessária, atualmente. Pra mim, o problema foi o uso do clichê em quase tudo. Um menino do interior. Da roça. Uma família carente. Irmã confidente. Pais trabalhadores. E um “tio” legal, dono de fazenda, que esconde um lado perverso. É tudo muito estereotipado, sabe?
    A decisão criativa de abrir o conto revelando o crime de Cícero, agora Cecília, compromete o resultado final.
    Fico pensando se a falta de maturidade do autor o levou a tomar essas decisões. Algo óbvio. O autor claramente é criativo, a trama é desenvolvida em seus pormenores, mas faltou ousadia na hora de criar.
    CONSIDERAÇÕES FINAIS
    O conto está longe de ser ruim. Talvez falte personalidade na narrativa, na história, mas não tira a importância da mensagem do conto.

  9. Simone
    20 de fevereiro de 2024
    Avatar de Simone

    Li o conto num único fôlego. Muito boas as pistas que prendem o leitor. Desde o início eu soube que esse tio não valia nada, pois se era rico deveria ajudar mais e não simplesmente arrumar trabalho pesado para os sobrinhos. Um alívio vê-lo morto. A palavra sonho, no final, me deixou um pouco confusa sobre a realidade dos fatos narrados. Houve mesmo um assassinato? Ele ficou totalmente impune? O que aconteceu com Maria? Ela recebe tanto destaque no início depois desaparece. Os abusos vingados, mas a morte da mãe numa cena de tal violência creio que merecia mais emoção. Senti que o narrador não passou ao leitor a dor dessa perda, alguma culpa pelo ocorrido. Foi responsável por duas mortes, afinal. Mas devemos entender que seus traumas o fizeram insensível? Estranhei o relato da cena de violência sem o que eu esperava da reação do personagem.

    A fluidez do texto me impressionou, o abuso trouxe toda a revolta da cena. O recomeço foi bem explorado. Ele assume a homossexualidade, a, digamos, feminilidade, e muda sua identidade para Cecília.

    Gramática sem erros que eu tenha percebido. Início muito bem colocado para trazer curiosidade ao leitor. O segredo afinal não é único nessa história. Agora ele acumula segredos. Muito bom!

  10. Jowilton Amaral da Costa
    19 de fevereiro de 2024
    Avatar de Jowilton Amaral da Costa

    Um bom conto. Um jovem que não se identifica com o sexo que nasceu e que sofre abuso sexual do tio, acaba se descobrindo trans, quando se disfarça de sua irmã para roubar e matar o tio abusador. Bem original o uso do tema. O enredo não é tão simples, tem os abusos, o assalto, que deixaram ele menos linear. A técnica é boa, não percebi erros ortográficos ou gramaticais, a narrativa também é razoavelmente boa. Apenas achei estranho a parte que ele disse que deixou o cabelo crescer, ficou parecendo que o cabelo cresceu do dia para a noite. Apesar do tema abordado ser bastante pesado, e as descrições cruas e diretas, o conto não me impactou muito, pareceu ter sido contado sem muita emoção, de forma fria. Boa sorte no desafio.

  11. Kelly Hatanaka
    17 de fevereiro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    A história atende ao tema. Cícero recomeça sua vida como Cecília após se vingar do tio abusador.

    Escrita
    Escrita muito boa, com poucas falhas de revisão. E algumas pequenas incoerências. Por exemplo, Cícero rouba dólares do tio, algumas cédulas mancham de sangue. E, no início, ele usa o dinheiro manchado para pagar pela consulta. O médico aceita dólares? Ele não deveria ter trocado por reais?

    Enredo
    A história começa muito bem, gerando ansiedade e curiosidade. Prossegue narrando a história de Cícero e os abusos sofridos por ele pelas mãos de seu tio. A narrativa é forte e crua e é fácil embarcar na ideia da vingança. Porém, a partir daí a trama parece correr. Voltamos para o início do conto, quando Cícero/Cecília espera pela consulta do psiquiatra.
    O que me causou estranheza é que, no início, Cícero/Cecília fala de seu passado sangrento. Dá a impressão de que tudo se passou há muito tempo. Ele inclusive menciona não se lembrar mais do nome de seu amigo morto. Porém, tudo se passou de uma vez, parece. Cícero participa do assalto para vingar a morte do amigo, sua mãe morre, ele pega o dinheiro, deixa algum para Maria e leva uma lista telefônica, para procurar um psiquiatra assim que chegasse a outra cidade. Ou seja, quando ele está no psiquiatra, tudo aconteceu há pouco tempo.
    Outra coisa: Maria. Parecia que ela seria importante para a trama, mas no final, nem apareceu pro jogo…

    Impacto
    O início criou um impacto extremamente positivo, bem como o desenvolvimento da trama. Mas o finalzinho corrido prejudicou.
    Desculpe minha chatice. Mas é que eu realmente gostei dos 85% iniciais de seu conto e acho que ele merecia um final melhor.
    Parabéns pela participação e boa sorte.

    Kelly

  12. Andre Brizola
    16 de fevereiro de 2024
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Cecília!

    Seu conto sobre a transformação de Cícero em Cecília e seu recomeço é bem forte e intenso, cru, cruel e, infelizmente, beirando demais à realidade. É bem difícil de ler sobre certas coisas, embora saibamos de antemão que elas aconteçam, e vão continuar acontecendo num país com a mentalidade atrasada como a nossa.

    Mergulhando no texto, encontramos um conto que acerta no impacto do que está sendo narrado. Não há muito espaço para construções mais bonitas e elaboradas, e a opção por uma linha mais crua e direta acaba sendo o mais adequado na maior parte do tempo. Mas teria sido interessante se, em alguns momentos, algo menos áspero surgisse aqui e ali, dando mostras de que daquelas lembranças todas, embora dramáticas, ruins e violentas, um recomeço, uma esperança, agora assumindo uma nova realidade, Cecília, está nascendo. Mas, entendo a opção do autor em manter a linha escolhida.

    Com relação ao enredo, devo dizer que ele marca um dos quadradinhos do bingo do “recomeço”, que eu esperava encontrar no desafio: o do homossexual que, passando por um momento trágico, recomeça assumindo sua devida natureza. Digo isso sem ser exatamente uma crítica, mas a partir do momento em que você já espera um determinado enredo, o autor tem que mostrar uma criatividade ímpar para driblar a expectativa negativa, e acho que não foi o caso aqui. O enredo, embora bem conduzido, é razoavelmente morno, e não inclui elementos diferentes de outros na mesma linha.

    É um bom conto, bem escrito e com aparas bem definidas. Atende ao tema do desafio, o que é bastante importante nos meus critérios de avaliação. Só não me pegou no critério da criatividade.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  13. Priscila Pereira
    14 de fevereiro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Cecília! Tudo bem?
    Olha, seu conto é bem difícil de ler… Um tema tão terrível como estupro… Não foi confortável de ler não.
    Quanto ao conto em si, está bem escrito. O começo instiga bastante com todo o negócio do segredo e tal, mas o segredo em si não foi bastante explorado, ficou mais subentendido. Até porque achei que o segredo fosse que ele se sentia no corpo errado, mas parece que ele só se dá conta disso quando se vê com as roupas da irmã. Então ninguém mais saberia do segredo além dele. Talvez eu tenha perdido alguma coisa…
    De qualquer forma é um tema bem doloroso de ler. Está bem explícito, o que não é do meu gosto pessoal, mas serviu para reforçar o sentimento de repulsa sobre o horror do abuso.
    Uma coisa legal também foi tudo ser uma lembrança que se passa no consultório de um psiquiatra. O conto, apesar de meu gosto pessoal, é bom e o tema foi muito bem retratado.
    Parabéns!
    Boa sorte no desafio!
    Até mais!

  14. Gustavo Castro Araujo
    13 de fevereiro de 2024
    Avatar de Gustavo Castro Araujo

    O conto trata de uma realidade que está longe de ser incomum: o abuso de crianças e adolescentes por membros da própria família. Aqui temos Cícero, um jovem que ainda tenta se descobrir como pessoa, frágil, cheio de dúvidas, que é molestado pelo tio, um fazendeiro poderoso, até que em determinada circunstância, consegue vingar-se na mesma medida em que se descobre como homoafetivo.

    Olha, sendo bem sincero, eu queria ter gostado mais deste conto. Tratar desses temas requer coragem e digo a você que fiquei bastante instigado com a primeira parte da trama, especialmente por conta das dúvidas que passavam pela cabeça do Cícero, sua necessidade de auto-conhecimento e por aí vai.

    O problema foi na segunda parte, quando o crime, que resultaria na vingança contra o tio abusador, é cometido. Tanto a execução do assassinato, como principalmente as consequências, não me pareceram à altura da premissa inicial. O tom reflexivo e até introspectivo da primeira parte cede lugar a uma narrativa policialesca um tanto ingênua e inverossímil, quase adolescente, que acabou contaminando minha experiência enquanto leitor.

    Não foi, de todo modo, uma leitura ruim. A maneira como o(a) autor(a) escreve é fluida, fácil de seguir, revelando-se prazerosa mesmo para um conto que usou todo o limite previsto de palavras. O que realmente prejudicou foi a mudança no foco narrativo, um tanto inferior na segunda parte. Ainda assim, entre altos e baixos, merece destaque a proposta de tratar de um tema bastante polêmico. Parabéns e boa sorte no desafio.

  15. Jorge Santos
    11 de fevereiro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Este foi o primeiro conto que li neste desafio. Se os outros mantiverem a mesma qualidade, estamos perante uma excelente competição. A forma como narra o abuso sexual, as implicações físicas e psíquicas, está bastante bem conseguida. A narrativa é equilibrada e tem ritmo, o leitor fica preso ao que vai acontecer à personagem, especialmente quando sabemos que é uma triste prática que continua a existir. A linguagem é simples e direta, sem esconder nada. As descrições são dolorosamente visuais. Só não gostei da última frase, que pareceu destoar do resto do texto. O recomeço da vida de Cícero passa por uma mudança de sexo, que pareceu imposta, como uma fuga. Desaparece Cícero, aparece Cecília, mas creio que a última frase poderia ter sido escrita de outra forma.

Deixar mensagem para Priscila Pereira Cancelar resposta

Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .