1+1=2 | 2-1=0 – Fernanda Caleffi Barbetta – Resenha (Gustavo Araujo)

1.
Disse Hemingway que todo bom texto deve começar com uma frase forte e verdadeira – é o que este exemplo tenta confirmar.

2.
Por isso dá para dizer sem medo que – atenção – toda obra literária é tudo menos ciência exata (aplausos).

3.
Só que o livro 1+1=2 | 2-1=0, da Fernanda Caleffi Barbetta, prova justamente o contrário, ou seja, que uma boa história pode, sim, ajustar-se a uma fórmula precisa. A começar pelo título.

4.
Já de início somos apresentados à protagonista-narradora, uma menina de 14 anos chamada Luiza, ou melhor, Luizinha, ou melhor ainda, Izinha. É com ela que aprendemos de plano que para que as coisas façam sentido na vida é preciso contá-las.

5.
E assim começa a contagem de uma história que poderia ser idêntica a tanta outras, mas que, pela habilidade singular de Izinha (Fernanda) envolve o leitor já nas primeiras páginas.

6.
Página (seis letras)
Páginas (uma jornada incrível)

7.
Lá está a Izinha, pequenininha, atordoada com a doença (doença) da mãe, o que a leva a morar com a tia Nancinha (que não é tia). Essa tia que deixa Izinha em outro caminho, em outra casa, com outro abandono (é o segundo). Mas mesmo ali, Izinha é capaz de se descobrir, de encontrar sua melhor amiga (a Lena), mas também de ver-se impelida a buscar um outro destino para si, como substituta.

8.
(subs·ti·tu·ta)
s.f.
1. Pessoa que faz as vezes de outra.
2. Coisa que substitui outra.
.
3. Menina que quebra a confiança de quem mais gosta.

9.
Ah, essa linguagem da Izinha, que por um lado nos encanta pela simplicidade, mas que por outro revela um raciocínio mais profundo que poço de petróleo.

10.
Não por acaso Fernanda venceu o Prêmio CEPE de Literatura. A história de Izinha lida com valores universais que envolvem felicidade, inveja, insegurança, escolhas e solidão. No fundo, é a história de todos nós, que nos vemos retratados ali, nus, frente a nossos próprios medos.

11.
Ao final do livro, Fernanda dirige-se a Izinha e agradece, para depois dizer que “agradecer à personagem não faz sentido.” É a única coisa de que discordo.

12.
Todo agradecimento é uma despedida.

13.
Todo fim de livro é um abandono.