Todo mundo vem do mesmo lugar, mas por que alguns escolhem caminhos tão diferentes?
As estações de trem sempre faziam Alguém pensar sobre isso. Parou de tergiversar e recapitulou o seu dia: acordar cedo, ônibus lotado, trem lotado, metrô lotado. Tudo isso pela grande oportunidade de ter uns trocados no banco e ter uma vida comum como todo mundo. “Afinal, eu preciso pagar pra falar, pagar pra ouvir, pagar pra ver….”, pensou ele.
Estava desempregado há alguns meses e o prazo do seguro desemprego já havia terminado, não estava mais mamando nas tetas do governo. Foi tão mal nas duas entrevistas do dia quanto um peixe tentando subir em uma árvore, dificilmente conseguiria a vaga de emprego que concorrera. As cobranças de seus pais martelavam em sua cabeça, não podem sustentar marmanjo em casa, pois “quem tem filho barbado é gato”, dizia seu pai.
Saiu da estação de trem, mexeu nos seus óculos e aproveitou-se deles para olhar ao redor: um vendedor de pipocas, um casal no ponto de ônibus, um mendigo, carros e mais carros indo e vindo, uma mulher atravessava a rua às pressas enquanto falava no celular. Em meio a essa cena, destacou-se um garoto, apenas um Zé Ninguém, usando toca e moletom em um dia em que o calor havia reinado e a noite fazia de tudo para ser uma rainha à sua altura. Alguém contava os minutos para chegar em casa e tirar aquele disfarce composto de gravata preta, camisa branca e calça social. Alguém, Zé Ninguém e a mulher seguiam pela mesma rua escura, formando quase uma fila indiana e seguindo suas vidas em um zig zag para não tropeçar nos buracos e desníveis de seus caminhos.
“Será que aquele garoto havia tido um dia similar ao dele? Ou teria passado horas em busca da Selfie perfeita? Haveriam seus pais gritado aos seus ouvidos para conseguir um trabalho digno? Talvez sim, talvez não…”, Alguém havia se perdido em um labirinto de pensamentos mais uma vez. Onde ele morava não havia muitas oportunidades para crescer socialmente, ou “subir na vida”, como todo mundo fala. Muitos amigos de infância já não estavam mais nesse mundo. Drogas, tráfego, chacina, acidentes de carro e moto, tudo isso levava seus semelhantes a sair de cena cada vez mais cedo. E isso o deixava com sentimentos em conflito, um misto de agradecimento aos pais por não o ter deixado seguir esse destino, mas também um pouco de decepção por não ter vivido plenamente. Queria fazer da vida um laboratório e cada dia uma nova experiência.
De qualquer forma, não se achava uma pessoa comum, gostaria de poder fazer a diferença de algum modo, não ser apenas mais uma marionete, nem um número a ser contabilizado nas estatísticas, sejam elas sobre o pleno emprego do país, da taxa de homicídios ou dos milhões de alunos matriculados no PROUNI. Nesse momento, lembrou-se de uma frase de Jack Kerouac: “Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.” Sim, seu desejo era esse, ser o louco mudando o mundo.
O Zé Ninguém aumentou o ritmo da caminhada até alcançar a mulher e anunciar um assalto: “Passa o celular, tia! Passa logo essa porra!”. Enquanto ele apontava uma arma, ela levantou as mãos, em um ato instintivo, falando que não estava com seu celular. Alguém parou bruscamente, surpreendido pela situação, como se tivesse visto um serial killer à sua frente.
– Cê tá tirando uma com a minha cara, tia? – Falou o garoto – Eu vi cê falando no celular! Passa tudo! Passa tudo!
A postura dele era firme e ameaçadora. Enquanto uma mão segurou com força o braço da mulher, a outra puxou a bolsa dela. Achou celular e carteira dentro da bolsa, pegou-os e correu em fuga. Alguém hesitou sobre qual seria sua próxima ação: tentar alcançá-lo; ligar para a polícia; ignorar tudo e seguir em frente. Qual seria a atitude normal em situação como aquela? Recuou um passo. A mulher quase se afogava em lágrimas. Alguém sentiu que algo deveria ser feito. A polícia demoraria o tempo de uma vida para chegar ao local. Ela olhou-o. Ele mexeu em seu óculos e agora tinha certeza. Começou a correr, ainda titubeando, porém acelerou para a mesma direção seguida pelo moleque.
Alguém correu enquanto seu relógio havia girado cinco vezes sem sair do lugar, o vagabundo percebera sua segunda sombra, mas não parou de correr, nem sacou a arma utilizada para ameaçar a mulher. Quando Alguém o alcançou, puxou-o pelo moletom, levando-o a uma queda brusca ao chão. Fincou o joelho na barriga do assaltante caído, com o objetivo de imobilizá-lo, em seguida, libertou palavras sufocadas a ele.
– Então você gosta de uma vida fácil? Cadê a arma que você estava usando lá atrás? – Não respondeu nada.
Puxou o zíper do moletom e tateou os bolsos internos, encontrou os itens roubados e uma arma de brinquedo. Guardou o celular em um bolso e a carteira em outro. Pegou a arma de brinquedo e usou-a tal qual um batedor de carne, enquanto a tábua era o rosto do Zé Ninguém.
Já com o rosto bem amaciado, o moleque conseguiu se desvencilhar de seu opressor e tentou acertá-lo com uma faca que estava escondida em sua meia, contudo Alguém percebeu a movimentação, os óculos dele caíram no chão com uma lente quebrada, mas conseguiu se defender da facada segurando o pulso do assaltante e batendo-o diversas vezes contra o chão. Quando o Zé ninguém soltou a faca, Alguém a pegou e falou com o vagabundo.
– Por que você está fazendo isso? Seus pais não deram educação pra você, porra! – Esbravejou, nesse momento ele reparou nos tênis que o Zé Ninguém possuía – Gostei desses tênis aí, devem custar o quê? Uns quinhentos reais? São roubados também, não é?
“Isso tá errado, isso tá muito errado…”, Pensou ele, com a seriedade de um juiz prestes a dar sua sentença. Alguém nunca havia tido nada de luxo, sempre foi uma pessoa humilde, buscava apenas viver em paz com o que podia ter e sem incomodar os demais, mas sentia-se frustrado com aquela situação. Alguns trabalham de sol a sol, enquanto outros roubam dos primeiros, e o pior é que isso acontecia todos os dias e ninguém fazia nada para que isso tivesse um fim.
Mais pensamentos invadiram a mente de Alguém: “Esse vagabundo parece ser menor de idade. Se for preso, vai ficar preso na fundação casa por um período menor do que a duração de uma faculdade e depois vai estar livre… Vai poder fazer o que quiser, vai poder até voltar e roubar outra mulher passando pela rua. Se esse Zé Ninguém vivesse no Oriente Médio, já estaria sem as mãos agora…”.
* * *
Após alguns minutos, a mulher que havia sido roubada decidiu tentar achar o rapaz que havia corrido para pegar o assaltante. Já havia ligado para a polícia e em poucos minutos uma viatura chegaria lá. Viu algumas gotas de sangue no chão e as seguiu, tal qual Dorothy na estrada de tijolos amarelos, porém o vermelho foi aumentando tanto que aquela calçada estava parecendo mais uma ciclovia. Até que a mulher encontrou Alguém sentado no chão, com óculos quebrados no rosto e brincando com uma faca.
– Você… Conseguiu alcançar o garoto? – Questionou ela.
– Garoto? – Parecia não se lembrar de nada – Ah, sim, claro. Aquele moleque que te roubou. Aliás, aqui estão suas coisas.
Caminhou em direção a mulher com o celular e a carteira em mãos. Entretanto ela recuou assustada ao ver que os objetos também estavam vermelhos.
– Putz, acho que eu sujei eles um pouco, né? – Disse ele.
– Onde está o garoto?
– Mas acho que o celular está funcionando ainda…
– Onde está o garoto?! – Repetiu ela, já irritada.
– Está depois daquela esquina. – E apontou para o lado.
Ela foi até a esquina apontada por Alguém e, ao ver a cena, não conteve o seu estomago, que serviu à calçada um pouco do almoço de horas atrás. O par de tênis usado pelo Zé Ninguém estava à frente de seu corpo, e dentro de cada um, estava uma mão.
– Foi a última vez que ele colocou as mãos em um tênis roubado! – Ironizou Alguém, apontando para o corpo do garoto e soltando uma leve risada.
– Seu… Seu louco! – Gritou a mulher, tentando sair de perto dele.
Ele suspirou como se fosse um avatar do titã Atlas e estivesse levando o mundo nas costas. A mulher não conseguiria entender o que ele havia feito. Arrumou seus óculos e falou para ela:
– Sim, sou apenas alguém que acha que pode mudar o mundo. – Disse isso e seguiu o caminho de casa, com a tranquilidade de quem parecia ter salvado o dia de todo mundo.
* * *
Minha pequena contribuição para o desafio teve como inspiração a premissa do filme “Um dia de fúria” (Falling Down, 1993), onde é contada a história de um homem desempregado e com problemas emocionais que tem um surto, deixando-o intolerante a provocações de estranhos durante seu dia.
Muito mais que um filme violento, a película demonstra quanto o mundo capitalista contemporâneo exige em excesso das pessoas, sem retribuir da mesma forma, o que gera impactos profundos no comportamento social, podendo causar diversos problemas, tanto no âmbito profissional, quanto familiar.
Primeiramente, meus critérios complexos de votação e avaliação:
A) Ambientação e personagens;
B) Enredo: Introdução, desenvolvimento e conclusão;
C)Proposta: Tema, gênero, adequação e referências;
D)Inovação e criatividade
E)Promoção de reflexão, apego com a história, mobilização popular, título do conto, conteúdo e beleza e plasticidade.
Sendo assim, buscarei ressaltar algumas das características dentre as listadas acima em meus comentários.
Vamos à avaliação.
A)Não assisti ao filme, porém gostei bastante do conto. Ele conseguiu me prender desde o iníco, de forma que os personagens(mesmo anônimos, sem nomes definidos) dão um ar de universalidade à trama. Aquele Alguém pode ser qualquer um.
B)O enredo é bom e a proposta é interessante: O estresse do mundo capitalista reverberando na mente das pessoas. Boa escolha e desenvolvimento.
Considerações finais: Continue assim. O conto promove uma reflexão sensacional sobre os efeitos do estresse na vida do homem urbano e as consequências imediatas de uma mente desequilibrada. Parabéns e sucesso no concurso!
Foi de fato interessante a cara que você deu ao texto, aplicando-o termos como “Alguém”, “Zé Ninguém” e “a mulher” para que quem lesse pudesse encaixar, nessas alusões, personalidades quaisquer e dar uma sensação superior de proximidade ao texto (uma ferramenta que você soube usar. Massss, embora a proposta do texto fosse, de fato, a mudança repentina de personalidade, acabei por não senti-la de fato. Qualquer raiva brusca retratada pareceu mais uma ferramenta a fim do autor/da autora passar a mensagem que queria — o que leva a outro ponto: a trama foi meio destruída com a última fala… justamente pela intenção de imprimir à trama algo explícito demais, o que acaba deixar o texto mais claro, sim, mas em detrimento de sua complexidade. O que poderia ser um texto ainda mais conciso e brusco acabou por ser algo redundante, sem muita coesão dentro da própria trama. Assim sendo, os pontos fortes do seu texto trabalharam contra eles próprios, por estarem atrelados a uma intenção de deixar claro demais o que se quer dizer. Talvez fosse mais proveitoso, a quem quer que tenha escrito, usar essa habilidade em travestir a história do que quiser para desenvolver uma trama em que a preocupação, durante a criação, seja ela própria e seus personagens, além (e ao invés) de qualquer mensagem, intencional ou não.
(uma ferramenta que você soube usar)*
Bela escolha de nomes. Gostei da escrita e do modo como conduziu a narrativa. Nunca vi o filme que usou como base, mas sinto-me com vontade de vê-lo agora. Parabéns e boa sorte.
Então, achei o conto fraco: a narração não está muito boa, a raiva/loucura do personagem prestes a explodir não foi construída e, em função disso, suas ações pareceram desproporcionais. Enfim, algumas ideias meio conservadoras impregnadas no texto deram um “sabor ruim” ao conto e a ligação ao filme inspirador foi um tanto tênue.
O conto é bem narrado na medida em que faz despertar diversos questionamentos durante a leitura. Direitos humanos? Olho por olho? O que fazemos numa situação semelhante? Qual o limite de nossa indulgência, até que ponto conseguimos ser racionais? São diversas as indagações e por isso dá para dizer que o texto funciona bem. Difícil concordar com as atitudes de Alguém – pelo menos assim, nas CNTP – ainda que seja possível entender como funciona sua mente sociopata. Enfim, um bom texto, bem escrito, claro, que gera bastante reflexão. Só achei desnecessária a explicação no fim. A interpretação é algo a que pertence ao leitor somente. Ao impô-la, o autor engessa a compreensão, transformando algo instigante em uma bandeira panfletária. Por isso, minha sugestão é que numa eventual revisão, essa parte seja suprimida.
Logo que vi o óculos, já sabia se tratar de UM DIA DE FÚRIA. Gosto muito deste filme. Boa leitura, fluiu bem , o texto.
Realmente ficou destoante o ato do sujeito muito sangrento, outros já apontaram dicas de mudança na trama que casaria melhor com o desfecho, ou atenue este desfecho…rsrrs
(Digitando direto no note, to economizando palavras, aff trem ruim esse…)
Boa sorte com o conto e trabalhe nele, ele é bom.
Abração
ahhh… lembrei que o lance do Alguém e do Zé Ninguem, ficou muito bom… ativou interpretações simultaneas À leitura, como ler o a narrativa especifica e a generalizada..muito bom mesmo!!
valeu
Olá, tudo bem?
Espero nunca cruzar com alguém assim que não esteja em um dia bom. hehe
Uma boa história, bem narrada e com pouco a ressaltar. De início estranhei um pouco a narração, mas depois acostumei-me. Só achei meio nebulosa essa troca de narrativas.
Fica meio confuso se são personagens diferentes ou o mesmo.
Em relação a trama em si, é um tema bem recorrente nos dias atuais. Tipo de situação corriqueira no centro das grandes cidades. Foi legal ter trago a realidade no texto, mas como disse, a confusão atrapalhou um pouco.
De qualquer forma, merece os parabéns.
Boa sorte!
Concordo com boa parte dos comentários dos colegas. A história foi contada por Você com competência, apesar de uns deslizes aqui e ali, mas achei bastante forçada a ação final do Alguém (gostei da forma como utilizou o nome). Você não criou uma base, uma motivação que impelisse o protagonista e nos fizesse sentir empatia por ele. Talvez se tivesse feito isso, o conto teria uma qualidade bem maior, até porque faria Você compreender um pouco mais seu próprio personagem.
Gostei! A referência a Dia de Fúria estava bem clara, e o paralelo foi feito com clareza. O texto está muito bem escrito também. Assim como muitos, gostei dos usos de Alguém e Zé Ninguém. Nos deixa pensando que o Alguém bem que poderia ser nós mesmos.
Só achei que a mensagem final do conto foi que o que Alguém fez foi uma contribuição para mudar o mundo. Se um ato bárbaro como aquele é uma tentativa de mudar o mundo, eu que não quero estar vivo quando o mundo ficar da maneira que ele desejar. Eu sei que o ato pode muito bem ter sido mais uma reflexão do instinto do personagem do que uma mensagem em si, mas o clima final para mim foi meio que este. Uma espécie de “moral da história”, só que ao contrário, rs.
Parabéns e boa sorte!
Por um lado gostei do conto, conseguiu criar uma tensão no leitor com um bom desenvolvimento e ambientação. O jogo das palavras também ajudou (Alguém, Zé Ninguém), talvez se a mulher seguisse no mesmo molde ficaria melhor. E se a escrita fosse mais elaborada, já que não tem nada de muito grandioso. Só percebi algumas coisas estranhas: como a mulher ligou pra polícia e como o cara cortou as mãos do ladrão (acho que cortou o.O).
Agora o que não gostei e é extremamente pessoal, por isso não leve a sério, é de algumas passagens (como “fundação casa” em letras minúsculas) e a ciclovia, onde dei risada kkkk, que não valorizou o tom de crítica. Tbm não enxerguei como um bom motivo para explodir e sair matando. Lá no meio pensei até que ele ia virar o Homem-Aranha, por conta dos óculos.
Um dia de Fúria, então não pude evitar imaginar Alguém como Michael Douglas. Lembro da cena na lanchonete, ele fora do horário para tomar o café e a frustração se acumulando. Aliás, as pessoas frustradas são perigosas.
A imagem das mãos nos tênis, aff, vai me atormentar por um tempo. Acho que faltou um “crescendo” na fúria, que no final, não era algo impulsivo, uma explosão, mas algo mais frio, quase pensado. Não sei, fiquei com essa impressão. Boa sorte!
não gostei e não vi relação com dia de fúria. a escrita esta meio confusa e algumas analogias são bem ruins. se esse conto tivesse um pouco mais da esfera do filme, a cidade, a miseria, a loucura e os atendentes mal pagos, talvez melhorasse. o ódio não vem só do assalto, é um conjunto, sei lá.
Meu sistema: essência. Já comecei tendo que pesquisar o que era “tergiversar” hehe. Bem escrito e apesar do início um tanto lento, me deixou curioso. As divagações e investidas do personagem, até o fim, foram uma das melhores partes, pois demonstra que ele próprio tornou-se o que odiava. Não notei tanta influência do filme mencionado – deu a entender que ele era um cara contemplativo, que agiu sem emoção, um sociopata que ligou o botão da fúria e depois o desligou. Na película o cara sai quebrando tudo.
Não gostei, acho que foi um dos mais sem ênfase que li. Em ortografia vc cometeu bastante repetições e o enredo não me deu vontade de ler. Boa sorte.
Tudo bem, Autor (a)?
Um dia de Fúria, com Michael Douglas, esse é ótimo. Adoro a cena que ele está no carro, naquele calor em meio ao engarrafamento, se coçando com aquele zumbido, barulho… e quando ele pede um hamburger e pira quando chega algo mirradinho (é um baita filme mesmo!).
Eu gostei da sua narrativa, das figuras de liguagem, da dose de sadismo no ato com o “Zé Ninguém” (sobretudo não haver descrições desnecessárias).
A mudança no foco da narrativa me incomodou um pouquinho, mas o saldo foi positivo no fim.
Boa sorte.
A idéia é ótima.
A história é uma catarse. Quem nunca sentiu vontade de sair ä forra?
No entanto, lembrando um fato real, a da mulher que matou o menor (aliás, fal-se á de menor idade, e náo é menor de idade), a mulher que matou o menor que estuprara o filho dela de 5 anos em um momento de raiva? Pois é, faltou essa enorme motivação para justificar o ato de Alguém.
Conheço um rapaz muito pacato que foi assaltado duas vezes no mesmo dia – na segudna vez levantou-se, agarrou o bandido pela colarinho e o jogou longe. Também está justificado pelo trauma anterior.
Então, justificativas seriam:
defender alguém amado / trauma anterior / pasicose
Para psicose faltam elementos. Nada no discurso interior do personagem leva a essa conclusão, ele parece bem babaquinha e conformista.
Em minha opinião, depois de ter matado o garoto, o que a moça diz é totalmente irrelevante, é redundante. O leitor já sabe que foi horrível e além da medida. O final estragou o bom começo.
Li os outros comentários e minha impressão no conto é muito semelhante à dos demais: o conto não conseguiu mostrar um motivo convincente para o protagonista praticar um ato tão violento. Foi um ato muito frio para alguém que tenha somente explodido de raiva (fiquei com a impressão que ele era um psicopata).
Além disso, a escolha de “Alguém” para nome do protagonista foi interessante para deixá-lo no anonimato, mas confundiu um pouco (pelo menos umas duas vezes achei que a palavra estava sendo utilizada no sentido original).
Mas a narrativa foi boa e fluída. Boa sorte!
Achei a história bem contada e bem desenvolvida. Não esperava que o Alguém fosse agir como agiu, senti uma boa surpresa com a ação, apesar da violência. Gostei dos diálogos, principalmente quando Alguém diz que acha que “sujou um pouquinho” as coisas da mulher. O conto está bem escrito, parabéns e boa sorte!
Olha que eu tive a mesma impressão do Fabio quando o cara mexeu nos óculos. Aliás, comecei a ler o texto achando que seria uma história de super-herói, fiquei só esperando o momento da transformação.
Bom, eu recebi o conto como o grito de Alguém, sendo o do próprio autor: “Sim, sou apenas alguém que acha que pode mudar o mundo”. Tenho aprendido aqui no desafio que essas ideias próprias do autor não ficam bem em um conto, Talvez em um outro tipo de texto, num livro , não sei bem, estou aprendendo ainda. Mas você tem talento pro “grito”, só precisa achar o lugar certo.
Acabou que não identifiquei o filme, só mesmo lendo a tua contribuição final.
Boa sorte!
======== TÉCNICA
Razoável.
Conseguiu contar bem a história, mas abusou de algumas repetições de palavras e não brilhou nenhuma vez.
– Será que aquele garoto havia tido um dia similar
>>> Trocaria “havia tido” por “teve”
>>> Aliás, tem muito “havia” nesse parágrafo
– Drogas, tráfego, chacina
>>> Tráfico
– Enquanto uma mão
>>> cacofonia
– Ele mexeu em seu óculos e agora tinha certeza
>>> Me deu um calafrio na espinha essa hora… juro que pensei “não, pelo amor de Deus… NÃO VIRA O SUPER-HOMEM!!!”
– em direção a mulher
>>> em direção à mulher
– estomago
>>> estômago
======== TRAMA
Outro filme sensacional.
Acho que o autor conseguiu captar bem o espírito até metade do conto, até a parte em que a bomba estava sendo armada. Depois tudo explodiu rápido demais e ficou muito forçado.
Não imagino Alguém cortando as mãos de outra pessoa no meio de toda aquela movimentação descrita no início e tendo tempo o suficiente para arrastar até o beco, tirar o tênis e tal. A reação da mulher roubada também é muito inverossímil.
======== SUGESTÕES
Teria mudado o final, fazendo um confronto com a polícia.
Acho que narrativa em 1º pessoa caberia melhor.
======== AVALIAÇÃO
Técnica: ***
Trama: **
Impacto: ***
Não foi uma leitura desagradável, mas não consegui ligar as partes pré e pós-loucura. A justificativa para o acesso de fúria não ficou visível. Talvez a insanidade tenha vindo de forma exageradamente abrupta (ok, a loucura pode ser abrupta).
Captei a ideia do conto, mas minha leitura não encontrou o que foi proposto. Acredito que você possa pensar em alguma forma de preparar o leitor para o desfecho, sem revelar muito sobre o enredo. Uma bactéria crescendo no íntimo do sujeito normal; pequenas falhas no discurso do rapaz comum, de boa família.
De qualquer forma, é um conto interessante. Gostei da citação de Jack Kerouac e fiquei incomodado com as cenas de violência.
Se o(a) autor(a) tentou ser fiel à pequena sinopse posta no fim do conto, não conseguiu de todo, porque o surto assassino que o personagem apresenta no conto não se explica convincentemente enquanto reflexo da ferocidade do capitalismo. Ela de fato existe, ela causa, sim, distorções comportamentais, mas NO CONTO a relação causa-efeito não é sólida o bastante. Um indivíduo pode cometer um crime, enlouquecer de fato (não é figura de linguagem), entregar-se às drogas e alcoolismo a partir de um longo processo, no fim do qual surge a gota d’água. Se o desemprego do protagonista e o fim do benefício governamental é essa gota d’água, não foi mostrado.
Além dessa inconsistência, há outra, de caráter geo-político: o protagonista diz que “[…]Se esse Zé Ninguém vivesse no Oriente Médio, já estaria sem as mãos agora…”, porém é uma meia verdade. Quando o país não é laico, o islamismo faz a constituição, e por causa disso o “olho por olho, dente por dente” ocorre. Mas em várias nações isso não se dá. Essa generalização é um erro histórico, e o fato de ser o personagem a cometê-la, e não o narrador, talvez a torne mais branda, afinal, num momento de ira, uma pessoa talvez não fizesse essa separação, não pensasse antes de falar. Alguém como esse personagem certamente se guia pelo senso comum. Sim, mas o conto está divulgado uma inverdade. Poderia o(a) autor(a) invocar a mesma Lei de Talião sem cometer o deslize.
Assim como num conto bem anterior, também esse carrega nas tintas ideológicas. Além da própria Lei de Talião, que faz com o personagem decepe os pés do assaltante à luz do dia, na rua, temos a suposição de que receber do seguro-desemprego é “mamar nas tetas do governo” (é o narrador quem diz isso), o que equivale dizer que uma pessoa desempregada está nessa situação porque quer, ou que o benefício é uma dádiva do governo e não um direito de quem precisa de apoio enquanto não se recoloca no mercado capitalista de trabalho.
Faltou o uso de maiúsculas em “fundação casa” (Fundação Casa).
O protagonista do bom ‘Dia de Fúria’ foi bem caracterizado, no início do filme, como uma bomba prestes a explodir. Já aqui entendo que faltaram elementos que engatilhassem a revolta. Mesmo que levássemos em consideração a possibilidade de um ‘sequestro emocional’, violenta reação impensada, ainda assim fica implausível, porque aí passa a ser uma questão de ritmo, ou seja, o evento violento não foi tão rápido, tanto que Alguém refletiu em suas ações, demonstrando que sabia exatamente o que fazia. Não houve qualquer revelação de sua personagem, mesmo em sua história pregressa, que conduzisse ao entendimento da possibilidade de uma reação nesse sentido. O desenvolvimento do personagem Alguém era o ponto crucial desse conto. Sucesso.