EntreContos

Detox Literário.

Condenado (Ceres Marcon)

Thales dependia do tempo. Enquanto jogava dentro da mochila o dinheiro guardado no cofre, escutou o estrondo vindo do telhado. Aquele seria o primeiro sinal? Sentia-se apavorado demais para lembrar, mas não tinha intenção de esperar para saber.

Desceu as escadas em total desespero, escorregou e caiu como uma fruta podre nos três últimos degraus. Ergueu-se em um único movimento, ainda meio atordoado pela pancada na parede. Precipitou-se em direção àporta quando a casa tremeu. Eram três sinais! Sim. Havia se passado tanto tempo depois daquele encontro infeliz, que os únicos números a preencherem seus dias foram os que engordavam sua conta bancária. E agora, sólhe restava fugir.

As lembranças de dez anos atrás voltaram ondulantes como o reflexo de sua imagem nos vidros das lojas pelas quais passava. Diluíam-se tão rapidamente quanto surgiam.

A pesquisa roubara-lhe dias e noites. Precisara encontrar livros específicos, viajara para a capital, frequentara os cantos mais abandonados das bibliotecas e quando estava prestes a desistir, encontrou uma vidente que lhe apontara a solução e um novo calvário apresentara-se, mais complexo do que o anterior.

A mulher tinha olhos negros como o céu sem lua e brilhavam enquanto observavam Thales com a intensidade do desejo feminino diante de diamantes expostos em uma vitrine. O rosto magro, de pele branca, realçava os lábios carnudos e vermelhos. Ele a viu umedecê-los com a ponta da língua, deixando-os ainda mais desejáveis.  No primeiro contato sentiu-se atraído pela beleza singular da jovem para em seguida repelir a ideia. Não havia espaço para envolvimentos de qualquer espécie naquele momento de sua vida.

Os itens que ela lhe sugeriu sugaram suas economias. Iniciara um verdadeiro garimpo em busca do tesouro que mudaria para sempre sua existência. Depois de montar todo o quebra-cabeça, encontrar a encruzilhada não havia sido tão difícil. Quando perguntavam o que procurava, mentia, porque mentir fazia parte de sua vida. Falava aos amigos que pensava em comprar terras para cultivar, mudar de vida, que havia se cansado da agitação da cidade. Passara vários finais de semana pelo interior do município atéseus esforços serem recompensados.

Sorriu um sorriso que apenas sua alma podia ver.

Dois dias antes da lua cheia, pediu folga ao patrão, preparou as oferendas de acordo com a receita da vidente, vestiu-se conforme o recomendado e partiu. Carregou a páno porta-malas junto com a caixa que continha todos os seus sonhos. Em seus ouvidos um sussurro, como uma brisa leve, alertava-o para as consequências de seu ato, mas algo mais o atiçava para seguir adiante e o simples pensamento de retomar a vida medíocre que levava afastava qualquer possibilidade de ter bom senso.

Escondeu o carro em uma pequena estrada lateral e aguardou. Tinha cronometrado o tempo que levaria para fazer o buraco e colocar os ingredientes em ordem. Não haveria falhas. Desceu com os objetos necessários: a pá, sua caixa de oferendas e a faca. Verificou o solo e cavou a terra  atéatingir a profundidade adequada. Largou o instrumento e conferiu  a medida que deveria ser suficiente para abrigar a caixa e seu conteúdo. Antes, porém, verificou pela centésima vez seu interior. Os ossos que sóconseguiu subornando o coveiro do cemitério, sua fotografia, uma moeda de ouro a qual representava seu desejo e a carta escrita em um pedaço de papiro, devidamente assinada. Aquele último item destroçara sua poupança. Viajar atéo Egito não se encaixava em sua lista de desejos, nem em seu orçamento, mas a vidente fora categórica: sem aquele item, seus esforços seriam em vão.

Acomodou tudo, segurou a faca e abriu um corte profundo na pele grossa da mão esquerda. A ardência da lâmina fria arrancou dele um gemido rouco enquanto o sangue escorria sobre o papel com o pedido. Em seguida, recolocou a terra no buraco com cuidado, voltou atéo carro, pegou um pano e o enrolou sobre a ferida aberta, abriu o porta-malas e pegou a pequena cadeira de abrir levando-a atéo local em que havia enterrado a caixa. Respirou fundo e recitou as palavras decoradas com todo cuidado:

In nomine Dei nostri Satanas Luciferi excelsi!

Eu, Thales Acenda, entrego meu corpo, minha mente e minha alma para Lúcifer; minha carne ésua carne, meu sangue éseu sangue.

As árvores não movimentaram as folhas, os pequenos grilos e sapos ao redor silenciaram no momento em que mãos femininas tocaram seu rosto e acariciaram seus cabelos. O corpo sensual, com pernas bem torneadas, cintura fina e seios fartos, vinha acompanhado por um par de olhos vermelhos e intensos. A boca de lábios volumosos agarrou a sua em um beijo profundo. Thales fechou os olhos, o corpo pesou e os joelhos dobraram como se seus ossos houvessem se dissolvido. No entanto, continuou consciente de cada toque, de cada gemido daquela figura que não apenas lhe dava prazer, mas lhe prometia concretizar seus desejos.

Acordou em casa, acreditando que tudo não passara de um sonho extremamente sensual. Uma mulher linda, sexy e quente possuíra não apenas seu corpo, mas sua alma. Desejou-a tanto que não hesitou em transar com ela; disse sim para tudo que lhe foi pedido. Sua mão, entretanto, não deixava dúvidas de que aquilo realmente acontecera. A mais dolorosa lembrança daquelas horas permanecera com ele. Dar o próprio sangue lhe rendera uma ida ao pronto socorro, uma injeção antitetânica, e vinte pontos que lhe deixariam uma cicatriz para o resto de seus dias. A partir de então, a vida tomou outro rumo. Em questão de dias, ganhou sua primeira promoção e um aumento considerável no salário. Um mês depois, os clientes o procuravam em casa e solicitavam seus serviços porque não confiavam mais no antigo contador. Com isso,  abriu o próprio escritório. Seu antigo patrão amargou a derrocada, pouco a pouco. A esposa, insatisfeita por ter que baixar o padrão de vida o abandonou, tirando-lhe sua maior alegria, a filha. Começou a beber, os clientes não o procuravam mais, contraiu dívidas, perdeu o carro, a casa e o respeito das pessoas, atéo dia em que, totalmente falido, suicidou-se.

O tempo apagou as lembranças da dor que a faca proporcionou, porém, naquele momento em que corria pela rua,  ao olhar a linha esbranquiçada deixada pela lâmina na palma da mão esquerda, uma pontada de arrependimento quis atravessar o peito. Aquele risco pulsava e queimava como se segurasse um ferro em brasa. Pela primeira vez, desde que passara a lâmina na pele, compreendeu o motivo de ter adquirido os primeiros fios de cabelos brancos nas têmporas e algumas rugas ao redor dos olhos que lhe conferiam um ar cansado a cada noite insone nos últimos dez anos. Aquelas sensações o atingiam, causando-lhe dores lanciantes pelo corpo,como o fio da faca que usara para cortar a mão, fazendo-o buscar por gelo, mas nem esse seria possível conseguir. A rua deserta e as portas dos estabelecimentos fechados não lhe dariam o alívio que buscava. Um calafrio percorreu suas costas. Reconheceu a presença do ser maligno;  um cheiro fétido atingiu-o sem pedir licença e queimou suas narinas.

Se tivesse ao menos procurado uma maneira de reverter o acordo, mas preferiu deixar o tempo passar e aproveitar as novas oportunidades que a riqueza lhe trouxe. Viajava para a Europa todos os anos e trocava o carro sempre que algum modelo mais bonito se apresentava nas propagandas vistas na tela do home-theater que comprara logo que fizera a mudança para a casa dos sonhos. Não levou a sério o que ela lhe dissera: que voltaria para cobrar o débito. Mas de maneira alguma facilitaria o trabalho daquela infeliz. Promessas podiam ser quebradas e atémodificadas. Dívidas podiam ser renegociadas. Dependia somente da vontade de um dos lados envolvidos e do poder de convencimento do devedor, porém, ele não queria tentar, não podia arriscar mais nada.

Sópensou em procurar ajuda, quando ao olhar o calendário, uma semana antes, deu-se conta de que o dia de seu aniversário se aproximava. Aquela data selava o dia da cobrança, quando ele teria que pagar ao demônio pelo sucesso que almejara. Voltara em busca da vidente, mas ela lhe afirmara que o tempo seria insuficiente para criar algum tipo de renegociação ou uma armadilha eficaz para aquele ser infernal, mas oferecera uma forma de burlar o acordo, por isso ele corria, naquele momento, em direção àigreja. Precisava fazer o pedido em frente àcruz, como ela lhe dissera para fazer. Acreditava na possibilidade da salvação.

Dentro do santuário não havia como a desgraçada entrar e tomar-lhe a alma. A dívida deixaria de existir, mas ele precisava ficar atéo dia seguinte dentro do lugar, ajoelhado e em penitência. Certamente, no momento em que o pacto fosse quebrado, continuaria a ganhar dinheiro, manteria o status adquirido, sua vida permaneceria em ascensão, e aquele demônio de encruzilhada voltaria para o inferno, de onde não deveria ter saído.

Passou em frente àpraça e diminuiu o ritmo quando a viu, sentada em um dos bancos de pedra. Pode ver, mesmo a distância, os olhos vermelhos que o observavam. Ela não mexeu os lábios, mas sua voz penetrou os ouvidos de Thales com nitidez.

—Acha que vai ser fácil fugir de mim?

Apavorado, tropeçou em um dos canteiros floridos, tombando sobre a grama. O rosto raspou no chão úmido e a pele ardeu com o atrito. Levantou-se apressado, sem se preocupar com a sujeira presa na roupa e seguiu em direção ao primeiro dos sessenta degraus que o manteriam longe da danação eterna.

Logo àfrente, seus olhos buscavam pela igreja no topo da colina, com suas duas torres esguias. Ao se aproximar, distinguiu as esculturas dos anjos no centro da arquitetura eclética, iluminadas pelos refletores, apontavam para a porta de carvalho maciço, alheias a sua luta pela salvação. Por que não se transformavam? Por que não ganhavam vida e o ajudavam a sair daquela merda em que havia se atolado? Não eram eles os protetores dos homens? Ele se arrependera do que havia feito, e o padre dizia que o arrependimento lhe dava o direito de ser salvo! Onde estava a coerência dessas palavras com a realidade?

Os primeiros dez degraus foram vencidos sem dificuldade, mas as pernas, cansadas pela corrida somada ao peso da mochila, atrapalhavam o ritmo que havia imposto para chegar ao altar antes da meia-noite. Olhou a escada e viu a figura sensual, que também subia os degraus, porém, ela não fazia esforço algum, como se flutuasse ao seu encontro.

O peito subia e descia em uma tentativa desesperada de colocar energia no corpo quase sem força. Ela se aproximava sem pressa e a dificuldade de recuperar as forças envolveu-o da mesma maneira como o convenceu a entregar a alma na encruzilhada. Podia escutá-la vibrando em cada músculo, em cada pedaço de pele em um pedido manso e sensual para que permanecesse parado.

Thales suava. O líquido frio escorria pela testa e a camisa grudava no corpo. Os dentes rangiam. Ergueu-se forçando a mão no chão em busca de apoio e viu-se tremer como a mesma intensidade de quando a encontrou anos antes, na encruzilhada. Aqueles abalos fizeram-no transpirar e identificar o cheiro do medo que exalava de seus poros. Observou a figura demoníaca. Ela erguia o nariz como se o reconhecesse. Lambeu os lábios e passou as mãos pelo corpo.

—Logo estaremos unidos por toda a eternidade, Thales.

A distância que os separava determinava que ela venceria se ele permanecesse paralisado. No instante em que acreditou estar perdido, a mochila com o dinheiro pendeu para frente e o fecho deixou àmostra o motivo de Thales ter permitido se deixar levar pela loucura de desejar poder. Ele recolheu as  notas que flutuaram com o vento e caíram próximas aos pés da criatura, que as recolheu, cheirou e largou-as para que seguissem rodopiando feito folhas secas atécaírem novamente ao chão. Thales acordou do pequeno transe no qual ela o envolvera, juntou as últimas forças e chegou atéuma das portas, empurrando-a e enfiando-se para dentro do templo vazio.

Apertou a mochila com força. Não podia desfazer-se dela. Aquilo poderia servir como moeda de troca, uma maneira de barganhar com aquele ser do inferno, se a oportunidade surgisse. Apoiou-se ao chão, e terminou o trajeto de quatro. Não tinha mais forças para se levantar quando as mãostocaram a porta.

Demorou alguns segundos atése acostumar com a escuridão do lugar. Conforme caminhava, escutava o eco dos próprios passos. Uma luz tênue banhava o Cristo crucificado atrás do altar e foi para láque se dirigiu.

Ajoelhou-se e começou a rezar. Não sabia ao certo o que dizer, nem como. Acreditou que seus pensamentos pudessem chegar atéDeus e, quem sabe, Ele o salvasse. Olhou para a porta, que continuava fechada. Quando inclinou a cabeça um dos grandes candelabros acendeu e ele pode notar a figura de uma freira que entrava de cabeça baixa por uma das portas laterais. Sentiu-se mais seguro. Levantou e correu em direção a ela. Quem sabe Ele havia escutado suas lamentações e tivesse acreditado em seu arrependimento por tudo o que fizera e enviara uma de Suas seguidoras a fim de livrá-lo do infortúnio eterno. Ao se aproximar e tocar-lhe o ombro, ela o encarou.

Em um primeiro instante viu o rosto da vidente. Thales sorriu com a visão da jovem. Os mesmos olhos negros, a pele branca que tanto o atraíra, e aqueles lábios vermelhos com os quais sonhara durante tantos anos, desejando possuí-los tiraram-lhe a alegria e trouxeram-lhe pavor ao ver a transformação que ocorria nos contornos da garota. O rosto delicado deu lugar às feições sensuais do ser de olhos vermelhos intensos e lábios volumosos. O corpo gracioso ganhou contornos acentuados com seios fartos e pernas esguias. O demônio com quem conversara na encruzilhada e que o perseguiu pela praça atéa igreja apresentou-se a sua frente, prepotente. Thales cambaleou, tropeçando nos próprios pés e caiu sentado no chão frio e duro da igreja.

―Não! Não pode ser.

—Eu avisei que viria.

A voz sensual ecoou pela imensa nave rompendo o silêncio. Thales sentiu os músculos enrijecerem. Nem mais um gemido saiu de seus lábios. A pouca claridade que existia desapareceu por completo. Quando abriu os olhos, o inferno apresentava-se a sua frente: quente, vermelho, fétido.

Corpos mutilados espalhavam-se por todos os lados, contorcendo-se, gemendo, gritando por socorro. Alguns queimavam sobre o fogo; desesperados, imploravam por clemência. Outros sofriam torturas diversas, aplicadas por seres deformados, de rostos cheios de cicatrizes, revelando dentes pontiagudos que surgiam em sorrisos de escárnio e prazer. Quanto mais gritos arrancavam de seus torturados, mais as criaturas mostravam satisfação.

Thales vomitou atésentir as entranhas vazias. Dobrou os joelhos e alcançou o chão. Urinou e sóentão se percebeu nu.

—Espero que esteja confortável. Aqui costuma fazer calor. Talvez vocêdemore um pouco atése acostumar.

A voz soou controlada, sibilante e fria. Thales a procurou, mas não conseguiu vê-la. Lembrou-se da mochila, mas não a encontrou. Precisava desfazer tudo aquilo, ou pelo menos tentar. Não tinha alternativa.

—Podemos conversar? Eu tenho dinheiro… Quem sabe vocêpode me dar mais um prazo… Uma nova negociação!

A gargalhada se espalhou e reverberou nas paredes. As bestas pararam as torturas e se voltarem todas para onde Thales se situava. Em seguida, urraram ao mesmo tempo e voltaram a arrancar pedaços dos que se encontravam presos àquele lugar.

—Eu não preciso de dinheiro. Tenho tudo o que quero.

Naquele momento, Thales viu com quem havia se envolvido. A mulher sensual dera lugar ao demônio. Um ser com a pele cheia de escamas, que o fez lembrardas aulas de biologia quando observava as serpentes guardadas nos vidros com formol da sala de ciências. Aquiloo deixou enojado. As mãos imensas, com unhas negras se estendiam para fora dos dedos, longas e pontiagudas, como lâminas afiadas prontas para o abate. O vermelho dos olhos se acentuou ao refletir o fogo alimentado pelas entranhas dos corpos arremessados sobre as brasas. O nariz achatado farejava o tempo todo e a boca deformada deixava àmostra dentes serrilhados. Aproximou-se e seu cheiro podre deixou Thales sem fôlego.

—Vocêainda precisa de mais alguns dias observando seus iguais, esses que, como você, almejaram o que não lhes pertencia, o que não era seu destino, antes de começar a pagar sua dívida. Olhe bem para eles. Observe a diversidade. —apontou. —Homens, mulheres, adolescentes. Todos, em algum momento da vida procuraram por mim. Hoje, pagam suas dívidas.

Thales não conseguiu erguer-se. O estômago ainda contraía-se, fazendo com que curvasse o corpo para frente. Não tinha mais o que vomitar, nem forças para sair daquela posição de submissão. Olhou novamente para onde as bestas retalhavam suas vítimas. Não queria terminar daquela maneira.

—Mas eu posso trabalhar para você. Posso conseguir mais almas. O que acha?

 O demônio ergueu os braços enormes e começou a urrar e a gritar.

—Almas? Vocês ouviram? Ele quer me trazer almas!

O chão estremeceu com a agitação daqueles seres medonhos batendo os pés sobre a terra enegrecida. Mas apenas um gesto do líder fez com que tudo silenciasse. Nem mesmo os torturados ousaram gemer.

—Eu não preciso que me tragam almas. Não existe apenas uma encruzilhada no mundo, nem apenas um idiota para me chamar. Na mesma noite em que vocême conjurou, muitos outros o fizeram. E eu atendo a todos, sem exceção.

—Mas vocêéapenas um!

Outra gargalhada ecoou pelas paredes do inferno.

—Sou quantos eu desejar.

O ser infernal multiplicou-se em um piscar de olhos e, da mesma maneira, voltou a ser apenas um.

—E por que vocêperde tempo comigo? Por que não me deixar nas mãos de seus demônios?

A pergunta transformou o semblante duro da besta. O olhar suavizou, as mandíbulas afrouxaram. A transformação, então, foi tão gradual quanto a que aconteceu na igreja. A bestialidade dava lugar àforma sensual e feminina que o abordara na encruzilhada. O corpo voltou a ganhar um contorno tão libidinoso que o fez pensar em promessas em leito com lençois de setim. Caminhou atéele ainda mais sedutora. Thales ergueu-se, viu-a se aproximar, recordou a noite na encruzilhada e o calor daquele lugar desapareceu. Uma brisa suave soprou ondulante quando ela colou os lábios apetitosos em seus ouvidos.

—Porque vocêse entregou a mim, de corpo e alma —disse em um sussurro e afastou-se o suficiente para encará-lo. —Não mostrou repulsa, não imaginou como seria minha verdadeira forma. Nada mais justo que colocá-lo como meu favorito em meio a tantos.

Thales estremeceu no momento em que ela enroscou as pernas com suavidade entre suas coxas e acariciou-lhe a pele com a ponta dos dedos e depois com a língua, fazendo-o estremecer. Fechou os olhos e deixou-se levar pelas carícias daquelas mãosque o tocavam sem pudor, explorando seu sexoe fazendo-o desejar penetrar-lhe as entranhas com a paixão da noite em que a conheceu.

—Veja só! —Sorriu. —Atémesmo aqui, vocêsente prazer com meu corpo.

—Então, por que não me deixa ir? —Perguntou com a voz entrecortada e esperançosa.

—Por que não desfaço meus acordos.

Thales abriu os olhos e o demônio ressurgiu, assustando-o e tirando-lhe o equilíbrio. Na tentativa de fugir, tropeçou nos próprios pés, foi agarrado e arrastado atépróximo a uma parede onde teve os pulsos envolvidos pro grossas correntos.

O demôno ergueu-o do chão com um único movimento. Thales sentiu a pele e os músculosesticarem; as juntas dos braços pareceram arrebentar. Ele gemeu alto demais, chamando a atenção de seu algoz.

—Além do mais, nós estamos começando, Thales. Sócomeçando.

6 comentários em “Condenado (Ceres Marcon)

  1. rubemcabral
    1 de setembro de 2014
    Avatar de rubemcabral

    Eu gostei da história. Do inicio, em especial, pois os ritos, a vidente e o clima conspiratório evocaram bons contos de terror, feito os do mestre Clive Barker. Esperava alguma surpresa, contudo. O enredo apenas seguiu o esperado no final.

    Faltou também um pouco mais de capricho na revisão. Principalmente no final, onde há muitos erros de digitação; muitas palavras também apareceram “coladas” por todo o texto, seguramente algum problema de copiar/colar do editor para o blog.

    • Ceres Marcon
      1 de setembro de 2014
      Avatar de Ceres Marcon

      Oi,Rubem!
      Entendo tua observação quanto ao enredo. Talvez uma reviravolta fosse mais interessante. Como colocou a Anorkinda, no outro comentário, ficou clichê.
      Quanto aos erros e palavras coladas, elas só aparecem aqui. No meu editor, estão corretas. O texto foi revisado, não por mim, então devem ter escapado alguns pormenores. Ficaria grata se você apontasse quais são eles.
      Obrigada pelo comentário. Isso só enriquece meu aprendizado.
      Abraço,

  2. Anorkinda Neide
    28 de agosto de 2014
    Avatar de Anorkinda Neide

    Olha, um texto bom, bem escrito, demonstra habilidade, mas numa história bem clichê.
    Só achei algo confuso o trecho onde conta a desventura do patrão do Thales muto rápida aquela narrativa e depois volta para a fuga do protagonista no momento presente, me perdi um pouco nesta parte.
    Muito bacana, mas procure ousar mais com criatividade 😉
    abraço

    • Ceres Marcon
      29 de agosto de 2014
      Avatar de Ceres Marcon

      Olá, Anorkinda Neide.
      Pois é, as histórias se repetem, mas o que importa é o treino na escrita.
      Vou observar o que você apontou no trecho da desventura do patrão de Thales. Talvez precise de uma reescrita, apesar de o foco não ser o patrão, mas Thales.
      Obrigada pelo retorno.

  3. Tatiana Mareto
    27 de agosto de 2014
    Avatar de Tatiana Mareto

    Ceres, adorei ler seu conto. Gosto de como você aborda temas macabros mas faz a leitura leve e graciosa! Não sei se teria essa capacidade rs. Fiquei na dúvida se sinto pena de Thales ou não, acho que fazemos nossas escolhas. Pelo menos Satanás demonstra alguma ética em não desfazer seus combinados, né? Parabéns e continue trilhando seu caminho para o sucesso!

    • Ceres Marcon
      29 de agosto de 2014
      Avatar de Ceres Marcon

      Obrigada pelo retorno, Tati!
      Um incentivo é sempre bem-vindo! Super beijo.

E Então? O que achou?

Informação

Publicado às 27 de agosto de 2014 por em Contos Off-Desafio e marcado .