Tudo que precisava para enfim conseguir fazer o ritual estava reunido. Mal podia acreditar que depois de quase um século de sofrimento, um século sendo perseguida por aqueles que a julgavam ser da corja maligna que habita o vale maldito, um século numa busca incessante por uma forma de quebrar a maldição finalmente a busca chegara ao fim. A senhora corcunda, a pele muito enrugada e cheia de perebas, o nariz adunco, o manto negro, vislumbrava os ingredientes para o fim de sua tortura no balcão precariamente preparado na caverna iluminada pelo fogo de tochas também precariamente presas à parede. Poderia muito bem usar das magias que aprendera com o grimório, artefato que conseguiu furtar daquela que a amaldiçoou há muito tempo, mas preferiu guardar todo seu poder para o ritual, e só estava esperando mais uma confirmação, uma garantia.
– Está aqui, minha senhora! – disse Mali entrando na caverna, uma moça morena e muito bonita, tão bonita que até sua senhora, às vezes, tinha o desejo de possuí-la. A moça carregava um saco pingando sangue.
– Deixe-me ter certeza que não falhou desta vez! – a senhora de Mali pegou o saco ensanguentado e deixou que o que estava dentro caísse, e suas mãos negras e muito enrugadas tremiam de ansiedade.
Uma cabeça loira rolou para fora do saco, os olhos ainda abertos com uma expressão de pânico estampada como se a ultima visão que tivera em vida fora a do inferno. A senhora urrou de alegria, chutou a cabeça de Gineavev como se estivesse praticando uma brincadeira que um dia vira os humanos praticando com um objeto arredondado, mal acreditando que a caçadora de bruxas que há anos a perseguia finalmente se fora. Lembrou-se de quando Gineavev começou a lhe perseguir, na época a senhora já havia coletado dois dos quatro itens que necessitava para seu ritual, quando matou a mestra da caçadora e pôs o desejo de vingança nela. E agora estava terminado, Mali teve sucesso em sua tarefa, e a senhora não conseguia ficar mais feliz, ou talvez conseguisse, já que o ritual ainda não estava feito e ela ainda se mantinha amaldiçoada. Beijou Mali varias vezes no rosto, ato que despertara novamente, depois de muitos dias, a vontade de se alimentar, mas tinha que se manter forte, e Mali não merecia ser feita de jantar, então se afastou da moça desculpando-se, beliscando os braços cheios de perebas para que a vontade passasse. Mali sabia o quanto sua mestra estava sofrendo perto dela, amando-a e ao mesmo tempo querendo come-la, mas se mantinha com ela porque sabia que sua senhora tinha algo de bom e estava disposta a voltar a ser a moça delicada e feliz que velhas fotografias mostravam.
A senhora arregaçou as mangas do manto, pediu que Mali acendesse o fogo do caldeirão, pegou seu grimório, e enfim começou o ritual. Estava muito eufórica, lia o feitiço do grimório cantando, os ingredientes eram anunciados e jogados no caldeirão com água fervendo:
– Sangue de recém nascido, um coração partido, o poder de um mago superado e os ossos de um guerreiro lendário!
Com o último ingrediente posto, um turbilhão de fumaça negra saiu do caldeirão, a senhora conseguia sentir que o feitiço estava dando certo, conseguia ver o portal do tempo se abrindo para ela. Pensou no dia do passado que queria alterar, se vangloriou também, pois era a primeira da história da magia que conseguiria quebrar uma das leis da magia, a lei que diz que não se pode mudar o passado. Nem a bruxa que a amaldiçoou conseguiu tal feito, e quase escorregou no próprio manto negro quando caminhou incrédula em direção ao portal. Porém, quando estava bem perto de entrar, outra pessoa saiu de lá. Entrou em desespero quando a mulher ruiva de olhos verdes, vestido roxo longo e chapéu preto pontudo apareceu, rindo, acariciando a bola de cristal no topo de seu cajado.
– Você! – exclamou a senhora, que brandiu sua varinha e tentou atingir com uma rajada negra a recém chegada.
– Ora, ora. – Kália, a bruxa que amaldiçoara a senhora, apenas mexeu a mão livre no ar como se estivesse afastando um mosquito impertinente, e a rajada negra desviou para a parede – Muito obrigada por coletar os ingredientes pra mim, me poupou de um trabalho tão difícil…
A ruiva girou seu cajado e a senhora atingiu a parede com um baque forte, ficando presa por raízes que saíram da parede da caverna por magia. Chamou por Mali e então percebeu que a moça contorcia-se no chão, os cabelos que eram negros e lisos estavam ficando loiros e cacheados, e então não era mais Mali, mas sim, Gineavev. O desespero tomou conta de seu ser, ou do que restou dele, pois estava tudo acabado, tudo que fez para ter uma chance de mudar seu passado estava perdido. Kália pegou a cabeça que a senhora chutara e aproximou-a da presa, um sorriso malicioso muito aberto nos lábios com batom negro. A senhora começou a chorar quando viu de quem era a cabeça.
– Você achou mesmo que poderia mudar as leis da magia, Muriel? – Kália sacudiu a cabeça pingando sangue de Mali, e a senhora mão conseguia evitar olhar para a expressão de terror estampada no rosto de sua escudeira. – Você tinha de ver o quanto ela implorou para que eu te libertasse de sua maldição em troca da vida dela…
A senhora, Muriel, reuniu as ultimas forças que tinha e cuspiu na cara de Kália, sabendo que morreria, mas há tantos anos queria ter feito aquilo e agora perante a morte não perderia a oportunidade. Kália riu mais alto, limpou suas rugas da saliva nojenta e arremessou a cabeça de Mali dentro do caldeirão, enchendo a caverna com fumaça negra.
– Isso é o que acontece com quem entra no meu caminho… – disse Kália a Muriel, que não conseguia falar e queria muito praguejar e xingar a outra.
– Precisa de mais alguma coisa, mileide? – perguntou Gineavev, entregando o grimório a Kália.
A bruxa entregou seu cajado a Gineavev e se sentou em uma cadeira que estava próxima à parede para folhear o grimório. A caçadora, no momento em que pôs as mãos no cajado sentiu que suas mãos ficaram presas a ele, e todas suas forças foram sugadas enquanto ela própria envelhecia até virar pó. Muriel ficou atordoada ao ver que até Gineavev fora enganada, mesmo que tivesse comemorado a morte de mentira da caçadora, vê-la morrer na sua frente não lhe fez se sentir muito bem, talvez porque não fora ela que matou, ou talvez porque no leito de morte ela estivesse com mais compaixão, pois a assassina é a mulher que a fez cair em desgraça. Quando Kália se aproximou do cajado para pegá-lo do chão, sua aparência já não era velha, os cabelos ruivos e crespos estavam lisos e muito cumpridos, as rugas desapareceram, os olhos mais verdes que esmeraldas, se é que isso era possível, os seios fartos, o vestido se ajustou ao novo corpo jovem. Muriel ficou se perguntando como aquela bruxa fez aquilo, e Kália percebeu na expressão da senhora e não se demorou a lhe dizer:
– Espantada com minha aparência, é? Vou listar pra você o que precisa para fazer isso – e Kália abriu o grimorio e começou a ler – “Sangue de recém nascido, um coração partido, o poder de um mago superado, os ossos de um guerreiro lendário”… E mais um que eu acabei apagando daqui… – ela sorriu para Muriel – “Uma linda jovem e o desespero de uma bruxa amaldiçoada!” Muito obrigado por cuspir em mim…
Muriel começou a chorar, viu tudo ao seu redor começar a pegar fogo e a mulher se afastar rindo dela. Impotente, no ultimo momento aceitou o fogo que a queimou viva como a tal procurada quebra de sua maldição.
Esse conto tem uma história por trás bastante interessante. O lance da maldição, da caçadora de bruxas, do portal. Talvez esse seja o problema. O conto parece o fim de uma história. Mas gostei. Ah, a Kália saiu do portal do tempo? Porque?
Nunca foi um portal do tempo. Muriel acreditou que era mas se esqueceu que o livro pertenceu à mulher que a amaldiçoou. Talvez eu não tenha deixado isso claro, mas valeu a tentativa.
Fiquei com pena de Muriel, eu ainda sou daquelas que espera e acredita que o bem vence o mau e então…. o final me chateou. É bom né, o texto tem que causar algum tipo de efeito no leitor. rsrs
Achei que no inicio as frases estão muito longas, os personagens apresentados não tem muita vida, ficaram meio frios.
Não achei o texto ruim, penso que é questão de empatia mesmo, ou talvez só uma primeira impressão. Muitas vezes quando releio, gosto mais, mas infelizmente o tempo está curto para muitas leituras. rs
Abraços.
Não sei se gostei desse conto. A história não é muito envolvente e tem vários errinhos de gramática, poderia ter revisado melhor. Tem partes que faltam virgulas, deixando a leitura cansada e prejudicando a narrativa. A sacada das transformações ficou interessante.
A ambientação ficou interessante, sendo possível visualizar muito bem onde tudo ocorreu. Isso serve para todas as descrições que, para mim, funcionaram muito bem. Por outro lado, achei a trama um pouco fraca, batida, talvez. É um conto mediano, para mim.
Infelizmente a estória não funcionou comigo. Não consegui me conectar com os personagens, tampouco com a trama. Espero, sinceramente, que os colegas tenham uma perspectiva diversa.
De qualquer modo, parabéns e boa sorte no desafio.
Um bom texto, poderia ser roteiro de filme de fantasia.
Obrigado, é muito bom ler a opinião de alguém que não quer minha cabeça num espeto.
Você vai chegar lá, Lucas! (na parte de melhorar sua escrita e receber também elogios, não no espeto… 😛 ).
A dica aqui é: aproveite os comentários dos colegas (todos parceiros!) e aplique as sugestões que achar cabíveis, pois o manancial que a EntreContos aqui oferece é único; muito difícil (se não impossível!) de se encontrar em outro lugar.
Sucesso!
Bom texto. Confesso que o enredo não me prendeu, mas é bem escrito e dinâmico. O autor soube explorar bem o tema e traz um final interessante. Parabéns.
Um texto de fantasia pura, com ação incessante que não permite ao leitor sequer respirar. Há potencial aí, mas creio que essa urgência toda tornou a narrativa um tanto atropelada. As frases são enormes, com vírgulas e mais vírgulas, dificultando a absorção da leitura. Com um pouco de trabalho e paciência, o resultado pode ser melhor.
Me forcei a entender diversas passagens, as frases muito longas tem informações demais e estão colocadas em uma ordem estranha. As personagens não foram muito bem aproveitadas, sabe-se apenas que estão ali presentes, tem algo em comum, estão fazendo o ritual cada qual dentro do seu propósito, ficou muito mecânico, sei lá, sem emoção. Achei ruim.
Deveria ter falado sobre kàlia, a bruxa que a amaldiçoou, no inicio do conto pra que fizesse mais sentido
Olá!
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Eu já li esse conto umas duas ou três vezes, pois achei que os personagens surgem rápido demais e pensei que fosse eu a lenta (o que não é de todo mentira). Gostei bastante do começo e das descrições da bruxa (Muriel) junto a Mali. Entretanto, na parte do espelho os acontecimentos começam a se acelerar, sem ter um terreno melhor para a inclusão dessas outras personagens. Bem, essa foi a impressão que tive e lamento muito por não conseguir gostar mais do que foi apresentado. Parabéns pela criação e boa sorte no desafio.
A história é bacana, mas poderia ter sido melhor contada. Da forma como está, explica demais… não existe uma parceria com o leitor, existe apenas o autor, sentado em seu banquinho, contando a historinha para a criançada.
Além do mais, o trocadilho “amando-a e ao mesmo tempo querendo come-la” quebrou qualquer possibilidade de uma clima mais dramático.
Mas esse sou eu, rabugento. Boa sorte!
Sinceramente, não achei nem bom, nem ruim. Acho que não houve nenhum grande problema no conto, mas mesmo assim ficou faltando algo cativante, que fizesse o leitor se perguntar como seria o final…
Pontos que passaram pela revisão: ultimas/ultimos e récem nascido
Boa sorte no desafio!
Apesar da história não me intrigar muito, eu gosto desses finais sem esperança! Traição é doida, e como, pobre Muriel!
Gostei (e ri) com ela chutando a cabeça da outra, achei demais! rs
Bem ambientado, mesmo sem sair do lugar.
Um bom conto sobre bruxas – apesar de ser mais um a usar a velha e tradicional imagem delas. Cuidado com as sentenças muito longas: os leitores se perdem e até você pode se perder (vi questões de ortografia causadas pela relutância em encerrar a frase). Parabéns pelo esforço e continue aprimorando-se.
Caracterização padrão de bruxa, mas tudo bem.
Tive de reler o conto para entender quem era quem. Bruxas e maldições, caldeirões e muita enganação.
De um lado, prendeu minha atenção, mas por outro, fez com que me sentisse dando voltas. Pelo menos, não deixou pontas soltas.
O emprego das vírgulas deveria ser revisto.
Boa sorte!
Uma boa aventura, mas que não me agradou, infelizmente.
Creio que o texto necessite de alguma revisão. A história em si não é ruim, mas esse tipo de “terror-aventura”(existe isso?) não me agrada muito.
A bruxa má me lembrou uma personagem do American Horror Story. hehe
De qualquer forma, Parabéns e boa sorte!
Há, ri muito dos ingredientes. Na verdade, o tom como li cada um deles me lembrou histórias infantis de bruxas. Gostei! Imaginar a velhinha chutando a cabeça da caçadora, feliz da vida, como se fosse uma bola foi hilário!! rsrs’
Boa Sorte!!
Não me senti envolvida por este conto. Há todos os elementos necessários, no entanto, sem muito frescor. O clichê se sobressaiu e só o fim surpreendeu, pois pensei que a pobre velha conseguiria sua juventude de volta
Boa sorte.
O que gostei:
A história em si, muito envolvente. Os personagens, a narrativa.
O que não gostei:
Alguns erros gramaticais, confusão em algumas passagens.
Melhorar:
Uma boa revisão.
Parabéns pela história.
O conto narra apenas a cena final de uma longa história. Gostei disso. Se não fosse pelo início (muito longo e moroso), teria gostado ainda mais! Rapidez, agilidade, movimentação, contrastes… Tudo isso traz qualidade a um conto. O problema, neste aqui, foi um início com parágrafos e frases muito longos. Já na segunda frase, gigantesca e de pontuação questionável, dei uma empacada braba… De leitura difícil e travada, já o primeiro e o quarto parágrafos são o que o conto tem de pior…
Depois, passada esta densidade inicial, a história vai fluindo (muito) melhor. Gostei dos acontecimentos e reviravoltas, com a alternância de sensações apresentadas ao inverso do que normalmente se espera ou se vê por aí em contos… Geralmente a situação é apresentada, acontece o conflito e, ao final, vem a superação e pimba; vitória e fim da história.
Aqui, é apresentada a situação (em uma construção aquém do que virá depois); então acontece já a superação do problema e, quando o leitor pensa que a vitória já está garantida, vem então o final, que apresenta o real conflito e, surpresa(!), a derrota da protagonista. Isso ficou muito legal! 😉
Se o(a) autor(a) trabalhar com mais zelo no início do conto, pontuando melhor e diminuindo o tamanho das frases e parágrafos (principalmente o 1º e o 4º!), a leitura irá fluir de forma constante já desde o início e este conto merece isso(!), pois está muito bem movimentado e com uma alternância de conflitos/poder muito satisfatória.
Parabéns pelo trabalho!
Boa sorte,
Paz e Bem!
Boa a história, mas não gostei da execução da mesma. Há alguns erros de revisão e o texto não traz algo novo ou boas frases de impacto. Algumas descrições inspiradas também seriam benvindas.
É o décimo primeiro conto que analiso neste desafio.
O texto não apresenta um grande trabalho de lapidação sintático-semântica, bastante preso ao tradicional conceito de prosa como contrária ao poético, ou seja, objetiva, clara, “limpa” e demais adjetivos do mesmo campo semântico. Daí, praticamente inexistem figuras de linguagem, e as poucas metáforas são de curto espectro.
Se sob esse ponto de vista o(a) autor(a) não é um artífice de palavras, nem por isso o conto deixa de ser bom. E sua qualidade consiste na mestria com que um dos itens da construção narrativa em prosa artística, a inversão de expectativa, é utilizado. Refiro-me à transformação de caçador em caça, que se dá dentro de outro ditame da contística tradicional, como em Maupassant e Alan Poe, ou seja, a linearidade espaciotemporal.
Resumindo, comportado demais do ponto de vista estilístico, e, ao mesmo tempo, muito competente.
Em 30/07/2014
======= ANÁLISE TÉCNICA
Não tem muitos erros gramaticais, mas a escrita toda me pareceu muito corrida. Vírgulas poderiam ser melhor utilizadas ao longo do texto, bem como algumas quebras de parágrafo.
A narrativa também é um tanto fria, não faz o leitor mergulhar na história.
– “tão bonita que até sua senhora, às vezes, tinha o desejo de possuí-la”
>>> Ri alto!!! kkkkk
– ultima / varias / come-la
>>> Acento
– a tal procurada
>>> tão
======= ANÁLISE DA TRAMA
No começo pensei que seria um texto puxado para o humor e estava me agradando.
Depois, não sei se propositalmente ou não, o humor sumiu (ou talvez eu tenha parado de ver graça) e a história ficou um tanto confusa com essas reviravoltas.
======= SUGESTÕES
Simplificar a trama, tirando esse lance de portal do tempo.
Tentar manter a pegada humorística do começo.
======= AVALIAÇÃO
Técnica: **
Trama: **
Impacto: **
Esta é uma história que merecia um tratamento melhor. O final conseguiu me surpreender, verdadeiramente. O que peca é realmente a linguagem ainda não estar… adequada. O/a autor é certamente muito jovem e ainda precisa encontrar um estilo próprio. Mas ele/a tem boas ideias, algo que falta a muitos jovens autores. Continue tomando notas dessas ideias, leia mais, pesquise sobre seus temas de interesse, não tenha pressa de se atirar às feras. Você tem potencial para evoluir. Mas este texto não está bom.
Foi o primeiro conto que escrevi depois de adulto, acreditei que por gostar muito de fantasia poderia entrar na competição, mas enfim né, obrigado, mesmo tendo me mandado pra guilhotina como a maioria fez.
Você tem (muito) potencial, Lucas… Não desista!
😉
Interessante o ambiente criado, os nomes e a problemática toda, mas a história pareceu um pouco obscura e “rápida” demais, provavelmente, devido apenas ao número reduzido de palavras, porém, no más, é boa.