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Detox Literário.

Madam, I’m Adam – Conto (Martha Angelo)

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“Do amoroso esquecimento.
Eu, agora, – que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?”
Mário Quintana

Estava amando e diziam que era Ada. Ada nada…O passado é que o condenava…ato idiota, passar tantas noites em frente à sacada da casa, no afã de vê-la: dissimulada,mentirosa, sedutora…

Foi uma paixão adolescente .

Quantas horas de quantas noites passou ali, à disposição ?

Podia ser como podia não ser. Loucura. Cabeça vazia, no peito, só ódio. De si. Ódio do doido. Sempre ali, exposto, à mesma hora. E lhe avisavam :

“Ama fama? Vê lá, leva má fama! Ai, fama é a máfia”

“Um dia, a base do teto desaba.”

Mesmo assim, continuava. Omisso. Omissíssimo.

Arriscando-se mais uma vez, mesmo sabendo como as mulheres mentem e como os homens matam.

Havia tantas formas de morrer jovem.

– “O pó de cocaína mata maníaco cedo, pô!”

Questão de opção.

E loco é oco, lê ?

Noite.

Era hora,após a sopa. O marido de Ada, Leon, tinha horários de velho. Desse detalhe, gostava também, os ponteiros do relógio, como um radar, aumentavam a excitação. Ao mesmo tempo, no peito, um aperto. Desejo de voltar a ser inocente. Livre daquela sedução, livre do poder vil. Imaginava ,o velho, naquela hora :

– “Oi, dê-me remédio.”

E Ada :

“O Viagra ? Larga,Ivo.”

Ah, livre era papai noel, Leon ia papar era ervilha. Com pozinho. Sono pesado, logo após a sopa.

Era hora. O lavrador diligente conhece a rota do arado.

A sacada da casa. O abajur. Clic. Luz azul. Na janela, o vulto da diva:Ada levada, velada. Rir, o breve verbo, rir. A pequena fresta, o gesto de sempre. Parecia dizer :

Oi, rato otário !

Salta o atlas. Quem ama ou tem asas ou escala a janela, a torre da derrota.

No quarto, a diva ávida : Ada bêbada, dádiva à vida. Roda esse corpo, processe a dor. Ele padece da pele. A pateta ama até tapa.

O galo ama o lago. O galo no lago. Eva, asse e pape essa ave. A vida é a diva! Madam, I’m Adam.

Adias a data da saída ?

Não.

Chega.

Agora sabe a quem ama.

Ama Ana.

O teu drama é amar dueto.

O mito é ótimo.

Rir, o breve verbo, rir.

Estava amando e todos sabiam que era Ana. A Ana do colégio. Do colégio de freira ?. Mas Ana já é noiva!

Não importa, ama Ana e no afã de rever a musa católica, vai à igreja, todos os dias.

Amor à Roma, Adam ?

Até o poeta, desconfia.

Rezar,prazer,Ana…laço bacana para panaca boçal.

Sim, era sincero! Desta vez, queria o treco certo, mas a fama é a máfia!

Diziam à Ana :

– Ana, case, esse é sacana.

Carolas ocas…saco!

E a misericórdia ?

E orava e cantarolava aquela do Cartola :” Sim, deve haver o perdão para mim Senhor nem sei qual será o meu fim …”

Mas Ana não perdoava :

– És sapo? Passe.

E Ana, por ele também passava…ah, aquele aroma de amora, amor!”Linda, te sinto mais bela!”

Era todo fantasia “Ana me rola, calor emana”

Era todo presentes : flores, chocolates, cartas apaixonadas…

A mãe de Ana, a Leda, também tinha ódio do doido :

– Ana, case, esse é sacana! Marujos só juram!Acata o danado… e o danado ataca!

Deus me acuda cadela da Leda caduca!A sogra má e amargosa.

Mas a fama é a máfia e Ada ficou sabendo de tudo. A Leda, sacana, ia na casa dela.

Soa como caos! Oro e temo meteoro!

Mas a Ada não é casada ? Sim, mas ama Adam. O Narciso é livre, servil é o sicrano. O pobre do marido, o Leon…

Ada também não é mais livre, das próprias paixões, agora é criada.

Da luxúria, do ciúme, da inveja.

A rival, precisa confrontar!

Anotaram a data da maratona ?

Domingo!

Antes, precisa se arrumar.

Ada, da paixão, criada, assim a aia ia à missa. E loco é oco, lê ?

Não olhem naquela bolsa. Lá tem metal!

Ave, Eva!Soam-me ótimos os reversos: o mito em mãos!

Na saída da igreja, Ada espera Ana. O confronto : Socos! Acinte animal: aos sopapos, soa lâmina étnica.

Punhal! O terrível é ele vir reto.

Ana cai.

S.O.S! S.O.S! O Cid é médico ? S.O.S !

A igreja está em polvorosa. Roma se doa toda à ira, Maria, adota o desamor.

Mas Ada está indiferente. Sacas ? A dama admirou o rim da amada de Adam.

E até o Papa poeta é.”

5 comentários em “Madam, I’m Adam – Conto (Martha Angelo)

  1. Ricardo de Lohem
    17 de novembro de 2016
    Avatar de Ricardo de Lohem

    Muito bom esse conto palindrômico, deve ter sido muito difícil de fazer, parabéns!

  2. Sueli do Espírito Santo
    6 de junho de 2014
    Avatar de Sueli do Espírito Santo

    Muito bom Martha. Parabéns pela criatividade.

  3. Claudia Roberta Angst
    26 de janeiro de 2014
    Avatar de Claudia Roberta Angst

    Muito interessante o jogo de palavras e significados. Como uma brincadeira bem criativa que nos diverte e prende a atenção fácil fácil. Parabéns.

  4. Marcellus
    20 de janeiro de 2014
    Avatar de Marcellus

    Muito bom!

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Informação

Publicado às 20 de janeiro de 2014 por em Contos Off-Desafio e marcado .