Foi só fechar os olhos e já havia chegado. Estava acostumado com aquela sensação, afinal não era sua primeira vez. Longe disso. Depois de toda a fase de testes e de muitas melhorias, sua invenção não causava mais nenhum incômodo. A viagem era tranquila, instantânea e sem os solavancos do começo. Mal parecia que havia se deslocado. E, a rigor, realmente não havia. Verificou o dispositivo em seu pulso esquerdo e confirmou: estava onde desejava estar. Ou melhor, quando desejava estar.
Olhou ao redor e concluiu que jamais reconheceria aquele lugar se já não soubesse onde estava. Apesar de nunca ter morado naquele bairro, conhecia-o muito bem das constantes visitas aos avós. Lembrar-se desses momentos lhe trouxe uma pontinha de saudade, acompanhada de um breve aperto no coração. Mas teve de frear toda essa torrente nostálgica, pois tinha uma missão a cumprir, e não pretendia gastar ali mais tempo do que fosse necessário.
A falta dos conhecidos pontos de referência o deixou um pouco desorientado. Não havia os grandes edifícios que costumava ver por aquela área. O shopping center a dois quarteirões dali ainda não existia. As ruas não eram asfaltadas. O que se via eram casas, com quintais grandes ou pequenos, algumas lojinhas e carros antigos aqui e ali. Tudo orbitando ao redor de uma simpática pracinha, com bancos convidativos para uma boa conversa, e um espaço para crianças brincarem. Logo ao lado, ficava uma pequena igreja.
Mas àquela hora, nenhuma criança brincava, e ninguém conversava nem rezava. À luz da lua, o único som era dos grilos que se escondiam nas moitas e arbustos espalhados pela rua. Solitário naquele ambiente, o viajante sabia que aquela não era a hora mais adequada para os seus propósitos. Entretanto, esse era um revés que ele já havia previsto. Lamentou, não pela primeira vez, que sua invenção não lhe permitisse determinar a hora exata da chegada. Não era possível precisar o momento, e ainda havia uma série de variáveis nas quais ele teria de trabalhar para aprimorar a viagem.
Andou sobre os paralelepípedos seguindo a rua escura que ladeava a praça. Passou por um poste que lançava uma fraca luz, de maneira que era difícil ver qualquer coisa a partir de certa distância. Provavelmente só conseguiria identificar a lojinha que o pai descreveu quando estivesse muito perto, portanto tentou ficar atento enquanto caminhava. Mas segundo o pai, não havia como se perder. Bastava seguir direto naquela ruazinha e ele encontraria o tal estabelecimento.
Engraçado como as coisas são, pensou. Desde o sucesso de sua invenção, perdeu as contas de quantas vezes convidou o pai para uma viagem. “Já é seguro, os riscos são mínimos”, dizia sempre, ao que pai costumava retrucar: “muito obrigado, mas não quero mexer no que já foi tão bom”. Não que ele menosprezasse o seu trabalho. Em diversas oportunidades expressou o orgulho de ter um filho inventor. Incentivou-o desde pequeno nos estudos, deu todo o suporte para que o filho trilhasse o árduo caminho da pesquisa científica. E a cada vitória, a cada etapa bem sucedida, a cada prêmio ganho com a gloriosa invenção, o pai estava sempre lá, parabenizando-o por uma conquista que também era sua.
Entretanto, o pai havia mudado desde a descoberta da doença. Andava cabisbaixo, desmotivado, parecia admitir a derrota. É verdade que o prognóstico não era nada animador desde o início, mas angustiava o filho vê-lo daquele jeito, nada podendo fazer para ajudá-lo. Logo ele, acostumado a buscar soluções para os problemas mais complicados, agora se sentia impotente, inútil perante a situação de alguém que tanto ama. Foi por isso que se alegrou com o pedido do pai, por mais surpreendente e inusitado que tenha sido. Finalmente sentia que estava fazendo algo, uma singela retribuição frente a tudo que o pai lhe proporcionou.
Caminhando ao longo da rua, conseguiu distinguir algumas lojas na escuridão, mas nenhuma era a que procurava. Viu um mercadinho, um salão de cabeleireiro, um açougue, um bar. Todos fechados. Ele olhava de um lado a outro da rua procurando a tal loja. Já estava ficando impaciente, quando finalmente a viu. Uma fachada pintada com uma grande variedade de cores, bastante chamativa, mesmo com pouca luz. Era exatamente como o pai a havia descrito. Estava fechada, como esperado, então ele se sentou na calçada, com as costas apoiadas na parede da loja, e aguardou. Ficou observando a rua. Parecia não haver uma só alma viva nas proximidades. Até que isso era uma boa coisa, concluiu. Bem sabia que era aconselhável que a interação fosse a mínima possível para evitar interferências diretas. Nisso o pai tinha razão, era melhor não mexer demais.
Ali sentado, refletiu que não compreendia muito bem o pedido do pai. Obviamente não lhe negaria esse favor, pois tudo que queria naquele momento era fazer a vontade dele, mas não via sentido. Por que, dentre tantas coisas que poderia pedir, o pai teria escolhido isso? Chegou a questioná-lo, ao que ele respondeu: “Quando se está velho como eu, meu filho, é das coisas pequenas que se sente falta. Das coisas que se tinha com facilidade, mas que não mais se pode ter. Fui muito feliz, tive muitos bons momentos em minha vida. Não posso pedir que me traga todos de volta. Mas esse singelo pedido será suficiente para acalentar o coração desse velho. Ele, por si só, será capaz de trazer à tona as mais deliciosas memórias, e isso é tudo que eu preciso agora. No fim, meu filho, a ordem das coisas muda. Trabalho, dinheiro, bens, nada disso parece ter importância. São as coisas mais simplórias que nos vem à mente. Como em Cidadão Kane. Esse é o meu Rosebud. Acredite, um dia você vai entender.” Talvez ele tivesse razão.
De repente sentiu um empurrão e abriu os olhos.
– … né lugar de ficar dormindo não!
Ainda piscando, com a luz pálida da manhã em seu rosto, viu o homem que o empurrava em pé à sua frente. Levantou-se lentamente com a mão apoiada na parede.
– Me desculpe, senhor – falou, ainda sonolento. – Estava esperando a loja abrir e acabei pegando no sono.
– E pra quê chegar tão cedo assim? Não podia esperar em casa que nem gente normal? E tinha que dormir na frente da minha loja? Pensei que era um mendigo, já ia botar você pra correr.
– Mais uma vez me desculpe. É que acabei de chegar de viagem, estou exausto. Mas preciso comprar algo na sua loja antes de ir para casa.
– Pois bem. O senhor espere um minutinho que eu ainda estou abrindo a loja. Daqui a pouco lhe atendo.
Enquanto aguardava, voltou a olhar para a rua e viu que o bairro começava a acordar. Outros estabelecimentos iam abrindo, e as pessoas começavam a seguir seu caminho para o trabalho ou para a escola. A luz do sol ia aos poucos se intensificando em mais um dia que começava.
Alguns instantes depois, o dono da loja retornou para atendê-lo. Pareceu estranhar um pouco o pedido, mas logo trouxe a caixa e entregou-a. Ao pagar pelo produto, o viajante pensou na sorte que tinha de a moeda não haver mudado desde aquela época. Seria mais uma dificuldade ter de ir atrás de dinheiro antigo para realizar a compra.
– O senhor teria papel de presente para embalar a caixa? – perguntou ao vendedor. – É uma ocasião especial.
– Sim, senhor – respondeu, não sem antes lançar um olhar intrigado.
Com o embrulho debaixo do braço, o viajante agradeceu ao vendedor e deixou a loja, fazendo o caminho de volta pela ruazinha. A claridade dava um aspecto bem melhor àquele lugar. Olhando ao redor, vendo as pessoas cuidando de seus afazeres, e sentindo o ar fresco da manhã, ele sentiu-se bem. De alguma maneira, compreendia porque seu pai amava tanto aquilo tudo.
Chegou à praça, mas não parou. Havia muita gente por lá, então achou melhor seguir adiante e procurar um lugar deserto. Encontrou-o ao lado da igreja, um pequeno jardim com algumas árvores que proporcionavam uma generosa sombra. Olhou ao redor e não viu ninguém. Sem tempo a perder, ajustou o dispositivo e fechou os olhos mais uma vez.
Logo estava de volta. Percebeu antes de abrir os olhos, só pelo barulho da cidade grande. Ao seu redor, o cenário ao qual estava habituado: uma profusão de prédios, asfalto e carros. O sol se escondia atrás de um arranha-céu. Correu pela calçada em direção à faixa de pedestres, esperando o semáforo fechar para os carros. O seu estava estacionado do outro lado da avenida. Chegando lá, rapidamente deu a partida e seguiu para o hospital. Não era uma longa distância, mas o tráfego estava muito lento devido ao grande volume de veículos. Ele estava acostumado com isso, não era nada de anormal. Mas naquele momento sentia uma urgência que o deixava impaciente naquela lentidão. Queria chegar logo, e ficar ali parado era angustiante.
Chegou ao hospital meia hora depois. Estacionou logo em frente, e entrou no saguão. O caminho do elevador e pelos corredores já era automático para ele, tantas vezes já o tinha percorrido nos últimos meses. Mas dessa vez sabia que era especial. Por isso seu coração batia tão acelerado. Chegando à porta do quarto, deu de cara com seu irmão mais novo, acompanhado de alguns primos e primas.
– Conseguiu? – perguntou o irmão.
Ele acenou com a cabeça e mostrou-lhe o embrulho. O irmão abriu um largo sorriso e pousou a mão em seu ombro. Ele retribuiu o sorriso, e em seguida abriu a porta do quarto. Lá dentro, o pai repousava em seu leito, rodeado por muitos rostos conhecidos. Viu a mãe, seu outro irmão, os tios, tias, e alguns amigos do pai. O quarto era bastante espaçoso, mas estava abarrotado de gente. Todos olharam para ele quando entrou. Pareciam esperá-lo. Atrás de si, o irmão fechou a porta ao entrar. Estavam todos ali. As pessoas que seu pai mais amava estavam ali.
Lentamente aproximou-se do pai. Ele estava muito debilitado, mas ainda lúcido. Só reconheceu o filho quando este ficou ao seu lado e pegou sua mão.
– Meu… filho… – balbuciou.
– Oi, papai. Estou aqui. – depositou o embrulho na frente do pai.
– Vo… você… cons… conseguiu… – seus olhos repentinamente arregalaram-se ao ver o pacote.
– Sim, como eu havia lhe prometido. Venha, vamos abrir – pegou as frágeis mãos do pai e ajudou-o a rasgar o papel. Fez boa parte do trabalho, é verdade. Nesse momento, todos no quarto observavam-nos. Ao vislumbrar a caixa por debaixo do embrulho, o pai sobressaltou-se mais uma vez.
– Zo… zor… zorro! – disse, com todo o entusiasmo que sua condição lhe permitia. Seus olhos brilharam com vivacidade, e um sorriso foi aos poucos se formando em seus lábios.
– Sim, papai. Trouxe-lhe uma caixa desse seu pirulito. Pode se lambuzar à vontade. Seu médico provavelmente não aprovaria essa dieta, mas eu já tive todo o trabalho, então é melhor o senhor aproveitar – abriu a caixa e tirou de lá um pirulito. Rasgou a embalagem que o envolvia e colocou o doce na boca do pai. Ele pareceu maravilhado ao sentir o gosto. Lançou ao filho um olhar emocionado. Um misto de orgulho e gratidão. Gratidão também era o que se via nos olhos do filho. Por tudo que o pai lhe dera. Principalmente pelas coisas intangíveis, pelas quais ele sabia que nunca poderia retribuir em igual tamanho. Por mais que as circunstâncias parecessem mostrar o contrário, pai e filho sabiam que aquele era um momento feliz.
Os doces foram distribuídos entre as pessoas no quarto, e todos pareceram compartilhar um pouco da alegria do pai. O próprio filho provou o tal pirulito. Era bom, é verdade, mas ele não conseguia compreender o que tinha de tão especial. Obviamente tinha um significado diferente para o pai. “Cada um tem seu próprio Rosebud, meu filho”, provavelmente diria. E ele tem razão. Nós nos apegamos a tantas coisas, e muitas delas só fazem sentido para nós mesmos. Às vezes, tentar entender os outros é perda de tempo. Muitas vezes é melhor simplesmente aceitarmos que somos diferentes, e entender que nem tudo tem que fazer sentido. Ver o pai feliz assim facilitava essa sua conclusão.
O filho abraçou a mãe, os irmãos, cumprimentou os parentes e os amigos do pai. Percebeu em todos uma certa alegria, uma leveza de espírito. Mesmo diante da situação, o clima no quarto parecia agradável, todos pareciam contentes por estar ali juntos, de certa maneira celebrando uma vida, homenageando-a.
Ele retornou para junto do pai e percebeu que o pirulito havia caído de sua boca. Seu rosto emoldurava agora uma expressão serena, mas aquele olhar penetrante ainda estava lá, agora sem acompanhar os olhos do filho. Estava fixado em algum ponto, imóvel. Ele havia partido, compreendeu. Os outros pareciam distraídos demais para perceber. Sem alarde, o filho aproximou-se e mais uma vez tomou a mão do pai na sua. Deu-lhe um beijo na testa e despediu-se silenciosamente. Encarou o rosto do pai novamente e permitiu-se uma primeira lágrima. Mas junto dela estampava um ligeiro meio sorriso. O pai se fora feliz. Tinha convicção disso. Teve uma bela vida, e uma despedida digna. No fim, foi capaz de “atar as duas pontas da vida”. Não podia negar que isso o consolava um pouco. Afinal, poucos de nós conseguirão tais façanhas.
Gente, que conto bonitinho! Uma história forte e emocionante. Eu só recomendaria que alguns detalhes se anunciassem menos, para aumentarem o impacto… as falas do pai revelam muito do que há de se seguir. Diferente do que disseram, eu não fiquei surpreso com os pirulitos. Não sabia exatamente o que seria, mas imaginava uma coisa extremamente trivial, exatamente pelos motivos que citei. Fora esses detalhes, o conto foi excelentemente desenvolvido. Parabéns ao autor!
Nossa, é… nossa! (rs’)
Meus olhos lacrimejaram… fiquei muito surpresa quando vi que o pedido do pai era o pirulito preferido. Foi inusitado e simplesmente não tive como conter as lágrimas em uma recordação: meu avô pouco antes de falecer pediu ao meu tio bala de menta. Não esperava por isso. E a única coisa que posso dizer é obrigada, por ter tido a oportunidade de ler esse conto. Parabéns!
Foi bárbaro o suspense que este deixou em mim. Se eu voltar no tempo, também vou desejar o mesmo. Que saudades desse Zorro! Bom, para mim está entre os melhores, após umas poucas correções de pontuação que percebi(Se há muitas- voei sem perceber) e se este fosse meu, repensaria apenas no final que se prolongou um pouco sem razão de ser. Tentarei colocar aqui. Após este trecho (Por mais que as circunstâncias parecessem mostrar o contrário, pai e filho sabiam que aquele era um momento feliz.) o autor deveria eliminar os dois parágrafos seguintes , indo para o parágrafo final (Ele retornou para junto do pai e percebeu que o pirulito havia caído de sua boca. Seu rosto emoldurava agora uma expressão serena, mas aquele olhar penetrante ainda estava lá, agora sem acompanhar os olhos do filho. Estava fixado…) Os dois penúltimos paragrafos mesclam e cansam o texto. Fora isso, formidável! Parabéns e obrigado pelos pirulitos. Ah! Belíssima sua maneira de narrar (fugiu-me a palavra correta) o local para onde foi o viajante. Me senti lá.
Um dos cinco melhores, sem dúvida. Concordo com a crítica do Sérgio Ferrari, de que se o conto tivesse algum tipo de inesperado final ele ficaria várias vezes melhor. Está muito bom para ganhar esse desafio, mas precisa de aparar algumas pontas. Talvez o inesperado estivesse por conta de o vendedor ser o próprio pai, ou talvez o pai não gostar tanto assim do pirulito, dizendo que o gosto que ele lembrava era melhor (esse é o final que eu teria escrito, pois se harmoniza com o meu conceito de “saudades falsas”, que é o tema presente em mais de 2/3 dos meus textos). Enfim, há como melhorar o que já está ótimo. Gostaria que o autor não visse essa crítica como algum ruim: melhorar o que já é bom é mais fácil do que melhorar o que é horrível. Não tanto pela dificuldade, mas pela recompensa. Enfeitar merda não é nenhum grande prazer, como se sabe.
Nossa, uma decepção com o gosto do pirulito àquela altura do campeonato seria perfeita, cara! Adicionaria “amargor” ao que, até ali, fora só docilidade, e deixaria no conto um quê machadiano, de “a vida nunca foi, de fato, tão boa quanto nossa memória nos faz supor”. Mesmo que o personagem não externasse essa decepção, por não querer ver o enternecimento desaparecendo dos rostos dos parentes. A menos, é claro, que houvesse sido retratado como um ingrato cretino no resto do conto, ocasião em que não soaria deslocado fazê-lo dizer, depois da primeira provada: — Porra, filho, o velho te vendeu um lote vencido! Volte lá e dê um soco nele, por mim!
Um conto sensível e com uma moral gostosa. O tipo de conto aue a gemte se esbalda, se semte tranquilo em ler. Porém, não tem um clímax, alguma coisa surpreendente que tenha separado este dos outro contos, uma “isca” por assim dizer. É um conto agradabilíssimo, sim, mas é um vencedor?
Volto só pra dizer que…se vc tivesse ido no final com um tom um pouco mais debochado, irônico…. pra realizar o desfecho…quebrando o tom saudosista e familiar…seria uma quebra tão incrivel, que facilmente um conto desses estaria rodando coletâneas boas por ai….sério.
Sério…são coisas diferentes assim que busco no meu critério. Um conto bom é isso. É surpresa, é impacto é uma boa sacada.
HAUHAUAHUAHA QUE CRETINO ESSE CONTO (digo isso no melhor sentido possível) eu ri alto quando revelou que era aquele pirulito Zorro. PQP. Isso tornou o conto…tipo…algo levemente absurdo….non sequitur….. eu nem sei dizer…hahahaha Olha…acho q se fosse um tantinho inho mais curto…preparando o impacto para o pirulito…seria melhor ainda. Adorei. kkkkkkk E o final encaixou. O titulo, melhor ainda. Valew. 😀
Um conto muito bem escrito e maravilhoso. Concordo com o Elton que o título é algo a parte! Parabéns e com certeza um dos meus favoritos!
Acho que fui um dos poucos, ou o único, que não gostou muito do texto. Isso parece indicar que o problema da leitura está em mim e não no conto.
De qualquer forma, acho válido apontar o que não gostei e isso diz respeito ao clímax, ou à falta dele. Entendo que a história se construiu ao redor do mistério do que estaria na caixa, mas isso não me pareceu o bastante. É um texto bonito, sim. Mas senti falta de um impacto, de uma dificuldade, de uma resolução, de um conflito interno…
Enfim, é como disse, acho que o problema é mais meu, referente a gostos pessoais. De qualquer forma, parabéns pelo conto!
Leandro, devo dizer que você não foi o único. Achei o texto belíssimo, a história muito legal e que nos remete a boas lembranças. Entretanto, eu também creio que tenha faltado um clímax, mais do que apenas a caixa. Fiquei atônito durante a leitura, pensando que possivelmente, aquele momento em que o protagonista foi enxotado de frente da loja, fosse um momento de encontro entre o pai e o filho, não sei, algo que causasse um certo impacto.
Enfim, um texto muito legal, ainda que, na minha opinião, esteja faltando algo mais, o autor está de parabéns!
Um conto tão bom que me fez sentir saudades da infância, dos doces e tudo mais. Me emocionei com o conto, a forma com que o autor escondeu o conteudo da caixa. Mesmo o final sendo óbvio, sei que foi um final inevitavel, e simples no final das contas.
Amei!
Conto emocionante com uma agradável surpresa que leva o leitor a uma viagem no tempo particular. Traz à tona lembranças de nossos melhores dias. Gostei muito!
Muito bom, uma ótima leitura. E bonito de se acompanhar, seria tão bom se a gente pudesse voltar no tempo… E certos objetos que nos remetem a outros tempos fazem isso mesmo. Parabéns, só o que acho que posso dizer, o restante já foi (bem) dito pelos colegas que já comentaram.
Uma das partes desse texto que mais gostei foi o final, achei que o autor fechou o conto com a famigerada chave de ouro. Do ponto de vista gramatical, também muito bom. Um ótimo conto.
Gostei bastante. O leitor fica curioso quanto ao conteúdo da caixa até se deparar com a lembrança doce, do sonho de infância. O tom afetivo sem ser pedante ou piegas, faz a leitura deslizar fácil. Não promete milagres ou mudança de destino, mas traz o desfecho no ritmo apropriado e que emociona pela simplicidade.
Apesar de suscitar automaticamente tramas revisionistas (os famosos “e se…”), esse é, dos que li até agora, o único conto que se propôs a fazer do tema um mero trampolim técnico para algo mais profundo. É fácil — e surrado — pensar numa história de viagem no tempo como um artifício para evitar a morte de alguém, como no clássico Superman, impedir que outrem nasça ou fazer qualquer reparo passadista que teria “mudado tudo” — aqueles clichês na linha de Efeito Borboleta e Minority Report, embora eu seja um fã deste último. E é, também, nessa quebra de expectativa, nessa fuga ao usual, que o conto ganha força. O saudosismo doce (literalmente) evoca Tchekhov, nalguns momentos, mas, de um modo geral, lembrou-me mesmo foi de Goodbye, Lenin!, em que um filho precisa recompor, para a mãe conservadora e recém-saída de um coma, o cenário político da época em que ela caíra desacordada. A corrida do protagonista para conseguir um produto que não é mais fabricado, e o espanto do leitor ao constatar do que de fato se trata o conteúdo da caixa, só provocam estranhamento até o primeiro exercício de empatia, até nos darmos conta de uma verdade nem sempre manifesta: há sabores que nos levam de volta às melhores fases de nossas vidas com mais intensidade do que qualquer máquina do tempo poderia fazer. Vide o fim de Ratatouille. Vide este conto.
De crítica, só poderia dizer que, no ato final, há algumas concessões a construtos que, embora não propriamente batidos, destoam do tom bastante original do resto do texto. Coisas bobas, tipo “expressão serena” e a última frase, que, apesar de referir aos personagens, involuntariamente estabelece um diálogo auto-ajudesco com o leitor.
Parabéns ao autor.
Interessante o começo, mas o desfecho é por demais óbvio. Um conto bem escrito, mas sem nada que o diferencie de outros tantos do gênero com o mesmo desenvolvimento que já li. Merecia uma virada, algo que surpreendesse o leitor no final. Do jeito que está ficou meio como filme da sessão da tarde que você assiste, gosta de assistir, mas já sabe o final.
É difícil escrever chorando… Mas, chorar de ler é como chorar de rir; muito embora chorar seja chorar. E só chora quem tem sentimento, da mesma forma que só se deve escrever se, misturado à tinta (ou bits), estiver a própria alma.
Impossível não viajar no tempo lendo este conto. Talvez, inclusive, este seja o conto que melhor executou o desafio do Tempo…
O Tempo não é algo que o Homem inventou, como muito se lê por aí. Tempo não é invenção da Humanidade, mas sim reflexão do Homem. Tempo é refletir.
E escrever.
Parabéns ao autor! 🙂
Grande conto.
A viagem no tempo é apenas um pretexto pra fazer a gente se emocionar.
Também viajei junto e cheguei a sentir o sabor do pirulito, lembrei das barraquinhas do bairro onde cresci e onde eu comprava balas.
Obrigado ao autor!
Gostei: texto correto, mensagem sem pedantismos. Porque julgo merecer, transcrevo: “Nós nos apegamos a tantas coisas, e muitas delas só fazem sentido para nós mesmos.” Ultimamente tenho buscado na memória (máquina do tempo tão individual!) cheiro de água-pé, gosto de tapioca de milho e macieza da pele de avó… Grata pela emoção e pela singela verdade.
muito bom, gostei! ainda bem que alguem pode usar a tal viagem no tempo pra fazer algo bom!
escrita agradavel, li coma tenção. parabens!
Muito bom o conto: bem escrito, diferente e emocionante.
Embora eu saiba que as pessoas eram mais formais antigamente, achei o diálogo com o vendedor um tanto “duro” demais. Valeria talvez melhorar um pouco o tal diálogo.
De resto, nada mais a reclamar! Saudades do pirulito Zorro, das balas Juquinha & cia.
Muito bem escrito e emocionante conto. Fiquei sem palavras. Parabéns.
Uma ideia simples, mas muito bem trabalhada. Aqui a “viagem no tempo” não é o principal mote do conto, mas uma mera ferramenta para que o autor nos apresente uma história terna, lírica e que, em momentos, nos faz ter saudades de quem já se foi. Lembrei do meu avô, que morreu de câncer há alguns anos. No último Natal que passamos juntos, eu dei a ele de presente um gibi do “Fantasma”, de Lee Falk, que ele, quando garoto, adorava. Jamais vou esquecer a expressão de espanto e alegria dele, aos 83 anos, recebendo aquele presente diretamente do passado. Por isso me identifiquei bastante com esse conto. Parabéns!
Sobre a história… Forte, introspectiva, com uma leve surpresa pela relação com o maravilhoso título. O desfecho emociona e cumpre com maestria.
Sobre a técnica… Muitíssimo bem escrito, parágrafos corretíssimos, ortografia perfeita.
Sobre o título… Talvez o melhor de tudo. Uma prova do que digo: tem que ser um gancho sem ser um spoiler direto. Gera na nossa mente a idéia de que vai falar do mascarado e nos surpreende. Bom demais! Que sirva de exemplo!