A luz do luar incidia sobre o corpo dele.
Corpo branco, de pele fria, longo e brilhante.
Espalhados sobre o lençol acetinado, longos cabelos cor de ébano, em total desalinho.
Eu o olhava, ainda sentindo dentro de mim sua presença, como néctar a percorrer minhas veias, revigorando minha força, despertando outra vez meu desejo.
Ele dormia.
O rosto de suaves contornos não escondia sua masculinidade e o cheiro que desprendia do corpo lânguido, estendido sobre a cama, ainda se misturava ao meu próprio cheiro.
Ali, onde há pouco nos amaramos.
Me aproximei, silenciosa, sorvendo avidamente de sua força que descansava. Num átimo, fui envolvida rápida e totalmente, numa intensa vibração de amor.
Poderia amá-lo daquela forma, sem tocá-lo. Permiti que a excitação crescente me conduzisse através das ondulações de prazer até me levar ao orgasmo intenso, infinitamente longo.
Ele despertou.
Novamente enlaçados, integrados um ao outro, nosso amor se concretizou entre um abraço forte, um impulso que nos acoplou, um beijo molhado…
No instante seguinte, um vento frio, cortante, nos tocou por um instante, percorrendo nossos corpos unidos, instalando-se em nosso âmago, nos falando de adeus.
Sim, porque seria muito esperar que o tempo nos concedesse no espaço, a eternidade para o nosso amor.
Adeus.
Mais que uma palavra triste, um eterno afastar, uma distancia que não se mede, num tempo que nem existe, mas que se sente e faz sofrer.
E como um castigo que nos ferisse os mais sensíveis sentimentos, como forma de nos cobrar pela ousadia de amar, ficou para cada um a lembrança viva e pulsante do amor que nos uniu como amantes, por quanto tempo? Uma vida, um segundo…
A luz do luar acariciando a mesma cama, brincando de desenhar sobre o lençol acetinado, desta vez frio, indiferente, porque o corpo dele já não está mais ali.
Não mais o vejo senão em minhas lembranças, cruelmente claras, de onde ainda exala sua doce presença de amor.
Sinto sua força percorrendo-me as veias, mas já não é como antes, não me excito, apenas lamento e não me atinge o orgasmo, mas a dor da perda, a saudade e a certeza de tê-lo ainda, porem muito distante.
Relembro o sorriso de menino, iluminando seu rosto.
Sinto o toque de sua pele sedosa, o roçar dos cabelos macios, mas quando percebo, é em mim mesma que toco, são meus sentidos no presente.
Abraço-me e é como se o estivesse abraçando.
Em minha pele o cheiro dele se mistura ao meu.
Deixo-me envolver pela vibração forte, viril, que me transporta num átimo para o ninho que nos acolheu nesse amor transcendente.
Ah! Quem dera tê-lo outra vez e que não fosse apenas em meus devaneios…
Quem dera poder trocar energias novamente e permitir ao corpo o gosto do prazer intenso!
Sei que ele sofre.
Sofre porque também se lembra e anseia pela chance do reencontro.
Porque me procura no tempo e no espaço mas apenas me encontra em sua lembrança, percebendo a extensão da distancia que nos separa.
Sofre porque o frio lhe envolve o coração criança e embora se tenha feito homem, por intensos e inesquecíveis instantes, ainda é o que é – pura essência!
Um corpo branco, de pele fria, olhar cristalino no rosto de suaves contornos, emoldurado pelo negror dos longos cabelos.
A força máxima exalando de todos os poros, a vibração do amor mais puro, que transcende, mas não tem permissão de entrega.
A asas…ah! as longas e brancas asas, que envolvem e aconchegam durante o ato de amor…
Sim, ainda posso vê-lo em minha memória atemporal.
Corpo branco, brancas asas, o meu anjo.
Nesta noite de longa espera, quando se faz inverno em meu coração, surge tênue, vaga, uma pequena esperança.
A luz fria da lua distante, que me toca o corpo e ilumina a alma, me fala de amanhã, de primavera, de renascer.
Talvez eu também me torne um anjo, ou quem sabe ele não se faça homem, e juntos, transpassemos a janela do tempo no espaço, alcançando um portal de eterno amor!
Sairemos do torpor que quase nos enregelou as almas e deixaremos para sempre, atrás no tempo, o inverno que nos tirou o brilho do olhar.
Dentre as primeiras flores que nos ofertará a primavera colorida, uniremos nossos corpos, nos tocaremos as essências, nos fundiremos num único pulsar de tempo constante, que servirá de exemplo a outros e vários amantes, que em nome do amor e do prazer, tenham a ousadia de vivenciarem sonhos loucos, no ontem, no amanhã, mas principalmente no tempo daqui e no agora…
Bem, eu não gostei muito, mas é porque não faz meu estilo… Parágrafos curtos, repetições (branco, branco, brancas…), umas imagens que me surgiram à mente enquanto lia e que não me animaram nem um pouco, rs… Mas se gosta do estilo, que continue praticando, pois sempre tem um público para esse tipo de texto, e não estou dizendo isso como ironia, mas é que é verdade. 😉
Não faz meu gosto e não será por isso que irei desmerecê-lo. Nunca suportei Elvis e não é por isso que direi que ele era péssimo. O que quero dizer é que este texto ficou melhor que o defunto citado. Pena não fazer meu estilo. Abração e boa sorte.
Padre Marcelo Rossi escrevendo contos sensuais para Sabrina, Júlia e Bianca.
A autora sem dúvida sabe escrever, e bem. Não é muito meu estilo de texto, mas tem público para ele. Particularmente preferiria uma dose maior de objetividade, mas é questão de gosto mesmo. Como já disseram aqui, teria sido interessante explorar um pouco mais a relação entre os dois, não entregando tudo, mas lançando dicas aqui e ali. Também não consegui vislumbrar o tema do desafio no conto. Preferências à parte, parabéns pela boa escrita.
Talvez em 1890 num jantar entre amigos, poderia ser uma narração interessante quando todos estivessem bêbados de conhaque após a sobremesa. Olha….o começo já havia me dito tudo de errado:
A luz do luar incidia sobre o corpo dele.
Corpo branco, de pele fria, longo e brilhante.
IMEDIATAMENTE QUEM APARECEU?
#badtrip
HAHAHAHAHAHAHA Uma risada acabou de ser dada ao ver a imagem
😛
E mais outra; ha-ha! (Sérgio. O MALVADO.)
Bom, talvez esse seja o tipo de conto que eu possa comentar com um pouco mais de firmeza. Para mim, não pareceu um poema como alguns disseram. Uma prosa poética? Pode ser. Isso depende do autor (a).
Gosto de ler, mas sinto que faltou muito. Gosto de frases curtas nesse tipo de texto para destacar alguns sentimentos e momentos, como em “ele despertou”, “adeus”, “sei que ele sofre”. No restante, quando as frases são quebradas, vão junto os sentimentos. Não consegui sentir o mesmo que a personagem e em uma história lírica como essa isso é muito – extremamente – importante para envolver o leitor. O público alvo, no caso, pois o estilo, infelizmente, se limita.
Também observei o eco, mencionado. Ele não me incomodaria, nesse caso, se fosse bem aplicado. Até uso, algumas vezes em prosas poéticas e poesias. Gostei quando soou “cor”, após ler “corpo”.
Desenvolvimento. “Amor Atemporal” pode ser melhor desenvolvido. Como disse, para nos fazer sentir a mesma paixão que a personagem.
Como alguns disseram, apreciei muito sua coragem. Não sei se ousaria…
Histórias que se aventuram nas paragens da “paixão ardente” são bem arriscadas… enquanto capazes de proporcionar grande imersão e intensas emoções aos que, por um motivo ou outro, com elas se identificam, também geram aversão extrema da parte daqueles que não sintonizam com esse espectro emocional.
Tentando ser o mais objetivo possível, vi no texto muitos “lugares comuns” do gênero. Isso não é necessariamente um problema, desde que o objetivo expressivo da história seja cumprido para o tipo de leitor a que se destina. Eu particularmente não me enquadro nesse grupo, então me sinto suspeito para falar sobre isso. De todo modo, dentro da proposta estilística selecionada, houve competência na escrita. A ortografia e a gramática estão impecáveis.
O autor deve investir no seu talento, já que há grande nicho para esse tipo de leitura. Parabéns e boa sorte!
AH! AH! AH! rs. Bom, já li um texto extremamente romântico aqui, esse é outro que mela de tão adocicado. Nada contra, só não gosto, mesmo. Mas nesse aqui as frases REALMENTE parece tiradas daqueles livros soft-porn vendidos em banca. Esta aí um nicho a ser explorado.
De cara o conto não me agradou pelo estilo: não curto parágrafos curtos. Pensei que o enredo compensaria, mas nada saiu do lugar – nem do tempo! E como não creio que amor seja coisa melosa…
Uma bonita história de amor, intensa, mas mesmo a ideia de memória atemporal não caracteriza uma viagem no tempo…
Sem dúvida o texto me transmitiu “com intensidade” os sentimentos de quem narrava. Nesse sentido, o conto cumpre perfeitamente seu papel. Por não estar habituado ao lirismo excessivo e ter uma visão mais “física” do que seja viajar no tempo, não me encantou em especial. Enfim, um ótimo vinho cujo meu paladar acostumado a “sangue de boá” não tem competência de aproveitar plenamente.
Também me amarro em Sangue de Boá, Frank! 😀
Com que graça, concisão e foco a autora compõe o texto. Encerrando todos os tempos em um só instante – como requer o tema do desafio se submetido aos rigores do conto clássico. Obra admirável.
Sobre a história… Mais uma história de amor atemporal. Nesse caso, porém, na minha opinião, segue uma fuga absoluta ao tema. Não existe viagem no tempo, e sim um amor que não acaba e busca na eternidade seu continuum. Por essa razão, deveria ser desclassificado. A história é simples, mas bonita. Soa mais como um poema em prosa do que uma prosa poética, até pelo formato elaborado.
Sobre a técnica… O texto busca inspiração numa prosa poética para falar de amor. Por isso, o autor aposta pesado em lirismo, mas acaba cometendo uma falha grave: o eco. O texto tem tanto eco, que chega a cansar. Vou dar exemplos: nos primeiros parágrafos/versos temos corpo 3 vezes (e ainda cor e percorrer para piorar o eco), longos 2 vezes, cheiro 2 vezes, luz/luar/brilhante. Mais à frente, numa só frase, temos de novo cortante/percorrendo/corpo. Enfim, deu para entender, né?
Sobre o título… Ele já se entrega, já mostra exatamente o que vai ser a história. Quando você lê o título, você pode parar, porque nada mais de novo vai acontecer dali para frente. Mude, por favor!
Ousado, forte, fora do lugar comum. Gostei muito! Parabéns.
Creio que nem se adeque na temática, nem no gênero, parece mais um poema a desembocar numa prosa poética – que não deixa de ter seu encanto.
Uma leitura doce, porém doce demais. Mas o amor é assunto delicado..
Publicar um texto, especialmente na internet, é “dar a cara a tapa”. É preciso coragem e esse já seria um ponto a favor da autora. Outro seria o “pensamento fora da caixa”: para mim, é impossível conceber um conto com a temática “Viagem no Tempo” sem… uma viagem FÍSICA no tempo.
Sobre a narrativa, certamente tem seu público e, bem ou mal, parece ser o texto com mais comentários até agora (o que, por si só, já é um grande mérito).
Parabéns!
Maravilhoso. Parabéns.
Esses desafios realmente nos trazem muitas surpresas (ainda bem). Nunca leria um conto desses não fosse pela proposta do Entrecontos.
A diversidade já se mostrou no primeiro, onde a temática não foi barreira para contos com visões distintas da proposta inicial. Agora me deparo com textos (não só esse) que destrincham a viagem no tempo além do lugar comum.
Não me identifiquei com a narrativa, mas nem por isso deixo de reconhecer a coragem da autora.
Parabéns!
No começo do conto eu achei que algum tipo de animal longo, branco e de pele viscosa estivesse sendo descrito, achei bacana. Então nas linhas seguintes vi que era um homem, um amante, e a minha alegria inicial se foi, pois saquei que eram as memórias de um romance. Há outro texto que comentei dias atrás, da viagem no tempo com os escritores, que achei um clichê bacana, mas esse aqui eu encaro como um clichê ruim. Embora eu não tenha gostado, há uma exposição corajosa de que o escreveu, penso que o escritor tenha vivido tal momento e essa foi a forma de expor suas lembranças. Outra coisa que me desanimou foi a descrição das asas de um anjo, fiquei perturbado com isso, lembrei na hora do filme CIdade dos Anjos (antes eu tivesse lembrado de Asas do Desejo).
Achei que a autora viajou mesmo no tempo e escreveu para um publico que esta viciado demais em violência, descrições geográficas sem fim, informatica, ciência e tecnologia. Quem já experimentou desse sentimento, com certeza não teme.
Considero a proposta interessante. O amor atemporal. Muito boa a sacada. A eterna máquina do tempo.
O amor surge como tema puxando forte lirismo. Parece mais um poema do que conto. Nao achei ruim, mas poderia rever a linha da narrativa.
Lamento, mas não gostei. Achei o “lirismo” da narração cheio de lugares comuns e a história tbm não me prendeu.
Achei muito ruim. Não pouco: muito. Mesmo.
Não há uma só linha no texto que não contenha construções frasais inteiras para lá de embotadas pelo uso excessivo, e que ficariam melhores num desses romances formulaicos de banca de revista, da linha Sabrina e Jéssica, onde o limite que separa o lirismo da pieguice jamais é respeitado por questões, inclusive, comerciais. Aliás, essa foi a imagem que me ficou na mente durante toda a leitura, terminada a muito custo: uma capa genérica com um cara musculoso e sem camisa prestes a beijar uma mocinha igualmente genérica curvada em seus braços, com, possivelmente, um cavalo ao fundo.
Não é que não seja possível soar original tendo o amor romântico como tema (está aí uma parcela expressiva da literatura do Ian McEwan pra provar). Só que este conto simplesmente não faz questão de se esforçar, neste sentido. Descrições de personagens, de coisas, de sentimentos — tudo parece já ter sido usado (e de fato o foi) desta mesma forma, um milhão de vezes. Daí eu acreditar que só se enquadre no tema — de modo genial, aliás — se a intenção fosse aludir à teoria do Eterno Retorno. Porque é exatamente o que se vê. Um eterno retorno ao melodrama unidimensional dos romances de banca. =/
…”com, possivelmente, um cavalo ao fundo.” 😀
Rindo sem parar, aqui…
Holloway nervoso…
E olha que nem foi utilizada a expressão “deu de ombros” ou “franziu o cenho”.
Tenso…
Inclusive no início: “a luz do luar incidia sobre o corpo dele…”
Ah, o amor… 😉
É muito legal perceber que neste Desafio — e principalmente NESTE Desafio, com este Tema que faria o menor dos geeks esperar uma avalanche de robôs, circuitos, explosões, raios, chips… — foi exatamente o AMOR a aflorar pela maioria das linhas (ou pelo menos das mais comentadas) por aqui.
Sinal “dos Tempos”…
🙂
Seguramente o conto mais ousado do Desafio. Bem escrito, repleto de alusões subliminares – outras nem tanto – ao amor e ao desejo. Bacana a maneira como a autora trabalhou o conceito de tempo na narrativa. No entanto, o conto é apenas o retrato de um momento. Talvez se tivesse desenvolvido a história do romance entre o casal, a história ganhasse forma. De todo modo, está de parabéns.
Perfeito! Está exatamente ao meu gosto: o mais eloquente dos romances, que faz meu coração doer de saudades como se pertencesse a mim esse amor perdido…