EntreContos

Detox Literário.

Rainha em Xeque (Claudia Roberta Angst)

Após dobrar a última peça de roupa, Regina pôs as mãos na cintura e suspirou. Em parte, estava satisfeita com a tarefa cumprida, mas ainda experimentava um estranho sentimento de frustração. Nada mais seria o mesmo. Não sem a mãe. Nunca mais.  

O que a gente faz com isso?

A voz de contralto tirou Regina de seu labirinto de devaneios. Sofia trazia nas mãos uma pequena caixa trabalhada em marchetaria, o tampo simulando um tabuleiro de xadrez, as beiradas minuciosamente tingidas de um tom dourado, envelhecido pelo tempo, dando à peça a preciosidade de uma relíquia. Ambas as irmãs conheciam aquele objeto desde meninas, o tesouro materno, nunca aberto à curiosidade infantil. As duas especulavam sobre o que conteria aquela caixinha. Sacudiam, escutavam o som surdo de um vazio desconhecido.

— Encontrou a chave?

— Não. Deve estar em um daqueles cantinhos misteriosos que só dona Madalena era capaz de cavar na memória.

Regina, sempre muito pragmática, tomou a decisão imediata.  

— Pois bem, o luto dispensa cerimônia. Passa isso pra cá.

Com a caixa nas mãos, a filha mais velha de dona Madalena foi até o quartinho de jardinagem, onde ficavam também as ferramentas do pai. Escolheu a menor chave de fenda que encontrou, mais pela adequação ao intento do que por qualquer cuidado com o objeto.

Mas vai estragar!

Regina olhou para a irmã com a impaciência padrão estabelecida desde o berço. Não se deixava levar pela necessidade de delicadezas que os outros teimavam em ostentar.

— Ninguém vai reclamar agora, vai?

 Sofia deteve a ferramenta por um instante…

— Espera! Tive uma ideia aqui… Cadê aquela corrente que a mãe usava sempre?

— Não foi enterrada com ela?

— Tá doida? Desta vida ninguém leva nada, mana.

Voltou ao quarto da mãe e abriu a primeira gaveta da mesinha de cabeceira. Retirou dali um pequeno porta-joias improvisado, dentro alguns anéis, as alianças dos pais e uma única corrente com penduricalhos diversos.

 — E se essa chavinha aqui for mesmo de verdade?

— É nada, Sofia, veja lá se…

A irmã nem se dignou a dar ouvidos aos protestos, tomando posse da caixa, enquanto Regina ainda segurava em uma das mãos a chave de fenda.

Pronta para o desvendar do mistério, Sofia enfiou a pequena chave na fechadura. Era mesmo uma joia mínima, um detalhe feito por talentoso artesão. As duas arregalaram os olhos quando o trinco foi aberto.

— Ora, vejam só… Estava tão perto o tempo todo.

As irmãs sentaram-se na cama, agora com o colchão desnudo. Abriram juntas a pequena tampa, parando de respirar por um instante. Eram novamente duas meninas prestes a realizar a maior traquinagem, e agora sem medo de qualquer castigo.

O forro de camurça vermelha abrigava um embrulho improvisado com um lenço de seda branco. Sofia desatou os nós frouxos, desembrulhando segredo e espanto ao mesmo tempo.

— O que é isso?

— Não tá vendo, lesada? É uma peça de xadrez. A rainha.

— A mãe sempre disse que o certo é dama e não rainha.

— Dama, rainha, tanto faz! É só a droga de uma peça de tabuleiro.

— O material é bom, não é plástico não, mana. Deve ser marfim ou madrepérola.

— Mas por que só uma peça? E por que esse segredo todo só pra guardar essa coisinha de nada?

— Tem algo aqui no fundo…

Sofia desdobrou com delicadeza um pedaço de papel já bastante vincado pelo manuseio. O tom amarelado, tingido de tantos olhares, revelava uma caligrafia alongada um pouco borrada, mas ainda legível.

Nunca mais haverá outra dama. Prometo. H. Karoglan.

 — Eita, quem é esse? Papai certamente não escreveu isso…

— Karoglan… Karoglan… sei… conheço esse nome, mas de onde?

Regina bufou impaciente e mostrou-se bastante decepcionada com a descoberta do conteúdo da misteriosa relíquia. Voltou à atividade inadiável de separar e empacotar a casa da mãe. Logo mais, tudo resultaria em um grande nada, um vazio sem asas, um imóvel oco, sem serventia além de memórias.

As irmãs dormiram por ali mesmo, evitando ter que retornar à casa para pegar no serviço logo pela manhã de domingo.

Regina foi acordada com um grito da irmã…

— Claro! Já sei quem é o cara!

Os olhos mal despertos de Regina fulminaram a irmã que não se deteve mesmo assim.

— Heitor Karoglan, aquele artista famoso, sabe…

— O esquisitão dos tabuleiros? Mas ele já não morreu?

— Não que eu saiba… deve estar bem velhinho, mas isso logo vou descobrir.

— Falou, dona detetive, vai fundo!

Antes do final do dia, Sofia levantou a ficha completa de H.K., misterioso artista plástico que despontou nos anos 1970, após desistir de uma bem-sucedida carreira de enxadrista. Não aparecia nos jornais, ou em qualquer mídia. Um velho recluso, por muitos chamado O Eremita. Suas obras, bastante peculiares, haviam alcançado fama internacional.

Sofia conseguiu, não se sabe usando que artifícios, o e-mail de uma das filhas do velho Karoglan. Explicou usando palavras escolhidas com cuidado a situação, anexou foto da peça de marfim (ou madrepérola) e do bilhete.

— Agora é esperar.

— Enquanto esperamos, trate de me ajudar aqui com o desmonte da cozinha. Meu Deus, como a mãe juntava tralha!

— Mas você só reclama, hein? A gente prestes a descobrir o segredo familiar e você aí se apegando a …

Regina foi empurrando a irmã pelas costas direcionando-a aos armários a serem limpos.  

No dia seguinte, chegou um e-mail sem muitas palavras, mas com um convite educado para um chá da tarde. O endereço bem explicado.

— Chá da tarde? Por acaso estamos na Inglaterra?

— Vai ser divertido, mana. Vamos lá!

Chegaram pontualmente ao endereço. Um prédio antigo, bastante sofisticado, em um bairro nobre do outro lado da cidade. As duas tiveram de apresentar documentos de identificação na portaria e foram conduzidas a um elevador de linhas art nouveau, todo espelhado. Um inesperado ascensorista as cumprimentou com um sorriso.

Foram recebidas no oitavo andar por um empregado uniformizado. E já se perguntavam se estavam participando de uma novela de época. Sem uma palavra, seguiram o cavalheiro por um piso de mármore quadriculado em preto e branco.

Entravam agora em uma ala que bem poderia ser os aposentos de um rei. Temerosas, avançavam como simples peões. Logo as irmãs optaram por manter uma posição que as levaria ao equilíbrio de reações recíprocas.

Uma senhora loira adentrou trazendo um leve perfume adocicado que não chegava a irritar narinas desacostumadas a aromas tão sofisticados.

— Boa tarde. Sou Gabrielle, filha de Heitor Karoglan. Foi uma surpresa e tanto receber seu e-mail.

— Também levamos um susto quando descobrimos no meio das coisas da mamãe…bem, a senhora viu, né, pelas fotos que enviamos.  

Enquanto Sofia tentava se mostrar gentil e elegante, evitando parecer muito ansiosa para exibir a peça encontrada, sua irmã explorava o cenário em volta, sem se preocupar com qualquer indiscrição.

Gabrielle Karoglan não parecia se incomodar nem com o excesso de gentilezas de uma irmã, nem com o pouco caso da outra. Manteve-se fiel ao protocolo seguido por décadas naquela casa. 

— Fiquem à vontade, logo serviremos o chá.

Foi então que Regina se deu conta da peculiaridade da decoração do ambiente. Paredes cobertas com telas que repetiam a padronização de tabuleiros de xadrez, em diferentes ângulos, peças em posições diversas, algumas tombadas. Em todas, uma casa vazia denunciava a ausência. Ao lado do rei, nenhuma dama. Nem branca, nem preta. Além das telas pintadas com pinceladas fortes e vibrantes, havia também uma série de esculturas no mesmo tema. Nada de damas ou rainhas.

— A arte do seu pai é mesmo…humm… peculiar.

— Não é mesmo? Ainda bem que conseguimos guardar alguns de seus preciosos trabalhos conosco. Chamamos esta sala de o pequeno museu de H.K.

As aclamadas obras de arte não eram bem do estilo preferido de Regina, mas ela não podia negar o deslumbramento que causavam. Havia ali a aura de um passado afortunado.  

O chá foi servido em uma mesa central, prata e porcelana sobre linho bordado. Sofia e Regina esforçaram-se para emular os modos da anfitriã. Bebericaram e mordiscaram de forma a disfarçar o apetite por algo mais substancial.

Pouco depois, o serviço foi retirado, mas as três permaneceram sentadas nas cadeiras que, apesar do aspecto austero, eram bastante confortáveis. Gabrielle abriu um sorriso de milhões e perguntou como se falasse da temperatura do dia.

Poderiam me mostrar a peça?

Sofia prontificou-se a atender ao pedido e pôs o pequeno embrulho de seda sobre a toalha finamente bordada. Desdobrou o tecido com a delicadeza de quem desgruda asas de uma borboleta. A peça entalhada em marfim revelou o desgaste do tempo como se aquele objeto tivesse sido manuseado incontáveis vezes.

— Pelo que entendi, essa peça pertencia à mãe de vocês, cujo nome seria…

— Madalena Guimaraens Lins e Silva.

Gabrielle abriu os olhos azuis com um espanto que logo se transformou em sorriso. A fala surgiu respeitosa:

— Ah, a famosa Mada Guima, a dama Guima.

As duas irmãs se entreolharam confusas. Aquilo sim era uma grande novidade para elas.

— Não conheciam esse fato?

Continuaram mudas, espantadas com a revelação de um passado que as tornavam ignorantes da própria genealogia. Quem era Mada Guima?

— Mada Guima foi uma das maiores enxadristas da década de 70, uma verdadeira lenda. Pelo que meu pai contou, durante um torneio muito disputado, ela se retirou no meio de uma partida. Assim de repente, sem justificativa alguma. Ninguém entendeu.

Mamãe, uma jogadora de xadrez famosa? Ora, vejam só! Quem diria, dona Madalena…

— Sim, devemos ter por aqui, em algum lugar, registros fotográficos da época. Se quiserem, posso procurar nos arquivos…Está tudo muito bem organizado.

As irmãs, sem nada dizer, sacudiram as cabeças em sinal positivo ao oferecimento.

Gabrielle Karoglan abandonou a mesa e se dirigiu a um armário baixo, pintura em estilo oriental. Dele retirou uma pasta cuja aparência denunciava um grande volume de conteúdo.

Sentaram-se as três em um sofá de estofado na padronagem xadrez que, pela qualidade do tecido, revelava o mesmo cuidado encontrado em todos os outros detalhes da decoração daquele recinto.

— Notem que esta é uma pasta com as iniciais M.G. que só podem indicar o material relacionado a mãe de vocês.

A elegante senhora parou de falar e abriu a pasta deixando escapar papéis e fotos desacostumados com a aragem recebida.

Regina cedeu à curiosidade e indagou sem hesitação:

— E seu pai conhecia minha mãe dos jogos?

Um meio sorriso surgiu na face da requintada dama que piscou os olhos, tentando disfarçar uma pequena inconfidência.

— Suponho que o relacionamento dos dois tenha ultrapassado os limites do tabuleiro…Vejam só essas fotos! É mesmo inacreditável. Eu mesma nunca tinha prestado atenção a esse arquivo.

— Olha, mana, a mamãe bem novinha… que linda! Quantos anos teria?

Gabrielle virou a foto e leu a anotação feita a lápis no verso:

— 1975.

Sofia engasgou, tossiu e encarou os olhos da irmã.

— O ano que você nasceu, Rê.

— Então…

As irmãs se olharam e, após um breve momento, dispararam em uníssono:

— Não!

Era uma exclamação mais pelo alívio de uma conclusão do que a negativa diante de uma suposta indiscrição da mãe.

— Se você não fosse a cara do papai…sei não, viu?

— Deixa de bobagem, mana, até parece que dona Madalena ia aprontar uma dessas.

As duas silenciaram diante do perceptível desconforto da anfitriã que com as mãos trêmulas mostrava outras fotos. Em uma delas, aparecia um casal abraçado de forma discreta, mas carinhosa: Madalena e Heitor.

— Um belo casal, não? Seu pai também não era de se jogar fora, hein, Gabi.

A intimidade forçada deixou a senhorita Karoglan ainda mais desconfortável, preferindo se levantar e deixar as irmãs explorarem sozinhas fotos e artigos de jornais.

— Se alguém me contasse, eu não ia acreditar, não… Logo a mamãe… Bonita pra cacete aquela danada, hein, hein, Sofia?

— Tenho até medo do que mais vamos descobrir, viu… Enfim, mamãe parece ter vivido uma vida e tanto. Agora dá pra entender todo aquele ar misterioso, não era sonsice dela, não.

Gabrielle foi até a mesa onde a caixinha permanecia aberta exibindo a peça delicadamente trabalhada em marfim. Sentia-se encabulada diante da emoção alheia, seu lado sentimental aflorou sem travas.

Sofia cutucou a irmã com o cotovelo, chamando sua atenção para a mulher em pé frente à mesa. Era preciso moderar um pouco o jeito com que lidavam com a surpresa diante de um passado que, afinal, não parecia nada vergonhoso.

A mais jovem levantou-se do sofá e se dirigiu à Gabrielle, ainda de costas, avaliando a peça de xadrez.

— A gente sabia que a mãe era boa nesses jogos de tabuleiro, conhecia todas as regras e ganhava umas partidinhas por aí, mas tudo por diversão, sabe? Tentou ensinar nós duas, mas a história não rendeu. Eu nunca tive paciência pra essas coisas, e Regina menos ainda.  

Ao ouvir o seu nome, Regina juntou-se às duas, e falou mais alto do que deveria:

— Então isso aqui tudo é um tributo à mamãe, Madalena Guimaraens?

Um som intricado ecoou do piso de madeira, e do corredor surgiu uma sombra.

— Madaguima…Madaaa…

A voz era rouca, trêmula, um eco gutural arrastado em anos de silêncio. Gabrielle sobressaltou-se, encarou o senhor, bastante idoso, em uma cadeira de rodas, sendo escoltado por um rapaz alto e forte, provavelmente seu enfermeiro.   

— Papai?!

A cena tornou-se uma armadilha inesperada de sensações que declinavam qualquer razoabilidade.

O velho senhor, auxiliado pelo cuidador, aproximou-se da mesa. Observou os objetos ali posicionados, o lenço de seda ainda mantinha um certo frescor da juventude confinada. Alcançou com a mão direita a peça de marfim, alisou com a ponta dos dedos os entalhes. Suspirou.

Gabrielle virou-se para as duas irmãs e em tom baixo confessou embaraçada:

— Papai sofre há anos do Mal de Alzheimer, não acredito que seja capaz de…

Interrompendo a fala da filha com um novo suspiro, agora mais alto, Heitor Karoglan fechou os olhos, permitindo que lágrimas deslizassem sobre a face enrugada. Então soltou a confissão inesperada:

— Nunca esqueci…minha…minha rainha…

O silêncio precipitou-se na saleta-museu.

Sem entender, Regina virou-se discretamente para a irmã e sussurrou:

— Mas não era dama?

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20 comentários em “Rainha em Xeque (Claudia Roberta Angst)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Tabuleiro!

    Seu conto trata das descobertas das irmãs Regina e Sofia que fazem sobre o passado da mãe, através de uma caixa misteriosa. E o faz de uma maneira muito, muito bem feita. Até agora é o conto mais divertido do desafio e o que melhor usa o xadrez “sem usar o xadrez”.

    Técnica – O conto é desenvolvido de forma milimétrica e fiquei muito satisfeito com a experiência da leitura. Tudo foi muito bem medido, e há um equilíbrio muito inteligente entre o humor e o luto. E o autor escolheu tudo muito bem, vocabulário, ritmo de desenvolvimento, tamanho de frases e parágrafos. Os diálogos me soaram muito naturais e o toda a interação com a filha de Heitor Karoglan surgem como ponto alto do texto.

    Enredo – No fundo, é simples. Duas irmãs escarafuncham o passado da mãe e vão, progressivamente, encontrando detalhes que as levam ao desconhecido, um romance perdido no tempo e a descoberta de uma carreira de sucesso como enxadrista. A simplicidade é tratada de forma muito inteligente, com informações liberadas aos poucos, mescladas ao desenvolvimento das duas irmãs, que vão se mostrando instrumentos carismáticos no desenrolar da trama.

    Impacto – Para o bem ou para o mal, acho que se o conto consegue me impactar, isso significa que dias depois de ler ainda vou tê-lo intacto na cabeça, seja aproveitando o prazer da leitura, seja criticando os defeitos. E aqui é o primeiro caso, pois de toda a primeira leva que li, é o que mais veio à minha memória.

    Conclusão – Achei que o conto está impecável e não há o que tirar nem pôr. Não sou muito de dar nota 10, pois acho que esses são reservados para os trabalhos que conseguem rivalizar com os grandes clássicos da literatura. Mas terá uma nota próxima disso. Muito bom mesmo, parabéns!

    É isso, boa sorte no desafio!

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Excelente! Personagens bem construídas, mistério, drama e até humor caminham muito bem juntos. Um conto divertido, envolvente e bem resolvido em sua proposta. A narração corre fluída, orgânica, e muitas vezes com pouco é fácil imaginar muito. Parabéns!

  3. Fabio D'Oliveira
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Não sou o público-alvo deste conto, mas ele é ótimo. Muito bem escrito, a dinâmica entre as irmãs é excelente, assim como o desenvolvimento da trama familiar. A qualidade dos diálogos está em outro nível, também. Eu consigo me envolver facilmente com a leitura quando tudo acontece de forma natural. Tem drama, mas não é melodramático. As personagens são palpáveis, parecem o rascunho de pessoas reais, com suas manias e virtudes.

    A vida além daquela que conhecemos. Gosto dessa temática. Antes de ser mãe, Madalena teve outra vida. Antes de eu nascer, minha mãe também teve outra vida. Faz um tempo que, fuxicando nas coisas dela, encontrei uma série de cartas de uma alemã. Na época da escola dela, tinha uma espécie de programa de intercâmbio de cartas para praticar o Inglês. Eram dezenas de cartas, com fotos da adolescente que vivia praticamente do outro lado do mundo. Pelo teor das cartas, eram confidentes na época. Esse tipo de coisa me deixa pensativo. Quem era minha mãe antes de mim? O conto funciona. 

    Quando falo que não faço parte do público-alvo deste conto, digo que não consigo me encantar com essas histórias. Mas ainda posso apreciar um texto tão bem escrito quanto esse. Não tenho muito o que falar, rs. Quando me deparo com contos assim, fico perdido nos comentários, não sei o que escrever que possa adicionar algo. 

    Parabéns pelo belo trabalho!

    Boa sorte no desafio!

  4. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Curti o conto.

    Não tanto pelo plot, mas pela dinâmica das duas irmãs.

    Não que o enredo seja ruim. Não é. Mas é na interação entre Regina e Sofia que o conto começa a brilhar. O autor demarcou bem a diferença entre as duas personagens e conseguiu dar personalidade para ambas. Eu adoro quando um conto tem personagens que parecem reais, de verdade, em situações absurdas e é o caso aqui.

    O enredo em si segue algo mais ou menos esperado a partir do momento em que descobrem que a peça pertence a um artista plástico meio misterioso.

    Se há algo a ser melhorado no texto, talvez fosse adicionar mais personalidade também à filha do artista plástico, mas eu entendo que isso seria extremamente difícil dado o limite de palavras.

    Por fim, gostei muito do que o autor fez com a chegada de Heitor. Achei que teríamos alguma coisa um pouco clichê, mas o autor retomou a piada do rainha/dama e arrancou uma risada minha.

  5. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Duas irmãs descobrem segredos da vida da mãe, ao arrumarem seus pertences após a sua morte. A história é habilmente contada através dos personagens. As duas irmãs, tão simples e pé-no-chão parecem tão diferentes de sua mãe. Faz pensar no quanto nós realmente conhecemos as pessoas que nos são próximas. Cada pessoa parece carregar um universo, um mundo interno do qual sabemos quase nada.

    A mãe não aparece no conto, só a vemos pelas lembranças das filhas então, nós não a conhecemos de fato. Ficamos sabendo o que as filhas pensam dela e não é assim que acabamos conhecendo tanta gente? Através dos olhos dos outros?

    A mãe, ex-jogadora de xadrez, teve um relacionamento com um grande artista. E o que terá acontecido entre eles? Porque nunca mais se falaram? O que terá motivado a separação? Tem uma história aí contada nas entrelinhas e que é muito instigante.

    O final ressalta a incompreensão das filhas, o abismo que separava a mãe, ou seu passado, de suas filhas.

    Gostei ou não gostei

     Gostei muito. Um conto que diz muita coisa e faz pensar, ao mesmo tempo em que conta uma história interessante.

    Pitacos não solicitados

     Gostei tanto que não tenho pitacos a oferecer.

  6. Suzy D. B. Pianucci
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Suzy D. B. Pianucci

    Texto leve e de fácil compreensão, bom de ler, com um bonito desfecho cheio de poesia, gostei.

  7. Pedro Paulo
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Eu tenho a impressão de que o conto ainda estava chegando onde inicialmente pretendia quando o limite de palavras o encerrou. Acho que se perde espaço para muiras descrições de como e por que as personagens agem ao invés de deixar o leitor interpretar. O expediente funciona no começo para diferenciar as duas personalidades, um ponto constante do humor do conto, mas depois fica repetitivo quando se quer constantemente caracterizar a frieza da Gabriela, para um exemplo. Assim, a revelação em torno do passado da mãe não é tão surpreendente e a catarse vai se perdendo na maneira como é executado, com o fuxico das duas (ou três?) irmãs abruptamente atravessado pela chegada do idoso, que, por sua vez, é cortada por um fim abrupto e meio sem jeito do conto, que tenta encerrar numa nota bem-humorada.

    Por outri lado, acho que é uma boa abordagem do tema. Só a execução que não tira tanta força da premissa.

  8. Mariana
    1 de dezembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Olá, estou lendo a A e deixando comentários menores, mas sinceros.

    É um conto com cara de capítulo de novela da Globo, não digo como crítica e nem como elogio. Estilos são interessantes por suas particularidades, aqui misturando uma história séria e romântica com personagens que beiram o cômico. Toda essa questão de rainha ou dama surgiu a partir do grupo do whats? Enfim, um conto divertido. Parabéns e boa sorte no desafio.

  9. LEO AUGUSTO TARILONTE JUNIOR
    28 de novembro de 2025
    Avatar de LEO AUGUSTO TARILONTE JUNIOR

    Seu conto ficou excelente. A temática do xadrez é apresentada naturalmente como parte integrante da narrativa. Parabéns por isso foi um dos poucos contos em que isso aconteceu de forma adequada Na minha opinião.. achei muito interessante a forma como você retomou o debate acerca do nome da peça ser dama ou rainha, ficou bastante engraçado. Transformando seu conto quase em uma crônica.. a história ficou muito bem construída, a trama está suave, delicada, bastante prosaica.. tudo me lembra algumas cenas de novela das 7:00 na rede Globo as personalidades das personagens foram muito bem construídas. Não tenho qualquer crítica a fazer. Porém não é o meu tipo de história favorito, embora esteja excelente. Agradeço por você dividir um pouco do seu universo literário comigo. Além disso, espero ler outros contos escritos por você nos próximos desafios.

  10. Sarah S Nascimento
    27 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá, adorei a dinâmica das duas irmãs, os nomes delas e da mãe. Eu acho que estou desenvolvendo uma fixação por nomes de personagens. kkkk. Reparando muito nesse detalhe em todos os contos.
    Adorei todo o mistério ali da caixa e ver como as duas irmãs reagiam de forma diferente, uma querendo já abrir com tudo e a outra lembrando por sorte da chavinha na pulseira.A forma como ficamos sabendo do Heitor e tal, foi muito instigante e deixa a gente curioso pra saber como foi essa relação dos dois.
    Na casa chique depois, um detalhe que achei muito bem colocado foi a decoração do lugar remetendo ao xadrez. Até mesmo os quadros com as pinturas sempre mostrando que não havia a rainha, apenas ela faltava em todas as obras!
    Fiquei com uma inveja dessa família organizada da Gabriela, com uma pasta cheia de fotos e coisas do ano certinho. Caraca, queria ser assim, risos.
    Eu ri muito com essa interação das duas irmãs com a Gabriela e quando uma delas chama ela de Gabi e e a mulher fica sem graça. kkkkk, maravilhoso.
    Esse final foi super emocionante com o Heitor pegando a peça da rainha né e chorando e tal, muito fofo e triste ao mesmo tempo. Dá uma curiosidade de saber porque a Madalena foi embora no meio da partida de xadrez, o que terá acontecido? Fica essa pergunta no ar, amei.
    É um conto muito gostoso de ler, fácil de compreender, com informações chegando a cada linha, mas de uma forma leve sabe? Eu gostei principalmente ali do início, quando a Regina já aparece dobrando as roupas e tal, mostra tipo como ela é de fato mais prática que a irmã. Dá a impressão que a irmã dela arrasta a coitada da Regina para as coisas misteriosas e emocionantes. kkkk. O xadrez foi muito bem trabalhado nesse conto e eu amei cada parte dele, muito bem escrito.

  11. marco.saraiva
    23 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    O conto capta a atenção graças às personalidades conflitantes de Regina e Sofia, e à dinâmica gostosa entre as duas irmãs. A atenção se mantém presa graças às perguntas que o texto levanta e que carrega até o final. A história é simples e direta, acho que o forte deste conto é o desenvolvimento das personagens, inclusive o da personagem da mãe das protagonistas, a Mada Guima. É aqui que o conto brilha, ao meu ver: no desenvolvimento de uma personagem que não aparece, é apenas lenda e memória. Nas nuances em que se revela, nos olhos de diferentes testemunhas da sua vida.

    E o final foi muito revelador, quando descobrimos que Heitor a enxergava como rainha, logo ela que só queria ser dama. Uma mulher que sabia o que queria, e que viveu a vida sem ressalvas ou remorsos. Que guardou consigo a memória de um amor que não era para ela, e que nunca viu a necessidade de falar dele para ninguém.

    Forte! Parabéns!

  12. leila patricia de sousa rodrigues
    23 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    O conto começa bem: o luto colocado no cotidiano, a caixa como promessa de segredo, e a dinâmica entre as irmãs funcionando sem esforço. Há um charme real nesse início, principalmente no gesto de encontrar a chave na corrente da mãe — simples e eficaz. E o conto encontra seu melhor momento quando o velho Heitor aparece. A fala “minha rainha” tem força, é o tipo de detalhe que dá profundidade retroativa à história toda.

    Mas o texto também escorrega. O caminho até a família Karoglan acontece rápido demais, quase sem resistência, e isso enfraquece o mistério. Alguns diálogos puxam um humor que, embora divertido, acaba tirando tensão de cenas que mereciam silêncio. E o final, com a piada sobre “dama” e “rainha”, esvazia a emoção conquistada segundos antes — parece um alívio onde cabia um impacto.

    Ainda assim, há força no núcleo da narrativa. Faltou só deixar que ela respirasse mais.

  13. leila patricia de sousa rodrigues
    23 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    O conto começa muito bem: o luto encaixado no cotidiano, a caixa guardando um segredo que realmente intriga, e a relação entre as irmãs funcionando sem esforço. O gesto da chave na corrente da mãe é simples, mas bonito, e a entrada do velho Heitor, com aquele “minha rainha”, abre um fundo emocional que ilumina tudo para trás.

    Só que, quando o texto tenta puxar para o humor, algo se perde. Dá para sentir a intenção de leveza, quase um respiro, mas o humor não se sustenta de verdade, fica num meio-termo que enfraquece o mistério e apressa a entrada da família Karoglan. Algumas cenas que pediam tensão acabam virando um momento de piada, e o final, com o jogo entre “dama” e “rainha”, acaba dissolvendo a emoção que estava se formando.

    Mesmo assim, o centro da história é forte. Faltou só confiar um pouco mais nele e dar um tempo para tudo respirar.

  14. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Excelente conto. As personagens bem construídas, ávidas por descobrirem parte do passado da mãe. Parabéns!

  15. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    O conto é bem construído e tem um clima envolvente, daqueles que vão revelando camadas sem pressa. O tema do xadrez aparece de forma sutil, mas funciona como eixo emocional — especialmente com a rainha/dama como símbolo de memória, segredo e amor. A dinâmica entre as irmãs é ótima: natural, divertida, cheia de pequenas tensões que deixam tudo verossímil. O enredo flui bem, sem trechos arrastados, e o suspense cresce de forma elegante até a aparição final do velho Karoglan.

    O que me incomodou um pouco foi a rapidez com que algumas descobertas chegam; às vezes parece fácil demais achar informações ou conseguir acesso ao artista. Também notei pequenos excessos descritivos, que podem ser enxugados. Mas não identifiquei erros graves de gramática ou incongruências fortes.

    No geral, o conto tem charme, boa escrita e um toque emocional bonito.

  16. Antonio Stegues Batista
    14 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Um conto bem escrito, boas frases, um enredo maravilhoso, mas o final me decepcionou.

  17. Roberto Fernandes
    13 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto Fernandes

    O texto e bem escrito, contudo, a execução mecânica tira todo o potencial humano da descoberta e surpresa, ate os nomes das personagens que carregam um forte valor simbólico é sub aproveitado, a doença do artista é apenas ferramenta para desenvolvimento do fim proposto.

    A personagem Regina parece não saber como um ser humano funciona.

    Resumindo, um conto bem escrito, com uma premissa promissora, entretanto mal executado, infelizmente.

    Eu debruçaria sobre ele novamente.

  18. toniluismc
    10 de novembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Tabuleiro (pense melhor na escolha do pseudônimo!)

    Seu conto causou sentimentos dúbios em minha pessoa, então serei objetivo nos comentários a fim de evitar maiores constrangimentos (da minha parte, no caso):

    1. Técnica

    O texto demonstra domínio narrativo. Há equilíbrio entre descrição, diálogo e ambientação, com ritmo adequado e linguagem fluida. O narrador em terceira pessoa adota um tom literário, mas sem soar artificial. O vocabulário é rico e bem selecionado — por exemplo, o uso de termos como “marchetaria”, “relicário”, “entoalhado” e “forro de camurça” ajuda a compor uma atmosfera quase ritualística, coerente com o mistério que se desenrola.

    Os diálogos são naturais, revelando personalidades distintas: Regina mais prática e cética; Sofia mais emocional e curiosa. Essa dualidade sustenta a tensão e movimenta a narrativa.

    O único deslize recorrente é, de fato, a frequência de “mana”, que quebra o fluxo e retira certa naturalidade. A informalidade entre irmãs é bem-vinda, mas poderia ser alcançada por outros meios — repetições menores, apelidos variados ou até pausas na fala dariam mais verossimilhança.

    A estrutura é clássica: exposição, desenvolvimento (a descoberta), clímax (o encontro com a filha de Karoglan) e desfecho. Contudo, o clímax e o desfecho não se distinguem com clareza, o que dá a impressão de que a história “acaba de repente”. Tecnicamente, a curva narrativa se mantém estável quando deveria explodir em emoção ou revelação — a última frase (“Mas não era dama?”) é espirituosa, mas suave demais para a densidade emocional construída. Fica a sensação de que o conto promete mais do que entrega, ainda que feche com elegância.

    2. Criatividade

    O conto se apropria do xadrez como metáfora emocional e existencial, o que é um mérito considerável. A peça (a rainha/dama) funciona como símbolo de amor, memória e perda — o jogo se desloca do tabuleiro para o terreno da vida. O título e o enredo constroem uma reflexão sobre o papel das mulheres (“dama” versus “rainha”) e o modo como elas são lembradas ou esquecidas na história — tanto no xadrez quanto na vida doméstica.

    O uso do artista Heitor Karoglan como figura lendária dá um toque de realismo mágico sutil, quase borgiano: o artista recluso, o museu particular, a relíquia perdida. Essa mitologia discreta é criativa e bem dosada.

    Contudo, há espaço para ousar mais. A história é criativa no conceito, mas segura na execução — falta um ponto de inflexão mais surpreendente. A revelação de que Madalena era uma enxadrista famosa e o possível romance com Karoglan são bons ganchos, mas previsíveis a partir da metade do texto. O conto não chega a subverter o leitor, apenas o leva a uma constatação melancólica.

    3. Impacto

    O conto tem um tom emocional contido, que privilegia o subtexto. A presença da mãe morta é constante e delicada; o tema do luto é conduzido com sensibilidade. A ambientação da casa, a caixa de xadrez e o museu formam uma atmosfera de herança, mistério e identidade — o que gera empatia imediata com as irmãs.

    Ainda assim, o impacto final é morno. O leitor sente que o clímax emocional — a confissão de Karoglan — chega, mas não reverbera. O diálogo derradeiro tenta devolver leveza, mas o faz às custas da catarse que se esperava. Fica mais uma piscadela irônica do que uma ferida aberta.

    Apesar das minhas observações, é um dos melhores que li até agora, então será bem avaliado. Parabéns pelo texto e boa sorte!

  19. Martim Butcher Cury
    5 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    O núcleo da história é sobre uma personagem cuja vida revela aspectos que permaneceram ocultos antes da morte. Uma vida em segredo – assunto propício para a forma conto, para o desvelar rápido de uma face da existência. A mãe assim desvelada se opõe ao tipo, isto é, à figura cujos atributos reincidem, por força centrípeta, a um contorno pre-estabelecido. Mamãe, enxadrista e amante, quem diria? Aí mora o grande interesse. Acontece que os demais personagens não acompanham esse processo. Pelo contrário, sua caracterização está a todo momento alinhada com o reforço de identidades que precedem a existência dessa história. A dupla de irmãs engraçadas, o ricaço excêntrico, a lady meio nojentinha, todos se reportam a um universo conhecido que funciona muito bem, mas cujas limitações talvez residam exatamente aí, no ótimo funcionamento. Pode ser que essas limitações sejam necessárias para o contraste, para a moldura contra a qual a vida surpreendente da mãe figura. Não sei. Mas valeria pensar numa reelaboração dos personagens.
    Além disso, me parece que faltou um final. Há uma sacada que encerra, mas é como tantas outras do conto, não me parece que tenha valor de fechamento.

  20. Kauana Kempner Diogo
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    Narrativa introspectiva e densa, aonde o xadrez é uma metáfora sobre poder e autonímia feminina. O autor trabalha com um subtexto e usa o metafórico para equivaler os movimentos emocionais a uma jogada. Ao usar a figura da rainha, a obra constrói a reflexão sobre a liberdade e vulnerabilidade.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .