EntreContos

Detox Literário.

O Herdeiro de Billy Hayes (Alexandre Parisi)

O outono caía sobre Istambul como um véu cinzento e úmido. As gaivotas riscavam o céu sobre o Bósforo, e Rogério, com a mochila gasta e os olhos fatigados de viajante solitário, vagava pelas ruelas do bairro de Sultanahmet. Naquela tarde, escolhera não visitar mesquitas nem bazares. Sentou-se no saguão coletivo do albergue, uma sala abafada pelo cheiro de chá e tabaco, e abriu um livro que encontrara na estante comunitária: O Expresso da Meia-Noite, de Billy Hayes.

As páginas amareladas falavam de cárcere, desespero e redenção. Rogério lia devagar, mordendo o lábio inferior, e às vezes olhava em volta, tentando não pensar demais em si. A leitura o atingia de forma inesperada — havia algo de familiar naquele exilado preso entre fronteiras, um homem em busca de fuga, mas que já não sabia de onde fugia.

Foi quando ouviu a voz rouca às suas costas:
— Gosta de histórias de prisioneiros?

Ergueu o olhar. Um homem idoso o observava, apoiado na moldura da porta. Tinha o rosto sulcado de rugas profundas e olhos de um verde perturbador — olhos que pareciam saber demais. O sotaque era difícil de identificar; talvez inglês, talvez apenas gasto pelo tempo.

— É um bom livro — respondeu Rogério.
— Ou um mau presságio — replicou o homem, puxando uma cadeira. — O autor escapou, mas a maioria não escapa.

Rogério sorriu, sem saber o que dizer. O estranho tirou do bolso um pequeno tabuleiro de xadrez dobrável e o colocou sobre a mesa.
— Joga?

Rogério hesitou. Jogava, sim, desde garoto. O pai lhe ensinara os movimentos quando ainda moravam em São Bernardo, nas tardes de chuva, quando o som das peças batendo no tabuleiro competia com o gotejar das calhas. Mas fazia anos que não jogava com ninguém.

— Um pouco — respondeu.

O velho abriu o tabuleiro. As peças de madeira tinham o toque gasto de quem viajou muito. Ele colocou os brancos diante de Rogério e murmurou:
— Comece.

A partida iniciou lenta, quase cerimoniosa. O som das peças batendo ritmava o silêncio do albergue. A certa altura, Rogério percebeu que jogava com uma concentração que há muito não experimentava — algo primal, instintivo, como se aquela disputa tivesse um significado oculto.

O homem sorria discretamente a cada movimento errado.
— Você joga como quem foge — disse, movendo a torre com precisão letal. — Foge das próprias peças, foge do tabuleiro.

Rogério franziu o cenho, ofendido e curioso.
— E você joga como quem já perdeu.

O velho riu, mostrando dentes gastos.
— Todos já perdemos, meu caro. A diferença é o que fazemos entre o primeiro lance e o xeque-mate.

A partida se prolongou madrugada adentro. Rogério, tomado por uma inquietação febril, avançava e recuava, lutando não apenas contra o adversário, mas contra a sensação de déjà vu que o atormentava. Aqueles olhos… já os vira antes, em algum espelho.

Quando finalmente venceu, o velho apenas inclinou a cabeça e murmurou algo inaudível, um nome talvez, ou uma despedida. Depois levantou-se, recolheu o tabuleiro e foi embora.

Na manhã seguinte, Rogério o procurou pelo albergue. Ninguém sabia de quem ele falava. O homem parecia nunca ter existido.

Anos depois, Rogério retornou a Istambul. Não como mochileiro, mas como homem cansado. A vida lhe dera o conforto que a juventude desprezava: uma esposa gentil, duas filhas, um emprego estável. E, com o conforto, veio o tédio.

Passeava agora com a família pelos mesmos lugares, mas tudo lhe parecia sem cor. Os minaretes já não o emocionavam, o aroma do café turco lhe parecia amargo demais. À noite, no quarto do hotel, ouvia o riso das filhas e sentia uma culpa difusa, como se houvesse traído alguém — talvez a si mesmo.

Nos últimos meses, um tipo estranho de sonho o perseguia. Sempre o mesmo: um tabuleiro de xadrez, uma névoa, e um adversário invisível que ria, enquanto as peças se moviam sozinhas. Acordava suando, com o som distante de uma voz sussurrando em sua mente:
“A partida ainda não acabou.”

Na manhã em que visitou o Palácio de Topkapi, a dor começou atrás dos olhos. Um latejar surdo, depois uma vertigem. Tentou disfarçar diante da esposa, mas o mundo girava. As colunas do pátio pareciam dissolver-se em fumaça. Antes de cair, viu as peças brancas e pretas se espalhando pelo chão como fragmentos de memória.

Quando despertou, estava novamente no albergue. O mesmo cheiro de chá e tabaco. O mesmo livro de Billy Hayes sobre a mesa. E o mesmo tabuleiro, aberto, aguardando o primeiro movimento.

Mas algo estava diferente. Do outro lado da mesa, sentado com o mesmo ar distraído de quem sonha alto, estava ele — ou melhor, o jovem ele. Rogério olhava para o próprio rosto, rejuvenescido, curioso e impetuoso, lendo o mesmo livro que lera tantos anos antes.

O velho (porque agora se via assim, velho) aproximou-se, com o coração batendo descompassado.

— Com licença — disse. — Gosta de histórias de prisioneiros?

A frase saiu como um eco de si mesmo. O jovem ergueu o olhar, surpreso.
— É um bom livro — respondeu, exatamente como ele respondera antes.

Rogério sentou-se diante dele. As mãos tremiam levemente. No fundo, sabia o que estava acontecendo. Estava preso em algum tipo de limiar — talvez a morte, talvez um sonho. E a única saída seria jogar.

— Uma partida? — perguntou.

O jovem sorriu, confiante, quase arrogante.
— Sempre aceito um desafio.

As peças começaram a se mover. Rogério observava seu oponente com fascínio e dor. Era estranho encarar-se no auge daquilo que já se perdeu — a juventude, a crença em possibilidades infinitas, o brilho de quem ainda não aprendeu o peso da renúncia.

O jovem atacava com ousadia, sem cálculo. Rogério defendia com cautela, prevendo cada armadilha. Era um duelo entre impulsividade e prudência, entre fogo e cinzas.

— Você joga com medo — provocou o jovem. — Como se tivesse algo a perder.
— E você joga como quem não entende o que é perder — respondeu o velho.

O jovem riu.
— É porque ainda não vivi o suficiente pra isso.

As palavras doeram mais do que deveriam. Rogério desviou o olhar e viu, ao redor, as figuras do passado: os viajantes, os risos, o cheiro de cigarro barato. Tudo vibrava com uma melancolia que o partia em dois.

Durante a partida, lembranças começaram a se infiltrar como fantasmas: o primeiro beijo com a esposa na praia, o nascimento da filha mais velha, o arrependimento de não ter seguido um sonho qualquer — escrever, talvez, ou viver sem destino. A vida inteira, pensou, era uma sucessão de lances mal calculados.

E então a voz voltou, vindo de lugar nenhum:
“Apenas um de vocês sairá daqui.”

Ele compreendeu. Para escapar — seja da morte, seja do sonho — teria de vencer.

Mas algo dentro dele resistia. Enquanto movia as peças, via o brilho nos olhos do jovem Rogério e sentia uma ternura estranha. Aquele rapaz era tudo o que ele já não podia ser. Matá-lo, ainda que simbolicamente, seria renunciar de vez àquilo que o tornava humano.

O jovem avançou com a dama. Xeque.

O velho defendeu com o cavalo, recuando. O tabuleiro parecia pulsar entre eles, como se o tempo inteiro se curvasse sobre aquele jogo.

A tensão crescia. O suor escorria pelas têmporas. O velho percebeu que poderia vencer. Bastava um lance, apenas um. Mas nesse instante viu, como num flash, a imagem das filhas, o sorriso cansado da esposa, o som doméstico das manhãs comuns.

E entendeu.

Vencer significaria apagar tudo aquilo. Reescrever a própria vida. Ser novamente aquele jovem arrogante, livre — e, portanto, sozinho.

O jovem aguardava, impaciente.
— E então? Vai jogar?

Rogério respirou fundo, olhou para o tabuleiro e empurrou o rei para frente, num gesto absurdo, suicida.
— Xeque-mate — disse o jovem, triunfante.

O velho sorriu.
— Parabéns. Você venceu.

O som das peças caiu no silêncio. O quarto do albergue dissolveu-se em névoa.

Quando abriu os olhos, Rogério estava deitado em um leito branco, no hospital. O cheiro de éter e o bip ritmado do monitor cardíaco o reconduziam à realidade. A esposa segurava sua mão.

— Você desmaiou — disse ela, com voz embargada. — O médico disse que foi uma isquemia leve, mas você assustou todo mundo.

Rogério piscou, tentando compreender onde terminava o sonho e começava a vida. Por um instante, viu sobre a mesinha ao lado da cama um pequeno tabuleiro de viagem — o mesmo que o velho (ele mesmo?) usara no albergue. As peças estavam dispostas no meio de uma partida inacabada.

— Onde conseguiu isso? — perguntou, ainda tonto.
— Estava na sua mochila — respondeu a esposa. — Você deve ter comprado e esquecido.

Rogério olhou o tabuleiro. As brancas estavam em desvantagem. Sorriu.

Naquela noite, enquanto a cidade se estendia do outro lado da janela, pensou na vida que escolhera, nos erros, nas renúncias. Não havia arrependimento — apenas uma tristeza serena, uma saudade de algo que nunca poderia ter sido.

No dia seguinte, antes da alta, pediu à esposa que o deixasse descer ao saguão do hospital. Havia uma mesa com tabuleiros, onde pacientes jogavam para passar o tempo. Sentou-se diante de um homem de idade, desconhecido, que lhe perguntou, com um leve sorriso:
— Joga xadrez?

Rogério respondeu, sem pensar:
— Um pouco.

E começou uma nova partida.

***

Às vezes, à noite, sonha novamente com o albergue e o som das peças. Sonha com o jovem que foi e com o velho que poderia ter sido. E sempre, ao acordar, lembra-se de uma frase que não sabe de onde veio:

“O verdadeiro xeque-mate não é o fim do jogo. É o momento em que se aceita o tabuleiro.”

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

21 comentários em “O Herdeiro de Billy Hayes (Alexandre Parisi)

  1. Sarah S Nascimento
    14 de dezembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Caramba, eu não sabia que existiam tabuleiros de xadrez dobráveis que cabiam no bolso! Achei bem legal e o livro que o Rogério lia foi um detalhe interessante na história. Fiquei curiosa sobre ele, acho que vou procurar pra ler.
    Eita, essa fala do velho sobre as jogadas entre o primeiro lance e o xeque mate. Ele estava falando do jogo ou da vida? Muito legal essa fala!
    Caraca, o Rogério tava mesmo jogando com uma versão dele mesmo? Fiquei pensando nisso quando ele disse que já vira aqueles olhos no espelho!
    Eu adorei essa frase: “Era um duelo entre impulsividade e prudência, entre fogo e cinzas.”.
    Terminei seu conto agora. Ele é bastante reflexivo, profundo e melancólico. Parece aquele tipo de verdade que a gente não gosta de olhar, mas que precisa olhar sabe? Muito interessante o uso do xadrez aqui e gostei de tudo acontecer num lugar parecido com um sonho, nessa segunda parte quando o Rogério mais velho joga contra ele mesmo.
    Ainda assim, não gostei. E tá tudo bem! Você construiu tudo muito bem, os detalhes dos lugares ali ao redor do albergue, lembranças do passado, como o nascimento da filha e essas partes sensoriais né, cheiro ou gosto do café, isso é muito legal, dá uma riqueza para o texto.

  2. Thales Soares
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Esse conto tem umas viagens no tempo (e umas viagens na maionese também), e está bem escrito… mas por algum motivo não me conquistou tanto. Mas vamos analisar parte por parte dele.

    Começamos conhecendo o protagonista, Rogeio, que é um mochileiro solitário. Ele passa uma tarde num albergue, lendo O Expresso da Meia Noite (nao conheço essa obra). Então um véio aparece e inicia uma conversa. Devido ao tema do desafio, aqui eu suspeitei que o véio desafiaria Rogeio pra uma partida de xadrez. Não deu outra. O véio realmente fez o desafio!

    Rogério ganha do véio, e o véio comenta umas coisas meio enigmáticas sobre perda e destino, sei la… ai ele some!

    Muitos anos depois, Rogério agora é um véio, e é casado, pai de duas filhas. Ele tem uma vida boa, mas entediante. Então ele começa a ter sonhos com um tabuleiro de xadrez. Um adversário invisível fala, de forma misteriosa: “A partida ainda não acabou!”.

    Aí durante um passeio, o protagonista tem uma crise e desmaia. Ele acorda no mesmo albergue de anos atrás, com o tabuleiro de xadrez na mesa. Ele percebe que seu oponente é sua versão mais jovem, e que, nesse tempo todo, ele que era o véio misterioso! Oooohhhh… que plot twist……. achei um pouco mal apresentado, mas nada que atrapalhe muito. Mas enfim… O Rogério véio percebe que vencer significaria apagar sua vida atual e retornar pro passado (o quê?! De onde raios ele tirou essa informação??? apostaram o toba na partida e ninguem disse nada sobre isso??). Então o Rogério véio decide perder de propósito.

    Ele acorda e percebe que está num hospital. Ele então aceita sua vida como ela é, e continua jogando xadrez… e o conto termina com a seguitne frase:

    “O verdadeiro xeque-mate não é o fim do jogo. É o momento em que se aceita o tabuleiro.”

    O que isso significa? Sei lá… não consegui compreender a essência da história. Talvez eu não tenha entendido nada… nem sequer entendi o título do conto. Mas achei o final bem morno, e a história no geral não me conquistou. Mas está bem escrito.

  3. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Rogério, um livro, o tabuleiro e o jogo com o velho, com o jovem.

    O jogo e o reconhecimento de si, o jogo como elemento que movimenta a psicologia.

    O texto está correto, mas cheio de lugares comuns e clichês. Peca na linguagem.

    Tem alguma lição de moral.

    Está bem escrito.

    Parabéns!

    3,0

  4. Bia Machado
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, Sultão, tudo bem? Seguem alguns comentários sobre a minha leitura do seu texto.

    Desenvolvimento (0,8/1,0): Gostei do conto, embora tenha sentido como que uma sensação de que “já li isso antes, em algum lugar”. Eu sinceramente fiquei esperando que o cenário tivesse alguma influência na narrativa, mas acho que se a história se passasse em São João do Meriti teria o mesmo efeito.

    Pontos fortes (0,9/1,0): Gostei do suspense empregado na história e de como ocorreu a construção da personagem a partir disso. Creio que se não fosse isso, eu não teria gostado de nada.

    Adequação ao tema (0,5): O xadrez é parte do mistério e acho que até foi bom não entender o porquê disso, deixa a história ainda mais pendente para a fantasia.

    Gramática (0,5): Boa, embora não curta muito esse excesso de travessões.

    Emoção (1,7): Foi uma boa leitura, tentando entender o que era esse mistério, afinal. Pode-se pensar se foi tudo um sonho ou algo dentro do fantástico. Eu, leitora, escolho a segunda opção. Quem escolher a primeira opção vai reclamar de “deus ex machina”, provavelmente.

  5. Thaís Henriques
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Me prendeu do início ao fim, e com certeza vai ficar em minha mente: “O verdadeiro xeque-mate não é o fim do jogo. É o momento em que se aceita o tabuleiro.”

  6. Fabio Baptista
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Jovem joga xadrez contra seu eu do futuro.
    Depois envelhece e completa o loop jogando contra seu eu do passado. O jovem vence a partida e ganha uma nova chance na vida, descobrindo que “foi tudo um sonho”.

    Esse plot de versões de uma mesma pessoa conversando é recorrente e em geral acaba indo mais pro lado de despertar reflexões sobre o que vale a pena na vida, o que é de fato importante, etc. do que de uma história mais complexa. Esse lado mais reflexivo corre o risco de cair na redundância e morosidade. Aqui o autor conseguiu equilibrar bem as coisas com uma boa escrita e um conto que não cometeu o pecado de se alongar demais.

    Essa frase é muito boa:
    Todos já perdemos, meu caro. A diferença é o que fazemos entre o primeiro lance e o xeque-mate.

    Seria uma frase mais impactante para encerrar o conto do que “O verdadeiro xeque-mate não é o fim do jogo. É o momento em que se aceita o tabuleiro.” (essa não é ruim, mas a outra tem mais impacto).

    BOM

  7. Amanda Gomez
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem ?

    Um texto emocional sobre descobertas sobre si mesmo. Achei o texto um tanto apressado, faltou um pouco de aprofundamento nos personagens, porque como leitora eu não me identifiquei com ele e suas versões, se vive, se morre… soou indiferente, sabe? Quando você lê um texto em que não sente essa conexão, tudo fica no automático, e sinto que foi assim que li seu conto.

    A escrita, embora simples, cumpre bem seu papel. O xadrez no texto acho que foi colocado apenas pra preencher a lacuna do desafio, poderia ser qualquer outro jogo, não faria diferença.

    No mais, um bom texto.

    Boa sorte no desafio!

  8. danielreis1973
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    O Herdeiro de Billy Hayes (Sultão)

    Só quem assistiu o Expresso da Meia Noite sabe a agonia descrita pelo autor para Rogério. Um trecho que me lembrou o filme do Woody Allen em Paris foi aquele dele voltar novamente no mesmo albergue,  diante de uma versão jovem de si mesmo. No fim, quando descobrimos que ele jogou consigo e teve uma isquemia, e depois ainda volta jogar xadrez a gente fica se perguntando qual a mensagem final dessa história. Sinto muito, gostei da ambientação mas não me conectei com a narrativa.

    PONTOS POSITIVOS

    O conto transforma uma premissa fantástica (encontro com o próprio eu jovem) numa reflexão madura sobre escolhas, renúncias e identidade.

    Metáfora: o jogo de xadrez funciona como espelho psicológico, mecanismo narrativo e símbolo filosófico. Não muito original (quase todos os contos partiram dessa premissa), mas funcional.

    Atmosfera sensorial bem construída: Istambul, o albergue, o hospital — todos os cenários têm cheiro, textura, clima. A narrativa mantém coerência imagética (névoa, tabuleiro, noite, chá, tabaco).

    Unidade temática: o retorno ao albergue, o encontro espelhado e o ciclo que se resolve no hospital dão unidade ao conto.

    PONTOS A MELHORAR

    Extensão e densidade: o conto é longo, com muitos parágrafos reflexivos. Isso atrasa o ritmo em alguns trechos, especialmente no período da vida adulta antes do colapso em Topkapi.

    A transição para o limiar onírico é meio repentina: a queda no palácio e o despertar no albergue funcionam, mas poderiam ter um elo intermediário emocional ou simbólico.

    Algumas ideias se repetem na exposição sobre tédio, culpa, renúncias, sensação de estar preso.

    Excesso no final:  Hospital + tabuleiro + frase filosófica + retorno ao sonho, quatro fechamentos sucessivos. Um só bastava.

    Espero que tenha sucesso neste desafio. Grande abraço!

  9. Fabiano Dexter
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Jovem encontra um livro em um albergue em Istanbul e depois um velho aparece e joga uma partida de Xadrez com ele. Anos depois, de volta à mesma cidade, casado e com duas filhas Rogério joga a mesma partida, mas agora como o velho, e entende que perder é seguir a vida que tem e é essa a escolha que faz.

    Tema

    História se baseia no jogo. Totalmente dentro.

    Construção

    Uma boa história, interessante e muito bem escrita. Os cenários são muito interessantes, o personagem e a história desenvolvidos e os mistérios levantados bem estruturados, ainda que nem sempre claramente explicados.

    O conto tem uma narrativa bem fluida e é agradável de se ler.

    Impacto

    Gostei muito da história como um todo, ainda que o final não tenha ficado no mesmo nível do restante da história, na minha opinião.

  10. Jorge Santos
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Gostei da sua história, da mistura melancólica, do ciclo presente-passado. Curiosamente, já escrevi algo parecido num dos meus primeiros contos, mais num contexto musical, mas a ideia é a mesma, a pergunta fundamental: o que faríamos de diferente se pudéssemos começar de novo? O jogo de xadrez surge como elemento aglutinador da narrativa, mas podia até mesmo não existir. No entanto, existe, mais para cumprir os requisitos do desafio do que outra coisa, e existe de uma forma elegante, que beneficia o conto.

  11. Pedro Paulo
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Mais um bom conto nesta série B! Cativa pela simplicidade de seu enredo, que não se preocupa com omitir os rumos circulares de sua história, visíveis já no encontro entre as duas versões do protagonista. Sem o cuidado desnecessário por construir uma reviravolta, o texto segue límpido, comedido nas descrições para dar lugar ao rebuliço interior do personagem em sua idade mais avançada. Por isso é um conto melancólico que usa o xadrez como símbolo do confronto entre as possibilidades da juventude e o irrecuperável da velhice. Ou entre o impulso juvenil e a maturidade anciã. Essa ambiguidade instiga e não se resolve de todo no conto, embora a autoria tenha optado por superar o pesar que seria o desfecho de um Rogério derrotado, deixando-o em um sentimento misto, sempre a lembrar do que foi, nunca abandonando tudo o que é e tem. Existe um tom de “moral da história”, expressa até literalmente na última linha, que não me agrada, confesso, mas ainda assim é uma boa contribuição para este desafio.

  12. cyro eduardo fernandes
    4 de dezembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Bom conto! Parabéns. Os dilemas da vida são abordados num loop entre o personagem jovem e envelhecido. A frase final tem um aspecto motivacional poderoso. Boa sorte no desafio.

  13. Priscila Pereira
    24 de novembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Sultão! Tudo bem?

    Gostei bastante do seu conto. Principalmente a circularidade dele. O protagonista tendo a oportunidade de jogar consigo mesmo em diferentes estágios da vida e poder voltar a eles foi um uso diferente do tema, gostei disso!

    A escrita é boa, limpa e direta. O personagem é bem verossímil e suas motivações e escolhas foram bem escritas, nos dando um retrato fiel do personagem.

    Ele entende que a vida passa, e que não deve voltar. Ele olha pra frente, e sabe como viver a vida. Tem frases ótimas no seu conto!

    Só não entendi o título, talvez por não conhecer o livro.

    Gostei bastante do conto! Parabéns

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  14. Mariana
    18 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Para a avaliação ficar bem explicada, organizei os tópicos que construíram a nota

    História: 

    Há começo, meio e final (0,75)? Há começo, desenvolvimento e final, atendendo ao tópico 0,75

    Argumento (0,75): O xadrez está presente e é parte essencial do andamento do texto. A ideia de encontros com outras versões e pssoibilidades, uma premissa meio Dark, me fez pensar nos paradoxos da coisa toda. É difícil a ideia não ficar truncada 0,5

    Construção dos personagens (0,5): O personagem principal apresenta camadas e mudanças, amadurecendo com a sucessão dos fatos. Ficou confuso o primeiro adversário e a sua versão jovem novamente. 0,5

    Técnica:

    A capacidade da escrita de prender (0,75): A ideia central é complexa e exigente e, ainda assim,o texto está gostoso de ler. Gostei das referências bem posicionadas, sem uma enxurrada aleatória de citações. 0,75

    Gramática, ortografia etc (0,75): Não encontrei erros e o vocabulário está bem escolhido. 0,75

    Impacto (1,5): É um bom conto, fiquei pensando nas possibilidades que ele apresenta. No entanto, faltou uma peça para o xeque… 1,0  

  15. Gustavo Araujo
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Este conto me chamou a atenção por causa da menção ao Billy Hayes, o anti-herói de O Expresso da Meia Noite. Não li o livro, mas vi o filme, um dos mais tenebrosos a que já assisti. Assim me engajei na leitura. Gostei da ambientação – Istambul é mesmo um lugar incrível e dá para imaginar qualquer tipo de mágica acontecendo por lá. Então vem o embate entre Rogério e o velho (que depois sabe-se ser o próprio Rogério anos à frente), no que parece ser um mero passatempo, mas que mais tarde, saberemos, trata-se de uma possibilidade de mudar o próprio destino. É uma questão filosófica tão batida quanto fascinante e aqui, creio, o(a) autor(a) conseguiu tratar dela com competência. Não que o conte encante pela perícia com as palavras (aquele “franziu o cenho” está ali para provar que há espaço para melhora), mas pega o leitor porque o põe para pensar. Meu grande porém está no uso do xadrez, que é apenas uma desculpa para o conflito entre as duas gerações de Rogério. Quer dizer, podia ser gamão, dama, baralho ou palitinho, ainda assim o confronto existiria, de modo que o xadrez, o tema do desafio, acabou um tanto diluído na trama. Mas, de todo modo, é um conto bacana de ler. No geral, ótimo entretenimento. Parabéns e boa sorte no desafio.

  16. Kelly Hatanaka
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Jovem Rogério e velho Rogério se encontram em uma partida de xadrez e, através dela, têm a chance de reescrever a própria história. Na primeira partida, há o mistério daquele oponente surgido do nada, mas os olhos que já foram vistos em algum espelho denunciam o plot. Na segunda partida, o velho Rogério entende que, se ele perder, o jovem Rogério teria a chance de reconstruir a vida e, quem sabe, resgatar algo que se perdeu.

    Na primeira partida, o jovem Rogerio perde e nada parece acontecer. O velho some, Rogerio segue sua vida e conquista uma tediosa tranquilidade. Quando ele desmaia e volta ao albergue para jogar xadrez com seu jovem eu, ele perde o jogo de propósito. E, novamente, nada acontece. Ele retorna para sua vida com sua esposa e segue vivendo.

    Mas, precisaria acontecer alguma coisa? Eu fiquei com essa expectativa, mas, talvez, o conto seja sobre possibilidades e sobre o quanto não estamos nunca totalmente satisfeitos com nossas escolhas.

    O final sinaliza isso, dizendo que Rogerio sonhava com o jovem que fora e com o velho que poderia ter sido, sempre no passado e nas possibilidades, longe do presente.

    Gostei ou não gostei

     Gostei. Um ótimo conto, que prende o interesse desde o começo. A narrativa é muito boa, bem conduzida. Segui a história curiosa por saber o que aconteceria. E, talvez aí esteja a minha pequena crítica ao enredo. Nada acontece após os jogos, exceto o questionamento se o idoso desconhecido do final seria Rogerio ainda mais velho jogando uma nova partida.

    Também gostei muito do efeito circular da história e das conversas entre os Rogérios. Como mudamos com o passar do tempo. Será que chegamos a nos tornar outras pessoas?

    Pitacos não solicitados

    Isso é um pitaco bem besta mesmo, afinal, acho que o texto está de acordo com seu objetivo e está muito bom. Mas eu, enquanto leitora, torcia para que as decisões tomadas durante o jogo alterassem algo da realidade. Como, por exemplo, o velho Rogerio voltar à consciência para descobrir que não tinha filhas nessa nova realidade.

  17. andersondopradosilva
    8 de novembro de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Autor, até que gostei deste seu conto. Comentei algo parecido em UM REI. O “até” soa meio ofensivo, né? É que, no caso desde seu conto, fiquei com a impressão de que minha tendência natural ou primeira fosse ou foi não gostar, mas fui pegando gosto pelo texto e, embora eu o quisesse ainda melhor, o saldo final é de que gostei.

    Devo confessar que não faço ideia do que ou de quem seja esse tal de Billy Hayes. Estou comentando depois de algum tempo da leitura e não lembro se o texto explica. Acho que não. É uma referência, né? Sabe que não gosto de referências? Não gosto de obras que se apoiam em outras, não gosto de ter minha leitura interrompida ou prejudicada para pesquisas, seja de referências, significados, traduções ou o que seja. O que gosto é que o autor construa o texto de tal maneira que tudo possa ser depreendido da leitura do próprio texto e do conhecimento geral de mundo, não conhecimentos específicos ou de nichos, gosto que os significados e sentidos possam ser depreendidos do contexto.

    O aspecto de que mais gostei no seu texto, para além da escrita correta, funcional e fluida, foi a discussão em torno do envelhecimento e das escolhas. Um texto bonito, um tanto emotivo, embora o desfecho, o parágrafo final, tenha me soado bastante enigmático.

    Nota 4,6.

  18. Antonio Stegues Batista
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    A história de um homem que joga consigo mesmo, ele viaja do futuro para o passado, da sua velhice para sua juventude. A logica na viagem do tempo é que, se vc interagir consigo mesmo, mudará sua vida no futuro. O paradoxo é meio confuso. O conto está bem escrito, tem um bom enredo, boa construção de frases. Os espaços para questões filosóficas não foram bem aproveitados, faltou algo mais contundente, principalmente no final indefinível. Por que a escolha de Istambul, na Turquia? Teria a magia da cidade influenciado a viagem do tempo? Digo viagem do tempo como analogia. Ou a escolha foi aleatória? A alusão que Rogerio faz sobre sua vida e a história de Billy Hayes me pareceu mais um dejavú.

  19. claudiaangst
    6 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O tema proposto pelo desafio foi abordado plenamente. Há xadrez do começo ao fim.

    Interessante a referência a Billy Hayes, escritor estadunidense, conhecido por seu livro autobiográfico “O Expresso da Meia-Noite”, sobre as suas experiências e fugas das prisões turcas após ser condenado por tráfico de haxixe. O texto apresenta um paralelo com os sonhos que ficaram no passado e a vida que não se pode mais ter no futuro.

    Rogério joga consigo mesmo, o seu duplo, ou quem ele poderia ter sido. O desfecho fala que o verdadeiro xeque-mate é quando se aceita o tabuleiro, ou seja, a vida que se tem.

    O conto está bem escrito, não vi grandes problemas de revisão.

    • Ele colocou os brancos > Ele colocou as brancas (tem que concordar com “as peças”)

    A narrativa é bem conduzida, o ritmo empregado é confortável para a leitura que flui sem entraves.

    Parabéns pela participação no certame. Boa sorte!

  20. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de novembro de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, Sultão! tudo bem?

    Esse é um belo conto, viu?! Profundo, filosófico, cheio de significados e reflexões implícitas sobre vida, passagem do tempo, decisões, erros e acertos, arrependimentos. Aqui, o xadrez serve de metáfora para o grande jogo que é a vida. Aliás, gostei muito da passagem “— Todos já perdemos, meu caro. A diferença é o que fazemos entre o primeiro lance e o xeque-mate.”

    Acredito que ela funciona muito bem para ditar o tom do conto, o tom profundo e lúdico com o qual o Xadrez se apresenta na história. Quando jovem, o homem fica imaginando o que pode ser quando envelhecer. Quando velho, fica pensando no que poderia ter fdeito de diferente ao longo da vida. Porém, é somente quando entende que o que importa é o tabuleiro, é o jogo, é a vida, é o caminho, é que percebe que todos os movimentos que fez o levaram até ali, até o que ele é hoje. Nessa hora, ele finalmente vence o jogo, dá o Xeque-mate. Uma belíssima mensagem sobre auto aceitação, sobre viver o presente, sobre aproveitar a caminhada. Como cantou Aerosmith, “life’s a journey, not a destination”. Seu conto transmite essas ideias sem parecer pretensioso, sem lição de moral, sem moralismo explícito. Tudo bvem dosado e bem escondido por detrás das partidas de xadrez, mas ao mesmo tempo muito compreensível, contando com um ótimo ritmo, dialogos e técnica.

    Belíssimo trabalho, parabens!

  21. bdomanoski
    2 de novembro de 2025
    Avatar de bdomanoski

    👏👏👏

    “— Todos já perdemos, meu caro. A diferença é o que fazemos entre o primeiro lance e o xeque-mate.” Melhor frase. Gostei do texto, reflexivo.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4B, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .