EntreContos

Detox Literário.

Diferentes uns Sessenta Anos (Anderson Prado)

O rangido do portão anuncia a filha e o neto. É o início do jogo e é sábado. Eles sempre vêm. Atravessam o caminho de sextavados e chegam à varandinha da frente. O molho se agita, rodopia no canhão e a porta os põe para dentro.

— Pai, chegamos!

As semanas se repetem, todas elas com um sábado e todos os sábados com a visita. Não se recebem, não se procuram, inevitavelmente se encontram. A casa é pequena, de poucos refúgios. Casa de vila, branca, telhado vermelho. Seria igual a todas as outras não fossem as diferentes patentes. A cada posto um modelo de construção e uma distância maior ou menor para os portões do quartel.

— Pai, trouxe pão fresquinho… – anuncia enquanto caminha para a cozinha.

Três quartos, sala ampla, quintal largo e circundante, do tamanho da dignidade de um coronel. Os espaços ociosos abundam. Móveis herdados de ocupantes anteriores se misturam aos que sobreviveram das múltiplas mudanças ao longo da carreira. Cada novo posto, nova cidade e novo quartel.

Um dos quartos é escritório de mesa, cadeira, armário e caixas. Papéis diversos se acumulam e empilham, em um misto de tudo. Os que têm timbre dão aviso e ameaçam. Falam de prazo para desocupação e de devolução imediata. Mas o coronel vai ficando na casa de seu último posto. A esposa teria orgulho da determinação tardia de não mudar. Ela fingia não se importar. Se despedia dos amigos e dos planos, empacotava o empacotável e se mudavam a cada promoção.

“A gente chega lá”, ele consolava.

Queriam o retorno para o ponto de partida, a cidade onde se conheceram e tinham família. As transferências foram se sucedendo, obrigatórias e voluntárias. Chegaram perto, mas o último prazo a de fato vencer o coronel lhe tirou a esposa, apesar da química e da radiação. Prazo de um ano sem meses, roubados um a um e aos poucos, ela cada vez menos ela até morrer já sendo outra.

Deixou a filha com quinze anos e ele com uma paternidade que até ali tinha se resumido a pôr no mundo, pagar contas e brincar em uma tarde ou em outra quando a menina ainda brincava, já que a adolescente ele apenas encontrava pela casa, cumprimentava, perguntava o tudo bem e o como vai a escola.

O neto chegou menos de dois anos depois da partida da avó. O coronel pagou festa e apartamento para o jovem casal para se poupar de pôr a filha para fora de casa.

“Vocês precisam de um canto pra chamar de seu.”

O casamento durou pouco, atropelado pelas consultas, terapias e exigências da criança que comia mal, dormia pouco e não se comunicava direito. A filha não voltou para a casa do pai, mas interrompia o sossego dos sábados com sacolas de mercado, arrastar de móveis, sacudir de cortinas e reunião de boletos daquele pai inábil para a vida civil.

— Cadê o garoto? – perguntou o coronel após cumprimentar a filha na cozinha.

— Foi pro quarto, acho.

O dormitório avizinhado da sala resistia à partida da filha e à chegada do neto. Objetos de um e outro disputavam espaço.

— Oi, garoto!

O menino está sentado no chão, cercado de objetos. O caos é convite para horas de sossego. Ele separa, empilha, ordena e cumprimenta sem se voltar.

— Oi.

O avô considera exigir melhores modos, mas é cedo para o primeiro erro. O garoto é imprevisível, e a paz do trio vale mais do que um capricho.

O coronel volta para a cozinha e para a filha.

— Ele tá bem hoje?

A resposta é um chiado choroso.

— Tá… Comeu pouco, mas tomou os remédios… A moda agora é cereal sem leite. Tem uns cinco dias que só come isso no café da manhã.

— É um garoto difícil…

— A palavra não é essa, e você sabe.

É um jogo de erros e acertos, recuos e avanços. Vai aprendendo, tomando nota das palavras interditas, antecipando jogadas, ensaiando, ainda errando mesmo depois de ensaiar. O choque é geracional e informacional. É pai de filha nascida velha, com quinze, depois que a esposa morreu e o fez puérpero. Ele não sabia quem era a garota de quinze, menos ainda sabe quem é essa mãe divorciada de vinte e tão poucos anos.

Deixa o silêncio pronunciar seu pedido de desculpas pela fala desajeitada e recua para terreno seguro.

Na sala, manual e tabuleiro o esperam. Vem estudando técnicas avançadas, jogos e jogadas clássicas, problemas e soluções. No tabuleiro, se lança em batalhas mais confortáveis do que o jogo de palavras com a filha.

Garante duas horas de paz, interrompidas apenas pelo ir e vir da filha com vassouradas e espanadas, pondo tudo em ordem, cozinhando para uns vinte que são ele mesmo e cada uma de suas refeições requentadas ao longo da semana. O garoto permanece quieto. Quando deixar o quarto, terá dividido tudo por tamanhos e cores.

— O almoço tá servido – a filha anuncia.

O coronel se senta à mesa e aguarda. A filha passa no banheiro e se ajeita. No quarto, convida, argumenta e convence o menino a comer. O avô se impacienta, estuda se e o que falar enquanto o vapor dos alimentos vai rareando. Intervir é um movimento arriscado. Todo gesto é convite à intervenção inoportuna. A filha serve o neto sem permitir que a comida se toque no prato. Cada alimento defende rigidamente seu canto. O garoto avança aos poucos, avalia, amealha grão a grão e pedaço a pedaço o que quer comer.

O coronel se exaspera em silêncio e não se lembra da própria filha se alimentando quando criança, se comia bem ou, mesmo, se comia. Talvez ele estivesse imerso em seu próprio comer enquanto a esposa cuidava de tudo no entorno. Uma paternidade inteira escondida nesse vazio de memória. Se supunha bom pai até a partida da esposa e a chegada do neto lhe mostrarem que as crianças precisam, numa constante de sufocar.

— Come, por favor.

Odeia esse mandar suplicado da filha. Quer intervir, pôr para fora sua autoridade aquartelada, mas vai resistindo ao lance fácil e precipitado. É com alívio que vê o neto liberado da mesa.

— Terminei. Posso sair?

A mãe se conforma.

— Vai.

Os olhos do avô gravitam o neto. Ele caminha lento pela sala, cerca o tabuleiro, mira as peças e avança.

— Filho, não. É do seu avô.

— Deixa, pode deixar.

Perde a jogada em estudo, copiada do livro. Sacrifício pequeno, necessário à deglutição da comida quase fria que lhe aporrinha o prato. Voltará umas páginas, disporá novamente as peças, mas, antes, terá o menino quieto, emparelhando e separando brancas e pretas, ordenando por conjunto e altura.

O almoço termina. A filha se encarrega da louça e o coronel se encarrega de encontrar um destino. Não sabe se ousa uma aproximação ou se parte logo para o Clube de Oficiais. Decide arriscar.

— Sabe o que é isso?

— Um jogo?

— Sim. Xadrez. Quer aprender?

— Ahã.

— Senta aí.

O inusitado atrai o olhar e a filha interrompe a tarefa de recolher os pratos. Ela observa e antecipa os atritos daquele raro encontro entre avô e neto. Precisa se adiantar com a louça antes que tudo desande.

O avô ensina como dispor as peças no tabuleiro, como movimentar cada uma. Esclarece o objetivo do jogo.

— Entendeu?

— Ahã.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Então tá bom.

Iniciam. O garoto ensaia seus primeiros movimentos. Em seu mutismo, surpreende o avô. Não faz perguntas, não tira dúvidas, mas a partida não dura muito.

— Gostou?

— Ahã.

— Quer jogar de novo?

A derrota não o desanima. Apesar do olhar furtivo, o garoto parece concentrado.

A segunda partida quase consegue ser ainda mais curta, mas o neto dispõe sozinho as peças, ousa movimentos, e até obriga o avô a se aprumar na cadeira.

— Mais uma?

O avô calcula, antecipa lances, realiza sacrifícios planejados, mas lhe basta um erro para perceber o destino da terceira desastrada partida. Segue resistindo, dificultando, procurando nos movimentos do neto os segredos daquele pasmo.

Com a derrota, vem a decisão.

— Filha, vamos sair.

— Vão o quê?

— Vamos ao clube.

— Pai, não é assim. Tem que avisar pra ele onde vocês vão, o que vão fazer, o que ele pode encontrar lá, pro que ele tem de se preparar… Enfim, não pode sair assim.

— Ele quer ir. Não quer, Miguel? Jogar com os amigos do vovô no clube?

— Ahã.

— Tá vendo?

A mãe se atrapalha.

— Tá, então leva o abafador e o casaco.

— Casaco? Pra que casaco? Tá um calor danado.

— Vai por mim, pai. Ele sente muito frio. E não esquece do cordão.

O coronel aceita o sacrifício. É o preço. Mas, ao se aproximarem do clube, cordão e crachá somem dentro camisa, e apenas o par de olhos suplicantes do neto impede o abafador de ser arrancado dos ouvidos. O coronel vasculha o entorno. Percebe os banhistas e seus excessos, a música vinda da cantina e os gritos e apitos das quadras cheias.

Vencem a portaria e seguem até a sede social. O prédio amplo, de portas espessas, abriga a sala de convivência, os salões de jogos e de festa e a administração. O ambiente silencioso e climatizado permite ao avô um novo avanço.

— Quer tirar?

Pendurado no pescoço, o abafador se escamoteia de jovial fone de ouvido.

Os jogadores de xadrez estão numa mesa retangular de fundo. Apenas uma dupla se enfrenta, vigiada por uma plateia de um homem só.

— Que bom que chegou, coronel! Pensei que não viria hoje!

É como funciona. Quem está de fora espera o vencedor da partida em curso ou a chegada de novo jogador. O coronel desconversa, diz que não joga, que cede a vez para o neto, que não tem isso, que o garoto joga bem, que o adversário pode confiar.

— Tá bem, então. Vamos lá… Mas só enquanto aguardo!

A displicência logo passa. Poucos movimentos bastam para deixar o adversário alerta. As jogadas rápidas e impulsivas do jovem jogador interrompem a partida vizinha, e a vitória do mais experiente vem com gosto de derrota. A surpresa é grande e os elogios são muitos. O coronel vibra, fala por si e pelo neto, recebendo os cumprimentos num entusiasmo e falatório inusual.

As duplas se invertem, e o garoto conquista a primeira vitória, dessa vez sem constrangimento do adversário, que é todo felicitações e apertos de mãos. O coronel cerca o neto, afasta pedidos de novas partidas e de revanche, fala do adiantado da hora.

— Sábado que vem, sábado que vem.

Enquanto isso, na casa do coronel, a filha se agita. Visita a rua de tempos em tempos. Uma leve curva à direita lhe obriga a subir a calçada dianteira para divisar um pedaço a mais da via e da estrutura do clube ao final do aclive. Enxerga o cinza desbotado da parede externa do salão de festas e o espiralado mais alto do tobogã da piscina.

Volta para dentro de casa. Realiza uma última inspeção. Tudo certo na cozinha. Almoço e janta dos próximos seis dias organizados em potes, quarenta e oito pequenos potes de vidro, doze com arroz, doze com feijão, doze com legumes cozidos e doze com carnes diversas, do jeito que o pai gosta. Na vez em que deixara as refeições montadas, principal e acompanhamentos nos mesmos potes, o pai sobrevivera a pão e queijo por uma semana.

Coronel no quartel, soldado na vida, reclamando ordem e disciplina. Um soldado sem soldo, com as finanças em ruínas entre consultas e terapias, medicamentos e suplementos do neto, vivendo à beira de um despejo para manter a filha alojada em apartamento no Centro. Há anos que é nela que o soldo encontrou destino e gestor.

Sempre espanta a ela perceber o quanto quinze anos é pouco. Não se lembra do pai dando tanto trabalho para a esposa. Era um homem quieto, reservado, cansado talvez, ausente por certo. Passava os dias no quartel, chegava tarde em casa. Na infância da filha, até se deixava cercar, num brincar desajeitado. Mas ela não se recorda bem, quinze anos foram poucos para se lembrar de emprestar algum à observação do pai. Lembra dele em um jogo persistente consigo mesmo nas múltiplas salas da vida nômade da família. É bom, e surpreendente, que tenha encontrado na reforma e no clube militar companhia para aquele seu ócio obsessivo com o xadrez.

Volta ao presente e ao resto da casa. Inspeciona. Tudo em ordem. Superfícies limpas, cantos varridos, cada objeto em seu lugar. Decide mais uma visita à rua e à calçada do vizinho da frente.

Talvez deva ir ao clube. Avança alguns passos. Divisa mais um trecho da rua além da curva. Lá vêm eles, lado a lado, num caminhar que às vezes se faz bailarino e se lança nas pontas dos pés. Se parecem até, diferentes uns sessenta anos.

Quando chegam mais perto, ela percebe que o tabuleiro mudou de mãos.

— Oi, vocês dois. Demoraram!

— Olha o que o vovô me deu!

— Que lindo, filho! Você gostou?

— Ahã.

O garoto segue até a porta na sua sanha obstinada de evitar as linhas dos sextavados do calçamento. O coronel e a filha observam do portão.

— E aí, como foi lá?

— Normal.

Pai e filha hesitam, ele sem saber se fez um elogio ou uma crítica, ela indecisa se vale a pena apontar a inconveniência do termo.

Atravessam finalmente o portão e, em silêncio, aceitam um empate no xadrez verbal que lhes sequestra os sábados a cada semana desde o diagnóstico do garoto.

Sobre Fabio Baptista

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19 comentários em “Diferentes uns Sessenta Anos (Anderson Prado)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Masking!

    Esse é um conto que me trouxe alguma dificuldade. Em uma primeira leitura, esbarrei em um texto que achei pouco condizente com o roteiro, desencontrado do que estava sendo contado. Em uma segunda leitura percebi que o texto duro ainda estava lá, mas é possível captar nuances que, da primeira vez, haviam passado despercebidas. A história do garoto autista que encontra no xadrez um foco de conexão com o avô e, talvez, com outras pessoas, é um roteiro interessante.

    Técnica – Notei que o conto tem momentos de construções bonitas e complexas, em que o que é contado é entremeado em frases difíceis, dando ao leitor o prazer de pinçar as informações e construir o enredo aqui e ali, como em “seria igual a todas as outras não fossem as diferentes patentes”. Por outro lado, algumas vezes isso parece ter fugido do controle com algumas construções confusas, que exigiram releituras para conseguir entender o que estava sendo dito, como “mas o último prazo a de fato vencer o coronel lhe tirou a esposa” e “ela cada vez menos ela até morrer já sendo outra”, que teriam se beneficiado de melhores divisões, ou formulações, sobretudo no contexto do parágrafo em que estão inseridas. Nem sempre o texto difícil é um texto bonito, e o conto, em minha percepção, conseguiu ir do bonito ao feio, o que me indica desequilíbrio em sua concepção.

    Enredo – O panorama familiar do coronel, com a morte da esposa, sua relação fria com a filha precocemente mãe e divorciada, e um neto autista não gera, de fato, um enredo digno de nota. O xadrez surge aí como um ingrediente vital para reunir todos os elementos e dar um direcionamento para que todos os personagens funcionem dentro do cenário (muito bem definido), do tempo (também muito bem delineado) e do propósito. Funcionou, embora esse clichê do garoto aprender o xadrez com o avô me pareça ser excessivamente batido.

    Impacto – Gosto de escrever esta parte do meu comentário dias depois de ter lido o conto para ter uma ideia de como o conto aparece em minha mente depois de um tempo da leitura. É a minha forma de medir seu impacto em mim. Esse conto ficou no meio termo, pois eu precisava reler tudo. Minha memória ficou muito focada nas dificuldades do texto, e a história se escondia. Mas acho que isso acabou funcionando como uma forma dele marcar presença.

    Conclusão – É um bom conto, sim. Mas no geral acho que o desequilíbrio do texto, que citei acima, e o clichê da dupla neto-avô me fazem o colocar num degrau abaixo de outros que buscaram uma utilização do tema um pouco mais provocadora (ou menos conservadora).

    É isso, boa sorte no desafio!

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Adorei! Como autista (ainda que em um nível de suporte menor do que o do neto do coronel), adorei o cuidado com que a história trabalha o TEA. Mais do que isso, porém, o modo como o xadrez é trabalho na trama e na metalinguagem, as diferenças, as jogadas, as estratégias… A família toda é crível, interessante e envolvente, em seus problemas e soluções. Parabéns!

  3. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Achei um texto bem competente dentro daquilo que se propõe, que é um foco na vida de uma família com diversos conflitos oriundos do acaso e das escolhas dos personagens.

    O tema é tratado tanto diretamente, com o avô entusiasmado com o talento do neto para o jogo, finalmente se conectando com ele, quanto indiretamente, no que diz respeito à relação de pai e filha. Sobre isso, achei a última frase um pouco desnecessária. Tenho a impressão de que o autor já havia feito um bom trabalho com o implícito da relação e do jogo, e a explicitação final tirou um pouco do brilho desse trabalho, ao menos para mim.

    Todos os personagens estão bem construídos, especialmente o avô. Apesar disso, senti que faltou um pouco de espaço para a filha, que teve povs tão curtos em comparação.

    Esse tipo de texto geralmente demora um pouco para me pegar. Senti que finalmente quando estava interessado na história, quando todas as engrenagens dos conflitos internos estavam começando a girar, ela terminou.

  4. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Um conto sublime sobre a dificuldade de se relacionar com aqueles que deveriam nos ser próximos. O coronel perde a esposa, que, pelo jeito, sempre cuidou da vida familiar. A filha engravida pouco depois e descobre que o bebê é autista. O conto não especifica qual o diagnostico e eu estou chutando com base nas vozes da minha cabeça. Se errei, desculpe. A filha, agora, visita o pai aos sábados e tenta deixar as coisas em ordem para a semana. O pai, por sua vez, reluta em desocupar a casa, que deveria liberar, enquanto estuda jogadas de xadrez.

    Há um abismo entre estas três pessoas, avô, filha e neto, uma incapacidade de se comunicar que torna qualquer interação entre eles um intrincado jogo, uma coreografia delicada e difícil, pisando em ovos, tentando entender e dizer o que nem sabem ao certo.

    Uma esperança vem do xadrez, algo que inesperadamente une avô e neto.

    Gostei ou não gostei

     Amei. Meu favorito até agora. Achei este conto de uma sutileza, de uma delicadeza, tem tanta história sendo contada, em detalhes tão delicados. Ele é comovente sem ser piegas, emocional sem ser sentimentalóide. Parabéns!

    Pitacos não solicitados

     Sem pitacos para você. Para mim, este conto está perfeito.

  5. toniluismc
    11 de dezembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Masking!

    Não sei se somos diferentes uns sessenta anos, mas certamente temos pontos de vista divergentes sobre o que é fazer um conto sobre Xadrez. Para evitar maiores constrangimentos (da minha parte, no caso), buscarei ser técnico nas observações. Seguem:

    1. Técnica

    a) Prosa bem cuidada… até demais

    O texto é bem escrito, sim, mas muitas vezes ele parece querer ser mais elegante do que a história pede. Isso aparece em:

    • Construções longas, cheias de vírgulas, que dão um ar de crônica “sofisticada”, mas tornam a leitura mais arrastada.
    • Frases com cara de tese, por exemplo: “É um jogo de erros e acertos, recuos e avanços. Vai aprendendo, tomando nota das palavras interditas, antecipando jogadas…” Funciona como metáfora, mas acumula camada em cima de camada de imagem (jogo, recuos, avanços, palavras interditas…), o que deixa o texto meio “posado”, consciente de sua própria estilização.

    Em vez de a linguagem servir aos personagens, às vezes parece que os personagens servem à linguagem bonita.

    b) Pequenos deslizes gramaticais e de ritmo

    Acredito que possa ter sido erro de digitação ou falta de revisão, mas são pequenos detalhes que destoam num texto que claramente tem ambição formal.

    Além disso, há parágrafos que misturam informação demais sem pausa dramática, gerando um bloco pesado de leitura – especialmente aqueles que explicam o passado do coronel, as mudanças de casa, a esposa, o luto, o neto, o apartamento da filha, tudo numa cadência quase ensaística. O resultado: o texto fica mais cansativo do que a simplicidade da trama pediria.

    c) Muito “tell”, pouco “show”

    O narrador explica bastante o que os personagens sentem ou representam:

    • A paternidade falha do coronel é comentada e re-comentada.
    • A sobrecarga da filha é descrita em detalhes organizativos (os potes, os boletos, as terapias).
    • O neto é caracterizado pelos comportamentos típicos (cordão, abafador, rotina, sensibilidade), mas quase nunca por uma ação inesperada que o torne mais único do que “o garoto do diagnóstico”.

    Isso cria um efeito de texto consciente da sua pauta (paternidade tardia, filha exausta, criança neurodivergente), mas pouco disposto a deixar o leitor tirar conclusões sozinho. A narrativa explica muito e dramatiza pouco.

    2. Criatividade

    a) Estrutura bastante comum

    A estrutura é a de um “dia típico que simboliza a vida inteira”:

    • A visita de sábado.
    • A rotina de limpeza, comida, organização.
    • A tentativa de conexão (o xadrez).
    • Um acontecimento pequeno (ir ao clube) que vira marco simbólico.
    • O final com frase-síntese fechadinha: “empate no xadrez verbal”.

    Isso não é ruim em si, mas não traz muita novidade. O arco é previsível: avô distante → neto difícil de alcançar → um jogo aproxima os dois → a filha continua no meio, exausta → a vida segue mais ou menos igual, com uma pequena fresta de esperança ou entendimento. É um padrão bem batido na ficção contemporânea.

    b) O clichê “mente especial + xadrez”

    Ainda roça um clichê delicado: a combinação criança com traços de TEA + talento para algo lógico (no caso, xadrez).

    • O garoto é quieto, ritualístico, sensível a estímulos, pouco verbal.
    • Quando aprende o jogo, rapidamente supera o avô e surpreende adultos no clube.

    Isso ecoa um troço que a ficção já fez muitas vezes: “a criança que sofre no social, mas é brilhante em algo abstrato”. Aqui o conto não chega ao exagero do gênio incompreendido, mas a linha é parecida e pouco questionada. Falta complexidade: o menino continua sendo muito mais símbolo do que sujeito.

    c) O “xadrez” como adereço, não como eixo

    Esse texto é com xadrez, não sobre xadrez.

    Se a gente trocar:

    • o xadrez por dama, sudoku, cubo mágico ou videogame de estratégia,

    a maior parte da história continua de pé. O jogo:

    • funciona como ferramenta de aproximação entre avô e neto,
    • dá uma cena de triunfo (o neto ganhando dos veteranos do clube),
    • e vira metáfora de comunicação com a filha (“xadrez verbal”, “empate”).

    Mas o conto não explora o xadrez em si: não há reflexões estratégicas ligadas às relações, não há paralelos mais finos entre posição, sacrifício, tempo e o drama de três gerações. Ele está lá como:

    • símbolo de inteligência,
    • passatempo de militar reformado,
    • pretexto para a saída ao clube.

    Ou seja, para um concurso “com tema Xadrez”, cumpre tabela; para quem queria algo mais intrinsecamente ligado ao jogo, fica raso.

    3. Impacto e empatia

    a) Empatia muito condicionada à experiência pessoal

    Quem nunca viveu algo parecido (pai militar distante, mãe cuidadora sobrecarregada, familiar com TEA) pode sentir o conto mais como observação externa do que como algo que fura a pele.

    • O texto tenta compensar isso com uma linguagem sofisticada e introspectiva, mas essa própria sofisticação cria distância emocional.
    • A dor do coronel, da filha e do neto é descrita, mas raramente surpreende com um gesto, uma fala ou um silêncio que faça o leitor pensar “caramba, nunca tinha visto por esse ângulo”.

    Tudo soa correto, plausível, sensível – porém não necessariamente tocante para quem não já traz essa experiência na bagagem. b) Monotonia deliberada… que vira tédio

    O conto quer mostrar rotina, repetição, sábado após sábado. Isso faz sentido com o tema. Mas, na prática, o efeito é:

    • muita repetição de ações parecidas (visita, arruma, cozinha, inspeciona, volta à rua),
    • muita introspecção parecida (o coronel se percebe pai ruim, a filha se percebe sobrecarregada, o neto se percebe pouco).

    Sem uma virada realmente forte no meio, a narrativa entra num registro monótono, que lembra mais relatório emocional do que drama. A ida ao clube quebra um pouco isso, mas ainda assim:

    • não há conflito real lá (ninguém discrimina o garoto, ninguém estranha, ninguém erra feio com ele),
    • o menino simplesmente se destaca, todos elogiam, o avô vibra.

    Fica tudo linear demais, com pouca fricção. A vida real pode ser assim, claro, mas ficção sem alguma tensão mais aguda perde potência. c) Final “redondinho demais”

    “aceitam um empate no xadrez verbal que lhes sequestra os sábados…”

    É uma frase bonitinha, redonda, com cara de encerramento de oficina de escrita — mas também é esperada. Desde metade do conto, o texto vem martelando a ideia de:

    • jogo entre pai e filha,
    • jogo de palavras,
    • jogo de aproximação.

    Chegar a “empate no xadrez verbal” é a conclusão mais óbvia possível dessa metáfora recorrente. O resultado é uma sensação de:

    • “ok, fechou bem”,
    • mas não “nossa, isso me desmontou”.

    O impacto fica mais na inteligência da construção do que na emoção.

    Por hoje, é isso! Estão falando bem do seu conto, então acredito que terás um bom resultado. Parabéns pelo trabalho e até breve!

  6. Pedro Paulo
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Conto excelente! Adorei como vô e filha têm trechos a caracterizá-los em si e na forma como se veem, assinalando a distância entre eles, antes e agora, mesmo tão próximos. O filho é convenientemente caracterizado à distância, deixado sem ser de todo entendido, nos aproximando mais de seus guardiões. As diferenças geracionais, paternidade e maternidade e a neuroatipicidade são temas muito bem trabalhados na sutileza das relações dessa família, enquanto o xadrez também é habilmente inserido na trama.

  7. Fabio D'Oliveira
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Ah, um adendo!

    Quando falei que não consegui me conectar com nada, quis dizer que não consegui me conectar PROFUNDAMENTE com nada. Me identifiquei com a família, por viver algo parecido, uma distância entre as partes, um desentendimento silencioso. Apenas não consegui me conectar a ponto de sentir algo pelos personagens, pela escrita e afins.

    Às vezes, no fluxo da escrita, acabo me atropelando, rs.

  8. Fabio D'Oliveira
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Faço parte de uma família disfuncional. Ausência, agressões silenciosas, olhares de reprovação. Por parte da família do pai, o desconforto de não pertencer. Por parte da família da mãe, a explosão da incapacidade de se entender. Então, de certa forma, consegui me conectar um pouco com a história do conto. Só não consegui me conectar por completo por causa da narrativa, focada na forma, mais racional, mais fria. Não gosto de narrativas melodramáticas, mas gosto daquelas que procuram despertar alguma sensação, ou emoção, no leitor. Isso de forma orgânica, claro. Os dois extremos me parecem ruins. Muito quente, não; muito frio, não; ameno, sim, por favor.

    O conto está bem escrito. Admiro quem se aventura no tempo verbal do presente. É difícil acertar o tom, principalmente quando existem rememorações no meio da narrativa. Se não me engano, houve apenas um deslize na correspondência temporal, logo após as lembranças do velho militar, com o “perguntou o coronel após cumprimentar a filha na cozinha”. A narrativa é um pouco densa, exigindo um pouco mais do leitor. Não consegui permanecer imerso na leitura e, por vezes, o conto me perdeu. Isso não é um defeito, trata-se de gosto pessoal, mesmo. Pode parecer contraditório, mas, em alguns momentos, a forma pende para um formato poético, com frases curtas, focadas no impacto, algo que me agrada. O conto não deixa de ter passagens legais.

    A história não inova. Nem é a pretensão do autor, imagino. Enredos que focam em famílias onde a relação entre os membros é complicada acaba sendo extremamente comum, principalmente na literatura contemporânea. O xadrez conecta um velho militar, acostumado com a ordem, com o neto autista, que vive através do caos. O contraste é evidente e proposital, o que confere certo valor à narrativa. O xadrez serve como uma ponte. A filha do militar acaba sobrando um pouco na história, porém.

    Não posso falar que gostei do conto. Não consegui me conectar com os personagens, com a forma, com nada. Mas é um bom conto. Bem escrito. Por algum motivo, tenho a sensação de que a literatura contemporânea está mais preocupada com a forma do que com a mensagem. Não sei. É apenas um pensamento que surgiu enquanto escrevia o comentário, rs.

    Boa sorte no desafio!

  9. Sarah S Nascimento
    27 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Primeiro quero dizer que seu conto é muito bonito! Meio triste em certos momentos, mas dá pra sentir toda essa estranheza dessa dinâmica familiar. Tanto na relação do pai com a filha, como na relação dele com o neto.
    Achei excelentes as cenas em que vemos como foi a vida do coronel até ele chegar no posto em que chegou, também achei interessante como ele também precisava que a filha separasse toda a comida em potes diferentes pra ele se alimentar durante a semana. E quando ele viu ela separando a comida do neto, ele achou que ela não devia fazer isso. Os pequenos detalhes pra compreendermos a condição ali do Miguel ficaram muito bem feitos , parabéns!
    É o tipo de conto que mostra pelo comportamento do personagem e não precisa dizer com todas as letras qual é o diagnóstico dele, achei isso genial. Muito bem construído o conto e gostei principalmente da cena em que o avô leva o menino no clube. O trecho da filha indo ver se eles já estavam retornando foi ótimo pra vermos a impaciência dela e a preocupação também.
    Mas tem um ponto do seu conto que foi complicado pra mim: sua escrita. Não achei a leitura leve, me vi retornando linhas pra ler de novo e entender o que estava transmitindo. Tem um trecho que eu não entendi de quem você estava falando até continuar lendo, olhe: “A displicência logo passa. Poucos movimentos bastam para deixar o adversário alerta. As jogadas rápidas e impulsivas do jovem jogador interrompem a partida vizinha, e a vitória do mais experiente vem com gosto de derrota.”. O jogador impulsivo era o homem que eles encontraram correto? Mas, então porque na próxima linha diz que a vitória foi do mais experiente? O mais experiente não era o homem? Ou o mais experiente era o garotinho? E essa frase da vitória veio com gosto de derrota, a vitória do Miguel veio com gosto de derrota para o cara, certo? Enfim, sei lá, esse trecho me deixou bastante confusa.
    Ainda assim, acho que você fez um uso excelente do tema, não só na partida propriamente descrita ali, mas até colocando analogia na dinâmica e conversa entre a filha e o pai dela. Muito bom conto.

  10. claudiaangst
    26 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Temos aqui um conto que aborda o tema proposto pelo desafio relacionando-o ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Curioso é que, ao ler o texto, perguntei-me se a mãe e o avô também não apresentavam traços do TEA. Ela com a mania de limpeza e organização, ele com a seletividade alimentar. Um pouco de cada, tudo junto e misturado.

    O conto está muito bem escrito e não notei falhas reais de revisão, apenas estranhei duas construções:
    • […] estuda se e o que falar
    • […] mostrarem que as crianças precisam, numa constante de sufocar.

    A leitura flui fácil, sem entraves que possam prejudicar a compreensão. Linguagem clara, coloquial, diálogos bem elaborados, verossímeis.

    O desfecho é bom, mas o ponto final poderia ter acontecido algumas palavrinhas antes. Não há necessidade de se falar em diagnóstico, pois o narrador já deixou a questão bem clara. Mas o texto é seu, não meu, então me perdoe o palpite.

    Um ótimo conto, sensível e muito humano.

    Parabéns pela sua participação nesta última rodada. Boa sorte!

  11. marco.saraiva
    21 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Um conto cheio de paralelos interessantes. É incrível como você conseguiu comprimir tanto conteúdo em tão poucas palavras. Não só o conto leva o xadrez como peça-chave da história – já que o garoto autista descobre no jogo não apenas algo que admira como também um potencial escondido, e de quebra uma conexão com o avô – mas também usa o xadrez nas entrelinhas, em como o coronel vê as suas interações sociais como jogadas no tabuleiro, onde tudo é calculado e cada movimento pode ser um erro fatal. Nisso o conto ainda explora um tema interessante, e que fala demais com o título: o coronel tem muito em comum com o garoto, talvez ele mesmo tenha diagnóstico parecido, porém, vindo de outra era, nunca foi diagnosticado. A frase “Se parecem até, diferentes uns sessenta anos” foi muito bem colocada.

    O conto é muitíssimo bem escrito, com construções muito belas, como a frase a seguir:

    “O choque é geracional e informacional. É pai de filha nascida velha, com quinze, depois que a esposa morreu e o fez puérpero.”

    O texto foi escrito por alguém que claramente é íntimo do ofício, e que conta uma história do cotidiano, trabalha personagens com personalidade e competência, traz uma ambientação perfeita, bastante visual, e fecha tudo muito bem. Leitura gostosa, que não deixa a desejar e que sabe o que faz.

    Parabéns!

  12. Mariana
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Eu sou mãe de um adolescente autista, então o conto me pegou em lugares muito íntimos. A família toda está muito bem construída, sem cair em sentimentalismos de “anjo azul” ou outras baboseiras. Para o conto ficar perfeito, ele só tinha de ter acabado na penúltima frase. Mas muito lindo, parabéns.

  13. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Conto pungente, realista e bem escrito. Não entendi o sentido do trecho “O molho se agita, rodopia no canhão e a porta os põe para dentro.”. No final há um alento para todos , ao netinho se encontrar no tabuleiro.

  14. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Achei seu conto muito bom. Extremamente tocante e emotivo. A temática do autismo foi muito bem apresentada. O coronel é um personagem extraordinariamente bem construído. As questões de paternidade, autoridade e tolerância, da própria senilidade e suas dificuldades, foram maravilhosamente exploradas na narrativa. Você conseguiu apresentar a temática do xadrez com bastante originalidade em sua história. Eu agradeço por você dividir comigo um pouco do seu universo literário. Estou ansioso para ler outros contos seus nos próximos desafios.

  15. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    O conto é sensível, bem escrito e cheio de nuance emocional. Gostei muito da relação entre o coronel e o neto: é gradual, delicada, e o xadrez entra como ponte verdadeira entre gerações. A narrativa é fluida, com boas imagens e ritmo constante; nada parece arrastado. O que me incomodou um pouco foi o excesso de explicações internas sobre o passado do coronel — às vezes quebra a imersão e poderia ser mais sutil. Também notei frases um pouco longas demais, que diluem o impacto. No geral, porém, o texto transmite uma melancolia bonita, aquele misto de solidão, rotina e pequenos resgates afetivos. Não encontrei erros gramaticais relevantes, só escolhas de estilo que podem soar densas. A última cena é forte, simples e eficaz.

    Um conto maduro, emocionalmente honesto e bem estruturado.

  16. leila patricia de sousa rodrigues
    13 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    “Diferentes uns Sessenta Anos” é um conto que trabalhou bem a contenção. O autor cria três personagens com clareza e sem excessos, e há um cuidado visível em não forçar emoção — o que dá ao texto uma dignidade discreta que funciona. A relação entre o coronel e o menino é construída com naturalidade, sem atalhos sentimentais, e isso é um mérito em minha opinião.

    Mas algumas escolhas acabam deixando a narrativa mais reta do que precisava ser. A transformação do coronel, embora convincente, acontece sem tropeços; falta um pequeno conflito interno que dê mais textura ao movimento dele. A filha cumpre bem seu papel, mas poderia ganhar nuances além do tom constante de preocupação. E algumas repetições — especialmente “silêncio” e “cada” — desgastam um pouco o ritmo.

    Ainda assim, é um conto honesto, cuidadoso e com boa observação humana. Falta apenas um toque de tensão e de precisão para alcançar um impacto maior.

  17. Antonio Stegues Batista
    11 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

     A história de um coronel que vive no quartel, que tem uma filha divorciada e o neto autista, me encantou. Muito bom conto. Uma história simples, mas bem escrita e carregada de sentimentos.

  18. Martim Butcher Cury
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    Que bonito esse conto! Tem um trabalho fino com a linguagem, opera muito bem entre o iterativo e o singulativo (todos os sábados são iguais, mas este é digno de ser contado). Outra coisa que me agradou muito é o tratamento sutil do tema do autismo, inclusive no que diz respeito ao tabu (o conto meio que incorpora esse tabu evitando nomear o autismo e indicando-o apenas pelos objetos a ele relacionados, o que dá muita força temática ao assunto). Poderia facilmente cair no maniqueísmo ou no didatismo (que tem sido um problema grande na literatura contemporânea), mas ocorre o contrário: os personagens simplesmente se encontram e põem à prova sua particularidades geracionais, históricas, pessoais, sem julgamento prévio por parte da instância autoral. Só não entendi muito bem se é o menino ou o coronel quem ganha as primeiras partidas. E acho que o último período põe a perder um pouco daquela sutileza tão bem construída. Precisava mesmo falar de diagnóstico? E a metáfora do xadrez verbal também me parece que sobra, ou pelo menos deveria ir em outro lugar, porque aí onde está deu ares de “gran finale” à coisa, como se a construção do conto já não bastasse para mostrar a disputa que há entre mãe e coronel. Mas é só isso, o conto está muito bonito, parabéns.

  19. Kauana Kempner Diogo
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    A profundidade emocional é um dos pontos-chave desse conto, o autor trouxe uma prosa limpa, mas essa se tornou a força da narrativa, cada detalhe carrega significados. Há uma série de contrastes, principalmente entre o barulho do clube e o silêncio perto do seu avô. O xadrez foi apresentado mais como uma linguagem emocional, a tentativa de duas gerações conversarem através do jogo.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .