EntreContos

Detox Literário.

A Torre (Priscila Pereira)

Foi naquela torre que tudo começou.

Ninguém sabia quem a havia construído, nem qual era o seu propósito. Era apenas uma torre, no meio do nada.

Era de pedra bruta. Escura como breu durante a noite e clara como marfim durante o dia.

Não era possível medir sua altura. Ninguém havia conseguido chegar até o topo. A maioria descia derrotada quando as forças se esgotavam, mas alguns não podiam se conformar e pulavam da janela mais próxima em direção à morte.

E ali fui desviado de meu propósito.

Eu tinha uma missão, levava uma mensagem urgente para a Rainha do Norte. O Bispo confiava no sucesso da minha empreitada, dizia que em minhas mãos estava o destino da guerra, mas ele não contava com a maldita torre.

Passei por ela e logo fiquei hipnotizado. Sabia das histórias, mas julgava-me mais esperto do que os outros. Parei. Levantei os olhos, tentando enxergar seu fim, mas o sol refletido nas suas paredes nublou minha visão e não consegui.

Meu cavalo relinchava inquieto, queria, a todo custo, continuar o caminho. Segurei firme as rédeas e acariciei seu pescoço.

— Calma, companheiro! Vou só explorar a torre.

Apeei e amarrei o animal a um sicômoro. Precisava ver de perto o interior da torre.

“E se eu tentasse subir?”

“Mas para quê?”

“Eu seria o primeiro a chegar ao topo!”

“Não posso! Minha missão é muito importante, meu reino conta comigo!”

“Mas…”

A pedra fria me chamava.

O sol me abrasava. Gotas de suor escorriam pelo meu rosto. O cansaço da longa jornada me impelia a chegar cada vez mais perto. Lá dentro parecia tão escuro e fresco.

Minhas pernas moviam-se independentes da minha vontade.

Entrei.

O ar gelado revigorou minhas forças e a meia-luz acalmou meus sentidos. Os degraus eram baixos e largos. Confortáveis. Imploravam para que eu começasse a subir. Então, segurando meu embornal com uma mão, como a proteger a mensagem que estava dentro, e com a outra, acariciando a parede de pedra fria, dei os primeiros passos.

Poderia voltar quando quisesse.

Uma sensação de paz e bem-estar foi tomando conta de mim a cada degrau. Cada passo me levando a outro, e a outro, e a outro. Não sei quanto tempo se passou quando tive a curiosidade de olhar por uma das janelas. Meu cavalo era um pônei e a árvore um arbusto.

Continuei.

Na quietude quase sagrada da torre, pensei sobre a guerra. O anseio e a urgência de vencer o inimigo a qualquer custo. Mas qual era mesmo o motivo? Já não me lembrava. Durava tanto tempo que ninguém mais sabia pelo que lutava.

Cogitei ler a mensagem que me fora confiada, talvez entendesse algumas coisas. Talvez me lembrasse. Mas não poderia romper o selo. Precisava entregar a mensagem intacta.

Perdi completamente a noção do tempo. Passei a observar a vista das janelas. Podia ver os dois reinos, o do Norte e o do Sul. Mas eram como miragens. Tão perto, e mesmo assim, tão longe. Iguais, mas tão diferentes.

Podia ver o campo de batalha a cada três janelas, e assistia aos avanços e recuos, como em um jogo de tabuleiro.

O sol se punha e o ambiente da torre mudava. A lua infiltrada pelas janelas estreitas aumentava a obsessão de continuar, apesar de tudo. A escuridão claustrofóbica e sufocante me empurrava até o próximo jorro de luar, cintilante e prateado.

Lá fora avistei algo inusitado.

Um esquadrão inteiro de soldados posicionados para a batalha. Seus uniformes pretos, perceptíveis apenas pela luz da lua, quando nuvens a cobriam, os soldados se tornavam invisíveis.

Continuei subindo, mas a cada volta completa, observava seus movimentos, ou a falta deles. Ficaram a noite toda parados à espera de uma ordem que nunca veio, ou que o adversário se apresentasse.

Antes que o sol raiasse, bateram em retirada.

Assim que o sol nasceu, o esquadrão de soldados adversários entrou em campo, o uniforme branco reluzente.

Observei cada janela, mas não havia nenhuma outra movimentação, em nenhum dos reinos.

O dia foi declinando sem mudanças. E, ao pôr do sol, eles também se retiraram sem nenhum avanço. Como em um jogo não jogado por erro cronológico entre os adversários.

A vida é assim, às vezes. Lugar certo, hora errada. Ninguém perde e ninguém ganha. Ninguém avança e ninguém recua.

Talvez minha mensagem tivesse a ver com o desencontro. Talvez eu fosse o culpado. Quando uma peça falha, todas sofrem.

Quanto mais subia, mais distante tudo ficava.

Apenas pontinhos no meio do nada.

Olhando de cima, tudo ganhava uma nova perspectiva. Afinal, quem era o Bispo, a Rainha, o Rei? Ninguém! Apenas peças nas mãos do destino.

O Bispo pomposo, autoritário, se achando deus na terra. Movimentando os fiéis como fantoches. Tramando artimanhas e golpes fatais. Tentando dar xeque com a suposta aprovação do céu. Mas quem era ele, de verdade?

Apenas um velho pretensioso. Egoísta. Aliado do diabo. Podia ver claramente agora. A mensagem em meu embornal ardia.

E quem eu era? Ou de que servia a minha mensagem?

Eu era um mensageiro. Apenas um peão. Descartável, porém necessário.

Não mais.

Joguei meu embornal pela próxima janela.

Quem era a Rainha? Nobre Dama. Forte e corajosa, daria sua vida para salvar o Rei, mesmo que não o pudesse amar nem respeitar.

Quem poderia? Ele que deveria dar a vida por ela.

Homem tolo e arrogante. O maior dos covardes. Escondendo-se atrás de todos, sem remorso do sangue derramado em seu nome. Aceitando a proteção sem lutar, sem merecer, sem reconhecer que é a peça mais inútil do jogo.

E por que todos continuavam jogando? Por que se prestavam a isso?

Porque não tinham a visão de cima. Da torre.

Quanto mais entendia, mais queria entender. Quanto mais alto subia, mais alto queria subir.

Não pensava em mais nada, só queria chegar ao final do caminho, ao topo da torre.

Meus passos seguiam firmes e constantes. Não sentia fome, nem sede, cansaço nem dor.

A vista mudava constantemente, tinha um vislumbre diferente a cada janela. Como mundos distintos. Norte, Sul, Leste e Oeste. Matas escuras, desertos áridos, montanhas nevadas, oceanos azuis. O mundo todo. Cada pedaço em uma janela.

Como seria avistar tudo de uma só vez? Ter a percepção completa das coisas. Do todo. De mim.

Que eu era peão, já sabia. Que era mensageiro, também, mesmo que fosse um mensageiro terrível. Facilmente desviado de minha missão. Sem senso de dever e de honra. Atraído pela promessa de glória pessoal, mais do que pela vitória do meu reino.

Meu reino.

Procurei-o, mas não achei. Havia desaparecido lá embaixo. Era irrelevante agora.

Lembrei-me de meu cavalo. O único companheiro que tive. O único que não tinha outra intenção além de sobreviver, ter o que comer, onde dormir. Leal e fiel. E eu o abandonei. Amarrado a uma árvore. Sem escape. Morto de sede e fome a essa altura. Pobre animal.

A compaixão então me alcançou. Tarde demais para reparações. De qualquer tipo.

Via-me nu. Sem máscaras. Dolorosamente convencido de minha pequenez e inutilidade. Quanto mais perto chegava do topo, menor me sentia. Como se rompendo as nuvens, eu pudesse voltar a ser pó.

Depois de uma eternidade, vi uma luz difusa vinda de cima, continuei subindo até chegar a um portal, sem porta. Atravessei e saí em uma varanda.

Era o topo da torre.

Eu consegui!

Era mais que um mensageiro, mais que um peão. Era único!

Foi então que olhei ao redor e percebi o meu erro. Eu não era o primeiro. Muito menos o único. Vários esqueletos amontoavam-se ao meu redor.

Ali era o fim de tudo. Muitos chegavam, mas ninguém retornava. Não existia essa possibilidade.

Cheguei à borda do muro e a vista fez tudo valer a pena. Enfim tive a compreensão. A visão completa. Meus olhos se abriram e conheci a minha própria estrutura, lembrei que era apenas pó.

Um vento soprou forte, espalhando-me gentilmente por todo o mundo. Agora não era só mais um esqueleto no topo da torre, mas sim parte integrante do todo.

Foi naquela torre que tudo começou, mas também onde tudo terminou.

Sobre Fabio Baptista

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22 comentários em “A Torre (Priscila Pereira)

  1. Bia Machado
    16 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Oi, Priscilla! Aqui estou comentando agora todos os contos do ano que ainda não comentei. Aliás, comecei lá na 1a Rodada, mas estava muito curiosa para ler o seu, pelos comentários do pessoal, a questão da caverna de Platão e, olha, tem realmente a ver. No primeiro ano de Pedagogia, na disciplina de Filosofia da Educação, tivemos que ler e debater esse mito. E o seu conto se encaixa muito, muito mesmo. Se ainda não foi ver do que se trata, vá. Veja um canal bom no YouTube que comente, mas se for ler o texto original, ele é curto também. Sobre a Torre, só digo que amei seu texto, imaginei cada cena narrada, como um filme, li de uma vez só, nem cogitei parar enquanto não terminasse a leitura. Que você continue escrevendo assim, sempre mais e melhor, sabe que sou fã dos seus textos, se de algum deles não curti, nem me lembro mais. 😌 Parabéns!

  2. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Vera!

    Este, talvez, seja o conto mais difícil de comentar de todo o desafio. Há mais nele do que uma primeira leitura revela, e espera-se do leitor uma compreensão um pouco mais ampla, encontrando significados não tão óbvios para as desventuras do mensageiro que opta por abandonar seu intento e escalar os degraus da torre.

    Técnica – O texto é muito bem elaborado. Trata-se de um texto relativamente curto, e seus parágrafos espelham essa proposta nos dando informações rápidas e ágeis. O vocabulário escolhido não é simples e, mesmo dentro da estrutura pequena e possível encontrar frases bastante bonitas, tal como “a escuridão claustrofóbica e sufocante me empurrava até o próximo jorro de luar, cintilante e prateado”. A forma do texto foi muito bem escolhida para o que se propôs a contar.

    Enredo – A história do mensageiro que decide abandonar sua missão e subir a torre, algo fantástica, me parece que caminha paralelamente a um jogo de xadrez e, ao mesmo tempo, ao próprio sentido da vida. E, tendo essa perspectiva em mente, é interessante notar o quanto o mensageiro busca por libertar-se de algo que o prende ao “tabuleiro”, questionando as posições e “peças” do jogo, traduzida no texto pela escalada dos degraus. Quanto mais sobe, maior a sua compreensão e sua visão sobre os fatos da vida, incluindo a própria guerra, objeto inicial de sua missão.

    Impacto – Gosto de escrever essa parte do meu comentário dias depois de ler, para ver como o conto reverberou na minha cabeça. Se foi bom, ou ruim, se me causou dúvidas, o importante é que ele tenha gerado algum tipo de reação. A Torre me pegou de surpresa, pois num primeiro momento ele simplesmente sumiu. E aos poucos foi voltando, me fazendo questionar certos trechos. Então ele causou, sim, algum impacto.

    Conclusão – Trata-se de um bom conto, que vai numa direção diferente do que a maioria dos autores optou por trilhar, o que julgo favorável. É um conto difícil, em minha interpretação, mas que não chega a ser hermético. Subiu muito em minha preferência nesses últimos dias pela originalidade com que tratou o tema.

    É isso, boa sorte no desafio!

  3. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Excelente! Gosto do ar pensativo e fantástico, da trama que segue pelo fantástico e cria uma experiência psicológica peculiar (há terror? Há drama? Não sei dizer, mas com certeza há um pouco desses e muita filosofia). As ligações com xadrez funcionam bem e mesmo que sejam claras não ficam forçadas. Muito bom, parabéns!

  4. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Achei a história competente, não só como objeto de reflexão, mas também, e principalmente, como história mesmo. Acho, contudo, que uma polida aqui e ali para ajustar o tom seria ótimo. A força maior do texto está em algumas passagens bonitas, simples e de alguma forma também profundas.

    Senti que às vezes o texto deixa um pouco a desejar em alguns trechos que informam demais, tirando um pouco a absorção na história. Aqui, por exemplo:

    “A escuridão claustrofóbica e sufocante me empurrava até o próximo jorro de luar, cintilante e prateado.”

    Eu adoraria ter sentido a escuridão claustrofóbica ao invés de ser apenas informado dela e de sua função na narrativa de empurrar o protagonista.

    “Continuei subindo, mas a cada volta completa, observava seus movimentos, ou a falta deles. Ficaram a noite toda parados à espera de uma ordem que nunca veio, ou que o adversário se apresentasse.”

    Achei essa passagem, com as voltas representando o espaço de tempo entre os movimentos de uma partida, brilhante, sem exagero.

    Sobre as passagens bonitas, simples e profundas que eu gostei, destaco duas: “A vida é assim, às vezes. Lugar certo, hora errada. Ninguém perde e ninguém ganha. Ninguém avança e ninguém recua. Talvez minha mensagem tivesse a ver com o desencontro. Talvez eu fosse o culpado. Quando uma peça falha, todas sofrem.”

    E, finalmente, sobre o final, acho que é um dos pontos fortes do texto. Tanto a revelação de que outros alcançaram o topo mas nunca desceram, quanto o que acontece com o protagonista são decisões muito boas e me pegaram de surpresa. Essa passagem é linda: “Um vento soprou forte, espalhando-me gentilmente por todo o mundo. Agora não era só mais um esqueleto no topo da torre, mas sim parte integrante do todo.”

    Mas o final também é um pouco o ponto fraco, porque se estende desnecessariamente e quebra a poética com uma frase um pouco batida: “Foi naquela torre que tudo começou, mas também onde tudo terminou.” Eu acho que a solução aqui é simples. Retirar a última frase. E sim, eu entendo que a ideia aqui é retomar a fase de abertura… Mas aí acho que seria melhor confiar um pouco mais no leitor e remover o “foi naquela torre em que tudo começou”, deixando só o fechamento.

    Enfim, um conto muito interessante, às vezes brilhante, mas às vezes um pouco abaixo de si mesmo.

  5. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Um mensageiro é desviado de sua missão por uma misteriosa torre. À medida que sobe, vai enxergando o mundo com mais clareza, até que tudo perde o sentido. Quando ele chega ao topo da torre, percebe que é impossível voltar. Transcende e se integra ao todo. Final belíssimo.

    O xadrez está muito bem explorado, na torre, na rainha, no rei, no bispo, peão e cavalo, tadinho. Mais um cavalo que morre neste desafio, sem contar no desafio anterior. Ah, e também na batalha, que o protagonista observa da janela, o exército que se reúne, mas não ataca, esperando por uma ordem que nunca chega. Achei esta parte especialmente interessante porque, imediatamente, pensei que fosse ele o mensageiro que estavam esperando. Em seguida, o personagem tem este mesmo pensamento, mas não dá grande importância. As coisas já estão perdendo sentido.

    O momento em que o personagem entra na torre também é muito interessante. É quase como se ele entrasse na torre só para ter um breve alívio do calor e do sol abrasador. Ele diz que pode voltar a qualquer momento. Mas, de repente, ele é tragado pelo mistério e só pode avançar. Muito bom.

    Gostei ou não gostei

    Gostei muito. Um conto com forte pegada filosófica e que não cai no didatismo chato. O enredo é simples, mas entrega tudo. Um personagem comum, com um pequeno papel a representar no mundo, e que vai crescendo ao longo da história à medida que se desvia de seu caminho e do que se espera dele.

    Pitacos não solicitados

     Sem pitacos. Este conto está redondinho. Começa bem, termina bem, não se estende, não acaba antes da hora. O autor sabia o que queria dizer, disse bem e pronto. Parabéns!

  6. Pedro Paulo
    11 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Adorei a maneira como o xadrez é trabalhado pela abordagem no gênero de fantasia. A Torre metafísica de eterna espiral, as janelas que permitem uma ampliação do panorama do peão, que visualiza o combate do preto e do branco pela sua falta de sentido. Não é um enredo impactante, mas a narração compensa por equilibrar entre o mistério e o esclarecimento do protagonista. O verdadeiro enredo é a transcendência do narrador, liberto da ganância e da falta de autonomia conforme sobe a torre e percebe o todo. Todo que finalmente alcança no fim.

  7. Fabio D'Oliveira
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    É o meu conto favorito até o momento. E acho que tem grandes chances de permanecer assim até o final das leituras. Ele tem todas as características que admiro num texto literário. Uma linguagem simples e acessível, mas poética. Uma narrativa natural, que cativa o leitor de forma orgânica, sem forçar emoções através de técnicas baratas. Uma trama que inspira a reflexão e que ousa.

    Sensacional!

    Não tenho muito o que falar. Tenho apenas elogios, mesmo. É até difícil definir qual é minha parte favorita, mas talvez seja o final. A caminhada até o topo pode ser mais interessante para muitos. A caminhada é a vida. Degrau por degrau. Cada passo, um momento. A torre é simbólica. Pode ter vários significados. Tudo o que sabemos é que ela é um desvio. Mas desvio do quê? Da vida mundana? De nossos destinos? No topo, o paraíso, a morte, o tudo.

    Realmente gostei desse conto. Belo, criativo, ousado. Parabéns!

  8. Mariana
    1 de dezembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Olá, estou lendo a série A e fazendo comentários menores, mas sinceros.

    É um conto interessante e com uma escrita fluída, uma releitura da Caverna de Platão com uma pegada existencialista. Não tem muito o que dizer sobre a história, é a cena da libertação intelectual de um indivíduo e tudo o que ela acarreta. Não sei, ultimamente eu não queria sair da Matrix, só comer um monte de bifes suculentos.

  9. claudiaangst
    26 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Soube que este conto está sendo considerado uma ode ao existencialismo. Procede?

    Sem dúvida, o texto aborda o tema proposto pelo desafio. Há várias referências às peças do xadrez, desde o título até o mais singelo personagem/figurante. Tudo muito bem alinhavado à trama elaborada com maestria.

    Os parágrafos curtos me agradam porque trazem leveza e agilidade à leitura. Este não é um conto longo, o que já contribui para uma melhor compreensão e boa vontade por parte do(a) leitor(a).

    Não encontrei falhas de revisão. Linguagem simples, precisa, sem rebuscamentos desnecessários.

    Existencialista ou não, este conto leva a reflexões sobre os propósitos da vida. O que somos capazes de suportar para alcançar nossos objetivos? O fim justifica o meio? Ou a trajetória rumo ao alto (topo da torre) é o que importa? Depois de tanta luta, sacrifício e desapego, existe alguma recompensa? “Foi naquela torre que tudo começou, mas também onde tudo terminou.”

    Parabéns pela sua participação nesta última rodada. Poderia te desejar boa sorte, mas com este conto, acho que nem vai precisar … Suba ao pódio!

  10. Sarah S Nascimento
    25 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Primeiros pensamentos ou associações que fiz ao iniciar o conto: torre de Babel, depois pensei na torre sendo uma versão daquele Cassino Lotus do livro do Rick Riordan, onde os heróis semi deuses tinham missões importantes, daí entravam no hotel que na atualidade era um cassino e o tempo passava diferente lá dentro.
    Ou eles perdiam dias valiosos, ou ficavam presos pra sempre lá, risos. Estou divagando, perdão, continuarei ali lendo!
    Caramba, eu não enxergo, tenho deficiência visual total né, só vejo um pouquinho de claridade e tals, mas essa cena citando o luar infiltrando pelas janelas, consigo imaginar isso direitinho. Caramba, eu adorei essa parte: “O sol se punha e o ambiente da torre mudava. A lua infiltrada pelas janelas estreitas aumentava a obsessão de continuar, apesar de tudo. A escuridão claustrofóbica e sufocante me empurrava até o próximo jorro de luar, cintilante e prateado.”. Isso ficou tão bonito.
    Terminei o conto agora. Olha, essa torre me deixou angustiada viu! risos.
    Porém eu amei toda a passagem de tempo, as reflexões sobre a guerra atual no reino do mensageiro; depois ele vendo outros mundos, pensando sobre a própria existência e a dos outros. Confesso que ri quando ele chegou no topo e viu os esqueletos, que coisa mais sádica da minha parte né? risos, mas não vou mentir, rs.
    Achei interessante foi o final dele ser diferente dos outros. Creio que ver e aceitar o todo que ele viu lá do alto fez ele se transformar em pó sabe? Ele não encarou negativamente, ele aceitou a magnitude da visão que teve no topo da torre, por isso a “morte” dele foi em paz.
    Achei um conto muito bom, simbólico, inteligente, eu me arriscaria dizer que tem um toque de melancolia até, achei muito interessante.
    Outro ponto que esqueci de falar, as janelas por onde ele ia vendo tudo né, elas me remeteram aos próprios quadradinhos do tabuleiro de xadrez. Não sei se foi intencional isso, mas achei um detalhe muito bom. Era como ver partes do todo. Janelas pra outros mundos iguais aos dele.
    E pobre do cavalinho dele hein? Espero que alguém tenha passado e pego o bichinho, risos.Ótimo conto!

  11. toniluismc
    20 de novembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Vera!

    Não sei se você é uma das novas vozes do EC ou só não teve tempo de trabalhar nesse texto, mas o fato é que há aqui um enorme potencial narrativo que infelizmente não foi adequadamente explorado. De todo modo, dou-lhe os parabéns por trazer uma experiência prazerosa de leitura. Seguem as minhas observações:

    1. Técnica

    Pontos fortes

    • Coesão estrutural: O conto segue um fio narrativo claro: o mensageiro que se desvia de sua missão e ascende pela torre até a revelação final. A estrutura funciona e leva o leitor adiante.
    • Atmosfera bem construída: A torre é quase um personagem, e há um uso eficiente de repetições, luz e sombra, calor e frio.
    • Vocabulário rico: A utilização ocasional de palavras mais elaboradas sugere ambição estilística e uma busca por tonalidade poética.

    Pontos negativos / Oportunidades de melhoria

    • Descompasso entre estilo e execução: Frases curtas e estrutura simples colidem com momentos de linguagem mais rebuscada. O resultado é um estilo híbrido que não se consolida nem como prosa poética nem como narrativa direta.
      → O texto parece “oscilar” entre épico e juvenil, e essa indecisão enfraquece o tom.
    • Excesso de explicações: Muitas passagens são ditas, não mostradas. Principalmente os momentos de reflexão filosófica do narrador. Isso gera certo didatismo e reduz o mistério que a torre poderia carregar.
    • Ritmo desigual: A ascensão é longa e repetitiva, com descrições circulares da paisagem vista pelas janelas. Isso dilui a tensão, tornando algumas seções cansativas.
      → O conto poderia ser mais enxuto, preservando o impacto.
    • Simbolismo óbvio demais: As peças do xadrez aparecem como arquétipos muito literais — a Rainha forte, o Rei inútil, o Bispo manipulador, o Peão descartável. Não há metáfora sutil; é uma transposição direta do tabuleiro para a narrativa.
      → Isso empobrece o subtexto, pois revela as intenções cedo demais e sem complexidade.
    • Final previsível: O destino do protagonista na torre — descobrindo que “não era o primeiro” e “virando pó” — ecoa temas clássicos de hybris e iluminação mística. No entanto, como há pistas constantes ao longo do conto, o clímax chega sem surpresa real.

    2. Criatividade

    Pontos fortes

    • Ideia central interessante: Transformar uma torre enigmática em metáfora da ascensão, perspectiva e desumanização das peças do xadrez é uma sacada criativa.
    • Ambiguidade entre realidade e alegoria: Há momentos em que não sabemos se estamos em um mundo físico ou simbólico — isso é bom.

    Pontos negativos

    • Xadrez pouco integrado à narrativa de forma orgânica: O uso do xadrez é alegórico, mas não plenamente dramático. É como se as peças fossem etiquetadas com características humanas sem que o conto realmente explorasse a dinâmica real do jogo.
      → O texto “fala de xadrez”, mas não “funciona como xadrez”.
    • A torre como metáfora genérica: A torre aqui é um símbolo “universal” de ascensão espiritual, sabedoria, isolamento, orgulho… mas nada no texto a torna particular.
      → A torre não tem personalidade, história, regras próprias — apenas cumpre um papel narrativo esperado.
    • Transformação do protagonista pouco original: Mensageiro → tenta resistir → sucumbe → revela-se pequeno → dissolve-se no todo.
      → Uma jornada arquetípica que poderia ganhar força com mais reviravoltas ou conflitos internos mais profundos.

    3. Impacto

    Pontos fortes

    • Algumas imagens são realmente marcantes:
      • O cavalo visto como pônei.
      • Os exércitos imobilizados pelo erro cronológico.
      • Os soldados pretos invisíveis quando a lua se esconde.
        → Esses momentos brilham.
    • A sensação de inevitabilidade: O leitor sente que a torre “devora” quem entra. O clima de fatalismo funciona.

    Pontos negativos

    • A repetição reduz o impacto emocional: Muitos parágrafos expressam variações do mesmo sentimento: cansaço, atração, transcendência, reflexão moral… e isso amortiza o clímax.
    • A mensagem moral é entregada de forma muito explícita: O conto não confia no leitor para interpretar.
      → Fala diretamente sobre vaidade do Bispo, covardia do Rei, função das peças, papel do mensageiro, inutilidade da guerra…
      Isso tira profundidade, porque fecha interpretações.
    • O final não choca, não surpreende, nem emociona profundamente: Ele é coerente, mas não catártico. A dissolução em pó é bela, porém esperada. Faltou um golpe final — algo que ressignificasse retroativamente a jornada.

    Por hoje, é isso! Espero poder apreciar um novo texto seu em breve…boa sorte no desafio!

  12. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Ótima narrativa, frases curtas e texto enxuto. Reflexões filosóficas sobre o sentido da vida, aludindo as peças do xadrez. Parabéns! Foi o conto que mais gostei no desafio.

  13. Suzy D. Belchior Pianucci
    16 de novembro de 2025
    Avatar de Suzy D. Belchior Pianucci

    A descrição inicial da torre prendeu minha atenção, desejei entrar na torre imensa de parede fria, mas acolhedora com sua quietude. O protagonista deixa a missão por desejo de explorar, gostei da analogia com a vida, as vezes é preciso mudar a rota, parar e seguir por outros caminhos, as vezes até abandonar algumas pessoas para alcançar objetivos, senti pena do cavalo que ficou preso e morreu pelo desfecho da história. Ele enfrentou sozinho a escuridão claustrofóbica da torre, quem nunca? Mas sem escuridão não vemos o céu estrelado! Seu olhar atento ele viu os inimigos, e percebeu que sua mensagem fazia parte de um jogo por poder e enquanto muitos morriam o “inútil do rei” estava protegido sem lutar. A vida é curta para brigar por poder desnecessário, por lutas que não são nossas. Muitos subiram tão alto e sucumbiram pela exaustão depois que o tempo se esgotou. Do alto da torre imensa chamada vida é possível avistar a finitude da vida. Então não vale a pena deixar quem nos é fiel para lutar uma luta cega. O final pode ser interpretado de duas formas: ele se arrepende e morre fisicamente ou ele morre por uma ideologia que não era dele e sim de autoridades como o rei, da rainha e do bispo. Sim, a cada janela uma nova perspectiva, um olhar diferente. O mensageiro cresceu ao olhar por outras perspectiva. Achei o conto poético e muito bom de ler. Parabéns!

  14. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    Gostei bastante do conto — tem atmosfera, ritmo e um tom de fábula existencial que prende. A metáfora do xadrez é sutil, mas presente em toda a estrutura: o mensageiro-peão, o bispo, a rainha, o rei, o jogo da guerra e do destino. A narrativa é fluida, com um equilíbrio entre simplicidade e profundidade. A reflexão sobre o sentido da obediência e da ambição é muito boa, e o final, poético e inevitável, fecha de forma redonda.

    Por outro lado, o texto poderia ser ligeiramente mais enxuto — há trechos que repetem ideias já bem estabelecidas. Pequenas redundâncias tiram um pouco da força simbólica. Não encontrei erros gramaticais relevantes; a linguagem é clara e bem cuidada.

    O conto me causou melancolia e contemplação — é daqueles textos que deixam o leitor em silêncio no fim.

  15. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Seu conto ficou excelente, parabéns! Percebi alusões a torre do tarot, a Torre de Babel e a série Torre Negra de Stephen King. Sua narrativa está muito bem escrita e estruturada. Me lembra contos de fadas ou as mil e uma noites. A alusão as peças do xadrez foi muito bem feita. Achei muito instrutivo como você fez toda a ação da história girar ao redor do personagem principal. Também gostei bastante da mistura entre ação e reflexão. Agradeço por você compartilhar um pouco do seu universo literário comigo. Quero ler outros contos seus nos próximos desafios.

  16. Antonio Stegues Batista
    10 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    A história de um soldado que tem a missão de levar uma carta à rainha, mas no caminho ele resolve subir em uma torre misteriosa, que ninguém sabe quem a construiu ou qual a utilidade. Pelo que ele sabe, nunca ninguém conseguiu atingir o topo, mas quando ele consegue subir, encontra esqueletos lá em cima.  Isso parece uma redundância, mas o autor diz que o soldado acreditava que ninguém tinha subido porque ninguém de lá voltou para contar que subiu. Acho que deveria suprimir a parte que ele diz que ninguém subiu, né. Pra não fazer confusão. O enredo é bom, mas precisa ser melhor explorado, inclusive em uma história mais extensa.

  17. leila patricia de sousa rodrigues
    10 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    Terminei a leitura de A Torre.

    O conto tem uma atmosfera poderosa e bem construída. A torre funciona como símbolo de poder e perdição, e a voz do narrador conduz com firmeza esse percurso entre fascínio e ruína. Há boas imagens — o cavalo abandonado, o vento final — que dão peso e humanidade à fábula.

    Em alguns trechos, o texto fica meio didático, explicando o que o leitor já sente. A reflexão sobre reis, bispos e guerras poderia ser mais contida; a força está nas partes em que a pausa e o espanto falam sozinhos.

    Por fim o final é bonito e coerente, fecha o ciclo com um tom de revelação melancólica. É um conto sólido, simbólico e bem amarrado.

  18. Leandro Vasconcelos
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Legal este conto. No início, achei que seria algo fantástico, no estilo aventura medieval. Depois, percebi um teor mais introspectivo, quase como um terror psicológico. Mas, no fim, percebe-se que o enredo e o tema do concurso funcionam como alegorias para uma indagação filosófica e existencial: a ruína do ego frente ao Eterno. Os homens se esforçam para chegar ao topo de suas torres de marfim, e quando o fazem, descobrem que toda a glória deste mundo é vã e passageira. Uma mensagem cheia de sabedoria, transmitida de forma simples e direta. Muito bom!

  19. marco.saraiva
    8 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Interessante como que um tema em comum faz nascer uma série de padrões que nunca imaginaria nascer. Muitos contistas nesse desafio estão se apegando ao tema da segregação social: peões tentando entender o motivo de bispos, reis e rainhas serem, de alguma forma, melhores do que eles. É assim que este conto aborda o tema, e a torre, além de peça de xadrez, aqui faz as vezes de metáfora para a sabedoria e o conhecimento. O protagonista peão “sobe a torre” como quem obtém novo entendimento. É como um mero sevente que se dedica aos estudos e, assim, torna-se alguém superior. Questiona a hierarquia da sociedade e se vê, agora, acima dela. Acima de todos. Quanto mais subia na “Torre do Conhecimento”, mais isolado via-se do mundo, e ao chegar ao topo, viu-se sozinho experimentando a dor da sabedoria. Não é a toa que o início do conto descreve a torre como “clara como marfim durante o dia”. O protagonista morre nesta Torre de Marfim, em um desfecho bonito: “Enfim tive a compreensão. A visão completa. Meus olhos se abriram e conheci a minha própria estrutura, lembrei que era apenas pó.”

    O conto é sobre o eterno dilema do conhecimento. Quanto mais se obtém, menor a pessoa se sente: “Quanto mais perto chegava do topo, menor me sentia”. Quanto mais conhecimento, maior a agonia. E o fato de ninguém conseguir retornar da torre também é justo: não se pode “des-saber” o que se descobriu.

    Um conto cheio de metáforas, narrado de uma forma que parece estar sempre trabalhando mais de um significado em cada frase. Muito interessante.

    Parabéns!

  20. Martim Butcher Cury
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    Fico pensando no final… Não consigo entender se há uma revelação de fato ou se trata-se da mera constatação daquilo que sabemos desde sempre: que somos apenas pó. Pode ser as duas coisas, inclusive. De qualquer forma, talvez a formulação do final possa ser mais bem trabalhada, e no caso desse conto isso é muito importante, pois ele é um daqueles em que o final parece decidir tudo.

  21. Roberto Fernandes Junior
    6 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto Fernandes Junior

    Belíssima metafora para jornada de auto conhecimento que mesmo que tardia, se mostra satisfatória .

    Texto bem escrito e de fácil leitura, as passagens fluem bem e nos leva a imersão.

    Parabéns ao (a) escritor(a) por nós proporcionar o prazer da leitura.

    Contudo se o último parágrafo fosse retirado do texto ele seria perfeito, evitaria qualquer exposição desnecessária, o texto é maduro e merece leitores maduros para entender a dualidade Fim/começo sem ter que explicar.

    mas ainda assim é um otimo texto.

  22. Kauana Kempner Diogo
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    A narrativa tem um tom ascendente, com uma escalada literal e simbólica e ritmo contínuo. Gostei da proposta da torre ser um símbolo para um espelho que reflete a condição humana, a própria busca por sentido, ego, poder e fé. A obra fundiu muito bem o xadrez com simbolismo religioso. A alternância entre aquilo que é concreto e abstrato foi bem trabalhado.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Contos Campeões, Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .