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Detox Literário.

A Partida — Xeque e Liberdade (Leila Patrícia)

Chovia lá fora, como se o mundo tivesse decidido parar também.
Ele alinhava as peças com a precisão de quem ordena lembranças, cada movimento carregando intenção e memória. Ela observava o cavalo — aquele salto torto, imprevisível, contornando obstáculos invisíveis. Entre eles, o tabuleiro. Entre eles, tudo o que não cabia mais em palavras.

— Brancas ou pretas? — ele perguntou, sem erguer os olhos.

Ela demorou a responder. Não por dúvida, mas pelo risco implícito em cada escolha. Pegou o rei branco com os dedos — madeira fria contrastando com a pele quente — e o colocou fora da ordem, quebrando regras antigas, anunciando que dali em diante nada seria previsível.

Ele sorriu. Não pelo gesto, mas pelo aviso silencioso: não seria o xadrez que jogariam, mas algo muito mais delicado e perigoso, uma partida de mente e memória travada nas linhas invisíveis do desejo.

O relógio do bar marcava o tempo em intervalos de respiração. Ela moveu um peão. Ele respondeu com o bispo, diagonal e certeiro, insinuando caminhos que não se podiam seguir. Cada toque da peça contra a madeira era metáfora de passado, desejo e silêncio interrompido; cada captura, um eco de palavras não ditas.

O cavalo saltou, desviando a atenção, lembrando-a de atalhos que nunca ousara tomar. A torre avançou, firme, impondo limites que ela aprendeu a driblar com paciência. Cada peça movimentada carregava memória, aviso, promessa não dita — estratégias silenciosas de liberdade.

— Ainda joga defensiva? — ele disse, devagar.
— Ainda precisa atacar para se sentir viva, — respondeu ela, sem olhar para ele.

A chuva engrossou, pesada e insistente. Um trovão atravessou a janela, e o bar oscilou entre luz e sombra. Ela moveu a dama, lenta, quase imperceptível, e o som da peça sobre a madeira cortou a tensão como um fio invisível. Ele mordeu o canto do lábio, encostou o queixo nas mãos, consciente de que o tabuleiro era campo de batalha emocional, onde cada xeque, cada diagonal e cada torre avançando contava uma história antiga.

O peão avançou à oitava fileira e transformou-se em dama de coragem que ela não ousara antes, carregando ousadia de anos de silêncio e contenção. O bispo cruzou a diagonal do tabuleiro, insinuando atalhos e desvios, lembrando-a de conversas não tidas, gestos interrompidos, promessas perdidas no tempo, como peões sacrificados por estratégias invisíveis.

Ela lembrou do cheiro de livros velhos, do café derramado em tardes chuvosas, do riso dele misturado à derrota em partidas antigas, ensaios para aquela. Cada toque da peça era memória; cada movimento, desejo; cada captura, reflexo de um xeque emocional.

— Já cansou?
— Só estou vendo até onde você aguenta perder.

O jogo prosseguiu, dança muda entre memória, desejo e orgulho. Cada peão perdido lembrava palavra não dita; cada torre avançada, gesto que não se permitiram. A rainha controlava os espaços, ora protegendo, ora ameaçando. Ela percebeu o padrão: ele conduzia tudo para o mesmo desfecho antigo — cercá-la, convencê-la de que controlava o jogo.

— Você nunca muda o roteiro, — disse ela, sussurrando quase para o vento.
— E você nunca aprende a aceitar o xeque, — respondeu ele, sem erguer o olhar.

O rei branco permaneceu intacto. Ela moveu o cavalo em “L”, desviando do ataque, lembrando que sempre há caminhos tortos para escapar do controle. Ele ajustou a torre, mas já sentia que o jogo fugia de suas mãos.

Um roque imaginário ocorreu em sua mente, paralelo ao do tabuleiro, posicionando sua liberdade longe do alcance dele. A chuva batia na janela, cadenciada, como se o tempo tivesse se dobrado à tensão do bar. Ela respirou fundo, cada músculo tenso, cada vértebra alerta: não era apenas um jogo, mas dança de corpos, lembranças e vontades não declaradas.

Ela recordou tardes passadas, sentados em silêncio, estudando o tabuleiro juntos, cavalo pulando sobre obstáculos que eles próprios criavam. Cada lance antigo ecoava nos movimentos atuais; cada peça carregava o peso da história deles.

O bispo avançou, capturando um peão que jamais deveria ter sido perdido, agora símbolo de escolha finalmente tomada. O cavalo saltou de novo, conduzindo pensamentos que se escondiam, impulsionando-a para território antes proibido.

O som seco das peças contra a madeira lembrava estalo de portas antigas fechando. Cada movimento reverberava como diálogo silencioso: convite, aviso, provocação contida. Ela percebeu que vencer não era estratégia apenas, mas coragem de ser inteira e visível.

— É o seu lance, — ele disse, tentando esconder a surpresa.
— Já fiz o meu.

Ela pegou a bolsa, olhou para fora — rua lavada de cinza, cheiro metálico da chuva misturado a folhas molhadas. Um vento frio entrou, balançando os cabelos, roçando a pele. Ela sorriu, vitória inteira e silenciosa, carregando em cada passo a liberdade que ele jamais poderia tocar.

O relógio do bar marcava segundos lentos. Ele permaneceu olhando o tabuleiro. As peças ainda em guerra, o rei intacto, a cadeira vazia. O guardanapo de papel caiu sobre ele, levado por um sopro de vento, cobrindo-o como um lençol. O silêncio falou mais alto que qualquer movimento.

Ele percebeu, tarde demais, que não se vence alguém que decide simplesmente ir embora.

A chuva continuava, indiferente. Lá fora, a noite se espalhava sem pressa. Dentro do bar, o espaço entre eles era imenso, absoluto, e dela.

Ela caminhou lentamente até a porta, sentindo o chão frio sob os pés. Cada passo era medido, carregado de memória e desejo de autonomia. O vento misturava cheiro de chuva e terra molhada. Ela fechou os olhos, respirou fundo, e percebeu que cada movimento daquela partida fora, na verdade, coreografia de liberdade.

No tabuleiro, o rei permanecia intacto. A torre, o bispo, o cavalo — peças que antes pareciam limitar, agora testemunhas da decisão dela. Ela atravessou a rua, som da chuva marcando cada passo, cada batida de coração. O bar ficou para trás, mas a partida jamais terminaria, pois cada lembrança e gesto daquelas horas estariam para sempre gravados nas peças da memória.

O céu continuava cinza, pesado, e a cidade respirava a mesma chuva que lavava ruas e paredes. Ela sentiu paz rara, silêncio absoluto pleno de significados. Havia vencido não apenas o jogo, mas a expectativa dele de dominação, a narrativa antiga repetida, o roteiro previsível.

Dentro dela, o tabuleiro continuava vivo, território conquistado, espaço de poder próprio, escolha e vontade. Cada peça em posição era lembrança; cada movimento futuro, liberdade.

Ela sorriu. O rei branco, no centro do tabuleiro, agora testemunha silenciosa de sua decisão. Desapareceu na chuva, e o bar permaneceu escuro, silencioso, cenário da história que escrevera com cada gesto, toque e respiração.

A noite continuava lenta, indiferente. Ela caminhava inteira entre sombras e luz, carregando a vitória que não precisava ser proclamada, mas pulsava no corpo, na memória do tabuleiro e na liberdade finalmente conquistada.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

22 comentários em “A Partida — Xeque e Liberdade (Leila Patrícia)

  1. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto que aborda o tema xadrez de modo metafórico, às vezes explicado repetidamente, outras vezes de modo oculto. 

    Há uma repetição da ideia de ‘memória’. Depois, de chuva e também de silêncio. O texto torna-se um pouco repetitivo. Parece que a ideia era construir algo bem metafórico, mas ficou um pouco confuso, na minha opinião.

    As personagens não estão plenamente construídas. Quem é ele e quem é ela?

    Uma sequência de adjetivações: rua lavada, cheiro metálico, folhas molhadas, vento frio, vitória inteira, entre tantas outras. Essas adjetivações excessivas tiram do leitor a possibilidade de inferência e construção. Fica tudo muito fechado e explicadinho. E torna a leitura mais arrastada e cansativa. Não digo o/autor/a deve fazer, apenas essa é a minha compreensão.

    Enfim, me perdi no enredo porque fui percebendo as fragilidades técnicas. Até porque, ao que tudo indica, a intenção era construir algo bem técnico e lírico.

    E realmente teve passagens bem poéticas.

    Parabéns!

  2. Thales Soares
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Esse conto possui uma ideia interessante, mas a execução deixou bastante a desejar. Nota-se que foi usado muita IA para produzir o texto, e isso tirou todo e qualquer brilho do autor. A IA possui alguns pequenos vícios… como por exemplo o excesso de frases com a palavra “carregado”, o jeito meio cafona de narrar sobre algumas coisas, repetição de palavras e também o espaçamento irregular entre parágrafos. Não é contra o regulamento usar IA pra escrever… mas o conto fica muito empobrecido quando há um uso excessivo como visto aqui.

    Mas falando agora sobre a história, que isso sim foi algo autêntico do autor, já que a IA não conseguiria produzir algo tão interessante… a história é sobre um homem e uma mulher que estão jogando uma partida de xadrez, e isso serve como metáfora para um relacionamento cheio de conflitos mal resolvidos. O homem é estratégico, tentando fazer dominação emocional. A mulher começa cuidadosa, mas ele percebe as intenções do parceiro e começa a agir diferente. Enquanto eles vão jogando, eles vão tendo lembranças, e o leitor vai conhecendo mais sobre eles, o que é bem legal.

    Aí quando um peão chega na última casa do tabuleiro, acontece a promoção e ele vira rainha, o que simboliza a coragem e autonomia da mulher. Ela então reconhece que a disputa não é no jogo, mas na relação deles. Aí ela abandona a partida, quando está ganhando. Ela sai do bar e rompe o controle do cara, alcançando liberdade, e deixando o homem lá sozinho com o tabuleiro.

    É um conto bacana, e a abordagem do tema foi bem interessante, usando o xadrez pra fazer um paralelo com o relacionamento desse casal. Mas, para mim, pecou na execução.

  3. Thaís Henriques
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Extremamente envolvente, prende o leitor do início ao fim!!!!!!!! Um de meus favoritos.

  4. Bia Machado
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, Helena, tudo bem? Seguem alguns comentários sobre a minha leitura do seu texto.

    Desenvolvimento (1,0/1,0): O conto desenvolve-se a partir de uma metáfora constante entre o jogo de xadrez e a relação emocional dos personagens, criando uma atmosfera introspectiva e carregada de simbolismo. A narrativa avança mais por sensações e tensões silenciosas do que por ação, o que reforça o clima de desgaste e repetição. A protagonista passa por um processo interno de tomada de consciência, culminando em sua decisão de abandonar a partida.

    Pontos fortes (1,0/1,0): A escrita é imagética e mantém coerência na metáfora central, conduzindo a um desfecho que enfatiza autonomia e ruptura. Apesar de eu não ter gostado tanto quanto gostaria disso, reconheço como um ponto forte.

    Adequação ao tema (0,5/0,5): Para mim está adequado, o xadrez usado como metáfora de um relacionamento.

    Gramática (0,3/0,5): Eu realmente só queria entender por qual motivo as vírgulas antes dos travessões, porque eu não vi necessidade disso.

    Emoção (1,5/2,0): Eu não gostei muito. Para mim, foi uma leitura complicada, metafórico demais. Provavelmente há os que tenham gostado dessas construções poéticas. Boa sorte no desafio.

  5. Sarah S Nascimento
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Sua forma de entrelaçar o jogo de xadrez, os movimentos das peças e as vivências desse casal foi genial! Uma ideia muito criativa e inteligente. Gostei especialmente dessa frase: “O som seco das peças contra a madeira lembrava estalo de portas antigas fechando.”, não sei porque isso soou tão bonito pra mim!Achei fantástico esse final, com ela indo embora, o jogo inacabado sim, mas a decisão firme em partir e deixar a pessoa que não fazia bem pra ela. Esse cenário de chuva deixa tudo mais pesado, melancólico, triste, mas ainda assim o contraste disso tudo com a felicidade e a paz que ela sente, é maravilhoso sabe? O contraste foi ótimo. Por fora o mundo sob a chuva e por dentro ela tranquila finalmente. Foi perfeito.Achei apenas que a parte mais para perto do final teve uns trechos repetidos. Cita duas ou três vezes o alívio dela, o modo como ela sente que tudo acabou e meio que as consequências disso sabe? Ainda assim foi um bom conto. A escrita é bem feita, mas me perdeu um pouco ao longo da leitura sabe? Ainda assim, adorei o final, o reconhecimento do valor dela a e a coragem de ir embora, foi muito legal de ver. Estou numa pira com nomes de personagens, queria saber os nomes dos seus! risos.

  6. danielreis1973
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    A Partida — Xeque e Liberdade (Helena Corval)

    Gostei bastante dessa metáfora sobre a separação de um casal e uma partida de xadrez. O tabuleiro funciona como campo de batalha íntimo: cada peça, movimento e toque ecoa memórias, tensões e desejos não resolvidos. Ao longo da partida, fica claro que ele tenta retomar o controle emocional que exercia sobre ela, repetindo jogadas manjadas. Ela, porém, conduz um jogo paralelo, até abandonar o relacionamento e a partida  – uma vitória silenciosa e completa.

    PONTOS POSITIVOS

    O conto faz uso habilidoso da metáfora: o xadrez não ilustra apenas a disputa entre eles, mas também caminhos, atalhos, repetições e limites 

    Ambientação:  tudo cria uma ambientação cinematográfica que sustenta o clima de tensão emocional.

    Bom ritmo interno e cadência poética, simulando o balanço próprio de uma partida e de uma conversa não dita. Há um lirismo sólido, com imagens fortes que funcionam bem (“o guardanapo caindo como lençol”, “o cavalo lembrando atalhos proibidos”).

    Construção da protagonista, que  passa de observadora cuidadosa a agente de sua própria liberdade. O final — ir embora — é coerente, simbólico e emocionalmente eficaz.

    PONTOS A MELHORAR

    Em alguns trechos, o texto fica um pouco saturado de comparações, ecos, muitas repetições da metáfora memória/jogo/desejo. 

    Na parte descritiva, faltam pequenos detalhes objetivos (gestos, diálogos mais naturais, microações físicas), em vez de metáforas simbólicas.

    O personagem masculino poderia ter mais nuances, acaba sendo quase só um apoio para a história dela.

    No mais, parabéns, está entre meus favoritos!

  7. Fabiano Dexter
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Casal joga uma partida de Xadrez em um bar e os lances são como fatos e lembranças do passado. É como se a disputa silenciosa dentro dos dois fosse transferido para o tabuleiro de Xadrez, mas sem que todas as regras precisassem ser cumpridas.

    A vitória vem quando Ela abandona o tabuleiro no meio do jogo e declara que o relacionamento/partida terminou.

    Tema

    Atende bem o tema ao trazer toda a narrativa com base no jogo.

    Construção

    Um conto que acabou ficando longo e repetitivo. Os lances e pensamentos parecem jogados no texto sem um objetivo muito maior a não ser criar um maior número de palavras a serem lidas.

    Impacto

    A ideia é boa, mas parece não muito bem executada, a meu ver. As repetições e falta de objetividade atrapalharam um pouco a minha experiência como leitor. Talvez se os lances trouxessem memórias reais, ou o conto fosse mais curto, mais objetivo, mantendo a premissa ficasse melhor.

  8. Jorge Santos
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá Helena. O seu texto pôs-me em cheque. Para mim, é um jogo quase sagrado. A simples sugestão de uma mudança do rei no início do jogo dá-me arrepios. Sacrilégio… ☺ Rapidamente me dei conta de que o que está patente não é o jogo em si, mas a analogia com um relacionamento, neste caso um relacionamento moribundo. No final, ela festeja a sua liberdade. Ou seja, o fim do relacionamento. Foi esta a leitura que fiz do jogo, digo, texto. Posso estar enganado, mas é o sentido que esperaria pela construção da narrativa aberta, sem grandes pistas. Em termos de linguagem, é correta, sem grande brilho. Achei excessiva a repetição dos pronomes. Ele, ela. Poderia ter sido encontrada outra forma.

  9. Pedro Paulo
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    A abordagem mais comum da série B foi a metafórica. Aquela mais literal em que as peças do jogo correspondem a um personagem efetivo da narrativa, ou aquela mais simbólica, como é o caso aqui, em que os estilos de jogo refletem as diferenças entre os dois personagens e cada jogada concretiza a emancipação da protagonista. Uma abordagem válida e interessante, mas que aqui perde pontos pela execução tão desconfiada de que o leitor pudesse entender a metáfora. No primeiro parágrafo é feita a primeira explicação de que nenhuma jogada e, portanto, a partida como um todo, é simplesmente uma jogada, mas significa o que foi vivido, a dúvida do que seguirá e a possibilidade de liberdade… então por que repetir? Os parágrafos seguintes narram o jogo com uma cadência de ditar uma jogada e fazer uma associação mais ou, tenho a impressão que frequentemente, menos coerente entre o movimento da peça e o “verdadeiro significado” daquilo em relação ao que os dois viveram e viviam. Isso cria um ciclo que prejudica a leitura, fazendo-a enfadonha, como se cada parágrafo fosse mais do mesmo e o desfecho não interessasse tanto, já que não se constrói expectativa. Assim sendo, faltou um investimento maior em desenvolver os personagens e diversificar o texto. Sua metáfora seria mais sutil, mas a história teria mais gravidade em relação ao leitor.

  10. Fabio Baptista
    30 de novembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Casal se encontra e disputa uma partida de xadrez que é uma metáfora para o relacionamento.

    O conto está bem escrito, cria uma atmosfera densa que transparece bem o tom da conversa se desenrolando.
    O jogo é mera alegoria para as ações da personagem, a ruptura de um relacionamento tóxico.

    Apesar de conhecer o movimento das peças, eu fiquei um pouco perdido em meio às jogadas e só fui aceitando que tudo era uma alegoria para algo nas entrelinhas, só um pano de fundo para a verdadeira história que se passava ali.

    O conto tem o mérito de “acabar na hora certa”, pois se fosse mais longo acabaria ficando monótono.

    BOM

  11. marco.saraiva
    24 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Me parece que o autor aqui resolveu abraçar com toda a força o potencial de metáfora das partidas de xadrez, e o conto se desenrola em duas vertentes que se unem em um único significado: uma mulher cansada de ser explorada ou abusada, um homem que acha que ainda tem como derrotá-la naquele jogo. Para ele, o relacionamento era jogo de poder e dominação, assim como o xadrez. Mas ela decidiu finalmente parar de jogar.

    Apesar do conto ser quase que completamente metafórico, o texto ainda assim se esforça em deixar claro para o leitor de que não é um texto literal. Frases como:

    “não seria o xadrez que jogariam, mas algo muito mais delicado e perigoso, uma partida de mente e memória travada nas linhas invisíveis do desejo.”

    “e o colocou fora da ordem, quebrando regras antigas, anunciando que dali em diante nada seria previsível.

    Este tipo de frase tira da metáfora e quase que confessa uma insegurança do autor sobre o entendimento do leitor. Como o texto abraçou a metáfora, ao meu ver, que mergulhe nela e não se explique!

    Achei interessante que, até onde entendi, a proposta do conto foi substituir o diálogo com os movimentos das peças no tabuleiro. Apesar de o conto ainda mostrar que o casal dialoga entre si, são apenas frases curtas e pontuais, que têm mais o efeito de expressar o que os personagens sentem ou pensam naquele instante do que, de fato, a troca de ideas entre eles. Todo o conflito do casal se desenrola através do xadrez, o que achei uma proposta bem interessante, e feita com bastante esmero.

    No quesito técnica, o texto foi um pouco cansativo de ler. Tudo era tão metafórico que senti que meus pés nunca encontravam o chão da narrativa. Além disso, as repetições foram muitas, o que me cansou ainda mais. A construção de “cada peça“, “palavras não ditas“, “caminhos não tomados“, etc, tornou-se enfadonha rapidamente. Coletei abaixo a maior parte destas frases para que fique mais nítido o que eu quero dizer:

    “Cada toque da peça contra a madeira era metáfora de passado, desejo e silêncio interrompido;”
    “cada captura, um eco de palavras não ditas.”
    Cada peça movimentada carregava memória, aviso, promessa não dita
    “onde cada xeque, cada diagonal e cada torre avançando contava uma história antiga.”
    “O bispo cruzou a diagonal do tabuleiro, insinuando atalhos e desvios, lembrando-a de conversas não tidas,…”
    “Cada toque da peça era memória; cada movimento, desejo;”
    “cada captura, reflexo de um xeque emocional.”
    “Cada peão perdido lembrava palavra não dita”
    “cada torre avançada, gesto que não se permitiram”
    “Cada movimento reverberava como diálogo silencioso”
    “Cada peça em posição era lembrança;”
    “cada movimento futuro, liberdade.

    Não soa um tanto repetitivo? Depois da terceira vez lendo este tipo de construção, a coisa já havia perdido o impacto, para mim.

    No geral, um conto bastante original, com uma ideia muito interessante, mas um pouco cansativo de ler.

  12. cyro eduardo fernandes
    18 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Um relacionamento em crise é descrito com metáforas de uma partida de xadrez. Conto curto, mas que demorou a acabar. Não me disse muito. Boa sorte no desafio.

  13. Gustavo Araujo
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Um conto muito bem escrito, que revela um(a) autor(a) muito experiente, com bastante intimidade com as palavras. Prosa profunda, quase introspectiva, que flerta com a poesia, prenhe, aliás, de melancolia. Ou seria o contrário? Creio que aí reside a maior qualidade do texto. Isso porque, de início, parece transparecer um jogo de sedução, em que homem e mulher travam uma batalha emocional, refletida num jogo de xadrez. À medida que as jogadas se sucedem, percebemos tratar-se de uma despedida e, do meio para o fim, que a questão é bem mais profunda: o que há é uma libertação. A mulher, pelo que se infere, consegue se livrar de um amor tóxico, ou melhor, de um relacionamento ruim, ou como se diz por aí, de um encosto. Dá para imaginar o subtexto: ela é alguém que viveu controlada, incapaz de fugir, como a propósito ocorre com muitas, muitas mulheres, de todas as classes, de todos os tipos. Mas, aqui, percebe-se, a alforria acontece e, sorte dela, o filho da mãe termina contemplando apenas o cavalo branco.

    Os reflexos da vida no jogo no tabuleiro ficaram ótimos, provando que não é necessário conhecer muito de xadrez para percebermos seus contornos: estratégia, dissimulação, controle, sacrifício, libertação. A perícia com a narração só fez aumentar essa percepção. Muito bom ler um texto bem escrito, profundo e que encanta não só pelo que está escrito, mas também pelo que está nas entrelinhas. De fato, essa expressão, “a partida”, com seu duplo significado, revela muito mais do que se vê em primeiro lugar. Parabéns e boa sorte no desafio.

  14. Mariana
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Para a avaliação ficar bem explicada, organizei os tópicos que construíram a nota

    História: 

    Há começo, meio e final (0,75)? Sim, temos a partida, o desenvolvimento da mesma e a protagonista decidindo por sua liberdade. 0,75

    Argumento (0,75): O argumento trata sobre um casal que joga xadrez em um bar, com dita dominância do personagem masculino. A mulher decide dar um basta na relação e, a partir do fim, sente-se vitoriosa e dona de si. Adequação ao tema, apesar de xadrez/batalha/relações serem analogias recorrentes. 0,5

    Construção dos personagens (0,5): Não há uma construção dos personagens, mas de sentimentos de um momento específico. Exceto o primeiro diálogo, o comportamento do marido (?) fica no subtexto 0,25

    Técnica:

    A capacidade da escrita de prender (0,75): É um texto que foca nos sentimentos e é descritivo demais, aqui cabe o “mostre, não conte”. Apesar de curto, tive dificuldade para leitura de trechos como “silêncio absoluto pleno de significados”. E não por dificuldade, esse estilo poético descritivo é algo que não é a minha praia. 0,25

    Gramática, ortografia etc (0,75): Erros de digitação, como em “Ainda precisa atacar para se sentir viva, — respondeu ela, sem olhar para ele.” deve ser um vivo ali, não? 0,5

    Impacto (1,5): Desculpa, como já disse, não é a minha praia o estilo do conto. 0,75

  15. Kelly Hatanaka
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Interessante conto, em que o relacionamento de um casal é transposto para um jogo de xadrez. No começo, somos levados a imaginar quem vai vencer a partida. O final, porém, mostra que a grande vitória foi abandonar um jogo em que o objetivo é o domínio. O tabuleiro, abandonado, está eternamente cheio de possibilidades, e a protagonista está livre.

    O conto não diz, mas dá a entender que se tratava de um relacionamento difícil, talvez abusivo. “Ele” parece prezar pelo controle e estar confiante de que vencerá a partida. Ou por se ver como um grande mestre do jogo ou por subestimar sua oponente.

    As jogadas são narradas através de paralelos com elementos do relacionamento: momentos, palavras, escolhas.

    Gostei ou não gostei

    Gostei sim. É uma boa leitura, que explora bem os paralelos com o jogo. Destaque para a cena final, em que a protagonista caminhava “entre sombras e luz”, uma referência às casas brancas e pretas.

    O texto consegue falar bastante sobre “ele” de forma indireta, pelos pensamentos dela e achei que isso ficou muito bom.

    Pitacos não solicitados

    Inicialmente, a repetição de “cada… cada” me incomodou um pouco, mas percebi que foi proposital. Acho que fez sentido e funcionou, sim.

    O texto todo traça paralelos entre movimentos no tabuleiro com momentos do relacionamento, de forma bem geral. Acho que seria interessante se fossem mais específicos. Exemplo: ele respondeu com o bispo; as acusações de traição, os ciúmes doentios. Assim, teríamos uma visão um pouco mais clara do relacionamento entre eles.

  16. Antonio Stegues Batista
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Mulher decide acabar com o relacionamento e propõe um jogo de xadrez em um bar com o parceiro. Se ela fosse casada, esse jogo seria em casa, provavelmente, com o marido, a não ser que fossem amantes, mas não há nenhuma pista sobre isso.

    O diálogo que acontece é, aparentemente, sobre o jogo e os lances, mas ela dá a entender que é sobre o relacionamento deles. Ela decide abandonar a partida e, com isso, rompe as algemas que prendem um ao outro, indo embora simplesmente sem dizer mais nada.

    Gostei da narrativa e das conexões entre as peças, os lances e os sentimentos dela. Boa ambientação e criação de personagens. É uma pena que o jogo não possa ser replicado, pois nem todos os lances foram descritos. De qualquer forma, apreciei a escrita e a narrativa poética.

  17. andersondopradosilva
    8 de novembro de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Autor, gostei do seu conto. Julguei que você criou muito bem o ambiente hostil que rodeia o casal. Presenciei um belo embate.

    Gostei das frases curtas, certeiras, dos diálogos verossimilhantes e das falas perspicazes.

    Não gostei do uso excessivo da palavra “silêncio” e suas variações. Talvez haja pronomes “ele/ela” demais, mas não sei se haveria meios de evitar isso.

    Adorei o texto ser tão curto. Contos deveriam mesmo primar pela concisão, e o seu parece investir inteiro nisso, com cada palavra, cada sentença transbordando sentido.

    Nota 4,8.

  18. claudiaangst
    6 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O título traz a ideia de término na palavra “xeque”, enquanto “liberdade” anuncia o desejo de se livrar de uma prisão (casamento?).

    Temos aqui um texto que aborda o tema xadrez como uma metáfora de um relacionamento. O casal disputa uma partida de xadrez mostrando suas facetas, seu comportamento e expectativas. Um misto de saudade dos tempos vividos e ansiedade por liberdade.

    Há uma troca de acusações, algo muito comum em términos de relacionamentos. O cenário é um bar que se torna silencioso e escuro, fundo de pano para o desfecho de uma história de amor.

    Não encontrei lapsos no processo de revisão. A linguagem empregada é clara, com um toque de prosa poética que combina muito com a narrativa construída.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  19. Amanda Gomez
    6 de novembro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Conforme eu lia seu conto, fui querendo me meter no desenvolvimento dele. Vamos lá… Não sabemos quem são essas duas pessoas, mas elas têm um relacionamento em que uma se sente numa prisão e a outra parece feliz em ter a chave dela. Pode ser amoroso, pode ter relação com o lugar, pode ser patrão e empregada… pode ser várias coisas. Isso é legal, mas eu preferiria que estivesse mais claro. Também acho que eu escolheria outro ambiente para essa partida de xadrez. Caso fossem um casal, o lugar perfeito seria a casa deles; a partida dela seria mais simbólica do que simplesmente sair do bar, porque o bar não é sua morada (isso se for sobre relacionamento amoroso).

    Acho que o conto é inteligente, mas peca muito no exagero de metáforas. O autor quis muito impressionar com as construções, mas os sentimentos dos dois ficaram um tanto superficiais. Eu não me conectei com nenhum dos dois personagens, e a partida dela não teve o impacto que eu gostaria.

    É um texto inteligente e criativo dentro da proposta do desafio. Apenas essas ressalvas. A jogadas foram interessantes.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  20. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de novembro de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom diaaa, Helena! tudo em paz?Um conto bastante introspectivo, cheio de sentimentos e significados. Aqui, a partida de Xadrez, atividade corriqueira daquele casal que mais disputava do que compartilhava, é apenas o véu metafórico por detrás do qual a verdadeira partida acontece: o momento do livramento, da libertação daquela mulher que vive presa num relacionamento onde há mais ataque que carinho, mais defesa que amor. Dessa forma, os movimentos da partida, as peças do Xadrez são usadas como recurso metafórico para retratar, pouco a pouco, os sentimentos represados que começam a dar vazão, até o momento em que “o peão se torna rainha”. E a rainha avança sem nenhum impedimento, pode mover-se para qualquer espaço.Um conto profundo sobre relacionamentos e guerras, pessoas e disputas. Você consegue contar muito nas entrelinhas, e faz isso muito bem. A técnica é apurada e o conto é muito bem escrito.Do lado negativa (sempre tem, né? ngm merece kkkkk), acho que o ritmo é, para meu gosto pessoal, o ponto mais fraco. Por ser muito instrospectivo, acaba se tornando um pouco monótono e repetitivo em alguns momentos. Os movimentos ágeis do Xadrez ajudam, mas não impedem essa sensação de lentidão que alguns trechos apresentam. Além disso, achei que o ultimo paragrafo sobrou. Ele inteirinho repete coisas que ja estavam implicitas, e nao havia necessidade de apresenta-las literalmente como conclusão. Não é um tipo de final que estraga o conto nem prejudica, de modo algum, e nem vai afetar minha nota, mas acho que nosso papel enquanto leitor/comentarista é levantar diversos aspectos do conto, entao achei valido falar.Um conto muito bem escrito, cheio de significados e entrelinhas, que peca um pouquinho no ritmo pra mim, mas que funciona e é muito bem feito. Parabens e boa sorte!

  21. Leandro Vasconcelos
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Olá! O panorama geral do texto é o de uma boa metáfora, em que o xadrez representa um relacionamento tóxico, repleto de joguinhos e artimanhas. A protagonista decide não mais aceitar esse jogo e dá o fora no companheiro abusivo. Realmente uma boa ideia. Do lado da crítica, creio que é uma narrativa um tanto repetitiva, na qual as mesmas figuras de linguagem (metáforas e símiles) reiteram-se até o final. Cada elemento do cenário e do xadrez é um símbolo de algum acontecimento da relação entre os personagens inominados, isso fica claro ao leitor; porém, depois de um certo tempo de leitura, queremos mais, e esta fome não é saciada. Em outras palavras, não há desenvolvimento do enredo. De todo modo, é um conto curto que cumpre bem a proposta do certame. Parabéns!

  22. Priscila Pereira
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Helena! Tudo bem?

    Gostei do seu conto. Um clima melancólico e chuvoso, ótimo para o fim de um relacionamento tóxico.

    Gostei das frases que você criou, minha preferida é: “Ele percebeu, tarde demais, que não se vence alguém que decide simplesmente ir embora.” Se todo mundo entendesse isso…

    A escrita está correta, poética e tem personalidade, o enredo é simples, mas bem pensado e bem executado, você optou ir por um caminho seguro, principalmente quanto ao tema, não ousou no xadrez, mas entregou um ótimo conto dentro do tema e é isso que importa.

    Parabéns pelo conto e pela participação no último desafio do ano!

    Boa sorte!

    Até mais!

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4B, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .