EntreContos

Detox Literário.

A Falta que me Faz (Bia Machado)

Ressaca

Boca de borracha de lápis gasto, pronta para apagar o dia, gosto de pó de giz riscando a garganta. Assim o homem acorda, com uma única certeza: bebeu demais. Ou talvez de menos… Está deitado no chão da cozinha, um litro de Mandarosa do lado. Quase vazio. Bebida doce, recordação amarga, uma única imagem que vem à sua mente é a de estar nu ao lado dela, na cama. A pele perfumada, os cabelos mais ainda, movimentos urgentes, línguas mais urgentes ainda, gemidos que escorregavam no silêncio feito veludo gasto, ao som de uma playlist perfeita… A musa que o inspira e o enlouquece. Os dias sem ela pareciam ter três vezes mais horas. Arrastadas. Sem sentido.

Levanta-se devagar, tropeça em um tênis surrado. Está descalço e sem camisa, apenas uma calça jeans. Olha para os lados, como quem procura sentido. Encontra uma embalagem vazia de macarrão instantâneo jogada dentro da pia, um quadro torto na parede com a imagem de Janis Joplin (sua segunda musa), e um bilhete na porta da geladeira: “Quando você se lembrar, já vai ter se esquecido dessa terceira recaída. Prometo que não haverá quarta vez. Beijos, L.” Ele ri. Sente vontade de chorar, mas é como se não houvesse mais lágrimas disponíveis. A alma parece vazia. O relógio na parede marca 4h17, embora o céu teime em dizer que já são pelo menos dez da manhã. Há quanto tempo não trocava a pilha daquilo? O barulho do trânsito vindo da Thomas Gonzaga confirma que a cidade existe, mesmo sem ele.

Seu nome é Guilherme, mas o chamam de Gui, Guiga, G, tem gente que pronuncia “Guilerme”, faltando o H, o que ele odeia e, às vezes, até “psiu”, vindo do porteiro, um senhor que parece a cópia do Monteiro Lobato, não apenas na aparência, o que ele detesta ainda mais. Tem 29 anos e mora em um estúdio de um amigo que foi morar em Berlim, vender arte abstrata para gente concreta demais. Guilherme nunca foi a Berlim. Nem ao Rio, nem a Fortaleza, nem a qualquer lugar badalado. Sua geografia é São Paulo e a cidade onde nasceu, Belo Horizonte, em um sábado do mês de outubro. Só pediu para o amigo postar fotos, se contentaria em olhar as imagens na rede social.

Ritual

A recordação mais forte da infância é o cheiro de Topaze na nuca de sua avó, Dona Helenice. O único perfume usado por ela, aliás. Uma vez inventaram de presenteá-la com outra fragrância e o líquido dentro do frasco mudou de cor a esperar por ela. A outra cena do passado com a matriarca é ela  declarando: “Quem não tem fé inventa rituais, Guiguinha.” A única pessoa a chamá-lo assim. Ele acredita nessa frase de Dona Nice até hoje, anos depois de tê-la ouvido pela última vez. Por isso, todas as quintas-feiras, ele acende um fósforo e pede desculpas ao passado. Depois o apaga com os lábios, se sentindo menos culpado.

Hoje é quinta-feira.

Ele acende o fósforo.

— Desculpa, mãe, pela ligação que eu não fiz. Desculpa, L., pelos sonhos emprestados. Desculpa, eu.

O pequeno pedaço de madeira arde em silêncio. A sala toda cheira a confissão. Tenta rotular  pela enésima vez o furacão que foi aquele tempo com ela: um total de 96 dias, contando o tempo até aquele momento. Agora é ele quem conta, mesmo fazendo mais de duas semanas que vive só de cenas de um passado denominado de perfeito. E dos retornos incompreensíveis dela. Migalhas não rotuláveis da mulher do bilhete. Linda, lânguida, leve, labiríntica. Nem precisa fechar os olhos para que ela se materialize.

Memória

Chegou em uma terça-feira, durante uma exposição de fotografias de muros grafitados em Mauá. Ela usava batom escuro e óculos sem grau e morava “bem ali, em São Caetano”. Já tinha visto Gui tocando mais de uma vez no Subsolo, não soube dizer quando tinha sido. “Nunca tire essa barba, por favor”. Depois disse que só se apaixonava por quem sabia perder ônibus com dignidade. Ele perdeu três naquele dia. Assim, ganharam uma noite inteira de algo que talvez pudesse algum dia ser definido como amor.

E bem que gostaria de definir corretamente o que tinha sido tudo aquilo. Vem de novo a lembrança daquela terceira noite, uma quinta-feira, quando fez o ritual de desculpas, pela primeira vez na frente de outra pessoa. Ela achou aquilo curioso, mas nada disse. Quando encostou a cabeça no peito dele de novo, disse que o silêncio entre dois corpos era a linguagem mais antiga do mundo. Assim, do nada. Como se não se importasse com nada daquilo. E ele ainda acredita na teoria dela sobre o silêncio.

E usava vestidos largos para disfarçar o que a incomodava. “Não me peça para abrir mão da minha pizza”. Deixava livro de tudo que era tipo pela casa e escrevia frases na pele com caneta preta. Morria de medo de agulha, por isso nem pensar em fazer uma tatuagem de verdade.

Certa noite, pediu para Guilherme escrever na clavícula dela: “A ausência me excita mais do que o toque”. Talvez por isso tenha ido embora. Para alimentar um vazio de quem não está mais lá. Quando foi embora, fez com que o homem prometesse não dizer mais o nome dela a partir daquele momento. “Fica mais fácil de desacostumar. Eu vou fazer o mesmo”, garantiu. Ele faria um esforço para cumprir a promessa, mas não sabia se conseguiria.

O amor é um poema mal recitado, a moça também dizia, e por isso valia a pena tentar de novo. Por isso o procurou de novo, de novo e de novo? Disse que precisava de uma dose do que eles faziam de melhor. Naquelas horas foram apenas G. e L., se consumindo em carícias frenéticas, animais sem conseguirem raciocinar muito, mas quem queria pensar em algo naquele momento? Ao menos para ele, cada toque foi também doloroso.

O romance durou 78 dias. Uma conta que ela fez sozinha. Gui passou a fazer isso do septuagésimo nono dia em diante, até aquela manhã de quinta.

Despertar

Decide que aquela madrugada precisa ser a última com L. Se ela voltasse uma quarta vez, não aconteceria nada. Isso mesmo. Pediria ao porteiro que dissesse a ela que ele não estava. Simples assim.

Tenta escrever para se esquecer do que ainda lembrava da noite com ela. Aquele romance para o concurso.

Abre o notebook.

Título: “A falta que me faz”.

Parágrafo um: “Ela nunca esteve.”

Vem à mente uma tarde em que L. enfiou os pés na fonte da praça e pediu que Guiga dissesse uma frase bonita para justificar a loucura. O homem, sem pensar, responde: “O amor é só sede que a gente não mata”. Depois ela gargalha e no instante seguinte chora, como quem faz uma promessa que quer muito cumprir e fica fora de si por não saber como. Não consegue pensar na história que tenta escrever desde o ano passado. A mente é só reminiscência. De coisas aleatórias, indo e vindo.

— Pare de inventar essas frases sem sentido, cara — diz em voz alta para si mesmo.

Fecha o notebook. Vai até o banheiro. Encontra um batom esquecido. Passa nos lábios. Sorri para o espelho, mas depois chora. O corpo entende a farsa, o gosto do batom não é o mesmo se não estiver nos lábios dela. Resolve se barbear. Acha melhor sair de casa um pouco.

Na Galvão Bueno ele anda rápido demais. Veste uma camisa azul, calça preta, sapatos herdados de um tio que morreu e deixou um bilhete no testamento: “use-os quando quiser parecer alguém que não é.” Ele obedece. Quer ser qualquer pessoa naquela hora, menos Guilherme de Assis Rodrigues. Entra em uma padaria. Pede café. Observa as pessoas. Um senhor lê a Folha com fúria estampada no rosto. Masoquismo? Um adolescente escreve num caderno, enquanto a torta de maçã no prato parece esperar com toda a paciência. Guilherme paga e sai. Caminha até uma praça que já foi bonita. Senta-se. Pensa na avó, em L., até no fósforo queimado aquela manhã. E no cachorro que teve aos nove anos e que fugiu após ouvir um trovão.

“Cachorros não gostam de ruído repentino”, dizia sua mãe. “Nem pessoas como eu”, pensava ele.

Olha para um espaço no braço esquerdo entre outras três tatuagens e resolve fazer uma tatuagem.

— Já tem uma ideia da arte? — pergunta o tatuador, velho conhecido.

Ele quase pede para fazer um L em escrita gótica, mas ouve outra coisa saindo de sua boca:

— Escreve aí: Quantum desidero.

— O que significa?

— O quanto sinto sua falta. É latim.

O curso de Letras, enfim, serve para alguma coisa.

Pouco antes de chegar em casa liga para L., diferente dos outros dias, quando a falta de coragem o fez enviar mensagens. Sem retorno.

Uma voz feminina que ele não reconhece atende.

— Alô?

— L.?

— Não. Faz três dias que minha amiga me deu esse celular.

— Mas… por quê?

— Ela foi para Praga. A essa hora deve ter embarcado, já.

“Ela foi para Praga”. Repete várias vezes aquela frase em sua mente, até que a voz desconhecida o tira do transe.

— Alô? É o Guilherme, não é? Ela disse que você provavelmente entraria em contato.

— Sou eu mesmo. E você é quem? — ele nem sabe mais o que está perguntando.

— Eu? Eu sou ninguém.

Ele agradece e desliga. Gosta de gente que sabe ser ninguém. Então não haverá mesmo uma quarta recaída. “Ela foi para Praga”, mais uma vez diz a si mesmo. Sente o coração mais apertado do que queria sentir. Um embrulho no estômago, não por causa do café. Faz outra ligação, uma que não fazia há semanas. Desliga e vai direto para o consultório da psicóloga, já pensando na bronca que vai levar por ter sumido. Em sua defesa agora pode argumentar que consegue sair de casa ao menos uma vez por dia, sem se desesperar por isso. A psicóloga tem a expressão de quem parece desconfiar de cada palavra proferida por ele. Não pode recriminá-la, ele mesmo desconfia na maior parte do tempo. Promete pensar nela o mínimo possível nos próximos dias, não sabe como. “Faça coisas diferentes. Se está de férias, vá para algum lugar onde nunca esteve”, ela sugere.

Praga é muito longe…

Recaída (mais uma)

Sexta-feira.

A promessa já vai por água abaixo ao limpar a casa. Encontra cartas nunca enviadas. Uma é para L., outra para Deus. A terceira para si mesmo, escrita em letras tortas: “Se um dia eu me esquecer de quem fui, espero que alguém me lembre com afeto e café forte.”

Guarda a carta escrita para ela no bolso de trás da bermuda, pois assim o papel teria seu fim na máquina de lavar. O melhor, não seria culpa dele. Qualquer um pode se esquecer dessas coisas guardadas.

Vai à conveniência. Compra pão, lasanha pronta, outra garrafa de Mandarosa e uma revista sobre astrologia. A atendente pergunta seu signo. Ele hesita antes de responder.

— Acho que sou escorpião. Ou alguma coisa querendo vingança.

A atendente sorri. Entrega o troco, dizendo: 

— A gente nunca é só um signo, tem outros no mapa astral. E você não está me parecendo vingativo. Deve ter peixes em Vênus, aposto.

Peixes era o signo de L., o solar e o ascendente. O que lê na revista dá a certeza: Peixes e Escorpião, nunca daria certo.

Viagem

Vai para Santos no sábado. Sozinho. Logo ali, bem perto, mas nunca tinha ido. Leva na bagagem um livro de Hilda Hilst que L. deixou para trás e uma caixa de fósforos quase no final. Na praia, escreve na areia seu nome e o dela, lado a lado. Depois apaga, ao perceber que não usou apenas a primeira letra. Fica só o rastro. Vem à mente a mulher dizendo que todo amor que termina bem é aquele que a gente ainda consegue guardar sem raiva. Naquele momento, uma pontinha de ternura saindo do peito, só isso mesmo. Os dois não eram bons em literatura romântica de autoajuda. Guilherme se recorda de tanta coisa, inclusive da promessa feita de tentar não pensar nela. Fica ali até escurecer e vai embora sentindo culpa por pensar o dia todo em L., imagina-a em Praga, a andar pelas ruas, totalmente esquecida da existência dele.

No próximo ritual de desculpas incluirá a psicóloga.

Retorno

Volta a São Paulo quarenta e oito horas antes de terminarem as férias. Gosta do trabalho com a banda. Sexta-feira já tem ensaio e apresentação. Os músicos são bons, principalmente o cantor. O público do Subsolo é bem entusiasmado, às vezes até demais. Ele costuma tocar com a cabeça baixa e os olhos fechados.

A terapia é no dia seguinte, admite ter sido esse o motivo para chegar antes.  O porteiro entrega a Guilherme um envelope, muito grande para caber na caixa de correspondência. Dentro, apenas uma foto dele e de L., num banco de praça, sorrindo para nada. No verso, uma frase: “Você me esqueceu tão bonito que doeu menos”. Ele tem dúvidas a respeito disso. Duvidará por um bom tempo, não sabe o quanto, nem quer mais tentar medir. Só tem certeza: precisa ser sincero na frente da psicóloga.

Volta ao café e às frases, tentando fugir da autoajuda e ir mais para o caminho da poesia: “A vida é isso: brechas entre saudades.”

Começa a escrever o início do terceiro capítulo.

Título: A falta que me faz. Um romance de Guilherme de Assis.

“Ela nunca esteve, mas sempre retornou. Como febre, como perfume de alguém na rua, como música que só toca quando a gente desiste. E eu, que me achava inteiro, fui percebendo que era feito de falhas bem organizadas.”

Fecha o arquivo. O enredo ruiu. Ele não sabe como continuar e a urgência de mudar tudo bate tanto na história quanto em sua própria vida.

L. está em Praga. Quem sabe ela retome a conta no X.

Sobre Fabio Baptista

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23 comentários em “A Falta que me Faz (Bia Machado)

  1. Thiago Amaral
    2 de outubro de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Estou revisitando alguns contos do passado não tão distante e passei por aqui…

    É um conto que fica entre o romance e a alta literatura, onde mergulhamos na mente do protagonista extremamente falho. Parecido com o meu conto, mas mais real, realista, preso ao chão…. kkk

    Interessante ler os comentários e ver todas as impressões, especialmente de coisas que eu não havia pensado. Vários mencionaram, mas eu nem tinha notado em todas as frases de efeito espalhadas pelo texto. Pra mim soou até natural, eu acho, mas nenhum de grande impacto. Outros momentos mais simples chamam a atenção, e sem querer nos envolvemos com a história do protagonista.

    Por um lado me vi até querendo que ele encontrasse com L. novamente, acredito pela porção minha que se identifica por ele. Mas consegui me colocar no lugar da L o suficiente para saber que a história deveria terminar como estava, com os dois separados, e o rapaz simplesmente colocar sua saúde mental nos eixos… É por isso que, no fim das contas, assim como vários no meu próprio conto, me vi torcendo para que o romance não desse certo e apenas pensando que o Guilherme deveria tomar outro rumo, superar, apesar de que obviamente certas coisas podem levar muito tempo.

    Foi uma ótima experiência ler seu conto, Bia.

  2. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    oi, Bia! Li o conto faz um tempo já e vou comentar o que lembro que ele me fez sentir. Então, acreditei mesmo que o conto fosse de um homem, você conseguiu encarnar direitinho o protagonista. O Guilherme parece um cara muito interessante, a vibe artística meio desiludida, o cara que seria um amigo legal, mas um namorado horrível… A escrita está ótima, bem poética e exagerada como o personagem. Gostei bastante!

  3. Mauro Dillmann
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Bem escrito. Texto fluido, com leveza e humor.

    O conto tem elementos e práticas do cotidiano, com os quais me identifiquei. Poderia dizer, uma sensibilidade aguçada para aspectos singelos de uma relação.

    Será que o final foi repentino? Rsrs.. Queria continuar lendo.

    Parabéns!

  4. leandrobarreiros
    12 de setembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Um homem tendo que lidar com o término de um relacionamento.

    Acho que o maior mérito do conto está na construção dos personagens. Em meio aos acontecimentos e divagações, todos pareceram bastante reais e com personalidade própria. 

    Existem boas construções no texto, embora às vezes tenham me soado um tanto excessivas, como se o autor estivesse tentando emplacá-las um pouco demais. Minha passagem favorita, inclusive, não é de uma pegada filosófica, mas sim essa aqui: “Depois disse que só se apaixonava por quem sabia perder ônibus com dignidade. Ele perdeu três naquele dia.” Achei uma maneira brilhante de 1) começar a construir a personalidade de L, 2) criar um primeiro encontro extremamente original e 3) brilhar no famigerado “show don’t tell” sobre o amor à primeira vista.

    No mais, este camarada precisa ir dar uma ideia na menina que vendeu a revista de astrologia. 

    Aliás, essa foi uma passagem que gostei muito também “Peixes era o signo de L., o solar e o ascendente. O que lê na revista dá a certeza: Peixes e Escorpião, nunca daria certo.”

    No geral, achei o texto bem competente, embora um pouco lento demais para minha cabeça de neanderthal. 

    Para mim um sólido 7.8 de 10.

  5. toniluismc
    10 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Sr. Guilherme!

    Escrevo abaixo algumas observações sobre o seu conto.

    Pontos positivos:

    O narrador tem voz consistente e bem construída: mescla descrição sensorial, fluxo de consciência, digressões e diálogos internos de forma fluida.

    A divisão em blocos temáticos com títulos (“Ressaca”, “Ritual”, “Memória”, etc.) dá uma estrutura clara ao texto sem recorrer à divisão tradicional em capítulos, o que reforça o tom introspectivo e episódico da narrativa.

    Há um refinamento estético em várias passagens. Exemplo: “A sala toda cheira a confissão.”“Como se não houvesse mais lágrimas disponíveis.”“O amor é só sede que a gente não mata.”

    O uso do ritual do fósforo como uma metáfora recorrente é belíssimo e original. Ele serve como âncora simbólica para o personagem, ligando infância, religiosidade, trauma e culpa.

    A inclusão de referências culturais pontuais (Janis Joplin, Hilda Hilst, Praga, astrologia) contribui para a atmosfera urbana, existencial e melancólica do conto, sem parecer forçada.

    A narrativa alterna bem entre passado e presente, e até os pequenos objetos cotidianos (um tênis, um batom, uma tatuagem, uma revista) são usados para acionar memórias e motivações, o que mostra domínio de recursos criativos típicos da literatura da saudade.

    Pontos de atenção:

    Há momentos em que o texto se estende mais do que o necessário. O excesso de digressões, embora coerente com a estética proposta, pode prejudicar o ritmo geral, sobretudo na seção “Viagem”, que repete temas já explorados anteriormente.

    Certas construções são belas, mas beiram a autoajuda se o leitor não estiver sensível ao estilo poético (isso está controlado no texto, mas é um risco que o autor soube correr).

    Apesar de bem escrito, o tema da separação amorosa com resquícios poéticos e autoficcionais já é bastante explorado em antologias e revistas literárias contemporâneas. O diferencial aqui está no refinamento da execução, não tanto na originalidade do enredo.

    Parabéns pelo texto!

  6. Thaís Henriques
    9 de setembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Gostei da ideia da estória e de como a mesma foi desenvolvida. Conto muito bem escrito. Entretanto, não me prendeu.

  7. Fabiano Dexter
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Guilherme ama L que o abandonou após um intenso romance de 78 dias e mais uma recaída (álcool) de nosso protagonista.

    A partir daí temos a história passa por momentos e lembranças de Guilherme, passando pelo relacionamento que tiveram e do que ele tem feito para tentar seguir em frente.

    Tema

    Alta Literatura, mas não tão alta. Talvez por ter sido um dos últimos que li.

    Construção

    A escrita é boa e competente, mas a história um pouco bagunçada e confusa, com várias frases de efeito como se para justificar a Alta Literatura do tema. Algumas dessas frases parecem simplesmente soltas dentro do texto.

    Impacto

    A ideia de Guilherme não falar o nome de L por um acordo deles foi um ponto interessante e que se destaca positivamente no conto.

    É um texto bom, uma boa história, mas que em alguns momentos ficou um pouco forçada.

  8. Rodrigo Ortiz Vinholo
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Achei ótimo! Gosto muito do modo como o autor trabalha bem as confusões do coração e as incertezas e desencontros do amor. O conto é tecnicamente excelente, sabendo trabalhar muito bem a linguagem, mas deixo ressalvas pontuais para cantos onde o liricismo parece ser favorecido acima do conteúdo, talvez por conta do próprio personagem transbordando para a narração. Enfim, nada que desabone, o saldo final é muito positivo! Parabéns!

  9. claudiaangst
    8 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O título e a imagem transmitem, na minha opinião, uma atmosfera de melancolia boêmia.

    Ressaca e recaída parecem ser feitas uma para outra, não?

    O conto está muito bem escrito com forte carga emocional. Percebe-se o tom denso e poético na linguagem empregada. Gosto disso.

    A estrutura adotada traz a divisão do texto em pequenos capítulos com títulos. Como se o narrador quisesse ordenar a vida caótica em episódios mais compactos.

    Não percebi erros de revisão, mas também não procurei com atenção.

    Dar apenas a inicial da figura de L. mantém o mistério. Quem será L.? Ele é Guilherme, o Guiguinha, tem nome, sobrenome e vários apelidos. Talvez seja mesmo alguém que se sente destruído, fragmentado, um mosaico feito com vários pedacinhos de um homem.

    Adoro que um dos personagens (talvez o autor) não entenda nadinha sobre astrologia. Deve ter peixes em Vênus? Peixinhos nadando em um aquário chamado Vênus? O normal seria ter Vênus em Peixes (minha filha tem). No contexto da narrativa, essa confusão ficou ótima.

    Um bom conto, denso, não sei se sabrinesco, considero mais alta literatura. Difícil mergulhar nessa narrativa e voltar à superfície sem se sentir também tomada por uma ressaca braba. Afinal, a paixão embriaga muito mais do que o álcool. Deveria ser proibida, não?

    Parabéns pela participação e boa sorte na classificação do seu conto.

  10. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Excelente conto. Magistralmente escrito. Escolha inspiradíssima de palavras, metáforas, frases, enfim, de construções em geral. Dá para perceber (e de certa forma de se identificar com) a dor que Guilherme sente pela ausência de L. Qualquer pessoa que já passou por esse luto, pela desgraça que é levar um pé na bunda com classe, sabe como é difícil processá-lo. De fato, é uma perda e recuperar-se exige um longo caminho, repleto de idas e vindas, de desculpas para si mesmo diante das recaídas, diante da frustração em não conseguir se recuperar. Não se trata, é verdade, de tema novo. Renato Russo já havia falado disso em “Ainda é Cedo” e, claro, antes dele, muita gente boa. Mais recente, o filme “500 dias com ela” também explora esse filão. Seu conto, caro(a) autor(a) não fica nada a dever. As frases curtas ajudam a condensar todo vazio que Guilherme sente pela partida de L. E se isso não fosse suficiente, ainda há momentos de sutil inspiração, como o “momento do perdão” – adorei essa, tô pensando em adotar kk Enfim, um conto de gente grande, de alguém cuja técnica está um nível acima de nós mortais – e que talvez por isso não seja devidamente apreciado. Parabéns!

  11. Jorge Santos
    4 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá Guilherme. Este é um texto sobre o vazio que fica depois da relação terminada, e como um escritor lida com isso. Tentando processar esse vazio, tenta escrever sobre ele, mas a depressão afeta a sua criatividade e ele tem uma crise de inspiração. Esta foi a leitura que fiz do seu conto. Pareceu-me que o conto se adequa ao tema Alta Literatura, que se define pela aplicação de linguagem e estilos que fogem ao chamado banal. Não encontrei termos complicados, mas a repetição incessante da ideia: ele está no fundo do poço, mas não quer tentar lutar para sair dele, prefere descrever a queda e o poço num livro. Dessa forma, dá mais do que razões para que L. o tenha abandonado, e só me espanta a relação ter resistido tanto tempo.

  12. sarah
    31 de agosto de 2025
    Avatar de sarah

    Olá! Seu conto está muito bem escrito, esse amor lindo e inadequado do Guilherme da L (qual será o nome dela?), é muito interessante. A gente fica torcendo pra ela voltar, acho que o Guilherme também e mostra como é difícil superar um amor de verdade.

    A moça parece aquele tipo de pessoa divertida, maluca, feliz, intensa e irresponsável. risos. É interessante notar como a gente vê e sente mais da L do que do próprio Guilherme. Mas acho que faz sentido, afinal, ele está o tempo todo tentando superar o que eles viveram, mas não consegue. Esse final com ele todo esperançoso com a possibilidade dela fazer uma conta no x, foi demais! risos. Adorei o detalhe sobre os adjetivos de L, linda, lânguida e também adorei o fato de você citar todas as cidades que eu conheço! risos, excelente conto, muito divertido, leve e gostoso de ler

  13. Pedro Paulo
    31 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Um conto fragmentado de memórias, angústias e esperanças. O personagem não consegue suceder ao futuro, seu presente é de cristais de um passado saudoso. Essa sensação de desorientação é muito bem transmitida não só pela caracterização do protagonista, mas também pela estrutura do conto, a qual, seccionada em títulos, nos leva em momentos do presente e do passado, sempre demarcado nas reflexões do personagem que, vai, volta, não sai do lugar. Além disso, achei que o texto tem muita personalidade, pois especialmente nos diálogos se afasta de alguma linearidade, cheio de aforismos espirituosos que refletem bem a veia poética de seus personagens. Quando L. entra na fonte ou quando Guilherme diz o próprio signo, nunca é a maneira mais óbvia de se responder ou a situação mais plausível. Poderia soar deslocado em outro texto, mas não aqui. Neste, a aleatoriedade jaz normalizada e apenas colore o acinzentado da falta de propósito do personagem.

    Essa proeza de forma e conteúdo tocam a alta literatura em uma abordagem mais “grunge”, enquanto que o sabrinesco é tocado pelo romance e pela sensualidade sugerida, encaixando o conto como mais uma boa contribuição para este certame.

  14. Givago Domingues Thimoti
    25 de agosto de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    A Falta que me Faz 

    Olá, autor(a)! Espero que esteja bem no momento da leitura! Parabéns por participar do Desafio EntreContos! Sempre um prazer ler e comentar o trabalho dos colegas. Espero sinceramente que, ao final da leitura, você sinta que esse comentário tenha contribuído para você de alguma forma! Caso contrário, não leve para o pessoal ou crie ressentimentos. Escrevi com cuidado (atenção)!

    Além disso, tomando as definições sugeridas pela Moderação, eu considerei sabrinesco como aquele conto que, por mais que tenha sexo nele (embora não seja obrigatório que tenha), você mostraria tranquilamente para uma pessoa da sua família que é bem careta. Já um conto de alta literatura eu interpreto como um conto mais rebuscado, que instiga o leitor tanto nas ideias (fazendo-o pesquisar sobre algum elemento do texto)  quanto na técnica empregada (podendo ser um ou outro).

    Resumo da história

    A Falta que me Faz nos apresenta uma história de um roqueiro desiludido com sua despedida-recaída de L, enquanto ele cata os cacos depois do último reencontro com L.

    Aspectos positivos e negativos

    Aspectos positivos: algumas construções literárias inspiradas, um texto correto gramaticalmente. Citar um personagem com uma letra inicial é chique, sempre gosto.
    Aspectos negativos: para um conto sobre um roqueiro e sua amada, faltou um rock’n roll. Algo que desse uma empolgada. Além disso, fiquei um tanto incomodado com a repetição daquelas frases mais de impacto filosófico.


    Adequação ao tema:
    O conto aborda de forma clara, criativa e relevante o(s) tema(s) proposto(s)? Há relação explícita ou simbólica (mas detectável) com o tema indicado?

    Penso que está adequadinho ao tema. Poderia estar mais. 

    Embora o conto esteja bem escrito e revisado, penso que para ser a alta literatura, o teor  mais filosófico poderia ter sido um pouco melhor construído, além de ser menos repetido diversas vezes. Com mais calma para desenvolver algumas ideias presentes por trás dessas catchphrases (as quais algumas são muito boas, como “na falta de fé, faça um ritual”), acho que o conto seria um autêntico representante da Alta Literatura, capaz de despertar no leitor mais reflexão.

      
    Correção gramatical: O texto segue a norma culta da língua portuguesa? Se sim, há erros gramaticais, ortográficos ou de pontuação que prejudiquem a leitura? Se optou pelo coloquialismo ou regionalismo, deu para sentir que foi uma boa imitação? Soou forçado? 

    Conto muito bem revisto gramaticalmente. Não percebi qualquer erro gramatical sério. 

    Construção narrativa: A estrutura do conto é bem organizada (início, desenvolvimento, clímax e desfecho)? Estica demais, apertou demais? Caso tenha optado por um conto não linear, deu para entender/acompanhar a história? O estilo de escrita é adequado? A técnica chama a atenção? Há fluidez, ritmo e coesão textual?

    O conto é claro, indo de A para B com clareza e sem perder o leitor. Ponto positivo. Pessoalmente, creio que a divisão em capítulos desse conto mais jogou contra do que a favor, travando a leitura. Em um ou outro ponto, achei que nem mesmo fazia sentido dividir, já que a história parecia fluir naturalmente. 

    Outra coisa que me incomodou foram algumas construções, que não fizeram muito sentido para mim. Por exemplo:

    • “Boca de borracha de lápis gasto, pronta para apagar o dia, gosto de pó de giz riscando a garganta.” ?? 
    • “A mente é só reminiscência. De coisas aleatórias, indo e vindo”. => acho que fluiria melhor sem esse ponto, dividindo a oração em períodos…

    Por outro lado, de positivo:

    • Linda, lânguida, leve, labiríntica. = Muito bom, gostei. Inicial L. Adjetivos também em L! 

    Impacto pessoal: O conto provoca reflexão, emoção ou surpresa? Causa uma impressão duradoura ou significativa? 

    Esse conto não tocou em mim. Ele está bem escrito, com uma técnica boa e com algumas construções interessantes.

    O que faltou? Bom, acho que tiveram dois fatores principais: primeiramente, temos uma história um tanto batida, que falhou em despertar em mim simpatia pelo protagonista. O cantor desiludido que (sobre)vive daquela imagem da sua musa que a o abandonou. Sempre creio que quando partimos de um clichê, precisamos de algo a mais para diferenciar a narrativa de tantas outras similares que se replicam por aí. Claro, a busca por algo único, original e afins, pode ser a perdição do escritor/ da escritora. Mas sempre devemos ter em mente isso: o que diferenciará essa história do restante.

    Além disso, confesso que me incomodou um pouco essa tentativa de emplacar um bordão, uma frase de impacto extremamente filosófica, como se a Alta Literatura fosse cumprida a partir desse artifício. “O amor é só sede que a gente não mata”./“A ausência me excita mais do que o toque”/“Quem não tem fé inventa rituais, Guiguinha.”/ “Depois disse que só se apaixonava por quem sabia perder ônibus com dignidade.” São tantas, e eu tenho certeza que deixei algumas de fora.

    Talvez essa sensação se dê pelo fato da personagem amada pelo protagonista ter esse traço característico meio sonhador e/ou filosófico. 

    Enfim, acho que os impactos dessas frases são bastante diminuídos porque elas vêm muito escancaradas, entregues e mastigadas. Elas não são construídas, propriamente ditas. São reproduzidas, basicamente, reafirmando frases já ditas para o protagonista. Pareceu, no final, mais aqueles ditados populares. Pela pluralidade de vezes que apareceram no conto, penso que seria melhor reduzir a incidência e optar por desenvolver/demonstrar, por meio das ações das personagens. Creio que assim ficaria menos artificial.

    Parabéns pelo trabalho e boa sorte no Desafio!

  15. Kelly Hatanaka
    19 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Eu não avalio esta série, então, me permito avaliar como leitora, de forma mais livre e bem pelo meu gosto pessoal. Desculpe alguma coisa.

    Tema

    Alta literatura com pequena dose de romance.

    Considerações

    Um músico chatinho sofre porque seu romance com moça chatinha acabou por algum motivo que não fica claro. Tenho um palpite.

    Guilherme, o músico é uma pessoa atormentada. Há um arrependimento com relação a sua mãe. Mas, assim, sem maiores detalhes, sem maiores informações, ele soa como uma dessas pessoas que sofrem por vocação. Ele parece ser roqueiro. Se fosse do sertanejo, seria da sofrência.

    Quanto a L. parece ser sua alma gêmea.

    Às vezes, a falta de informação num conto fica interessante. O leitor preenche as lacunas, cria junto, dá uma satisfação. Mas, aqui, acho que são lacunas demais, informações de menos. O que é revelado não é o suficiente para gostar de G ou de L, muito menos para torcer por eles. Pelo pouco que se revela, são daqueles intelectuais que não são felizes porque a felicidade é brega, é pop. Então, cultivam uma visão cínica de mundo, cheia de ideias profundas e inacessíveis e que os permite sofrer de forma cult.

    Um conto muito bom, bem escrito, sem dúvida, mas com muita cabeça e pouco coração. Não é um defeito, em si. Só uma questão de gosto pessoal.  

  16. marco.saraiva
    19 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Olha, ler conto tão bem escrito assim é coisa que chega a inspirar. O texto é tão bonito e bem feito que dá vontade de emoldurar e pendurar na sala. Parabéns mesmo pela excelente técnica, essa voz poética, meio disfarçada de fluxo de consciência. O ritmo da leitura é fluido, natural. Uma leitura excelente.

    Aqui acompanhamos Guilherme e a sua batalha em tentar esquecer L. Batalha essa que ele perde na última sentença do conto, quando desiste de escrever o livro e pensa, mais uma vez, onde estaria a mulher que mudou a sua vida. Toda a trama é a sua luta em tentar conciliar-se com o fato de que encontrou o amor em uma mulher indomável, selvagem demais, livre demais. Uma mulher que sorri ao fazê-lo sofrer, não por ser perversa, mas por que ficar parada em um lugar só não faz parte da sua natureza. L e pássaro livre, não tem domínio sobre o que faz: ri e chora na mesma sentença, ama e abandona a mesma pessoa.

    A leitura é um mergulho na psique de Guilherme, quase um estudo de caso. Ele vai e vem entre desistência e persistência, entre abandono e esperança. Isto tudo salpicado com frases lindas como as abaixo:

    O relógio na parede marca 4h17, embora o céu teime em dizer que já são pelo menos dez da manhã. Há quanto tempo não trocava a pilha daquilo? O barulho do trânsito vindo da Thomas Gonzaga confirma que a cidade existe, mesmo sem ele.

    Quando encostou a cabeça no peito dele de novo, disse que o silêncio entre dois corpos era a linguagem mais antiga do mundo. Assim, do nada.

    Parabéns mesmo. Um dos melhores que li até agora!

  17. Anderson Prado
    18 de agosto de 2025
    Avatar de Anderson Prado

    Olá, autor.

    Gostei do seu conto.

    Um pouco piegas? Talvez. Mas você soube compensar a pieguice do amor com algumas belas e inspiradas construções e com um enredo que flerta com a metalinguagem.

    Seu protagonista soa atormentado e real, o que é bastante ajudado pela ambientação em lugares reais e cotidianos.

    Parabéns.

    Nota 4.

  18. cyro eduardo fernandes
    13 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Homem acorda ressaqueado no chão da cozinha. O músico narra seu romance com L. Ótima técnica, prende a atenção. Um tom poético, uma citação de Fernando Pessoa, um conto bem trabalhado. Final decepciona um pouco pelo impacto moderado.

  19. Mariana Carolo
    8 de agosto de 2025
    Avatar de Mariana Carolo

    História: Um texto sobre o olhar masculino e um amor deveras idealizado. Guilherme tem nome e profissão, L só uma inicial e o papel de musa que lhe foi imposto.

    Acompanhamos então Guilherme pensando na moça, que foi embora para longe e como ele lida com isso – fugir da psicóloga não é uma ideia boa, músico. Não sei, o personagem é uma red flag ambulante (L. tá certa em ir embora e cuidar da vida dela). Contudo, a história do amor perdido é universal, dá para dizer que é um tema de alta literatura… Não sei se romântico, aqui há apenas um depoimento das angústias e frustrações masculinas. Nota 1,25/2,0

    Escrita: O texto em partes, dividido em momentos narrados por fluxos de consciência, está muito bem escrito. O narrador se defende, fala de seus sentimentos como um advogado e isso é um ponto forte do escritor. Não é o mesmo caso, mas, guardada as devidas proporções, o narrador de Lolita é tão bom na sua argumentação que fez muita gente confundir aquela abominação com romance. Algumas frases resbalam em uma tentativa mais descarada de poesia “estilo bukowski”, mas nada que chegue a atrapalhar demais. Nota 1,25/2,0

    Impacto: É um texto muito bem escrito, de uma visão masculina – o que é justo, temo seu público. Admito que peguei implicância com o Guilherme, mas isso é sinal de boa construção 0,75/1

  20. Antonio Stegues Batista
    4 de agosto de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Achei o conto mediano, tem algo dos filmes de Jean-Luc Godard e a Nouvelle Vague que não segue a estética e a moral, personagens com conflitos existencias. Também de Federico Fellini e suas alegorias e fantasias. A tentativa de Guilherme em escrever um livro sem conseguir, mostra a sua personalidade claudicante. Algumas coisas ficaram obscuras, nebulosas, como o real motivo da separação do casal, o nome completo da mulher. O conto tem algumas incertezas, nem tudo é claro para o leitor. O personagem morar num apartamento do amigo que foi para o exterior, é clichê de filmes românticos franceses. O ritual, como auto punição, mostra o quanto ele se castiga por suas indecisões e atos com pouco, ou sem proveito algum. Achei engraçado o porteiro sendo parecido com Monteiro Lobato e suas sobrancelhas emendadas.

    Enfim, o conto mostra exatamente isso, a fraqueza humana e suas aparências estranhas, mas é um bom conto, bem escrito e merece uma boa nota.

  21. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    4 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura.
    Enquadrei seu conto nessa categoria porque ele fala sobre saudade. Eu não consegui me identificar com o protagonista. Você se estende nas memórias dele, mas as emoções relacionadas são pouco desenvolvidas. A grande ocorrência das memórias do protagonista, os saltos temporais e a inclusão de fragmentos do livro que ele tenta escrever pulverizados pelo texto, fragmenta a história, dificultando a leitura.

    O romance durou 78 dias. Uma conta que ela fez sozinha. Gui passou a fazer isso do septuagésimo nono dia em diante, até aquela manhã de quinta.
    Decide que aquela madrugada precisa ser a última com L. Se ela voltasse uma quarta vez, não aconteceria nada. Isso mesmo. Pediria ao porteiro que dissesse a ela que ele não estava. Simples assim..essa cena acontece no passado, por isso o verbo deveria ser decidiu.

    O curso de Letras, enfim, serve para alguma coisa.

    Essa informação parece souta na história, você não a desenvolve no conto.
    Uma voz feminina que ele não reconhece atende.
    — Alô?
    — L.?
    Se ele não reconheceu a voz, por que perguntou L? E não: quem está falando?

    Não entendi por quê L enviou uma foto de ambos para G, se ela insistia em que ele não se lembrasse mais dela.
    Mas nesmo com essas ressalvas, o conto ficou bom.

  22. Luis Guilherme Banzi Florido
    3 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto. Você escreve muito bem. Tipo, muito mesmo. Tem uma técnica impecável, e o texto tá muito bem revisado e escrito. Acho que a única coisa que me incomodou um pouco foi que em um momento ou outro há uma mudança estranha de tempo verbal. Por exemplo, quando ele conta o passado, ele usa o passado, o que faz sentido, já que a narrativa principal é no presente. Mas às vezes, você muda o tempo verbal dos eventos passados também pro presente, me deu a impressão de que por acidente, e isso acaba deixando um pouco confusa a linha do tempo nesses trechos em que isso acontece. Não acontece muito e não prejudica no geral o texto, claro, mas achei que valia mencionar. Tirando esses pequenos deslizes, tecnicamente tá muito bom.

    Quanto à narrativa, aqui acho que o conto desliza um pouco pra mim. Me parece que a história é curta demais pro espaço que utiliza, e assim a história começa a ficar meio repetitiva. Foi uma escolha acertada a divisão em capítulos curtos temáticos, com o tema bem definido já no título, mas ainda assim acho que a questão do “luto” de Guilherme pela partida da amada fica um pouco repetitivo e acaba cansando e perdendo o impacto. No final, eu já não tava mais tão envolvido e não senti tanto a conclusão de que eles não teriam mais volta. Além disso, achei que o conto é um pouco cabeça demais, os personagens só pensam e falam coisas profundas e filosóficas. Tipo, todos os personagens, até os secundários, como a avó. Isso deixa os personagens um pouco pretensiosos, e me afastou um pouco deles.

    Por outro lado, a situação vivida, bem como ia personagens, são muito reais. Eu mesmo já tive um amor assim, quando era um jovenzinho de 20 e tantos, que me fisgou e sumiu, deixando um buraco que demorei pra preencher. Foi depois dela que percebi que precisava de algo mais estável e encontrar alguém mais centrado e maduro. A vida tem dessas, né? Então é fácil se colocar no lugar do protagonista. Mérito seu.

    Acho que dá pra concluir que o conto me dividiu. Tem bons momentos, tem uma ótima escrita, mas acho que os personagens são “fodoes” demais pra que eu como leitor criasse empatia, e a história ganharia sendo mais curta, pois acaba perdendo a força ao longo do tempo devido à repetição de conceitos.

    Parabéns pelo trabalho e boa sorte!

  23. Luis Guilherme Banzi Florido
    3 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto. Você escreve muito bem. Tipo, muito mesmo. Tem uma técnica impecável, e o texto tá muito bem revisado e escrito. Acho que a única coisa que me incomodou um pouco foi que em um momento ou outro há uma mudança estranha de tempo verbal. Por exemplo, quando ele conta o passado, ele usa o passado, o que faz sentido, já que a narrativa principal é no presente. Mas às vezes, você muda o tempo verbal dos eventos passados também pro presente, me deu a impressão de que por acidente, e isso acaba deixando um pouco confusa a linha do tempo nesses trechos em que isso acontece. Não acontece muito e não prejudica no geral o texto, claro, mas achei que valia mencionar. Tirando esses pequenos deslizes, tecnicamente tá muito bom.

    Quanto à narrativa, aqui acho que o conto desliza um pouco pra mim. Me parece que a história é curta demais pro espaço que utiliza, e assim a história começa a ficar meio repetitiva. Foi uma escolha acertada a divisão em capítulos curtos temáticos, com o tema bem definido já no título, mas ainda assim acho que a questão do “luto” de Guilherme pela partida da amada fica um pouco repetitivo e acaba cansando e perdendo o impacto. No final, eu já não tava mais tão envolvido e não senti tanto a conclusão de que eles não teriam mais volta. Além disso, achei que o conto é um pouco cabeça demais, os personagens só pensam e falam coisas profundas e filosóficas. Tipo, todos os personagens, até os secundários, como a avó. Isso deixa os personagens um pouco pretensiosos, e me afastou um pouco deles.

    Por outro lado, a situação vivida, bem como ia personagens, são muito reais. Eu mesmo já tive um amor assim, quando era um jovenzinho de 20 e tantos, que me fisgou e sumiu, deixando um buraco que demorei pra preencher. Foi depois dela que percebi que precisava de algo mais estável e encontrar alguém mais centrado e maduro. A vida tem dessas, né? Então é fácil se colocar no lugar do protagonista. Mérito seu.

    Acho que dá pra concluir que o conto me dividiu. Tem bons momentos, tem uma ótima escrita, mas acho que os personagens são “fodoes” demais pra que eu como leitor criasse empatia, e a história ganharia sendo mais curta, pois acaba perdendo a força ao longo do tempo devido à repetição de conceitos.

    Parabéns pelo trabalho e boa sorte!

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Publicado às 3 de agosto de 2025 por em Liga 2025 - 3A, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .