EntreContos

Detox Literário.

Rio Seco (Antonio Stegues Batista)

Fabiano girou nos calcanhares, franziu o cenho, deu de ombros e continuou a catar a escassa água, curvado como um vira-bosta esquadrinhando o leito do rio quase seco. De soslaio, viu a mutuca insistente pousar em seu braço esquerdo e, antes que ela o picasse, matou-a com um tapa fulminante. Com um peteleco, jogou o inseto para longe de si.

Fez uma pausa, recostando-se no barranco da margem. Imaginou as centenas de anos em que um fio d’água tênue escavou o leito e se transformou num rio caudaloso. Por suas margens transitaram animais e pessoas de diferentes culturas e profissões, tropeiros, caçadores, bandeirantes, bebendo sua água, erguendo choças, tendas, chegando parando por um tempo, partindo para sempre, conforme o implacável clima. Ali permaneceu a terra castigada, o rio, antes volumoso, agora lamacento, com pedras aflorando no barro seco, como ossos de um corpo velho carcomido pelo sol inclemente.

Enchendo o balde, Fabiano voltou para casa. Precisava coar diversas vezes num pano e ferver o precioso líquido antes de consumir.

— O rio está secando — disse ele para Sinhá Vitória, enquanto colocava a água na tina. — Vou na casa do primo Sebastião pedir uma pá emprestada para abrir um poço na várzea.

— Cavar poço dá um bocado de trabaio — comentou a esposa, colocando lenha no fogão.

— Dá sim, mas a gente precisa. Vou agora, enquanto os meninos estão dormindo, sozinho vou mais rápido.

Nem a cadelinha, enroscada num canto da cozinha, viu o dono partir. Fabiano seguiu pela estradinha, observando a folhagem ressequida nas margens do caminho. No céu, nuvenzinhas ralas boiavam naquele azulão sem fim. Longe, na caatinga, um bando de urubus rodava no ar quente. “De certo, a cabra se finou”, pensou ele. Havia soltado a última que restava; não valia a pena deixá-la presa, passando fome. As quatro já tinham ido dessa para melhor, e nem leite davam mais.

No meio do caminho, lembrou-se do Coronel Custódio. Fazia tempo que não o via, desde que a esposa dele morreu. Coronel era apelido. O homem morava sozinho na Vala do Esqueleto. Resolveu, então, verificar como ele estava. Subiu uma encosta e desceu para o outro lado, passou pelo meio de uns rochedos, chegando a um cerrado num côncavo, uma antiga bacia sedimentar. No centro, estava a casinha de alvenaria com telhas romanas.

Bateu palmas para anunciar sua chegada. Ao tocar a porta com os nós dos dedos, ela se abriu com um rangido sinistro.

— Pode entrar! — disse uma voz débil, vinda das sombras ao fundo.

Fabiano entrou, parando por um momento para acostumar a vista com a penumbra do ambiente. Os objetos emergiram lentamente: um fogão de tijolos, armário, mesa, duas cadeiras de um lado; do outro, uma prateleira com livros, um baú para roupas e a cama onde o morador estava deitado. Arnaldo Custódio. A pele, curtida pelo sol do Nordeste, assemelhava-se a um pergaminho, e as mãos grandes exibiam veias salientes e azuladas. Devia estar na casa dos 80 anos. Jazia recostado nos travesseiros, a claridade do dia filtrando-se pela cortina da janela, batia em seu rosto de faces encovadas. Os olhos, de um azul embaciado, fixaram-se em Fabiano.

— Vim ver como o senhor está passando.

— Estou nas últimas, meu amigo. Rezei a Deus para que alguém aparecesse. Não queria morrer sozinho.

Fabiano pegou uma cadeira e sentou-se ao lado do leito.

— O que o senhor tem? Quer que eu faça um chá?

— Não há chá que resolva. Minha hora chegou. Tenho pouco tempo agora. Já te contei minha história?

— Já.

Mesmo assim, Arnaldo resolveu contar novamente. Achou que era necessário registrar na memória de alguém sua passagem pelo mundo. Falou, fazendo pequenas pausas para tomar fôlego.

— Meu pai foi um grande proprietário de terras, controlava a política e a economia da cidade. Ele tentou controlar minha vida, meu destino, mas fugi de casa. Venci sozinho. Me casei. Mas o casamento não durou muito. Quando ela me deixou, resolvi abandonar tudo também, meti o pé na estrada com intenção de me perder no mundo. Cheguei por essas bandas e pedi trabalho no sítio de dona Hortência, viúva do coronel Gusmão, militar aposentado que faleceu dois anos antes. Cheguei como um cachorro escorraçado, traumatizado com a cidade grande e dona Hortência me acolheu, me deu trabalho, cama e comida. Com o tempo nos afeiçoamos e passamos a viver como marido e mulher como bem sabes. Mas ela faleceu e aqui fiquei. Agora chegou minha vez de partir. Assim é a vida.

Ele calou-se, respirou fundo, olhou para Fabiano como se o visse pela primeira vez naquele dia.

— Fabiano! Como está a família?

— Estão bem, apesar desta seca danada.

— Que bom que você veio.

Jogou as pernas para fora da cama, tentou ficar de pé, mas não conseguiu.

— Preciso dar comida pras galinhas!

Fabiano ajudou-o a deitar-se. O velho queimava em febre.

— Depois eu dou comida para elas. Não se preocupe. Descansa por agora.

Ele voltou a se recostar.

— Fabiano! Me traz boas notícias? Tá chovendo?

— Ainda não, mas tem algumas nuvens lá pras bandas do Boqueirão.

— Ainda agora ouvi barulho de chuva!

— Deve ser a fruta do açoita-cavalo caindo no chão, o barulho das mamonas secas estralando com a quentura do sol, os grilos pulando no cisco do brejo.

— Devo ter sonhado, então.

Arnaldo suspirou fundo, resignado. Apontou com o dedo torto pela artrite. — Vê aquele baú? Olhe dentro.

Fabiano ergueu-se e abriu a tampa da arca trançada com embira. Dentro, havia algumas roupas cuidadosamente dobradas e, sobre elas, alguns rolos de papéis amarrados com um pedaço de barbante.

— Nesses papéis estão todas as histórias que escrevi desde que aqui cheguei. São contos diversos, histórias que vieram à minha cabeça nas horas de ócio. enquanto eu apreciava a metamorfose da paisagem lá fora, de verde para marrom. Passei para o papel o que a imaginação mandava.

Ele fez uma pausa para tomar água de uma caneca.

— Criei personagens que exprimem suas emoções, coçam o queixo e levantam a sobrancelha. Não são engessados, duros como robôs com seus sentimentos de metal e neurônios fajutos!

Mais uma pausa, desta vez para tossir. Limpou a boca com um lenço e voltou a guardá-lo debaixo do travesseiro.

Fez uma longa pausa, depois continuou.

— Sabe porque vim pra esse fim de mundo? De verdade? Foi porque matei um homem. O amante da minha primeira mulher. Matei-o e fugi para não a matar também. Esse é o fardo que carrego. Para esquecer esses fatos, comecei a escrever. A inventar histórias. Quero pedir-te uma coisa, Fabiano, quando eu morrer, me enterre com meus escritos, que só tiveram valia para o meu deleite, e para os vermes que me farão companhia na minha cova. Não coloque meu nome na lápide, coloque o nome de uma árvore qualquer.

— Com certeza, farei o que me pede.

Arnaldo gesticulou para a prateleira.

— Fique com aqueles livros. Leia Franz Kafka, Augusto dos Anjos, Anton Tchecov…

Estendeu a mão e Fabiano segurou-a, como uma ancora segura um navio na tempestade. Dizem que, quando uma pessoa está morrendo a vida dela passa diante de seus olhos. Arnaldo falou numa voz baixa e ainda mais fraca:

— Não encare a velhice com ternura. Ela queima a chama no fim do dia. É luz que não mais fulgura. É a treva que perdura e no último sopro brilha uma centelha tardia…

Ele ergueu o tronco e tossiu convulsivamente. Fabiano ofereceu a caneca com água, mas Arnaldo caiu para trás. Os olhos foram perdendo o brilho, a respiração diminuindo até desaparecer por completo. Fabiano permaneceu por algum tempo, observando seu rosto plácido. Os lábios ficaram roxos, os olhos imóveis. Ele lhe fechou as pálpebras e velou o corpo por mais um tempo, depois saiu.

De volta à Vereda do Angico, Fabiano avistou ao longe a morada de seu primo, um vulto alvacento e algo melancólico naquela paisagem agreste. Caminhou por um solo compactado, outrora lavoura de milho. Nenhuma criatura se mostrava; o galinheiro e o curral jaziam desocupados. Bateu à porta. Juliana, a única filha de Sebastião, abriu a porta.

— O seu pai está em casa?

Os olhos dela faiscaram com surpresa e satisfação.

— Foi na horta. Saiu agorinha. Quer entrar e esperar? Estou sozinha.

Fabiano adentrou o recinto e acomodou-se em um sofá. A jovem ausentou-se por um instante e retornou com uma tesoura, sentando-se à sua frente. Pousou o calcanhar na borda da cadeira e começou a aparar as unhas dos pés. A saia deslizou para trás, desvelando a indumentária íntima escarlate. Fabiano supôs que ela agia com deliberação; não era a primeira vez que o provocava. Ele desviou o olhar. Ela ergueu-se com um salto e sentou-se ao lado dele, tomou-lhe a mão e a repousou sobre o próprio joelho denudado. Fabiano recolheu a mão, mas ela se levantou, puxou-o pela camisa, compelindo-o a erguer-se, e colou o corpo ao dele. Elevou-se na ponta dos pés para um encaixe mais preciso. Ele não resistiu; meteu as mãos por baixo da saia e segurou as duas nádegas da garota excitada. Juliana iniciou um movimento insinuante com os quadris, pressionando o púbis no dele. Ele estava atônito, confuso, com a razão nublada. Que idade ela tinha? Quinze, dezesseis, doze? Já não sabia. Cogitou pôr fim àquilo, pois não podiam prosseguir, mas demorou-se um pouco mais, aspirando o perfume do pescoço dela, aroma de juventude, manancial de volúpia. No entanto, por mais que a garota se esfregasse nele, o negócio não endurecia. Algum impulso inconsciente bloqueou a sua libido. Com um gesto brusco, soltou-a e saiu da casa a passos largos. Bem a tempo, no pátio encontrou Sebastião que regressava da lavoura.

— Primo, como tem passado? — perguntou Sebastião.

Fabiano sentia as pernas cambaleantes.

— Vim pedir uma pá emprestada. Pretendo abrir um poço para procurar água na várzea. O rio está secando.

— Eu vi. Faz tempo que não chove, nossa horta de legumes está toda seca. Estamos pensando em ir embora pra a cidade. Não dá mais pra morar aqui.

Fabiano estava perturbado com o que aconteceu ainda há pouco, não desejava prolongar o colóquio.

— Posso pegar a pá?

Ao retornar, Fabiano passou pela morada de Arnaldo, abriu uma cova ao lado da sepultura da esposa dele, carregou o corpo nos braços e o depositou no fundo. Colocou os rolos de manuscritos ao redor do cadáver e os cobriu com terra.

Chegando em casa, encontrou Sinhá Vitória aflita.

— O que aconteceu?

— O Zezinho sumiu! Não acho ele em lugar nenhum!

— E o outro moleque?

— Está procurando lá para as bandas da roça.

Fabiano largou a pá e saiu à procura do filho mais novo. Não era a primeira vez que ele desaparecia. Da última vez, o encontraram brincando com bolinhas de estrume no curral das cabras.

Imaginou que o menino havia saído para explorar os arredores e se perdido no regresso. Ficou angustiado ao pensar na criança perdida no mato, sendo picada pelas muriçocas.

Fabiano passou pelas macambiras e xiquexiques, procurou na beira do brejo perto do juazeiro. Mais adiante, tinha o mato de caroás e mandacarus, um mato repleto de espinhos; com certeza ele não tinha ido para lá. Baleia, que ia seguindo à frente, farejando o caminho, adiantou-se e parou com o rabo em pé e as orelhas rígidas. À frente deles apareceu um teiú quase do tamanho da cadelinha. Baleia se atirou nele e o lagarto fugiu, adentrando a capoeira. O cão sumiu também, o latido se tornando distante, lá dentro do mato. Fabiano o chamou, mas não adiantou; Baleia se fez de surda.

Ele continuou procurando a criança indo até na beira do rio, um rio que mais parecia uma ravina ressequida. O barro seco e rachado estava marcado por pegadas antigas de cabras. Não achou nenhum sinal do menino. Depois de um tempo, voltou para casa. O coração pesado ao pensar que algum bicho tinha levado o filho dele. Ficou aliviado quando chegou no terreiro e viu Sinhá Vitória sentada na porta de casa com a criança no colo e o filho mais velho agachado ao lado dela. Baleia o recebeu abanando o rabo e cheirando as alpercatas.

— Baleia trouxe o neném, velho! — disse a esposa, emocionada. — Ela veio do mato com meu menino, estorricado com o sol. Dei água pros dois.

Fabiano pegou a cachorra no colo e deu um beijo no focinho dela. Depois agarrou a pá e enveredou para a baixada. Cavou em vários lugares, um metro, dois metros, três metros de fundura, e nada de água. Precisava ir mais fundo, afastar da mente os pensamentos em Juliana e seu corpo tentador. Queria meter-se no buraco como um tatu fugindo de uma visão que o assombrava. O sol queimava suas costas. As mãos criaram bolhas. Desistiu do poço. Precisava esquecer aquele episódio com Juliana.

Voltou para casa no meio da tarde com o estômago roncando. Sinhá Vitória serviu um prato de tutu. Acabado o almoço, ficou taciturno, sentado no mochinho.

— O que está matutando? Não ia abrir um poço? — indagou a esposa.

— Vai ser muito trabalho pra nada.

— E o primo Sebastião e a Juliana, como estão lá?

— Estão com intenção de ir embora. Fugir da seca. Estou pensando em fazer o mesmo.

— Deixar a nossa casinha? Que judiaria!

— Não adianta, mulher! Vamos embora! Quando a seca acabar, a gente volta. Bota só umas roupas no baú, o cantil com água e o que tem de comida para a viagem.

— Vamos andar muitas léguas. Vai ser uma canseira danada!

— Não tem outro jeito — respondeu Fabiano, resoluto.

Sobre Fabio Baptista

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20 comentários em “Rio Seco (Antonio Stegues Batista)

  1. André Lima
    13 de setembro de 2025
    Avatar de André Lima

    É um conto honesto que se destaca por uma atmosfera densa e imersiva, que capta a essência da vida no sertão nordestino. Através da jornada de Fabiano, somos confrontados com a brutalidade da seca e a resiliência humana diante dela. Peca pela falta de originalidade (Mesmo numa fanfic ou superinfluência de Vidas Secas e outras histórias de sertão), pois é uma abordagem mais do mesmo.

    O que eleva consideravelmente o nível do conto é a capacidade do autor de descrever os cenários e ter uma voz poética muito bem utilizada. É um domínio da linguagem que eleva a prosa a um patamar poético, imergindo o leitor na aspereza e na beleza peculiar da caatinga. Gosto bastante da voz autoral.

    Fabiano é um protagonista crível e complexo. Seus dilemas morais são bem delineados.

    O conto consegue manter uma tensão constante, seja pela ameaça da seca, pela revelação de Arnaldo, pela tentação com Juliana ou pelo desaparecimento do filho. O final, com a decisão de Fabiano de fugir da seca, é impactante e ressoa com a dura realidade de muitas famílias sertanejas, deixando uma sensação de realismo e melancolia.

    O rio seco funciona como uma metáfora central para a vida que se esvai e a esperança que minguam. GOsto do simbolismo evocado.

    Em alguns momentos, o ritmo da narrativa parece oscilar. A transição entre a despedida de Arnaldo e a chegada à casa de Sebastião, incluindo o episódio com Juliana, pode ser um pouco abrupta. Eu sei, eu sei, 3 mil palavras.

    Os diálogos são funcionais e diretos, mas há oportunidades para aprofundar as interações e revelações. A história de Arnaldo, por exemplo, é narrada de forma expositiva demais.

    Por fim, a qualidade técnica do autor parece brilhar mais do que a trama, o enredo em si. É um bom conto, afinal.

    Parabéns pelo trabalho!

  2. Bia Machado
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Me pegou desde o início? Não. Já me incomodou desde o início aqueles vários clichês colocados de propósito na primeira linha. Para quê? Para mim me pareceu querer despertar um incômodo em alguém especificamente, como ser algo gratuito, assim? 

    Desenvolveu bem o enredo? Assim como em Vidas Secas, de quem o autor pegou os personagens, até mesmo Baleia (só faltou o papagaio), temos um enredo que dá para se dizer formado de “cenas”, quadro a quadro, um ritmo até teatral. Mas… por que emular Vidas Secas, quanto a personagens? Ademais, queria entender a cena com Juliana, a necessidade dela, por que uma cena dessas com uma personagem de quinze, dezesseis, ou pior ainda, doze? Pode dizer que estou sendo puritana ou tola quanto a isso, mas achei totalmente desnecessário, me desculpe.

    O desfecho foi adequado? Foi como se esperava, tal como se os acontecimentos dessa história antecedessem ao que Graciliano escreveu em Vidas Secas (Rio Seco?), antes da partida da família para tentar uma vida melhor. O que vem após esse final? Vem a história que Graciliano resolveu contar.

    E o conjunto da obra? Para mim foi um conto bem irregular, em que em alguns momentos deu nervoso, em outros até gostei, como foi o caso da parte da procura pelo filho e também do Coronel Custódio.

    Deu match? Não. Eu queria ter gostado não apenas dos dois trechos que citei no item anterior, mas infelizmente não foi o que aconteceu. Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.

  3. Thales Soares
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    De início, eu havia achado este conto um pouco chato. Não se por que… acho que eu estava meio cansado no dia que comecei a ler. Então interrompi a leitura, e continuei outro dia, recomeçando ele. E no final das contas, acabei gostando! Ele tem um estilo de escrita meio parecido com clássicos brasileiros, como Vidas Secas (o qual faz referências, não só no título, mas também no nome do cachorro, Baleia).

    O que mais gostei neste conto foi de sua estrutura maluca. Existe uma frase que diz “A diferença entre a ficção e a vida real é que a ficção precisa fazer sentido”. E geralmente toda história segue isso. Mas esta não. Aqui as coisas não estão amarradas… e tudo é quase tão aleatório quanto na vida real. E isso foi o que, por incrível que pareça, deixou o conto charmoso! Acho que o fato de eu estar jogando MUITO video game ultimamente abriu meus olhos para esse aspecto interessante deste conto. Nos jogos, as coisas não precisam fazer muito sentido. O jogador, principalmente em um mundo aberto, pode tomar suas decisões e fazer o que quiser… e as coisas não necessariamente precisam estar amarradas. Conforme ele vai encontrando NPCs (personagens controlados pelo jogo), ele vai tendo interações inusitadas, e que não necessariamente estão conectadas com a trama principal. E nesses conversas ele acaba adquirindo side quests (missões secundárias), e foi dessa maneira que eu interpretei este conto.

    A história começa com o protagonista recebendo a missão principal: cavar um poço. Mas pra isso, ele precisa de uma pá. Então ele parte na jornada para completar esse objetivo. Assim como nos jogos de RPG e de mundo aberto, a pessoa sempre quer explorar tudo, e tem um certo défice de atenção… e isso acaba ocorrendo quando ele decide visitar o Coronel. Geralmente, nos jogos, quando desviamos do caminho e encontramos um NPC, ele vai ter com a gente uma conversinha, e vai nos passar uma side quest. E é exatamente o que ocorre aqui! O coronel passa para o protagonista a missão secundária de enterrá-lo quando ele morrer. Achei isso bem maneiro! Foi tão aleatório, que ficou ótimo!

    Em seguida, o jogador… quero dizer, o protagonista volta para sua missão principal, de pegar a pá na casa do primo. Chegando lá ele encontra a filha do primo, uma putanguinha que, do nada, começa a esfregar a raba no protagonista. Aqui a aleatoriedade foi um pouco além do limite kkk. Senti que, neste ponto, o autor se desesperou pois ficou com medo que algumas pessoas não achassem seu conto “alta literatura” o suficiente, então decidiu colocar uma gotinha do segundo tema: putaria. Mas o protagonista é um homem íntegro, ele jamais esfregaria o saco na filha de 12 anos de seu próprio primo. Então ele resiste a tentação, e escapa. Sob a minha ótima de interpretar esse conto como se fosse um game de mundo aberto, senti que este desafio foi como se fosse um chefão do jogo.

    Finalmente, chegamos no primo. Ele começa a dizer que vai embora, por conta da seca e talz, mas o protagonista está sem paciência, e pede a pá logo. Item adquirido, e missão concluída com sucesso! Agora é só voltar e cavar o poço. Mas antes disso, ainda tem aquela side quest em aberto, então o protagonista passa na casa do Coronel, usa a pá recém adquiria em seu inventário, e o enterra.

    Voltando para casa, assim como em todo bom jogo, há um imprevisto! Não dá pra concluir a missão ainda, porque agora surgiu outra side quest. O bebê sumiu, e ele precisa encontrá-lo. Beleza. O protagonista e o cachorro, Baleia, partem em busca do garoto. Eles andam pra lá e pra cá, e nada. Esse é aquele momento em que o jogador não sabe o que fazer no game, dá várias voltas, e parece até que o jogo bugou! Então ele volta ao ponto de início, e tudo se resolveu sozinho. O bebê tá lá. Ótimo, side quest concluída, agora vamos voltar para a missão principal.

    O protagonista começa a cavar, e cavar… mas então ele cansa. Ele chega pra mulher dele, e ela pergunta sobre o poço. Ele meio que diz “Ah… esquece aquela merda. Vamos embora pra outra região, mais fácil”. E então, a história termina.

    Parabéns pela escrita, que está muito boa. Boa sorte no desafio!

  4. Alexandre Costa Moraes
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Olá, Entrecontista.

    De antemão, digo que curti demais seu conto! “Rio Seco” respira sertão. Sol, poeira, abandono… sede. A jornada de Fabiano num dia só vai da rotina à beira do colapso. Água rara, visita ao velho, morte, enterro, busca do filho sumido, retorno ao vazio da terra rachada. A tensão sobe em silêncio e peso. O desfecho joga o leitor de volta ao real sem apelo.

    Na técnica, o texto mostrou tudo na pele. Calor que queima, mutuca que pica, chão de osso, lama. A cena íntima com a jovem é incômoda (e meio que do nada), acho que vc se arriscou ali, mas… o desfecho se salvou (ufa!). Depois entendi que funcionou para expor contradição, embora não tenha se encaixado bem no arco existencial do personagem. 

    No geral, “Rio Seco” é um conto com ritmo firme, linguagem visual, poética e resiliente. Me marcou como uma leitura brutal e necessária.

    Parabéns pelo conto visceral. Ganhou minha avaliação de “conto mais impactante” da B.

    Boa sorte no desafio!

  5. Jorge Santos
    11 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Zé. Terminei de ler o seu conto. Rio seco conta a história de uma família que, perante uma situação de calamidade, decide sair de casa e ir viver para outro lugar. Pelo caminho, ele despede-se daqueles que conhece, Em especial de um homem culto, que lia Kafka e escrevia. Não vendo valor nos seus escritos, depois do falecimento deste homem, a personagem principal enterra-o juntamente com os manuscritos, dado que para ele não passavam de pedaços de papel. Há aqui um contraste na vida dos dois homens, que ilustra dois tipos diferentes de pessoas, a pessoa culta, que gosta de alta literatura, e aquela para quem a literatura não passa de uma palavras que nunca proferiu na vida. Na situação de calamidade, mais propriamente de seca, é a subsistência que está em jogo, a arte fica em segundo plano, como qualquer outro “luxo”. A ligação ao tema de Alta Literatura fica-se pela referência a autores consagrados como Kafka, algo que não é inédito neste desafio. No Céu ou no Inferno, Kafka deve estar a rodopiar de contentamento. Eu, embora tenha gostado deste contraste culto-inculto, esperava mais do texto. Vejo-o como início de uma viagem à qual gostaria de ver o fim.

  6. toniluismc
    10 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    O texto apresenta boa estrutura e coesão, mantendo um fluxo narrativo que combina descrição, reflexão e emoção. O uso de imagens sensoriais (vento quente, terra rachada, silhuetas distantes) ajuda a situar o leitor no ambiente árido. A pontuação é adequada e contribui para o ritmo cadenciado, com pausas que evocam a lentidão e o peso da seca.

    Ainda assim, há trechos que poderiam se beneficiar de um polimento para evitar redundâncias e clichês sobre o sertão. O vocabulário, embora expressivo, às vezes se apoia demais em imagens já cristalizadas na literatura nordestina. Uma escolha mais ousada de metáforas poderia elevar ainda mais a densidade poética.

    A abordagem não é inédita — seca, fome e êxodo são temas amplamente explorados na ficção brasileira —, mas há mérito na forma como o autor articula elementos líricos com um viés quase documental. O texto constrói uma atmosfera que vai além do sofrimento físico, alcançando um sentimento de resistência silenciosa.

    O diferencial está na construção do ponto de vista: a voz narrativa equilibra observação e intimidade, sem cair no sentimentalismo excessivo. Ainda assim, faltou um elemento narrativo mais disruptivo ou inesperado que rompesse com a tradição e desse um frescor maior à temática.

    O texto tem potencial para sensibilizar e provocar empatia, especialmente pelo tom contido e pela evocação visual das cenas. A imagem final (o horizonte como promessa ou ameaça) é forte e simbólica, deixando ecoar a ideia de que a luta contra a seca é também uma luta contra o esquecimento.

    No entanto, o impacto é mais contemplativo do que visceral. A leitura deixa uma impressão de beleza melancólica, mas não chega a causar aquele abalo profundo que textos sobre o sertão, quando mais experimentais ou narrativamente tensos, podem produzir.

    Gostaria de acrescentar alguns pontos que me incomodaram bastante nesse conto:

    Ambientação superficial – Embora o autor tente situar a narrativa no Nordeste, o cenário é mais uma colagem de elementos genéricos da seca do que uma representação com densidade geográfica e cultural. A falta de localização precisa tira força da imersão e reforça a sensação de texto “feito para parecer” regionalista.

    Vocabulário regional forçado – O uso de termos típicos do sertão parece colocado para autenticar a narrativa, mas não integra organicamente o fluxo do texto. Para quem conhece de fato a região, o efeito é artificial.

    Problemas de linguagem – Há repetições exaustivas do nome do protagonista, o que poderia ter sido evitado com pronomes, elipses ou outros recursos. A construção frasal é irregular, alternando momentos de sintaxe correta com deslizes gramaticais e ortotipográficos. Isso prejudica a consistência.

    Estrutura e ritmo – O texto se alonga com diálogos e descrições pouco funcionais, enquanto a trama central parece dispersa. O episódio com Juliana, além de deslocado, quebra o tom da narrativa e cria um ruído moral que não é explorado de forma crítica. Ele parece existir mais para chocar do que para acrescentar camadas à história.

    Final mal resolvido – A conclusão é apressada e não amarra os elementos introduzidos, deixando a sensação de que o autor não sabia para onde conduzir a narrativa. A mudança de rumo para a fuga da seca não dialoga com os temas mais carregados do meio do texto (morte de Arnaldo, tensão sexual com Juliana, etc.).

    Tentativa de “alta literatura” – O texto parece querer se encaixar na categoria pela gravidade temática (seca, miséria, morte) e pelo uso de vocabulário regional, mas falta elaboração literária real. A construção dos personagens é rasa, o subtexto é pobre e a prosa carece de um pulso narrativo mais coeso.

    Apesar das observações acima, é um bom texto, parabéns!!

  7. Fabio Baptista
    9 de setembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Há aqui alguns dos elementos geralmente associados à tal alta literatura: regionalismo, descrição de vidas comuns e sofridas, uma arranhada em um tema com grande potencial de causar incômodo no leitor.
    Mais do que suficiente para enquadrar no tema, mas infelizmente não para render uma boa história. Assim como todos os contos, fiz duas leituras, mas não consegui me conectar de jeito nenhum. Fiquei com a impressão de uma colcha de retalhos, muitos fragmentos e memórias que não levaram a lugar algum. Bom, levariam no final se não tivesse encerrado ali, de modo um tanto abrupto.

  8. danielreis1973
    7 de setembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Rio Seco (Zé do Sertão)

    Prezado autor(a):

    Gostei muito do seu conto, que considerei extremamente denso e maduro, homenageando com maestria o universo do velho Graça (o Graciliano Ramos de Vidas Secas), e incluindo diversos temas clássicos do universo da literatura brasileira, como a seca, o sertão, a pobreza, a luta pela sobrevivência, a velhice, a memória, a sexualidade e a culpa – tudo numa atmosfera realista, com toques de simbolismo, que me lembraram de Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. Como alerta quanto à sua história, somente o aspecto de que Juliana poderia ter “doze, quinze ou dezesseis, que precisa ser revista com cuidado. Embora a cena tenha sido descrita sem resvalar para o explícito, há um risco de mal-entendidos éticos. Talvez deixar mais claro que Fabiano não agiu, apesar do desejo, por ter consciência da gravidade do que faria. Outra coisa que estranhei foi o fato dele não comentar que o velho havia morrido com o primo, e tê-lo enterrado sem dizer nada a ninguém. Também gostei muito da inclusão do Kafka como referência, e pergunto se foi proposital que o velho tenha feito o mesmo desejo (de destruir sua obra) que o autor tcheco fez ao seu amigo, que não o atendeu e só assim tivemos sua obra preservada. Está entre meus favoritos. Boa sorte no desafio!

  9. claudiaangst
    5 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Como vai, autor(a)? Pleno(a) na criação literária?

    O título já aponta para o problema central abordado pelo conto: a seca.
    Uma fanfic de Vidas Secas? Alta literatura, suponho. Não percebi traços específicos de sabrinesco no texto, embora haja uma passagem com a personagem Juliana que possa ser considerada de teor erótico.

    O conto traz uma narrativa longa, com descrições que poderiam ser mais breves. No entanto, acredito que a forma de narrar tenha sido uma decisão bem pensada pelo(a) autor(a). O foco, fio condutor da narrativa, está na luta pela sobrevivência em meio à seca.

    Gostei da passagem em que a cadela Baleia traz de volta a criança perdida.

    A literatura surge como uma forma de confissão e expiação, uma metáfora personificada pelo personagem Coronel Custódio.

    Linguagem com tom regionalista. Poucas falhas escaparam à revisão:
    • ancora > âncora
    • nas horas de ócio. enquanto eu apreciava > nas horas de ócios, enquanto eu apreciava
    • repetição de algumas palavras

    O desfecho apresenta a impotência de Fabiano diante do cenário da seca. Não encontra outra saída a não ser abandonar a sua terra em busca de uma vida menos miserável.

    Um conto bem escrito que deve alcançar uma boa posição.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  10. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Este conto me deixou um tanto desconfortável, o que em literatura é excelente. No começo achei que seria uma espécie de sátira, já que o(a) autor(a) abusa dos clichês (aparentemente de modo proposital) para falar do protagonista Fabiano. Depois, porém, a narração ganha contornos mais sérios, com uma pegada mais interiorana, à luz das dificuldades que o homem sertanejo vivencia em sua jornada de sobrevivência. O que se sucede a partir daí são recortes, como capítulos, demonstrando diferentes lados de Fabiano mas sem muita ligação entre eles. A visita e a morte do coronel Custódio, um homem inesperadamente literato naqueles cafundós, a sugestiva aparição da sobrinha Juliana e o sumiço do filho. No fim, Fabiano e a família decidem seguir para a cidade, a exemplo do primo Sebastião, pai da garota.

    Não há um arco narrativo completo, mas, como disse, recortes de uma vida de sacrifícios, permeada por uma cena de sedução inoportuna e ao mesmo tempo tentadora para Fabiano. A parte final do conto, por aberta que é, permite ao leitor imaginar diversas razões para a desistência de Fabiano em abrir o poço artesiano. Talvez queira só fugir da seca, ou talvez queira, de alguma maneira, se aproximar da garota.

    Creio que o desconforto gerado pelo conto está aí, nessa possível pedofilia que, em verdade, não tem relação nenhuma com o episódio do coronel e nem com o sumiço do filho. O conto, visto de cima, é essa coleção de eventos interessantes mas que carecem de algo que os conecte.

    Gostei da escrita, da ambientação à Graciliano Ramos, mas, mesmo sendo apreciador de finais em aberto, senti falta de uma conexão maior entre os fatos. De qualquer maneira, parabenizo o(a) autor(a) pelo trabalho e pelo desconforto gerado. Boa sorte no desafio.

  11. Pedro Paulo
    31 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Acho que neste conto a autoria se perdeu. Talvez até mesmo em termos de desafio, já que é um texto que teria servido ao certame anterior, enquadrando fanfic. Aqui, a família de Vidas Secas é revisitada e acompanhamos Fabiano até a sua tomada de decisão pela retirada. Faz tempo que li Graciliano, então não vou equiparar a escrita, mas a redação da autoria reproduz a secura e consolida um ambiente quase inóspito, cuja vida ressalta pelos seus personagens que sentem, decidem e, enfim, vivem apesar daquilo tudo. Mas embora a forma do texto seja de qualidade, a estrutura e os rumos da narrativa me pareceram mal pensados. Toda a conversa com Arnaldo parece uma brincadeira com o gênero da alta literatura – o que, inclusive, também parece motivar a escolha da família de Fabiano como personagens centrais desse texto -, pela menção à importância da ficção e por mencionar alguns autores consolidados. Entretanto, não senti uma força narrativa nessa parte, como se fosse uma seção deslocada no texto, sem contribuir para o clímax. Posso dizer o mesmo sobre o encontro entre Fabiano e Juliana, novamente bem narrado, mas estruturalmente, pareceu não caber ali, passando súbito, aleatório. O desfecho, com a busca do garoto, talvez tenha sido a parte mais interessante, mas não vi conexão com nada mostrado antes. Como se uma coleção de premissas fossem mixadas no texto, sem uma decisão da autoria por onde seguir.

    Senti-me caminhando no sertão, sem um horizonte que me dissesse para onde estou indo.

    Cordiais abraços, boa sorte neste desafio!

  12. Luis Guilherme Banzi Florido
    28 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto.

    Acho que esse conto sofre de um sério problema: a falta de foco. Vários eventos entram e saem de cena, acrescentando pouco à narrativa, importando pouco. Quero dizer, todos eles são importantes, cada um tem sua relevância, mas parece que, aqui, são jogados um depois do outro, de forma rápida e repentina, e acabam não tendo impacto, sabe? Me parece que esse conto funcionaria numa história muito mais longa, cada evento inserido com acalma, com a linha narrativa sendo trabalhada com mais cuidado. Dessa forma, com um fio narrativo mais sólido, os eventos construiriam uma linha do tempo funcional, cada um acrescentando uma peça ao quebra-cabeças. Faz sentido?

    Do jeito que está, as coisas acontecem uma após a outra, sem dar tempo para o leitor absorver e sentir os acontecimentos: o rio secando e o homem filosofando sobre isso, a viagem para buscar a pá, a decisão repentina de passar na casa de outra pessoa, a historia da vida do homem, o homem começa a filosofar sobre literatura e escrita, o homem segue caminho para o destino original, a filha do primo se oferece pra ele, ele volta pra casa (e no caminho enterra o amigo morto), ele tenta cagar um poço mas nao consegue, ainda pensando na parente menor de idade, e por fim decide ir embora repentinamente com a familia.

    Percebe quantos eventos para uma historia de apenas 3 mil palavras? Parece que fica tudo atropelado e repentino.

    Tambem nao entendi pq o conto começa com varios cliches de literatura. Pareceu uma piscadela pros memes do grupo do Whats do EC, mas aqui me soou totalmente deslocado, num conto de alta literatura, que pretende ser sério e profundo.

    Enfim, desculpa por tantos apontamentos e “reclamações”, minha intenção foi só indicar pontos de melhoria. Acho que essa historia, se bem trabalhada, com um limite maior, talvez 10 mil palavras, poderia ficar muito bom, com uma conexão mais funcional entre os eventos, explorando o impacto deles naquelas vidas já fragilizadas.

    De todo modo, boa sorte e parabens!

  13. Priscila Pereira
    25 de agosto de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Zé do Sertão! Tudo bem?

    Muito interessante o seu conto, podemos dizer que retrata com fidelidade um dia na vida do Fabiano, não um dia comum, já que ele presencia a morte de um amigo, é atentado pela sobrinha, perde o filho na mata e decide ir embora por causa da seca. Você conseguiu narrar esse dia diferente na rotina de Fabiano de forma muito natural, muito verossímil.

    A ambientação ficou muito boa mesmo, me senti quase dentro do sertão. A escrita direta e clara deram agilidade ao texto. Gostei também da história dentro da história, mas fiquei inconformada com a falta de curiosidade do Fabiano, não quis ler os escritos do defunto… eu leria 😀

    Gostei do conto! Parabéns e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  14. Amanda Gomez
    24 de agosto de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Seu conto me pareceu uma reunião de vários fluxos de pensamento em desenvolvimento, como se o autor tivesse diversas ideias e não quisesse abrir mão de nenhuma delas.

    O começo é curioso.

    O texto tem uma boa ambientação, mas carece de foco. O personagem passa o dia andando de um lado para o outro, com várias situações acontecendo: o poço, o amigo que faleceu mas antes contou sua história… E essa história, no fim, não chega a ser relevante para a construção do protagonista. Parece mais um devaneio. Eu realmente achei que dali surgiria algo, que o homem leria os livros, que isso o despertaria para outras coisas… mas não aconteceu.

    Depois temos o polêmico episódio com a filha do vizinho. Foi corajoso trazer essa cena, embora, sejamos francos, isso seja algo comum por esse Brasil afora. Ainda assim, não deixa de ser indigesto. Não vou militar em cima da problemática dentro do texto.

    Afinal, ele está fugindo da seca ou dos desejos recém-despertados? O protagonista parece uma barata tonta: em um único dia, o amigo morre, tem a filha do vizinho, os filhos somem, depois reaparecem, ele cava o poço e depois desiste… no fim, todos vão embora.

    Faltou um direcionamento mais claro. Talvez valesse a pena usar melhor o limite de palavras para aprofundar o protagonista e suas indagações. Do jeito que ficou, o rio acabou raso também. Apesar disso, a leitura fluiu fácil para mim. Gosto de temas regionais assim. Só senti falta de mais capricho no enredo e na condução. Talvez fosse melhor abandonar algumas ideias e focar em uma central.

    No mais, parabéns pelo trabalho. Boa sorte no desafio!

  15. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    24 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura. 

    Enquadrei seu conto nessa categoria porque ele fala sobre a dificuldade da vida do sertanejo nordestino por causa da seca. 

    Gostei muito da escolha do título, ela se relaciona perfeitamente com a história que você contou. 

    Um ótimo exemplo de regionalismo. Uma expansão do universo criado por Graciliano Ramos em seu livro vidas secas.

  16. Givago Domingues Thimoti
    18 de agosto de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Rio Seco (Zé do Sertão)

    Olá, autor(a)! Espero que esteja bem no momento da leitura! Parabéns por participar do Desafio EntreContos! Sempre um prazer ler e comentar o trabalho dos colegas. Espero sinceramente que, ao final da leitura, você sinta que esse comentário tenha contribuído para você de alguma forma! Caso contrário, não leve para o pessoal ou crie ressentimentos. Lembre-se que escrevi com o maior cuidado que pude.

    Sobre o tema, em relação aos demais desafios, optei por mudar alguns critérios na avaliação. Diminui para 4 critérios, dando uma nota maior para adequação ao tema (está valendo 2). A lógica será: 0 para contos sem tema, 1 para contos que tangenciaram o tema e 2 para contos que o tema aparece claro e cristalino.

    Além disso, tomando as definições sugeridas pela Moderação, eu considerei sabrinesco como aquele conto que, por mais que tenha sexo nele (embora não seja obrigatório que tenha), você mostraria tranquilamente para uma pessoa da sua família que é bem careta. Já um conto de alta literatura eu interpreto como um conto mais rebuscado, que instiga o leitor tanto nas ideias (fazendo-o pesquisar sobre algum elemento do texto)  quanto na técnica empregada (podendo ser um ou outro).

    Resumo da história

    Rio Seco” é uma fanfic de alta literatura, que nos apresenta uma espécie de prequel de  Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Aqui, temos um relance dos últimos fatos que levam Fabiano e sua família fugirem da seca do agreste. 

    Aspectos positivos e negativos

    Aspectos positivos: Proposta interessante. Cena inicial forte e bem construída. Texto bem escrito e grandíssima parte de seu escopo.
    Aspectos negativos: Enquanto fanfic, penso que faltaram alguns elementos para caracterizá-las como uma versão de Vidas Secas; a linguagem me pareceu um tanto anacrônica e prolixa por vezes. Além disso, a narrativa me soou um tanto superficial, mais preocupada em relatar os (muitos) fatos do que mostrar a profundidade da situação.

    Avaliação por critérios (pontuação total: 5,0)
    Adequação ao tema (máx. 2,0):
    O conto aborda de forma clara, criativa e relevante o(s) tema(s) proposto(s)? Há relação explícita ou simbólica (mas detectável) com o tema indicado? Nota: 1

    O conto está parcialmente dentro da Alta Literatura. Bem escrito, creio que, enquanto fanfic de Vidas Secas, faltou um pouco mais de complexidade à narrativa e espaço para proporcionar a reflexão do leitor. Do jeito que está, a narrativa apresenta tudo ao leitor, explicando e mastigando os muitos fatos que levaram à saída da família de Fabiano e Sinhá Moça da região em direção ao Sul do país.

    Além disso, percebemos a falta de alguns elementos que caracterizaram a história, o que torna ela um tanto genérica. Por exemplo, vamos supor que tirássemos o nome do personagem Fabiano. Será que, ainda assim, iríamos perceber o protagonista como o Fabiano de Vidas Secas ou seria algum retirante? Bom, pelo menos para mim, não. Além disso, senti falta de menção ao outro filho do casal protagonista, bem como menção ao papagaio… 

    Correção gramatical (máx. 1,0): O texto segue a norma culta da língua portuguesa? Se sim, há erros gramaticais, ortográficos ou de pontuação que prejudiquem a leitura? Se optou pelo coloquialismo ou regionalismo, deu para sentir que foi uma boa imitação? Soou forçado? Nota: 0,9

    No geral, o conto está bem escrito revisado gramaticalmente, exceto por um deslize pequeno:

    ancora → âncora

    Parabéns pela revisão gramatical!
    Construção narrativa (máx. 1,0): A estrutura do conto é bem organizada (início, desenvolvimento, clímax e desfecho)? Estica demais, apertou demais? Caso tenha optado por um conto não linear, deu para entender/acompanhar a história? O estilo de escrita é adequado? A técnica chama a atenção? Há fluidez, ritmo e coesão textual? Nota: 0,5

    Eu acho que o conto está bem estruturado. Início, meio e fim, com uma escrita que flui razoavelmente bem, salvo por um ponto ali e outro acolá.

    Em alguns trechos, percebi repetições gramaticais. Vale a atenção: 

    • “Sabe porque vim pra esse fim de mundo? De verdade? Foi porque matei um homem. O amante da minha primeira mulher. Matei-o e fugi para não a matar também.

    Além disso, temos uma linguagem bem mais floreada do que aquela observada na original. Inclusive, a linguagem de “Vidas Secas” é um traço marcante da obra. Uma linguagem seca, mais curta e concisa. Graciliano passava algumas madrugadas tirando trechos que lhe pareciam desnecessários. Acho que, dentro das devidas proporções, cabia uns cortes. Alguns trechos pareceram sair dessa toada:

    • indumentária íntima escarlate” → também conhecida como calcinha vermelha…
    • Ela queima a chama no fim do dia. É luz que não mais fulgura. É a treva que perdura e no último sopro brilha uma centelha tardia…
    • Não são engessados, duros como robôs com seus sentimentos de metal e neurônios fajutos!”

    Uma última nota de chatice: “Baleia trouxe o neném, velho!” Esse melhor me pareceu tão São Paulo anos 70, 80. Enfim, seria interessante trocar por outro vocativo mais regionalista…

    Impacto pessoal (máx. 1,0): O conto provoca reflexão, emoção ou surpresa? Causa uma impressão duradoura ou significativa? Nota: 0,4

    A proposta do conto é fazer uma especulação do que levou Fabiano e sua família para sair da região do semiárido, algumas cenas off antes do início de Vidas Secas, do Graciliano Ramos.

    Infelizmente, não funcionou. Para além dos pontos negativos mais técnicos que citei anteriormente, acho que o que mais me incomodou em “Rio Seco” foi essa sensação de uma história que conta muito sem contar, verdadeiramente, nada. Claro, expõe os motivos de Fabiano para tal êxodo. Mas não se compromete muito com nada; temos o encontro de Fabiano com o moribundo e o presente legado (e abandonado), com a adolescente filha do primo (ou prima também[?]), com o enterro do moribundo e com a decisão de ir embora daquela região com sua família em direção ao Sul do País. 

    Talvez, a intenção tenha sido justamente essa, apenas mostrar, e deixar para o leitor a função de construir algo em torno disso. Não gostei muito. 

    Além disso, para falar do elefante branco que está nessa avaliação, “Rio Seco” é uma fanfic. Neste sentido, pessoalmente, gostaria de ter lido um pouco mais de ligação com a obra do Graciliano Ramos, para além do mero aspecto narrativo. Dentro do contexto da obra de Vidas Secas, um personagem como Sebastião destoa. Por exemplo:

    ”Criei personagens que exprimem suas emoções, coçam o queixo e levantam a sobrancelha. Não são engessados, duros como robôs com seus sentimentos de metal e neurônios fajutos!” = Essa lógica de robôs com seus sentimentos de metal me soou tão futurista. Já se falava em robôs na década de 1930? Enfim, uma fala um tanto anacrônica, desconexa do contexto da obra homenageada.

    Nota final (máx. 5,0): 2,8

  17. cyro eduardo fernandes
    18 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Vidas Secas… ótima técnica. Inspirado em fonte rica, foi ousada a escolha e a execução. Boa sorte no desafio.

  18. Kelly Hatanaka
    11 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá!

    Neste desafio, vou avaliar os contos da seguinte forma: Tema vai valer 2 pontos, Forma, 2 pontos, Enredo, 3 e Impacto também 3. Como o tema Sabrinesco parece ter sido especialmente desafiador, vou dar um ponto extra para Sabrinescos bem executados. É pessoal? É. Mas os critérios de avaliação são pessoais mesmo, então paciência.

    Tema

    Alta literatura. Dentro do tema.

    Forma

    Conto bem escrito, com algumas falas “regionalistas” fora de lugar. No geral, os personagens falam muito corretamente, o que achei muito bom, a ambientação não necessitava de uma fala regionalista para se manter. Porém, sinhá Vitória do nada solta um “trabaio”. Só ela. Só uma vez. Por quê?

    Enredo

    Fabiano percebe que a água está escasseando e resolve ir até a casa do primo, pedir uma pá emprestada para cavar um poço. No caminho, passa na casa de um amigo moribundo, lhe faz companhia e o enterra. Chega na casa do primo, tem uma cena erótica com a filha adolescente do primo, volta para casa, procura pelo filho que sumiu, encontram o menino e, no fim, ele vê que não adianta cavar poço e resolve ir embora com a família, fugindo da seca e da tentação da filha do primo.

    Impacto

    Médio.

    É um conto bem escrito, que traz reflexões sobre a morte, a velhice, a falta de saída. A história é bem conduzida, vamos seguindo Fabiano, o encontro com coronel Custódio, uma crítica às críticas, a cena com Juliana, a angústia pelo sumiço do filho, o alívio ao vê-lo a salvo. Daí, vem a decisão de partir e então fica a sensação de que alguma coisa faltou. As peças parecem não se encaixar. Fiquei com a sensação de ter lido ótimos trechos que, de certa forma, não se conectaram.

    E, afinal, é uma fanfic, ou prequel, de Vidas Secas?

  19. Thiago Amaral
    10 de agosto de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Conto que mostra um dia na vida de Fabiano, sertanejo, sobrevivendo aos perigos de seu ambiente e decidindo partir da região.

    Parece um conto que sobra do desafio fanfic, onde a autoria teve medo, pelos avisos do Fabio, de que não ia valer usar contos baseados na literatura. Isso se dá porque o conto usa personagens do livro Vidas Secas, servindo como prequel que explica as motivações do protagonista começar suas viagens.

    É interessante a sutileza realista pela qual o conto vai apresentando os temas de morte, decadência e brevidade da vida, falando sobre as cabras, o próprio rio, símbolo maior que dá título à história, e principalmente sobre a experiência com Arnaldo, escritor e exemplo mais rico da região, mas que morre anônimo e sem muito significado. Depois disso, Fabiano encontra a prima, Juliana, que lhe dá uma invertida sabrinesca, contrastando com o resto do clima fúnebre, e procura pelo filho perdido, possivelmente em perigo.

    Todas essas experiências parecem catalisar a decisão final do protagonista, que enfim decide partir do local.

    Apesar da poética, da beleza e da ótima criação do mundo dos personagens, no entanto, a sutileza em demasia também confunde, já que não sei exatamente o que causou o que ali, e o motivo pelo qual as coisas acontecem. Posso apenas conjecturar que o filho perdido é um dos motivos que fazem Fabiano querer sair da região, mas também poderia ser uma cena sem muito a adicionar, descartável, já que a parte com Arnaldo já dá conta do recado. A com Juliana, além de fazer um aceno ao outro tema do desafio, faz pouco mais que dar a ideia de partir do local. Dá, sim, profundidade e fraqueza ao protagonista, mas esses elementos não parecem tocar muito o restante da narrativa. Será que ele gostaria de fugir dela também? Ou encontrá-la na capital, futuramente? Será que a autoria pensou nessas coisas, ou só narrou fatos? Fica tudo um tanto nublado.

    O ritmo lento e constante do conto se mantém até o final, com a decisão firme de Fabiano, sem grandes viradas ou revelações, o que causa um efeito também neutro no sentimento do leitor. Sem uma finalização forte, ele tem que se contentar com a ambientação, a poesia e as reflexões das cenas anteriores. Talvez um pulso mais firme da autoria colocaria mais visão própria na história e envolveria mais o leitor nessa finalização.

    Conclusão: bom conto, mas poderia ser mais claro quanto a suas intenções e significados. A sucessão de fatos parece estar muito jogada, e o leitor tem que fazer muito esforço para conectá-las (ou eu perdi alguma coisa).

  20. marco.saraiva
    8 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Um dia na vida no sertão, onde vemos a realidade nua e crua, os bonitos e os feios, os sujos e os limpos. Um dia na vida de Fabiano e vemos a fragilidade da vida em geral. Como um senhor morre sozinho e desesperado por ter a sua história perpetuada antes do fim. Como o coito é visto de forma diferente quando se vive longe de tudo, onde garotas menores de idade entendem rápido o que é sexo. Onde uma criança se perde na mata e pode, para sempre, perder-se da vida. E onde a conexão entre homem e cão é tão forte que um parece ser uma extensão do outro. Onde a natureza é ferrenha, a água, pouca, e tudo está coberto por uma fina camada de pó.

    A ambientação é perfeita, o ritmo é bom e o decorrer da história é intrigante. É um conto “slice of life”, não há início nem fim, apenas um vislumbre de um dia na vida de Fabiano. Termina tão rápido quanto acaba, nos deixando com uma sensação de querer ver mais um pouco. Tudo isto escrito com maestria, em um conto fácil e gostoso de ler. Parabéns!

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Liga 2025, Liga 2025 - 3B e marcado .