EntreContos

Detox Literário.

Papoulas Vermelhas (Luis Guilherme)

Destroços

Atravessando o antigo campo de batalha, Joaquim testemunhava uma França dividida entre passado recente da Segunda Grande Guerra e tentativa de futuro, de reconstrução. Algo que, em muito, assemelhava-se ao seu próprio estado emocional. Menos de um ano após a vitória dos aliados, o homem buscava indícios de algo que lhe fora tirado pela grande guerra.

Vagando incerto por Dunquerque, ele observava os ecos do que fora o horror dos conflitos, desde a Batalha de Dunquerque em 1940 à retomada dos aliados em 1945. Marcas de bombardeio, hospitais, prédios públicos e portos devastados, trincheiras e campos minados ainda em situação de risco. Chagas que tentavam se fechar, mas deixariam cicatrizes por décadas.

O homem sabia que era ali que precisava começar, pois ali ela fora vista pela última vez: Marie servia como enfermeira voluntária num hospital improvisado quando, após bombardeio e retirada das tropas francesas, desapareceu junto de centenas de civis e voluntários.

Atravessando destroços, odores e vozes, chegou à prefeitura improvisada de Dunquerque, que servia de centro de busca de desaparecidos e base da Cruz Vermelha. Os corredores abarrotados de enfermos, feridos e viúvos mostravam que a dor da guerra ainda não virara memória – era ferida aberta.

Afastando tais pensamentos, dirigiu-se a um funcionário franzino que parecia à beira de uma crise de pânico, usando todo o francês que havia aprendido no ensino médio em Portugal e nos 3 anos que passara na companhia da amada.

C’est là! – foi tudo que conseguiu extrair do sobrecarregado garoto, parte da limitada força tarefa que agora tentava reconstruir o país. Seguindo o dedo que apontava para o final de um corredor decorado de dor e ausência, encontrou duas portas opostas, que diziam “achados e perdidos” e “informações e desaparecidos”. Entrou na primeira.

Após uma longa fila, identificou-se e apresentou a certidão de casamento.

Oui, oui. Marie Dubois, enfermeira voluntária, desaparecida em 1940 – confirmou a voz monótona de quem repetiu um procedimento à exaustão. Então, entregou uma caixa leve de madeira e mecanicamente se dirigiu ao próximo.

A caixa passou então a pesar uma tonelada – há dores que pesam mais que o aço. Caminhando às cegas, logo estava do lado de fora do centro. Encarou a caixa nas mãos, sentimentos mistos dominando o peito. Queria abri-la, queria arremessá-la ao mar.

E então ouviu Marie, ressoando em sua mente numa voz que parecia atravessar uma década, mas ainda provocadora como outrora. Ela sempre foi mais corajosa que ele. Teria aberto imediatamente a caixa. Teria desvendado seu interior. Teria tomado a atitude como fez 9 anos antes, na feira de tecnologia em Paris, quando, pela primeira vez, olharam-se longamente nos olhos.

Quando perguntou se ele ia só ficar encarando boquiaberto ou ia chamá-la para um café. Quando o abriu e o desvendou. Quando seus lábios atravessaram o espaço que a separava do jovem e tímido português. Quando suas mãos delicadas e habilidosas o empurraram na cama do pequeno hotel no sixième arrondissement, testemunhados pelo olhar curioso do Sena, cuja brisa bailava pela sacada e desnudava-se junto daqueles corpos febris.

Quando seus olhos, poços profundos de desejo e fogo, queimaram-lhe a retina como tatuagem, como cicatriz de tempos de calor e suor, de promessas de prazer e amor, de romper, de ofegar, de descobrir, de tocar. De sorrir, de gemer. De desaguar, rio e mar, em movimentos concêntricos, com a suavidade das correntes se chocando à natureza implacável das marés, afogando-se juntos em ressaca, enquanto no ápice suspiram, confluentes.

Tragado de volta à realidade por um grupo de crianças que corria em direção ao centro, Joaquim respirou fundo e abriu a caixa.

As memórias fluíram como lágrimas enquanto retirava delicadamente cada item. Uma fotografia, amassada e encardida, mostrava o casal sorrindo e apontando para uma grande faixa que dizia “Exposition Internationale de 1937 – Paris”. A outra mão de Joaquim segurava a barriga. Marie acabara de contar uma piada sobre os dizeres “Électricité et Progrès”, que apareciam sobre um pavilhão metálico, que quase fez Joaquim perder o fôlego, no momento em que o fotógrafo de rua tirou a foto. Joaquim tocou a imagem como se ela ainda respirasse.

Uma pequena insígnia redonda, com o contorno azul e uma cruz vermelha ao centro, com os dizeres “Croix-Rouge Française – Infirmière Volontaire”. O pequeno objeto metálico parecia pulsar nas mãos de Joaquim. Então, como num reflexo vívido, viu-a novamente: uma bela jovem de 21 anos saindo de um centro de alistamento de voluntários.

O céu azul sem nuvens parecia teimar em contrariar o presságio sombrio da guerra, em contraste com o branco de seu uniforme. Em seu peito, ela apontava, com orgulho, para o símbolo ao qual fizera um juramento. Abraçaram-se. O branco contrastando com o verde-oliva do uniforme de Joaquim, voluntariamente alistado às Forças Francesas Livres.

Olhando-se nos olhos, fizeram o segundo juramento do dia. Sobreviver e se reencontrar. Dissolvendo o abraço, Joaquim ajoelhou-se e colocou-lhe um anel no dedo, em meio a aplausos entusiasmados. Celebrariam no reencontro. O anel não estava na caixa.

A lembrança o atingiu em cheio, atravessando-lhe o peito e tirando o fôlego. Perdendo o equilíbrio, sentou-se num banco de concreto e afundou o rosto nas mãos. Uma senhora, de rosto de profundos vincos, alguns criados ao longo de décadas, outros ao longo de poucos meses, sentou-se ao seu lado. Segurou-lhe a mão com firmeza e olhou profundamente em seus olhos. Joaquim notou em seu rosto marcas que não deixavam dúvidas, e os dois rostos, talhados pela perda, moldaram-se num sorriso de compreensão e afeto. Os dois estranhos se abraçaram, e, sem dizer uma palavra, já que nenhuma era necessária, a senhora afastou-se na direção oposta ao centro. A compaixão e o afeto são linguagem universal, na qual os corações feridos se tornam fluentes.

Com renovada disposição, retirou o último item da caixa. Um maço de cartas, empoeirado mas carinhosamente protegido por um lenço de seda. As cartas que ele, Joaquim, enviara no período de menos de um ano entre o início da guerra e o sumiço de Marie. Retirando do bolso interno do paletó outro maço similar, mas assinado por uma letra mais fina e delicada, juntou as cartas num único monte. Jamais deixaria que elas se separassem novamente.

Olhando ao redor, tomado por uma nova emoção, Joaquim secou as lágrimas e se levantou, segurando com firmeza a insígnia. Era hora de entrar pela segunda porta. Dessa vez, sem hesitações. 

A segunda sala era um pouco maior que a anterior, mas tão abarrotada quanto. Uma longa fila em ziguezague ocupava boa parte do espaço livre. O restante era preenchido por um balcão com jovens vestidos de verde, praticamente soterrados numa montanha de papéis amarelados e sujos.

Ao fundo, uma bandeira francesa e uma foto do presidente provisório Charles de Gaulle, acompanhadas dos dizeres “Unité et Effort! Travail et Sacrifice!” e “Chaque pierre posée est un acte de foi en la République!” ilustravam o espírito de reconstrução que aquela sala representava.

“Para poder recomeçar, é preciso primeiro tratar as feridas do passado”. Esse pensamento repentino ocupou a mente de Joaquim, enquanto contemplava tudo à volta.

Realizou os trâmites burocráticos e recebeu um documento. Saiu lentamente do centro comunitário, o envelope pardo, ainda inviolado, apertado nos braços com o cuidado que dispensaria ao filho que plajenavam gerar nas comemorações do reencontro.

Sentou-se no mesmo banco. Olhou ao redor. Respirou fundo. O ar primaveril tocou-lhe o rosto, acariciando e convidando. De fato, as flores brotavam, anunciando a chegada da nova estação. Só agora as notava. Das brechas e rachaduras, outrora talhadas em concreto por fogo e pólvora, agora desabrochava profusão de cores em pétala. Aquarela sobre tela de destroços.

Percebeu também que as crianças corriam e brincavam. Seu espírito era indomável. Sorriu.

Com o peso de uma ação impossível, baixou os olhos para o envelope, rompeu o lacre e puxou uma folha de caráter oficial. Passou os olhos rapidamente pela página. Então foi atingido pela última explosão da guerra, um eco tardio, e desabou num campo de flores resilientes.

Flores

Marie adorava flores. Dizia que combinavam com sua personalidade. Fragrantes, plenas de cores e vida. Para Joaquim, agora, eram muito mais. Representavam o renascer que sucede o inverno. A vida que, improvável, rompe tempo e espaço e prevalece. Essas palavras fugiram-lhe aos lábios naquela tarde, no pequeno quarto que floria de amor e desejo sob o olhar pacato do Sena. 

Essas palavras encontraram em Marie recantos inexplorados. Fincaram suas raízes em solo fértil. Levantou-se, já incapaz de manter o ar misterioso e sedutor, e caminhou até ele com ternura e admiração que escondia do mundo. Olhou nos olhos do jovem que conhecera horas antes. Ele sustentou o olhar. Miríades de estrelas explodindo naquelas íris verde e azul. O infinito universo contido num instante de cumplicidade. Sorriu, e tocou-lhe o rosto com a mão delicada.

– Casarei contigo, Marie. Teremos filhos e gatos.

– És um homem de gatos, caro Joaquim? Sinto que tenho tanto a conhecer de ti, e ainda assim já sinto tão profundo nosso laço.

– Firmemos um pacto. Faremos de ti, minha flor, o coração de nosso grande jardim. Nele, cultivaremos nossos sonhos e desejo, no solo fértil de nosso amor. Nele, brotará amálgama de flores. Nele, beberemos do doce néctar, até lambuzarmo-nos em regozijo. E do entrelaçar de nossos corpos, cujas raízes expandir-se-ão, brotarão jovens raízes. E a esse jardim chamaremos de lar.

– E onde imaginas, meu querido, colheres o néctar de minha flor? – atreveu-se, sentindo novamente arder a chama que Joaquim despertara.

E Joaquim conduziu-lhe, misto de gentileza e desejo, mãos firmes em gestos coesos. Deixando-a de costas para si, empurrou seu corpo contra a sacada. Puxou-lhe o cabelo, trazendo-a para perto. Um doce aroma das flores emanava de seus longos cabelos em caracóis. Sentiu em seus lábios a pele macia da nuca. Beijou-a com a aspereza de sua barba por fazer, arrancando-lhe arrepios e suspiros. Tirando-lhe a pouca roupa, acatou por fim o apelo desesperado que dela emanava em respiração descompassada, em gemidos que imploram.

O sol agora fazia seu trajeto final rumo ao horizonte, que abraçava as curvas do rio Sena. Um espetáculo de brilho e cores, o azul das águas cristalinas se alaranjando nas labaredas do astro. Enquanto o azul dos olhos de Marie se consumia em fogo, e braços musculosos puxavam para trás os braços de moça, enclinhando-a em direção às águas. Enquanto, num movimento contínuo, perfeito, ritmado, o sol terminava seu mergulho às profundezas, deixando atrás de si apenas o suspiro dos apaixonados, que despediram-se do calor enquanto recebiam a lua. Que despediram-se juntos de seu prazer, escorrendo-o em águas afluentes, abraçando-se no alívio de um beijo ofegante. Que olharam-se profundamente nos olhos antes de mergulhar na escuridão de sonhos satisfeitos.

Jardim

Fazia agora uma semana desde a confirmação da morte de Marie. Uma semana desde que Joaquim sentiu a vida ser tirada de si. O estupor de confirmar a verdade que, de todo modo, já existia dentro dele, mas que tentava negar com todas as forças. Da qual fugira e se escondera em garrafas e distrações.

Estava então de volta à casa em Fontainebleau, pequena vila campestre nas imediações de Paris onde, antes de serem separados pela guerra, Marie e Joaquim viveram e cultivaram seu grande jardim. Jardim que agora mostrava os sinais de oito anos de abandono. Abandono pela guerra seguido de abandono pela perda que ela trouxe.

Joaquim, apoiado no muro baixo da sacada que dava para o jardim, testemunhava a decadência do que outrora fora radiante e colorido. Ao seu lado, sobre a mesa de café, três objetos refletiam a luz do sol poente. Uma fotografia, uma insígnia, um maço de cartas. Os dois primeiros já tinham sido exaustivamente revisitados. Joaquim memorizara cada detalhe da tinta descascada da imagem, da forma circular desgastada do pequeno metal. Do olhar encantado da jovem moça, eternizada num sorriso fácil.

O maço de cartas, no entanto, permanecia envelopado no lenço de seda. Fosse porque Joaquim conhecia as cartas que enviara, fosse por não querer reler suas declarações e promessas, não tivera coragem de explorá-lo. Olhando uma última vez para o lugar onde outrora floresciam seus sonhos, e lembrando-se das promessas de jamais deixar de regá-lo, apanhou o monte de cartas, sentou-se na cadeira azul que banhava-se solitária nos últimos raios de sol, e desdobrou cuidadosamente a seda.

Dezenas de cartas, redigidas numa letra que compensava com afeto a pouca técnica. Todas assinadas com “À ma petite fleur, pour toujours, Joaquim”. Todas, exceto uma. A caligrafia… era outra.

O coração de Joaquim errou o passo, e até mesmo o sol pareceu desacelerar, temendo desaparecer atrás do horizonte antes de ler aquela carta.

Segurando-a ainda dobrada diante dos olhos, ele leu a dedicatória em letras finas e redondas, de uma perfeição poética. A mesma que tantas outras vezes lera, assinando tantas outras cartas que recebera no front de batalha e que bombearam vida em seu coração consternado pelos horrores da batalha: “À mon amour, lumière de ces jours sombres, Marie.”

Respirou fundo, sentindo o doce perfume de flores que parecia ter atravessado uma década encerrado naquele pedaço de papel. Aquela milagrosa carta, nunca enviada. Aquele último pedaço de Marie, que agora pulsava em suas mãos e inebriava todos seus sentidos, enquanto sol e lua se entrelaçavam num bailar celestial, como se toda a vida, na totalidade do firmamento, celebrasse o encontro de duas almas apaixonadas, que se negavam a obedecer às vontades mundanas de vida e morte.

Desdobrando delicadamente, Joaquim mergulhou nas profundezas daquelas palavras doces:

Meu querido Joaquim,

Pensei em ti essa manhã ainda mais insistentemente que o normal. As coisas não andam bem por aqui, os esforços de guerra estão sofrendo profundas baixas, especialmente diante dos bombardeios constantes da Luftwaffe. O astral das tropas está bem baixo, e os feridos estão abarrotando as tendas médicas. Temos trabalhado dia e noite para recuperar os enfermos, velar os mortos e devolver a esperança aos corações esgotados.

Parecem-me agora tão distantes aquelas manhãs em que descíamos ao córrego aos pés do bosque, em que colhíamos framboesas e mirtilos ao vento tórrido do verão, ou nos enlaçávamos para nos aquecer nos gélidos dias de nevasca.

Meus lábios não mais podem sentir o doce suco das amoras silvestres, nem o amargor das nozes verdes ou do absinto. Minha pele já está insensível ao suave toque da brisa primaveril, ao frescor das águas calmas dos riachos ou à violência das quedas d’água que rasgavam o monte. Não mais me recordo do doce odor dos jacintos silvestres na primavera, da calmaria da lavanda no verão, do leve perfume terroso dos crisântemos no outono, ou mesmo da doçura delicada das camélias, rompendo a insensibilidade rigorosa do inverno. E os olhos, ah, meu caro Joaquim, como me faltam a poesia do pôr-do-sol, o majestoso verdejar do bosque em que outrora compartilhamos a beleza da paz. Em meus ouvidos, não mais ressoam os cantos dos pássaros, o ritmado gotejar das intensas chuvas de verão, ou das brandas garoas de primavera sob as quais caminhávamos de mãos dadas.

Sinto que agora, existe apenas o cheiro sufocante da pólvora, o odor ferroso de metal e sangue, a podridão da morte. Os sabores me escapam, quando o pouco que nos resta como alimento toca meus lábios. Os toques, frios e desesperançosos, são incapazes de aplacar minha alma que dói. A visão é de cinza, marrom e vermelho, onde nada floresce senão os cogumelos formados pelo explodir constante, cujos sons massacram meus tímpanos e me dilaceram o espírito. Nada mais resta que horror e feiura, desespero e dor a preencher meus sentidos.

Mas essa não é uma carta de desespero nem fim da esperança, meu querido Joaquim. E se não é, deve-se apenas a ti. E é por isso que penso em ti cada vez mais a cada dia que passa. O único sabor que ainda me vem aos lábios é o de teus carinhosos beijos, a me fazer flutuar pelos céus. O único som que me acalma e ressoa com os batimentos de meu coração é o de tua voz a me cortejar da maneira delicada e carinhosa, com tua bondade inata. O único aroma que ainda me encanta e faz suspirar é o de teu suor sobre mim, nas noites em que nos amamos sob a luz da lua. A única sensação que me perpassa a pele e me causa arrepio é a de teu abraço forte, capaz de me manter segura de todo o mal e de todo o horror, que me aproxima de teu coração a pulsar contra meu peito. E a única beleza que se prende a meus olhos como fotografia é a de teu sorriso, onde cabe todo o universo e onde me perco na beleza que combate a solidão e o medo. És tu, meu doce Joaquim. És a única beleza que se mantém viva no ocaso da humanidade, na devastação e no horror.

E foi pensando em ti que hoje mais uma vez lutei pelo bem dos feridos, dos desesperançosos, dos que à frente enxergam apenas a morte. E foi assim que, também hoje, encontrei algo que dedico a ti, em gratidão por iluminares meus sentidos e encheres de cor e beleza minha vida. Hoje, quando caminhava por um campo devastado em busca de sobreviventes, encontrei um pequeno broto de papoulas vermelhas.

Tu sabias que elas representam a resistência do povo francês em tempos de caos e guerra? E ela floriu para mim. Um pequeno ponto de vida e amor em meio aos escombros. Dela, coletei pequenas e preciosas sementes, que prendi a essa carta usando uma técnica de costura com gaze e linha que aprendi com outras enfermeiras.

Por favor, meu amado Joaquim, guarde estas sementes como símbolo do recomeço, da corajosa papoula que floresce em meio ao fogo e à morte. Em nosso reencontro, plantaremos-na juntos em nosso jardim, e todos os dias, das cadeiras azuis de nossa sacada, testemunharemos enquanto ela cresce e se expande. Até o fim de nossos dias, quando, já velhinhos, contemplaremos o imenso jardim que floresceu de nossos corações.

A meu amor, luz desses dias sombrios,

Marie.

Sobre Fabio Baptista

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19 comentários em “Papoulas Vermelhas (Luis Guilherme)

  1. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Oi, LG! Li seu conto faz um tempo e vou comentar baseado no que ele me fez sentir. Então, gostei tanto do seu conto! Está tão bem escrito e profundo! Merecia ter alcançado u m lugar melhor na competição! Você está se superando a cada desafio! Ótimo conto!

  2. Mauro Dillmann
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um narrador em terceira pessoa que tudo sabe e tudo vê (ou viu). O conto segue nesse ritmo da narração no pretérito. Traz vários elementos romanescos de Sabrina: o doce perfume das flores. Um jovem casal separado pela guerra. O conto termina com a carta, que é construída com a linguagem das flores, com sentimentalismos. Mas, me pareceu que faltou uma finalização.

    Está bem escrito. Parabéns!

  3. Rodrigo Ortiz Vinholo
    12 de setembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Gostei! Boa escrita, bom domínio técnico, excelente detalhamento histórico e construção de cenas, mas deixo críticas a certos pontos que não me agradaram tanto: o trecho intermediário em que o narrador acompanha Marie, ao fim de tudo, me pareceu solto. Tudo funciona bem sem ele, de modo que fiquei me perguntando se não poderia ser realmente omitido na edição. Já o final, meu desagrado é mais estilístico: a descoberta da carta e a escolha de terminar a história com ela é interessante, mas sinto que ficou aberto demais, solto demais, ainda mais com um trabalho tão bom de detalhar o íntimo de Joaquim. De todo modo, ótima história!

  4. leandrobarreiros
    12 de setembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Definitivamente um conto bem escrito e estruturado, com diversas referências históricas e geográficas.

    A história se desenrola de maneira competente e discute o que sobra no pós guerra a um nível mais humano. Existem subversões sutis ao tema, como o homem sobreviver à guerra, enquanto a mulher acaba sendo morta mesmo desempenhando um papel mais civil.

    No que diz respeito à narrativa, é lenta, com muitas metáforas e densidade. Não é o meu estilo preferido, mas não tem como não reconhecer o esmero e o cuidado do autor. 

    Não está entre os meus favoritos, mas a qualidade técnica e esmero elevam a obra para além do meu gosto particular. É um texto que eu leria não tanto para me envolver com a história, mas para estudar estilo.

    Nas minhas notas, fica com um 7.5

  5. Thaís Henriques
    12 de setembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Gostei tanto que poderia ter sido escrito por mim. 🙂

  6. claudiaangst
    11 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor, tudo bem?

    Temos aqui um conto sabrinesco que flerta com a alta literatura?

    Alinguagem adotada no geral é clara, coloquial, menos na troca de correspondência, na qual o rebuscamento e a formalidade predominam, talvez para reforçar os costumes da época.

    Poucas falhas escaparam à revisão:

    • enclinhando-a em direção às águas > inclinando-a
    • números até 10, é preferível escrever por extenso… nos 3 anos = nos três anos/ fez 9 anos = fez nove anos
    • plantaremos-na >a plantaremos

    Uma leitura agradável, sem entraves, flui fácil. No entanto, gostaria que tivesse elevado o grau de suspense e só apresentado a verdade no final.

    Acredito que este conto alcançará uma boa colocação, quem sabe no pódio?

    Parabéns pela participação e boa sorte.

  7. Fabiano Dexter
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    O conto nos traz uma linda história de amor no pós-guerra, com o português Joaquim buscando os pertences de sua amada Marie, enfermeira voluntária e que morreu na guerra.

    A partir desse momento temos um misto de sentimentos e lembranças que nos levam para dentro do amor que Joaquim sentia por Marie e da dor que ficou.

    Ponto alto para mim foi o momento em que ele juntas as cartas dele e dela, em um último adeus.

    Tema

    Alta Literatura que nos faz sentir.

    Construção

    Há no desenrolar do texto uma mistura de sentimentos com história, feito por alguém que sabe o que está fazendo. O texto passa por nuances diversas sem quebras que incomodam o leitor.

    Impacto

    Aqui passado e presente, dão uma sensação agradável ao texto, um texto extremamente triste. O final como carta deixou um pouco a desejar na minha opinião. Acho que destoou um pouco do restante do conto, mas nada que prejudicasse a experiência como um todo.

  8. Mariana
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Mariana

    História: A história de Joaquim e Marie, um amor interrompido pela Segunda Guerra. Marie morre como enferemeira e o seu amado se desespera. Entre lembranças, Joaquim encontra uma carta de Marie que não havia lido. Ali, ela fala sobre seu amor e a papoula como um símbolo de resistência contra a guerra. É um texto muito bonito, mas eu queria um epílogo do que aconteceu com o Joaquim. Saber que as papoulas floresceram, que ele melhorou… 1,8/2

    Escrita: É um romance clássico, a mortandade acaba sendo um cenário bonito para histórias de amor. O autor escreve bem, eu me importei com os personagens. Alguns pontos poderiam ser um pouco mais sucintos, a cena romântica dos dois se alonga um pouco mais do que o necessário. E, repito aqui, me deu uma sensação de inconclusão. Aparece a carta e fica-se esperando um final. 1,6/2

    Impacto: É um belo conto, estilo filmes clássicos de Hollywood. Gostei, mas, o que mais me impactou foi o (não) final. Espero que Joaquim tenha vivido feliz 0,8/1

  9. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    O que mais gostei neste conto foi a ambientação. Ficou muito boa. Falar de Dunquerque, do pós-guerra, da confusão que deve ter sido aquilo tudo, logo depois da queda do exército alemão, enfim, tudo soou verossímil, fruto, provavelmente, de uma boa pesquisa, o que deve ser valorizado.

    Para além do resgate dos fatos históricos – sim, portugueses também integraram as Forças Francesas Livres — o conto me lembrou do livro “Amar e Morrer” do Erich Maria Remarque, tanto pelo contexto como pela dor que dele emana. Histórias tristes, difíceis de contar, condenadas a um final que é tudo menos feliz, com personagens afundados na miséria, no abandono, na frustração de perceber que a vida planejada não será possível jamais. Por isso acompanhamos a história com consternação, ainda que mantendo acesa a esperança de que um golpe do destino, uma reviravolta inesperada, jogue luzes e alento em Joaquim. Claro, não acontece e talvez, para efeitos de impacto, tenha sido melhor assim.

    O foco, portanto, está no período em que ele e Marie se encontram, se apaixonam, vivem um instante de amor em uma sacada e depois se separam inexoravelmente para sempre. Como arremate, a carta do além, em que Marie recorda a história de ambos.

    No geral gostei do enredo. É bem construído e segue num ritmo bem fluido. Ainda assim, algumas coisas me incomodaram, como a carta de Marie ao final, que achei um tanto longa e repetitiva. Alguns pontos também merecem revisão, nem tanto pela gramática, que está excelente, mas pelo estilo – creio que Marie jamais se referiria ao “astral” das tropas; o jargão militar é “moral”, só para citar um exemplo. Também não gostei da imagem gerada por IA – pelo que se depreende da história, Joaquim e Marie são jovens e não um casal de meia idade.

    Independentemente dessas observações, minha experiência de leitura foi das melhores. O conto é ótimo. Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.

  10. Jorge Santos
    4 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá Bernard. Gostei bastante da sua reconstituição histórica, cheia de pormenores. Talvez seja um dos contos que seguiu mais à risca aquilo que tenho como “Sabrinesco”, um termo que desconheço. Sigo apenas a intuição masculina. Sim, ela existe, mas é tipo catavento, sempre a apontar para uma direção diferente. Adiante. Gostei das situações descritas, do desespero do personagem masculino em busca do seu amor, do desfecho onde se descreve aquilo que em cenário de guerra é mais precioso, a esperança de um futuro melhor. Já sabemos que no caso do conto o final não é feliz, mas se estivesse dependente de um final feliz para gostar de um conto não estaria aqui a fazer nada. Em termos de linguagem podemos também ter a ligação ao tema da Alta Literatura, mas o equilíbrio foi bem conseguido, não tendo caído no problema que normalmente vejo na Alta Literatura, a perda de fluidez no texto.

  11. marco.saraiva
    3 de setembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Um conto triste e poético, onde acompanhamos Joaquim e a sua terrível jornada pelo luto ao descobrir a morte da esposa na segunda guerra mundial. Acompanhamos as suas lembranças, os seus sonhos despedaçados e a hesitação em abrir as cartas que um dia enviou a Marie. O conto fecha com a última carta de Marie, jamais enviada, colocando um ponto final no luto e adicionando, com as palavras doces da enfermeira que se foi, um tom extra de poesia na narrativa.

    O conto é simples e sucinto, trabalha mais a dor e o sentimento do que uma trama ou enredo. A escrita, por outro lado, tem muito de poesia, e, para mim, o conto foi agradável de ler mais pela forma do que pelo conteúdo. A narrativa em si não vai a lugar nenhum: parece que paramos no tempo assim como Joaquim, descobrindo e redescobrindo a morte da amada. Mas as reflexões e as dores, expressas com essa prosa poética bem trabalhada, são o que se destaca na leitura.

    No fim, um conto que deixou um gosto amargo na boca, não por ser ruim, mas por mostrar uma triste realidade e lembrete de uma era profundamente tenebrosa pelo qual o mundo passou.

  12. sarah
    1 de setembro de 2025
    Avatar de sarah

    Olá! Uau, seu conto é uma mistura de tristeza, tragédia e dor, com um amor real, forte e muito bonito. Gostei muito da história, acontecendo ali após a guerra, o modo como vemos os momentos no passado do casal e como dói pensar que os dois não se reencontraram. Foi um conto muito bonito e triste ao mesmo tempo.

    Gostei de como temos uma imagem perfeita de como era a esposa dele, tanto em aparência física, quanto em personalidade. Achei simbólico isso dela deixar sementes de flores pra  ele, é como pedir pra ele ter um recomeço. Mesmo que ela não soubesse que eles nunca mais se encontrariam.

    Mas a parte mais triste e mais forte foi essa carta no último trecho, me deu vontade até de chorar, talvez pela forma que ela fala como se os dois fossem ficar juntos, mas no fim não ficaram, infelizmente.

    Gostei dos trechos ali em francês, foi um detalhe bem legal. Ótimo conto!

  13. toniluismc
    29 de agosto de 2025
    Avatar de toniluismc

    Parabéns pelo texto, Bernard!

    Ele tem uma estrutura narrativa sólida, com uma progressão temporal e emocional muito bem construída. A ambientação pós-Segunda Guerra Mundial em Dunquerque é descrita com detalhes sensoriais fortes — destroços, cenários devastados, registros visuais e afetivos — que criam atmosfera autêntica e imersiva.

    A prosa é poética e refinada, com transições fluentes entre lembranças de amor, dor e reconstrução. A linguagem tem ritmo contemplativo, revelando coesão e clareza, com edições bem cuidadas e sem erros gramaticais aparentes.

    A metáfora das “papoulas vermelhas” como símbolo de resiliência e renascimento em meio à guerra é potente e evocativa.

    O uso da caixa com fotografias, insígnia e cartas — objetos concretos do passado que despertam o presente emocional de Joaquim — é narrativamente eficaz e simbolicamente carregado. A carta revelando sementes como legado de vida futura amplia o simbolismo com delicadeza.

    Criatividade consistente e sensível, com imagens que funcionam como paisagem emocional e memória coletiva.

    O impacto emocional é forte e duradouro. A leitura conduz o leitor pela dor do luto, pela esperança evocada pelos objetos íntimos e culmina num ato simbólico de renovação — as sementes das papoulas.

    O desfecho, com a revelação contida na carta, traz uma nota de ternura e esperança silenciosa, elevando o efeito emocional do texto. É um encerramento certeiro e significativo.

  14. Pedro Paulo
    20 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Um texto denso, no melhor sentido da palavra. O que engrossa é o recurso à escrita poética, que em sua forma é muito bem conduzida, com construções bonitas e impactantes (há vários trechos; destaco o coração fluente em compaixão), mas que estruturalmente trasborda, como se o entendimento de alta literatura da autoria fosse a elaboração da linguagem. Denominação válida, acredito. Cansa um pouco a leitura, mas enriquece muito mais do que prejudica o texto. Falando em estrutura, o enredo é bem calculado e tudo se dosa bem, com a introdução das personagens bem equilibrada com a caracterização do plano de fundo e da situação específica de um luto individual imerso em um lamento coletivo. O romance e a sensualidade comedida tragaram ainda o segundo tema, com uma cena mais tórrida que também foi bem alocada no texto. O conto é impactante com o arranjo da última carta sendo uma ótima escolha para o final.

  15. Kelly Hatanaka
    19 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Eu não avalio esta série, então, me permito avaliar como leitora, de forma mais livre e bem pelo meu gosto pessoal. Desculpe alguma coisa.

    Tema

    Sabrinesco.

    Considerações

    Este conto parece irmão gêmeo do La Vie em Guerre, da série B. Se os contos não tivessem sido liberados todos ao mesmo tempo, daria a impressão de que um deles se inspirou no outro. Porém, como são as coisas, isso foi um caso de sintonia entre dois autores.

    Esta é a triste história de Marie e Joaquim, separados pela guerra. Joaquim sobrevive e volta, mas Marie se foi. Ficam as lembranças e o luto. E uma carta, que Marie não chegou a enviar e que, para Joaquim é uma despedida. Com a carta, vem um punhado de sementes de papoulas vermelhas, símbolo de resistência.

    Uma história de amor totalmente centrada nos sentimentos. Romântica, com certeza, e muito bela.

  16. Anderson Prado
    16 de agosto de 2025
    Avatar de Anderson Prado

    Olá, autor.

    Gostei medianamente do seu conto. Ele é correto, embora empregue um número um pouco excessivo de lugares comuns (“sem dizer uma palavra”, “renovada disposição”, “ar primaveril”, “vila campestre”, “sorriso fácil”, “coração […] errou o passo”). Também é um conto coeso, fluido. Gostei demais da narração poética da cena de amor numa enluarada sacada parisiense!

    Porém, autor, não creio que você tenha escrito um sabrinesco. Faltou atração, sedução, sensualidade. Dada a qualidade da sua escrita poética, posso considerar que você escreveu alta literatura e, nesse caso, devo dizer que eu esperava contemporaneidade e brasilidade, ambos faltantes no seu texto. Além disso, devo dizer que histórias de amor no contexto de guerras, especialmente da Segunda, pululam na literatura e, com mais destaque, no cinema, o que fez seu texto me soar pouco criativo, meio batido, ainda mais no que toca às cartas, à carta perdida e depois descoberta, à leitura na varanda ajardinada etc.

    Nota 3.

  17. Antonio Stegues Batista
    16 de agosto de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Um conto com forte tom emotivo e poético. Os horrores da guerra e a beleza das flores. A história de dois jovens, ele soldado, ela enfermeira. Ele vai para o front, ela fica no hospital lidando dos feridos. Ao fim dos conflitos, Joaquim volta e não mais encontra a amada. Marie despareceu. Talvez vítima dos bombardeios.

    O autor tem habilidade para escrever, para usar palavras certas que dão harmonia e sonoridade agradável às frases. Não exagerou nas metáforas. Um conto carregado de poesia, de sensibilidade. Não precisou usar palavras chulas para descrever o ato de amor, tudo foi num tom poético, unindo personagens e natureza.  Excelente conto.

  18. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    14 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura.Enquadrei seu conto nessa categoria porque ele fala sobre saudade.Foi uma narrativa interessante, embora não tenha me agradado. Faltou expressar as emoções do protagonista. Você traz apenas suas memórias, o que me soou frio.

  19. cyro eduardo fernandes
    13 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Técnica impecável. Texto sensível, dramático e romântico.

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Liga 2025 - 3A, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .